terça-feira, agosto 05, 2008

CHIFRE EM CABEÇA DE... BOI (E TOURO, E BÚFALO, E CARNEIRO...)


Para parte da imprensa brasileira, o bicho aí em cima é um... cavalo
.
Reinaldo Azevedo descascou em seu blog, frase por frase, artigo de Eliane Cantanhêde, publicado hoje na Folha de S. Paulo, sobre a relação governo Lula-FARC. Não sobrou linha sobre linha. Se quiserem dar uma espiadinha, cliquem aqui: http://veja.abril.com.br/blogs/reinaldo/.
.
Vou fazer um resumo do artigo da Folha, que Eliane intitulou - vejam só - "Chifre em cabeça de cavalo". O texto é, com o perdão da metáfora zoológica, eqüino. O que diz Eliane? Primeiro, ela faz uma comparação entre o "refugiado político" Olivério Medina - o tal ex-padre, "embaixador" das FARC no Brasil -, com o ex-ditador do Paraguai Alfredo Stroessner, que se asilou no Brasil após ser derrubado do poder, em 1989, e morreu por essas plagas em 2006. "Isso não significa que o governo brasileiro financiasse o terror paraguaio, nem articulasse um golpe no país vizinho", diz Eliane. A comparação, qualquer pessoa com um mínimo de noção da realidade sabe, não faz qualquer sentido. Stroessner havia sido presidente do Paraguai, de onde foi chutado em um golpe de Estado, portanto tinha direito a asilo político, desde que, como está no Direito Internacional, se abstivesse de qualquer atividade política, coisa que, diga-se, ele cumpriu fielmente. Aliás, foi exatamente para isso que foi instituído o asilo político: para ex-presidentes e políticos que haviam se dado mal em suas terras.
...
Já Olivério Medina é membro de uma organização narcotraficante e terrorista, e nada parece indicar que ele renunciou a suas atividades - pelo contrário: os e-mails descobertos no laptop de Raúl Reyes, o número dois das FARC morto em março pelo exércio colombiano, deixam claro que o "Cura Camilo" anda bem ativo e serelepe em sua "luta revolucionária". Além do mais, de que "terror paraguaio" Eliane fala? Das muambas contrabandeadas de Ciudad del Este, do uísque falsificado ou daquele craque gordinho, o Cabañas, da seleção guarani?.

Mas a coisa não pára por aí. Eliane diz não entender o porquê do "deus-nos-acuda" criado em torno de Medina e de sua esposa, contratada pelo Ministério da Pesca. Afinal, ela não tem também direito a trabalhar? Não é uma filha de Deus também? Que singelo... Só faltou responder por que ela tinha que arranjar uma peixada logo num Ministério do governo Lula, onde ganha para alfabetizar os milionários do Lago Sul de Brasília, e não, digamos, vendendo coco na praia... Pelo visto, para Eliane Cantanhêde, o serviço público é mesmo o destino lógico de qualquer parente de "refugiado político" das FARC no Brasil.
.
O resto deixo vocês mesmo constatarem. Acho que o que está acima dá uma boa amostra do ponto (baixo) em que chegou parte da imprensa brasileira, que insiste em tapar o sol com a peneira para não queimar o filme da turma do Planalto. Basta dizer que Eliane repete em seu texto o mantra de que "não há qualquer prova" do envolvimento do governo Lula com as FARC, e que "as FARC mudaram, o PT mudou" etc. etc. A mesma ladainha de sempre.
.
Já falei antes, neste blog, de Eliane Cantanhêde. Escrevi sobre um artigo dela, da mesma Folha de S. Paulo, sobre a "renúncia" de Fidel Castro, o tiranossauro do Caribe, em fevereiro. Naquela ocasião, ela criticou o que chamou de uma visão "maniqueísta" sobre a ditadura cubana, defendendo, em vez disso, uma postura "isenta" e "equilibrada" em relação ao tirano e a sua tirania. Agora, com seu texto, ela demonstra mais uma vez toda sua "isenção" e "equilíbrio" sobre Olivério Medina e as FARC.
.
O governo Lula dá abrigo a terroristas e narcotraficantes. E gente como Eliane Cantanhede acha que isso é perfeitamente normal, não tem nada demais. É triste.
...
Enfim, Eliane perdeu uma excelente oportunidade de ficar calada. E demonstrou que não adianta esconder o chifre na cabeça do boi para fingir que é cavalo (ou burro, o que é mais provável).
.
Ah, se houvesse jornalismo investigativo no Brasil...

Nenhum comentário: