quinta-feira, setembro 29, 2011

E ELE É DOUTOR!

O "dotô onóriscauza" em um momento de profunda reflexão intelectual


Saiu na midia:


Lula recebe título "honoris causa" em Paris


Qual o melhor comentário para a notícia acima?


a) Dizem que é o primeiro latino-americano a receber esse título. E o primeiro que não sabe soletrá-lo.


b)"O que faz um doutor honoris causa? Eu não sei, mas quando eu for escolhido, eu te conto" (Tiririca)


c) Que bom! Agora só falta dar o prêmio mundial de honestidade ao Zé Dirceu, ao companheiro Delúbio e ao Valdemar Costa Neto.


d) E olha que ele nem precisou escrever um livro. Nem ler.


e) Lula doutor em Paris? E depois você ainda pergunta por que a Europa está em crise...


f) "Gringos trouxas" (o homenageado).

quarta-feira, setembro 28, 2011

O PONTO ONDE ESTAMOS



Uma imagem que vale mais do que mil palavras.

Sem mais, meritíssimo.

DA IMPOSSIBILIDADE DE DEBATER COM ESQUERDISTAS

"Quando alguém está honestamente certo 55% do tempo, isso é muito bom e não faz sentido discordar. Se alguém está 60% certo, isso é maravilhoso, sinal de boa sorte...mas o que deve ser inferido sobre estar 75% certo? Os sábios diriam que é algo suspeito. Bem, que tal 100% certo? Quem quer que diga estar 100% certo é um fanático, um criminoso e o pior tipo de crápula." Velho provérbio judeu da Galícia, citado por Czeslaw Milosz, Mente Cativa.



Durante anos, alimentei a esperança de que era possível debater racionalmente com gente da esquerda. Acreditava, então, que era factível sentar para conversar e trocar idéias com quem segue os ensinamentos de Marx e Lênin, como pessoas civilizadas. Vã ilusão. Depois de várias tentativas, percebi finalmente que aquela era uma busca ingênua, que eu estava à procura do inalcançável.


Já me resignei diante do fato de que jamais verei um Noam Chomsky debatendo, por exemplo, com um Roger Scruton, ou um Emir Sader fazendo o mesmo com um Olavo de Carvalho. Sempre que eu tentava chamar algum esquerdista para o debate, para o confronto de idéias, encontrava apenas evasivas ou era coberto de insultos. Quando eu abordava algum deles e questionava sobre a contradição entre se dizer a favor da democracia e gritar vivas, ao mesmo tempo, à ditadura comunista de Cuba, eu era brindado, em vez de respostas, com frases como “não vou discutir com um burguês como você”. O mesmo neste blog: vez ou outra, alguém me cobre de ofensas, inclusive pessoais, mas nunca – nunca, jamais – alguém da sinistra me escreveu para debater qualquer assunto.


É impossível debater com a esquerda, porque ela não quer. Um debate é um momento em que duas ou mais pessoas racionais, num exercício de humildade intelectual, colocam suas teses e crenças à prova, testando-as sob o escrutínio de argumentos contrários e buscando encontrar a verdade. Para tanto, é necessário um mínimo de honestidade e de boa-fé. Não é o que ocorre com os militantes da esquerda. Não se pode debater com eles, pois não há debate possível com quem está plenamente convencido que encontrou a verdade. Afinal, se eu sou o futuro, o outro lado só pode ser o passado; se eu represento o bom, o belo e o justo, meus adversarios só podem representar o mau, o feio e o injusto. Então, para quê debater?


