quinta-feira, outubro 01, 2009

FOLCLÓRICOS, DELIRANTES E... PERIGOSOS


Saindo um pouco, e ao mesmo tempo não saindo, da questão de Honduras - onde o governo brasileiro assumiu definitivamente o papel vergonhoso de embaixador do chavismo -, leio na VEJA desta semana uma reportagem muito interessante, de autoria de Fábio Portela, sobre o grupo mais esquisito e folclórico da política brasileira: o bloco de partidos nanicos de esquerda, que insistem no delírio de que o marxismo não morreu e que o capitalismo, este sim, está condenado inexoravelmente a desaparecer, e em outras sandices do tipo.

O texto, intitulado "O Socialismo Não Morreu (Para Eles)" e ilustrado com uma caricatura de Karl Marx no leito da UTI recebendo cuidados médicos de alguns representantes dessa fauna exótica, aborda os membros do credo esquerdista da única maneira possivel a alguém com a cabeça sobre os ombros: com a pena da galhofa, como diria Machado de Assis. A coleção de chavões repetidos como dogmas pelos Lênins e Trotskys brasileiros, como um tal Zé Maria, do PSTU - "O importante é a revolução. Ela está chegando, e nós estamos preparados. Haverá uma insurreição do povo. Vamos derrubar o governo e mudar o regime" etc. -, de tão risível, só pode ser recebida com escárnio. Os esquerdopatas brasileiros são mesmo uns tontos - ou militontos, como já escrevi aqui, perdidos em delírios revolucionários e eternamente à espera do D. Sebastião bolchevique que irá matar o dragão capitalista e abrir as portas para um futuro brilhante sob a ditadura do proletariado. Gente como Zé Maria, Ivan Pinheiro (do minúsculo PCB), Heloísa Helena (PSOL), Renato Rabelo (PCdoB) e um tal Rui Costa Pimenta (de um tal PCO) estão muito além do alcance de qualquer racionalidade. Não há dúvida que se trata de um caso de hospício. Não há nenhuma divergência quanto a isso.

O problema, porém, está em que a reportagem de VEJA parece se esquecer de um fato essencial: há loucos mansos e há loucos perigosos. Existem os doidos divertidos e os doidos de se botar camisa-de-força. E os extremistas de esquerda, ainda que sejam uns débeis mentais, não têm nada de mansos ou de malucos-beleza. Muito pelo contrário.

A revista erra, e erra feio, a meu ver, quando acrescenta ao quadro patético dos bolcheviques tupiniquins a seguinte observação: "Os esquerdistas radicais formam um grupo tão curioso quanto inofensivo". E: "As ideias disparatadas desses partidecos dão certo colorido à democracia brasileira, nada mais. Ao sonharem com o pesadelo da restauração socialista, seus militantes conseguem apenas criar para si próprios uma imagem folclórica".
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é que está. Malucos, delirantes, ridiculos, idiotas, isso os radicais esquerdistas são mesmo. Mas inofensivos, de jeito nenhum! Inofensivos, coisa nenhuma!
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Do mesmo modo, é óbvio que as idéias que defendem são disparatadas, mas que "dão um certo colorido à democracia brasileira", é algo discutível. A menos que a cor em questão seja o vermelho-sangue, o vermelho-genocídio.
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Talvez seja um reflexo da época em que fui simpatizante de uma organização trotskista, lá pelos meus vinte e poucos anos, mas o fato é que não consigo enxergar os esquerdistas radicais, bem como os esquerdistas em geral, como gente normal, ou como pessoas com quem se possa conviver em sociedade, sem manter com eles um pé atrás, como se deve manter com quem rasga dinheiro, ouve vozes ou baba pelo canto da boca. Se tem uma coisa que aprendi, é que não existe comunista inofensivo, assim como não existe nazista inofensivo. Assim como não existe charlatão inofensivo, aliás.
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Não custa nada lembrar: Hitler era considerado por muita gente séria, antes de chegar ao poder, um maluco, um fanfarrão ou um palhaço, nada mais do que isso. A mesma visão tinham muitos sobre Hugo Chávez, e alguns ainda têm. Esquecem-se, assim, que o fato de o sujeito ser um bufão ou acreditar em duendes não o torna menos propenso à irracionalidade, ou à concretização de suas ameaças. Ocorre exatamente o contrário: é justamente por serem uns imbecis, uns doidos de pedra, que os esquerdistas radicais, assim como seus primos nazistas, são perigosos e precisam ser vigiados.

