sexta-feira, outubro 30, 2009

A DERROTA DOS BOLIVARIANOS EM HONDURAS


É incrível a cara-de-pau de alguns seres humanos. Mal saiu a notícia de que, em Honduras, chegou-se a um Acordo para pôr fim à crise política que já dura quatro meses, e a petralhada já saiu por aí gritando que alcançou uma importante vitória, quando os fatos mostram exatamente o contrário.

Não acreditem no que eles dizem. Essa gente é de uma desfaçatez sem limites. Eles não venceram coisa nenhuma! Foi exatamente o oposto: o Acordo que foi celebrado ontem, 29/10, foi um duro golpe sim, mas para os BOLIVARIANOS. É uma derrota para Hugo Chávez, Daniel Ortega e, também, Lula, que participou da pantomima. Vejam a Nota à Imprensa que o Itamaraty acabou de divulgar sobre o ocorrido. Leiam até o final. Comparem com os fatos. Depois me digam se é ou não é uma peça de manipulação e de desonestidade capaz de corar de vergonha até o maior dos mentirosos.

Ministério das Relações Exteriores
Assessoria de Imprensa do Gabinete

Nota à Imprensa nº 546
30 de outubro de 2009

Acordo em Honduras


O Governo brasileiro recebeu com satisfação a notícia do acordo alcançado ontem, dia 29, em Tegucigalpa, que cria as condições para o restabelecimento da ordem democrática em Honduras.

Por que, "com satisfação"??? A nota dá a impressão de que o Brasil saiu vencendo no final. Mentira!!! O governo Lula, assim como Chávez e a OEA, firmou posição desde o primeiro dia de que Zelaya deveria ser restabelecido na presidência COM TODOS OS PODERES. O Acordo prevê que ele vai voltar à presidência sim, mas com menos poder do que tem hoje na embaixada do Brasil em Tegucigalpa. Ele não vai poder convocar o tal referendo, que foi o pivô de sua deposição em 28/06 pelo Judiciário e pelo Congresso, por ter violado o Artigo 239 da Constituição de Honduras. Além disso, as eleições de 29/11, que o Brasil e a OEA queriam ver adiadas, foram mantidas. As Forças Armadas do país ficarão sob controle do Congresso. Também não foi dada nenhuma anistia a ninguém, inclusive a Zelaya, que vai responder processo por sua tentativa de GOLPE contra a ordem institucional do país. Vale lembrar que, no auge da tensão, o secretário-geral da OEA, José Miguel Insulza, chegou a dizer que a organização lavaria as mãos em caso de guerra civil no país... O governo do Brasil, com Lula, Celso Amorim e Marco Aurélio Garcia à frente, se recusava até mesmo a reconhecer os "golpistas" do governo "de facto" hondurenho. Este chegou a protocolar uma representação contra o Brasil na Corte Internacional de Justiça de Haia, por violação à sua soberania. Os bolivarianos perderam. O governo Lula perdeu. E agora este vem dizer que recebe o Acordo "com satisfação"??? A quem quer enganar?

O Brasil expressa a expectativa de que a normalidade institucional se restabeleça dentro do mais breve prazo em Honduras, com a volta da titularidade do Poder Executivo ao estado prévio ao golpe de estado de 28 de junho.

Por acaso a normalidade institucional foi quebrada em Honduras, para que seja restabelecida? O "golpe" de 28 de junho - repetirei aqui até que me provem o contrário - foi dado para PRESERVAR A LEI, ou seja, para GARANTIR A NORMALIDADE INSTITUCIONAL (ou seja: não foi golpe coisa nenhuma!). Se houve alguém que quebrou a normalidade institucional, foi Manuel Zelaya. Mas, entendo: o governo brasileiro quer que haja a "volta da titularidade do Poder Executivo ao estado prévio ao golpe de estado [sic] de 28 de junho".... O que isso significa? Que o Itamaraty quer que Manuel Zelaya volte ao poder com amplos poderes para novamente rasgar a Constituição. Só que vão ter de esperar: porque o atual Acordo não permite que ele tente novamente dar um golpe contra as instituições do país. Perdeu, bigodudo!

Ao congratular o povo hondurenho pelo desfecho pacífico da crise, o Brasil confia em que o acordo ontem alcançado permita a plena reintegração de Honduras ao sistema interamericano e internacional e a pronta normalização da situação de sua Embaixada em Tegucigalpa.

A situação da embaixada brasileira em Tegucigalpa poderia ter voltado ao normal há muito tempo: bastaria o governo Lula decidir o status de Zelaya, concedendo-lhe o asilo ou entregando-lhe para julgamento ao GOVERNO CONSTITUCIONAL de Honduras. Aliás, essa situação poderia ter sido evitada desde o início. Foi o governo Lula, foi o Itamaraty, que criou essa situação esdrúxula, não prevista em qualquer convenção ou tratado internacional, de tratar Zelaya como "hóspede" e permitir que ele transformasse a embaixada em seu quartel-general político para pregar a insurreição no país - uma clara violação de todos os princípios do direito internacional. SE O DESFECHO DA CRISE FOI PACÍFICO, ISSO SE DEVEU AO GOVERNO CONSTITUCIONAL DE HONDURAS, NÃO AO GOVERNO LULA.

Quanto à "plena reintegração de Honduras ao sistema interamericano e internacional", o Brasil esteve na linha de frente da tropa de choque que tentou isolar o país, para que Zelaya fosse reintronizado. Pois bem, petralhas: quebraram a cara! Honduras será reintegrada, sim, mas não por causa da boa vontade e dos bons ofícios do governo brasileiro, mas devido unicamente à coragem e à perseverança do GOVERNO CONSTITUCIONAL de Honduras, que, contra as pressões orquestradas da "comunidade internacional" e do golpismo chavista-bolivariano, resistiu e obrigou o governo dos EUA a negociar e chegar a um Acordo. A partir de agora, Manuel Zelaya terá as asinhas cortadas. Enquanto isso, o Brasil fez papel de bobo na história.

A Nota do Itamaraty não passa de uma tentativa mal-disfarçada de, como se diz no Oriente, "salvar a face" do governo brasileiro depois de ter patrocinado uma das maiores trapalhadas de sua história. Não há nela um pingo de verdade, assim como não há um pingo de verdade na idéia de que Manuel Zelaya foi vítima de golpe de estado em 28/06. Aliás, não há nada de verdade no governo Lula.

Parabéns ao bravo povo hondurenho, que resistiu heroicamente e defendeu com galhardia sua soberania contra o golpismo bolivariano!

O FIM DO MERCOSUL


Um minuto de silêncio, por favor.

Faleceu ontem, 29/10, o Mercosul - Mercado Comum do Sul. Morreu vítima de cinismo e de vigarice. Quem o matou foram os senadores brasileiros. Em reunião no Conselho de Relações Exteriores do Senado, estes decidiram, por 12 votos a 5, a favor da entrada da Venezuela chavista no bloco.

De nada adiantou o relatório inicial do senador Tasso Jereissati (PSDB-CE), contrário à medida. O rolo compressor lulo-petista e a falta de oposição real no País falaram mais alto, garantindo a vitória do pleito, para a alegria de senadores governistas comprometidos com os princípios dos direitos humanos e da democracia, como Inácio Arruda (PCdoB - CE).

Juntamente com o bloco, serão enterrados os documentos-base do Mercosul, como o Protocolo de Ushuaia, que estabelece a cláusula democrática - ou seja, que somente países em que as regras da democracia sejam respeitadas e cumpridas poderão participar do bloco. Farão companhia à honestidade e à vergonha na cara, que já bateram as botas faz tempo.

Foram duas as desculpas dos coveiros do Mercosul para justificar o magnicídio: 1) é melhor integrar do que isolar; e 2) quem fará parte do bloco é o Estado venezuelano, não o governo de Hugo Chávez.

As duas desculpas são apenas isso: desculpas, e das mais esfarrapadas. Trata-se de uma argumentação que seria estúpida, se não fosse vigarista. Coisa de canalhas mesmo, de gente sem nenhuma consideração pela verdade nem pela inteligência alheia.

Primeiro: o argumento do "não-isolamento" é desmentido pelos fatos. A idéia é que, ao não isolar a semi-ditadura chavista dos demais países, o país melhoraria e caminharia rumo à democracia. Devemos conversar com os ditadores, convidá-los para jantar e para freqüentar nossos salões, e eles se converterão em democratas, é o que se está dizendo. É o mesmo argumento usado para justificar a política brasileira e da OEA em relação à ditadura castrista de Cuba. É uma falsidade completa. Nos últimos anos, o regime chavista foi tudo, menos isolado internacionalmente, e isso não o fez avançar um milímetro em direção à democracia. Chávez não deixou de ser Chávez, ou seja, não melhorou nada, por causa disso. Pelo contrário: os países que tiveram contato com ele, Chávez, pioraram bastante - vejam os exemplos de Bolívia, Equador, Nicarágua e Honduras. O mesmo no caso de Cuba: há tempos os países do continente, Brasil inclusive, vêm defendendo o diálogo com a tirania castrista. Isso levou a algum tipo de abertura ou democratização do regime nos últimos cinqüenta anos?

Para não ir muito longe: o regime racista do apartheid na África do Sul caiu, em 1990, não porque fosse paparicado pelos demais países, mas, pelo contrário, porque a "comunidade internacional" - a mesma que hoje baba por Cuba e tenta isolar Honduras - fez pressão e defendeu o ISOLAMENTO do país (do país mesmo, e não somente do "governo"). Até boicote na área esportiva houve. É um exemplo de que esse papo de "não-isolamento" não passa de colóquio para ruminantes adormecerem (traduzindo: não passa de conversa pra boi dormir).

Em outras palavras: de acordo com a diplomacia brasileira, chancelada pelos senadores brasileiros, nada de isolar regimes humanistas como os do Sudão ou do Irã, ou de Cuba ou da Coréia do Norte, com os quais se pode conversar; isolar, só se for uma ditadura brutal e genocida, como a de Honduras.
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Quanto ao segundo argumento, de que quem está entrando no Merdosul, digo Mercosul, é o país-Venezuela, não o país-Chávez, é outra cascata da grossa: quem a defende, gente do naipe do senador governista (de qualquer governo) Romero Jucá (PMDB-RR), aposta que todos sejam idiotas, ou que não saibam de nada que está acontecendo na Venezuela. Desde que Chávez chegou ao poder, há dez anos, ele deixou claro para quem quiser saber que só deixará o trono quando passar desta para melhor (ou para pior, espero sinceramente). Dito de outro modo: ele vai ficar na presidência até morrer. Para isso ele já tomou e está tomando todas as providências: submeteu o Judiciário, acabrestou o Congresso, acabou com a separação de Poderes e ameaça, todos os dias, a imprensa que o critica com prisões e censura. Isso significa que votar pela entrada da Venezuela no Mercosul, neste momento, é o mesmo que avalizar o governo Chávez. Do mesmo modo que fazer um acordo com a Alemanha nos anos 30 seria o mesmo que referendar o nazismo. É provável, aliás, que a ditadura chavista dure mais tempo do que o Mercosul.

Nada que está aí em cima, claro, foi levado em conta pelos senhores senadores brasileiros. Assim como não foi levado em conta pelos Congressos argentino e uruguaio, que já aprovaram o ingresso da Venezuela no Mercosul. Agora a votação final será no plenário do Senado. É bastante provável que este confirme a decisão da Comissão de Relações Exteriores. Nesse caso, terá sido dado o tiro de misericórdia no Mercosul.
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O Mercosul nasceu da necessidade de integração regional decorrente da democratização da América do Sul, nos anos 80, e acaba seus dias, ingloriamente, como palanque de um caudilho autoritário e populista.
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Descanse em paz, Mercosul. Que a terra lhe seja leve. Que pena, era tão jovem... Acendamos uma vela.

TENTANDO DEBATER NO ITAMARATY


Caramba! Vocês viram aquele texto-resposta do Reinaldo de Carvalho ao embaixador Róni Parejas, que o havia contestado sobre a questão da Martinica? Ele destrói um a um os argumentos do embaixador, provando por A mais B que o Brasil está totalmente errado na questão. Ele não deixa pedra sobre pedra, deu até pena do embaixador, coitado. Vou mandar um link do debate para um amigo meu diplomata para ele me dizer o que acha.

(mando o link).

- E aí, o que achou da resposta do Reinaldo de Carvalho ao embaixador Róni Parejas?

- Não mordi a isca.

- Como assim, "não mordi a isca"?!

- Você quer que eu entre num debate interminável com você, e eu não quero isso.

- Mas eu também não quero entrar num debate interminável! Aliás, depois da chinelada que o Reinaldo de Carvalho deu no Róni Parejas, acho que o debate está encerrado. Quero apenas saber sua opinião, já que você trabalha diretamente na área.

- Não gosto do Reinaldo de Carvalho, nem leio a revista em que ele escreve, a tal "Olha".

- OK, mas o que você acha do que ele disse?

- Não acho nada. Aliás, aí vai um link para um site sobre essa sua "referência": veja lá, o cara é um reacionário, um pau-mandado. Além disso, é um gay enrustido, tem merda na cabeça... e é feio que dói!

- Sim, sim, mas o que você tem a dizer sobre o que ele afirma no texto?

- Concordo plenamente com meu chefe.

- Por quê?

- (silêncio)


(Escrevo um texto em meu blog sobre o assunto. Mando um link para meu amigo. Ele me manda um e-mail).


- Não gostei. Peço que você retire as referências a minha pessoa. Por uma questão de ética.

- Mas eu não cito seu nome em nenhum momento! E se eu fizer as mudanças que você me pede, o texto vai perder o sentido. Além do mais, o texto é sobre idéias, não sobre pessoas...

- Mesmo assim não gostei. Quero que você retire qualquer referência que possa me ligar a essa questão, como Posto, chefe e cidade. Em vez de "um amigo que trabalha com o embaixador", ou "um amigo que trabalha em tal lugar", diga "um amigo diplomata". Não quero ser envolvido nesse assunto. Se você não fizer isso, vou ser forçado a pedir que você delete seu texto...

- Isso é censura! Mas, OK: como sou muito seu amigo, vou abrir uma exceção. O texto vai perder um pouco em coerência, mas faço isso para não ferir sua suscetibilidade. Nem Sherlock Holmes será capaz de dizer que é de você que eu estou falando.

- Obrigado.

- De nada. A propósito, só uma perguntinha...

- Qual?

- Por que você concorda plenamente com seu chefe nessa questão?

- (silêncio)


Esse é o Itamaraty: um lugar estranho, de gente esquisita.


P.S.: Certa vez, o poeta Carlos Drummond de Andrade foi perguntado porque, sendo ele um ferrenho antiautoritário e antivarguista, aceitou trabalhar como chefe de gabinete do ministro da Educação de Vargas durante a ditadura do Estado Novo, Gustavo Capanema. Ele respondeu assim: "Eu trabalhei no Estado Novo, não para o Estado Novo". Pena que muita gente não faz a mesma distinção entre governo e Estado hoje em dia.

quinta-feira, outubro 29, 2009

O QUE FOI PROMETIDO - UM TEXTO DE YOANI SÁNCHEZ


Deixo vocês com a excelente companhia de Yoani Sánchez, do blog Generación Y. Yoani escreve com conhecimento de causa e com profunda melancolia sobre a realidade de Cuba, o "paraíso socialista" de Lula e do PT. Em particular, sobre uma das prinicipais desculpas para justificar o totalitarismo na ilha-prisão: o tal "bloqueio". Nem precisa traduzir.

Em tempo: no começo do mês, Yoani Sánchez foi impedida pela enésima vez, pela ditadura cubana, de viajar para fora do país - no caso, para o lançamento de seu livro no Brasil. O socialismo cubano é tão bom que não deixa as pessoas saírem da ilha para não entrarem em contato com a miséria capitalista...

Fiquem com o texto. Pensei em mandar para o Lula, mas não ia adiantar. Ele não lê em espanhol. Nem em qualquer outro idioma.


***
LO QUE NOS PROMETIERON

Llevaba yo un uniforme blanco y rojo, tenía diez años y el tema del“bloqueo” apenas era mencionado en los ideologizados libros que me entregaban en la escuela. Eran los tiempos del optimismo y creíamos que las vacas F1 darían suficiente leche para inundar todas las calles del país. El futuro tenía esos tintes dorados que no acababan de mostrarse en nuestra despintada realidad, pero éramos un tanto daltónicos como para notarlo. Creíamos haber encontrado la fórmula para estar entre los pueblos más prósperos del planeta, de manera que nuestros hijos habitarían un país con oportunidades para todos.

Desde la tribuna, un barbado líder levantaba su dedo desafiante hacia el Norte, pues contaba con la pértiga del subsidio del Kremlin para saltar cualquier obstáculo en la construcción del comunismo. “A pesar del bloqueo…” nos decía, con la misma convicción que años antes nos había hablado de diez millones de toneladas de azúcar, sembrados de café alrededor de las ciudades y una supuesta industrialización del país que nunca llegó. Tuvimos que recortar los sueños cuando la tubería de petróleo y rublos se secó abruptamente. Llegaron los años de comenzar a explicar el descalabro y de compararnos con las naciones más pobres de la zona, para sentirnos –sino felices- al menos conformes.

Al comenzar mi adolescencia, el tema de las limitaciones comerciales estaba en casi todas las vallas del país. En las marchas políticas ya no se gritaba “Cuba sí, yanquis no” sino una nueva consigna de difícil rima “Abajo el bloqueo”. Yo miraba el plato casi vacío y no podía concebir cómo habían logrado sitiarnos las malangas, el jugo de naranja, los plátanos y los limones. Me formé repudiando el bloqueo, no porque me tragara aquello del país que pudimos ser y nos lo habían impedido, sino porque todo lo que no funcionaba intentaban explicarlo señalando hacia él.

Si mis amigos se iban en masa del país, era por la política de hostigamiento de Estados Unidos; si en el hospital de maternidad las cucarachas caminaban por la pared la culpa partía de los norteamericanos; incluso si en una reunión expulsaban de la universidad a un colega crítico, nos explicaban que éste se había dejado influir ideológicamente por el enemigo. Hoy todo comienza y termina en el bloqueo. Nadie parece recordar aquellos tiempos en que nos prometieron el paraíso, en que nos dijeron que nada –ni siquiera las sanciones económicas- iba a impedir que dejáramos atrás el subdesarrollo.

quarta-feira, outubro 28, 2009

PARA REFLETIR


“Je l’ai souvent observé, ceux qui sont allés jusqu’au bout du stalinisme deviennent les plus lucides et les plus sévères envers eux-mêmes après en être revenus. Au contraire, les “compagnons de route”, les demi-portions du totalitarisme prétendent enterrer leurs aberrations et leurs mensonges en les justifiant par le “contexte” et les circonstances."
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Tradução:
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"Tenho observado que geralmente aqueles que foram até o fim na defesa do stalinismo se tornam os mais lúcidos e os mais severos em relação a si mesmos após terem rompido com ele. Ao contrário, os 'companheiros de viagem', os simpatizantes do totalitarismo, pretendem enterrar suas aberrações e suas mentiras justificando-as pelo 'contexto' e pelas circunstâncias."
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(Jean-François Revel)

terça-feira, outubro 27, 2009

OS REIS DO PALCO


Ao comentar a escolha do Rio de Janeiro para sede das Olimpíadas de 2016, o cineasta Fernando Meirelles - diretor de Cidade de Deus e de O Jardineiro Fiel -, disse que considera Lula um dos maiores atores, senão o maior ator, do Brasil. A patuléia entendeu a coisa como mais uma rasgação de seda, mais uma ode ao Guia Genial e Pai da Pátria. Eu entendi exatamente o contrário. Trata-se de uma das críticas mais acertadas que alguém já fez ao Apedeuta.

Chamar um político de ator está longe de ser um elogio. Pelo contrário. O ator, assim como o poeta - já dizia Fernando Pessoa -, é, antes de tudo, um fingidor. Atuar, já disse um mestre dos palcos, é fingir, é mentir. Coisa que políticos - e Lula, assim como Obama, é um político, antes de qualquer outra coisa - sabem fazer como ninguém. Eles vivem disso. E, quanto mais falam em nome do "povo", ou dos "pobres" etc., mais capricham na atuação e na maquilagem.

