sexta-feira, janeiro 29, 2010

PROVÁVEIS CAUSAS DA HIPERTENSÃO DE LULA

Não sou do tipo que se regozija com a doença alheia, mesmo quando é de alguém que está "do outro lado" da trincheira política. Não compactuo com as legiões do ódio, que acham que o lugar de quem pensa diferente é o cemitério (e que, coerentemente com esse postulado, ajudaram a mandar uns cem milhões para o além no século que passou). Tampouco sou daqueles que acham que a enfermidade enobrece ou inocenta, como se fosse medida de caráter ou de justeza de uma causa política. Não misturo as duas coisas: para mim, a dor e o sofrimento não são recompensa ou punição, muito menos um passaporte para a santidade (deve ser por isso que nunca fui religioso). Portanto, não fico feliz com a internação de Lula no Recife, por problemas, dizem, de pressão alta.
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Lamento a crise de saúde de Lula. Lamento mais ainda que ela esteja sendo usada pela canalha petista para mais uma vez enganar e mentir, a serviço do culto da personalidade.
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Mal Lula foi internado, os petistas e puxa-sacos de plantão começaram a dizer que ele estava com a pressão alta, coitado, porque estava "trabalhando demais". Ora, todos sabem a que tipo de "trabalho" Lula se dedica há décadas. Ele mesmo não esconde de ninguém sua laborfobia: há poucos dias, tripudiando sobre as vítimas das chuvas que assolam São Paulo, o Apedeuta lembrou que, na época em que dava ponto em um armazém na capital paulista, ele gostava quando chovia, pois assim não precisava trabalhar... Trabalhar, trabalhar mesmo, ele não trabalha desde 1975, quando largou o batente para virar líder sindical. Desde então, tem-se dedicado em tempo integral à política. Nisso sim, ele tem-se revelado um trabalhador incansável. Obsessivo, até.
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Desde que voltou das férias, Lula tem cruzado os céus do País numa maratona de comícios travestidos de inaugurações de obras do PAC (muitas delas, sequer iniciadas), com objetivos claramente eleitoreiros, a fim de alavancar a candidatura de sua pupila Dilma Rousseff, que teima em não decolar. A tarefa é difícil, hercúlea. Lula vai ter que suar muito para convencer a todos que a "mãe do PAC" não é um poste. Vai ter que usar toda sua habilidade de animador de auditório para tornar a ex-companheira Stela da VAR-Palmares algo palatável. Não vai ser fácil.
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Lula tem motivos de sobra para estar estressado. Além de Dilma estar patinando nas pesquisas, obrigando-o a expandir o recadastramento do bolsa-cabresto até o dia 31 de outubro (por "coincidência", dia do segundo turno das eleições deste ano) e a intensificar sua rotina de viagens e comícios pré(?)eleitorais, a realidade insiste em contrariar seus planos. A última semana, por exemplo, foi particularmente difícil para Lula e seus áulicos. Eis algumas prováveis causas do piripaque presidencial:
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- A derrota humilhante da diplomacia lulista em Honduras
Em Honduras, o novo presidente eleito democraticamente, Porfirio Lobo, assumiu a presidência, contra a vontade de Lula e de Celso Amorim, que viram seu golpista bolivariano de estimação, Manuel Zelaya, deixar a embaixada brasileira rumo ao exílio. Os petistas-bolivarianos apostaram que recolocariam Zelaya no poder, acreditando que todos cairiam no conto do "golpe militar" contra ele, Zelaya, que tentou dar um golpe nas instituições à la Chávez. Não deu certo. Não contaram com a resistência heróica dos hondurenhos, um povo pequeno, mas valente, que não se deixou intimidar e defendeu com unhas e dentes sua Constituição contra quem queria violá-la. O Brasil saiu do episódio diminuído, como cúmplice e caudatário do golpismo bolivariano. Uma humilhação total para a diplomacia aloprada, que teve seu duplo padrão e seu comprometimento com a destruição da democracia na América Latina expostos com toda a nitidez para quem quiser ver.
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- A crise da protoditadura chavista na Venezuela
Outro político a que Lula e Amorim dão apoio INCONDICIONAL, o coronel Hugo Chávez, também está enfrentando um momento complicado na Venezuela, que ele levou para o buraco. Chávez quer que as empresas de comunicação do país lhe prestem vassalagem, e ameaça retirar do ar as que não o fizerem. Como resultado disso e da crise econômica, a Venezuela está sendo sacudida por protestos diários, reprimidos com violência pela polícia chavista. Já há mortes. Para piorar, o barco chavista já começa a fazer água, com várias defecções em suas fileiras nos últimos dias. O Itamaraty lulista já acionou o piloto automático, afirmando que a violência política é uma questão interna dos venezuelanos e que a Venezuela é um país soberano (a exceção, claro, é Honduras). Só falta dizer que os protestos por democracia na Venezuela são um chororô de torcida de futebol cujo time perdeu o jogo, como no Irã...
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Por falar em Irã, nesta semana Celso Amorim encontrou-se com o chanceler iraniano em Davos, na Suiça. No mesmo dia, dois opositores do regime dos aiatolás foram executados. Querem apostar como Amorim e seu colega iraniano trocaram idéias sobre a melhor maneira de defender a humanidade?
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Nada disso parece diminuir a incondicionalidade do apoio lulista a Chávez, que já chegou a dizer que o terremoto no Haiti foi obra dos EUA. Lula já disse que a Venezuela tem "democracia até demais". Nesta semana, em frente a uma platéia de socialistas jurássicos e revolucionários de butique no Forum Social Mundial, em Porto Alegre, ele aproveitou para louvar os "novos governos democráticos" da América Latina. Conseguem adivinhar de quem ele estava falando?
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Acham pouco? Tem mais.
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- O golpe frustrado do PNDH-3
No final de 2009, Lula assinou (sem ler, é o que diz - que ótimo escudo é a ignorância...) o decreto do tal Programa Nacional de Direitos Humanos, elaborado pelo ex-militante da ALN Paulo Vanucchi, esperando que, talvez por ser fim de ano, ninguém estaria prestando atenção. Mais uma vez, enganou-se. Não só o PNDH-3 não passou despercebido, como teve todas suas aberrações expostas em todos os seus mais absurdos detalhes: imposição da censura à imprensa, revanchismo, abolição do direito de propriedade, desrespeito à liberdade religiosa, entre outros horrores. Uma receita perfeita para instalar um regime ditatorial. Agora, pego em flagrante, ele tenta voltar atrás, mas o estrago já está feito. O rei está nu.
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- Lula versus o TCU
Também nesta semana, durante o périplo pelos grotões para promover Dilma, Lula aproveitou para desafiar o Tribunal de Contas da União, que embargou algumas obras do PAC de licitação mais que suspeita. Lula simplesmente mandou o TCU às favas, deixando claro que, entre obras eleitoreiras de fachada e o princípio da moralidade administrativa, ele fica com a primeira opção e manda a segunda para as cucuias. Novamente, deu um tiro no pé.
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- A prisão dos companheiros do MST em São Paulo
Em mais um duro golpe para os que acham que "um outro mundo é possível" (um mundo sem liberdade, claro), a polícia prendeu um grupo de arruaceiros do MST que depredaram uma fazenda em São Paulo e destruíram alguns milhares de reacionaríssimos pés de laranja em nome da "reforma agrária". Um vídeo deixa claro que os valentes invadiram o local de caso pensado, visando a "causar prejuízo". O que fez o PT, partido de Lula? Divulgou uma nota, em que repete pela milionésima vez a cantilena de que "não se deve criminalizar os movimentos sociais", colocando-se ao lado dos invasores laranjófobos.
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- O fracasso de Lula, o filho do Brasil
A petralhada assanhou-se toda, achando que o filme do Lula bateria Avatar nas bilheterias, catapultando a estória de seu líder para os píncaros da glória mundial. Houve quem falasse até em Oscar. Mas a hagiografia cinematográfica do Barretão bancada com dinheiro de empresas com negócios com o Planalto, já decepcionante como cinema, não emplacou. O público não se identificou com a fábula do Cristo-Rei de Caetés. Preferiu Xuxa e o mistério de feiurinha.
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Não se pode negar que esses têm sido tempos de fortes emoções para Lula. Entenderam por que a pressão dele chegou a 18 por 12?
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P.S.1: Lula estava em Recife para uma cerimônia de inauguração de uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA), do Sistema Único de Saúde. No discurso, ele brincou, dizendo que até gostaria de ser atendido ali. Logo após se sentir mal, ele foi atendido... mas no Real Hospital Português de Beneficência, um dos melhores hospitais particulares da capital pernambucana. Teve a chance de provar, pelo próprio exemplo, que a UPA é uma maravilha. Mas preferiu o conforto de uma rede privada de saúde. Ironia maior, impossível.
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P.S.2: Ainda em Recife, Lula participou em uma sinagoga de uma cerimônia em homenagem aos 6 milhões de judeus mortos no Holocausto pelos nazistas. Há dois meses, ele recebeu com tapete vermelho em Brasília o presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, que patrocina o terrorismo contra Israel e nega que o Holocausto tenha existido. Indagado sobre isso, Lula chegou a dizer que não tinha por que se importar com o que pensam sobre o assunto judeus ou árabes (detalhe: os iranianos são persas, não árabes). Ignorância ou cinismo?
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P.S.3: A crise de hipertensão de Lula fez com que ele cancelasse sua ida a Davos, onde participaria do Forum Econômico Mundial. Lá, ele iria receber um prêmio. Sabem de quê? De "estadista do ano". Dá pra acreditar???

quinta-feira, janeiro 28, 2010

A MAIOR HUMILHAÇÃO DA HISTÓRIA DA DIPLOMACIA BRASILEIRA


Ando meio preguiçoso para escrever ultimamente. Sem falar que há muito para se dizer, e pouco tempo para isso. Então vou me limitar a transcrever aqui um texto do blog do Reinaldo Azevedo. Acho que ele resume perfeitamente o que venho dizendo sobre esse assunto há uns sete meses. Assino embaixo. Podem me chamar de maria-vai-com-as-outras do mundo virtual, se quiserem.

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LULA E CELSO AMORIM APOSTARAM CONTRA A DEMOCRACIA. E PERDERAM DE MODO MISERÁVEL. FELIZMENTE!

A posse de Porfirio Lobo Sosa, novo presidente de Honduras, encerra uma crise de sete meses, que teve início com a deposição CONSTITUCIONAL de Manuel Zelaya, no dia 28 de junho do ano passado. Permitam-me uma pontinha de orgulho. No dia em que o Congresso Internacional da Impostura decidiu chamar aquele ato de golpe, eu decidi ler a Constituição do país — sim, mesmo Honduras, tratada como uma espécie de quintal da “Nova Ordem de Esquerda” da América Latina, tinha uma Constituição democraticamente instituída. A despeito dos fatos e da clareza com que o texto indicava que Zelaya, ele sim, tentara o golpe, esta tal “nova ordem” seguiu o grito de guerra de Hugo Chávez: restituição de Zelaya já!

Hesitantes a princípio, severos em seguida, os EUA engrossaram o coro, congelando fundos de assistência e cancelando o visto de hondurenhos comprometidos com o “golpe”. Poucos países sofreram cerco semelhante. E atenção: nenhuma democracia passou por algo parecido. Porque, por incrível que pareça — e, hoje, vista a coisa a uma certa distância, o absurdo não faz senão crescer —, Honduras seguiu sendo uma democracia: o calendário eleitoral foi mantido, não se votou uma só lei de exceção, os Poderes Constituídos mantiveram a sua autonomia e as suas prerrogativas, não houve cassações, não se fizeram prisões políticas.

Não obstante, tentava-se classificar a deposição de Zelaya como um golpe “tipicamente latino-americano”, o que era uma piada, arte da mais pura pilantragem intelectual. Hugo Chávez decidiu patrocinar pessoalmente a volta do golpista deposto, invadindo o espaço aéreo hondurenho. Falhou. Com o auxílio de Brasil, Nicarágua e El Salvador, conseguiu finalmente instalar o bigodudo delinqüente na embaixada brasileira.

Na coleção de absurdos, o Brasil ganhou lugar de destaque. Lula e Celso Amorim, senhores, apostaram na guerra civil hondurenha! Passada a era da mistificação, isso restará indelével em suas respectivas. O Megalonanico hiperativo, em entrevista recente ao Estadão, teve a cara-de-pau de afirmar que a presença de Zelaya na representação brasileira impediu a explosão de violência. Mentira tosca! A esmagadora maioria dos hondurenhos não queria o candidato a ditador. A verdade, como sempre, está no avesso do que diz Amorim: o risco de violência surgiu com a presença Chapeludo maluco no país.

O tempo foi-se encarregando de revelar o que estava em curso. Parte da imprensa, daqui e do mundo, decidiu fazer o que nós, caros leitores, fizemos desde o primeiro dia: ler a Constituição de Honduras. Quando Daniel Ortega, outro apoiador de primeira hora de Zelaya, deu um golpe na Constituição da Nicarágua e fez a Corte Suprema declarar sem efeito parte do texto para, também ele, tentar se eternizar no poder, a ficha de Washington caiu. Os republicanos botaram o dedo na ferida: Obama e Hillary Clinton comportavam-se como caudatários do chavismo.

A posse de Porfírio Lobo, em eleições ainda não-reconhecidas pelo Brasil — os hondurenhos não estão nem aí para o que pensa Lula — humilha a diplomacia brasileira e seus aloprados e também expõe o ridículo a que está submetida a OEA sob o comando de José Miguel Insulza, que previa — talvez torcesse por isso — um banho de sangue se Zelaya não fosse reconduzido ao poder.
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O que se viu, na verdade, foi uma espécie de conspiração de idiotas e esquerdistas pilantras contra a democracia. Durante meses se repetiu o mantra de que não se pode depor um presidente eleito. Não? Se ele desrespeitar a Constituição, não é uma questão de poder, mas de dever. E cada país tem as suas regras para fazê-lo. No Brasil, é preciso um processo de impeachment. Em Honduras, a depender do crime, a deposição é automática, ouvidos, como foram, o Congresso e a Corte Suprema.

Sete meses depois de Hugo Chávez ter patrocinado a tentativa de golpe em Honduras — de pronto rechaçada pelo Congresso, pela Justiça, pelo Ministério Público, pelas Forças Armadas e pela maioria do povo —, quem já deu início à trilha que o levará à desgraça e à liberdade dos venezuelanos é Hugo Chávez. Seu governo está se esfarelando. Cada vez mais, ele depende do apoio dos militares para governar. E isso, sim, remete ao pior passado da América Latina.
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Neste blog, como sabem, escrevi muitas vezes: a derrota de Manuel Zelaya em Honduras é o começo do fim do chavismo. O país, com todas as dificuldades, segue, felizmente (e contra a vontade de Lula e de Amorim) na trilha da democracia. Chávez, o patrocinador de golpes, está cada vez mais perto de ser pendurado pelos pés em praça pública.
A democracia ainda assistirá a esta vitória. Anotem aí.

Para não perder a viagem
A vitória da democracia em Honduras também derrotou boa parte da imprensa brasileira. Uma derrota intelectual e profissional. Há honrosas exceções que não caíram no conto bolivariano — VEJA, felizmente, entre elas. Não se esperava dessa gente muita coisa: apenas a leitura da Constituição daquele país e o reconhecimento de que a Carta daqui não pode ser aplicada lá. Houve até uma tonta que achou um absurdo que não houvesse um processo de impeachment para depor Zelaya… Pois é, estivesse o impeachment previsto nas leis daquele país, talvez fosse mesmo…

O Itamaraty de Celso Amorim costuma usar os jornais brasileiros como passarela de seus delírios de onipotência. O Megalonanico chega ao requinte de ter uma colunista que funciona como sua porta-voz. Esta senhora teve a ousadia (!?) de escrever, certa feita, que o Brasil havia combinado com a Casa Branca a visita de Ahmadinejad ao país. No dia seguinte, o mundo ficou sabendo que Obama enviara uma carta às autoridades brasileiras esculhambando a… visita de Ahmadinejad!!!

terça-feira, janeiro 26, 2010

UM VERMELHO-E-PRETO COM UM EMINENTE PENSADOR DE ESQUERDA

Parou na minha mesa, entregue por um colega meu que acha que ser de esquerda é ser "do bem" e humanista, e conservador é um bicho de casco e chifres, um texto muito engraçado, intitulado "Você é de direita? Faça o teste", publicado no jornal Correio do Povo, de Porto Alegre. O autor é um tal Juremir Machado da Silva, de quem, confesso, nunca tinha ouvido falar. O texto é, como vocês verão, primário, de um nível mental constrangedor, mas há quem ache lógica na coisa, e considere Juremir um pensador. É um sinal dos tempos. Na falta de alguém melhor no campo da esquerda para debater, vai um Juremir mesmo.
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Aí vai. Eu em preto. O Juremir em vermelho.
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É sabido que para a direita não há mais esquerda e direita, salvo quando a direita quer bater na esquerda e precisa chamá-la pelo nome para dar nome bois.
Não sei exatamente de que "direita" o autor está falando, mas uma coisa é certa: não me identifico com ela. Para mim, a esquerda continua viva e muito viva, como demonstra o atual governo e o texto do Juremir.
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Todo mundo sabe e eu tenho repetido isso aqui que a ideia de que a divisão direta/esquerda deixou de ser pertinente é uma ideia de direita.
Gostaria de saber do que exatamente o autor está falando. A divisão direita-esquerda, ou democratas-totalitários, nunca foi tão pertinente como agora. Ele mesmo é uma prova disso.
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Houve tempo em que ser de direita era antiquado. A esquerda ganhava a guerra simbólica. Isso mudou.
Nem tanto, infelizmente. A hegemonia simbólica da esquerda continua forte no Brasil, que, nesse sentido, é quase uma república soviética. Basta fazer um teste: você conhece algum intelectual brasileiro com espaço na imprensa que se declara abertamente de direita?
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Nos últimos anos, a direita adotou estratégias publicitárias (a publicidade é quase sempre de direita) e passou a se apresentar como moderna. Faz parte desse jogo chamar a esquerda de anacrônica, velha, ultrapassada, superada, mofada, etc. A esquerda ridicularizava a direita pelo humor. Agora, a direita insulta e menospreza a esquerda com sua ironia pesada.
Essa é nova: como, a publicidade é de direita??? O autor nunca ouviu falar na maior máquina de propaganda ideológica de todos os tempos, o Partido Comunista da URSS e seus replicantes nacionais?
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Então o atraso das teses de esquerda é apenas uma jogada da publicidade de direita, é isso? Deduzo portanto que, para o Juremir, as teses esquerdistas, como a imposição de uma ditadura do proletariado, são modernas e atuais. Fica fácil entender por que é tão fácil ridicularizar a esquerda.
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Façam o teste:
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É contra a legalização do aborto?
Particularmente, não sou nem contra nem a favor. Só não aceito que se queira criminalizar quem seja contra, como quer o atual governo. A propósito: Marina Silva e os padres da escatologia da libertação também são contra. Eles são de direita?
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É contra o casamento de homossexuais?
Vamos usar o termo correto: casamento de homossexuais (ou casamento gay) não existe. O que existe é união civil de pessoas do mesmo sexo. Novamente, nada contra. A questão é que, em nome de uma suposta tolerância, querem punir com multa e prisão até quem conte piadas de bichinha. Isso, sim, sou contra.
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Acha que o aquecimento global é uma bobagem?
Não apenas quem é de direita acha. Cientistas sérios também já perceberam a farsa por trás da religião aquecimentista. Se você tem alguma dúvida, pesquise.
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É contra o bolsa-família?
Agora sim, uma pergunta pertinente. Sou contra. Assim como Lula, o PT e toda a esquerda brasileira também eram contra antes de descobrirem que o bolsa-cabresto é uma mina de ouro para ganhar votos e deixar o povaréu cada vez mais estadodependente.
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É contra a integralidade do Plano Nacional de Direitos Humanos?
Aqui há um truque. Acho que ninguém é contra a "integralidade" de um Plano de Direitos Humanos. Sou contra, isso sim, o revanchismo, a censura à imprensa, a liquidação da propriedade privada e o desrespeito à liberdade religiosa. Coisas que estão presentes no tal PNDH-3. Malandragem.
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Acha que os governos devem ajudar os produtores ricos e largar no mundo o pobrerio?
Não, não acho. Os governos não têm nada que ajudar produtores, ricos ou pobres. Sou de esquerda?
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Defende pagar menos impostos e obter mais subsídios? Defendo menos impostos, mas nada de subsídios. Sou pela livre iniciativa. Mais uma vez: sou de esquerda?
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Acha que Israel sempre tem razão contra os palestinos?
Não, não acho que Israel "sempre tem razão", ainda mais "contra os palestinos". Acho que Israel tem o direito a existir. Os terroristas islamitas acham que não, assim como grande parte dos esquerdistas, esses humanistas. Se me perguntarem se estou do lado de Israel ou do Hamas, não hesito em dizer: de Israel, claro. Isso faz de mim um inimigo da humanidade?
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É contra política de cotas em sociedades de desigualdade flagrante e reproduzidas pelos mecanismos de educação?
Olha a malandragem aí de novo! A pergunta induz à conclusão de que a política de cotas seria uma forma de resolver ou diminuir a "desigualdade flagrante e reproduzida pelos mecanismos de educação". Quem se disser contra, portanto, deve ser um canalha. Não alguém que se opõe ao racismo institucionalizado ou ao fim da meritocracia nas escolas e concursos públicos.
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É a favor do Fórum da Liberdade e contra o Fórum Social Mundial?
Precisa mesmo responder?
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Acha que a repressão é o único caminho para resolver os problemas de violência urbana?
Mais uma vez: não, não acho que a repressão é "o único caminho" etc. Acho que é necessária. A esquerda, principalmente a que adora fumar um baseado e fazer passeatas "pela paz" depois, pensa diferente.
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Chega. É suficiente.
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Quem der respostas positivas a 80% dessas perguntas é de direita. É direito de qualquer um ser de direita. Não é preciso ter vergonha. Quer dizer, é um tanto vergonhoso ser contra todos os valores modernos e ainda se apresentar como extremamente moderno.
De que "valores modernos" o autor está falando? A censura à imprensa? O apoio ao terrorismo do Hamas contra Israel?
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Na Europa, muita gente daria respostas positivas a todas as questões listadas acima. E diria sem pestanejar: “Eu sou de direita” ou “nós de direita”. No Brasil, as pessoas querem ser de direita sem ter de carregar o peso negativo dessa palavra e dessa ideologia. É confissão de culpa ou malandragem.
As pessoas querem ser de direita no Brasil? Jura? Quem exatamente?
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A direita brasileira é tão esperta que consegue mamar mais no Estado do que a esquerda mesmo quando a esquerda está no poder. A direita é o poder. Talvez seja a única direita do mundo que não se assume como tal e ainda tenta se apresentar como não-ideológica.
Vou perguntar de novo: de quem o autor está falando? Mamar nas tetas do Estado é uma característica ideológica de direita? De quem, exatamente? A direita é o poder? Então Lula é de direita?
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A revista Veja é hoje a carta capital da direita. Os blogues da Veja conseguem estar ainda mais à direita.
Eu sabia que iam acabar falando da VEJA... Ela é o alvo preferido dos esquerdiotas de plantão. Pena que nunca vi ninguém desmentir uma vírgula do que a revista diz sobre Lula, por exemplo. Só uma pergunta: se os blogues da VEJA, como os de Reinaldo Azevedo, Diogo Mainardi e Augusto Nunes, são ainda mais à direita, então devem mamar no Estado também, pelo visto. É isso mesmo?
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O Fórum de Davos é a menina dos olhos da direita internacional. Neste ano, eles vão ter de engolir o presidente brasileiro, que, por ter-se “endireitado” um pouco, tornou-se frequentável.
Direita brasileira, direita internacional... Fico cada vez mais sem entender o que o autor quer dizer exatamente por "direita". Lula sempre foi recebido com rapapés no Forum de Davos, não é agora que ele se tornou frequentável (sic). Fórum de direita?
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Depois da paulada dada pela crise financeira de 2008, Davos está mais humilde. Puro cinismo. Mas a verdade é que o Fórum Social Mundial, rotulado de anacrônico, deu um “chocolate” em Davos e anunciou a agonia do neoliberalismo.
Entendi... Então foi o Forum Social Mundial, aquele conclave de saudosistas do Muro de Berlim e palanque de Hugo Chávez, que deu uma paulada (um "chocolate") em Davos e anunciou a "agonia do neoliberalismo". Estou vendo para que "outro mundo possível" Chávez, um freqüentador assíduo do tal Forum dos malucos, está levando a Venezuela... Por falar no neoliberalismo, este deve ser o defunto mais insepulto da História. Aliás, o que é mesmo neoliberalismo? O autor poderia me esclarecer?
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Última questão do teste para saber se você é direita:
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O neoliberalismo existiu ou foi apenas uma besteira inventada pela esquerda?
Vejam que coisa: o tal "neoliberalismo" deve ser assim como um boitatá ou uma mula-sem-cabeça: existiu ou foi lenda? etc. Mais uma vez pergunto: o que o autor entende por neoliberalismo? A política econômica do governo FHC?
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Outras, outras: prefere Hugo Chávez ou Jair Bolsonaro?
Nem um nem outro. Mas lembremos: Chávez governa um país. E Bolsonaro? A propósito: prefere Fidel Castro ou George Bush? Stálin ou Churchill?
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Sente saudades de Paulo Francis e Roberto Campos?
Fazem falta, certamente. Mas o autor deve estar com saudades de Luiz Carlos Prestes e de Carlos Lamarca.
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Acha que a justiça é neutra, imparcia e objetiva? (aí já não é questão de direitismo, mas de loucura).
Se não é neutra, imparcial e objetiva, precisa ser, devemos zelar para que seja. Mas entendo: isso, para o autor, é pedir demais, é loucura... Então é melhor escancarar de vez e adotar uma justiça parcial e subjetiva a favor dos "explorados", não é mesmo?
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Acha que nunca se roubou tanto como agora?
Se nunca se roubou tanto como agora, não sei. Mas, certamente, nunca na história deste País (opa!) o roubo contou com tanta condescendência dos "éticos" da esquerda. Basta ver as desculpas de Lula para o mensalão. Nunca a honestidade e a vergonha na cara foram tanto de direita.
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Estimulado pelo texto do Juremir, resolvi criar meu próprio teste. Veja se você é de esquerda:
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- Acha que quem é contra o aborto deve ser penalizado?
- Acha que quem é contra o "casamento de homossexuais" deve ir parar na cadeia?
- Acredita que o aquecimento global é uma realidade tão concreta quanto o nascer do sol?
- Pensa que o bolsa-família é um programa de redução da pobreza, e não a institucionalização do cabresto e do coronelismo?
- É a favor da revogação da Lei de Anistia para punir torturadores da época da ditadura militar, mas não os terroristas de esquerda? (aliás, acha que não existe terrorismo de esquerda?)
- Acredita que o papel da imprensa é informar, não fiscalizar o governo?
- Acha que o MST é um movimento reivindicatório dos camponeses pobres, e não um movimento revolucionário que quer acabar com o direito de propriedade e impor uma ditadura comunista?
- É a favor de que símbolos religiosos sejam proibidos em escolas e repartições públicas, principalmente se forem cristãos?
- Acha que os governos devem ajudar empresas falidas e servir de banco para os companheiros?
- Acha que Israel está sempre errado e não tem o direito de se defender?
- Acredita que o capitalismo é um sistema desumano e que Cuba, sim, é que é uma verdadeira democracia?
- Nega-se a reconhecer o resultado das eleições em Honduras, mas não em Cuba ou no Irã?
- Acha que o Foro de São Paulo não existe, e é uma invenção da direita?
- Acha que o PSDB é de direita e que o governo FHC era "neoliberal"?
- Acha que as cotas raciais são um instrumento de justiça social, e não a oficialização do racismo?
- Acha que os EUA estão sempre errados e que são os culpados por tudo que de ruim existe no mundo?
- Acha que os crimes do comunismo, como o extermínio de 100 milhões de pessoas, não existiram e são uma bobagem inventada pela direita?
- Acha que a globalização é uma conspiração das elites capitalistas dos países ricos para aumentar a miséria no mundo?
- Acha que "liberal" e "conservador" são palavrões?
- Acha que existe direita organizada no Brasil?
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Chega, né? Já é o bastante.

segunda-feira, janeiro 25, 2010

O FILHO DA MÃE


Ainda não assisti à patacoada chapa-branca Lula, o filho do Brasil, e ainda estou na dúvida se boto ou não a mão no bolso para ver a trajetória hagiográfica do Noço Líder. Pelo que andei lendo, não vale a pena, e, ao que parece, a maioria do público tem essa mesma opinião (o filme está perdendo feio nas bilheterias até para Xuxa e o mistério de feiurinha...). Parece mesmo que estamos diante de um grande fracasso de crítica e de público. Um tremendo mico, literalmente cinematográfico.

Como disse, ainda não vi o filme, mas posso intuir por que ele naufragou nos cinemas. Em primeiro lugar, o próprio tema, a escolha do personagem, me parecem completamente equivocados. O filme se concentra na infância pobre de Lula, no agreste (e não no sertão, como muita gente pensa, mas isso não faz a menor diferença) de Pernambuco. Uma história pra lá de manjada, contada e recontada pelo próprio, sempre com uma conveniente lágrima para as câmaras. Convenhamos, é muito pouco para compor um roteiro com força e dramaticidade, capaz de arrebatar as platéias. Quem já leu qualquer biografia do Apedeuta sabe do que estou falando. O que há de tão emocionante em ser mordido por uma jumenta aos quatro anos de idade? Ou em quase ser esquecido pelo caminhão pau-de-arara por ter ido fazer xixi no mato?

Alguém poderia dizer: "Pô, o cara veio da pobreza e chegou à presidência da República, não se pode negar que é uma história e tanto" etc. Em termos. Pelo que eu li, o filme termina em 1980, quando Lula ainda estava longe de ser presidente. Nesse então, ele era Lula, o sindicalista. Sua biografia se limitava à infância pobre e aos anos de sindicato. Nada de espetacular. Ele era, então, um líder grevista, de passado (e idéias) mais que obscuro. E nada mais que isso. (E não me venham com a conversa de que ele foi uma espécie de Lech Walesa brasileiro, um lutador pela democracia contra a ditadura militar: o PT foi uma conseqüência, e não a causa, da redemocratização no Brasil. É mais uma mentira conveniente dos esquerdistas brasileiros.)

A vida de Lula não tem nada de extraordinária, nada que justifique, a meu ver, um filme sobre sua vida. Nasceu pobre (como Quércia e tantos outros políticos), veio para São Paulo criança, passou necessidade (e quantos não passaram?), depois entrou para o sindicato, fez greves. Sua principal realização, além de chegar à Presidência, foi o PT. O resto é conhecido: anos e anos de bravatas e politicagem, que culminaram na eleição em 2002 e 2006, além de gafes e atentados à gramática (voluntários: ele não estudou porque não quis, e diz que ler é tão chato quanto andar de esteira). E muito endeusamento, muita adulação. O que em outros poderia ser emocionante, em Lula é apenas vulgar.

Como, ao que parece, o investimento milionário na louvação ao Guia Genial está fazendo água, os produtores do filme estão tentando se sair com a tese de que o principal personagem não é Lula, mas a mãe dele, Dona Lindu, a mãe-coragem que sofreu com um marido violento e com as dificuldades para criar uma penca de filhos, entre os quais o Guia Iluminado. Outro dia vi uma constrangida Glória Pires tentando defender essa idéia. O filme então seria uma história (ou estória) de amor maternal, e não do futuro presidente etc. e tal. Balela. Se fosse verdade, o filme deveria então se chamar Lula, o filho de Dona Lindu, e não Lula, o filho do Brasil. Mas digamos que seja. Nesse caso, não consigo compreender em que exatamente isso diminui a mistificação em torno da figura de Lula. Outros líderes, como Stálin e Hitler, também sofreram com pais abusivos e tiveram mães dedicadas e amorosas. Alguém consegue vislumbrar um filme sobre a "infância sofrida" desses personagens?

Se o filme sobre Lula falasse sobre as disputas políticas nos bastidores das greves do ABC paulista em 1978-1981, ou sobre a trajetória dele e do PT até o momento - passando, obviamente, pelo mensalão em 2005 -, vá lá, estaria justificado o orçamento. Não faltaria, certamente, suspense, reviravoltas mirabolantes e, principalmente, traição. Mas isso seria fazer concessões demais à realidade, coisa que uma hagiografia como Lula, o filho do Brasil não pretende fazer. Quem se emocionaria com um filme que mostrasse o desempenho pífio de Lula como deputado federal, na Assembléia Constituinte, ou sua oposição à eleição de Tancredo Neves no colégio eleitoral, em 1985? Ou sua relação quase carnal com tiranos como Fidel Castro e tiranetes como Hugo Chávez? Sem falar, óbvio, no caso Celso Daniel, no mensalão etc.? Ou, então, o já célebre caso - narrado em todos os sórdidos detalhes por um petista histórico e ex-assessor de campanha de Lula - do "menino do MEP"? Seria difícil arrancar lágrimas dos espectadores com uma história tão pouco edificante.

Como não faz nada disso, evitando tratar de política - e do homem Lula, o Lula de verdade, em vez do personagem criado por intelectuais stalinistas -, o filme do Barretão é apenas um exercício de bajulação ou propaganda política eleitoreira. Ou as duas coisas. De qualquer maneira, um enorme desperdício, tanto de dinheiro quanto de talento, a serviço do culto da personalidade.

sábado, janeiro 23, 2010

AS PATRULHAS ESQUERDISTAS EM AÇÃO (OU: POR QUE NÃO SOU "IMPARCIAL")


"- Por que você não fala também da corrupção no DF?"
"- Por que centrar fogo em Lula e no PT?"
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Já respondi essas perguntas, mas faço questão de responder de novo. Quem se dispõe a denunciar as falácias do lulo-petismo e dos esquerdistas no Brasil tem, infelizmente, que se deparar com esse tipo de indagação.
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Coloquei aqui, alguns posts atrás, algumas fotos em que o Apedeuta aparece ao lado de figuras demonizadas da política nacional, como José Roberto Arruda, Collor, Sarney etc. Houve quem chiasse. O que eu quis dizer com isso? Que, ao contrário do que estão espalhando por aí os petistas do DF, o chefe deles se dá muito bem com a fina flor da politicalha. Que, a despeito do que pensam muitos petistas e não-petistas, alguns até de boa-fé, existe uma irmandade de corruptos, da qual o Filho do Barril é a figura de proa. Aliás, ele próprio deixou isso claro, ao minimizar as imagens do Arruda recebendo dinheiro de propina.
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Mesmo assim, há quem diga: "Pô, mas você não vai criticar a corrupção do DEM no DF? Cadê sua imparcialidade?" etc. Também já respondi a isso. Deixei claro - acredito que está claro o que penso a respeito - que não sou "neutro" ou "imparcial" coisa nenhuma. Para mim, a corrupção de A não torna menos condenável a corrupção de B, principalmente quando a corrupção de B é pior do que a de A. "Mas não são todos ladrões?" Sim, são todos ladrões. Mas uma coisa é roubar por roubar. Outra coisa é roubar em nome da "causa" (seja lá o que isso for), fingindo-se de santo. O primeiro é ladrão; o segundo é ladrão e hipócrita. Entenderam?
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Muita gente não se dá conta, mas a idéia de que, para falar mal de Lula e do PT, é preciso antes ou concomitantemente falar mal do mensalão do DEM - como se, somadas, duas ilegalidades resultassem numa legalidade - é um discurso político habilmente engendrado pelos petistas para enganar os trouxas e fugir à responsabilidade. Com isso, eles, os petistas, esperam "zerar o jogo", fazendo todos esquecerem o mensalão de 2005 e outras falcatruas. O PSDB já cedeu à chantagem, e tudo indica que irá deixar de se referir ao mensalão petista na campanha presidencial deste ano. É essa a principal contribuição dos lulo-petistas ao rebaixamento moral da política brasileira: a corrupção alheia virou um álibi e uma aliada para quem sempre se apresentou como puro e imaculado. O raciocínio é de uma esperteza política suprema: se todos são iguais, se são todos farinha do mesmo saco, então por que atacar Lula e o PT?
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Pois aí é que está: a corrupção alheia não torna sem efeito a corrupção do PT. Pelo contrário: é justamente porque há corruptos de ambos os lados que é preciso repor as coisas no lugar e denunciar o discurso petista. O jogo não está zerado.
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A idéia de que "todos são iguais" ignora o fato de que Lula não é um político como outro qualquer, assim como o PT não é um partido como os demais. Pensar assim é exatamente o que os petistas querem que todos façam. E, pelo visto, com a ajuda, voluntária ou não, dos "isentistas" ou "nenhumladistas", estão conseguindo.
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Lula não é igual a Arruda, Collor ou Sarney, assim como o PT não é feito do mesmo barro que o PSDB ou o DEM. Lula e o PT são piores. Muito piores.
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A corrupção de esquerda é pior. Não se trata de uma questão de preferência ideológica, mas de simples lógica, de senso de proporções. Não somente em termos quantitativos o mensalão petista foi um escândalo bem maior do que o mensalão do DEM, circunscrito ao DF, embora este também seja moralmente indefensável. Também em termos qualitativos e psicológicos a corrupção de esquerda é muito mais pérfida, muito mais imoral. Os lulo-petistas não apenas ressuscitaram o "rouba, mas faz"; eles também inventaram o "roubo humanista".
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Se vocês têm alguma dúvida de que os lulo-petistas são piores, ou se acham que estou dizendo isso porque sou um reacionário obcecado em derrubar Lula, então tentem responder as seguintes perguntas:
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- Quem se arvorou por décadas em bastião da moral e da ética na política, e sempre se apresentou como o defensor de um novo humanismo? O DEM ou o PT?
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- Em 2005, os petistas silenciaram ou se esconderam quando estourou o mensalão do PT. Com que moral querem agora o impeachment de Arruda?
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- O DEM pressionou Arruda, que se desfiliou do partido. E o PT, quando irá expulsar seus mensaleiros e aloprados?
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(A propósito: alguém viu algum prócer do DEM afirmar que os crimes do PT "zeram o jogo" em relação ao que aconteceu no DF?)
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Se não estão satisfeitos e ainda crêem que os petistas não se diferenciam em nada dos demais políticos, então tentem responder estas:
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- Quem tenta há anos impor a censura à imprensa no País?
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- Quem aplaude tiranos e dá abrigo a terroristas?
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- Quem passou anos condenando o "assistencialismo das elites" para adotar o assistencialismo como base de sua política social, criando legiões de estadodependentes?
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- Quem se apropriou das mesmas políticas contra as quais antes vociferava, apresentando-se como fundadores da nação?
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É claro que as perguntas acima não dizem tudo sobre quem são Lula e o PT. Mas dão uma boa idéia.
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Está claro, para quem ainda tem algum senso da realidade e de proporção - ou seja, para a minoria, nesses tempos sombrios -, que persiste um duplo padrão moral quando se comparam os desmandos dos petistas aos de outros - sempre a favor dos petistas, evidentemente. É o mesmo relativismo moral que existe quando o governo tenta criar um soviete acima da lei para beneficiar os invasores do MST, ou quando exige a punição de torturadores, mas não de terroristas. Um duplo padrão nascido de décadas de adulação, que deram origem a um sentimento de impunidade e onipotência.
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Em suma: criticar a corrupção da "direita" pode, é uma obrigação moral. Fazer o mesmo com Lula e o PT, isso não: é "golpismo" ou "parcialidade". Para falar da roubalheira petista, exige-se que se fale da corrupção do DEM no DF. Assim, em nome da "imparcialidade", banaliza-se a corrupção, pois, se "todos fazem igual", o jogo fica zerado. E a isso chamam "justiça".
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Há quem pense que ser justo é não ter lado. Que, em nome da "imparcialidade", é preciso tratar igualmente os desiguais. Que os delitos de um anulam ou minimizam os de outro, e que no fim das contas todos se assemelham. Recusam-se a tomar partido, escudando-se numa suposta neutralidade para não terem de fazer uma escolha moral. Não penso dessa maneira.

