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segunda-feira, agosto 11, 2014

Políticos de esquerda se oferecem como escudos humanos na Faixa de Gaza

Indignados com o que chamaram de “genocídio” de Israel contra os palestinos na Faixa de Gaza, políticos de partidos de esquerda – PT, PCdoB, PSOL, PSTU e PCO – reuniram-se ontem em Brasília e declararam solenemente uma “jihad”(“guerra santa”) contra Israel, a quem classificaram como um “estado carniceiro nazista sionista imperialista racista segregacionista imperialista e de gente pão-dura”.
 
Segundo a declaração (“fatwa”) emitida após a reunião, os líderes das principais siglas esquerdistas do país decidiram unir forças com o Hamas, a quem chamaram de “amantes da paz e vítimas indefesas da máquina imperialista opressora”, oferecendo-se para ser escudos humanos em Gaza. O documento acusa Israel de “mirar intencionalmente em criancinhas por pura maldade e para provocar uma onda de indignação mundial contra si mesmo”. Por sugestão do PT, o documento finaliza com um desafio a Israel: “Anão diplomático é a mãe!”.
 
“É inadmissível o massacre brutal e genocida do povo palestino do Hamas pelas forças cruéis do judaísmo-sionismo-neoliberalismo-capitalismo”, bradou a deputada federal Jandira Feghali (PCdoB-RJ). E acrescentou: “É um absurdo bombardear escolas e hospitais da ONU que estão sendo usados pelos bravos combatentes pacifistas do Hamas para estocar armas e lançar foguetes que, como todos sabemos, são usados apenas para fins pacíficos”. Afirmou que “nós, do partido do comunismo, de grandes benfeitores da humanidade como Marx, Lênin, Stálin, Mao Tsé-Tung e Kim Jong-Un, somos, acima de tudo, humanistas”. Feghali disse ainda que vai destinar 5% da renda diária de seu restaurante de luxo no Rio de Janeiro para ajudar a comprar mais armas para o Hamas.
 
Já o deputado federal Jean Wyllys (PSOL-RJ) mostrou-se ainda mais indignado. “É preciso resistir a essa atitude homofóbica de Israel, com seus mísseis falocráticos”. Wyllys garantiu ter informações seguras de que os mísseis israelenses são projetados para matar apenas gays, lésbicas, travestis e transgêneros. “Li isso numa pesquisa do IPEA, está tudo lá”, assegurou.
 
Os políticos presentes ao evento garantiram: “Não somos antissemitas, somos apenas contra Israel, essa aberração. Todos sabem que os judeus criaram Israel como parte de um complô internacional pelo controle do mundo pelas multinacionais capitalistas, como está descrito naquele livro-texto do Hamas, Os Protocolos dos Sábios de Sião”, afirmou o presidenciável Zé Maria, do PSTU.
 
Quanto ao uso da população civil palestina como escudos humanos pelo Hamas, Jean Wyllys foi enfático: “É mentira! Isso não passa de uma teoria da conspiração. É coisa dos mesmos homofóbicos que derrubaram o avião da Malásia na Ucrânia porque levava mais de 100 cientistas holandeses que iam para um congresso sobre a AIDS, como escrevi no meu Facebook”.
 
Ao ser informado de que o Hamas e outros grupos fundamentalistas islâmicos não gostam muito de gays, Jean Wyllys declarou que precisava dar uma cagada e se escondeu no toilet.
 

segunda-feira, junho 30, 2014

U.B.S.S.

 
 
Folha de S. Paulo, 16/06/2014
 
Por Luiz Felipe Pondé
 
 
União Brasileira Socialista Soviética.
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Piada de mau gosto mesmo, também acho, mas a pena mesmo é que a discussão política entre nós seja da idade da pedra e o socialismo ainda seja levado a sério. A piada de mau gosto mesmo é que estamos à beira de um golpe de Estado invisível no Brasil.
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O leitor e a leitora já estão a par do decreto do governo que institui a Política Nacional de Participação Social e o Sistema Nacional de Participação Social? Trata-se de decreto para aparelhar movimentos como o MST (gente que quer tomar a terra alheia), o MTST (gente que discorda da ideia de que se deve pagar pelo teto em que mora) e outros movimentos que englobam gente "sem algo" e acham que a sociedade deve dar pra eles. Esses grupos darão um golpe de Estado invisível. Tudo fruto, é claro, de setores do PT radical e os raivosos ex-PT, hoje em pequenos partidos.
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Esse decreto é um golpe de Estado sem dizer que é. Lentamente, os setores mais totalitários do país, amantes de ditaduras do proletariado (ou bolivarianas) voltam à cena no Brasil.
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Comitês como esses tornam os poderes da República reféns de gente que passa a vida sendo profissional militante. Quando você acordar, já era, leis serão passadas sem que você possa fazer algo porque estava ocupado ganhando a vida.
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Pergunte a si mesmo uma coisa: você tem tempo de ficar parando a cidade todo dia, acampando em ruas todo dia, discutindo todo dia? Provavelmente não, porque tem que trabalhar, pagar contas, levar filhos na escola, no hospital, e, acima de tudo, pagar impostos que em parte vão para as mãos desses movimentos sociais que se dizem representantes da "sociedade".
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Mas a verdade é que a maioria esmagadora de nós, a "sociedade", não pode participar desses comitês porque não é profissional da revolução. Tais movimentos que se dizem sociais, que afirmam que as ruas são deles, mentem sobre representarem a sociedade. Mesmo greves como a do metrô, capitaneada por uma filial do PSTU, não visa apenas aumentar salários. Visa instaurar a desordem para que o Brasil vire o que eles acham que o Brasil deve ser.
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Afinal, de onde vem a grana que sustenta essa moçada dos movimentos sociais? A dos sindicatos, sabemos, vem dos salários que são obrigatoriamente onerados para que quem trabalha sustente os profissionais dos sindicatos.
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Mas, até aí, estamos na legalidade de alguma forma. Mas e os "sem-Macs" ou "sem-iPhones", vivem do quê? Quando os vemos na rua, não parecem estar passando fome e frio como dizem que estão. Essa gente é motivada e sustentada de alguma forma. Por que não se exige entrar nas contas do MST e MTST e descobrir de onde vem a grana deles? Quem banca toda essa estrutura militante?
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Temo, caro leitor e cara leitora, que sejamos nós, os mesmos que eles consideram inimigos, a menos que concordemos com eles. Uma das grandes mentiras desses movimentos sociais é dizer que combatem a "elite econômica", que, aliás, em dia de greve, fica em casa porque não precisa de fato se virar pra ir trabalhar.
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Quem sofre com esses movimentos que arrebentam o cotidiano é gente que perde o emprego, perde o negócio, perde a vida se fica parada no trânsito ou na fila. É gente que, quando muito, anda de carro 1.0, não gente que anda de helicóptero. É diarista, empregada doméstica, porteiro de prédio, professor, estudante sem grana e que tem que pagar a faculdade, não riquinhos da zona oeste paulistana que fazem sociais para infernizar a vida dos colegas.
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É médico que tem três empregos, é dona de casa que cuida de filhos e trabalha fora, é trabalhador da construção civil, é gente "mortal", comum, que não pode se defender dos caras que fecham a cidade dizendo que fazem isso em nome do "povo". Os movimentos sociais têm demonstrado seu caráter autoritário. Pensam que as ruas são o quintal de seus comitês, que aparelharão os poderes da República.
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Se não bastasse isso tudo, vem aí o controle social da mídia. Dizer que será apenas para evitar monopólios é achar que somos idiotas.

Veja o que aconteceu na Argentina.
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Luiz Felipe Pondé, pernambucano, filósofo, escritor e ensaísta, doutor pela USP, pós-doutorado em epistemologia pela Universidade de Tel Aviv, professor da PUC-SP e da Faap, discute temas como comportamento contemporâneo, religião, niilismo, ciência. Autor de vários títulos, entre eles, 'Contra um mundo melhor'.http://www1.folha.uol.com.br/colunas/luizfelipeponde/2014/06/1470848-ubss.shtml

quarta-feira, março 19, 2014

NON È VERO MA È BEN TROVATO

 
Governo proíbe filme “Doze Anos de Escravidão” em cidades com “Mais Médicos”

A presidente Dilma Rousseff baixou hoje, dia 17, decreto que proíbe a exibição do filme “Doze Anos de Escravidão” em todos os municípios incluídos no programa “Mais Médicos”. A medida, segundo Nota da secretaria de imprensa da Presidência da República, visa “impedir que os médicos cubanos que participam do programa se identifiquem com o personagem central do filme, e se sintam assim estimulados a abandonar seus postos e a pedir asilo político”.