É um erro gravíssimo subestimar a capacidade da esquerda de espalhar terror e destruição, com base no caráter obviamente delirante de suas idéias. É mais que um simples erro, na verdade; trata-se de um cacoete ideológico: ninguém em sã consciência deixa de ficar minimamente preocupado quando um grupo de skinheads e adoradores da suástica aparece nas ruas, defendendo abertamente o extermínio de judeus e outras minorias. Com efeito, ninguém deixaria de levar a sério essas ameaças dos neonazistas, mesmo estando eles organizados em grupelhos ridículos e inexpressivos. Suas idéias, delirantes como são, não seriam consideradas inofensivas, e as autoridades ficariam alertas contra qualquer demonstração de intolerância da parte deles. E é assim que deve ser: nenhuma pessoa, pelo menos nenhuma pessoa decente, deixaria de defender vigilância cerrada sobre os discípulos de Hitler, e a imprensa vez ou outra alerta para esse fenômeno com matérias bombásticas e sensacionalistas. Então por que, com os adeptos do credo comunista, que deixou um rastro de mais de cem milhões de mortos, deve-se agir de maneira diferente?

Fala-se muito em fim do comunismo, em morte do comunismo etc. Mas vejam que curioso: o nazismo e o fascismo desapareceram há quase setenta anos e ainda hoje o espectro desses regimes totalitários assombra a Europa, gerando apreensão nos países democráticos. Já o comunismo deixou de existir como realidade estatal há vinte anos, e já é dado como morto e enterrado, como uma coisa pertencente unicamente ao passado. E isso mesmo apesar da existência, ainda hoje, de ditaduras comunistas como em Cuba e na Coréia do Norte, e guerrilhas narcomarxistoterroristas como as FARC. Não vejo como não enxergar nisso um duplo padrão ideológico, uma certa negligência ou cumplicidade em relação ao comunismo. Se uma pessoa com problemas mentais se mutila e diz ter sido atacada por neonazistas em algum país europeu, ou se aparecem cartazes com a suástica, a gritaria é geral e imediata: fala-se em renascimento do nazismo etc. etc. Se, por sua vez, alguém denuncia o perigo de uma nova onda comunista na América Latina, apontando a natureza intrinsecamente genocida e totalitária do comunismo, é imediatamente tachado de louco ou de extremista de direita. É nesse momento que se faz sentir o peso da ação das patrulhas esquerdistas: todos fazem questão de alardear seu antifascismo, mas ninguém tem coragem de se dizer, em público, anticomunista. Essa negligência em relação a uma ideologia que matou milhões chega a ser suspeita: é mesmo uma fórmula para o suicídio.