Lula é, de fato, um grande ator. Talvez o maior ator que já apareceu por estas bandas, digno de receber um Oscar. Toda sua vida pública, desde o sindicato dos metalúrgicos de São Bernardo do Campo, tem sido uma performance constante para a platéia. Ele é capaz de convencer os empresários que é o mais capacitado para presidir um governo que defenderá seus interesses, e, ao mesmo tempo, de manter acesa a chama da "mudança social" tão cara às esquerdas. É capaz de, no mesmo discurso na ONU, condenar o "golpe" em Honduras e elogiar a ditadura cubana, falar em democracia e se encontrar, minutos depois, com Mahmoud Ahmadinejad. E muitos vêem nisso uma qualidade, uma hábil demonstração de "realismo". Enfim, um verdadeiro Laurence Olivier da política, contracenando para uma platéia ávida por acreditar no espetáculo.

Já comentei aqui, alguns posts atrás, o tal filme do Lula que está para ser lançado. No trailer, que já está sendo exibido nos cinemas, o narrador afirma que o espectador conhece o nome, mas não o homem. Que irá conhecer, a partir de então, o homem, não a figura pública. Nada mais falso. O filme apenas reforça o mito lulista. Ninguém sabe quem é Lula, ou melhor, ninguém sabe quem é Luiz Inácio da Silva. Ele está escondido, há uns trinta anos, debaixo de toneladas de slogans e propaganda político-ideológica, que trataram de apresentá-lo como um messias ou um herói da classe trabalhadora. Em 2002, Lula apareceu reciclado, posando de bom-moço. Seu partido, o PT, desesperado para apagar a imagem de radical, divulgou um documento, a "Carta aos Brasileiros", na qual jurava defender o livre mercado e renunciava, pelo menos no papel, à qualquer tentação dirigista. Lula e o PT, em suma, disseram estar convertidos ao capitalismo. Convertidos, mas não arrependidos de duas décadas de militância socialista. E conversão sem arrependimento, ou sem confissão, de acordo com os manuais católicos, é puro fingimento, é mais uma artimanha do tinhoso para levar as almas ao inferno.

Hoje, do alto de seus 120% de popularidade, Lula pode se dar ao luxo de se livrar desses disfarces. Aqui e ali, já começam a aparecer no governo alguns corvos defendendo idéias estatistas. Essas tendências, que pareciam adormecidas, reapareceram sobretudo nas cobranças de Lula à Vale (uma empresa privada, além de tudo), e por causa do pré-sal. Já vão longe os tempos da "Carta aos Brasileiros"... Esta foi importante, em sua época. Agora não serve mais.

Assim como Lula, os bolivarianos são grandes atores. É mais um traço que Lula tem em comum com eles. Hugo Chávez, quando foi eleito pela primeira vez, em 1998, para a presidência da Venezuela, também estava desesperadamente tentando apagar da mente de todos sua fama de militar truculento e golpista, adquirida na sangrenta tentativa de golpe que liderou em 1992. Fez questão de conversar com empresários, com a Igreja católica e demais representantes da sociedade civil, para mostrar que era um outro homem, mais maduro e moderado. Em sua campanha política - cujo material, como panfletos, eu guardo até hoje -, ele falava em democracia e em estabilidade econômica. Em momento algum falou em "revolução bolivariana" ou em "socialismo do século XXI". Assim como não falou nada sobre fechar canais de televisão que lhe desagradam e em mudar as regras para permanecer no poder até o túmulo, ou em fornecer armas pesadas às FARC.

Os dois últimos membros da confraria bolivariana, Manuel Zelaya e Daniel Ortega, corroboram a vocação dos bolivarianos para a teatralidade. Zelaya foi eleito por um partido conservador, com um discurso convencional. No meio do caminho, porém, mudou de idéia: da noite para o dia, converteu-se num revolucionário chavista, um Che Guevara de botas e chapéu de caubói. Botou na cachola que um mandato não é suficiente e tentou rasgar a Constituição para convocar um referendo declarado ilegal pela Justiça. Acabou sendo deposto pelos mesmos setores que haviam sido enganados por ele nas eleições, e que devem estar arrependidos por terem-no expulsado para a Costa Rica, em vez de tê-lo levado algemado para responder na Justiça por seus crimes. Não contavam que ele voltaria e que um governo estrangeiro permitiria que sua embaixada em Tegucigalpa fosse transformada em palco da pantomima zelaysta.

Ortega, por sua vez, foi mais esperto: tendo chegado à presidência depois de uma longa semi-aposentadoria, ele foi eleito jurando estar arrependido dos "erros do passado", e dizendo-se um convertido à democracia. Queria que todos esquecessem o período em que fora presidente, nos anos 80. Dizia-se, enfim, um novo homem. Pura fachada. Tendo garantido o apoio da maioria dos juízes da Suprema Corte, ele logo deixou cair a máscara de bom-moço, manobrando para que estes mudassem, de uma penada, um Artigo da Constituição que impede sua reeleição. Se você pensou em "conto do vigário", achou o termo certo para definir o que Ortega está fazendo na Nicarágua, e o que Zelaya tentou - e continua a tentar, com o apoio de Lula - em Honduras.

Dizem que Lula, quando estava no sindicato, certa vez participou de um curso de motivação profissional. O instrutor propõs que cada um expussesse o que considerava a melhor maneira de dirimir conflitos e motivar a união de todos. Quando chegou a vez de Lula, ele pediu que todos fizessem um círculo e se dessem as mãos... Esse é Lula. Um rei dos palcos.

sábado, outubro 24, 2009

NAZISTAS DE ESQUERDA


Está nas livrarias um livro admirável: Fascismo de Esquerda - a história secreta do esquerdismo americano, de Jonah Goldberg (Editora Record). O livro já valeria somente pelo título. Como assim, fascismo de esquerda?, poderia perguntar o leitor brasileiro, boquiaberto. O título original em inglês, Liberal Fascism, não faria sentido algum em português (liberal, nos EUA, corresponde aos nossos esquerdistas, sendo que o rótulo, por estas plagas, é empregado geralmente como ofensa, quase sempre acrescido do prefixo "neo" - "neoliberal"). O livro de Goldberg demole velhos mitos da esquerda norte-americana ("liberais"), mostrando os pontos de convergência entre o que esta defende e as teses fascistas. Daí o fascismo de esquerda do título.

Pois é. No Brasil, ainda persiste a lenda do fascismo "de direita", ou "reacionário", em contraposição aos "progressistas" comunismo e socialismo. Certamente, você aprendeu na escola que nazismo e comunismo são ideologias e regimes políticos diametralmente antagônicos e inconciliáveis. Deve ter sido ensinado que o nazi-fascismo foi uma ideologia ultradireitista e uma reação da burguesia ao avanço do comunismo, e que a URSS foi a principal barreira ao Terceiro Reich de Hitler na Segunda Guerra Mundial etc etc.

Pois saiba que tudo isso que lhe ensinaram na escola está errado. Historicamente, politicamente, filosoficamente, moralmente errado.

Nazismo e comunismo não têm nada de antagônicos ou inconciliáveis. Pelo contrário: têm muito em comum. Eis algumas coincidências interessantes, que seu professor de História da 8a série ginasial certamente se esqueceu de mencionar:

- Os neonazistas negam o Holocausto, ou o minimizam; os comunistas negam os mais de 100 milhões de mortos pelo comunismo no século XX;

- Os nazistas defendiam o extermínio de outras raças; os comunistas, de outras classes;

- Os nazistas falavam em revolução; os comunistas, também;

- Os nazistas eram nacional-socialistas; os comunistas são internacional-socialistas;

- Os nazistas falavam em nome do povo (Volk) e diziam que representavam a "vontade popular"; os comunistas se dizem a vanguarda dos trabalhadores;

- Tanto os nazistas como os comunistas eliminaram ex-aliados e dissidentes;
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- Tanto uns como outros instauraram ditaduras de partido único, eliminando todos os demais partidos;
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- Tanto o nazismo como o comunismo implantaram o terror por meio da polícia secreta (Gestapo, KGB) e de campos de concentração;
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- Um e outro criaram tropas de choque e milícias paramilitares, que se dedicaram a intimidar e a assassinar adversários;
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- Tanto os nazistas como os comunistas instituíram o culto da personalidade do Chefe;

- O nazismo se baseava na falsa ciência do século XIX; o comunismo, idem;
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- Os nazistas defendiam a supremacia da raça branca, ou "ariana"; o principal ideólogo do comunismo, o alemão Karl Marx, era um notório racista e eurocêntrico, defensor da eliminação das "raças inferiores";
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- Os nazistas desprezavam a democracia; os comunistas sempre fizeram o mesmo, apenas disfarçam melhor;

- Ambos defendem um Estado totalitário;

- Ambos são contrários ao livre mercado e a favor do controle estatal da economia;
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- Tanto nazistas como comunistas eram favoráveis ao controle de armas (desarmamento da população);
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- Os nazistas eram a favor da expansão do sistema público de saúde, da educação universal e gratuita e da previdência social, enfim, dos "direitos sociais"; os comunistas, também;
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- Uns e outros subordinaram a educação aos ditames do Partido-Estado, transformando-a em mero instrumento da propaganda ideológica e de controle mental;
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- Tanto o nazismo como o comunismo valorizavam bastante o esporte, e o utilizaram exaustivamente como arma de propaganda política;
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- Ambos os regimes políticos defendiam o aborto e a eutanásia como forma de controle populacional;
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- O nazismo instituiu leis de proteção à natureza e ao meio ambiente; muitos comunistas "reciclaram-se", tornando-se ardentes ecologistas ("verdes");
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- Tanto uns como os outros são ardentemente antiamericanos e antiliberais;

- Os nazistas se aliaram ao fundamentalismo islamita contra os judeus; os comunistas de hoje justificam o terrorismo do Hamas e da Al-Qaeda contra Israel e os EUA, e apóiam o antissemita e negador do Holocausto Ahmadinejad do Irã;

- Os nazistas começaram a Segunda Guerra Mundial, ao invadir a Polônia em 1939; os comunistas eram seus aliados, tendo Stálin assinado o Pacto de Não-Agressão com Hitler, dividindo com este a Polônia;

- Os nazistas perseguiram os judeus; os comunistas também o fizeram (e também perseguiram os cristãos, e os muçulmanos, e os budistas etc.);

- Os nazistas viam a religião, sobretudo o Cristianismo, com desconfiança; os comunistas tentaram proibi-la por decreto;
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- Ambos perseguiram minorias étnicas e os homossexuais, embora tivessem vários homossexuais em suas fileiras;

- Ambos empregaram em ampla escala a tortura;
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- Ambos tentaram remoldar a natureza humana, a fim de criar um "novo homem";
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- O nazismo buscou criar um culto pagão da natureza; os comunistas elevaram o marxismo à religião oficial;
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- Tanto os nazistas como os comunistas criaram um regime de terror, baseado na mobilização geral compulsória e na repetição de slogans em comícios gigantescos;

- Ambos invadiram outros países e anexaram territórios à força;

- Os nazistas doutrinavam a juventude, instilando nela o ódio racial; os comunistas fizeram o mesmo, estimulando o ódio entre as classes;

- Tanto os nazistas como os comunistas impuseram a censura à imprensa e aos meios de informação;
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- Ambos impuseram uma forma de arte e um estilo artístico oficiais (a "arte nazista" e o "realismo socialista");
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- Ambos submeteram a Ciência ao Estado;
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- Os nazistas proibiram e queimaram livros; os comunistas fizeram o mesmo - e inclusive seus autores;

- Os nazistas usaram e abusaram da propaganda e da mentira; os comunistas o fazem até hoje.

E, finalmente:
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O nazismo acabou há quase setenta anos.
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E o comunismo?
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Seus defensores ainda estão por aí. Fingindo-se de democratas e de antifascistas.
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Agora, a principal diferença entre eles.
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Quem se opõe ao nazismo é democrata.
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Quem se opõe ao comunismo é reacionário.
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Por quê?

sexta-feira, outubro 23, 2009

DESCULPAS PARA NÃO PENSAR


Enviei um link do debate entre Reinaldo Azevedo e o representante do governo brasileiro na OEA sobre a questão de Honduras (ver cinco posts abaixo) para dois colegas meus do Itamaraty que, por coincidência, trabalham com o assunto. Um deles, aliás muito meu amigo, respondeu-me, dizendo que não iria "morder a isca". Aproveitou para dizer o seguinte:

- ele não lê a VEJA, nem gosta de Reinaldo Azevedo; e

- ele concorda plenamente com o representante brasileiro na OEA.

Fiquei intrigado. Perguntei o que ele quis dizer com "morder a isca". Ele me respondeu que seria entrar num debate interminável comigo, coisa que ele não queria. Respondi que também não gosto de debates intermináveis, e que, na verdade, depois do baile que o Reinaldo Azevedo deu no embaixador brasileiro, considero o debate encerrado. Queria apenas saber a opinião de meu colega. Mas logo percebi que o que ele queria não era entrar num debate interminável. Era não entrar em debate nenhum. E ponto final.

A maioria das pessoas foge da polêmica. Não é o meu caso, como vocês sabem (daí o nome deste blog). Mas respeito a opção de quem não está a fim de debater. É o caso do meu colega diplomata. Ninguém deve ser obrigado a emitir uma opinião sobre o que quer quer seja. É por isso que nunca forço a barra: se a pessoa não quer dizer o que pensa, paciência - é um direito que lhe cabe, e vida que segue. Mas não posso deixar de estranhar: na mesma mensagem em que diz não querer debater, meu colega afirma que "concorda plenamente" com o representante do governo Lula na OEA. Ou seja: está plenamente de acordo que Zelaya foi vítima de um golpe, e que o Brasil está fazendo a coisa certa ao permitir que a embaixada brasileira em Honduras seja usada como palanque e escritório político dele, Zelaya. Lembrei que quem diz "concordo plenamente" precisa, pelo menos, explicar por quê. Estou esperando uma explicação até agora. Enquanto espero, aproveito para enviar um link para a Constituição de Honduras, com destaque para alguns dos Artigos que Zelaya violou.

Dessa troca de e-mails, saí com as seguintes conclusões, segundo meu colega:

- Reinaldo Azevedo está errado e o governo Lula está certo porque ele, meu interlocutor, não gosta de Reinaldo Azevedo; e

- ele concorda plenamente com o embaixador do Brasil na OEA porque... porque sim, ora!

O Itamaraty é um lugar estranho. Diplomatas, aqui e em outros lugares, costumam ser pessoas muito inteligentes e preparadas. Muitos deles, porém, costumam esconder suas opiniões, ou concordar cegamente com seus chefes, o que muitas vezes dá no mesmo. Sempre falei o que penso, o que já me valeu algumas caras feias e deve me render uns comentários desfavoráveis quando eu não estou por perto, mas realmente não me importo. (Em tempo: não ligo se discordarem de mim, nem vou deixar de ser amigo de alguém por diferenças de opinião, e espero sinceramente que meu colega não dê nossa amizade por encerrada depois deste post.) Já disse e repito que não estou neste mundo para agradar a A ou B, mas para dizer o que penso e viver em paz com minha consciência. Além do mais, se a linguagem não existe para expor o que pensamos, então para que é que serve?

Sei que a diplomacia, como atividade política, requer uma certa dose de discrição e dissimulação, até de hipocrisia. Também sei que o sarcasmo e a mordacidade dificilmente são a melhor receita para fazer amigos e influenciar pessoas (ou, como disse um filósofo: é uma pena que a lisonja produza amigos e a sinceridade, inimigos...). Mas, francamente, não entendo esse medo, esse receio patológico de expressar livremente uma opinião. Vigora, no Itamaraty, um oficialismo sufocante e, paradoxalmente, um personalismo, ou amiguismo, que, obcecado em "não ferir suscetibilidades", inibe e engole a argumentação racional. É um cagaço permanente, o primado da autoridade ou das afinidades eletivas sobre a razão. Não sei se é esse o caso de meu amigo itamaratiano. Sei apenas que, de todas as desculpas que existem para não pensar, a argumentação ad hominem (ou ad revistam) - o ataque ao mensageiro, e não à mensagem - é uma das mais idiotas.

By the way, no primeiro e-mail que mandou, meu amigo e colega de profissão sugeriu, em tom de brincadeira, que eu trocasse o nome do blog para "Comportamento de Manada". Achei estranha a sugestão. Afinal, comportamento de manada, pelo que eu sei, é seguir o rebanho, abdicando de pensar com o próprio cérebro para se ajustar ao que a maioria - ou a chefia - acha. Creio que não é o que faço neste blog, e meus textos dão testemunho disso. Já dizer que "concorda plenamente" com um ponto de vista e se furtar a explicar por quê... Bem, isso, sim, caracteriza um comportamento realmente bovino.

quinta-feira, outubro 22, 2009

MAIS UMA DOS BOLIVARIANOS


Avisem urgentemente Lula, Obama, a OEA, a ONU, a imprensa, enfim, toda a “comunidade internacional”: um golpe de Estado acabou de acontecer em um país da América Central. Estou falando de Honduras? Não. De um país vizinho: a Nicarágua.

Ontem, houve um golpe institucional na Nicarágua. Como assim, um golpe institucional? Um grupo de juízes da Suprema Corte de Justiça, investindo-se de um direito não previsto na Constituição daquele país, simplesmente se reuniu e decidiu revogar um dos Artigos – o 147, precisamente aquele que impede a reeleição do presidente da República. Resolveram que um Artigo da Lei Maior não deve existir mais, e pronto. Simples assim. De acordo com a mesma Constituição da Nicarágua (Artigo 138), como, aliás, da maioria das Constituições democráticas, apenas uma Assembléia Constituinte, ou seja, o Legislativo, pode mudar a Carta Magna. Detalhe importante: todos os seis juízes que tomaram a decisão são aliados do atual presidente, o sandinista Daniel Ortega.

Para efeitos didáticos: imaginem se os juízes do Supremo Tribunal Federal, em Brasília, resolvessem mudar a Constituição Federal de 1988 da noite para o dia, sem consultar ninguém, estabelecendo, de uma canetada, que a reeleição do presidente da República passaria a ser, de agora em diante, ilimitada.
Seriam acusados, no mínimo, de usurpação de função, um crime contra a separação de Poderes. Pois foi isso que ocorreu na Nicarágua.

Um golpe não deixa de ser golpe por ter sido dado pelo Judiciário. E foi exatamente isso que ocorreu na Nicarágua. É uma situação completamente diferente da que se verificou em Honduras em 28 de junho, quando o Judiciário e o Legislativo hondurenhos afastaram Manuel Zelaya, que tentou violar a Constituição do país para convocar um referendo ilegal. Nesse caso, a Suprema Corte e o Congresso de Honduras agiram para preservar a Lei e a Constituição ameaçada. Na Nicarágua, os “juízes” sandinistas fizeram o contrário: rasgaram a Constituição para garantir a reeleição indefinida de Ortega. Deram um golpe.

O golpe continuísta patrocinado por Ortega confirma um padrão na América Latina nesses anos turvos. Os esquerdistas, agora chamados bolivarianos, com o trio parada dura Chávez-Morales-Correa à frente, e contando com o apoio cada vez mais explícito dos governos da esquerda “vegetariana” de Lula e Obama, investem cada vez mais no solapamento das instituições democráticas – não mais na porrada, como tentaram fazer no passado, mas de forma “legal”, usando os próprios instrumentos da democracia para destruí-la por dentro. E o fazem através dos mais diversos subterfúgios: plebiscitos, manipulação eleitoral etc. Está sendo assim na Venezuela. Está sendo assim na Bolívia. Está sendo assim no Equador. Em Honduras, Manuel Zelaya tentou, e foi barrado (mas não desistiu). Agora, é a vez da Nicarágua de Ortega.

Falando em Ortega, creio que é bom dar uma olhada no personagem. Ele já foi presidente antes, após a “Revolução Sandinista” que chegou a mexer com a imaginação de muita gente na esquerda, na década de 80 (entre seus admiradores, estava um certo Luiz Inácio Lula da Silva, que via no sandinismo uma fonte de inspiração). Mais ou menos como a Revolução Cubana de Fidel Castro e Che Guevara mexeram com a cabeça da esquerda nos anos 60, os sandinistas nicaragüenses despontaram como os novos heróis do povo e da luta antiimperialista (ou seja, antiamericana) no continente, vinte anos depois. Isso foi até a população nicaragüense descobrir que o país, sob os sandinistas, caminhava para virar um Estado totalitário, semelhante a Cuba, e resolver enxotá-los e a Ortega do poder na primeira oportunidade, nas eleições de 1990. Desde então, Ortega caiu numa espécie de ostracismo político, tendo de enfrentar, além disso, acusações de corrupção e até mesmo de estupro de uma enteada sua menor de idade.