“Doze Anos de Escravidão”, que ganhou o Oscar de melhor filme 2014, conta a história real de um homem negro nos EUA do século XIX que, nascido livre, foi enganado e vendido como escravo para fazendas do Sul do país, antes da abolição da escravidão.

A nota do governo aproveita ainda para desmentir o boato que circulou recentemente, segundo o qual, diante dos vários casos de médicos importados de Cuba que desertaram, os cubanos integrados no programa seriam obrigados a usar tornozeleiras eletrônicas. Na verdade, explica a nota, “em vez de tornozeleiras, os médicos cubanos usarão chips de localização colocados debaixo da pele e monitorados por satélite. Assim não poderão escapar”, esclarece.

Direto de Havana, o líder eterno de Cuba, Fidel Castro, elogiou a iniciativa do governo brasileiro, e anunciou que já decidiu copiá-la na ilha de sua propriedade. “Cuba e Brasil estão cada vez mais parecidos”, afirmou o octogenário comandante, que aproveitou para agradecer à presidente Dilma Rousseff pelos milhões investidos pelo BNDES no Porto de Mariel. “Agora eu quero um aeroporto novinho em folha”, acrescentou.

Procuradas pela reportagem, as organizações de direitos humanos não se pronunciaram sobre o caso.
 
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Tecla SAP: Esta mandei pro site do meu amigo Joselito Müller (http://joselitomuller.wordpress.com/2014/03/17/governo-proibe-filme-doze-anos-de-escravidao-em-cidades-com-mais-medicos/). Como esperado, está causando a maior confusão, o que torna a coisa ainda mais engraçada. Acho que vou enveredar pelo ramo do humor. É o unico jeito de ler as notícias no Brasil de hoje sem ter um ataque de apoplexia ou morrer de raiva. Além do mais, como dizia Cícero, ridare castigat mores.
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Riam à vontade. Ainda é permitido. Ainda.

terça-feira, março 18, 2014

O VÍRUS ESQUERDISTA


O que vai a seguir não é uma notícia, é uma sátira. Mas bem que poderia ser real. Aliás, não está assim tão longe da realidade. Leiam.
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Descoberto o vírus do esquerdismo
 
Cientistas britânicos divulgaram hoje, dia 18, uma descoberta que promete revolucionar a ciência. Segundo comunidado oficial da Universidade Johnny Walker de Oxfordcambridgeshire, no Reino Unido, a explicação para tantas pessoas se deixarem levar pelo discurso e pela ideologia de esquerda é física. Mais especificamente, um vírus.
 
O micro-organismo, batizado de Mariadorosarius esquerdopaticus, atinge diretamente as áreas do cérebro responsáveis pelo humor, inteligência e honestidade, destruindo-as completamente. "Depois de décadas de experiências com milhares de pessoas, concluímos que o que leva pessoas aparentemente normais a serem de esquerda, sobretudo comunistas ou socialistas, é um vírus terrível", informou por nota a equipe de cientistas, liderada pelo microbiólogo ganhador do Nobel Sir Anthony Hannibal Lecter Hopkins.
 
"Não sabemos o que pode causar essa infecção, mas desconfiamos que ela seja transmitida via oral, e que sua origem esteja em universidades localizadas ao Sul do Equador, provavelmente no Brasil, onde impera há décadas a promiscuidade ideológica mais absoluta", afirmou a nota dos cientistas. Os principais atingidos pelo vírus seriam jovens estudantes de classe média e alta, entre 15 e 30 anos, geralmente brancos e com complexo de culpa, sustentados pelos pais e que se alimentam de toddynho e sucrilhos. 
 
A nota explica que o vírus age inicialmente sobre o lobo parietal direito, onde está localizado o humor: "As pessoas atingidas perdem qualquer senso de humor, tornando-se incapazes de entender uma piada. Com isso, tornam-se histéricas e paranoicas, considerando-se injustiçadas e perseguidas pelo  'sistema', culpando o 'capitalismo', o 'imperialismo', os tucanos e o Olavo de Carvalho pelos próprios problemas e por todos os problemas da humanidade. Isso se deve ao fato de que estão imbuídas de uma missão messiânica, e assim passam a se levar a sério, sentindo-se acima dos demais mortais, agindo de forma intolerante e patrulheira", esclareceu a nota. 
 
A mesma área cerebral que regula o humor também é responsável pela capacidade cognitiva. "Os afetados pelo vírus não distinguem mais entre sátira, ironia e mentira. Chegam a babar de ódio quando veem na Internet uma piada a respeito deles. Há casos, inclusive, de ministros de Estado que ameaçaram com processo judicial blogueiros por causa de uma sátira política de que não gostaram". Além disso, continua a nota, "perdem totalmente a capacidade de articular um pensamento racional por conta própria e passam a se comunicar somente por chavões e slogans, vivendo num mundo à parte, sem qualquer relação com o mundo real, tornando-se verdadeiros zumbis". 
 
A memória também é seriamente danificada: "como os afetados não distinguem mais entre realidade e ficção, tampouco são capazes de recordar o que disseram ou fizeram em anos recentes, e tratam de reescrever a todo custo a História, omitindo eventuais erros e crimes por eles cometidos, e chamam a isso de verdade".   
 
O mais grave, porém, afirmam os cientistas, é que o vírus, ao destruir o humor e a inteligência, afeta também a área do cérebro que lida com a honestidade: "Concluímos que os atingidos por essa enfermidade são afetados também na capacidade de fazer juízos morais, adotando atitudes do tipo dois pesos e duas medidas sempre que lhes é conveniente".
 
Os pesquisadores deram como exemplos gritantes da falta de noção moral o fato de que os afetados pelo vírus "falam em democracia e em direitos humanos, mas não sentem nenhum pudor em defender ditaduras totalitárias como as de Cuba e Coréia do Norte. Inclusive, em casos mais avançados da doença, militantes LGBT enxergam homofobia até em suicídios no Brasil, mas não veem problema algum em gays serem enforcados no Irã. E não sentem nenhuma vergonha por isso, o que é típico de psicopatas". Ainda segundo o comunicado: "Parece difícil de acreditar, mas há casos registrados de esquerdofrênicos que acreditam, piamente, que socialismo e liberdade são coisas possíveis de se conciliar, e fundam até partidos com esse nome".
 
Nos casos mais extremos, o vírus influi diretamente nas glândulas sebáceas, principalmente de feministas que deixam de raspar as axilas e as pernas como "protesto". Seu efeito mais devastador, porém, é o de distorcer qualquer noção de realidade, levando algumas pessoas a sofrerem crises de identidade, adicionando, por exemplo, Guarani-Kaiowá a seu sobrenome. Outra prova da enfermidade é o fato de passarem a falar sem parar em "justiça social", "proletariado" (ou "classe operária"),  "burguesia" etc. e a se tratarem entre si como "companheiro" e "companheira" (ou, nos casos mais patológicos, "camaradas").
 
"Infelizmente, até agora não há cura para essa doença, a não ser sessões diárias de leituras não-marxistas para deslavagem cerebral, o que leva tempo. Se a cura não é alcançada até os 40 anos, é porque o cérebro está irremediavelmente perdido. Aí, só com eletrochoque e remédio tarja-preta", concluiu a nota. 
 
Até o momento, o Ministério da Saúde não se pronunciou a respeito do assunto.

terça-feira, janeiro 14, 2014

JANGO E O REALISMO FANTÁSTICO

 
Para começar bem o ano. Texto do professor Marco Antonio Villa, simplesmente o maior historiador do Brasil na atualidade. Leitura essencial para desmontar mais uma mistificação das esquerdas. Não recomendável para petistas e idiotas (o que dá quase o mesmo).
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Jango e o realismo fantástico

Era um cardiopata. E de longa data. No México, em 1962, assistindo a uma exibição do balé folclórico, teve um ataque cardíaco
 

ARTIGO – MARCO ANTONIO VILLA

Publicado:14/01/14 - 0h00

O Brasil é um país fantástico. Mais ainda, é um país do realismo fantástico, onde ficção se mistura com história e produz releituras ao sabor dos acontecimentos. A última tem como tema a morte do ex-presidente João Goulart, o Jango, na Argentina.

A Câmara dos Deputados fez uma investigação, ouviu dezenas de testemunhas e elaborou um longo relatório. Concluiu que não havia indícios de assassinato. Em entrevista a Geneton Moraes Neto, publicada no livro “Dossiê Brasil: as histórias por trás da História recente do país”, a senhora Maria Tereza Goulart descartou qualquer suspeita de assassinato do seu marido: “Eu estava ao lado de Jango o tempo todo, nos últimos dias. Jango morreu do coração. Tinha feito um regime violento e mal controlado. Chegou a perder 17 quilos em dois meses. E estava fumando muito. O médico já tinha dito que ele não poderia fumar.”

Jango era um cardiopata. E de longa data. No México, a 10 de abril de 1962, em visita oficial, assistindo a uma exibição do balé folclórico mexicano, no Teatro Belas Artes, o presidente teve um ataque cardíaco. Ficou desfalecido por um minuto. Atendido por médicos mexicanos, ficou impossibilitado de continuar a cumprir a agenda presidencial, sendo substituído por San Tiago Dantas. No retorno ao Brasil, o grande assunto era o estado de saúde de Jango e a possibilidade de que renunciasse à Presidência. Afinal, era o segundo ataque cardíaco em apenas oito meses. Dois meses depois, quando da recepção em palácio da seleção brasileira que partiria para a Copa do Mundo no Chile, Pelé manifestou preocupação com a saúde do presidente: “Presidente, como vão estas coronárias?” E Jango respondeu: “Estão boas, mas não tanto quanto as suas.”

Às vésperas do célebre comício da Central (13 de março de 1964), seu estado de saúde inspirava cuidados. Foi advertido que poderia ter sérias complicações com o coração. Jango desdenhou e manteve seu ritmo costumeiro de vida sedentária, alimentação inadequada, excesso no consumo de bebidas e vivendo em permanente estresse. No exílio uruguaio, também devido aos problemas com o coração, foi atendido pelo dr. Zerbini. Na França, onde esteve várias vezes, foi cuidar do coração e chegou a tentar uma consulta com o dr. Christian Barnard, na África do Sul, médico que dirigiu a equipe que fez o primeiro transplante de coração.

A transformação de Jango em um perigoso adversário do regime militar — tanto que o seu assassinato teria sido planejado pela Operação Condor — não passa de uma farsa. No exílio uruguaio, especialmente nos anos 1970, não tinha qualquer atuação política.

Tudo não passa de mais uma tentativa de mitificação, da hagiografia política sempre tão presente no Brasil. O figurino de democrata, reformista e comprometido com os deserdados foi novamente retirado do empoeirado armário. Agora pelos seus antigos adversários, os petistas. Mero oportunismo. É que a secretária dos Direitos Humanos, Maria do Rosário, pretende ser candidata ao Senado pelo Rio Grande do Sul. E, como boa petista, não se importa de reescrever a história ao seu bel-prazer.

O cinquentenário dos acontecimentos de março/abril de 1964 é uma boa oportunidade para rever o governo Jango. O início dos anos 1960 esteve marcado pela agudização das mais variadas contradições. O esgotamento do ciclo econômico que alcançou seu auge na presidência JK era evidente. A grande migração tinha criado uma sociedade urbana e novas demandas que os governos não sabiam como atender. A tensão gerada pela Guerra Fria azedava qualquer conflito, por mais comezinho que fosse.

É nesta conjuntura que Jango tentou governar. E foi um desastre. Raciocinava sempre imaginando algum tipo de ação que significasse o abandono da política, do convencimento do adversário. Era tributário de uma tradição golpista, típica da política brasileira da época.

Nunca fez questão de esconder seu absoluto desinteresse pelas questões mais complexas da administração pública, distantes da politicagem do dia a dia. Celso Furtado, nas suas memórias (“A fantasia desorganizada”), relatou que entregou o Plano Trienal — que buscava planejar a economia nos anos 1963-1965 — ao presidente depois de exaustivas semanas de trabalho. Jango mal passou os olhos pela primeira página. Em entrevista à revista “Playboy”, em abril de 1999, Furtado foi direto: Jango “era um primitivo, um pobre de caráter”.

No polo ideológico oposto, o embaixador Roberto Campos, também nas suas memórias (“A lanterna na popa”), contou que escreveu um documento de 30 páginas relatando os contenciosos do Brasil com os Estados Unidos, em 1962, quando da visita do presidente a Washington. San Tiago Dantas, ministro das Relações Exteriores, pediu ao embaixador que reduzisse ao máximo a extensão do texto, pois com aquele volume de páginas o presidente não leria. Obediente, o embaixador sintetizou os problemas em cinco páginas, que foram consideradas excessivas. Diminuiu para três páginas. Mesmo assim, segundo Campos, Jango não leu o documento.

As reformas de base, palavra de ordem repetida à exaustão naqueles tempos, nunca foram apresentadas no seu conjunto. A definição — ainda que vaga — apareceu somente na mensagem presidencial encaminhada ao Congresso Nacional quando do início do ano legislativo, a 15 de março de 1964. E lembrar que foram apresentadas como soluções de curto prazo — mesmo sendo mudanças estruturais — durante três anos…

Deixou um país dividido, uma economia em estado caótico e com as instituições desmoralizadas. E abriu caminho para duas décadas de arbítrio.

Marco Antonio Villa é historiador

domingo, dezembro 29, 2013

ESQUERDA E DIREITA: UM DEBATE NECESSÁRIO

 
O GloboNews Painel,  programa televisivo comandado por William Waack, promoveu um debate no dia 28 sobre os conceitos de "direita" e "esquerda" no Brasil contemporâneo. Não vi ainda o vídeo do programa, mas, a se julgar pela importância do tema e pelos convidados  - o jornalista Reinaldo Azevedo e os professores Luiz Felipe Pondé e Bolívar Lamounier - acredito ter sido um debate interessante e produtivo, no mais alto nível.
 
Trata-se de um tema por demais pertinente, sobretudo no Brasil, onde vigora a total confusão mental sobre quase tudo, devido a um certo culto da ambiguidade em todos os terrenos - ideológico, político, moral etc. Particularmente, não compartilho da visão confortável de que "esquerda e direita são conceitos ultrapassados", que teriam sido enterrados junto com os escombros  do Muro de Berlim. A meu ver, eles continuam válidos, até porque, ao que parece, o Muro ainda não caiu nas terras de Cabral. (Se alguém tem alguma dúvida, que veja os nomes ou, se tiver tempo, leia os programas de partidos como PT, PSDB, PDT, PCdoB e tutti quanti, ou leia a Constituição de 1988, e conte quantas vezes lá aparecem as palavras "igualdade" e "justiça social", em contraste com termos como "liberdade" e "propriedade privada"...) Nesse aspecto, estamos uns trinta anos atrasados. Daí que um debate desse tipo pode ser uma excelente oportunidade de tentar rever esse atraso e botar os pingos nos "is".  Reinaldo Azevedo, aliás, fez as perguntas certas em seu blog, as quais vou aproveitar para responder, dando assim meus pitacos sobre o assunto.  Creio que muito que foi dito no programa coincide com o que vou dizer aqui.
 
Pergunta: Existem direita e esquerda por aqui?
Minha resposta: Esquerda, certamente existe, e de todos os tipos: centro-esquerda (majoritária), extrema-esquerda, esquerda aguada, esquerda caviar etc. Temos esquerdas e esquerdistas de todos os tipos e para todos os gostos, desde a esquerda mais escancaradamente pragmática (o PT à frente) até os mais porraloucas seguidores de Lênin e Trotsky. O que não há é direita, ou pelo menos uma direita politicamente viável. Há, aqui e ali, um ou outro deputado, um ou outro jornalista (como o próprio Reinaldo Azevedo), um ou outro blogueiro ou professor, que não rezam segundo a cartilha das patrulhas esquerdistas, mas estes são a minoria da minoria, e não estão articulados politicamente (alguns, como o deputado Jair Bolsonaro, são figuras folclóricas, que fazem mais bem do que mal à esquerda, certamente sem saber). O que é, diga-se com todas as letras, uma anomalia, uma verdadeira jabuticaba: o Brasil é o único - repito: o ÚNICO - país democrático sem um partido de direita forte e competitivo. Daí, aliás, não haver praticamente oposição ao lulopetismo.