Não há debate quando um dos lados está convicto de que sua crença é a verdade revelada. Nessas condições, o debate vira monólogo, oportunidade de gritar slogans e mero exercício de propaganda ideológica. Nada de revisar o dogma e de contrapor-lhe novos fatos e evidências, mas de reafirmá-lo, de repisá-lo, pois não há nada de novo que possa ser acrescentado; trata-se apenas de repetir o que já está escrito, como faziam os monges da Idade Média. O lado adversário, por sua vez, passa a ser visto apenas como o “inimigo”, um “reacionário”. Diante de um sujeito assim tão incômodo, os esquerdistas fingem um ar estudado de superioridade afetada ou, no caso dos mais idiotas, tascam-lhe logo um “fascista” – epíteto usado para desqualificar todos aqueles que pensam diferente deles próprios, esquecendo-se que essa tática de fugir ao debate e desqualificar o adversário é típica dos… fascistas (eu mesmo, há alguns meses, tive meu discurso tachado de "proto-fascista" por um membro da ala "moderada" do esquerdismo aguado travestido de alto pensamento filosófico).


É impossível discutir racionalmente com alguém que está imbuído de uma “missão” histórica redentora da humanidade, e que tem a necessidade psicológica, exatamente por isso, de reafirmar e reconfirmar o tempo todo essa crença messiânica (tanto para os outros quanto para si mesmo). Qualquer coisa diferente disso – o confronto com opiniões discordantes, por exemplo – não passa, na cabeça dessas pessoas, de um desvio, de uma forma de afastá-las da “luta”. Não se vai para a guerra para debater com o inimigo, mas para eliminá-lo.


A idéia de um debate franco e honesto com um esquerdista, seja radical ou “moderado”, é tão absurda quanto esperar pluralidade de idéias em um partido de esquerda. O conceito de debate, para os esquerdistas, é inseparável da propaganda, está baseado no que Lênin chamava de “centralismo democrático” – o debate é permitido, desde que seja a favor do socialismo… Ou seja: é livre a manifestação do pensamento, mas apenas se o pensamento em questão estiver de acordo com os objetivos da revolução proletária. É exatamente essa reafirmação, intra muros, do dogma que os esquerdistas chamam de “debate”. Qualquer coisa diferente disso – ou seja: qualquer coisa além da própria grei – deve ser evitada e suprimida. Daí que todos aqueles que destoam do coro geral, ou seja, todos os que não são esquerdistas, devem ser reduzidos ao mais absoluto silêncio: transformados em párias, cercados por uma cortina de ferro pelos que controlam os meios de informação (quase todos, hegemonizados pelo unanimismo esquerdista), não se deve sequer mencioná-los.


Mas, se não é possível debater com esquerdistas, o que resta fazer? Resta denunciar suas imposturas, desmascará-los como os charlatães que são, expor suas óbvias inclinações totalitárias. Acima de tudo, pode-se e deve-se retirar o véu que impede que muitos vejam o que tanto se esforçam em esconder: que suas posições são incompatíveis com a democracia. A fuga do debate é uma prova disso.


É claro que o que falei acima vale também para extremistas de outras ideologias. A esquerda, como se sabe, não tem o monopólio da intolerância. Mas jamais vi, pelo menos no Brasil, um professor de Filosofia ou de Sociologia abertamente de direita e que se arrogasse, ainda por cima, a exclusividade do “debate". Jamais vi alguém assim posando de único e legítimo defensor da liberdade contra a censura. Esse papel tem sido exercido, há décadas, pelos esquerdistas, levando ao esquecimento do fato de que, quando se opunham à censura (na época do regime militar, por exemplo) estavam reivindicando a liberdade de expressão e de opinião não para todos, mas somente para eles próprios. A liberdade, enfim, de negar a liberdade para todos os que os questionem. O unico debate admitido pelos esquerdistas é entre eles mesmos. Foi assim ontem, é assim hoje.

terça-feira, setembro 27, 2011

O DIREITO DEVE SER ACHADO NA LEI, NÃO NA SARJETA



Charles-Louis de Secondat, Barão de Montesquieu:

os juízes do STF fariam bem em relê-lo


Um tal Heverton, que deve ser o assessor jurídico do Luiz Mott, escreveu um comentário muito engraçado sobre meu texto O GOLPE DO STF. E UMA PERGUNTA: GAYS NÃO FAZEM SEXO?, no qual denuncio o golpe (in) constitucional desfechado pelos juízes do STF no último dia 4 de maio, quando decidiram, cedendo à pressão de um lobby midiático, abolir um artigo da Constituição e mudar, de uma canetada, a organização familiar no Brasil. Eis o que disse a reencarnação de Rui Barbosa:

Bla bla bla...primeiro, voce está desatualizado, volte para a faculdade de direito antes de emitir suas opinioes pseudo-jurídicas.

