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quarta-feira, julho 09, 2014

A COPA DA VERGONHA

 
Sei que tem gente que vai chiar e achar que estou tripudiando, tirando onda, sendo "impatriótico", "do contra", "bem-que-eu-te-disse" etc. mas, paciência. É o preço a pagar por ter uma opinião que destoa da manada. Diante do acontecido ontem no Mineirão, não posso deixar de dizer o seguinte, que só corrobora o que venho dizendo desde que começou essa pantomima toda (e ninguém pode me chamar de estraga-festa):

A maior humilhação sofrida pelo Brasil NÃO foi
a derrota de 7 a 1 para a Alemanha. Futebolisticamente falando, foi sim um vexame sem precedentes, mas não foi essa a maior vergonha de todas. A maior humilhação, o maior vexame, a maior vergonha, o maior fiasco foi - é - a própria Copa do Mundo, um festival de corrupção e de desperdício do dinheiro público como nunca houve "na história deste país".

Acreditem, o chocolate de ontem não foi NADA, absolutamente nada, comparado aos 35 bilhões - repito: trinta e cinco bilhões - de reais jogados na latrina com a construção de estádios inúteis (só por curiosidade: para que vão servir os majestosos Arena Amazônia, Arena Pantanal e Arena das Dunas, entre outros elefantes brancos?), impostos não pagos (a FIFA não pagou um tostão de impostos na brincadeira), obras não realizadas (alguém lembra do Trem-Bala?), inacabadas e superfaturadas, para não falar das mortes de operários (foram nove ao todo) e da cagação de regras pela FIFA, que virou, no último mês, a verdadeira instância governante do Brasil.

Outra vergonha não menor foi a tentativa descarada da atual governante (sic) de usar politicamente o evento, tentando faturar eleitoralmente em cima de uma eventual vitória da seleção, coisa típica de mentes totalitárias - o que, felizmente, não poderão mais fazer. A referida já tinha tentado fazer isso, com a ajuda de um gigantesco esquema de marketing, no episódio da vaia na abertura ("coisa da elite branca" - muita gente se deixou cair nessa) e até com a contusão do Neymar. Ela estava contando com o Brasil na final para montar nos louros da equipe, do mesmo jeito que fez o regime militar com o Tri em 1970. Sendo que, naquela ocasião, a Copa era no exterior, e não havia dinheiro da viúva envolvido. Tudo isso torna a Copa uma VERGONHA sem tamanho para qualquer pessoa com um mínimo da dita-cuja na cara.

Sinto-me muito confortável para dizer isso pois, ao contrário de muitos que só agora vão perceber o tamanho do estrago, sou contra a Copa desde o começo, desde o dia em que o Brasil foi e$$$colhido pela FIFA para sediar o regabofe. Desde 2007 - e posso provar o que digo (vejam aqui: http://gustavo-livrexpressao.blogspot.com/2007/10/copa-do-mundo-para-qu.html) - não deixei de alertar para o fato de que, mesmo na hipótese improvável de a seleção brasileira vencer o campeonato, o grande perdedor seria o Brasil, a população brasileira, o contribuinte. E isso apesar de todo o oba-oba, de toda a babaquice megalomaníaca da "Copa das Copas", em que muitos embarcaram.

E não, não tenho nada a ver, nem quero ter, com os idiotas mascarados que saíram arrebentando vitrines gritando "Não vai ter Copa" etc. - estes, aliás, fazem o jogo do governo, que não por acaso mantém com eles relações que ainda estão para ser explicadas (perguntem ao Gilberto Carvalho). Para esses criminosos, todo o rigor da Lei, assim como para os larápios que tiveram a ideia de gerico de fazer uma Copa com 12 (doze!) sedes e lucraram com essa papagaiada. Creio que não preciso dizer quem eles são. Vocês sabem de quem estou falando.

Faço votos de que o fracasso futebolístico da seleção de Felipão, Fred e cia. sirva, pelo menos, para acordar o povo desse delírio ufanista em que foi atirado por um bando de quadrilheiros que se outorgou até o direito de manipular a alegria popular. O Brasil já estava derrotado no dia em que o governo (?!) decidiu transformar o país numa filial da FIFA.

