quinta-feira, novembro 20, 2008

ZUMBI, O ESCRAVOCRATA


Hoje é o "Dia da Consciência Negra". Sobre a data, que já entrou para o calendário oficial brasileiro, não vou me estender muito aqui. Já escrevi extensivamente sobre o assunto (quem quiser saber o que penso da efeméride, é só clicar aqui: http://gustavo-livrexpressao.blogspot.com/2007/11/dia-da-conscincia-negra-uma-data.html). Vou-me limitar a comentar, de passagem, alguns fatos no mínimo curiosos a respeito dessa que já se tornou uma cause célebre dos militantes de esquerda no Brasil: a questão racial. Acompanhem.

- Na mesma semana em que se comemora o "Dia da Consciência Negra", a revista VEJA publica uma matéria reveladora sobre Zumbi dos Palmares, o maior ícone da luta de resistência contra a escravidão negra no Brasil, adotado pelos "militantes negros" como símbolo maior da luta contra o racismo.

A reportagem informa que, segundo pesquisas recentes de historiadores, Zumbi era, ele próprio, dono de escravos. Além disso, na época em que ele viveu (século XVII), a idéia de igualdade entre os homens era simplesmente inexistente - esse conceito só surgiria um século depois, com o Iluminismo na Europa. Assim como aconteceu com Tiradentes, sua transformação posterior num símbolo da luta anti-escravista foi, na verdade, o resultado de uma mistificação histórica, de um processo de idealização. Caiu mais um mito da esquerda brasileira.

- Alguns anos atrás, três estudantes da PUC do Rio foram agredidos, verbal e fisicamente, por uma horda de colegas indignados. O motivo: alguns artigos publicados num jornalzinho que mantinham.

No jornalzinho que editavam, os três estudantes criticavam a abordagem da questão racial pelos militantes do "movimento negro", e usaram uma expressão - "negros escravocratas" - que desencadeou toda a onda de ódio contra eles por parte de seus colegas e da direção da Universidade.

A expressão se referia à escravização de negros africanos por membros de outras tribos na África, o que durou séculos, antecedendo de muito o início do tráfico negreiro para o outro lado do Atlântico. E que continua, aliás, hoje em dia, em alguns países do Leste da África.

Trata-se de um fato histórico, sobejamente provado e comprovado por dezenas de estudos e livros. Mas os estudantes foram espancados por uma multidão raivosa, que considerou a expressão "racista".

- Na UnB, uma das maiores universidades do Brasil, um professor do curso de Ciência Política foi punido com vários dias de suspensão depois que um aluno, sentindo-se ofendido por ele ter usado a expressão "crioulada" em sala de aula, entrou com uma queixa-denúncia contra ele por "racismo".

Na mesma semana, o presidente Lula usou, entre risos, a mesma expressão (crioulo, crioulada) para se referir a um fato de sua infância. Não se ouviu nenhum clamor ou queixa contra ele por causa disso.

Mais recentemente, o mesmo Lula, ao se referir à eleição de Barack Obama para a presidência dos EUA, saiu-se com a seguinte frase: "Se o governo Obama não der certo, serão necessários séculos para outro negro ser eleito presidente dos EUA". Novamente, não se viu ninguém acusando Lula de racismo ou coisa parecida.

- Na mesma UnB, há algum tempo vigora um sistema de cotas raciais que reserva 20% das vagas nos cursos oferecidos a estudantes que se declararem e forem considerados "afro-descendentes". No ano passado, dois irmãos gêmeos idênticos se inscreveram no vestibular da UnB pelo sistema de cotas. Um foi considerado negro e outro, não.

Esses são apenas alguns exemplos de uma realidade cada vez mais difícil de esconder no Brasil.

O Brasil não era um país racista. Graças aos "militantes negros", está se tornando.

P.S.: Você está vendo algum branco na gravura acima?

quarta-feira, novembro 19, 2008

ELES NÃO DESISTEM - MAIS FALÁCIAS DOS REVANCHISTAS

Antes, queriam Anistia; hoje, querem revanche - e chamam isso de justiça


Segue um vermelho-e-azul com o texto "Terrorismo de Estado", publicado na seção Tendências/Debates da Folha de S. Paulo de hoje, 19 de novembro, de autoria da "jurista" Deisy Ventura, professora da USP (onde mais?). Quem ainda tiver neurônios para pensar não vai ter dificuldades para perceber que, por debaixo do trololó aparentemente humanitário e do "juridiquês" de araque, se esconde um raciocínio bastante tortuoso, que serve apenas para justificar o revanchismo de Tarso Genro e assemelhados. Ela em vermelho; eu em azul.
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Terrorismo de Estado
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DEISY VENTURA
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Urge repelir a idéia de que a anistia "vale para os dois lados". Primeiro, pelo descalabro técnico. Depois, pela infâmia política
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Esquentam as mãos do ministro Eros Grau, no Supremo Tribunal Federal, dois processos que marcarão a cultura política e a imagem internacional do Brasil.Como relator da ação em que a OAB questiona a interpretação da Lei de Anistia, Grau pediu vista dos pedidos argentino e uruguaio de extradição do general Manuel Cordero, um dos protagonistas da iniciativa supranacional de repressão política denominada Operação Condor.Caberá, então, ao STF decidir não apenas sobre a possibilidade de julgar agentes públicos pelos crimes contra a humanidade praticados durante a ditadura militar brasileira, mas também exercer a espúria faculdade de impedir que países vizinhos façam o mesmo em relação aos seus acusados.
Logo de início, a desonestidade intelectual mais descarada. Não há qualquer termo de comparação entre a ditadura militar no Brasil e as ditaduras militares argentina e uruguaia. No Brasil, morreram 376 pessoas (segundo contagem do próprio governo) nas mãos de agentes da repressão durante 21 anos (mais as 119 assassinadas pelos terroristas de esquerda). Nesses outros dois países, a repressão foi muito mais feroz. Na Argentina, houve cerca de 30 mil mortos. No Uruguai, em certo momento praticamente um em cada cinqüenta (1/50) uruguaios estava na cadeia, um record mundial. A participação de militares brasileiros na chamada "Operação Condor" foi mínima. Qualquer comparação entre o que aconteceu no Brasil e nos países vizinhos é pura forçação de barra.
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E antes que digam: não, isso não significa justificar nada do que aconteceu nesses países. Significa repor as coisas em seu devido lugar. Não há comparação possível entre 376 mortos e 30 mil, ou entre 376 e 100 milhões. Não há comparação possível entre anos de chumbo e rios de sangue. Adiante.
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Num Brasil gravemente acometido de amnésia seletiva, o debate encontra-se turbado pela estapafúrdia tese do "vale para os dois lados" -isto é, rever a anistia dos militares implicaria necessariamente rever a dos subversivos, ditos "terroristas". Urge, portanto, repelir a idéia de que a anistia vale tanto para torturados quanto para torturadores.
Concordo totalmente com a afirmação sobre a amnésia coletiva do brasileiro. A começar pela própria autora, que insiste em retratar os "anos de chumbo" de forma unilateral, "esquecendo-se" de mencionar a violência da esquerda no período. Aliás, é exatamente isso o que faz Tarso Genro e Paulo Vanucchi: querem "rever" a Lei de Anistia de 1979 para punir apenas um dos lados - o lado, justamente, da repressão. O "vale para os dois lados", minha senhora, não é uma "tese", muito menos "estapafúrdia"; é um fato - a Lei, goste-se ou não dela, perdoou a todos. Querer revogá-la é, portanto, querer punir a todos, e não uma parte somente. Repito: o perdão não é uma tese - é um fato histórico, que a esquerda quer agora que seja revogado a seu favor.
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Primeiro, pelo descalabro técnico.Há quem reconheça como jurista só aquele que o defende. Porém, o direito aqui é cristalino. O Estado detém o monopólio da violência legítima. Dele apropriando-se ilegitimamente e agindo em seu nome, "autoridades" dispuseram de recursos estatais para promover sistematicamente a tortura, que resultou, em numerosos casos, na execução sumária, agravada pela ocultação de cadáver.Depois, o poder estatal garantiu-lhes acordo leonino, pelo qual crimes comuns, entre eles o estupro, foram interpretados como se políticos fossem.
Analisemos a questão tecnicamente, então. De fato, há quem reconheça como jurista somente quem o defenda - os "juristas" que defendem o terrorismo como legítimo, por exemplo. Estes não dão a mínima para os males causados pelos terroristas, pois só se importam com um lado da questão. Aqui, também, o direito é cristalino: a Constituição Federal de 1988, por exemplo, deixa claro em seu texto que terrorismo e tortura - e não somente um ou outro - são crimes inafiançáveis. Ou seja: a Lei determina que ambos são crimes contra a humanidade, como está também em várias convenções internacionais, aceitas pelo Brasil. Além disso, explodir bombas e matar pessoas inocentes, bem como seqüestrar diplomatas e assaltar bancos, assim como estupro, são também crimes comuns, e não políticos. Ou o monopólio da violência legítima, nesse caso, mudou de mãos e passou para as organizações de esquerda que matavam, roubavam e seqüestravam? Isso, sim, me parece um descalabro.
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Ademais, quem se opõe à violação da ordem constitucional não é terrorista, é resistente. O direito à resistência é vigente no Brasil desde os anos 1950, por força do direito humanitário, que igualmente veda a tortura e a execução, mesmo durante a guerra.
Ahá! Viram só? Coloquei a frase em negrito de propósito. Ela revela o próprio cerne do texto. Segundo a autora, o terrorismo da esquerda não era terrorismo. Não era terrorista, mas "resistente", quem explodia bombas e arrebentava a coronhadas a cabeça de prisioneiros... E isso por quê, meus senhores e minhas senhoras? Porque os bravos "resistentes" estavam lutando contra a "violação da ordem constitucional"... Eram, portanto, lutadores pela democracia e pela liberdade. Uma resistência democrática, enfim. Desculpem a falta de jeito, mas nessa questão é preciso ser o mais claro possível: ISSO É SIMPLESMENTE MENTIRA!
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A autora parece desconhecer completamente o que os próprios terroristas (perdão, "resistentes") diziam a respeito de si mesmos. Como Carlos Mariguella, o principal ideólogo da luta armada e dirigente da organização de Paulo Vanucchi, a ALN, que em seu Minimanual do Guerrilheiro Urbano enalteceu explicitamente o terrorismo ("ser terrorista é uma condição que enobrece qualquer homem de bem"...). Assim como ignora por completo que não há nenhum documento de organização da esquerda armada no período que defenda a democracia contra a "violação da ordem constitucional" pelos militares no poder. Ao contrário, o que valentes como Mariguella e Paulo Vanucchi queriam não era restaurar a democracia coisa nenhuma, mas simplesmente trocar de ditadura - no caso, a ditadura militar por uma ditadura de esquerda, socialista ou comunista, nos moldes de Cuba ou da China maoísta. Sem falar que o projeto guerrilheiro - a luta armada como caminho para a tomada do poder - já existia muito antes do golpe de 64 (logo, antes da "violação da ordem constitucional"). Não dá para deixar de dizer: Vai estudar, dona Deisy! Vai se instruir!
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Segundo, pela infâmia política.Há quem defina como ideologia somente a dos outros. É o primeiro passo para criminalizá-la. Ora, nunca houve risco real de implantação de um regime comunista no Brasil. A ampla maioria dos cassados, torturados e desaparecidos jamais praticou qualquer violência. Contudo, impunes aves de rapina não cessam de difamá-los, argüindo que tiveram o que mereciam, como se as vítimas estivessem a jogar o queixo contra os punhos dos algozes. Vocês percebem como eu sou paciente com essa gente? Eles distorcem a História descaradamente, acintosamente, e mesmo assim eu me dou ao trabalho de refutá-los com fatos e argumentos. Parafraseando a própria autora: há quem defina como História somente o que lhe convém. É o primeiro passo para deturpá-la.
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Coloquei o trecho em negrito também de propósito. Hoje, no distanciamento histórico, é fácil dizer que os grupos armados de esquerda não representavam perigo para o regime militar. Mas a percepção da época - e, principalmente, da esquerda - era bem diferente. Leia-se qualquer texto produzido pela esquerda na época e fica claro o triunfalismo, a sensação de que a vitória da revolução e do socialismo estava ao alcance da mão, estava bem ali, na esquina... Os militares levaram a sério esse perigo, e cometeram muitos abusos. Mas certamente menores, diga-se, do que os que a esquerda praticaria, caso chegasse ao poder (basta ver a campanha de Tarso Genro para revisar a Lei de Anistia para perceber que dificilmente a esquerda anistiaria seus inimigos).
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Além disso, em 1964, houve sim o risco de o Brasil se transformar numa ditadura comunista ou, pelo menos, sindicalista. Quem diz isso não sou eu, nem é qualquer militar golpista: são os próprios comunistas. Pouco antes do golpe, Luiz Carlos Prestes declarou de forma clara que os comunistas já estavam no governo, e preparavam apenas o assalto ao poder. Jacob Gorender, num livro que tem o mérito da honestidade (Combate nas Trevas, Ed. Ática, 1987), afirma claramente que, em 1961-1964, o Brasil vivia uma situação "pré-revolucionária", e que o golpe dos militares, portanto, foi "preventivo". Basta correr os olhos rapidamente sobre qualquer livro (sério) de História sobre o período que se perceberá que a esquerda radical caminhava a passos largos para a tomada do poder, o que significaria a destruição da democracia. Quando os militares derrubaram o governo Goulart, há muito este fizera sua opção pela ilegalidade. Não foram somente os milicos que acabaram com a democracia em 1964: simplesmente ninguém a queria. Tendo perdido a parada, a esquerda, desde então, tem se apresentado como democrata. É um engodo. Uma verdadeira infâmia política..