Pior que isso: não há, no Brasil, uma cultura de direita. E o mais grave: num país em que a população é majoritariamente, esmagadoramente, instintivamente conservadora e de direita, como já escrevi aqui. O que torna ainda mais dramática e necessária a missão de romper a camisa-de-força ideológica imposta ao país por décadas de propaganda sistemática e persistente, que separou o mundo político do mundo real. Não por acaso, a população saiu às ruas em junho passado gritando "eles não nos representam": de fato, nenhum partido representa o pensamento médio do brasileiro. Tanto que, sem lideranças, os protestos não tiveram um Norte definido, perdendo-se no generalismo de slogans "contra-tudo-isso-que-está-aí" e no "por-um-mundo-melhor", facilmente apropriados pela esquerda radical...
 
Pergunta: Por que todos os políticos e partidos se dizem de centro-esquerda?
Minha resposta: Porque vigora no Brasil há décadas a hegemonia cultural e política das ideias de esquerda, via gramscismo. Daí a política, no Brasil, ter-se transformado num sambinha de uma nota só, como o é também o discurso cultural e nas universidades, em que todos repetem, por um automatismo inconsciente, os chavões e slogans marxistas. No Brasil, existem partidos de esquerda e fisiológicos, e só. Não é de surpreender, portanto, que as eleições sejam, há décadas, um concurso de esquerdismo - onde ganha, obviamente, o mais esquerdista. 
 
A hegemonia de esquerda é tão forte que partidos como o PT e seus aliados e derivados de extrema-esquerda se dão ao luxo de criar a própria direita. Na ausência de uma sigla que possa ser considerada como tal, o papel recaiu sobre o PSDB, um partido social-democrata, logo de centro-esquerda por excelência. Houve até um idiota que disse, um dia desses no Roda Viva da TV Cultura que os black blocs, os comuno-anarquistas aliados de legendas como PSOL e PSTU,  são... "de direita"! (a explicação que ele deu: "eles usam máscaras"...). Vigora, enfim, a mais completa demonização, a satanização, da "direita", aliás inexistente no Brasil, algo perigoso para a democracia. Nessas circunstâncias, não é de se estranhar que todos no Brasil sejam de centro-esquerda, algo que não ocorre em nenhum outro lugar no mundo.   
 
(Um parêntese: existe sim, direita no Brasil, mas uma direita burra, politicamente desarticulada - ainda bem. Inclusive, há políticos de direita ou conservadores - no mau sentido da palavra, não no burkeano - entre os partidos aliados do governo, e no próprio PT. Mas não é dessa direita que estou falando: refiro-me a um certo sentimento difuso, que se alimenta, paradoxalmente, do vazio ideológico deixado pela hegemonia esquerdista. Esse sentimento é facilmente constatado nas redes sociais, onde reina a indignação imediatista e exortações demagógicas a favor da pena de morte, por exemplo, são comuns. É uma "direita" formada geralmente de nacionalistas nostálgicos do regime militar ou de devotos religiosos, para os quais a aniquilação de seus inimigos ou o reino dos céus é mais importante do que a defesa da liberdade. Apesar de professarem um anticomunismo retórico, "direitistas" assim se sentiriam à vontade em países como Cuba e Coreia do Norte. Uma direita laica, responsável e democrática - conservadora, enfim - seria o melhor antídoto contra essa "direita" de fancaria. Esta apenas dá munição aos esquerdistas.)  
 
Pergunta: Por que alguns grupos ideológicos reivindicam o monopólio da virtude?
Minha resposta: Porque se consideram, como no caso dos partidos comunistas, entes de razão, donos absolutos da Verdade Revelada e da chave da História. Essa é a essência, aliás, da ideologia marxista, totalmente vitoriosa entre nós (e pior: por W.O...). Em nome desse ideal de uma sociedade perfeita no futuro, tudo, absolutamente tudo - o extermínio de 100 milhões de pessoas, por exemplo - é permitido, e coisas como o Mensalão tornam-se facilmente compreensíveis. Nesse sentido, o PT é um partido fundamentalmente leninista: todos os meios são válidos, aos olhos dos companheiros petistas, para chegar ao poder e nele se manter - o assassinato, de reputações ou de fato (vide o caso Celso Daniel), é apenas um exemplo. Trata-se do herdeiro legítimo de uma tradição revolucionária que remonta à Revolução Francesa, passando pela Revolução bolchevique na Rússia e, mais recentemente, pelo castro-guevarismo e pelo gramscismo, sem jamais reconhecer o valor inerente da democracia.  
 
Além disso, o PT tem uma arma poderosa à sua disposição, que falta às demais agremiações e que o aproxima ainda mais de partidos totalitários: os chamados "movimentos sociais". É sobretudo nessa área que se revela seu caráter gramscista, de partido que faz de tudo para alcançar seus objetivos. Não importa se as causas que professa e suas políticas práticas sejam absolutamente contraditórias: não se espantem se a defesa dos direitos humanos feita por uma Maria do Rosário ou um Luiz Eduardo Greenhalg caminha lado a lado com a devoção fanática a ditaduras totalitárias como a dos Castro em Cuba, ou se a tentativa de criminalizar a "homofobia" anda de mãos dadas com a defesa do regime teocrático do Irã, onde se enforcam homossexuais, ou ainda se a implantação de cotas raciais no serviço público seja uma forma de institucionalizar o racismo, ou se militantes feministas calam-se covardemente ante a incitação ao estupro feita por um professor esquerdista contra uma jornalista - todas essas bandeiras de minorias não passam de instrumentos, de um meio para se chegar ao fim almejado. Não esqueçam: o compromisso do PT e assemelhados é com o poder, e nada mais. Para tanto, não hesitam em manipular as causas mais disparatadas, a fim de minar o "sistema" e semear o caos, valendo-se de idiotas úteis. Antes, eram os camisas negras e a Guarda Vermelha; hoje, são os "movimentos" negro, indígena, feminista, LGBTT etc.
 
Pergunta: O conservadorismo é necessariamente reacionário?
Minha resposta: Absolutamente não. A associação entre conservadorismo e reacionarismo é uma invenção da esquerda, sobretudo da esquerda marxista, que penetrou profundamente nos corações e mentes da população brasileira. O conservadorismo nasce da moderação, da busca por mitigar os horrores trazidos pelos jacobinos na Revolução Francesa, e conservar - daí o nome - princípios universais consagrados anteriormente, dos quais a liberdade é o principal. Não por acaso, sua matriz é anglo-saxônica, tendo como um dos maiores filósofos o britânico Edmund Burke (1729-1797), e fortemente alicerçada nas conquistas institucionais das "revoluções" inglesa (1688) e norte-americana (1776) - revoluções só no nome, pois visaram antes a conservar, e não a transformar, a propriedade privada e a liberdade individual diante da ameaça do Estado absolutista. Na França revolucionária e sobretudo na Rússia, ao contrário, a revolução foi feita para eliminar a propriedade e, com ela, a liberdade do indivíduo, resultando nas piores formas de opressão estatal conhecidas na História da humanidade. Se o critério é a democracia e a liberdade, portanto, reacionários são os socialistas e comunistas, não os conservadores. 
 
(Mais um parêntese: não que não exista uma direita reacionária, como escrevi acima. Mas é a parte da direita que abandonou o conservadorismo, preterindo-o em favor de soluções estatistas e socialistas. Isso mesmo: socialistas. Parece confuso? Então lembrem do criador do fascismo, o ditador italiano Benito Mussolini, que veio das fileiras do Partido Socialista italiano. Não que ele tenha abandonado o socialismo para mergulhar no delírio totalitário - ele apenas lhe deu um outro nome. Mussolini e Hitler consideravam o liberalismo seu maior inimigo, adotando políticas muitas vezes copiadas dos comunistas, a começar pelo controle total da sociedade pelo Partido-Estado. Quando virem um esquerdista chamar alguém de "fascista" - um de seus xingamentos preferidos -, pensem nisso.)
 
Pergunta: Direita liberal e extrema direita se confundem?
Minha resposta: De maneira nenhuma direita liberal e extrema-direita se confundem, pois não se pode confundir liberalismo político e econômico com a sua antítese, o dirigismo estatal, encarnado tanto pela extrema-direita quanto pela extrema-esquerda. Daí os conservadores serem inimigos irreconciliáveis do totalitarismo, seja de direita ou de esquerda, mantendo uma distância não somente política, mas sobretudo filosófica, dos fascistas. O mesmo não pode ser dito da esquerda "moderada", ou centro-esquerda, em relação à extrema esquerda: une-as um laço fundamental, que é a devoção ao Estado, laço este comum também aos extremistas de direita. Por isso é mais provável uma aliança entre a esquerda e a extrema-esquerda (como de fato ocorre, atualmente, no Brasil), ou entre os dois extremos ideológicos, do que entre liberais (ou liberais-conservadores) e a extrema-direita. Aliás, a aliança entre os extremos de cada lado já se realizou historicamente (o pacto "de não-agressão" entre Hitler e Stálin, que foi o catalisador imediato da Segunda Guerra Mundial, em 1939). Uma aliança assim jamais seria possível entre liberais e fascistas.
 