Os jogadores da seleção brasileira poderão se recompor e dar a volta por cima. Haverá outras Copas etc. Já o Brasil terá de conviver com a vergonha eterna do saque do país por um bando de ladrões. Pensem nisso quando assistirem a Nacional X Princesa do Solimões na Arena Amazônia.

terça-feira, outubro 13, 2009

DE PATRIOTADA A PATRIOTADA

Não parece, mas o cartaz acima não é do governo Lula...
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Diogo Mainardi escreveu mais um daqueles textos essenciais na VEJA desta semana (está aqui: http://veja.abril.com.br/blog/mainardi/). Ele desmascara, como já é usual, a propaganda patrioteira e ufanista do governo e do PT, que nos últimos tempos, com o pré-sal e a escolha do Rio para sede das Olimpíadas de 2016, atingiu níveis realmente mussolinianos, tendo ultrapassado tudo que as ditaduras de Vargas e do general Médici produziram.

Mainardi lembra que os intelectuais do lulo-petismo, como Marilena Chauí e Ricardo Kotscho, dedicam-se a repetir, hoje, o que até pouquíssimo tempo atrás condenavam com furor stalinista em outros governos. Marilena Chauí escreveu mesmo um livro em que se mostrava escandalizada com a propaganda patrioteira do governo FHC por ocasião dos 500 anos do descobrimento, em 2000. Pelo visto, seu escândalo se deveu não à celebração dos 500 anos, mas ao fato de ser FHC, e não Lula, quem estava à frente da festa. Era o fato de que Lula não estava lá para dizer que o Brasil agora era a maior potência da História do Universo.

Hoje é difícil acreditar, mas houve uma época em que ser de esquerda era ser "do contra". Era sinônimo de cultivar o senso crítico em relação à propaganda patrioteira e ao ufanismo. De torcer o nariz para o chauvinismo verde-amarelista e para as correntes pra frente, que constituíam uma forma de as "classes dominantes" manterem o poder e esmagar a minoria de impatriotas que se negavam a aplaudir a grandiosidade do governo. Era dizer Epa! quando todos diziam Oba! diante do governante de plantão. Os lulo-petistas conseguiram desmoralizar também essa idéia. Hoje, ser "do contra" é ser "de direita". Como não gosto da música de Don e Ravel, sou, portanto, um impatriota.

De fato, os lulo-petistas conseguiram botar no chinelo tudo que veio antes em termo de patriotada, de ufanismo babão e chauvinista. Eles são mesmo do balacobaco. Perto de Marilena Chauí e Ricardo Kotscho, o Conde Affonso Celso é um traidor da pátria, e Plínio Salgado e Amaral Netto não passam de amadores. Todos os estereótipos cultivados durante décadas pelos esquerdistas para ridicularizar o regime militar e a "direita" - os slogans ufanistas, o "Brasil ame-o ou deixe-o" etc. - aplicam-se à perfeição a eles próprios, os esquerdistas. Outro dia, vi uma propaganda do PCdoB na televisão. Lá estava um militante, cara de nerd. Ele ficou cantando as glórias do governo Lula, o melhor do mundo. A certa altura, ele exclamou, cheio de entusiasmo e de orgulho patriótico: "Ninguém segura este País"... Nisso, os lulo-petistas confirmam, mais uma vez, o conselho de Lênin: "Acuse-os do que você faz, condene-os pelo que você é".
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Como já escrevi aqui, o patriotismo exacerbado tem algo de complexo de vira-latas. Antes, os lulo-petistas criticavam "as elites" pelo apego demasiado às coisas de fora, demonstrado, por exemplo, pela necessidade meio infantil de reconhecimento pelos grandes e poderosos. Hoje, Lula e seus seguidores ostentam como prova de que o País finalmente é um "global player" o... reconhecimento pelos grandes e poderosos. Gostam de repetir que Lula é "O Cara", como o chamou Barack Obama (e ele é "O Cara" porque foi Obama quem disse, vejam bem; tivesse sido o presidente do Gabão, não seria a mesma coisa), e que os jornais estrangeiros não páram de elogiar o Brasil etc. etc. Enfim, transformaram o "Deu no New York Times" no critério absoluto para aferir o sucesso do atual governo - exatamente o que criticavam em governos passados. Há algo de insegurança, de baixa auto-estima, no excesso de orgulho patriótico.
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O governo Lula demonstrou que, pior do que um esquerdita na oposição, é um esquerdista no poder. Do mesmo modo, só há alguém mais patrioteiro do que um general da época da ditadura militar: é um devoto da religião lulo-petista. E muito mais desonesto, também.

sábado, outubro 03, 2009

COMPLEXO DE GRANDE POTÊNCIA


Foi Nelson Rodrigues quem cunhou uma expressão definidora do caráter nacional brasileiro. Segundo o genial cronista e dramaturgo - melhor cronista, em minha opinião, do que dramaturgo -, o brasileiro sofria de um terrível "complexo de vira-latas", que o impedia de ver a verdadeira grandeza do País e o levava a se humilhar perante os outros países, principalmente os europeus, os quais sempre enxergava de uma posição inferior. Segundo Nelson Rodrigues, foi a vitória na Copa do Mundo da Suécia em 1958 - a primeira conquista mundial do futebol verde-e-amarelo -, mais do que qualquer outra coisa, que lavou a alma do povo brasileiro e começou a sepultar o "complexo de vira-latas" que o amofinava e inibia. Finalmente, o mundo descobria o nosso valor: éramos bons em algo, o futebol; mais que bons, éramos os melhores do mundo, sem dever nada a ninguém.

Para muitos, o complexo de vira-latas de que falava Nelson Rodrigues se resume a um sentimento de inferioridade perante o estrangeiro, uma certa subordinação abjeta ante o que vem de fora. É parcialmente verdade. O complexo de vira-latas não se encerra na auto-depreciação em face do mundo exterior, nem na tendência em valorizar somente o que procede de além-fronteira. Na verdade, à luz do que vemos presenciando, o complexo de vira-latas pode manifestar-se de maneira bem diferente, na forma de nacionalismo. Digo mais: talvez nunca, em toda a História deztepaís, o complexo de vira-latas se manifestou de forma tão eloqüente e vigorosa quanto agora.

Um traço do complexo de vira-latas é, como disse acima, o apequenamento ante os grandes e poderosos. Outro, de que quase não se fala, é o seu oposto exato: isto é, a megalomania, a mania de grandeza. Nisso somos craques, assim como na auto-indulgência. Passamos, diretamente e sem escalas, da prostraçao à grandiloqüência, da extrema modéstia ao orgulho exacerbado. Trata-se, de fato, de uma característica esquizôfrenica do brasileiro. Para nós, não há meio-termo: ou somos os melhores e maiores do mundo, ou somos uns pés-de-chinelo. Ou o "gigante adormecido", deitado eternamente em berço esplêndido, ou o "Brasil Potência", que nada, nem ninguém, é capaz de segurar.

Hoje, vivemos um dos momentos "Brasil Potência" que caracterizam o complexo de vira-latas nelsonrodrigueano. A forma como o governo Lula e o povo em geral reagiram à escolha do Rio de Janeiro como sede dos Jogos Olímpicos de 2016 - com uma explosão de nacionalismo bocó e de euforia ufanista não vistos desde os tempos do "milagre" econômico dos anos Médici -, atesta isso de maneira cabal e cristalina. Lula e os petralhas não perderam tempo em se apropriar também das Olimpíadas, vendendo a escolha do Rio como uma "vitória do governo" - mais: como uma "vitória sobre Obama" (esperteza: como a cidade foi escolhida, dizem que foi graças a Lula e seus asseclas; se fosse Madri, diriam que foi "preconceito"). Agora vão aproveitar para capitalizar em cima dos Jogos. Preparem-se para mais uma corrente pra frente, mais um arroubo ultra-patriótico, com muito samba-exaltação, muitas musiquinhas irritantes à Don & Ravel, com a reprodução incessante de videos promocionais e imagens de cartão-postal, mostrando um Rio de novela das oito, habitado somente por gente feliz e bem-nutrida, sem favelas, nem meninos de rua, nem tiroteios, nem arrastões, nem balas perdidas, nem tráfico de drogas. Até quando queremos ser grandes, somos uns vira-latas. Na verdade, somos vira-latas porque queremos ser grandes, porque transformamos o "ser grande" numa obsessão nacional, em nome da qual vale até maquiar a realidade.

Sob a batuta de Lula e da propaganda petista, viramos todos uns policarpos quaresmas, uns nacionalisteiros caricatos e ridículos (diria Nelson Rodrigues: uns dragões de penacho, eternamente a desfilar na parada de 7 de setembro). Qualquer novidade, mesmo sem ser novidade, adquire, graças aos feitiços do marketing, essa religião moderna, ares de mudança revolucionária, que irá afetar para sempre os destinos não só do Brasil, mas de toda a humanidade. Lula assumiu o governo prometendo "mudar a geografia comercial do mundo", como se fosse um novo Alexandre, o Grande, ou um novo Napoleão - como se isso fosse, enfim, um ato de vontade, o resultado de um decreto ou de uma portaria governamental. Durante algum tempo, falou-se muito no etanol como o caminho para a "revolução energética" que iria fazer e acontecer e colocar o Brasil na vanguarda tecnológica mundial. Depois, com a descoberta do pré-sal, rapidamente mudou-se o foco, e o tema sumiu dos holofotes. Menos o ufanismo, que continuou o mesmo. A diferença é que agora o Brasil virou uma "potência petrolífera". E não simplesmente mais uma potência, mas a "maior do mundo". E isso também internamente: não basta reunir vários programas engavetados há anos numa sigla grandiloqüente; é preciso criar "o maior programa de aceleração do crescimento da História do País". Não é suficiente compilar uma série de programas assistencialistas num único; deve-se fazer "o maior programa social da História da humanidade". E por aí vai. Não basta anunciar uma nova política: é preciso dizer que ela é a maior e a mais importante de todos os tempos; é preciso revesti-la com o rótulo e a aura da grandiosidade. Não duvidem: em breve, o governo estará fazendo campanhas do tipo: "rumo à maior Olimpíada da História do Universo". O Brasil tornou-se pequeno demais para a retórica lulista.
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É no plano externo que o complexo de vira-latas, transformado, por um mecanismo psicológico, em complexo de grande potência, se manifesta com mais intensidade. O País de fato tem aumentado bastante sua presença internacional nos últimos anos - de 1% de participação no comércio mundial, passamos para 1,1%, um salto enorme -, e o governo festeja a substituição do G-8 pelo G-20 como a prova de que o Brasil "é agora respeitado entre os grandes" etc. e tal - como se a entrada em cena de países como a China e a Índia fosse o resultado dos bons esforços de Lula. No Itamaraty, o "pensar grande" virou um verdadeiro dogma. Para realizar a obsessão de tornar o Brasil membro permanente do Conselho de Segurança das Nações Unidas, o governo topa qualquer parada. Inclusive reconhecer a ditadura comunista chinesa como economia de mercado ou, para "aproximar-se do mundo árabe", apoiar - e ver ser derrotado - um antissemita e queimador de livros para dirigir a UNESCO. Vale tudo: desde fechar os olhos para o terrorismo narcotraficante das FARC e para as investidas do caudilho fanfarrão Hugo Chávez contra a democracia na Venezuela e em outros países até justificar a fraude eleitoral e a repressão no Irã e transformar a embaixada brasileira em Honduras em comitê político de um golpista bolivariano. Tudo para emergir como líder dos países em desenvolvimento contra os "países ricos" e, em especial, contra os EUA - a uma política externa assim tão protagônica não poderia faltar o indispensável elemento do antiamericanismo e do terceiromundismo ("só não somos grandes por causa 'deles'"...). Aqui, o complexo de vira-latas se demonstra pela idéia fixa de equiparar-se às grandes potências, de fato copiando-as - pensamento típico de mentes realmente colonizadas.

Assim como parece obcecado em se comparar a outros países, carregando consigo a bandeira do patriotismo mais rançoso e extremado, Lula insiste em comparar seu governo às administrações anteriores. Nisso, ele não consegue esconder seu complexo de inferioridade. Aliás, é curioso: a megalomania às vezes convive com o vitimismo e o coitadismo, outros traços marcantes do complexo de vira-latas. Lula usa o tempo todo sua condição de ex-operário, ex-retirante nordestino e semi-letrado (aqui não dá para colocar o "ex" antes) para dizer-se mais preparado para governar o Brasil. É o vira-latas que, uma vez de terno e gravata, deixa-se deslumbrar pelas sereias do poder, e acredita-se o dono do mundo. E ai de quem falar isso: é um "preconceituoso"...

Dialeticamente, como dizem os professores marxistas da USP, o complexo de grande potência traz em si sua própria negação. A obsessão pela grandeza é típica dos nanicos e dos insignificantes. Somente os pequenos, os inseguros, sentem a necessidade de se proclamarem grandes. Quem é verdadeiramente grande e poderoso não precisa disso, não fica alardeando por aí sua superioridade. Ou, como se diz no popular, "se garante". Os pequenos, recalcados e ressentidos, não: precisam provar o tempo todo que são grandes; precisam agitar-se, falar grosso, dizer que fazem chover.

Certa vez, quando eu era criança, fiquei impressionado com uma estória que li, ou que me foi contada, não lembro bem: era uma vez um sapo que se achava o maioral da lagoa. Um dia, ele viu um boi e ficou com inveja porque o boi era maior do que ele. Para não ficar atrás, ele resolve inflar o papo até alcançar o tamanho do boi. De tanto inflar, ele acaba explodindo. A moral da estória é que não se deve dar um salto maior do que as pernas. É uma fábula sobre vaidade e soberba. E sobre baixa auto-estima.

sexta-feira, outubro 02, 2009

CAMPEÕES DO UFANISMO


Mudam-se os tempos, mas alguns costumes permanecem os mesmos
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Como todo mundo já deve saber, o Rio de Janeiro foi escolhido como sede da Olimpíada de 2016, derrotando Madri, a capital da Espanha, por 66 votos a 32. Como todo mundo também já deve saber, não se falará de outra coisa por alguns dias, e Lula e seus cumpinchas vão aproveitar para usar e explorar politicamente o fato como se fosse uma vitória deles próprios, ou - o que é ainda menos verdadeiro -, como se a escolha do Rio fosse uma prova de que o Brasil agora é um dos "grandes" do mundo, tendo finalmente adentrado o seleto clube dos ricos e poderosos (o México, que sediou uma Olimpíada em 1968, está aí para mostrar uma história diferente). Também correrá muito dinheiro nas obras, claro, e os superfaturamentos dificilmente vão se limitar aos 10%.
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É claro que isso que estou dizendo é inútil, não fará qualquer diferença diante de mais essa patriotada da Era Lula. Esses são tempos difíceis para quem tenta manter um mínimo de racionalidade. Vamos ter de agüentar mais uma onda de ufanismo festivo e patrioteiro, na linha "Pra Frente Brasil", que deixaria ruborizado o general Médici. Mas é exatamente por isso que insisto em escrever e em ser "do contra". Pelo menos enquanto eu tiver um cérebro que funcione.

Assim, para não deixar passar em branco esse acontecimento cívico, bem como para fazer jus ao nome deste blog, faço questão de dar minha contribuição à elevação da auto-estima nacional, tão abalada nos últimos tempos por coisinhas sem importância como o mensalão ou a trapalhada de nossa diplomacia em lugares como Honduras. Vou transcrever um post meu de 31/10/2007, que escrevi logo após a notícia de que o Brasil sediará a Copa do Mundo de 2014. Vocês verão que alguns personagens, como Lula e Paulo Coelho, são os mesmos. Meus argumentos contra mais esse oba-oba, também.

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COPA DO MUNDO PARA QUÊ?

Com muita pompa e circunstância, a FIFA anunciou ontem, dia 30/10, que o Brasil será a sede da Copa do Mundo de 2014. Como não poderia deixar de ser, o evento foi prestigiado por várias importantes autoridades brasileiras. Lá estavam eles, na cerimônia oficial: Lula, a ministra Marta Suplicy, o presidente da CBF, Ricardo Teixeira, o craque Romário e o (o.k., vamos dar um desconto) escritor e "mago" Paulo Coelho. Os brasileiros celebraram o acontecimento histórico. Em São Paulo, foram soltos milhões de balões de gás no estádio do Morumbi. No Rio de Janeiro, uma multidão celebrou a notícia, no Cristo Redentor, vestida de verde-amarelo, agitando bandeirinhas.

É preciso desconfiar sempre desse tipo de oba-oba. Sobretudo se, na mesma ocasião, estão reunidos Lula, Marta Suplicy, Ricardo Teixeira, Romário e Paulo Coelho. Lula estava mais feliz do que pinto no lixo. Marta Suplicy exibia um sorriso de orelha a orelha, mostrando as virtudes do Botox. Ricardo Teixeira enfatizou as oportunidades de investimentos e as belezas naturais do Brasil. Romário fez um discurso enaltecendo o caráter pacífico e hospitaleiro do povo brasileiro. Paulo Coelho comparou uma discussão sobre futebol na mesa de bar a uma relação sexual. Até agora não entendi o que ele quis dizer com isso. Assim como até hoje não consigo entender o que ele diz em seus livros.

O anúncio de que o país vai sediar a Copa do Mundo de 2014 foi recebido com festa no Brasil, claro. Brasileiro gosta dessas coisas. Somos como o louco da aldeia, que corre alegremente atrás da banda, pulando e cantando, mesmo sem saber do que se trata. Não queremos saber o que está sendo festejado, queremos apenas festejar. Sempre achei que esta é a raiz de todos os nossos problemas, nossa principal falha de caráter. Os brasileiros fariam bem se fossem mais desconfiados. Se fossem mais céticos. Mais críticos. Mais tristes. Mais introspectivos. Mais circunspectos. Seríamos certamente um povo mais evoluído, um povo mais civilizado, se fôssemos menos crédulos. Menos festeiros. Menos ufanistas. Menos alegres. Menos cordiais. Menos tolerantes. Menos reverentes. Menos patrioteiros. Menos deslumbrados. Menos otimistas. Menos bananeiros. Enfim, menos ordinários, menos vagabundos, menos cafajestes, menos safados. Se fôssemos um pouco mais inteligentes, perceberíamos facilmente que estamos diante de mais uma patacoada. Seríamos um povo melhor, um país melhor, sem dúvida. Haveria menos corrupção, menos roubalheira, menos bandalha. Com certeza, não haveria Lula. Não haveria Marta Suplicy. E, acima de tudo, não haveria Paulo Coelho.

O Brasil não vai ganhar nada com a Copa do Mundo. Muito pelo contrário. Basta lembrar o que foram os Jogos Pan-Americanos no Rio de Janeiro. O que houve ali foi um festival de pilantragem, com milhões gastos em obras faraônicas e superfaturadas. Se fosse realizada uma CPI para apurar todas as mutretas, toda a farra com o dinheiro público ocorrida no Pan, o governo não duraria uma semana. Sem falar que é muito difícil se entusiasmar com esportes eletrizantes como o pólo aquático e o softball. Passei todo o Pan assistindo a velhos DVDs, torcendo para que os Jogos acabassem logo. A única coisa boa do Pan foi a vaia a Lula no Maracanã. E mesmo assim foi um prazer efêmero, pois, na mesma ocasião, o público também vaiou a delegação dos EUA e aplaudiu a de Cuba. Acabo de ouvir no rádio que a previsão é que se gaste a bagatela de 6 bilhões de dólares na Copa de 2014. Anote aí: o Brasil não vai ganhar nada com a Copa.