Vou ignorar o balbuceio afetado ("bla bla bla") e me concentrar nas palavras. Fiquei curioso: o que será que o Heverton quer dizer com "você está desatualizado" na questão? Será que ele está afirmando que defender a Lei – e os princípios jurídicos que devem nortear uma Constituição – é uma questão, assim, de moda? Nesse caso, então, faço questão de dizer, como fazia Nelson Rodrigues: eles são o futuro? nesse caso, eu sou a Idade Média, sou a Antiguidade!

Quanto a voltar para a faculdade, não, obrigado. Parece que as faculdades de direito no Brasil, que nunca foram lá essas coisas, estão meio que infiltradas por um tal “direito alternativo” ou “direito achado na rua”, que não combina bem com minha idéia de Direito. Se for para referendar golpes institucionais como o do STF, prefiro permanecer leigo no assunto. Prefiro ficar do lado da Lei – ou seja, da civilização – contra aqueles que querem "ajustá-la" a seus interesses casuísticos.

Hoje em dia a moderna forma de interpretação NAO USA mais apenas LER o texto da constituição, isso é positivismo extremado, e é o mesmo positivismo que possibilitou o massacre a judeus, negros, deficientes e GAYS na antiga alemanha.

Estou pasmo...

A "moderna forma de interpretação" de que fala o rapaz inclui passar por cima da separação de poderes e mandar a Lei para as cucuias? E defender princípios jurídicos e filosóficos como a separação de poderes agora é "positivismo extremado"? Então foi a defesa de princípios como esse – descumprido, agora, pelo STF – o que "possibilitou o massacre de judeus, negros, deficientes e GAYS" (assim, em maiúsculas – afinal, eles são especiais...) na Alemanha hitlerista?

Confesso que isso nunca tinha me passado antes pela cabeça. Então foi a defesa da tripartição dos poderes e do devido processo legal, e não a ideologia nazista, o que levou ao Holocausto? Caramba!...

Essa é uma interpretação realmente revolucionária do Direito e da História! Gente, esqueçam tudo que ouviram até agora sobre o nazismo, o antissemitismo, a idéia de raça ariana etc. Segundo Heverton, Hitler e os nazistas mandaram milhões para a morte porque eles, nazistas, tinham lido... Montesquieu!

Quase que eu me esqueço que, entre os nazistas, também havia um monte de bichonas (posso estar errado, mas desconfio que o leitor nunca ouviu falar nas SA; sem falar no próprio Fuhrer, com aquela cintura larga e aquele cabelinho meio emo... sei não, dá até pra desconfiar).

Para se interpretar a constituição, deve-se ater aos PRINCÍPIOS QUE A NORTEIAM, e se vc tiver curiosidade de LER fundamentação do STF, vai notar que sao esses principios que possibilitaram a extensão do direito a uniao estavel hetero para as homo.ah, volta lá pro seu clube do chá.

Ah, então é de princípios que se está falando? Vou citar apenas dois que o STF mandou às favas com a decisão inconstitucional de aprovar a tal "união homoafetiva":

- Separação de poderes: a Constituição (que ainda é, queiram ou não os adeptos do "direito achado na rua" – na verdade, na sarjeta), a principal Lei do país, estabelece claramente as funções dos três poderes do Estado. E não me consta que Montesquieu tenha dito ou escrito que cabe ao Judiciário legislar, ainda mais em matéria constitucional. Do contrário, por que não dar ao Executivo o poder para julgar ou fazer leis, tornando o STF e o Congresso irrelevantes? Parece que já vimos esse filme antes, não?