Lula e o PT ressuscitaram o ademarismo na política brasileira, institucionalizando o "rouba, mas faz" (e até o "rouba e não faz"). São responsáveis por um retrocesso mental e moral de uns 50 anos, no mínimo, a serviço de um projeto de poder autoritário. E ainda se dão ao desplante de querer patrulhar e pautar o pensamento alheio. Não me venham dizer que eles são iguais aos outros.


Houve um tempo, não me canso de lembrar, em que as patrulhas esquerdistas condenavam às chamas do inferno quem ousasse levantar dúvidas sobre sua honestidade e santidade, comparando-os a seus adversários. Hoje, condenam à danação eterna quem ousar dizer que eles não são iguais aos demais corruptos. A roubalheira alheia tornou-se a maior aliada dos lulo-petistas. O exemplo do DF está aí para comprovar isso.


Que se dane Arruda! Que perca o mandato, ou que vá parar na cadeia. Estou me lixando para ele. O que não é aceitável é que a roubalheira de um sirva de escudo ou de álibi para desviar a atenção e acobertar as trambicagens de Lula e dos petistas. Não tentem me pautar, sou imune às patrulhas. Eu posso falar mal de Lula e seus bajuladores, sem me preocupar em ser politicamente correto ou em se isso vai favorecer seus adversários do momento. E os que pregam a "imparcialidade" em relação às maracutaias dos lulo-petistas, será que podem?

sexta-feira, janeiro 22, 2010

A LOUCURA DE CHÁVEZ


Sabem as placas tectônicas? O movimento da crosta terrestre? As aulas de Geologia? Esqueçam tudo isso. Segundo o coronel Hugo Chávez, o terremoto que destruiu o Haiti tem outra explicação. De acordo com o balofo fanfarrão que está arruinando a Venezuela, e agora ameaça levar o caos ao resto do continente, a culpa pelo terremoto é dos... EUA! Melhor (ou pior) dizendo: o tremor foi causado "pela Marinha norte-americana e sua máquina de fazer terremotos".

É isso mesmo que vocês leram. Segundo o Napoleão de hospício caribenho, os EUA têm uma "máquina de fazer terremotos", e foi essa engenhoca infernal a responsável pelo sismo que devastou o Haiti e matou mais de 140 mil pessoas. Destruíram o país para depois intervir militarmente e ocupá-lo de vez. Faz todo o sentido, não?

Não acreditam? Então leiam a notícia:

É loucura? Claro que é. O bolivarianismo, ou seja lá o que isso significa, não passa de uma forma de insanidade, baseada no delírio e na paranóia. Quem não se lembra do aprendiz frustrado de Chávez de Honduras, o bigodudo Manuel Zelaya, com suas teorias sobre "raios de alta freqüência" emitidos por "mercenários israelenses" contra ele? É desse mesmo nível mental que saem coisas como "revolução bolivariana" e "socialismo do século XXI".

O pior é que essa forma de loucura não se restringe a Chávez e seus delírios psicóticos. Muita gente considerada "séria" e "normal" está comprando a tese da "intervenção imperialista" dos EUA no Haiti. Não ligam para o fato de que os EUA têm muito mais recursos, e podem fazer muito mais para ajudar a reconstruir o Haiti, do que a ONU. Mesmo com Obama na Casa Branca, não conseguem pensar que os EUA estão em missão humanitária. Enchem-se de indignação muito mais com o pouso de um helicóptero militar norte-americano nos jardins do que um dia foi o palácio presidencial do Haiti - uma "agressão à soberania" do país sem governo - do que com a falta de recursos e de infraestrutura para resgatar e socorrer os feridos. Vêem a calamidade no Haiti não como uma tragédia humana de proporções inomináveis, mas como parte do jogo geopolítico mundial. Estão se lixando para as vítimas da tragédia, inclusive para os brasileiros mortos no terremoto: querem mesmo é aproveitar a miséria e o sofrimento alheios para fazer a mesma velha demagogia antiamericana de sempre. O antiamericanismo é mesmo o último refúgio dos canalhas.

Chávez é louco, está claro, mas ainda há quem não se importe muito com isso. Muitos o vêem como um simples bufão, folclórico, mas inofensivo. O ditador canibal de Uganda, Idi Amin, também era visto como inofensivo, até simpático, por muita gente culta e instruída. E não tinha o petróleo da Venezuela, nem as armas que Chávez adquiriu recentemente da Rússia. Uma coisa é um maluco beleza, folclórico. Outra é um louco armado até os dentes e com pretensões à onipotência. Com o primeiro pode-se tentar conversar. Com o segundo, só Gardenal e camisa-de-força.

Chávez está levando a América do Sul a uma perigosa corrida armamentista, de conseqüências imprevisíveis. Seu objetivo é uma guerra com a Colômbia, cujos narcoterroristas das FARC, está provado, recebem guarida e armas pesadas - inclusive lança-foguetes - de autoridades venezuelanas. Não contente, aliou-se ao regime teocrático do fanático Mahmoud Ahmadinejad, tendo assinado com este um acordo de cooperação nuclear. Ele tem os meios e a intenção de levar o continente a uma catástrofe jamais vista. É um louco perigoso. Mesmo assim, ainda há quem acredite, honestamente ou não, que é possível domá-lo e trazê-lo para o lado da democracia. Como se vê por suas declarações, é improvável trazè-lo sequer para o lado da razão.

Até onde vai a loucura de Chávez? Até seus aliados, como Lula, deixarem de lamber-lhe as botas.

quinta-feira, janeiro 21, 2010

FALE MAL DE DEUS, MAS NÃO DE OBAMA (OU: "É TUDO CULPA DO BUSH")


Aí vem um gaiato e escreve aqui o seguinte comentário, que ele, por motivos que só ele deve saber, não assina (sobre meu post Obama, um ano depois. Ou: a realidade venceu a "esperança"):

Obama não anda sobre as aguas, não multiplica pães, não transforma agua em vinho... Se assim fizesse talvez resolvesse em um ano o problema gerado em oito, talvez fechasse o famigerado presídio, restaurasse a economia sucateada pela guerra ( de oito anos), que grande decepção não é mesmo ?

Vamos esperar Sara Pallin assumir o poder......

OK, vamos ver.

Deduzo que o tal famigerado presídio a que o leitor se refere é Guantánamo. Guantánamo fica em Cuba, aquela ilha que tem umas duzentas guantánamos, sobre as quais, estranhamente, quase ninguém, sobretudo os obamistas, fala. Os crentes da nova fé obâmica acreditavam que o novo Messias fecharia a prisão - onde estão, como se sabe, somente pobres injustiçados e mansos cordeiros sem qualquer ligação com o terrorismo - imediatamente. Estão frustrados porque, um ano depois, a prisão continua funcionando. Enquanto isso, alguns que de lá foram soltos já voltaram à faina terrorista. Deve ser culpa do Bush.

Como deve ser também culpa do Bush que em um ano o demiurgo não tenha resolvido o problema gerado em oito, como a guerra no Afeganistão, por exemplo. Isso mesmo: a guerra no Afeganistão, que começou quando o Talibã se recusou a entregar Bin Laden, foi culpa de Bush etc e tal. Posso até concordar em parte, mas não consigo deixar de fazer a pergunta: se a guerra foi um erro, como repetem desde 2001 os que apoiaram Obama, então mandar tropas foi um erro. Então, qual a razão de Obama prometer enviar mais 30 mil soldados ao país? Ou a diferença entre a "guerra ao terror" de Bush e a de Obama é que o primeiro matava com gosto, e o outro mata com dor no coração?

Muitos que torceram por Obama contra McCain acreditam que basta renunciar ao uso da força e pedir desculpas pelo que os EUA fizeram ou não fizeram no passado para que Bin Laden e o Talibã baixem as armas e adotem o American way of life. Como se viu nos últimos 12 meses, Obama também parece acreditar que essa tática vai dar certo com Ahmadinejad, Kim Jong-il e Hugo Chávez. A questão é: se é assim, por que mais tropas para o Afeganistão? (A propósito: no mês passado um terrorista burlou a segurança e tentou explodir um avião que ia para os EUA, só não conseguindo por pura incompetência. Será que ele estava chateado por alguma coisa que Obama disse ou fez?)

O leitor também fala da "economia sucateada pela guerra" como uma das heranças malditas da era Bush etc. Fico cá pensando: se a economia dos EUA, que, como se sabe, não é um Burundi, foi pro ralo por causa das aventuras militares de Bush e sua turma - o que é, no mínimo, discutível (em 1929, por exemplo, o mundo estava vivendo um período de paz), então por que raios Obama quer levar o país ainda mais para o buraco, mantendo e até ampliando os investimentos na guerra do Afeganistão? Seria ele uma espécie de suicida econômico?
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Outra coisa, que o leitor não menciona: o que tem a ver o fracasso de Obama em implantar a reforma no sistema de saúde dos EUA e a perda da maioria no Senado com o Bush?
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Sei não... Culto da personalidade, continuidade, adoção de políticas antes condenadas, se não der certo culpe o antecessor, herança maldita... Lembra alguém, não lembra?