Outra coisa. Sim, é verdade que vários cassados, torturados e mortos (não "a ampla maioria", como diz a autora) pela repressão no Brasil não tinham nada a ver com a luta armada. Mas isso não torna o terrorismo menos sanguinário e criminoso. Não justifica os seqüestros e assassinatos cometidos em nome de Lênin, Fidel e Mao. Até porque, como a própria autora afirma, nem todos que se opuseram à ditadura optaram pela luta armada - o que demonstra que esta não era a única forma de luta possível contra o regime militar. Entretanto, para a doutora Deisy, lembrar esses fatos é difamar os mortos. Ela não parece preocupada com o fato de que, ao classificar os terroristas como "resistentes", ela está, isso sim, difamando suas vítimas, muitas das quais simples transeuntes. Não venha me dizer que a luta armada não era terrorismo e era uma forma de resistência democrática, por favor!
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Diante de tal (in)cultura, não surpreende que, na atualidade, jovens favelados já nasçam suspeitos, esgueirando-se nas ruas diante dos temidos agentes do Estado.
Como é que é? Então os favelados são vistos como suspeitos pelos meganhas por causa da Lei da Anistia? É isso mesmo? Essa senhora é incrível...
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Aliás, é curioso: Tarso Genro e Paulo Vanucchi parecem muito preocupados em revisar a Lei para punir crimes de quarenta anos atrás, enquanto não demonstram o mesmo entusiasmo em impedir o mesmo crime de tortura e coisas piores nas cadeias brasileiras hoje em dia. Deve ser porque os torturados de hoje não têm o mesmo pedigree ideológico...
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É preciso também refutar o enganoso argumento da prescrição.Farta e unânime jurisprudência internacional, inclusive da Corte Interamericana de Direitos Humanos, cuja jurisdição é aceita pelo Brasil, sustenta a imprescritibilidade dos crimes contra a humanidade. Não se trata de imposição, eis que o direito internacional consiste justamente no exercício da soberania nacional em foro externo. Construído pelo consenso entre as nações, aplicá-lo é tarefa constitucional de cada Estado.
Bom... Nesse ponto, dona Deisy, acho que estamos de acordo. Sim, porque, assim como a senhora, também considero imprescritível e crime contra a humanidade a tortura. Tenho os torturadores na mesma conta que amebas ou protozoários. Mas, ao contrário da senhora, estendo essa mesma classificação para o crime de terrorismo, seja de esquerda ou de direita ou de centro (supondo que haja terrorismo de centro). Além disso, temos um problema aí. Ainda que a CIDH diga que tortura seja crime imprescritível, e mesmo eu não sendo especialista em Leis (deixei o curso de Direito no segundo ano), não vejo como revogar uma Lei de 1979, que se refere a crimes cometidos de 1961 até aquela data, com base numa legislação de 1988 (a Constituição Federal). Convenhamos que isso seria meio complicado, não acha? Então, das duas uma: ou se mantém a Lei como está, garantindo a anistia ampla, geral e irrestrita - como queria, aliás, a esquerda na época de sua aprovação -, ou se revoga a Lei, e, nesse caso, se pune todo mundo: torturadores e terroristas. A senhora concorda com isso?
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Contudo, orgulhoso por sua retumbante inserção comercial internacional, o Brasil está cada vez mais isolado do mundo no que tange à memória e à justiça. Cumpridor do direito do comércio, o país ainda engatinha quanto à aplicação do direito internacional dos direitos humanos.
Confesso que esse pessoal me deixa cada vez mais confuso... O que tem a ver o "direito do comércio" - do qual o Brasil, aliás, ainda está longe de ser um cumpridor fiel - com memória e justiça e direitos humanos? Vai ver que para que o Brasil se torne realmente um país de primeiro mundo é preciso, antes de mais nada, revogar (seletivamente) a Lei de Anistia e voltarmos à situação pré-1979, apenas com o sinal ideológico invertido... Esquerdistas são esquisitos mesmo.
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Uma recente audiência pública da Comissão Interamericana de Direitos Humanos e o anúncio de que uma vítima de Cordero levará o Brasil à corte interamericana auspiciam que a responsabilidade internacional do Estado poderá ser invocada em caso de omissão. Por outro lado, por força do princípio da jurisdição penal universal, outros países já deflagraram ações contra torturadores brasileiros.Apesar de tudo, o governo brasileiro está dividido. No julgamento da ação bravamente movida pelo Ministério Público Federal contra o general Ustra, a atuação da Advocacia Geral da União foi constrangedora.
Por que a atuação da AGU foi constrangedora? Teria sido porque cumpriu o que está na Lei? Mesma Lei, aliás, que anistiou muitos dos que Ustra prendeu e, dizem, torturou? teria sido porque não fez um julgamento político, e sim jurídico, da questão? Afinal, Lei se cumpre, e ponto. A propósito: parabéns para a AGU!
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Ou será que agora existem duas leis, uma para a esquerda, que está hoje no poder, e outra, para ser "bravamente" aplicada somente para punir milicos de pijama, sem mais qualquer influência na vida nacional? Isso mostra apenas uma coisa: para a doutora Deisy, a aplicação da justiça deve obedecer a um critério ideológico. Se o mal foi cometido contra a esquerda, é um crime contra a humanidade. Se foi a esquerda que cometeu... é outra coisa.
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Além do mais, sendo o terrorismo um crime contra a humanidade, assim como a tortura, o mesmo critério poderia ser adotado para pedir a punição dos responsáveis pelas mortes de cidadãos estrangeiros no País por organizações armadas de esquerda. Gente como o capitão norte-americano Charles Chandler, por exemplo, metralhado na frente de sua família por um grupo de fogo da ALN e da VPR (um dos assassinos recebeu uma gorda indenização do Estado como "perseguido político"), ou o major alemão Westerhnagen, morto por engano por um comando terrorista no Rio de Janeiro. Será que a doutora Deisy aprovaria a punição dos que cometeram essas ações, em nome do princípio da jurisdição penal internacional? Cuidado, doutora, vai que a senhora consegue o que deseja...
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Os políticos favoráveis ao julgamento levam a pecha de revanchistas.Seria também revanche o sentimento a mover os 400 juristas que assinaram o manifesto em prol do debate público nacional sobre a Lei de Anistia, lançado em 28/8/08, no pátio da Faculdade de Direito da USP? E as 3.500 pessoas de 38 diferentes países que se somaram à Campanha Internacional pela Extradição de Cordero?
"Na falta de argumentos sólidos, apelemos para a força dos números..." É a velha tática esquerdista em ação: tantas pessoas puseram seus nomes num manifesto, logo o manifesto só pode expressar algo certo e justo... Ainda espero um dia esse mesmo critério matemático ser utilizado para pedir indenização ao Estado pelas 119 vítimas (muitas delas, inocentes) da esquerda armada no Brasil de 1964 a 1979. Ou será que esses mortos escolheram o lado errado?
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No programa para crianças que anima na rádio Justiça ("Aprendendo Direitinho"), o ministro Eros apresenta-se como vovô Grau. Em breve, ele terá de contar aos netinhos-ouvintes uma história sobre terríveis condores, disfarçados de cordeiros e passarinhos. Que seja bem contada e sem páginas arrancadas, que a trama não se passe numa ilha e que, ao final, prevaleça a justiça.
Titia Deisy: venho aqui dizer que assisto ao programa do Vovô Grau. Só queria que a senhora me dissesse quando é que vai me contar aquela historinha, aquela sobre terríveis guevarinhas e maozinhos, disfarçados de bonzinhos combatentes da liberdade. Queria que ela fosse bem contada e sem páginas arrancadas, sem esconder nada, e que a trama se passe aqui mesmo, embora a senhora pareça morrer de amores por uma certa ilha, onde um velhinho barbudo manda há 50 anos e já despachou 95 mil para o além. Talvez seja lá, nessa ilha da fantasia, com seu paredón, que se alcançou, para a doutora Deisy e para Tarso Genro e Paulo Vanucchi, a verdadeira justiça...