Foi então que veio Hugo Chávez e sua “revolução bolivariana”. Esquerdistas semi-aposentados, como Ortega, viram nela uma excelente oportunidade de voltar à ribalta. Seguindo o figurino, ele conseguiu se eleger à presidência, inicialmente com um discurso moderado, que parecia mostrar que o Ortega de antes, o guerrilheiro que jamais deu um tiro na vida, era coisa do passado. Com isso, conseguiu enganar muita gente, como aliás também fez Chávez. Nesse meio tempo, foi preparando o caminho para sua permanência indefinida no poder, de maneira coordenada com os outros caudilhos bolivarianos. No episódio da "materialização" de Manuel Zelaya na embaixada do Brasil em Honduras, há um mês, ele teve um papel essencial. Agora, sentindo-se forte, ele mostra as garras. Caiu a máscara.

Claro, não faltará quem tente justificar o ocorrido na Nicarágua apelando para comparações com a emenda que aprovou a reeleição de Álvaro Uribe na Colômbia. Os bolivarianos precisam de um espantalho para desviar a atenção de seus desmandos. O vice-presidente de Ortega já se adiantou e chegou a comparar o golpe institucional dado pelos magistrados sandinistas com o que é habitual em democracias como os EUA (onde, ao contrário da Nicarágua, os juízes aplicam a Lei, e não a mudam) e a Espanha (um país parlamentarista, além de tudo). É pura tática de desinformação e manipulação política, que aposta na estupidez do público. A Colômbia não é a Nicarágua, assim como Uribe não é Ortega ou Chávez. A reeleição de Uribe é um erro, como já afirmei aqui, até porque dá munição à propaganda enganosa dos bolivarianos, mas qualquer comparação entre a Colômbia e o que se passa na Venezuela ou na Bolívia não tem qualquer cabimento. Nesses países, as regras foram mudadas para que o presidente se reeleja indefinidamente. A reeleição de Uribe, ao contrário, será limitada a um eventual terceiro mandato. Além disso, Uribe não trata seus oponentes da maneira como tratam Chávez e Ortega. Nem falo de Cuba para não parecer malcriado. Enfim, colocar todos no mesmo saco não passa de uma tentativa dos bolivarianos de desviar a atenção de seus ataques à democracia.

O bolivarianismo não passa de uma técnica para a perpetuação de caudilhos bananeiros no poder. É isso o que os últimos dez anos na América Latina demonstram cabalmente. Daniel Ortega era um político esquecido e fracassado antes de ser apresentado a esse “mapa da mina” descoberto por Hugo Chávez. Ele está apenas trilhando o mesmo caminho já trilhado por Chávez, Morales, Correa e Zelaya – e também por Lula, não se enganem: se o Apedeuta não conseguiu fazer passar o terceiro mandato, não foi porque não quis, ou porque tenha alguma consideração pela alternância democrática de governo – foi porque, felizmente, ele não pôde. O golpe na Nicarágua demonstra que os bolivarianos não vão desistir enquanto não transformarem a América Latina inteira no quartel de Chávez, ou na fazenda de Zelaya. Daniel Ortega, igual a Zelaya até no bigode, está fazendo aquilo que este último foi impedido de fazer.
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No caso de Honduras, a “comunidade internacional” ignorou um golpe em andamento e condenou um golpe inexistente, tratando um golpista como democrata, e democratas e defensores da Constituição como golpistas. E agora, diante do golpe constitucional na Nicarágua, que atitude irá tomar? O que fará a OEA, a ONU, Lula e Marco Aurélio Garcia? O que dirão o secretário-geral da OEA José Miguel Insulza e o presidente da Assembléia Geral da ONU, o ex-padre sandinista Miguel d’Escoto, de nome tão sugestivo? Irão condenar a manobra de Ortega como golpista? Irão exigir o “retorno imediato” do status quo ante? Irão defender a aplicação de sanções e o isolamento internacional da Nicarágua, até que o respeito à Lei e às regras da democracia seja restaurado no país? Obama e Hillary Clinton dirão que se abriu um “perigoso precedente” na América Latina? E Lula e Chávez, será que vão planejar a volta clandestina ao país de opositores ao golpe e ao governo de Ortega, abrigando-os na embaixada brasileira, para que de lá preguem a insurreição?

O chavismo está fazendo escola. A Nicarágua é sua mais nova presa. Qual será a próxima?

quarta-feira, outubro 21, 2009

CONEXÃO NARCOESQUERDISTA


Vão dizer que sou paranóico. Que sou exagerado. Que sou conspiracionista. Não importa. É o preço a pagar por não ser de esquerda, nem acreditar na conspiração certa (que foram os judeus, ou a CIA, que explodiram as Torres Gêmeas, por exemplo). Leiam primeiro o que digo em seguida. Depois, podem me chamar do que quiserem.

Mais uma vez, o Rio de Janeiro é palco de uma batalha sangrenta entre narcotraficantes e policiais. Mais uma vez, o noticiário é preenchido com cenas de guerra e de barbárie, com helicóptero da polícia abatido a tiros, ônibus queimados etc. Mais uma vez, a rósea e ufanista propaganda oficial feita para as Olimpíadas de 2016 é manchada pela violência urbana sem controle. Mais uma vez, ouvem-se vozes repetindo a mesma velha e surrada ladainha, os mesmos lugares-comuns, tão óbvios quanto ocos, sobre "Estado paralelo", "terrorismo", "guerra civil", "necessidade de segurança", "ausência do Estado" etc. etc. Mais uma vez, serão ouvidas vozes de espanto e lamento. Mais uma vez, irão focar no secundário e perder de vista o essencial. Mais uma vez...

E assim será, ad infinitum, até a próxima batalha dessa guerra sem fim. Pelo menos enquanto a imprensa e a opinião pública, que nada mais é do que uma extensão da primeira, insistirem em bancar o cego, o surdo e o mudo e se recusarem a ligar os pontos. Como ninguém se habilita, é isso que eu faço aqui.

A primeira coisa a se levar em conta é que nem o Rio de Janeiro, nem qualquer outro Estado brasileiro, produz um grama de cocaína. De onde ela vem, então? Até uma criança sabe: vem do exterior, de países vizinhos como a Colômbia e a Bolívia, passando cada vez mais, nos últimos anos, mais ao norte, pela Venezuela. E quem produz toda essa droga comercializada nos morros cariocas? Novamente, a resposta está na ponta da língua: os principais produtores e distribuidores mundiais são os narcoguerrilheiros marxistas das FARC, as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia; na Bolívia, a produção de coca é defendida com unhas e dentes, como "tradicional", pelo governo de Evo Morales.

Muito bem. Já sabemos de onde vem e quem fornece a droga. Agora vejamos o que faz - ou melhor: não faz - o governo brasileiro, o governo Lula, a respeito.

O governo Lula se recusa a considerar as FARC uma organização terrorista, assim como Morales como um narcotraficante, apesar de a realidade dizer o contrário. O motivo? Tanto as FARC como Morales são parceiros do PT, o partido do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no Foro de São Paulo. O que é o Foro de São Paulo? É uma organização revolucionária que congrega os principais partidos e movimentos de esquerda do continente, fundada em 1990 por Lula e Fidel Castro para, como está nos seus documentos, "restaurar na América Latina o que se perdeu no Leste Europeu". O que "se perdeu" no Leste Europeu no final dos anos 80? O comunismo. O que desejam as FARC, Morales, Hugo Chávez e o PT? Resposta: derrubar o capitalismo e substituí-lo por uma nova ordem social, pretensamente superior - com eles no topo, claro.

Já vimos o porquê. Agora vejamos o como. Antes, uma pequena lição de História.

Desde a década de 30, os intelectuais marxistas escolheram os marginais como força potencialmente revolucionária, pintando-os como vítimas do capitalismo e como rebeldes sociais. De Lampião a Fernandinho Beira-Mar (capturado, aliás, num acampamento das FARC na Colômbia), passando por todos os tipos de criminosos e assassinos, a esquerda elegeu esse setor do lumpemproletariado como a vanguarda da transformação social.

Sobretudo a partir dos anos 60, com a Escola de Frankfurt e, principalmente, com os escritos de Herbert Marcuse, seu expoente mais popular, a classe operária, vista como cada vez mais "aburguesada", passou a dar lugar a novos atores, vale dizer os estudantes e, cada vez mais, os criminosos, a escória da sociedade, como a "vanguarda da revolução". O culto às drogas, generalizado a partir dessa época - não por acaso, nas universidades -, passou a ser entusiasticamente estimulado pelos serviços de espionagem da antiga URSS, como uma maneira de enfraquecer a sociedade ocidental capitalista e destruir por dentro seus valores e instituições, como a moral cristã, a família etc. Isso é relatado inclusive em vários livros, infelizmente desconhecidos por aqui, como Red Cocaine: The Drugging of America and the West, de Joseph D. Douglass, Christopher Story e Ray S. Clyne (London, Harle, 1999) e as memórias do ex-general tcheco Jan Sejna, We Will Bury You (Sidgiwick & Jackson, 1985). (Recomendo também o excelente The World Was Going Our Way: The KGB and the Battle for the Third World, de Christopher Andrew e Vasily Mitrukhin [Basic Books, 2005], que mostra com riqueza de detalhes como o plano comunista de dominação mundial estava longe de ser uma fantasia de alguns reacionários de direita.)

Desde então, a glamourização do crime e do vício tornou-se uma constante, sendo sistematicamente reproduzida e difundida por meio do cinema, do teatro, da literatura, das artes plásticas e da televisão. Popularizou-se, desse modo, a idéia do "seja marginal, seja herói", apregoada em pôsteres e cartazes. Ao mesmo tempo, a esquerda apropriou-se da causa dos direitos humanos, instrumentalizando-a. Primeiro, como ferramenta em causa própria, nos anos do regime militar (como se os terroristas, chamados aqui de guerrilheiros, tivessem algum compromisso com os direitos humanos), e depois, a favor de bandidos comuns. A tal ponto chegou essa manipulação dos direitos humanos pela esquerda - sempre contra a polícia, sempre a favor da bandidagem -, que existe hoje uma "Bolsa-Bandido", destinada a não deixar desamparada a família de estupradores, ladrões e assassinos, enquanto suas vítimas não contam com nada parecido, permanecendo à míngua (não por acaso, na percepção popular, a idéia de direitos humanos continua a ser entendida como "direitos humanos para bandidos", o que não está muito longe da verdade).

No Brasil, a aliança dos revolucionários marxistas com a bandidagem se esboça na década de 30, com as tentativas de contato do PCB com os cangaceiros de Lampião no Nordeste. Essa aproximação, que obedecia a uma diretriz da Internacional Comunista em Moscou, porém, falhou. Ela só se consolidaria a partir dos anos 70, com a troca de experiências na cadeia entre terroristas e presos comuns, que deu origem à principal facção criminosa do Rio de Janeiro, o Comando Vermelho, e, mais tarde, ao PCC em São Paulo. Logo os bandidos trataram de copiar as táticas e até a linguagem das organizações armadas de esquerda, imitando sua forma de organização e até os chavões ideológicos contra o "sistema". A partir da década de 80, sucessivos governos populistas de esquerda, como os dois de Leonel Brizola (1983-1987 e 1991-1995), trataram de agravar o problema da violência urbana, mediante a negligência proposital e até o estímulo à ocupação desordenada dos morros e à expansão das favelas cariocas: a polícia foi proibida de subir as favelas, vistas não como problema, mas como "solução", enquanto o governo se locupletava com os chefões do jogo do bicho. As favelas foram transformadas, assim, em território livre do narcotráfico, que passou a ditar as regras nas comunidades carentes (o tal "Estado paralelo").

Tudo isso que está aí em cima não é nenhum segredo. Os próprios criminosos já deixaram claro o papel da esquerda na consolidação e expansão do crime organizado em lugares como o Rio de Janeiro. Um dos fundadores do Comando Vermelho, William da Silva Lima, o "Professor", escreveu até um livro, Quatrocentos contra Um: Uma História do Comando Vermelho (Iser-Vozes, 1991), no qual dá todo o serviço, explicando como a criminalidade carioca bebeu na fonte de Lênin e Carlos Mariguella. No livro (que virou filme, a ser lançado em breve), ele explica como o germe do Comando Vermelho nasceu no presídio da Ilha Grande, no começo dos anos 70, a partir da convivência com terroristas de esquerda presos que instilaram nos bandidos comuns a "idéia socialista".

Os narcotraficantes de hoje estão apenas aplicando na prática o que aprenderam no convívio com seus comparsas esquerdistas, décadas atrás. E, hoje, dedicam-se a aplicar esses ensinamentos com mais intensidade, graças ao apoio, velado ou não, de governos constituídos como o de Lula e de Evo Morales. Relatórios de serviços de inteligência dos EUA e de outros países vêm apontando, nos últimos anos, que a Venezuela de Hugo Chávez se transformou em valhacouto das FARC e no novo corredor do tráfico de drogas da América do Sul para os EUA e a Europa. E também para o Brasil. Está claro que Chávez dá guarida e dinheiro, inclusive lança-mísseis, aos narcoterroristas das FARC, como foi descoberto há alguns meses. Todos sabem que Chávez é companheirão de Lula, e que este justifica todas as suas traquinagens. Assim como todos sabem que o "embaixador" das FARC no Brasil, o ex-padre Olivério Medina, anda solto por aí, sob a proteção do governo brasileiro.

Então, entenderam como e por que se chegou a esse estado de coisas? Ou terei que desenhar para ficar mais claro?

A guerra de gangues nas favelas e na periferia das grandes cidades pela posse de bocas-de-fumo é apenas a diminuta ponta de um imenso iceberg, o estágio final de um enorme esquema revolucionário que tem sua origem nas florestas colombianas e em refrigerados gabinetes oficiais. Diante disso, entregar a responsabildade pela segurança pública ao PT, a Lula e a Tarso Genro é como deixar um louco armado até os dentes tomando conta de um jardim de infância. É como colocar a cabeça na guilhotina e pedir que o carrasco apare apenas as pontas do cabelo. Dessa gente, não se deve esperar nada além da cumplicidade com o crime. É essa a missão deles, sua tarefa revolucionária.

Quem pode negar que o que está escrito acima corresponde unicamente aos fatos, e não a opiniões? Mas, infelizmente, quem fala essas coisas é tachado imediatamente de paranóico, teórico da conspiração, extremista, louco. Enquanto a imprensa e a opinião pública continuarem tratando os 50 mil mortos por ano pelo crime organizado no Brasil como uma simples anomalia, em vez de parte de um gigantesco e bilionário esquema revolucionário internacional; enquanto continuarem a enxergar os governantes atuais como parte da solução, e não do problema, recusando-se a ver a conexão entre estes e a criminalidade, não farão nada além de enxugar gelo e correr atrás do próprio rabo. Enquanto isso, todos vão continuar a lamentar e a chorar. Mais uma vez.

P.S.: Já tinha terminado de escrever o texto acima quando li, na internet, o texto a seguir, de autoria de Hélio Penafiel. Não tenho a menor idéia de quem é Helio Penafiel. Mas, devo dizer, o texto que ele escreveu resume com clareza e objetividade o que venho afirmando sobre o PT e suas relações com o crime organizado.
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O PCC DE TERNO
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Por Helio Penafiel
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São intrigantes as coincidências do PT no governo, com o PCC dos presídios.
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- Tal qual o PCC das cadeias, todos membros do PT contribuem com um percentual de seus ganhos para o partido ou facção.
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- O PT explora as empresas de ônibus e empresários no ABC paulista e em outras cidades. Comprovado por CPI.
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- O PCC explora as Vans de transporte público da grande São Paulo. Comprovado pela polícia.
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- O PCC assalta bancos e empresas, agindo em quadrilhas organizadas.
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- O PT assalta os cofres públicos do Estado com uma quadrilha organizada formada por amigos e membros do governo Lula, conforme comprovado pela CPI.
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- Ambos utilizam os recursos roubados para enriquecimento pessoal e fortalecimento de suas organizações. Comprovado por CPI.
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- Tanto o PT como o PCC são fundamentados na ideologia comunista, ou de “esquerda”. Ambos possuem relações com as FARC, que têm fortes laços com Hugo Chávez, o grande amigo de Lula.
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- Tanto o PT como o PCC, eliminariam seus inimigos. Vide Celso Daniel e as testemunhas do caso, Toninho do PT, e aquele presidente do sindicato, morto pelo sindicalista Zezé em Santo André, entre outros tantos.
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- O PCC odeia os policiais. O PT odeia os militares, o que no fundo é o mesmo...
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São tantas as coincidências entre as duas organizações que se poderia considerar o PCC como um PT carcerário; e o PT do governo Lula, como um PCC Estatal ou Chapa Branca.
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É ou não é?
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O Brasil não merece isso.

terça-feira, outubro 20, 2009

PENSAMENTO DO DIA


"Quem perde os bens perde muito; quem perde os amigos, perde mais; mas quem perde a coragem, perde tudo". (Miguel de Cervantes)

OS EXCLUÍDOS

- Bandido é o c******!
Eu sou uma vítima do cruel sistema capitalista
de exploração do homem pelo homem, p****!!!
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O capitalismo é mesmo um sistema mau, muito mau.

Há dois dias, vítimas da desigualdade social gerada pela exploração capitalista da mais-valia da classe trabalhadora derrubaram a tiros de fuzil um helicóptero da cruel polícia da burguesia quando este sobrevoava o Morro dos Macacos, no Rio de Janeiro. Três agentes do imperialismo ianque e da opressão capitalista morreram devido à essa ação direta dos heróicos guerrilheiros do povo.

A justiça revolucionária e popular continua a se fazer sentir no Rio. Jovens injustiçados e idealistas compraram, para se defenderem da brutalidade policial, 4 toneladas de cocaína e algumas dezenas de fuzis, lança-foguetes e metralhadoras russas e israelenses. Estão em revolta contra a brutal exploração da classe dominante, ordenando toques de recolher e ateando fogo a ônibus, que, como sabemos, só levam ricos patrões e milionários para suas salas refrigeradas. Nessa luta por justiça e paz, já foram mortas cerca de 20 pessoas - os que caíram pelas balas dos excluídos do tráfico eram todos espiões a serviço do capital, claro.

A mídia burguesa, enquanto isso, insiste em chamar o que se passa nas favelas do Rio de confronto entre policiais e bandidos. Que nada! Como pode ser bandido quem vende cocaína e maconha para os filhos da elite que há 500 anos manda neztepaís? Como chamar de facínora e criminoso um bando de combatentes do proletariado que derrubaram à bala um helicóptero da polícia? E ainda fala em coisas como punição aos culpados e responsabilidade individual, a mídia burguesa e fascista.

No campo, os excluídos pelo sistema também se mobilizam por justiça e paz.

No dia 6/10, uma coluna heróica de revolucionários do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST) ocupou uma grande propriedade em São Paulo e investiu contra ultra-reacionários pés de laranja, destruindo cerca de 7 mil deles. Não contentes em aplicarem aos cítricos a justiça revolucionária, atacaram e inutilizaram dezenas de perigossíssimos tratores, que seriam certamente utilizados pelo cruel agronegócio para matar de fome os filhos dos trabalhadores rurais, e levaram consigo alguns galões de fertilizantes e objetos da sede da fazenda. Em nome da reforma agrária e da justiça no campo.

Novamente, a mídia burguesa insiste em chamar os excluídos sem-terra de vândalos e criminosos, e - horror dos horrores! - alguns parlamentares pedem uma CPI para investigar o MST. Calúnia! Propaganda contra-revolucionária! Como chamar de vândalos quem descobriu que suco de laranja faz mal à reforma agrária? Como chamar de ladrão quem recebe dinheiro do governo federal para destruir tratores e laranjais? O MST, bando de vândalos e criminosos? De maneira alguma! Isso não passa de uma tentativa neoliberal e fascista de criminalizar os movimentos sociais. Basta ver o destino dado ao dinheiro repassado ao MST pelos cofres públicos, bem como o importantíssimo trabalho de conscientização que este faz, ensinando a crianças de oito anos de idade o Bê-à-Bala na Universidade Popular Mao Tsé-tung.

Como se vê, os sem-terra e os traficantes, coitados, são vítimas da barbárie capitalista. Chamá-los de bandidos, além de ser uma injustiça, é mera propaganda burguesa e reacionária. Eles não têm nada a ver com o narcotráfico e as depredações no campo. É tudo culpa do capitalismo, esse sistema mau como um pica-pau.

RESPOSTA AO LEITOR - POR QUE SOU UM MALDITO DIREITISTA


Zek escreveu:

Gosto dos teus textos, confesso não ter lido todos e também que concordo com pouco do que li, mas ainda assim me arrisco a uma pergunta que você tem todo o direito de não responder, por que toda essa militancia pela direita?

Abraços

Caro Zek,

Não tenho problema nenhum em responder sua pergunta. Pelo contrário, faço-o com prazer. Tenho apenas uma dificuldade em responder. Não porque eu não tenha motivos para "militar pela direita", mas, justamente ao contrário, porque os motivos são muitos. Na verdade, mal sei por onde começar.

Eu poderia dizer que sou um direitista abjeto, um maldito reacionário e um porco liberal por causa dos cem milhões de mortos deixados pelo comunismo no século XX. Ou pelo caráter intrinsecamente totalitário ou pró-totalitário das esquerdas. Ou pela mentira inerente aos postulados marxistas. Mas isso seria esotérico ou acadêmico demais. Eu correria o risco de não ser entendido. Por mais que eu diga e repita esses fatos, sempre haverá quem não os entenda, ou que os interprete de forma errada, da maneira que lhe for mais conveniente.

Eu também poderia dizer que, como ex-simpatizante de uma seita trotskista quando criança, tive a oportunidade de conhecer a partir de dentro o que pensam e como agem os esquerdistas, e que aprendi todos os truques deles. Mas isso seria demasiado pesssoal.

Creio que meus textos falam por si mesmos: basta lê-los e tentar rebater o que está lá escrito para saber o porquê de minha opção política e moral (ou ideológica, como queira). Mas compreendo que algumas pessoas jamais entenderão. Compreendo que, para essas pessoas, criticar a esquerda, dizer-se abertamente anticomunista e de direita, é algo que só pode causar espanto e estupefação, só pode ser explicado por alguma associação obscura, pela defesa de interesses políticos e econômicos inconfessáveis etc., ou por algum problema de ordem social, mental ou sexual, e não pelos fatos e argumentos. Compreendo isso perfeitamente. Assim como compreendo por que esse tipo de insinuação quase nunca é feito no caso dos esquerdistas, embora muitas vezes corresponda à realidade. Quem é de esquerda sempre o será por um profundo senso de justiça e de igualdade, por idealismo ou por puro amor à humanidade; quem é de direita, só o é porque defende interesses escusos, porque é um agente do imperialismo e lacaio de Wall Street, ou porque é um extremista ou um doido varrido... Para muitas pessoas, é impossível que alguém critique a esquerda com base em sua própria consciência, por puro amor à verdade.

Creio que o simples fato descrito acima é suficiente para justificar uma atitude crítica em relação à esquerda. Mas acho que a melhor maneira de responder sua pergunta é contando uma história.

Certa vez, nos anos 60, o dramaturgo e cronista Nelson Rodrigues foi perguntado, em uma entrevista, por que ele se declarava abertamente um reacionário, destoando, assim, da esmagadora maioria. A resposta de Nelson Rodrigues foi a seguinte: "Sou um reacionário porque valorizo a liberdade, porque não sou stalinista. Os comunistas dizem que o comunismo é o futuro. Se é assim, então eu sou o passado, sou a reação, sou a Idade Média".

Acho que essas palavras, se lidas de forma adequada, são suficientes para explicar minha "militância de direita". Sou um direitista, um conservador, um anticomunista, porque prezo, acima de tudo, a liberdade. Porque, diante de Marx, Lênin, Stálin, Mao Tsé-tung, Fidel Castro, Hugo Chávez e Lula, eu sou o passado, sou a Idade Média, sou a Antiguidade. Quantas pessoas você conhece que têm a coragem de dizer algo parecido?
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Outro motivo por que eu sou um verme desprezível e um inimigo do povo é a inexistência de qualquer partido ou movimento político no Brasil que se possa chamar, com todas as letras, de "de direita". Já escrevi aqui, e pretendo escrever mais, sobre esse estranho fenômeno. Há, no Brasil, partidos de todos os tipos - esquerdistas, socialistas, comunistas, dinheiristas etc. -, mas, "de direita", não. Ou vai me dizer que o PSDB e o DEM são partidos de direita? (O simples fato desses marxistóides envergonhados e clube de dondocas serem considerados "de direita" demonstra o baixo nível político-ideológico da política brasileira e a ditadura mental esquerdista a que estamos submetidos.)
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Enfim, sou "de direita" porque sou contra toda forma de tirania, de ditadura, de totalitarismo, seja comunista ou fascista - inclusive, e principalmente, o fascismo de esquerda.

Respondi sua pergunta?

EIS UM DEBATE


Reproduzo, a seguir, resposta de Reinaldo Azevedo ao representante do Brasil na Organização dos Estados Americanos (OEA), embaixador Ruy Casaes, sobre a questão de Honduras. Fiz questão de enviar o artigo, por e-mail, a uns amigos meus que estão trabalhando junto à representação brasileira na OEA, em Washington. Trata-se de algo raro, sobretudo no Brasil, sobretudo no Itamaraty, sobretudo na Era Lula: um debate.

Contextualizando: Casaes enviara a RA uma réplica a seu texto "Uma Formidável Coleção de Asneiras", publicado no blog do jornalista em 27 de setembro (http://veja.abril.com.br/blog/reinaldo/geral/uma-formidavel-colecao-de-asneiras/). Casaes expõe o ponto de vista do governo Lula, segundo o qual houve golpe de estado em Honduras, cuja vítima foi Manuel Zelaya. RA rebate essa afirmação, com base no que diz a própria Constituição de Honduras, em especial seu Artigo 239. Ele aborda ponto por ponto as observações do embaixador brasileiro, a partir de uma argumentação essencialmente jurídica.

Já expus, aqui, minha opinião sobre o assunto. Basta rolar a página para baixo e ver meus outros posts para saber o que penso a respeito. Então, não vou emitir, neste post, nenhum juízo de valor. Acredito que o debate a seguir deixa claro quem está com a razão e quem não está. Leiam e tirem suas próprias conclusões.

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Respondo ao embaixador Ruy Casaes em azul. O texto dele segue em vermelho. Faço uma pequena inversão, começando, literalmente, pelo fim de sua mensagem:

e.t. A propósito, não sou ignorante em direito. Formei-me em direito pela Faculdade Nacional de Direito da Universidade Federal do Rio de Janeiro há exatos 40 anos.
Também não sou ignorante em direito. E não cursei direito em lugar nenhum. Fiz outras faculdades, mas me arrependo por ter perdido tanto tempo. Aliás, esta é uma das minhas diferenças com Lula: ele não estudou, diz que lamenta não ter estudando, mas, de fato, tem orgulho da sua condição. Eu estudei, não costumo lamentar em público, mas não tenho orgulho disso. Ao que interessa.

Prezado Reinaldo Azevedo,
li com interesse sua matéria “Uma formidável coleção de asneiras”, que verifico, lamentavelmente, não refletir com exatidão os comentários que fizera ao jornalista Gustavo Chacra, do Estadão. Confesso que não li a matéria publicada no Estadão. Li, sim, em sua coluna algumas afirmações minhas, que foram transcritas, definitivamente, fora de contexto. Para sua informação — e eventualmente de seus leitores —, procurarei repetir o que disse e que tenho dito sobre o golpe de estado em Honduras.
Caro embaixador, o jornalista Gustavo Chacra reproduziu rigorosamente o seu pensamento. Todas as suas objeções devem ser endereçadas às minhas opiniões. Conforme fica claro no aludido post, que reproduz trecho da reportagem de Chacra, ele foi absolutamente preciso: tudo o que está lá coincide com o seu pensamento, reiterado abaixo.

Sobre a Constituição hondurenha e as Constituições brasileira e colombiana
Ao comparar as três Constituições, procurei mostrar ao jornalista do Estadão que não é usual que os dispositivos relativos ao mandato presidencial se constituam em cláusulas pétreas.
Ruy Casaes deve concordar comigo que os países não fazem constituições segundo usos e costumes. Até porque inexistem usos e costumes de alcance mundial ou mesmo regional. Se as Constituições do Brasil e da Colômbia não tratam o mandato presidencial como cláusula pétrea, a de Honduras trata. Podemos até achar estúpido que os hondurenhos tenham feito tal escolha. Mas certamente o embaixador não deve achar correto que os forcemos a mudar de idéia.

No Brasil como na Colômbia, as Constituições adotadas, respectivamente, em 1988 e 1991, não previam a possibilidade de reeleição. No Brasil, não poderia ser imediata; na Colômbia, jamais. As circunstâncias políticas, entretanto, ensejaram emendas constitucionais em um e em outro país que passaram a permitir a reeleição do Presidente da República (no Brasil, inclusive, para outros cargos nos Poderes Executivos Estadual e Municipal). Mencionei a título de exemplo fora do continente americano mudança na duração do mandato presidencial francês, que passou, há relativamente pouco tempo, de 7 para 6 anos. Em nenhum momento, disse que o artigo da Constituição hondurenha que trata da matéria não fosse uma cláusula pétrea. Disse, sim, que, habitualmente, as cláusulas constitucionais pétreas tratam de princípios e valores. Quanto à figura da reeleição, as mudanças nas Constituições brasileira e colombiana não são exemplos únicos.
Sugiro que o senhor releia o post que contesta. Nem Gustavo Chacra nem eu afirmamos que o senhor negou que a questão da reeleição fosse uma cláusula pétrea. Aliás, este é exatamente o problema: o Brasil — e, se quiserem, a comunidade internacional — trata Honduras e sua Constituição como se tal dispositivo não existisse. E ele existe. Todas as referências aos demais textos constitucionais são absolutamente ociosas ou interessam, sei lá, ao estudo do direito comparativo. E daí que a questão não esteja entre os dispositivos imutáveis no Brasil, na Colômbia ou na França??? O que isso quer dizer? Nada!!! Ou agora devemos convidar Honduras a consultar a Carta de outros países antes de tomar suas medidas? Ora, embaixador, o que foi que escrevi naquele post, no seu trecho mais manso? Isto: “A sua [de Casaes] referência às Constituições da Colômbia e do Brasil dá prova de sua ignorância. Nestas duas Cartas, inexiste o artigo que proíbe a apresentação de dispositivos que facultem a reeleição.” Com isso, queria e quero dizer o óbvio: no Brasil e na Colômbia, apresentar emendas ou propostas visando à mudança da Constituição neste aspecto não ofende a… Constituição! Em Honduras, sim! Será que o país deve se tornar pária por isso?