Sempre achei que, assim como Lula e Paulo Coelho, o futebol é a nossa desgraça, é a perdição do Brasil. Poucos esportes conseguem ser mais emburrecedores, mais idiotizantes. Não é por acaso que somos pentacampeões mundiais. Não é por acaso que somos os melhores do mundo. Se existe algo em que somos verdadeiramente bons, é em correr atrás de uma bola e colocá-la dentro de três paus na pequena área. É a nossa verdadeira vocação nacional, nosso asset, nossa vantagem comparativa. Há países que se especializaram em fazer bons carros. Outros, em produzir filmes em série. Outros, ainda, em dar ao mundo bons escritores, filósofos e cientistas. Nós fabricamos jogadores de futebol. O futebol está no nosso sangue, no nosso DNA. Faça um teste. Pergunte a qualquer moleque de qualquer favela ou periferia, de qualquer cidade do Brasil, e ele lhe dará de cor toda a escalação da seleção brasileira, e ainda se achará no direito de distribuir conselhos ao técnico. Pergunte, em seguida, quem proclamou a independência do Brasil e por quê, ou qual a capital da Bolívia, e ele ficará mudo como um poste. Ou como uma bola. Não é por acaso também que Lula é fã de futebol e torcedor entusiasmado do Corinthians. Não é por acaso que ele é o Presidente da República.

Sei que esta é uma causa perdida, e que ninguém vai deixar de esperar avidamente por 2014 nem de torcer para a seleção brasileira por causa destas minhas palavras. Mas alguém tem que dizê-las. Mesmo que o Brasil se sagre campeão, mesmo que vença todos os jogos de goleada, ainda assim sairemos perdendo. Ficaremos mais burros, mais idiotas, mais deslumbrados e terceiro-mundistas. Soltando balões de gás no Morumbi. Ou vestidos de verde-amarelo, agitando bandeirinhas.

quinta-feira, março 13, 2008

PATRIOTADAS


Mal passou o vexame brasileiro na quase-guerra entre Equador, Colômbia e Venezuela por causa da morte de um chefão das FARC - o governo Lula, só para não deixar esquecer, ficou na prática ao lado dos narcoterroristas e de seus protetores contra a Colômbia - e o Brasil já arranjou mais um factóide para se coçar. A bola da vez é o imbróglio com a Espanha por causa do tratamento dispensado pelo governo espanhol a alguns visitantes brasileiros, obrigados a dar meia-volta depois de terem sido submetidos a situações degradantes no aeroporto de Madri e impedidos de entrar em solo espanhol. Agora, para retaliar, o Itamaraty já começou a falar grosso, e os primeiros espanhóis já começaram a ser barrados no País, sob a justificativa da reciprocidade. Até aí, tudo bem: afinal, o governo da Espanha tratou mesmo mal e de forma arrogante os cidadãos brasileiros, e merece sofrer algum tipo de retaliação por causa disso. Mas a situação não é assim tão simples.
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A coisa toda cheira a picaretagem e palhaçada, como quase tudo que vem desse governo que aí está. Convenci-me disso depois de ter assistido ao Jornal Nacional de ontem (o Jornal Nacional é como a Veja: todo mundo adora esculhambar, mas todos vêem), que mostrou um turista espanhol sendo barrado no aeroporto de Fortaleza. Até aí, nada de mais, alguém poderia dizer. O problema não estava no ato em si, a punição de um cidadão estrangeiro que queria entrar no Brasil em represália por uma decisão de seu governo, mas na atitude - prepotente, presunçosa, amadorística, arrogante - do funcionário brasileiro da imigração, que não se cansava de repetir, talvez estimulado pela presença ali de uma câmara de TV, que, por causa da aplicação do princípio da reciprocidade, o cidadão em questão teria de retornar a Espanha, pois não poderia entrar em "meu (seu) País". Aquele "meu País" ecoa em meus ouvidos até agora. Poucas vezes vi alguém converter-se em tiranete de uma repartição oficial de maneira tão acintosa, arrotando boçalidade. E olha que sou funcionário público, e em meu trabalho já vi muita coisa semelhante. Minha reação, na hora, foi de vergonha, muito vergonha.
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Esse tipo de atitude acende em mim automaticamente a luz de alerta. Afinal, o governo dos petralhas gosta de uma patriotada. Só precisa de um pretexto para incitar a animosidade contra os gringos. Percebi isso logo de cara. Quem não se lembra daquele jornalista americano do New York Times que foi expulso do País, por ter escrito uma reportagem em que - ousadia das ousadias! - falava dos hábitos etílicos de Lula? E daquela outra decisão muito parecida, de alguns anos atrás, quando o governo Lula, alegando mais uma vez a tal reciprocidade, obrigou todos os cidadãos dos EUA que visitavam o Brasil a serem fotografados nos aeroportos para identificação, o que motivou até a expulsão de um piloto comercial que ousou fazer uma gracinha com o dedo na hora de tirar a foto segurando a placa de identificação? São exemplos de uma atitude altaneira de um governo que não aceita baixar a cabeça para quem quer que seja, poder-se-ia alegar. Mas é claro que é tudo jogo de cena, tudo embromação para americano ou espanhol - e brasileiro - ver.