Portanto, só se pode entender a atual hegemonia ideológico-cultural esquerdista no Brasil, e a consequente vilanização da "direita", como o resultado de uma grosseira falsificação da História e das ideias. Falsificação que precisa ser denunciada com todas as forças por qualquer pessoa com um mínimo de honestidade intelectual. Do contrário, o Brasil continuará a ser um país em que a política se resume a petistas e tucanos, dilmas e aécios. Uma quase república soviética, governada por comissários de araque - e sem oposição digna desse nome.

domingo, dezembro 15, 2013

ABAIXO OS PAIS DA PÁTRIA

A imagem da semana. Deveria ser a de todos os dias.
 
Três fatos da semana que passou merecem ser comentados. São os seguintes:
 
1 - a morte do líder anti-apartheid sul-africano Nelson Mandela ou, mais precisamente, a onda de mistificação histórica que se lhe seguiu, com contornos necrofílicos e de verdadeiro culto da personalidade, assunto de que tratei aqui em vários textos;
 
2 - a derrubada de uma estátua de Lênin, o líder da Revolução bolchevique de 1917 na Rússia e fundador da finada URSS, por um grupo de manifestantes que protestavam contra o governo pró-russo de Viktor Yanukovich, em Kiev, Ucrânia, e
 
3 - as revelações bombásticas do ex-secretário nacional de Justiça, o delegado da Polícia Federal Romeu Tuma Júnior, em livro recém-lançado (Assassinato de Reputações), entre as quais a existência de uma fábrica de dossiês no governo petista contra adversários políticos e o fato espantoso de que Luiz Inácio Lula da Silva foi um informante do DOPS, a polícia política do regime militar, nos anos 70 e 80 - o que o transforma, provavelmente, na maior farsa da História política do Brasil (além de testemunha indispensável a ser ouvida na "comissão da verdade" criada ironicamente para denunciar os crimes da ditadura militar).
 
Não escolhi as três notícias por acaso. Elas estão intimamente relacionadas, assim como os personagens em questão. Não obstante as diferenças óbvias existentes entre os três, Mandela, Lênin e Lula foram ou são líderes populares e carismáticos, com legiões de seguidores devotos e fanáticos. No caso de Mandela, as imagens do funeral não deixam qualquer margem à dúvida de que o personagem transformou-se, graças a um eficiente trabalho de endeusamento e desinformação, num semideus, sem qualquer relação com a realidade. O mesmo no que diz respeito a Lênin durante os anos da URSS. Quanto a Lula, partilha com os outros dois a aura de líder popular e ídolo da esquerda, apesar (ou, talvez, por causa) da montanha de denúncias de corrupção, que não param de se acumular. Enfim, os três são, cada um a seu modo, "pais da pátria". (Essa foi uma das expressões mais usadas na imprensa para se referir a Mandela, o "pai da nação sul-africana" etc.)
 
Aí está mais um bom motivo para destoar da multidão e não deixar de lado o senso crítico, que parece ter sido abandonado por grande parte da imprensa nesses dias. Tirando talvez os founding fathers, os pais fundadores dos EUA (que, mais do que um país, é uma ideia), desconfio de qualquer político (aliás, desconfio dos políticos em geral) que se apresentem, e que sejam considerados como, "pais da pátria". Por motivos que acredito serem óbvios.

Em primeiro lugar, o pai da pátria, o líder carismático e personalista, está sempre acima e à frente da população, colocando-se, assim, acima da própria democracia. Não deve ser por acaso que todos os países em que se cultuam líderes desse tipo - Bolívar na Venezuela; Gandhi na Índia; Jinah no Paquistão; Mao na China; Ho Chi Mihn no Vietnã; Nasser no Egito; Ataturk na Turquia; Perón na Argentina; Getúlio Vargas (ou, mais recentemente, Lula) no Brasil - têm problemas sérios com a democracia, ou ainda estão engatinhando no terreno democrático. Em geral, regimes totalitários ou países subdesenvolvidos ou do Terceiro Mundo (como eram chamados antigamente). É que a democracia é um sistema político essencialmente impessoal, baseado no império da lei e nas instituições, e não em homens fortes, do tipo caudilhos iluminados, que combinam mais com ditaduras.

Mesmo que o líder seja associado a causas irrepreensíveis como a luta contra o racismo, pela paz e pela democracia (o que não era bem o caso de Mandela, como procurei mostrar em meus textos anteriores), o fato é que a democracia, como forma de governar e filosofia política, é incompatível com o caudilhismo e o culto da personalidade, sob qualquer de suas formas. A democracia não combina com pais da pátria.

Em segundo lugar, o culto a caudilhos políticos, assim como a pop stars, é sempre algo irracional, baseado no emocionalismo e não nos fatos. A idolatria a Mandela - para ficarmos apenas no assunto que dominou as manchetes - não foge à regra, ancorando-se em doses cavalares de paternalismo e na infantilização das massas, que choram a morte do "paizinho" Madiba até com mais fervor do que se fosse alguém da família. Nos últimos anos, depois que deixou o governo em 1999, Mandela não fez mais do que estimular, mesmo indiretamente, esse tipo de comportamento irracional e infantilizado, ao qual não falta mesmo certo elemento erótico (vi um comentarista da Globo derramar-se melosamente em elogios ao sorriso de Mandela, "o mais bonito que já vi"...). Não há como negar o elemento de farsa nesse fenômeno. (Farsa bem ilustrada pelo episódio cômico-surreal do impostor que se fez passar por intérprete de sinais na cerimônia em homenagem a Mandela. Este, na verdade um esquizofrênico, tentou depois se justificar, dizendo que viu "anjos" no estádio de futebol... Um fenômeno de alucinação coletiva, na verdade.)  
 
Ao contrário do cada vez mais desacreditado Lênin, nem Mandela nem Lula foram derrubados do pedestal em que foram colocados por décadas de propaganda e bajulação por setores da política e da imprensa. É provável que a verdade sobre Mandela continue obscurecida durante muitos anos, pelo menos enquanto houver políticos e celebridades dispostos a continuar sustentando a mentira do líder pacifista e democrata (que comandou uma organização terrorista e era amigo de ditadores, é bom lembrar). Já Lula, o maior ícone da esquerda brasileira nas últimas quatro décadas, tem sua máscara retirada um pouco a cada dia, e as revelações de Tuma Júnior são uma marretada a mais no muro de mistificação erguido em torno do "maior líder operário da História do Brasil".

(E que marretada! O que torna ainda mais inexplicável que, com exceção da Veja, nenhum outro órgão da "mídia conservadora e capitalista" tenha dado publicidade às denúncias, as mais graves desde o mensalão, e que mereceriam, por isso, pelo menos uma edição especial do Fantástico... Até o momento em que escrevo estas linhas, reina um silêncio ensurdecedor sobre o assunto.)

Finalmente, como o segredo de aborrecer é dizer tudo (houve até um bobalhão que me chamou de "ressentido" por ter exposto fatos sobre Mandela...), aí vai uma história interessante, que a meu ver ilustra bem o mecanismo psicológico por trás do culto da personalidade, e que vale para os três casos citados acima.

Conta-se que, logo após a revelação dos crimes de Stálin (até então, o Mandela da esquerda mundial), em 1956, um velho militante comunista brasileiro, adaptado aos novos ventos de mudança que sopravam de Moscou, assim definiu o culto à personalidade do "camarada" Stálin, o paradigma de todos os cultos da personalidade, e que era chamado geralmente de "pai" pelos comunistas do mundo inteiro até ser desmascarado como o tirano sanguinário que era: "- Em minha cidade, quando alguém chama outro homem de pai sem que seja seu pai biológico ou adotivo, damos um nome a isso: filho da puta"

Definição que cabe bem a quem esconde fatos para edulcorar biografias. 

