sexta-feira, outubro 02, 2009

A FARSA DE HONDURAS


Cada vez fica mais difícil para os lulo-bolivarianos esconder o que já se tornou mais que óbvio: a encrenca em que o governo Lula se meteu em Honduras é o maior fiasco da diplomacia brasileira, entre tantos outros fracassos que têm sido colecionados pelo Itamaraty, nos últimos anos. Talvez, o maior de toda a História, desde o Barão do Rio Branco.

Aos poucos, a verdade vai se impondo, abrindo caminho em meio às camadas e camadas de mentiras que foram despejadas pela chamada grande imprensa, em conluio com a propaganda chavista-zelaysta-bolivariana, desde o dia 28 de junho. Aqui e ali, já começam a surgir vozes que ousam destoar da manada, rasgando o véu de unanimismo burro que tentou inverter a realidade e apresentar golpistas como democratas, e democratas como golpistas.

A primeira de todas as falácias que está sendo desmontada como um castelo de cartas é que houve um golpe de Estado, ou golpe militar, em Honduras, cuja vítima teria sido Manuel Zelaya. Isso foi repetido até a exaustão pela imprensa escrita, falada e televisionada, e parte da opinião pública, anestesiada pelo bombardeio midiático, comprou a tese sem pensar - chegou-se a apresentar, como principal argumento de que houve golpe, o fato (?) de que Zelaya teria sido preso de pijamas... como se isso caracterizasse golpe de Estado! (nesse caso, o ex-prefeito de São Paulo, Celso Pitta, que foi filmado sendo preso em casa, no meio da noite e vestindo pijamas, foi certamente vítima de golpe). Na verdade, não houve golpe algum, a não ser o tentado por Zelaya - e que ele deseja reeditar, com a ajuda de Lula. Como já demonstrei aqui, uma simples consulta à Constituição de Honduras é suficiente para comprovar que Zelaya foi destituído porque tentou violá-la de maneira escandalosa (em especial os Artigos 42, 237, 239 e 242), e que o "governo de facto" agiu para que a Lei fosse cumprida. Ou seja: basta consultar a Carta Magna do país para saber que os verdadeiros golpistas são Zelaya e seus apoiadores, e não Roberto Micheletti.

Assim que surgiu a notícia de que Zelaya estava entrincheirado na embaixada do Brasil, que ele transformou em seu QG político para pregar a insurreição no país, apareceu a tese, sistematicamente repetida pela turma lulista, de que o Brasil estava agindo assim por causa de sua importância - ou, como gostam de dizer os diplomatas, devido ao "aumento de seu protagonismo político no continente, em virtude da ação ousada do governo Lula" etc. etc.

É mais uma balela, tornada mais ridícula ainda por causa do tom patrioteiro e ufanista no qual vem embalada. Ao permitir que Zelaya, um sujeito que além de tudo não parece bater bem da bola (ele afirma ser vítima de emissões de "radiação de alta freqüência" por "mercenários israelenses", por exemplo), usasse a embaixada brasileira como seu comitê político, o governo Lula trocou os pés pelas mãos, patrocinando uma das maiores trapalhadas diplomáticas de todos os tempos. E isso pelos seguintes motivos:

Primeiro, porque interveio diretamente nos assuntos internos de outro país, jogando a não-intervenção e o respeito à soberania na lata do lixo (violando, assim, o Artigo 19 da Carta da OEA e a própria Constituição do Brasil) e desqualificando-se, portanto, como possível "mediador" da crise - esperança que alguns ainda insistem em ter, apesar dos fatos.

Segundo, porque tornou-se responsável, automaticamente, por qualquer violência que vier a ocorrer no país: se Honduras mergulhar na guerra civil, tal como desejam Zelaya e sua trupe, a culpa recairá inteiramente sobre o governo do Brasil.

Terceiro, porque colocou em risco a segurança dos funcionários da embaixada e da comunidade brasileira residente em Honduras, a qual se tornou alvo de hostilidades por parte dos cidadãos hondurenhos, indignados pela violação à sua soberania e pelo apoio brasileiro declarado a um político que tentou rasgar a Constituição para perpetuar-se no poder.

Quarto, e finalmente, porque Lula, Celso Amorim e Marco Aurélio Top Top Garcia deixaram cair a máscara cultivada cuidadosamente até agora, de que seriam a face "moderada" e "responsável" da esquerda na América Latina, mostrando-se, na verdade, cúmplices ativos de Hugo Chávez e de seu projeto megalômano de exportar a "revolução bolivariana". A partir de agora, ficará muito mais difícil para os analistas internacionais convencerem o público que Lula constitui uma "alternativa" light e democrática aos arreganhos totalitários de Hugo Chávez e cia. Em suma, caiu por terra a tese da esquerda "vegetariana", como um anteparo à esquerda "carnívora".