P.S.: Quanto a Sarah Palin, não tenho muito a dizer. Não sou nem contra nem a favor. Só sei que, se um dia ela chegar a ser eleita para a Presidência dos EUA, será por atributos mais do que simplesmente ser mulher. Será que Obama, que foi eleito pela cor da pele (embora ele jure que não), pode dizer o mesmo?

LULA MENTE


O presidente nacional do PSDB lançou uma nota atacando duramente Dilma Rousseff. É uma boa notícia, haja vista a bundamolice que caracteriza os tucanos, esses esquerdistas envergonhados, mais preocupados em não ofender ninguém do que em dizer verdades inconvenientes (falarei deles em outro post). Estimulado por esse exemplo, resolvi escrever também minha nota, que mira um pouco mais alto. Aí vai.
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LULA MENTE
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Lula mente. Mentiu no passado e mente hoje. Usa a mentira como método. Aposta na desinformação do povo e abusa da boa-fé do cidadão.
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Mente sobre o PAC, mente sobre sua função e a de seus auxiliares. Não é mentor de um programa de governo e, sim, de uma embalagem publicitária que amarra no mesmo pacote obras municipais, estaduais, federais e privadas. Mente ao somar todos os recursos investidos por todas essas instâncias e apresentá-los como se fossem resultado da ação do governo federal.
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Dissimulado, Lula tentou negar que o mensalão existiu. Depois, confrontado com os fatos, admitiu que não era nada de mais, dizendo que caixa dois todo mundo faz. Mais tarde, mudou novamente a versão, e se disse traído, mas não explicou por quem. Finalmente, disse que foi uma tentativa de golpe contra ele.
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Gaba-se de sua origem pobre e de não ter estudado. Mas teve mais de vinte anos para estudar e se aprimorar intelectualmente, e não o fez. Faz o culto da ignorância, parte do culto de sua personalidade, alimentado por uma corte de bajuladores e por um filme feito com dinheiro de empresas com contratos com o governo. Ofende a língua portuguesa e os pobres que estudam.
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Mente sobre seu passado de líder sindicalista, quando foi preso e, segundo informa quem com ele conviveu, tentou violentar um companheiro de cela. Eleito deputado federal em 1986, teve um desempenho abaixo do medíocre. Aproveita-se do endeusamento e da mistificação de sua figura para zombar da História e da democracia.
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Em 1984, foi contra a eleição de Tancredo Neves no colégio eleitoral. No ano seguinte, orquestrou a expulsão de três deputados petistas que votaram nele. Em 88, recusou-se a votar a favor da Constituição. Hoje, posa de lutador pelo fim da dtadura militar.
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No passado, mentiu ao posar de vestal da ética e da honestidade na política, apenas para defender hoje os mesmos que antes chamava de ladrões e corruptos, que compõem sua base de apoio no Congresso. Do mesmo modo, mentiu ao atacar, por anos a fio, o assistencialismo como uma forma clientelista de reprodução da miséria e de dominação das oligarquias. Hoje, o assistencialismo é um dos pilares de seu governo.
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Durante anos, mentiu sobre suas verdadeiras intenções. Apresentava-se como inimigo feroz do neoliberalismo e das privatizações, apenas para adotar a mesma política que antes condenava assim que chegou ao poder. Não explicou por que o fez, nem fez a autocrítica do discurso anterior. Agora, apresenta-se como o esteio da estabilidade e o fundador da nação. Apropria-se do que não é seu e vangloria-se do que não faz.
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Apresentou-se e apresenta-se como campeão dos direitos humanos e da democracia. Mas tem na ditadura comunista de Cuba seu modelo e inspiração. É aliado de Hugo Chávez e Evo Morales, bem como de todos os ditadores da África. Apóia os planos nucleares de Ahmadinejad no Irã, tendo comparado a repressão aos manifestantes que pedem democracia naquele país a uma briga entre vascaínos e flamenguistas. Em Honduras, apoiou um golpista travestido de democrata, transformando a embaixada brasileira em escritório político daquele.
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Silencia diante das barbaridades incluídas no Plano Nacional de Direitos Humanos, que compromete a liberdade de imprensa, persegue as religiões, criminaliza quem é contra o aborto e liquida o direito de propriedade. Um programa do qual ele teve a responsabilidade final, juntamente com Dilma Rousseff, na condição de presidente da República. Diante da reação da sociedade civil, diz que assinou o Decreto sem ler.
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Além de mentir, Lula omite. Esconde que, em 32 meses, apenas 10% das obras listadas no PAC foram concluídas - a maioria tocada por Estados e municípios. Cerca de 62% dessa lista fantasiosa do PAC - 7.715 projetos - ainda não saíram do papel. Mesmo se as obras do PAC fossem reais, isso não justifica seus constantes ataques à democracia.
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Outra característica de Lula é transferir responsabilidades. A culpa do desempenho medíocre é sempre dos outros: ora o bode expiatório da incompetência gerencial são as exigências ambientais, ora a fiscalização do Tribunal de Contas da União, ora o bagre da Amazônia, ora a perereca do Rio Grande do Sul. Assume a obra alheia que dá certo e esconde sua autoria no que dá errado.
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Diz-se democrata, mas tentou durante meses mudar a lei para garantir um terceiro mandato. Agora quer impor goela abaixo de todos uma candidata de vida, carreira e raciocínio obscuros, que mentiu sobre seu currículo, mente sobre o PAC e sobre dossiês, e que se escondeu durante 21 horas após o apagão. Ela tem nele um professor.
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Está claro, portanto, que mentir, falsificar, omitir, dissimular e transferir responsabilidades são a base do discurso de Lula. Infelizmente, ele é popular, pois o Brasil é um país de bobos.

LULA, O HAITI E MAIS UM VEXAME DOS MEGALONANICOS


Segue mais um texto brilhante de Augusto Nunes, publicado em seu blog. Nada a comentar. Só a lamentar que uma tragédia humana esteja sendo usada como palco para as ambições megalomaníacas de uma diplomacia que perdeu o rumo e a vergonha.
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GIGOLÔS DE TERREMOTOS

Até terremoto tem seu lado bom, imaginaram os estrategistas do Planalto no dia em que o Haiti acabou. Desde 2004 no comando da força de paz da ONU, ferido pela morte de Zilda Arns, de um diplomata e de 17 soldados, o Brasil conseguira com a tragédia o trunfo que faltava para assumir, livre de concorrentes, a condução das operações internacionais destinadas a ressuscitar o país em frangalhos. E então tomou forma a má ideia: que tal aproveitar a favorável conjunção dos astros para fazer do Haiti um protetorado da potência regional que Lula criou?

Eufóricos com o surto de inventividade, os alquimistas federais transformaram o velório de Zilda Arns em comício e escalaram Gilberto Carvalho para o lançamento, à beira do caixão, do novo projeto nacional. A frase de abertura surpreendeu os parceiros de roda de conversa: ”O Brasil perdeu uma grande militante e ganhou uma grande padroeira”. Alheio ao espanto provocado pela demissão sumária de Nossa Senhora Aparecida, substituída sem anestesia pela fundadora da Pastoral da Criança, o secretário particular do presidente foi ao que interessava: “Devemos adotar o Haiti a partir de agora. Temos até uma mártir lá”.

“Vou me empenhar para que Zilda Arns ganhe o Prêmio Nobel da Paz”, emendou Lula na roda ao lado. Expressamente proibida pelos organizadores do Nobel, a premiação póstuma foi autorizada uma única vez, para atender a circunstâncias excepcionais. Em 1961, o estadista sueco Dag Hammarskjöld, secretário-geral da ONU ao longo da década anterior, já estava escolhido quando, às vésperas do anúncio formal, morreu num acidente aéreo. Lula prometeu o que não acontece há 50 anos. Ou ignora a proibição ou se acha mesmo o cara.

Enquanto o chefe apoiava candidaturas impossíveis em cerimônias fúnebres, Nelson Jobim e Celso Amorim articulavam o movimento de resistência à invasão do Haiti por soldados e médicos americanos, armados de remédios, alimentos e equipamentos de socorro. A coleção de fiascos começou com a tentativa de retomar o controle do aeroporto da capital. Quando preparava a contra-ofensiva, Jobim soube que os ianques estavam lá a pedido do governo haitiano.

Se não fosse tão desoladoramente jeca, o governo Lula teria aproveitado a vigorosa entrada em cena dos EUA para associar-se à única superpotência do planeta e aprender o que não sabe. No pós-guerra, por exemplo, os americanos organizaram a reconstrução do Japão e da Alemanha. O Brasil, que não consegue lidar nem com chuva forte, é um país ainda em construção. Mas o presidente acha que está pronto. E preferiu disputar com Barack Obama o papel de protagonista.

Passada uma semana, só conseguiu ficar ainda mais longe da vaga no Conselho de Segurança da ONU, como avisa o resumo da ópera publicado neste 19 de janeiro pelo jornal espanhol La Vanguardia: “O terremoto ocorrido há uma semana desnudou a incapacidade da Organização das Nações Unidas para fazer frente a um desastre de tais dimensões. A onerosa missão dos 8.300 capacetes azuis não serviu para nada no momento de enfrentar a emergência e organizar a ajuda aos haitianos. O Brasil, que tem aspirações ao status de potência regional latino-americana, mostrou, como coordenador das forças da ONU, incapacidade e falta de liderança”.

Enquanto os haitianos imploram pela salvação que teima em demorar, Celso Amorim continua implorando por audiências com Hillary Clinton. Enquanto soldados brasileiros lutam pelas vítimas do flagelo, Nelson Jobim luta para prolongar por cinco anos a permanência no Haiti das tropas que visita quando lhe convém.