Um mantra repetido incessantamente é que qualquer condenação ou preocupação com o comunismo é exagerada e significa apenas reacionarismo porque, afinal de contas, os esquerdistas radicais não passam de uma minoria insignificante, são apenas uma meia dúzia de gatos pingados excêntricos e saudosistas, sem qualquer influência sobre a realidade etc. É um erro terrível. Primeiro, os comunistas sempre foram minoria - foi assim também na época da Guerra Fria, nos países ocidentais -, e nem por isso a "ameaça vermelha" (sempre com aspas) era inexistente (o caso de Cuba é exemplar). Segundo, e o mais importante, são precisamente as minorias, e não as massas acéfalas e amorfas, que conduzem a História e fazem as revoluções, já dizia o próprio Lênin. Foi assim na Rússia, em 1917 - onde os bolcheviques, apesar do nome (que em russo significa maioria), estavam longe de constituírem a maioria do movimento revolucionário russo, e mesmo do movimento operário, até às vésperas da tomada do poder. Foi assim também na China, no Leste da Europa, em Cuba, enfim, em todos os países que tiveram a infelicidade de se transformarem em tiranias comunistas: são minorias de militantes profissionais, seguindo uma disciplina rígida, que tomam de fato o poder político e instalam a ditadura. O povo, as massas, a maioria da população, limita-se a assistir a tudo passivamente, ou a ser conduzido como gado. O movimento, porém, é sempre levado adiante por um pequeno grupo, de maneira subterrânea e legal ao mesmo tempo. Nesse processo, essa minoria trata de impingir, gradativamente, sua visão de mundo, de forma quase anestésica, a fim de alcançar aquilo que o maior teórico marxista depois de Lênin, o italiano Antonio Gramsci, chamou de "hegemonia", "ocupando espaços" na imprensa, nas escolas, nas artes etc., transformando-se, assim, em maioria ideológica. Até que, quando se dão por si, as pessoas estáo repetindo mecanicamente, sem pensar e sem o saber, as platitudes marxistas - desprezando a ameaça da esquerda radical, por exemplo, substituindo a vigilância necessária pela troça que alivia. No Brasil, esse processo está bastante adiantado, como pode facilmente perceber qualquer um que visitar um departamento de Ciências Sociais em qualquer universidade pública ou mesmo privada brasileira.
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Um outro lugar-comum repetido com ares de verdade revelada afirma que se preocupar com o comunismo hoje é um absurdo, pois este não passa de uma ideologia obsoleta e ultrapassada, pertencente ao museu das idéias. É uma tese falsa pela seguinte razão: algo obsoleto, como um vídeocassete ou uma máquina de escrever, é algo que cumpriu uma função por um determinado tempo, que teve uma utilidade durante um certo período, e depois caiu em desuso. Não é esse o caso do comunismo, que ruiu não porque fosse "obsoleto", mas porque constitui uma ideologia incompatível com a noção de liberdade humana. Afirmar que o comunismo não passa de uma ideologia embolorada pode até servir para sublinhar a superioridade do sistema capitalista sobre o dirigismo estatal, mas significa admitir que, em certa época e em certo lugar, as idéias de Marx e Lênin tiveram uma função importante, até mesmo humanitária - algo que a pilha de cadáveres que deixaram pelo caminho desmente de maneira rotunda. É inegável que o capitalismo é superior ao socialismo, e que as idéias de Marx e Engels cheiram a mofo. Mas isso não quer dizer que se deve baixar a guarda.

É por essas e outras que, diante dos marxistas de galinheiro brasileiros, eu prefiro conter o riso, mesmo sabendo-o difícil, e prestar atenção no que dizem os zés marias e heloísas helenas da vida. Mesmo correndo o risco de prestar involuntariamente um serviço a esses lúnáticos, dando-lhes alguma importância, prefiro fazer isso a me refugiar numa cálida e despreocupada hilaridade, que acalma a consciência, mas cega para o perigo. Acredito que com doidos pode-se até dar umas risadas, mas jamais aceitaria uma carona de um deles. Contra os inimigos da liberdade, principalmente os insanos, toda cautela é pouca. Do contrário, teremos motivos não para rir, mas para chorar.

Um comentário:

Anônimo disse...

"... como um tal Zé Maria, do PSTU - "O importante é a revolução. Ela está chegando, e nós estamos preparados. Haverá uma insurreição do povo. Vamos derrubar o governo e mudar o regime"

Em comparação, um crente diria: " O importante é o reino de Deus. Ele está chegando, e nós estamos preparados. Haverá uma transformação do povo. Jesus e seu reino vai derrubar os governos e mudar os regimes".

O marxismo e seus seguidores são mesmo, respectivamente, religião e fiéis. Não superficialmente, mas sim em suas motivações, ressentimentos, mesquinharias, esperanças vãs. Assim se percebe que nazismo e comunismo não só mantêm semelhanças entre si mas também lembram em pontos essenciais religiões e suas massas de fanáticos, em especial do cristianismo e islamismo.

Sempre considerei estes bastante perigosos, uma ameaça em potencial, um risco à sobriedade, bom senso e conhecimento. E vejo que são sempre subestimados, e infelizmente o mesmo acontece com relaçao ao marxismo e seus desdobramentos.