O governo da Espanha foi arrogante ao destratar os brasileiros nos aeroportos? Foi. Merece, portanto, ser retaliado por isso? Merece. Mas e o que dizer dos nossos hermanos bolivianos, que já passaram a mão em nossos traseiros, confiscando as refinarias da Petrobrás na Bolívia, e o governo Lula, em vez de reagir, ficou com cara de tacho? O que dizer dos narcoterroristas colombianos das FARC, que usam livremente nossas fronteiras como base e escoadouro de cocaína, violando, portanto, nossa soberania, e que o governo Lula insiste em não classificar como terroristas - pelo contrário: até representante oficial elas têm no Brasil, um ex-padre que o governo brasileiro se recusa a extraditar para a Colômbia e que circula livremente nos subterrâneos do poder petista? Em todos esses casos, como agiu o governo do Brasil? Estufou o peito, tal como o funcionarizinho da imigração no aeroporto do Ceará, dizendo na cara do espanhol estupefato que ele não poderia entrar no "seu País"? Nada disso. Calou-se, recolhendo-se a um silêncio acabrunhado, ou então tentou justificar o injustificável. No caso da tunga das refinarias da Petrobrás na Bolívia, o governo do Apedeuta só faltou agradecer a seu companheiro, o índio fajuto Evo Morales, "nosso querido Evo", como disse Lula. Do que se pode concluir: tungar as refinarias da Petrobrás na Bolívia, pode; expulsar turistas brasileiros que querem entrar na Espanha, não. Entende-se: é que Morales, assim como Hugo Chávez, Rafael Correa e as FARC, são "companheiros". Ah, bom.
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Sou totalmente a favor da reciprocidade em relações internacionais. Trata-se de um princípio basilar da diplomacia, assim como o respeito à soberania e a não-intervenção em assuntos internos. Por isso sou a favor também de que não se adotem dois pesos e duas medidas. É por isso que a questão da reciprocidade com a Espanha me parece mais uma patriotada, mais uma patoacada nacionalisteira dos petralhas. Vai aí também, claro, uma boa dose de recalque, de ressentimento contra os que deram certo, o que está na base do forte terceiromundismo que caracteriza atualmente a atuação do Itamaraty. Basta comparar as situações. Será que o Brasil reagiria da mesma forma se o governo em questão fosse não a Espanha, mas, digamos, a Bolívia? Se o discurso dos brios nacionalistas feridos e da reciprocidade fosse para valer, o Brasil já teria, por exemplo, nacionalizado as propriedades da YPFB boliviana, ou expulsado os milhares de bolivianos ilegais no País. Se o que estivesse em jogo fosse mesmo o orgulho nacional, o Brasil não teria baixado a cabeça (e as calças) para a Bolívia. Por que os brios nacionalistas dos companheiros no poder no Brasil cessam diante de um Morales ou de um Chávez? Por que esse patriotismo de opereta só vale para os EUA ou a Espanha?
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É por essas e outras que concordo cada vez mais com a frase do Dr. Johnson: "O nacionalismo é o último refúgio do velhaco".