Tanto os brasileiros que morreram em combate quanto os que continuam no Haiti merecem admiração e respeito. São heróis. Políticos que ignoram o pesadelo inverossímil para concentrar-se em disputas mesquinhas são gigolôs de terremoto.

POR QUE EXISTE ESTE BLOG


Acho que vou precisar criar uma seção especial neste bog somente para responder a comentários estapafúrdios. A quantidade de vezes que eu tive de responder daria um livro. Um dos comentários que estariam num lugar de destaque seria, certamente, o de um leitor que assina como Artur, sobre meu texto "Os simpáticos", que publiquei aqui em 3 de janeiro. Ele em vermelho:
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Meu caro amigo de direita, somos diferentes na nossa maneira de pensar, mas somos iguais, eu vejo você muito parecido com os extremistas de esquerda, o mesmo pragmatismo, a mesma intolerancia está presenente em ambos. Sim porque toda extrema é intolerante, seja ela de direita ou esquerda.

Em primeiro lugar, quero que me esclareça: como assim, somos diferentes e iguais? Noto aí uma certa confusão mental do leitor. Se sou igual, como posso, ao mesmo tempo, ser parecido com os extremistas de esquerda? Além do mais, desde quando os extremistas de esquerda pautam-se pelo pragmatismo?

Caro Artur, aponte onde, quando e em quê eu sou intolerante. Aí, sim, poderemos começar uma conversa. Até lá, eu fico como aquele sujeito da TV: Num intendi u kêle falô...

Foi no governo deste lula que você hoje chama de apedeuta ( termo que discordo), que o Brasil ganhou destaque no The economist, uma materia falando justamente do nosso crescimento em diversas áreas isso sem contar o Investiment Grade, passou a ser credor do FMI e tudo isso com o crescimento do poder aquisitivo do povo, com as população tendo ascesso a financiamentos dignos para compra de imoves , carros entre outras coisas. Me diga o que o seu governo de direita fez pelo Brasil, me diga o que Fernando Collor, Fernando Henrique e Cia trouxeram ?

O leitor leu os artigos da The Economist que cita? O Brasil virou destaque na revista não por causa de Lula, mas de uma conjunção de fatores que pouco ou nada têm a ver com Lula e os petistas: em especial, a manutenção da política econômica de FHC. Se há um mérito no governo do Apedeuta - o leitor não gosta do termo, então procure no dicionário, compare com Lula e depois me diga se não corresponde exatamente ao personagem -, é esse. O resto é embuste, empulhação para enganar os trouxas e dizer "nunca antes na história deste País"...

Outra coisa: de que "governo de direita" - ainda mais, "seu" ("meu") - o leitor está falando? Dê uma olhada ao lado de quem estão Collor e Sarney atualmente. FHC, de direita?

A propósito: a The Economist é a mesma revista que, há alguns meses, trouxe reportagem de capa descascando a política externa pró-ditaduras do Apedeuta. Até escrevi sobre isso, como você pode confirmar aqui: http://gustavo-livrexpressao.blogspot.com/2009/08/o-brasil-ao-lado-das-tiranias.html. Também é a mesma publicação que Lula, em um debate na campanha eleitoral de 2006, desdenhou quando a citaram, dizendo que muitos (a "elite" de "mente colonizada") se baseiam naquilo que dizem as revistas do istranjêro... Esse é Lula.

Sei das falhas do governo atual, como por exemplo a corrupção, que não se limita a esquerda vide democratas. Mas se você me perguntar em quem votaria, não descarto Dilma, por que o faria ?.

Corrupção não é uma "falha": é crime. Existem leis que a punem, sabia? E daí que existe corrupção ali e acolá? O fato de dois cometerem ilegalidades não torna a ilegalidade legal, suponho. O leitor cogita votar em Dilma? Por que não estou surpreso?

Eu não sou socialista, não acredito no comunismo, mas apenas sou coerente com a realidade a que vivo.
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Estou vendo sua "coerência". Não é preciso ser socialista ou comunista para dizer amém à cafajestada. Basta posar de "neutro", "imparcial", diante da sem-vergonhice. Basta ser inocente útil.
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Em suma, Lula e sua patota convenceram muitos incautos de que o Brasil começou em 2003 e que tudo de bom, antes ou depois, é obra deles, os lulistas. É para desmascarar falácias como essa que existe este blog.

quarta-feira, janeiro 20, 2010

OBAMA, UM ANO DEPOIS. OU: A REALIDADE VENCEU A "ESPERANÇA"


E o Obama, heim? Hoje faz exatamente um ano que ele chegou à Casa Branca, levado nos braços do "mundo" como a encarnação suprema da esperança para a humanidade. Na ocasião, o oba-oba atingia níveis realmente estratosféricos. Cheguei a pensar que o canonizariam. Não chegaram a tanto. Contentaram-se em lhe dar um Nobel da Paz - decidiram 12 dias depois de sua posse na presidência, fiquei sabendo...

Pois é, né? Bastaram doze meses para que metade do encanto do primeiro-presidente-negro-pós-racial-da-história-dos-Estados-Unidos perdesse metade de sua atração. Culpa da realidade, essa madrasta má, que não costuma respeitar muito símbolos e ilusões. Ainda mais quando são símbolos tão vazios, feitos tão-somente de marketing e discursos ocos. Desde que Obama chegou ao poder, a realidade não deu trégua à tal "esperança" (hope). Primeiro foi a tal reforma da saúde, que ameaça não sair do papel. Depois, as guerras no Iraque e, principalmente, no Afeganistão, que muitos que votaram em Obama esperavam que ele encerrasse com seus poderes demiúrgicos (talvez chamando Bin Laden para uma "beer talk" nos jardins da Casa Branca). Contrariando os pacifistas, ele manteve a guerra do demonizado Bush, e até aumentou o número de tropas no Afeganistão. A diferença é que, como ele não é nenhum brucutu texano, ele faz isso com dor no coração...
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De nada adiantou, até o momento, o bom Barack ter se mostrado apaziguador e estender a mão a Ahmadinejad, Kim Jong-Il, Raúl Castro e Hugo Chávez - nenhum destes se mostrou, até agora, muito disposto a abandonar o velho discurso antiamericano (e, no caso dos dois primeiros, o programa nuclear secreto). Logo os devotos da fé obamista se deram conta, com um travo na garganta, que seu líder não andava sobre as águas, nem fazia chover no deserto. Resultado: de 80% nos primeiros dias, a popularidade do Messias caiu para 50%. Nos EUA, já estão começando a compará-lo a Jimmy Carter, o presidente boa-gente, também do partido democrata, que ajudou a afundar ainda mais o país no final dos anos 70. Mas o "resto do mundo", principalmente o resto que pensa que o que é ruim para os EUA é bom para a humanidade, continua botando fé nele.

Tenho falado pouco de Obama nos últimos tempos. É que o personagem já começa a dar sinais de desgaste, e não há nada nele que me interesse além do personagem (aliás, ele tem essa característica em comum com Lula: os dois não existem fora do personagem). Mas vou também celebrar, do meu jeito, a data histórica. Aí vai um texto que postei aqui um dia depois da posse histórica do presidente histórico.

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OBA-OBAMANIA

Devo confessar que não me emociono facilmente. Diante de uma cena ou de um discurso feito sob medida para arrancar lágrimas da plateia, geralmente eu me encrespo e procuro reprimir o máximo meu lado passional e sentimental, buscando guiar-me sempre pela razão. Não que eu seja um monstro de frieza e de insensibilidade. É que, diante de ondas de emotividade e de consensos fabricados, acho impossível não ficar com um pé atrás. Prefiro fazer o que pouca gente faz numa hora dessas: pensar.

Se o motivo de emoção e histeria à minha volta é a posse de um presidente ou o discurso de um político, sou ainda mais radical. Simplesmente não consigo abrir mão do 0,0002% de meus genes que não compartilho com os chimpanzés e juntar-me à multidão ululante. Discursos - ainda por cima, de políticos - não me comovem nem um pouco. Antes, causam-me um tédio irreprimível. Não me entusiasmam, apenas me provocam bocejos de hipopótamo. Prefiro o zumbido de uma abelha ou de uma mosca a permanecer de pé, ou mesmo sentado, tendo os ouvidos e a inteligência massacrados por uma catarata de promessas e frases de efeito, tão vazias quanto as cabeças para as quais se dirigem.
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Foi exatamente assim, profundamente entediado, que me senti ontem, ao ver pela televisão a cerimônia de posse de Barack Obama na presidência dos EUA. Tem gente que está chorando até agora. Afinal, era um "momento histórico". Teve uma repórter, se não me engano da Globo, que achou isso pouco, e tascou um "esse é um momento histórico na história da humanidade". Só faltou dizer que estava presenciando o advento do novo Messias, o redentor da espécie humana. Aliás, para muita gente, era isso mesmo que estava acontecendo.

Em seu discurso de posse, Obama falou em "reconstruir" a nação (ela foi destruída?). Esse tipo de discurso, em vez de me entusiasmar, me dá calafrios. A ideia de "reconstrução" do país - ou do mundo - é algo presente nos discursos de todos os líderes ditatoriais do século XX, de Hitler e Stálin a Fidel Castro e Hugo Chávez. Traz em si um claro componente de messianismo salvacionista, algo tão conhecido de nós, brasileiros. Não duvido que já estejam acendendo velas para Obama em alguns lugares dos EUA, assim como já estão acendendo velas para São Luiz Inácio em algumas cidades do interior do Nordeste. Uma das frases do discurso de Obama foi "a esperança venceu o medo". Impossível evitar a impressão de déjà vu.