terça-feira, novembro 18, 2008

TRÊS PERGUNTAS SEM RESPOSTA PARA BARACK OBAMA



A imagem acima mostra um anúncio de página inteira, publicado na edição de segunda-feira, 17 de novembro, do jornal The Washington Times.

Antes de entrar no assunto do anúncio propriamente dito, vamos recordar alguns fatos.

Há meses vem rolando um processo na Justiça norte-americana movido por um advogado da Pensilvânia, Phil J. Berg, contra o presidente eleito dos EUA, Barack Hussein Obama.

O processo exige que Obama apresente provas documentais irrefutáveis de que é um cidadão norte-americano, uma vez que a Constituição dos EUA exige esse pré-requisito a qualquer cidadão que queira um dia ocupar a Casa Branca. Foi dado a Obama um prazo para que apresentasse a documentação requerida judicialmente.

Algumas semanas atrás, o prazo chegou ao fim - e Obama não apresentou o documento (original ou cópia autenticada da certidão de nascimento) provando ser ele cidadão nato dos EUA.

De TODOS os 43 presidentes norte-americanos até agora, Barack Obama foi o ÚNICO que NÃO fez isso.

Desnecessário dizer que o assunto foi completamente ignorado pela imprensa brasileira, assim como pela norte-americana e mundial.

A ser verdade o que diz o anúncio - o qual, até agora, não teve nenhum desmentido -, em 20 de janeiro de 2009 tomará posse na presidência do país mais poderoso do mundo um indivíduo que mentiu sobre sua nacionalidade, e que desrespeitou acintosamente a Constituição do país que irá governar.
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A seguir, apresento alguns trechos selecionados do anúncio de página inteira publicado no Washington Times. O original em inglês está aqui: http://www.obamacrimes.com/
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A propósito: o advogado que entrou com o processo contra Obama, Phil J. Berg, é Democrata.
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Leiam e tirem suas próprias conclusões.

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Três Perguntas Não-Respondidas

Barack Obama nasceu no Quênia?

Ele é mesmo um Cidadão da Indonésia?

A Constituição ainda vale?


(...)

Obama diz que está qualificado [para ser presidente dos EUA]. Mas, Berg, múltiplos processos legais e um número crescente de cidadãos americanos estão dizendo: "Prove". Um requerimento básico, vital e constitucional.

Por que Obama não responde um requerimento tão simples e essencial?

(...)

A própria avó de Barack Obama disse que ele nasceu no Quênia. Enquanto os políticos são conhecidos por fazê-lo, avós raramente mentem. Está gravado em fita:

"Eu estava na sala de parto em [Mombasa], Quênia, quando ele nasceu em 4 de agosto de 1961". - Sarah Obama, avó paterna de Obama

(...)

Especialistas classificaram a Certidão de Nascimento colocada on-line [no site oficial de Obama] como uma falsificação. Berg relatou que "ela foi claramente alterada", o que a invalida, de acordo com o próprio documento. Acrescente-se a isso a lei do Havaí na época, que permitia que as pessoas se registrassem em um formulário simplificado não-hospitalar (sem a assinatura de um médico) até um ano depois da data de nascimento da criança.

(...)

Somente cidadãos indonésios podiam freqüentar escolas indonésias na época em que Barack Obama freqüentou a escola indonésia em que ele foi registrado como Barack Soetoro. Sua cidadania foi listada como indonésia, sua religião como Islã, e seu pai como Lolo Soetoro, M. A. Também não havia dupla cidadania à época. (...)

Além disso, de acordo com a lei dos EUA concernente a nascimentos no exterior, de "24 de dezembro de 1952 a 13 de novembro de 1986", a fim de registrar o nascimento da criança como um cidadão nato dos EUA à época do nascimento de Obama, ele ou ela deve ser: 1. Nascido de dois cidadãos dos EUA; OU 2. Se somente um dos pais for cidadão dos EUA à época do nascimento, esse pai deve ter residido nos Estados Unidos por pelo menos 10 anos, pelo menos cinco dos quais deve ter sido após a idade de 14 anos.

Uma vez que o pai de Barack Obama não era cidadão dos EUA e a mãe de Obama tinha somente 18 anos de idade à época do nascimento dele, ela não cumpriu as exigências legais de residência nos EUA por pelo menos cinco anos após os 14 anos de idade.

Ou a Constituição vale ou não vale

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Agora, a pergunta que não quer calar:
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Por que nada disso apareceu no New York Times ou no Jornal Nacional?

Um texto primoroso de João Pereira Coutinho

Quero ser o primeiro a reproduzir na blogosfera o texto de hoje do João Pereira Coutinho na Folha de S. Paulo. Simplesmente primoroso. Vai ao encontro de muita coisa que tenho escrito aqui sobre o assunto, principalmente sobre o Iraque. Deveria servir de leitura obrigatória para todos os antiamericanos de plantão, que vêem em Bush - e não em Bin Laden ou em Ahmadinejad - a encarnação do demônio. Confiram.
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George Bush não existe
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João Pereira Coutinho
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Eu sou um masoquista. De vez em quando, entro em certas salas de cinema com a certeza absoluta de que irei sofrer horrores. E sofro. Mas sofro com um sorriso nos lábios. Serei normal?
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Oliver Stone é um caso. Nunca, em toda a minha vida, assisti a um filme de Oliver Stone que não fosse medíocre e desonesto. Mas, ano após ano, não desisto: compro o bilhete, entro na sala e sofro, sofro, sofro.
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Esse ano, foi "W", o filme que Stone preparou para se despedir de George W. Bush. E que tem Stone para nos dizer sobre o Belzebu?
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Usando metade do cérebro, Oliver Stone evita o clichê sacramental: apresentar Bush como um pobre ignorante do Texas que pensa e age como um símio. Para desânimo de milhões de idiotas do mundo inteiro que se sentem estupidamente inteligentes porque acreditam que Bush é estupidamente analfabeto, Stone não cai nessa tentação.
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Mas não consegue evitar outra: espalhar a sombra de Bush (pai) sobre Bush (filho). Os mandatos de Bush são reduzidos a um drama freudiano em que George W. Bush apenas pretende o amor de seu pai homônimo.
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A invasão do Iraque, por exemplo, não é o resultado de um pensamento estratégico da administração americana; não é baseada em informação, errada ou parcelar, dos serviços secretos; e jamais é percepcionada como punição pelo fato de Saddam Hussein violar as resoluções da ONU.
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Caçar Saddam é mera vingança: o carniceiro de Bagdá tentara matar Bush (pai). O filho, no papel de Rambo, pretende agora vingar o pai e ser finalmente reconhecido por ele. O Bush de Stone não inspira ódio; inspira pena. Uma amiga minha, feroz anti-bushista, terminou o filme com vontade de abraçar o presidente.
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O filme de Oliver Stone tem uma moral: os anos de Bush ainda não são pensáveis racionalmente. São tema para ignorâncias várias que disputam uma versão do presidente sem reconhecerem a complexidade, e mesmo a ambigüidade, que existe em qualquer estadista.
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Para uns, Bush é a encarnação do demônio. Para outros, o presidente certo em tempos de guerra incertos. Para outros ainda, um pobre de espírito e um ignorante sem perdão.
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Mas o retrato, a poucos dias do fim, não autoriza nenhuma dessas versões. E o tempo acabará por fazer com Bush o que fez igualmente com Truman ou mesmo Nixon: conceder-lhe um lugar, alguns méritos e alguns deméritos.
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Comecemos pelo Iraque. Um erro monstruoso, que alimentou Guantánamo, os escândalos de Abu Ghraib e a emergência do Irã como potência regional a caminho da bomba? Provavelmente, sim.
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Mas a invasão do Iraque, por outro lado, terminou com o reinado de um dos maiores déspotas da história moderna e um patrocinador reconhecido do terrorismo do Oriente Médio. E se a guerra iraquiana parecia perdida há quatro anos, é hoje consensual que o aumento de homens no terreno pacificou o país e pode produzir uma democracia funcional. Não é coisa pouca.
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Como não é coisa pouca o fato de os Estados Unidos não terem sofrido outro 11 de setembro. Isso fez-se com o sacrifício de algumas liberdades civis? Também é verdade, e o próximo presidente deverá reequilibrar a velha equação entre segurança nacional e liberdade individual. Mas Bush entendeu, depois do 11 de setembro, que era necessário desacreditar as ideologias islamitas a que alguns países davam abrigo, como a Arábia Saudita e o Paquistão, hoje irreconhecíveis. E ainda está por escrever a história completa dos operacionais da Al Qaeda que as forças americanas eliminaram. A Al Qaeda de 2008 é uma sombra da Al Qaeda triunfal de 2001.
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O que resta? Resta um déficit gigantesco, a que a crise econômica e financeira dá uma expressão dramática. Inegável. Mas resta também uma ajuda humanitária ao flagelado continente africano sem paralelo na história dos Estados Unidos. O combate à AIDS, por exemplo, contou com US$ 15 bilhões; contra a tuberculose e a malária, com US$ 48 bilhões. E perdoou-se a dívida externa a 19 países africanos, qualquer coisa como US$ 34 bilhões. Estes números não têm comparação com qualquer outro presidente americano, Bill Clinton incluso. Na hora do adeus, África já sente saudades de Bush.
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E o mundo?
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O mundo discute se Bush foi um herói, um vilão, um idiota. Ou, como Oliver Stone, um Édipo invertido, disposto a ganhar o amor do pai pela força das armas contra Saddam. Cautela, gente: Bush não existe como caricatura. E pensar com metade do cérebro não é coisa de pessoas racionais.

quinta-feira, novembro 13, 2008

Resposta a uma leitora muito tolerante


"E se contar aquela piada de bichinha, eu prendo e arrebento!"


Recebi um comentário muito delicado, de uma conterrânea minha. Trata-se de alguém, como vocês verão, muito tolerante com as opiniões alheias, muito aberta ao diálogo franco e democrático, além de muito civilizada, com uma linguagem bastante elevada. O comentário em questão foi sobre meu texto "A Intolerância dos Intolerantes (ou: o direito de dizer besteira)", publicado aqui em 21 de abril passado. Eis aqui o comentário, o qual transcrevo na íntegra:

Ao me deparar com textos como esse[sem senso algum]eu percebo quantos imbécis existem nesse país.O fato é que vc pode usar esse espaço aqui e falar todas essas besteiras [ sim, porque vc não é homossexual, portanto, não sabe nada, digo e repito, nada sobre a dor e a felicidade de sê-lo]enquanto muitos de nós [ sim, sou homossexual, nordestina, mulher e feminista, e daí?!]não sabemos se voltaremos para nossas casas, pois nesse país, de maioria cristã, somos PERSEGUIDOS [ isso não é posar de vítima é mostrar a realidade, se informe antes de escrever sandices!] não só com palavras, mas com agressões físicas.Não só por estes cristão, mas por muitos outros que acham que estamos violando as leis divinas.Lamento por um colega de profissão [sou graduanda de história pela UFRN] tenha uma postura tão infantil diante de uma realidade tão infame e vergonhosa para nossa humanidade.

Recomendo que vc leia urgentemente Michel Foucault [ História da Sexualidade], Simone de Beauvoir [ Segundo Sexo, já que vc acha as feministas umas "vítimas-posers"].

Luci Araújo

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Pois é... Cada uma que a gente tem que agüentar em nome da liberdade de expressão, não é mesmo? Já estou acostumado com esse tipo de faniquito. Tudo bem dizer que meu texto é "sem noção" (adoro esses neologismos) e me brindar com epítetos carinhosos ("imbécil" - assim mesmo, com acento e tudo!). Também não vejo problema em dizer que uso este espaço para dizer "besteiras" e "sandices" e em lamentar minha postura tão "infantil". Não tenho problema nenhum com isso. Afinal, queira-se ou não, são opiniões também. Nada mais do que isso.

Não peço a ninguém que goste de minhas opiniões, nem que concorde com elas. É do jogo. Peço apenas que não distorçam a realidade nem queiram que eu cale a boca. E é exatamente isso que faz a autora do comentário acima, essa pérola de elegância e de argumentação lógica. A mim, podem xingar à vontade; aos fatos, não.

Comentando as "besteiras" que eu aqui digo, a amável leitora, que vai logo brandindo a sua condição de "homossexual, nordestina, mulher e feminista" (e ainda indaga: "e daí?", como se eu tivesse alguma coisa a dizer, contra ou a favor, sobre alguma dessas condições - com exceção, talvez, do fato de ser feminista, mas isso é assunto para outro post), a amável leitora, dizia eu, usa essa sua condição auto-proclamada para afirmar algum tipo de superioridade cognitiva intrínseca nessa sua "opção" sexual ("vc não é homossexual, portanto, não sabe nada, digo e repito, sobre a dor e a felicidade de sê-lo").

Bom, sobre a felicidade ou não de ser gay, confesso que não sei nada mesmo, e espero que a distinta leitora me perdoe por eu não ter a menor intenção de conhecer esse estado beatífico da natureza humana. Sou hetero, e estou muito feliz assim, obrigado. Logo, segundo o que se depreende do comentário acima, devo pertencer a uma categoria, digamos, menos evoluída, menos avançada da humanidade. Acho, portanto, que vou continuar na ignorância das delícias supostamente associadas a essa "opção", para sua tristeza...

Já quanto à suposta dor de sê-lo, a remetente parece saber bastante, a julgar pela veemência com que descreve os perigos supostamente atribuídos à condição homossexual ("muitos de nós [...] não sabemos se voltaremos para nossas casas, pois neste país, de maioria cristã, somos PERSEGUIDOS", além do mais, "não só com palavras, mas com agressões físicas").

Ao ler o que vai aí em cima, fiquei realmente preocupado, pois acreditei, por um instante, que eu vivia em um país em que não existe Democracia, nem Lei, nem Constituição - a qual, aliás, já pune com a devida sanção penal quem quer que, por qualquer motivo, encha de bolachas um travesti ou um "viadinho", pela única e simples razão de não gostar de homossexuais...

Também me imaginei, por uma fração de segundo, que no país em que eu vivia - o qual tem, diga-se, a maior "Parada do Orgulho Gay" do mundo, e que já virou até programa familiar dominical -, os gays estariam sendo vítimas de um verdadeiro "genocídio", como gostam de dizer, com campos de extermínio dedicados, 24 horas por dia, a transformar seus corpos em fumaça.

Mas aí eu acordei e percebi que o país onde eu estava era o Brasil mesmo, e não o Irã ou a Arábia Saudita. Então respirei aliviado.

Pois é. É justamente num país assim, conhecido pela tolerância com que trata os homossexuais - se têm alguma dúvida, dêem uma olhada nos programas de TV e perguntem quais atores/diretores/produtores NÃO são gays -, que uma minoria organizada de militantes profissionais e seus apoiadores estão enxergando um novo Holocausto homossexual, com neonazistas de cabeça raspada e pastores evangélicos fanáticos armados até os dentes em cada esquina.

E é num país como esse, em que todos - digo e repito: todos (heterossexuais, homossexuais, bissexuais, panssexuais, assexuados etc.) - são IGUAIS perante a Lei, que essa minoria pretende, sob a alegação de combater o preconceito (que existe, não nego), criar uma nova situação jurídica, na forma de uma lei "anti-homofóbica" que, se aprovada, irá institucionalizar o que pretende combater - ou seja: a discriminação, o preconceito, por motivo de opção sexual, apenas com o sinal trocado.

Quem perde com isso? Não o preconceito, certamente. Perde, isso sim, é a liberdade de expressão, sobretudo a liberdade de expressão religiosa (e inclusive a liberdade de os homossexuais expressarem como quiserem sua sexualidade), e a igualdade de todos perante a Lei. Enfim, a própria Democracia, que será tutelada pela censura e pela ditadura do politicamente correto.

Tudo isso, claro, não significa nada para quem escreveu o comentário transcrito acima. Para ela, Democracia e liberdade de expressão só devem existir se for para beneficiar a tribo a que pertence. Quem ousar contestar essa atitude, e lembrar que a Lei é para todos, será rotulado de "homofóbico". A que ponto chegamos.
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P.S.: Ah mais uma coisa: agradeço a sugestão de leitura. Mesmo não tendo Foucault e Beauvoir lá em alta conta em minha biblioteca particular. Faço apenas uma ressalva quanto ao "leia urgentemente". Para ler um livro, minha cara, deve-se ter tudo menos pressa. Ao contrário, deve-se ler com vagar, com calma. Assim, pelo menos, não corremos o risco de sair por aí espumando de raiva e distribuindo impropérios contra quem pensa diferente. A leitura deve ser um antídoto à intolerância, principalmente quando disfarçada de tolerância.

A ATEMPORALIDADE DO HORROR POLÍTICO - RESPOSTA A UMA LEITORA COM UMA GRANDE SENSIBILIDADE ARTÍSTICA



Há quem não veja nenhuma semelhança entre as duas imagens acima...

Aí vem uma leitora, que se assina "Sumaia Villela", e escreve o seguinte reclamando do meu texto - na verdade, da imagem que eu escolhi para ilustrar o texto - de 25 de fevereiro, "Fidel, o discurso isentista e a filosofia dos eunucos morais", em que eu comentava a reação da imprensa brasileira diante da "renúncia" do Coma Andante, depois de 49 anos mandando e desmandandado na ilha-presídio de Cuba:

"Acho que você deveria saber que o autor do quadro que ilustra seu comentário, o Goya, era revolucionário na sua época. Era simpático aos ideais da revolução francesa, que derrubou regimes monarquistas em diversos países e diminuiu seu poder nos que ainda o mantém. Essa imagem é da invasão da Espanha pela França, e, apesar de ser favorável ao lema "liberdade, igualdade e fraternidade", Goya demonstrou com muita propriedade o horror provocado pela guerra e o massacre realizado pelos franceses. Mas, infelizmente, nada tem a ver com seu assunto, e acho desapropriado utilizar uma imagem que reflete outro tempo histórico para ilustrar um assunto contemporâneo.

Não vou tocar aqui nas discordâncias elementares que tenho, só queria enriquecer seu conhecimento, porque é uma obra de arte belíssima, mas que foi utilizada erroneamente, ao meu ver."

Olha, sei que já disse isso antes, mas ô pessoal esquisito esses esquerdistas, viu? Na falta de argumentos para rebater um texto, resolvem implicar com a imagem que o ilustra. Devem se achar críticos de Arte também. Pena que, com isso, só dão com os burros n'água. Demonstram não só sua visão bastante distorcida do que vem a ser Arte, como sua incapacidade de compreender a relação desta com a realidade atual. Não entendem sequer uma associação simples entre imagem e idéia, assim como são incapazes de entender a ironia. Não deve ter sido por acaso que o melhor que produziram, em termos artísticos, foram os monstrengos do "realismo socialista"... Acho que vou precisar inserir a tecla SAP no blog.

O quadro de Goya - Os Fuzilamentos de 3 de Maio de 1808 - retrata um episódio particular da ocupação francesa na Espanha, durante a Era Napoleônica. Mas não se resume a isso, minha senhora. Como toda obra de arte, ele transcende o espaço físico e histórico em que foi produzido. O quadro é um retrato atemporal do horror político. Não se refere, portanto, a um outro tempo histórico simplesmente, sem qualquer relação com o presente. Do mesmo modo que o Guernica, de Picasso, não se resume a um episódio particular da Guerra Civil Espanhola, mas constitui um símbolo da violência política e da brutalidade fascista, até hoje capaz de nos emocionar e nos fazer pensar. É por isso que os dois quadros são obras-primas.

O que o quadro de Goya demonstra? O horror, a brutalidade de um massacre por uma força de ocupação contra um povo indefeso. Isso não ocorreu apenas na Espanha de então, mas continuou e continua a acontecer, em países como Cuba. Foi por isso que o escolhi para ilustrar meu texto sobre a ditadura dos irmãos Castro, sobre o paredón. Deve ter sido isso que incomodou a autora do comentário. Se o texto fosse sobre a ditadura de Pinochet no Chile, ou sobre Abu Ghraib, será que ela iria querer dar uma aula de História da Arte, dizendo que era "desapropriado" usar tais imagens para ilustrar um assunto contemporâneo?

Para ficar mais claro o que quero dizer, vou colocar, antepostos, o quadro de Goya e uma fotografia do paredón em Cuba. Será que agora a pessoa em questão vai dizer que estou usando imagens "erroneamente"?

O esquerdismo não embota somente a inteligência e a capacidade crítica das pessoas. A sensibilidade estética também.

segunda-feira, novembro 10, 2008

ESQUERDISTAS REACIONÁRIOS

Hitler e Stálin em caricatura de 1939, referente ao "pacto de não-agressão" entre os dois ditadores. A esquerda alia-se a fascistas e terroristas, enquanto chama a todos os outros de "reacionários"


Mahmoud Ahmadinejad mandou uma carta de felicitações a Barack Obama por sua vitória na eleição presidencial americana. Ahmadinejad é o presidente do Irã. O Irã é dominado, desde 1979, por uma teocracia islâmica ferozmente antiocidental e antiamericana, que pune com chibatadas as mulheres que mostrarem os cabelos em público e executa quem desobedece as leis religiosas. O país está há anos desenvolvendo um controvertido programa nuclear. Em seus discursos, Ahmadinejad defende, entre outras coisas, que Israel deve ser varrido do mapa. Obama já anunciou que quer conversar com Ahmadinejad. Este, claro, está feliz com a eleição de Obama. A imprensa do mundo todo, o New York Times à frente, igualmente encantada, saudou o aceno de Obama a Ahmadinejad como uma esperança de paz entre os dois países.
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Na mesma semana em que Ahmadinejad enviou sua saudação a Obama, o primeiro-ministro da Itália, Silvio Berlusconi, declarou esperar, ao referir-se às perspectivas das relações entre os EUA e a Rússia, que elas melhorem daqui para a frente, porque Obama é, afinal, "jovem, bonito e bronzeado". A expressão pegou mal. A imprensa italiana e mundial gritou "horror, horror" e acusou Berlusconi pelo que julgou uma imperdoável manifestação de racismo. Só faltou pedirem sua cabeça numa bandeja de prata.
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O clamor que se ergueu por causa da declaração supostamente racista de Berlusconi contrasta abertamente com o silêncio sepulcral da imprensa dita "progressista" do Ocidente em relação às declarações claramente anti-semitas e genocidas de Ahmadinejad sobre Israel, a única democracia do Oriente Médio. É que Berlusconi é um direitista, logo um reacionário. Já Ahmadinejad é um "combatente contra o imperialismo". Ah, bom.

Ahmadinejad prega abertamente a destruição de um país e o extermínio de sua população, propondo nada menos do que a reedição do Holocausto nazista. No entanto, ninguém na imprensa chique e de esquerda parece dar muita bola para isso. Estão mais preocupados com o escorregão verbal de Berlusconi, que foi quase crucificado porque se referiu, de uma maneira considerada politicamente incorreta, à cor da pele de Obama. Em um caso, há claramente a apologia do genocídio; em outro, há no máximo uma expressão infeliz de um político trapalhão. Pergunto: quem é o reacionário, Ahmadinejad ou Berlusconi?

Os esquerdistas do mundo todo estão extasiados com a vitória de Obama. Vêem nele um novo Messias, alguém acima do bem e do mal. Esquerdistas também se acham acima do bem e do mal. Julgam-se imbuídos de uma missão histórica especial, em nome da qual podem subordinar tudo: a ética, a democracia, a lógica. Crêem-se, enfim, o lado bom da humanidade, os heróis do bem, do justo e do belo, defensores de boas causas. Enfim, gente bonita e maravilhosa, tolerante e multicultural, aberta às diferenças - gente, além de tudo, bastante sofisticada, que gosta de jazz... Todos os que não partilham de seu credo, a "direita", não passam de um bando de reacionários e imperialistas, racistas, caipiras, bandidos e canalhas. Assim é também nos EUA, país que, com a eleição de Obama, ficou mais bananeiro, mais caudilhesco e terceiro-mundista, como lembrou Diogo Mainardi.

Essa impressão, que tenho há anos, foi reforçada nas últimas semanas, devido ao êxtase generalizado da oba-obamania. Uns três ou quatro dias atrás, recebi um e-mail de uma pessoa que se declarou confusa diante de um fato da realidade a que poucos prestam atenção. A questão que formulou foi a seguinte: se os conservadores americanos são protecionistas, nativistas e isolacionistas, como são geralmente descritos na mídia, então por que a esquerda americana - que votou em massa em Barack Obama - se opõe à intervenção no Iraque e no Afeganistão? A própria remetente do e-mail admite que a pergunta é meio "idiota". Eu discordo. De idiota, a pergunta não tem nada. Pelo contrário: ela demonstra o nível de empulhação e de vigarice ideológica associado à canonização de Obama, e como isso ajuda a encobrir o reacionarismo da esquerda.

Sim, a esquerda é reacionária. Por que digo isso? Porque os fatos não mentem. Vejam só. Nos EUA, país do livre comércio, quem é mais protecionista: os democratas ou os republicanos? Resposta: os democratas. Se têm alguma dúvida, pesquisem quem, no Congresso dos EUA, votou contra e quem votou a favor da manutenção dos subsídios aos agricultores norte-americanos. Os que torceram por Obama imaginando que ele seria mais aberto ao livre comércio com os países em desenvolvimento terão uma surpresa. Perguntem também qual dos dois candidatos, McCain ou Obama, fez a única referência ao Brasil durante a campanha, defendendo tarifa zero para o etanol brasileiro nos EUA. Vou dar uma dica: não era o candidato da "mudança"...

E quem é mais nativista e isolacionista? Historicamente, seriam os republicanos, a "direita", certo? Também não é bem assim. Pelo menos desde o 11 de setembro, desde que Bush mandou invadir o Afeganistão e o Iraque, como parte de sua estratégia de implantar a democracia à força no Oriente Médio para combater o terrorismo, essa escrita mudou radicalmente. Os republicanos de fato eram conhecidos por se oporem a aventuras externas, desejando limitar-se - isolar-se, é a palavra - à área de influência dos EUA, as Américas. Os democratas, por sua vez, desde o governo de Woodrow Wilson (1913-1921) se notabilizaram pelo que se chamou, depois, de "intervencionismo messiânico", a defesa de uma postura mais assertiva dos EUA, inclusive no campo militar, nas relações internacionais. Foi com base nessa postura intervencionista norte-americana que o país foi às duas guerras mundiais, contra a vontade dos isolacionistas, e foi criada a Liga das Nações, embrião da futura ONU. Pois bem. Com os atentados de 11 de setembro e a ascensão dos "neoconservadores" do Pentágono e da Casa Branca - Wolfowitz, Rumsfeld, Perle, Cheney etc. -, essa divisão entre "isolacionistas" e "intervencionistas" deixou, na prática, de existir. Ou melhor: os opositores da guerra, os "progressistas" americanos, sob o pretexto do "multilateralismo", assumiram inteiramente a atitude isolacionista, colocando-se ao lado de regimes como o do Irã e da Coréia do Norte. Os "falcões" de Bush, por sua vez, tomaram para si o cetro do intervencionismo, e nesse ínterim derrubaram duas ditaduras, levando a democracia para lugares que jamais a tinham conhecido em mais de três mil anos de História. Quem é progressista? Quem é reacionário?

Esse é o grande paradoxo dos tempos modernos: em nome da segurança, a "direita" americana, os Bush e McCain da vida, tomaram a dianteira da luta pela democracia e pelos direitos humanos no mundo. Já a esquerda, os "liberais" e "progressistas", perfilam-se ao lado das forças mais atrasadas e obscurantistas do planeta, justificando o terrorismo islamita e a tirania em países como Cuba e Coréia da Norte. Em outras palavras, defendem em Londres e em Nova York o que não têm coragem de defender em Teerã e Pyongyang. Mais uma vez, pergunto: quem é reacionário, Ahmadinejad ou Sarah Palin?

Já apontei essa contradição antes, mas vale a pena repetir: antes, os EUA eram atacados porque davam apoio a ditaduras. Eram acusados, então, de intervencionistas e anti-democráticos. Agora, os EUA são criticados por derrubar ditaduras. Até hoje não sei se é para criticar os EUA por não terem agido contra ditaduras ou por terem agido para acabar com elas, como fizeram no Iraque e no Afeganistão. Ainda espero que algum filósofo da USP me explique essa estranha dialética.

O mesmo vale para o comércio internacional. Sabe-se que os democratas costumam ser mais protecionistas do que os republicanos. No entanto, a eleição de Obama foi saudada pela esquerda mundial como o começo da redenção para os países menos desenvolvidos. A mesma esquerda dos mesmos países que costumam se queixar do protecionismo das grandes potências bate palmas, porém, para o protecionista francês José Bové, o maior inimigo das exportações brasileiras para a União Européia. Já desisti de cobrar coerência da esquerda há muito tempo. Também já desisti de indagar se, para os esquerdistas, o protecionismo é algo bom ou ruim.

Os esquerdistas, muitos dos quais torceram por Obama, vêem o capitalismo como um problema, não como a solução. Nos últimos dois séculos, o capitalismo retirou milhões de pessoas da miséria e permitiu o surgimento de regimes e sociedades democráticas. O socialismo, onde quer que se tenha instalado, só gerou opressão política e pobreza, agravando-a onde ela já existia e instalando-a onde ela era inexistente. Qual dos dois é progressista? Qual dos dois é reacionário?

Nada disso, claro, importa para os esquerdistas. Afinal, para eles, reacionários são Bush e McCain, não Bin Laden e Fidel Castro. Não surpreende que Ahmadinejad esteja tão contente com a eleição de Obama. Não surpreende que a esquerda tenha visto isso como um bom sinal.
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Se algo é bom para a esquerda, não é bom para a humanidade.

quinta-feira, novembro 06, 2008

VITÓRIA DO RACISMO


"Eu tenho um sonho... de que um dia na América um homem seja julgado por seu caráter, e não pela cor de sua pele" - Martin Luther King

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Se eu não for linchado na rua por uma multidão de esquerdistas furiosos depois deste texto, vou me convencer que vivemos realmente em um país democrático. Mas, se a linguagem não foi inventada para que digamos a verdade ou o que realmente pensamos, então deveria ser desinventada. Vamos lá.

Agora que todos (ou quase todos) choraram e se emocionaram, agora que os comentaristas da Globo ficaram com a voz embargada após repetir, 236 vezes em um único dia, a palavra "histórica" para se referir à vitória de Barack Obama, agora que Arnaldo Jabor deve estar abrindo uma garrafa de champagne pela vitória de seu candidato e pela derrota de McCain e de Sarah Palin, eu digo: a vitória de Obama foi uma vitória do racismo.

Isso mesmo. Você leu certo. Obama ganhou porque os EUA são um país profundamente racista. Infelizmente.

A vitória de Barack Hussein Obama nas eleições presidenciais norte-americanas está sendo apresentada como uma vitória dos direitos civis e da tolerância racial, um fato histórico, o primeiro presidente negro dos EUA etc etc. Beleza. Tal fato seria realmente impensável quarenta anos atrás, e a eleição de Obama, por esse ângulo, é mesmo, vá lá, "histórica". É uma prova de que a democracia americana é mesmo para valer, ao contrário do que se verifica em outras latitudes. Até aí eu concordo. Mas daí a dizer que a eleição não teve nada a ver com fatores de raça, e que seu resultado não decorreu de uma hábil manipulação emocional, e não de qualquer debate racional, em torno desse fator específico - a cor da pele do candidato -, vai uma grande diferença. Obama ganhou, entre outros motivos, porque é negro.

A que se deve o triunfo de Obama? Fundamentalmente, a quatro fatores: 1) a quantidade pantagruélica de dinheiro despejado em sua campanha, que lhe permitiu praticamente monopolizar a atenção da mídia, numa proporção de quatro para um em relação ao candidato adversário; 2) o culto da personalidade criado e explorado em níveis stalinistas em torno de sua figura por uma campanha de marketing eficientíssima e baseada em nada mais do que em palavras vazias e em slogans altissonantes ("change", "yes, we can"), fortes porque não querem dizer rigorosamente nada; 3) a crise financeira mundial; e 4) a chantagem racial.

Foi esse último fator, a meu ver, o fiel da balança da eleição presidencial deste ano nos EUA. Senão, vejamos. Se não foi pelo fator epidérmico, que outro motivo levou Obama à presidência dos EUA? Experiência? Ele não tem. Idéias? São extremamente vagas. Caráter? É no mínimo duvidoso, depois de ter passado a campanha inteira tentando (com a ajuda da grande imprensa) se esquivar de perguntas embaraçosas e se distanciar de figuras ao lado das quais sempre esteve, como Jeremiah Wright e Bill Ayers, e até mesmo de apresentar sua certidão de nascimento num processo judicial. Sobra a cor da pele. E a aura de Messias iluminado que guiará todos à terra onde jorra leite e mel.

Durante toda a campanha, Obama se esquivou do papel de "candidato negro" (ou "afro-americano"), dizendo-se apenas o candidato da "mudança", sem conotações raciais. Mas é inegável que o fato de ser negro pesou em sua campanha. Obama escolheu o dia 28 de agosto - mesmo dia do discurso "I have a dream" de Martin Luther King, em 1963 - para lançar oficialmente sua candidatura a presidente. O clima de endeusamento de sua figura apenas reforçou esse estereótipo racial. Fosse ele branco e de olhos azuis, casado com uma loura com cara de Barbie como a mulher do McCain, dificilmente seu discurso de "mudança" teria o mesmo impacto. Não deixa de ser racismo, mesmo que um racismo com o sinal trocado.

Os negros são 13% da população dos EUA. Foram somente eles que votaram em Obama? Claro que não. A maioria da população americana - branca e protestante - votou nele também. Isso significa que seu voto foi uma demonstração de tolerância e de união de toda a nação, certo? Sim e não. Sim, porque a união em torno de Obama, por um lado, transcendeu as fronteiras raciais. A tese racialista ("vitória dos negros"), assim, cai por terra. Não, porque foi justamente o fato de não ser branco, juntamente com a massiva campanha propagandística que o apresentava como o candidato "da mudança", o que levou muitos americanos brancos "progressistas" a cederem à chantagem racial (Obama era o candidato das minorias oprimidas e dos direitos civis; logo, votar em McCain seria votar no racismo e na Ku-Klux-Klan, escreveu Arnaldo Jabor). Além disso, para muitos, Obama foi eleito não porque é negro, mas porque encarnou o anti-Bush. Foi por isso que muitos brancos, e inclusive muitos republicanos, votaram nele, e não em McCain. Pode-se discutir se o fizeram pelo motivo certo (pessoalmente, acho que não), mas o fato é que, apesar disso, a eleição de Obama deve-se, também, ao fato de ele ser negro.

Negro e "de esquerda", diga-se. Basta lembrar um fato. O governo Bush - sim, Bush - já contava com dois negros proeminentes em seu primeiro escalão. Colin Powell e Condoleeza Rice - negra e mulher - exerceram o mesmo cargo, de secretário de Estado, o segundo na hierarquia da República mais poderosa do planeta. E nem por isso se viu nada semelhante, em grau de histeria, ao que se tem visto desde que foi anunciada a vitória de Barack Obama. Pelo menos não me lembro de se ter repetido na imprensa americana e mundial, até enjoar, loas ao "primeiro secretário ou secretária de Estado negro" da história americana etc. Isso se deve, claro, ao fato de a presidência ser um cargo muito mais importante, e carregar um simbolismo muito maior. Mas só em parte. O fato de Obama se apresentar como o anti-Bush e anti-republicano por excelência, é óbvio, fez aqui toda a diferença. Foi por isso que ele foi apoiado, entre outros, por Louis Farrakhan, Hugo Chávez e Ahmadinejad. Ao fator racial deve-se somar o fator ideológico.

Escolhi como epígrafe a este texto a célebre frase de Martin Luther King, que se tornou uma espécie de mantra do movimento pelos direitos civis nos EUA nos anos 60. Ela resume exatamente o que eu quero dizer. Desde que foi eleito, Obama está sendo ligado constantemente à figura de Luther King, e a essas palavras em particular. Pois a frase do líder negro assassinado em 68 significa exatamente o contrário do que representa Obama. Ele não foi eleito por seu caráter, nem por suas idéias, mas pela cor de sua pele. Martin Luther King deve estar se revirando no túmulo.

LULA, O CASTRISTA


"Não há nada que justifique na história da humanidade o bloqueio [sic] a Cuba". A frase é de Lula, ao aproveitar uma entrevista coletiva para fazer seu primeiro pedido ao novo presidente eleito dos EUA, Barack Obama. Lula quer que os EUA acabem com o "bloqueio" (na verdade, um embargo comercial norte-americano) à ilha de seus ídolos, Fidel e Raúl Castro, que ele considera "injustificável" e "insensível".

De todas as mentiras e balelas inventadas pela esquerda nos últimos cem anos, a de que Cuba só seria o que é hoje por causa do tal "bloqueio imperialista e genocida" americano é, certamente, uma das mais persistentes. E uma das que mais ofendem a inteligência. Como já afirmei aqui, não há qualquer bloqueio dos EUA contra Cuba. Há, sim, um embargo comercial, o que é algo bem diferente. E que, mesmo assim, não impede a ilha de comerciar livremente com a maioria dos países (inclusive o Brasil), recebendo milhões de dólares de exilados anticastristas que vivem nos EUA, que os remetem anualmente para suas famílias que permaneceram na ilha (a maioria, desconfio, contra a própria vontade). Na prática, portanto, o tal "bloqueio" não passa de uma desculpa retórica da ditadura cubana para justificar a repressão no país (não por acaso, os cubanos chamam o embargo, à boca pequena, de "o pretexto"). O único bloqueio imposto a Cuba é o da ditadura cubana contra seus próprios cidadãos, desprovidos de todos os direitos, a começar pelo de escolher livremente seus governantes ou de sair da ilha-cárcere. É o bloqueio da falta de liberdade, da ausência de eleições livres, do partido único, da polícia secreta, do paredón. Contra esse bloqueio Lula não fala nada. Nem vai falar.

Vamos recordar a história: o embargo foi instituído em 1962, como represália dos EUA à encampação das propriedades norte-americanas na ilha, mas também aos fuzilamentos sumários, que ocorrem a partir de 1959. Até mesmo por uma questão cronológica, não dá para dizer que o "bloqueio" seja a causa do descalabro econômico em que mergulhou a ilha a partir de então, nem muito menos da falta de liberdade em Cuba. As duas coisas se devem unicamente - repito, unicamente - à incompetência do totalitarismo castrista. Durante nada menos do que trinta anos, de 1961 a 1991, Cuba se beneficiou de uma generosa ajuda econômica da extinta URSS, na forma de subsídios, no valor de cerca de 100 bilhões de dólares. É dinheiro suficiente para alavancar a economia de qualquer país. O que se viu, entretanto, foi um festival de má-utilização de recursos, como é típico de regimes totalitários: muito desperdício com programas fracassados socialistas, muita gastança inútil em guerras no estrangeiro. No começo dos anos 80, com toda a mesada da URSS, a renda per capita de Cuba já havia declinado do terceiro para o 15o lugar na América Latina, e a população sobrevivia na base da libreta de racionamento. O país já estava no buraco. Não me venham dizer que isso é culpa do "bloqueio" americano, por favor.

Suponhamos, por um momento, que Obama, ou qualquer outro presidente americano, faça o que Lula deseja e resolva negociar o fim do embargo com Cuba. Imaginemos a seguinte troca: os EUA levantam o embargo à ilha e os irmãos Castro convocam eleições livres e democráticas, libertando os presos políticos e eliminando a censura à imprensa. O mesmo para Guantánamo: os americanos fecham a prisão e devolvem a base aos cubanos, em troca da permissão do governo de Raúl Castro para a formação de partidos políticos plurais na ilha. Será que Raúl aceitaria esse trato? Duvido.

Mas então, por que diabos existe o embargo? A resposta está num fato ignorado pelos fãs de Fidel e sua ditadura jurássica: desde que os irmãos Castro tomaram o poder, no longuínquo ano de 1959, cerca de dois milhões de cubanos e seus descendentes fugiram da ilha-prisão, da ilha-Alcatraz, em busca de liberdade. A maioria desses refugiados nunca teve nenhuma relação com o regime deposto por Fidel e os barbudos. São pessoas que, em sua imensa maioria, perderam tudo que tinham, inclusive a liberdade, e não encontraram outro caminho senão agarrar-se a uma bóia e atirar-se ao mar, rezando para não morrerem afogados ou virarem comida de tubarão na travessia. Muitos fugiram quando ficou claro que Fidel não cumpriria sua promessa de convocar eleições livres e restaurar a Constituição democrática de 1940, implantando, em lugar disso, sua ditadura pessoal apoiada pelos comunistas.

Mesmo assim, a propaganda castrista considera todos os exilados e dissidentes uns gusanos, literalmente, "vermes", no pior estilo stalinista. Vou repetir quantos são: dois milhões. Cuba tem 11 milhões de habitantes. Numa conta rápida, se Cuba fosse o Brasil, seria algo como 40 milhões - quarenta milhões! - de refugiados políticos. Pois bem. São esses exilados, concentrados principalmente na Flórida, que pressionam os congressistas americanos para manter o embargo. Para os EUA, pouco se lhes dá manter o embargo ou não: trata-se de uma questão interna da política norte-americana. O embargo é a melhor maneira de pressionar o regime cubano e obter algumas reformas? Pode-se discutir isso. Mas pode-se censurar os exilados cubanos por quererem que a ditadura de Fidel e Raúl seja pressionada? Sinceramente, creio que não.

Tudo isso prova apenas uma coisa: o embargo é uma desculpa do regime de Havana e de seus apoiadores, como Lula, para a eternização da ditadura mais sanguinária da história da América Latina e a mais antiga do planeta. Nada mais do que isso. Dissidentes foram presos? É culpa do "bloqueio". Mais um que tentou fugir da ilha foi fuzilado? É culpa do "bloqueio". Falta carne e papel higiênico no mercado? Culpe o "bloqueio", claro. O país não tem eleições democráticas nem imprensa livre? Idem, ibidem. E assim por diante. E muitos trouxas caem nesse truque, ou com ele compactuam. O regime cubano é uma ditadura sustentada por democracias. Uma aberração, em todos os sentidos. Uma aberração cheia de amigos, como Lula.

A mentira da vez é dizer que é preciso "ajudar" o governo cubano, impedir seu "isolamento", a fim de contribuir para a "democratização" da ilha. Este é o discurso oficial brasileiro. É uma farsa, está óbvio. Cuba já recebeu - e recebe - ajuda demais de outros países, e até agora isso não fez o país avançar um milímetro em direção à democracia. Pelo contrário: serviu apenas para reforçar e fortalecer a ditadura, que só se mantém devido à repressão política e aos amigos que tem no exterior. A História demonstra que regimes totalitários são irreformáveis, e que ou entram em colapso ou se perpetuam.

Para termo de comparação, lembremos que o regime racista do apartheid na África do Sul, por exemplo, não desapareceu por causa de nenhuma "ajuda" recebida do exterior, mas devido a um cerco ferrenho e intransigente das democracias ocidentais e dos demais países africanos, que incluiu até mesmo um boicote no campo esportivo. Algo semelhante ocorreu com outras ditaduras latino-americanas, como a de Fulgencio Batista, na própria Cuba. Esta só caiu, ao contrário da lenda revolucionária criada posteriormente e sistematicamente explorada por Fidel Castro, porque perdeu o apoio dos EUA, e não por causa da luta de guerrilha na Sierra Maestra. Lula esteve em Cuba há alguns dias. Na ocasião, anunciou a intenção de seu governo de tornar o Brasil o principal parceiro de Cuba. Assim como Hugo Chávez, ele deve estar preocupado com o destino da ilha-presídio. Vai que um dia aquilo ali vira uma democracia...

Não há nada na história da humanidade e do universo que explique a devoção dos lulistas pela castradura cubana. Assim como já fizeram com a ética e a coerência, Lula e os petistas já mandaram a democracia para o beleléu. Ou para a Cuba que os pariu.

quarta-feira, novembro 05, 2008

O MINISTRO TERRORISTA


Notícia da Folha de S. Paulo, volto depois.

05/11/2008 - 10h47

Esquerda armada não é terrorista, diz Tarso

da Folha Online

O ministro da Justiça, Tarso Genro, afirmou que os grupos de esquerda que adotaram a luta armada contra a ditadura militar "não podem ser classificados como terroristas". Tarso disse, porém, que a luta armada foi "um equívoco", apesar de essa decisão ser "compreensível historicamente", informa nesta quarta-feira reportagem de Kennedy Alencar, publicada pela Folha (a íntegra está disponível apenas para assinantes do jornal e do UOL).

"No caso brasileiro, um ou outro ato de terrorismo pode ter acontecido, mas não houve nenhuma organização que usasse os métodos do terror como prática permanente", disse.

A Folha indagou Tarso a respeito da declaração do ministro Gilmar Mendes, que afirmou que o "crime de terrorismo é imprescritível". O ministro da Justiça disse que não responderia especificamente ao presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), mas aceitou conversar em tese sobre o tema.

"Se o Ministério da Justiça não tiver opiniões a respeito dessas questões, emitidas com respeito a quem pensa diferente, não cumpre a sua função política institucional."

Comento
O que dizer de Tarso Genro? Vocês o conhecem. Ele já deportou, na calada da noite e em cumplicidade com Hugo Chávez, dois atletas cubanos que queriam fugir da ilha-prisão de Cuba, servindo de capitão-do-mato do tiranossauro Fidel Castro. Já recebeu em audiência agitadores armados que, um dia antes, haviam promovido uma arruaça a tiros em frente ao palácio do governo de São Paulo, ferindo com um balaço de pistola 9 milímetros um comandante da PM. Agora, de uns tempos para cá, encasquetou de querer mudar a Lei - no caso, a Lei de Anistia, de 1979. Quer porque quer, juntamente com Dilma Rousseff e Paulo Vanucchi, revogar a lei para que puna apenas um lado - o lado da repressão. Diante do chamado à razão - e à Lei - por parte do Ministro Gilmar Mendes (ainda há juízes em Brasília, felizmente), que apontou para o caráter imprescritível do crime de terrorismo (assim como o de tortura), Tarso não se fez de rogado: o que a esquerda armada praticou no Brasil nos anos 60 e 70 não foi terrorismo, diz ele.

Dita por uma pessoa comum, a afirmação acima seria apenas um equívoco histórico, ou mera demonstração de ignorância ou má-fé. Mas Tarso Genro não é um cidadão comum. É ninguém menos do que o Ministro da Justiça. Isso quer dizer que ele é, em teoria, a pessoa nomeada para tratar dos temas da Justiça no País e, como ele mesmo diz, emitir opiniões a respeito de assuntos concernentes, o que seria sua função constitucional. Acontece que, com ele, Tarso, o cargo passou a ter outra função: mistificar e distorcer a História para justificar o revanchismo.

Tarso Genro diz que a luta armada não pode ser classificada como terrorismo, mas como um "equívoco", além do mais, "compreensível historicamente". Duas conclusões lógicas decorrem inevitavelmente dessa afirmação. Primeiro, a repressão, a tortura e o AI-5 não foram, portanto, crimes, mas igualmente "equívocos", e "compreensíveis historicamente". Segundo, Tarso está em franco desacordo com os próprios militantes de esquerda que pegaram em armas no Brasil. Militantes como Carlos Mariguella, o principal ideólogo da luta armada, que em seus escritos - entre eles o Minimanual do Guerrilheiro Urbano, que se tornaria um clássico - disse coisas doces como as que seguem:

"Hoje, ser terrorista é uma condição que enobrece qualquer homem de honra porque isto significa exatamente a atitude digna do revolucionário que luta, com as armas na mão, contra a vergonhosa ditadura militar e suas monstruosidades". Citado em Elio Gaspari, A Ditadura Escancarada, 2002, p. 142.

"Sendo o nosso caminho o da violência, do radicalismo e do terrorismo (as únicas armas que podem ser antepostas com eficiência à violência inominável da ditadura), os que afluem à nossa organização não virão enganados, e sim, atraídos pela violência que nos caracteriza" ("O papel da ação revolucionária na Organização"). Citado em Daniel Aarão Reis Filho e Jair Fernandes de Sá, Imagens da Revolução, 1985, p. 212.

"Ao terrorismo que a ditadura emprega contra o povo, nós contrapomos o terrorismo revolucionário" - "La lutte armée au Brésil", novembro de 1969 - citado em Elio Gaspari, A Ditadura Envergonhada, 2002, p. 106.

Como se vê, das duas uma: ou Tarso Genro tem razão, e nesse caso Mariguella era um grande mentiroso, ou é ele, Tarso, que está mentindo. Fico com a segunda opção.

Mas Tarso Genro não se dá por satisfeito. Ele afirma ainda que "nenhuma organização armada [de esquerda] empregou os métodos de terror como prática permanente". Deve ter esquecido que a organização de Mariguella, a ALN, como os trechos acima não deixam dúvidas, abraçou o terrorismo de forma permanente como sua principal - a partir de certo momento, a única - forma de luta. E que foi seguida, nesse caminho, por outras siglas, como a VPR, o MR-8 e a VAR-Palmares, das quais participaram, como militantes, vários integrantes do atual governo. E que, nesse trabalho permanente, foram mortos e feridos não somente agentes da repressão, mas vítimas inocentes, atingidas em assaltos a bancos, seqüestros e atentados à bomba. Nenhum parente das pessoas mortas pela esquerda armada, cujo número total chega a 119, ao contrário das famílias dos 376 (ou 424, em outra contagem) mortos pela repressão política, recebeu, até o momento, nenhuma indenização do governo federal, nem mesmo um pedido de desculpas. Sabe-se que há casos, inclusive, de membros das próprias organizações armadas de esquerda fuzilados por seus próprios companheiros de luta. Mas isso não interessa a Tarso Genro.

A discussão sobre a revisão ou não da Lei de Anistia já se transformou num circo montado por Tarso Genro e outros que, como ele, querem reescrever a História para condenar os que combateram a esquerda e louvar os que cometeram atos terroristas. É uma iniciativa que se baseia em três falácias. A primeira já foi mencionada, é a que afirma que o terrorismo da esquerda não era terrorismo. A segunda sustenta o mito de que a luta armada de esquerda era uma forma de resistência democrática contra a ditadura militar. Contra a ditadura militar, não há dúvida que era, mas daí a dizer que os terroristas de esquerda queriam a democracia vai uma distância muito grande. As primeiras ações armadas de esquerda ocorrem ANTES do AI-5 - geralmente considerado o "momento inicial" da guerrilha no Brasil pela historiografia de esquerda -, com atentados como a explosão de uma bomba no aeroporto dos Guararapes, em Recife, que deixou dois mortos e 17 feridos em julho de 1966. Além disso - pesquisem se quiserem -, o projeto guerrilheiro era anterior ao próprio regime de 64, sendo levado adiante pelas Ligas Camponesas de Francisco Julião desde pelo menos 1961, em pleno regime democrático. Não há nenhum documento, um mísero pedaço de papel sequer - e olhem que a esquerda sempre foi pródiga em produzir manifestos, panfletos e resoluções - atestando que a democracia era o objetivo dos grupos armados de esquerda. Pelo contrário: como mostram Daniel Aarão Reis Filho e Jair Ferreira de Sá, TODOS os grupos da esquerda radical do período viam no socialismo, e não na democracia, o objetivo a ser alcançado; o que os guerrilheiros desejavam não era restaurar o status quo ante, mas implantar no Brasil um regime político semelhante ao de Cuba ou da China de Mao Tsé-tung. Em outras palavras: não lutavam pela democracia, mas para substituir uma ditadura por outra, muito mais terrível e assassina. Em nome desse objetivo, os militantes das organizações armadas de esquerda no Brasil mataram 119 pessoas, muitas delas sem nenhum envolvimento com os órgãos de repressão. Mas isso não é terrorismo, segundo Tarso Genro. Vale lembrar: esse é o mesmo governo que se recusa a considerar os narcobandoleiros marxistas das FARC terroristas.

A terceira falácia está diretamente ligada às demais, e vem agora sendo reforçada pela campanha revanchista de Tarso Genro et caterva. Trata-se de uma tentativa de politizar e de ideologizar o tema dos direitos humanos. Isso a esquerda vem fazendo de forma sistemática, diariamente, em relação à questão dos "anos de chumbo" do regime militar no Brasil. Para Tarso Genro, assim como para Dilma Rousseff, a esquerda é sempre vítima, jamais culpada. O terrorismo que ela pratica não é terrorismo; o combate a ele, sim. Logo, os mortos pelas mãos da esquerda, mesmo que simples transeuntes ou clientes de banco, não são vítimas - ou mereceram morrer, ou foram simples "danos colaterais" de uma luta necessária. A morte de um guerrilheiro, mesmo que em combate, porém, é algo terrível e escandaloso, que precisa ser denunciado. É uma maneira de dizer que os terroristas eram moralmente superiores aos torturadores, ou de afirmar, subrepticiamente, o seguinte: "Nós, da esquerda, podemos fazer o que aos demais mortais é vedado. Podemos matar, roubar, seqüestrar, explodir bombas, e estaremos fazendo algo glorioso e profundamente humanista. Todos aqueles que se colocarem em nosso caminho rumo ao comunismo são vermes e merecem ser esmagados".

A Lei de Anistia perdoou os dois lados, torturadores e terroristas. Foi justa? Pode-se discutir isso. Mas uma coisa é certa: tivessem os esquerdistas ganho a parada e tomado o poder, certamente o outro lado não teria sido perdoado. Aí está Tarso Genro para provar isso.

Ah, gostaram da foto? Adivinhem quem é o sujeito amarrando a venda nos olhos do prisioneiro prestes a ser executado pelo pelotão de fuzilamento: é Raúl Castro, irmão do Coma Andante e atual manda-chuva da ilha de Cuba. A foto é de 1959, quando Raúl e seu irmão Fidel tomaram o poder e passaram a pôr em prática, imediatamente, sua "justiça revolucionária". Raúl, que virá ao Brasil em dezembro, é um dos ídolos de Tarso Genro e Paulo Vanucchi, e é interpretado pelo galã Rodrigo Santoro num filme-exaltação sobre Che Guevara lançado no mês passado num festival de cinema em São Paulo. É mais uma prova do grande humanismo da esquerda, de seu compromisso inquebrantável com a democracia e os direitos humanos... Ou, quem sabe, um simples "equívoco", "compreensível historicamente", como diria Tarso Genro.
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