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Com este texto, completo mais de MIL posts publicados no blog. A maioria, de minha própria lavra. Espero ter contribuído, de alguma maneira, para romper o muro de silêncio e de estupidez que cerca os assuntos que abordei. Acho que vou dar um tempo no blog. Tenho outros projetos a que quero me dedicar. Assim, deixo já aqui meus votos de boas festas e de um bom ano, com mais lucidez e menos assuntos para comentar (embora saiba que isso será difícil; afinal, "eles" não param...). A todos que me acompanharam até aqui, UM FELIZ NATAL E UM EXCELENTE 2014!    

sábado, dezembro 07, 2013

OS RESSENTIDOS COM OS FATOS (RESPOSTA A UMA ALMA MUITO SENSÍVEL...)

Não crianças, esse velhinho de barba à esquerda na foto não é o Papai Noel...

Como previsto, meu último texto, "Mandela, o avesso do mito", deixou algumas pessoas chateadas. Algumas delas escreveram comentários em meu blog, acusando-me de (vejam só) racista, nazista etc. "Boa gente mesmo era o Hitler", escreveu um leitor anônimo, talvez acreditando estar fazendo com isso uma ironia. Outro, menos sardônico, mas nem por isso menos obtuso, comentou que o blog deveria ter parte com a Opus Dei, a CIA ou o que seja... Enfim, os xingamentos de praxe. Nada de novo no front, cavalheiros.
 
Um que ficou mordido pelo que escrevi foi um certo Giovane Martins. Ele enviou um link para um texto que escreveu no blog dele, o Blog do Giovane. Levado pela curiosidade, fui lá ler o texto. E quê! Lá pelas tantas, tive uma surpresa. Pois não é que o rapaz, em seu artigo, cita o meu texto (e meu blog)? Mais surpreso ainda fiquei ao ver que o autor não refuta absolutamente NADA do que escrevi. Isso mesmo: ele se referiu a um texto de minha autoria, de forma crítica (o tom é crítico), mas se isenta de dizer por quê. Praticamente diz que escrevi um monte de bobagem, mas não explica. Afirma, e pronto. Mais: ele despreza solenemente os fatos que mencionei sobre Mandela. Não só os despreza, como proclama isso abertamente! É que o Giovane é uma alma sensível, um rapaz que coloca as emoções acima da razão, como ele mesmo diz. Já eu, ao contrário, sou uma pessoa de coração duro, um brutamontes insensível, que ainda se apega aos fatos, vejam só... Entenderam? Eu também não.
 
Mesmo sabendo que textos desse tipo não merecem resposta, pois lhes falta um mínimo de honestidade intelectual (ao acusador recai o ônus da prova, como se diz em juridiquês), faço questão de compartilhar com vocês meus comentários sobre o que o tal Giovane escreveu. Vocês perceberão que ele se omite de analisar o teor de meu artigo, e se concentra, em vez disso, numa argumentação, digamos, emotiva... Fazendo jus ao nome deste blog, vou na direção contrária, e analiso seu texto racionalmente, linha a linha, ponto a ponto, reproduzindo-o aqui na íntegra (vai em vermelho, meus comentários vão em seguida).
 
Vejam que "maravilha", que peça impecável de argumentação lógica:
 
Os ressentidos contra Nelson Mandela
Os problemas começam já com o título escolhido, "Os ressentidos contra Nelson Mandela". Além do uso meio esquisito do adjetivo mais complemento ("ressentidos contra" é pleonasmo dos mais grosseiros...), fica a pergunta: "ressentidos" por quê, cara-pálida? Tirando os defensores mais empedernidos do apartheid, a quem o autor estaria se referindo? Por que alguém estaria "ressentido" com a morte do ex-líder do CNA?

Aliás, é inútil buscar no texto do Giovane alguma pista a respeito de quem ele está falando exatamente. Ele não explica. Aliás, ele não explica nada.     

Nelson Mandela morreu. O homem que pôs fim ao Apartheid, um dos regimes mais violentos e preconceituosos da história humana, sem provocar o derramamento de sequer uma gota de sangue de qualquer indivíduo, morreu*.
Em três linhas, duas afirmações equivocadas. Vamos lembrar:
 
1) Quem pôs fim ao apartheid não foi um ser iluminado chamado Nelson Rolihlahla Mandela. Foi, sim, um conjunto de fatores históricos, dentre os quais a libertação de Mandela da prisão, em 1990. Pode-se citar, aí, a intensa pressão internacional sobre o regime da minoria branca (até boicote esportivo houve), o fim da Guerra Fria, a visão de governo do presidente Frederik de Klerk, que teve a grandeza de libertar Mandela (e foi por isso agraciado com o Prêmio Nobel da Paz junto com ele, em 1993) etc. Enfim, o regime acabou por vários fatores, não pela ação de um homem (ou super-homem, como muitos parecem querer crer).  
 
2) Da libertação de Mandela, em 1990, até pouco depois de sua eleição para a presidência, em 1994, foram assassinadas dezenas de pessoas na África do Sul por motivos raciais e políticos, tanto por parte de racistas brancos quanto de militantes do CNA (que jamais renunciou oficialmente à luta armada até sua libertação). Nesse período, o país esteve à beira de uma guerra racial. Tanto que Mandela apelou a seus correligionários e buscou promover a reconciliação entre brancos e negros. E nisso, é preciso reconhecer, ele foi realmente grande. Portanto, não foi um processo totalmente pacífico, "sem o derramamento de sequer uma gota de sangue de qualquer indivíduo".

O que está acima são fatos, eu não os inventei. Mas Giovane não quer saber de fatos.

O homem que foi preso político por 27 anos, e que durante esse tempo, ficou 18 anos em uma cela de cinco metros quadrados, faleceu. Acho que já deixei claro que Nelson Mandela se foi. Porém, isso é uma mentira: o ex-presidente da África do Sul está mais vivo do que nunca, não fisicamente, mas simbolicamente. 
Dizer que líder A ou B "não morreu", pois está "vivo simbolicamente" etc. soa desagradavelmente semelhante ao culto da personalidade - nesse caso, uma forma de necrofilia. Os chavistas, por exemplo, sempre que se referem a Hugo Chávez, falam não em morte, mas na "desaparição física" do "comandante supremo"... Se eu acho isso bom? Preciso mesmo responder?

Toda a comoção gerada em torno da morte do líder sul-africano o torna mais vivo ainda, já que nesse momento, suas ideias, sua força de vontade, seu exemplo de vida e toda sua inteligência estão dentro do coração de pessoas do mundo inteiro.
Isso é culto da personalidade em sua forma mais pura. Já podem pedir sua canonização.
 
O que eu acabei de escrever vai causar raiva em algumas pessoas de coração mais duro, as que se dizem "racionais", que colocam a razão à frente da emoção o tempo todo e que, provavelmente, se dão mal diante da arte, como a dança a poesia, o teatro etc.
Não sei quanto aos outros, mas a mim afirmações como a que está acima causam não raiva, mas espanto. A vida e morte de Mandela não são assunto da arte, da dança, da poesia ou do teatro (bom, talvez do teatro...), mas da política. E Mandela, meus senhores, era um político, quer queiram quer não. Não era um pintor, um bailarino, um poeta ou um ator (bom, talvez ator sim...). Era um político. Po-lí-ti-co. Quem morreu foi Nelson Mandela, não Brad Pitt ou Roberto Carlos.   
 
Ao contrário do que pensam estes indivíduos, a capacidade de limitar as emoções em relação a razão não os deixa em uma posição favorável diante das pessoas que são mais sensíveis.
???? Quem escreveu isso, Zíbia Gasparetto?
 
Pelo contrário: as emoções podem nos dizer mais do que a própria razão.
Hummm... é mesmo? Não em política. No terreno da política, as emoções são uma péssima conselheira. Quando se abandona a razão em política e se dá lugar à emoção, aos instintos, o resultado geralmente é o aparecimento de líderes populistas e demagogos. E quando isso acontece, pior para a democracia. Assistam aos filmes dos comícios nazistas, por exemplo: não há ali um pingo de razão, somente emoção. Emoção pura, à flor da pele. Certamente, se as multidões alemãs que idolatravam Hitler tivessem deixado um pouco de lado as emoções e parado para pensar, a humanidade teria sido poupada do que veio depois. Não me peçam para jogar a razão no lixo, por favor.

(E antes que digam: por favor, não pensem que estou comparando Mandela a Hitler. Isso é um insulto à inteligência. Estou lembrando o papel da manipulação das emoções no culto à personalidade. Não me façam apertar a tecla SAP, OK?)
 