Tão escancarada está sendo a violação da soberania de Honduras pelos governos do Brasil, Venezuela e Nicarágua, que até mesmo o queridinho dos bolivarianos, o terceiromundista Barack Hussein Obama - o presidente dos sonhos de Ahmadinejad e de Muamar Kadafi -, parece ter compreendido que o apoio a Zelaya foi longe demais e o representante dos EUA na OEA criticou como irresponsável sua volta ao país, reconhecendo o óbvio. Falta apenas reconhecer outro fato óbvio: que o movimento para derrubá-lo do poder foi desfechado para preservar a Lei.

A pantomima lulo-bolivariana em Honduras parece não ter fim. Agora os apoiadores de Zelaya investem em atacar o governo "de facto" - na verdade, de fato e de direito - de Honduras pelas medidas de estado de sítio no país. Sabem que o rótulo de "golpista" não cola mais, e precisam encontrar outra forma de enganar e manipular a opinião pública. Acreditam que conseguirão isso mostrando cenas de policiais contendo manifestantes zelayistas e levando todos a se indignarem contra o fechamento provisório de emissoras de rádio e TV em Honduras (o dono de uma delas, a principal emissora pró-Zelaya do país, declarou que Hitler deveria ter exterminado todos os judeus do mundo... É esse tipo de gente que Lula e Amorim querem ver no poder em Honduras.) É uma pena que, assim como no caso do "golpe" que não houve, os lulo-bolivarianos não leram a Constituição de Honduras. Se o fizessem, aprenderiam que medidas como essa, assim como o próprio estado de sítio, estão previstas na Carta Magna, como ações temporárias infelizmente necessárias para defender as instituições nacionais em caso de perigo - como é exatamente o caso.

Mas entende-se: os lulo-bolivarianos são contra fechar rádios e emissoras de TV, de forma temporária e para preservar a Lei. Eles são a favor mesmo é de fechar as rádios e jornais que os desagradam de forma permanente, como está fazendo Hugo Chávez e como fez Fidel Castro em Cuba. O que eles não suportam é quem pense diferente deles. É quem não compartilhe suas mentiras.

Em Honduras, Lula, Chávez e Ortega fizeram uma aposta arriscada. Contando com o apoio da OEA e da ONU, sem falar no governo Obama, acreditaram que todos engoliriam a tese do "golpe" e do Zelaya "democrata" e "mártir da democracia". Então, contrabandearam-no para dentro da embaixada brasileira, convertida em bunker do chavismo. Acharam que isso criaria um fato consumado, diante do qual o governo provisório hondurenho, acossado pelo isolamento internacional, teria que ceder. Pensaram, enfim, que seria um passeio. Não contavam com a resistência heróica do povo hondurenho, cuja maioria absoluta - mais de 70% - é radicalmente contra ou indiferente a Zelaya e a seu projeto de transformar o país em sua fazenda pessoal. Não acreditaram em nenhum momento que o governo interino lhes daria um ultimato para que decidisse o status de Zelaya, ficando, assim, com duas alternativas: ou lhe concede o asilo, caso em que ele teria de cessar sua agitação política e abandonar sua pretensão de retomar o poder na marra, ou o entrega de vez às autoridades hondurenhas, para que seja julgado por seus crimes. Em qualquer caso, Lula et caterva sofreram uma dura derrota: ainda que consigam reinstalar Zelaya no poder com todos os poderes, como ele deseja, já estão desmascarados como defensores de um golpista e inimigo da democracia. Quebraram a cara. Sim, os golpistas foram derrotados - os verdadeiros golpistas.

A cada dia fica mais claro para um número maior de pessoas quem são os verdadeiros golpistas em Honduras. Fica claro também que o Brasil perdeu uma excelente oportunidade de não compactuar com uma gigantesca farsa ou, pelo menos, de ficar calado. O governo Lula será motivo de chacota por ter aderido de forma tão escrachada ao golpismo bolivariano, servindo de homizio a um caudilho bananeiro. O rei está nu. Como diz o ditado: "malandro demais se atrapalha".
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O governo Lula enterrou definitivamente o que restava de sua credibilidade em Honduras. É uma pena que quase ninguém esteja prestando a devida atenção.

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