Em tempo: o mandato presidencial na França foi reduzido de sete para CINCO ANOS, não para seis, conforme o senhor diz.

Sobre o “tempo para instituir a possibilidade de um novo mandato”
Mais uma vez seus comentários não refletem absolutamente o que disse ao jornalista do Estadão. Visivelmente estão fora de contexto. O que realmente afirmei foi que a alegação de que, ao propor uma consulta popular, o Presidente Zelaya queria reeleger-se, era falsa na medida em que, se houvesse uma “quarta urna” (lembro a respeito que o que o Presidente pretendia era fazer uma consulta de caráter não vinculante no dia 28 de junho, justamente o dia em que foi deposto), esta se daria no mesmo momento em que um novo presidente estaria sendo eleito. Assim, os meus comentários ao jornalista do Estadão indicavam a impossibilidade material de que o Presidente Zelaya fosse reeleito, ademais porque nem candidato era. Seus comentários a respeito de minhas palavras sobre este ponto não traduzem, portanto, aquilo que efetivamente disse.
De novo, eu o convoco a fazer justiça a Gustavo Chacra. A sua fala, que ele reproduziu, está absolutamente de acordo com o que vai acima, a saber: “Não haveria tempo para realizar isso. Afinal, quando a Constituinte fosse aprovada, em novembro, um novo presidente teria sido eleito. Zelaya não teria como se candidatar.” Quem considerou e considera absurda a sua opinião sou eu. Respondi naquele post e respondo agora: “Sua argumentação de que não haveria tempo para instituir a possibilidade de um novo mandato é estúpida. A violação de um dispositivo constitucional não se caracteriza em função do tempo que levaria para que a transgressão produzisse efeitos.” O senhor entendeu, não é? Ademais, pouco importa se daria tempo ou não: ele violou o Artigo 239 da Constituição e, ATENÇÃO!, FOI AUTOMATICAMENTE DEPOSTO. Refrescado a memória:

“O cidadão que tenha desempenhado a titularidade do Poder Executivo não poderá ser presidente ou indicado. Quem transgredir essa disposição ou propuser a sua reforma, assim como aqueles que o apoiarem direta ou indiretamente, perderão imediatamente seus respectivos cargos e ficarão inabilitados por dez anos para o exercício de qualquer função pública”.

Quando Zelaya deixou o país, nem presidente era mais segundo a Carta Magna do país. O senhor pode não gostar daquele texto, mas não pode impedir os hondurenhos de aplicá-lo. Há um monte de tolices na Constituição do Brasil. Nem por isso devemos pregar o desrespeito à Carta. Oui devemos?

Sobre a deposição do Presidente de Honduras
As questões internas de Honduras dizem respeito exclusivamente ao povo hondurenho. Este princípio está recolhido tanto na Constituição brasileira (Artigo 4, inciso IV), quanto na Carta da Organização dos Estados Americanos (Artigo 3, alínea e), que consagram, como tantas outras cartas constitutivas, o princípio de não-ingerência nos assuntos internos dos Estados.
Perfeitamente! O primeiro na imprensa brasileira a lembrar que os senhores, do Itamaraty, estão violando a Constituição do Brasil e a Carta da OEA ao permitir que a embaixada brasileira se transforme em plataforma de pregação da guerra civil fui eu. Com base nestes mesmos princípios que o senhor proclama. A propósito: os senhores já definiram qual é o status de Zelaya em nossa embaixada? Ele é “hóspede”, como dizem? Hóspedes de embaixadas brasileiras usam o “território” para fazer política? Cheguei a pedir o impeachment de Celso Amorim com base na violação do Artigo 4 da Constituição e no que dispõe a Lei 1.079. Ou o senhor nega que aquilo a que se dedica o Brasil seja “ingerência”?

O que justificou a participação da OEA e da comunidade interamericana foi ter Honduras descumprido a Carta Democrática Interamericana, que foi concebida para promover e defender a ordem constitucional nos seus Estados membros. Não há dúvida de que o que ocorreu em Honduras foi um golpe de estado. Assim o disseram a comunidade interamericana no foro regional e a comunidade internacional como um todo nas Nações Unidas.
Não há dúvida de quem, cara pálida? Da “Comunidade Internacional”? Eu estou me lixando pra ela. A “comunidade internacional” celebrou o pacto que Daladier e Chamberlain fizeram com Hitler. Cito o exemplo extremo só para não ter de me perder em miudezas. O que aconteceu em HONDURAS NÃO FOI UM GOLPE SEGUNDO O QUE DISPÕE A CARTA DE HONDURAS. E AQUELE É O ÚNICO PARÂMETRO ACEITÁVEL. O princípio de que não se remove um governante eleito de maneira alguma encontra, em cada país, as suas circunstâncias. Sob certo ponto de vista, então, Collor foi deposto no Brasil por um golpe parlamentar, já que, aqui, o “devido processo legal” se faz com o mandatário fora do poder quando é aceita a denúncia por crime de responsabilidade.

Ao julgar o Presidente Zelaya sem que lhe fosse dado o direito fundamental de ser ouvido e defender-se, o Estado hondurenho descumpriu a própria Constituição hondurenha e a Convenção Americana de Direitos Humanos. Esta reza, em seu artigo 8, que trata das garantias judiciais, que “(t)oda pessoa tem o direito de ser ouvida, com as devidas garantias e dentro de um prazo razoável, por um juiz ou tribunal competente, independente e imparcial, estabelecido com anterioridade pela lei, na substanciação de qualquer acusação penal formulada contra ela, ou para a determinação de seus direitos e obrigações de ordem civil, trabalhista, fiscal ou de qualquer outro caráter”. Aquela determina no capítulo das garantias pessoais, especificamente em seu artigo 82, que “(e)l derecho de defensa es inviolable”. Não foi inviolável no caso do President Zelaya.
Já tratei sobejamente da questão, mas volto ao ponto. Vamos lá:
1 – em primeiro lugar, A Convenção Americana de Direitos Humanos não está acima da Constituição de Honduras, do Brasil ou da Colômbia. Não é a Constituição das Constituições. Ou é?;
2 – O que é “prazo razoável”?
3 – Observe que se fala lá que as instâncias são estabelecidas “pela lei”; cada país tem a sua;
4 – Supondo que o vai ali também se aplique a direitos políticos, os princípios remetem a decisão para leis específicas. Então vejamos:
a – Zelaya anunciou que faria a sua consulta; a Justiça do país a declarou ilegal. FOI OU NÃO NA FORMA DA LEI, SENHOR EMBAIXADOR?;
b – A Justiça proibiu o Exército de tomar as providências para fazer a tal consulta. FOI OU NÃO NA FORMA DA LEI, SENHOR EMBAIXADOR?;
c – Zelaya deu ao Exército uma ordem considerada ilegal pela Justiça, violando outros artigos constitucionais. Se o Exército a tivesse cumprido, o golpe teria sido dado ali. Ou que nome o senhor dá a uma força armada que faz o contrário do que determina a lei?
De novo, o senhor pode até achar que as leis hondurenhas não são tão boas quanto as brasileiras. Mas são as que eles têm. A propósito: o senhor considera que esse princípio da Convenção Americana de Direitos Humanos é devidamente seguido na Venezuela, na Bolívia e no Equador? Já nem me refiro a Cuba para não me acharem um homem indelicado.

Sobre a detenção arbitrária do Presidente Zelaya
Mesmo se a deposição do Presidente Zelaya tivesse sido, do ponto de vista jurídico, irretocável, não caberia dúvida quanto à ilegalidade do cumprimento da decisão da Corte Suprema de Justiça. Não apenas pela forma como o Presidente Zelaya foi retirado de sua residência, o que de toda maneira foi contrária à Constituição, mas porque a Constituição proíbe em seu artigo 102 que “(n)ingún hondureño podrá ser expatriado …”. Ao levarem sob vara o Presidente Zelaya para a Costa Rica, o Estado hondurenho feriu um direito constitucional básico conferido a todo hondurenho.
Neste blog e em lugar nenhum chamei de legal ou constitucional a saída de Zelaya. Aliás, acho que ele deveria ter ficado no país para responder por seus crimes. Eu mesmo já tratei do Artigo 102 da Constituição aqui. A nossa diferença, embaixador, é que eu digo: O ARTIGO 102 TORNA INCONSTITUCIONAL A RETIRADA DE ZELAYA DO PAÍS. Eu respeito o 102 porque respeito a Carta toda. Mas o senhor demonstra um respeito seletivo, não é? Por que despreza o 239? Isso significa, embaixador, preste atenção!, que eu posso acatar perfeitamente o artigo 102, conjugá-lo com o 239 e defender a minha posição: NÃO HOUVE GOLPE EM HONDURAS. Mas o senhor, para manter a sua — houve golpe —, tem de se agarrar ao 102 e jogar fora o 239. VERDADE OU MENTIRA?

Como o senhor nota, não estudei direito nem sou diplomata, mas o meu argumento mata o seu. Isso quer dizer que, neste embate, eu estou certo, e o senhor está errado. A menos que ache um argumento melhor.

Esperando ter esclarecido os pontos que me pareceram não estarem corretos no artigo do Gustavo Chacra, que serviu de base à sua matéria, subscrevo-me atenciosamente.
Ruy Casaes
Representante Permanente do Brasil junto à OEA
Reitero: Chacra, que é um ótimo profissional, não tem nada com isso. Ele reproduziu direitinho o seu pensamento. A sua carta se encarrega de torná-lo ainda mais claro. E verifico que discordo do senhor com ainda mais motivos. Afinal,
“eu posso acatar perfeitamente o artigo 102, conjugá-lo com o 239 e defender a minha posição: NÃO HOUVE GOLPE EM HONDURAS. Mas o senhor, para manter a sua, tem de se agarrar ao 102 e jogar fora o 239. VERDADE OU MENTIRA?”