Vou dar um exemplo fácil e recorrente: uma pessoa adora comer carne e sua razão lhe dá vários motivos para continuar fazendo isso; mas quando essa pessoa visita um matadouro, nunca mais consegue comer carne, por mais que seu lado racional lhe diga que comer animais não vai lhe fazer mal. Agora essa pessoa está diante de um problema ético, não de saúde, e quem lhe diz isso são seus sentimentos. Em outras palavras, as emoções podem ensinar o que a razão achava que já sabia. 
Exemplo estranho, esse. Primeiro, porque não conheço ninguém, a começar por eu mesmo, que adora comer carne movido pela razão, mas pela fome, pelo apetite, que não tem nada de racional. Pelo contrário: trata-se de um instinto, um sentimento literalmente visceral, portanto alheio à razão. Aliás, se formos usar a razão nesse caso, evitaríamos comer carne, devido aos danos que daí podem advir para a saúde (colesterol etc.), como não param de repetir os médicos e os programas de TV. Segundo, porque quem come carne sabe muito bem como ela é produzida, tanto que há casos incontáveis de pessoas que não perderam em nada o apetite por um bom churrasco após visitar um matadouro (quem já morou em fazenda sabe disso). E isso não tem nada a ver com insensibilidade para com os pobres bois e carneiros, mas com a fome, pura e simplesmente. Em outras palavras, esses exemplos não esclarecem nada. O que não é de se estranhar, já que o autor afirma desprezar a racionalidade, como afirma adiante.
 
Agora se preparem, pois vem a parte que cita o texto que publiquei, e que pretende ser uma "crítica" a ele.
 
Após o falecimento de Nelson Mandela, percebi várias pessoas gritando contra aqueles que estão "o endeusando", sempre com a justificativa de que não se deve ser tomado pelas emoções. Uma publicação que me chamou a atenção vem do Blog do Contra, de caráter conservador, que deve ser conhecido por apenas uma meia dúzia de pessoas (assim como o meu), mas que expôs, em um post intitulado "Mandela, o avesso do mito", toda a bobagem que é o culto à racionalidade.
Quanto aos outros, não tenho o que dizer, só falo por mim e por minhas palavras. Critico o endeusamento de Mandela, agora elevado à condição de santo após a morte, pelos motivos que expus no meu texto. Ou seja: não somente pelo emocionalismo do momento, mas, principalmente, porque esse culto da personalidade não condiz com os FATOS. Assim como todos os demais, o de Mandela se baseia na mentira e na manipulação ou omissão da verdade.
 
O autor diz que o "culto à racionalidade" que ele identifica em meu texto é uma "bobagem". Devo concluir, então, que a sabedoria está com o culto à irracionalidade? 
 
(Nem tudo no texto dele é irracional, justiça seja feita. Pelo menos ele acerta ao dizer que meu blog tem caráter conservador - embora duvide que ele saiba o significado dessa palavra. Quanto a ser conhecido por apenas meia dúzia de pessoas, nunca parei para contar. Nem dou a mínima para isso.) 
 
Não vou fazer qualquer resenha ou análise dos "fatos sobre o Mandela" que o autor do texto descreveu.
Como assim? Não vai analisar o que eu disse? Então por que citou o texto (inclusive dando o título etc.)? Não vai refutar nada do que eu escrevi mas ainda assim critica? Confesso que agora fiquei confuso. Deve ser a primeira vez que alguém fala mal de um texto sem o refutar.
 
Pouco me importa se o ex-presidente da África do Sul foi amigo do Fidel Castro, se os políticos que o sucederam fracassaram ou não, ou se o CNA (Congresso Nacional Africano) tornou-se uma máfia.
Giovane pouco se importa, mas EU me importo. Eu e qualquer outra pessoa com um mínimo de respeito aos fatos e à lógica. Mandela está sendo louvado e endeusado como um herói da liberdade e da democracia. Como tal, espera-se de um tal personagem um mínimo de coerência. Ser amigo pessoal de tiranos como Fidel Castro, Muamar Kadafi e Robert Mugabe (o ditador mais antigo da África na atualidade) é não apenas falta de coerência, mas de decência, de respeito pelos milhares de vítimas das ditaduras comandadas por esses canalhas. Mandela jamais disse um "ai" em defesa dos direitos humanos nos países tiranizados por esses carniceiros. Pelo contrário: sempre os defendeu com ardor, chamando-os inclusive de "irmãos" e atacando os que condenavam seus abusos (postei inclusive um vídeo mostrando isso). Se Giovane acha fraco um argumento baseado na razão, use as emoções então: impossível não ficar com o coração apertado diante dos mais de 100 mil mortos pela ditadura comunista cubana, muitos fuzilados ou devorados por tubarões ao tentar fugir da ilha-prisão. Ou com um nó na garganta ao lembrar as famílias de brancos que tiveram seus membros assassinados e suas propriedades roubadas ou destruídas por turbas insufladas por Mugabe no vizinho Zimbábue. Ou os incontáveis torturados e assassinados pelo regime e as meninas violentadas no harém particular do "amigo e irmão" coronel Kadafi (este último, deve estar esperando por Mandela no além). 
 
Outra coisa: Thabo Mbeki e Jacob Zuma, os desastrosos sucessores de Mandela, não são apenas seus sucessores: são seus herdeiros, seus afilhados políticos. Foi graças a ele, Mandela, que eles chegaram ao poder e transformaram o país num paraíso da corrupção, da AIDS e do banditismo político. O mesmo vale para o CNA, essa gangue que há duas décadas vive de sugar o Estado. O autor pode estar se lixando para isso, mas eu não.  

Os artifícios e os argumentos utilizados contra o Nelson Mandela são idênticos aos que estão sendo adotados contra outras figuras que também estão ganhando visibilidade como o Ministro Joaquim Barbosa: fala-se do que pessoas ligadas a ele fizeram, ou do que ele fez dentro da lei e que possa parecer imoral, como se isso o tornasse um terrorista. O que foi dito no blog em questão também não é novidade, todo mundo já viu ou ouviu algo parecido nas últimas 24 horas, ou em outras ocasiões semelhantes. 
Confesso que poucas vezes vi tamanha imaginação num texto que deveria ser sobre uma figura política recém-falecida. O que, meu Deus do céu, tem a ver as minhas críticas ao endeusamento de Mandela com os ataques dos petralhas ao Joaquim Barbosa? Vai saber...
 
Posso estar enganado, devido ao estilo um tanto quanto evasivo do texto, mas se o autor está se referindo ao que Mandela fez no passado, antes de ser preso ("fala-se do que pessoas ligadas a ele fizeram, ou do que ele fez dentro da lei e que possa parecer imoral, como se isso o tornasse um terrorista"), então aproveito para repetir: ele foi preso por ter organizado atos TERRORISTAS (atentados à bomba, assassinatos etc.) à frente da organização Umkhonto we Siwe (Lança da Nação), o braço armado do CNA, do qual ele foi comandante.  Trata-se de um fato. Mas o autor despreza os fatos.

Portanto, a novidade argumentativa não existe neste texto. Já aturamos estes [SIC] sujeitos por muito tempo, sempre lutando contra o pensamento "das massas", sempre procurando uma posição de rebeldia social, mas incessantemente dizendo a mesma coisa. Porém, o que eles ainda não perceberam, é que  a rebeldia das ideias está em pensar criticamente, caso a caso, ao invés de pensar e falar de acordo com suas ideologias políticas. Quem se diz "de esquerda" ou "de direita" torna-se mais previsível e entediante do que um jogo da velha. 
Outro parágrafo estranho, típico de um texto cujo autor mandou a razão às cucuias. Primeiro, não pretendi apresentar nenhuma "novidade argumentativa" em meu texto, apenas recuperar fatos em geral omitidos. Fatos, aliás, que não têm nada de novo, muito pelo contrário. Não sei o que o autor quer dizer com "rebeldia social" - esse termo, para mim, tem mais a ver com os esquerdistas de botequim e marxistas de galinheiro, gente que usa o sobrenome "Guarani-Kaiowá" no Faceboook e que considera Mandela um santo. Estou em outra. Se a tal "rebeldia das ideias", como ele diz, está em "pensar criticamente", então devo concluir que o autor não é nada rebelde, pois deixou o pensamento crítico completamente de lado em seu texto/ode/louvor a Mandela, renunciando a analisar o caso em questão... Quanto a se dizer "de esquerda" ou "de direita" ser algo previsível ou entediante, concordo, tanto que prefiro que digam o que sou ideologicamente. Acho mais chato, porém, quem foge de definições, insistindo no nenhumladismo e no encimadomurismo militante (que, no Brasil, não passa de uma forma de esquerdismo envergonhado). A propósito, qual a ideologia do autor: radical de centro?   