Obama é o presidente "histórico". Sua eleição está sendo considerada, por dez em cada dez veículos da grande imprensa, uma vitória contra o racismo e um raio de esperança para a humanidade. Quanto a ser uma vitória contra o racismo, já escrevi sobre isso, e acho que foi exatamente o contrário - Obama dificilmente teria sido eleito não fosse justamente a questão racial, ou seja, o fato de ser (americanamente, diga-se) negro. Com relação à segunda questão, de se Obama é ou não uma esperança, é aqui que tenho minhas maiores dúvidas. A vitória de Obama pode ser creditada a uma série de fatores, inclusive à crise financeira mundial, mas é inegável que foi também uma vitória dos inimigos dos EUA. Muitos que torceram por ele compartilham da visão segundo a qual os EUA só agem, e o mundo reage. O terrorismo islamita, por exemplo, é visto, segundo essa visão, sempre como uma forma de reação, de resposta, à política externa norte-americana. O discurso de Obama, ao proclamar que guerras se vencem com mais do que armas e ao prometer diálogo com regimes como o do Irã, vai nessa direção. Soube que ele pretende fechar a prisão de Guantánamo e conversar também com Raúl Castro, que governa um regime que mantém umas 600 Guantánamos na ilha-prisão de Cuba, mas ninguém - principalmente, os que votaram em Obama - dá a menor bola para esse último detalhe.

Outro fato interessante é que, com a aposentadoria de George W. Bush, os devotos de Obama terão um problema pela frente. Com Belzebu fora da Casa Branca, quem irão demonizar e culpar por todos os males do mundo? O novo Satã para se atirar o sapato já foi escolhido: Israel, contra o qual os idiotas úteis e arautos do "outro mundo possível" já voltaram suas baterias de ódio, inclusive de antissemitismo disfarçado. De fato, pouco importa quem esteja na Casa Branca: por trás do ódio a Bush, estava o ódio aos EUA, que é anterior a Bush e continuará a existir durante o governo Obama, pois suas raízes são muito mais profundas. A diferença é que, com Obama na presidência, há a possibilidade de o discurso do Blame America First tornar-se oficial, para gáudio dos que se alegraram com os atentados de 11 de setembro.
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Aliás, para sermos justos, até isso é duvidoso no que concerne a Obama. Vamos lembrar. Ele montou uma equipe de governo composta de algumas figuras previsíveis e outras, como o responsável pela segurança, oriundas da Era Bush. Isso demonstra como os slogans de "mudança" que embalaram a campanha podem ser - pelo visto, são - vazios e eleitoreiros. É mais um detalhe a aproximar Obama de seu colega Lula da Silva. O Apedeuta, como sabemos, copiou a política econômica de FHC, que passou anos atacando com fervor jesuíta. Hoje, com aquele seu jeito misto de Rolando Lero e Dercy Gonçalves, reivindica até a paternidade da estabilidade econômica... O que leva à seguinte conclusão sobre os dois presidentes: tanto num caso como em outro, eles se opunham a seus antecessores, não a suas políticas.


No começo deste texto afirmei que, diante de ondas de irracionalidade coletiva, não consigo abandonar meu lado racional e deixar de pensar. E pensar é duvidar. E é exatamente isso o que a posse - e a pose - de Obama me induzem a fazer. No momento em que se celebra sua ascensão, uma série de perguntas e dúvidas pululam em minha cabeça. A primeira de todas é: ele realmente nasceu nos EUA? Se sim, porque vem há meses se esquivando de mostrar sua certidão de nascimento, como lhe é exigido em um processo legal movido por um advogado de seu próprio partido? Qual é exatamente sua relação com figuras como Tony Rezko, Bill Ayers, Jeremiah Wright e Raila Odinga? Que papel teve no escândalo da ACORN, a maior derrama de títulos de eleitores falsos da História dos EUA? Finalmente, por que a imprensa não divulga nada disso? Sobre qualquer um desses pontos, nenhuma investigação, nenhuma matéria ou reportagem mais cética e investigativa. Se há algo de histórico na eleição e posse de Obama, não é a cor de sua pele nem seu nome pouco usual, mas o nível realmente inédito de adulação com que o brindou a imprensa norte-americana e mundial, um culto da personalidade verdadeiramente soviético em suas proporções e em sua disposição de esconder fatos pouco abonadores da vida do novo Messias. E ai de quem chame a atenção para essas questões não-respondidas! Será tachado de maluco ou nazista, e ponto final.
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Pouco mais de dois anos atrás, ninguém sabia quem era Barack Hussein Obama. Hoje, continuam não sabendo. Há apenas uma certeza: com ele na Casa Branca, os EUA se tornaram um país mais caudilhesco, mais terceiromundista, mais bananeiro.

OS DIREITOS HUMANOS DELES


Não sei se quem lê este blog está acompanhando a celeuma em torno do tal PNDH-3 - a tentativa grotesca dos esquerdopatas no governo de bolivarianizar de vez o Brasil. A coisa merece uma atenção maior do que a que vem tendo na imprensa. É simplesmente - faço questão de repetir, pois há verdades que precisam ser gritadas dos telhados para serem ouvidas - o maior atentado contra a democracia orquestrado no Brasil em mais de quarenta anos.

É o maior escândalo do governo da companheirada, sem qualquer sombra de dúvida. Maior do que o mensalão? Maior do que o mensalão. Maior do que a chanchada cucaracha em Honduras. Do que qualquer encrenca internacional ou nacional que os aloprados petistas já armaram. E digo por quê.

O que se está tramando é simplesmente um golpe de Estado. Nada mais do que isso. Trata-se de um plano completo, um programa desestabilizador das instituições, que, se implementado, irá simplesmente substituir a Constituição e o Judiciário por uma versão farofeira dos tribunais stalinistas, jogando no lixo o estado de direito democrático e instituindo oficialmente a República soviética do Brasil.
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Acham que estou exagerando? Então leiam o troço. Não acreditem em mim, acreditem no PNDH-3. Está tudo lá: censura à imprensa - o programa prevê punições e até o fechamento de meios de comunicação "que não respeitarem os direitos humanos" (na visão lulo-petista, entenda-se); revanchismo - sai a Lei de Anistia de 1979, e entram os tribunais revolucionários da esquerda para julgar nonagenários, sem que uma palavra seja dita sobre os mortos e feridos pela esquerda armada -; liqüidação do direito à propriedade, com a legitimação das invasões do MST, colocadas acima da Lei; desrespeito à liberdade religiosa, criminalização de quem é contra o aborto etc. Se isso não é um Estado bolchevique em gestação, então não sei o que é. E tudo de maneira legal, por meio das próprias instituições democráticas, ocupando espaços, contrabandeando um programa ideológico para dentro de uma política oficial de governo. Se você pensou em Gramsci, está no caminho certo.

O golpe é tão mais grave por estar sendo feito na surdina, de forma quase clandestina. Os petralhas como Paulo Vanucchi esperaram até o final do mandato do Apedeuta para mostrar sua verdadeira cara e arreganhar os dentes. Escolheram um momento também propício, no final do ano, quando quase todos estão olhando para o outro lado. Mas não contavam que alguém iria prestar atenção.

Como de outras vezes, já estão tentando tirar o do Lula da reta, blindando-o. A tática agora é dizer que o Apedeuta assinou sem ler, o que é bastante provável, haja visto o pouco apreço do Filho do Barril pela leitura, mas não o exime de responsabilidade. Assim como não serve de desculpa para Dilma Rousseff, que, como ministra da Casa Civil, está diretamente ligada ao tal programa. Lula pode até não ter lido o que assinou, mas não dá para negar que os pontos previstos no PNDH-3 já vinham sendo cozinhados há muito tempo, desde o começo do governo. Paulo Vanucchi é o mais novo aloprado. Quanto a Lula, está apenas repetindo sua velha cantilena: "não sei nada, não vi nada". A ignorância é mesmo um álibi muito conveniente.

A visão da esquerda sobre os direitos humanos é mesmo esquisita. Lula agora quer fazer todos crerem que não tem nada a ver com o PNDH-3 do jeito que está, mesmo tendo ele, Lula, escancarado a embaixada brasileira para um golpista travestido de vítima de golpe em Honduras. Lula não faz segredo de suas simpatias por liberticidas como Hugo Chávez e Evo Morales, já tendo dito que na Venezuela, por exemplo, há democracia "até demais". Também é conhecida sua veneração de longa data por Fidel Castro e pelo totalitarismo cubano, que ele considera um modelo e uma inspiração. Há alguns meses, o governo brasileiro patrocinou a volta de Cuba à OEA, mesmo com a tirania castrista não dando qualquer sinal de que vá, um dia, permitir que a ilha vire uma democracia. Sob o lulo-petismo, a diplomacia brasileira se tornou aliada dos piores tiranos e genocidas do planeta, como o sudanês Omar Al-Bashir. Mais recentemente, Lula recebeu com flores o iraniano Mahmoud Ahmadinejad, um antissemita negador do Holocausto e patrocinador do terrorismo islamita. Por falar no Irã, nosso Guia Genial reconheceu, antes mesmo dos aiatolás iranianos, a vitória fraudulenta de Ahmadinejad nas eleições presidenciais, minimizando os protestos contra a fraude - e a repressão sangrenta que se seguiu - como se fosse uma mera disputa entre torcidas de futebol. Procure alguma declaração mais firme do governo brasileiro, alguma resolução condenando de forma veemente ditaduras como a cubana e a iraniana. Não há nada. Nem um miserável muxoxo sequer. Declarações entusiasmadas de apoio a esse regimes, por sua vez, há aos montes.
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Gente como o ex(?)terrorista Paulo Vanucchi acredita que um governo, por ser popular, pode fazer o que quiser. Lula também crê que, por ser popular, irá sair sem um arranhão desse novo escândalo. Certamente sairá. Os brasileiros estão tão anestesiados que vão engolir mais essa, convencendo-se a si mesmos que ele não tem nada a ver com o PNDH-3, assim como engoliram que ele não teve nada a ver com o mensalão. Quem não dá a mínima para os direitos humanos em outros lugares também não vai dar a mínima no próprio país. Não, o PNDH-3 não é coisa deste ou daquele ministro aloprado e sem noção. É a expressão fiel e acabada do que é o governo Lula. É o retrato da esquerda no Brasil.