Não citei o texto do Blog do Contra só para dar minha opinião sobre posições políticas. Também não sai da minha cabeça que se a educação fosse melhor, não passaríamos por isso, teríamos mais intelectuais de verdade, que sabem modificar o mundo com suas palavras. Citei o texto porque além da má qualidade na educação e das posições políticas tortas, estamos sendo atingidos por um furacão de pessoas ressentidas. Mas ressentidas com o que, ou quem?
Boa pergunta: ressentido com o quê? com quem? Fiz a mesma pergunta no começo deste texto. Giovane cita levianamente meu texto para fazer uma ilação, segundo a qual eu faria parte do "furacão de pessoas ressentidas". Escrevi minha crítica aos adoradores de Mandela por honestidade intelectual, movido pelo desejo de defender a verdade histórica, que a meu ver está sendo omitida para dar lugar a uma mistificação. Que alguém veja nisso algum traço de "ressentimento" é algo que só pode ser explicado por... bem, escolham a explicação.
 
Deixando de lado o blablablá paulofreiriano sobre educação (!?), que parece tirado de alguma cartilha do MEC (quais seriam "intelectuais de verdade" para o autor: Emir Sader? Marilena Chauí? Frei Betto?), gostaria de voltar ao motivo que me levou a escrever esta resposta: por que o autor citou criticamente o meu texto, se não embasa nenhuma de suas críticas a ele? (Estou quase indagando se seria por "ressentimento", mas deixa pra lá...). Enfim, por que alguém se daria ao trabalho de mencionar um texto de um blog, diz que não concorda com o que o texto diz e logo em seguida afirma que não irá fazer qualquer análise sobre o teor do texto em questão? Alô? 
 
O ressentimento também deve ser analisado caso a caso. O mundo dá motivos para que fiquemos ressentidos o tempo todo. Mas o que é interessante, é que os ressentidos geralmente se deram mal em algum campo da vida e resolvem descontar nos outros; assim, o ressentimento também tem uma pitada de inveja. 
OK, admito: escrevi que Mandela foi amigo de ditadores porque sou um ressentido. Afirmei que ele foi terrorista na juventude porque sou um invejoso. Só fiz isso porque não ganhei aquele carrinho de controle remoto que o Juquinha ganhou quando eu tinha sete anos. Por isso desconto no Madiba. Agora espero ver os fatos que citei serem refutados. Vou ter de esperar muito?
 
Nelson Mandela ficou preso por quase um terço de sua vida, em condições precárias. Sofreu com o preconceito, com a violência e o autoritarismo dos brancos racistas, e mesmo assim, saiu da prisão e não ficou ressentido. Conseguiu pensar em um meio de começar a promover a igualdade na África do Sul sem partir para a guerrilha, reconhecendo o próprio erro que cometeu no passado. Colocou seu plano em prática, e fez revolução sem sangue. Virou presidente, fez da África do Sul uma democracia e comandou o país por cinco anos, resistindo ao impulso natural de qualquer líder revolucionário, de tomar o poder e não sair mais, tornando-se um novo ditador. Não fracassou em nenhum ponto. Nem na própria saúde ele fracassou: viveu 95 anos, mais do que muita gente que lava as mãos sempre que encosta em um cachorro. 
Esse é o único parágrafo que fez alusão a fatos (que o autor desdenha, aliás). Fatos, aliás, que cito em meu texto sobre Mandela. Sim, ele foi encarcerado por 27 anos. Sim, ele teve o bom senso e a sabedoria de renunciar ao terrorismo e de promover a reconciliação nacional na África do Sul. Sim, ele soube reconhecer os erros (na verdade, os crimes) do passado, e criou até uma comissão da verdade para expor as atrocidades cometidas pelos dois lados do conflito.  Sim, ele ajudou a transformar a África do Sul numa democracia. Tudo isso é verdade. A pergunta é: e o resto que escrevi em meu texto, não é verdade? Só uma parte da verdade é o que conta? 
 
A propósito: Oscar Niemeyer morreu com 105 anos de idade, dez a mais do que Mandela. E morreu um completo idiota em política, louvando as glórias do camarada Stálin... É mais uma prova de que nem sempre a idade traz sabedoria. Às vezes viver mais significa ter mais tempo para errar mais. Mandela viveu 95 anos. Teve tempo de sobra para reconhecer seus erros e se desculpar por eles. Mas preferiu não fazê-lo. Poderia ter morrido maior do que foi. Pena.
 
Por isso, a morte de alguém como o Mandela gera tanta comoção. Gera comoção porque não o teremos mais providenciando mudanças tão importantes; gera comoção porque o mundo perdeu um herói (sim, ele é um herói), um ser humano que serve de exemplo para todos nós. Por outro lado, é essa comoção que provoca o ressentimento daqueles que não querem ver ninguém por cima.
 
Eles esperam que a sociedade haja [SIC] de forma indiferente diante da morte de quem tem poucos defeitos, como o Nelson Mandela. Um fracassado só elogia outros fracassados, e espera que todos façam a mesma coisa. É insuportável, para ele, ver tanta gente emocionada por uma única pessoa.
A morte de Mandela gerou comoção porque ele era um símbolo, e pouco mais do que isso. Um símbolo de uma causa - a luta por "liberdade", "paz" ou "democracia" - com a qual nem sempre ele foi coerente. Quanto a gerar mudanças importantes, desde 1999 que ele não fazia mais nada na área. Desde então, acomodou-se ao papel de ícone de celebridades, recebendo gente do showbiz e roqueiros deslumbrados. Servia de "exemplo para todos nós"? Na oposição a um regime racista e na defesa da reconciliação nacional, sem dúvida nenhuma. Nisso, ele foi herói. Na amizade com ditadores e na herança política? Difícil.
 
Então, meu caro Giovane, "é essa comoção que provoca o ressentimento daqueles que não querem ver ninguém por cima"? Teoria interessante. Quer dizer que apontar um lado obscuro da biografia de alguém, ainda mais alguém transformado em santo e herói sem mácula pela esquerda mundial e pela maior parte da imprensa, é simplesmente ter ressentimento? Vai ver é por isso que alguns artistas no Brasil querem proibir biografias não-autorizadas. Os biógrafos devem ser todos uns fracassados, uns ressentidos, que não podem ver ninguém "por cima"... 
 
Por isso, pregam pela [SIC] racionalidade. Dizem "sejamos racionais", e logo depois propagam uma série de bobagens sem sentido.
Acabei de descobrir que defender a racionalidade e propagar bobagens sem sentido são coisas semelhantes. Em tempo: quando o Giovane vai apontar as bobagens que eu digo em meu texto?  (Notem que ele diz "racionalidade", e não "racionalismo", que é algo diferente.)
 
Tentam racionalizar suas emoções, mas também fracassam nisso, já que o ressentimento, que é uma mistura de raiva, inveja e outros sentimentos ruins, sempre acaba se sobressaindo.
"Racionalizar as emoções"... Entramos agora no reino das considerações psicanalíticas. Só assim para tentar explicar por que alguém escreve um texto atribuindo a crítica ao culto da personalidade de um líder morto a "uma mistura de raiva, inveja e outros sentimentos ruins"... Freud explica (ou não). 
 
Felizmente, como escrevi no começo do texto, Mandela não morreu. Ele é um imortal, e hoje somos milhares de Mandelas no mundo todo. Não precisamos nos preocupar com sua ausência, pois já absorvemos o Mandela que admiramos, assim como os ressentidos absorveram o "lado ruim" do Mandela. 
Nossa! Agora quase fiquei emocionado. "Mandela não morreu, é imortal" ou "Somos todos Mandela" bem que poderiam virar slogans da moda. Aliás, acho que vi um cartaz na TV dizendo mais ou menos isso. O mesmo disseram os chavistas quando morreu o caudilho Hugo Chávez. É um motivo a mais para manter o senso crítico em relação a endeusamentos do tipo.
 
Sempre que alguém pedir para que você não haja [SIC] com os sentimentos, fuja desse ressentido. O iluminismo já acabou, e faz tempo. 
Vou terminar imitando o Giovane: Sempre que alguém pedir que você AJA com os pés e não com a cabeça, fuja desse desmiolado. O totalitarismo e o culto da personalidade já acabaram, e faz tempo. Pelo menos, deveriam ter acabado. 
 
Agora chega, né? Melhor parar por aqui. Afinal, ao contrário do que pensa o Giovane, tenho coração mole.