- Igualdade de todos perante a Lei: É uma das bases, se não a base principal, de qualquer sociedade democrática, que todos os cidadãos tenham os mesmos direitos e deveres, definidos pela Lei do país. E a Lei brasileira deixa claro que nenhum grupo de indivíduos merece ter privilégios por causa de raça, cor, religião ou qualquer outro motivo (orientação sexual, por exemplo). Ao rasgar a Constituição para beneficiar os gays, o STF instituiu uma nova categoria de cidadãos, cujos direitos estão acima da Lei, que deve se adaptar a eles, e não o inverso.

Como já falei, não tenho nada contra, em princípio, que gays e lésbicas possam juntar seus trapinhos e viver felizes para sempre. Não tenho nada contra, inclusive, que adotem crianças (é melhor ter dois pais, ou duas mães, do que nenhum). Só acho estranho – estranho, não, inaceitável – que, para atender a uma reinvidicação de um grupo minoritário, o principal tribunal do país resolva descumprir a Lei e instalar o baguncismo jurídico.

Ficamos assim: os gays querem casar? Que elejam então uma bancada de deputados comprometidos em levar adiante a idéia. Que façam uso do direito ao voto direto e democrático que possuem como cidadãos e consigam eleger uma bancada pró-"união homoafetiva". Aí poderão apresentar um projeto de emenda constitucional (PEC) alterando o Artigo 226 da Constituição Federal, que trata da regulamentação da família. Qualquer outro caminho que não seja este é ilegal e inconstitucional: mais que isso, é um GOLPE contra a democracia.

Quanto à pergunta que fiz no post, se os gays fazem sexo ou não, ainda continuo sem resposta.

Agora dá licença, que eu vou voltar pro meu clube de chá. Montesquieu está me esperando.

domingo, setembro 25, 2011

ONDE O ÓDIO SE ESCONDE

Noam Chomsky e Fidel Castro: todos os ditadores são iguais, mas alguns são mais iguais do que outros


Mandei meu texto A ESTUPIDEZ DOS "OUTROS SETEMBROS" para uma amiga minha de longa data, que mora no exterior. Trata-se de alguém meio de esquerda, como quase todo mundo. Enfim, uma pessoa normal, com opiniões coincidentes com as da maioria sobre a maioria dos assuntos. Ela me respondeu dizendo mais ou menos o seguinte:

1 - Meu texto padeceria de duas falhas, pois partiria do pressuposto de que quem lembra "outros setembros" está querendo apagar a lembrança do 11/9. Antes disso, haveria uma política da memória que estabelece quais fatos devem ser lembrados e quais devem ser esquecidos, pois todo ato de lembrança também seria um ato de esquecimento. E todo ato de esquecimento - uso as palavras dela - requer nos tornarmos invisíveis ao sofrimento de outrem. Citando literalmente: "Não argumento a favor do esquecimento do 11/9. Argumento, sim, em favor da lembrança de outros que padeceram e cujo sofrimento e tormento não são escutados, lembrados, ou até brought to justice. Você fala em termos excludentes, como aquela poesia de Cecília Meireles, OU ISSO OU AQUILO. Esse não é o meu ponto de vista - eu sou POR ISSO E POR AQUILO".

Também citando-a literalmente:

2 - Passemos agora ao segundo ponto que gostaria de levantar sobre o seu argumento - que também acho ser excludente. Você quer qualificar e diferenciar as mortes no WTC daquelas ocorridas no Chile ou com os palestinos. Mas, peraí, o problema do holocausto é do mundo inteiro, o problema do 11 de setembro é do mundo inteiro.... o problema do Chile e o dos palestinos são só deles mesmo?

E finalizou:

Não sei você, mas eu não me julgo capaz de qualificar a morte de qualquer povo, setor, ou partisans de acordo com o tipo de tragédia. Eu, sim, incluo 'todos os setembros' como tragédias da humanidade. Eu, sim, não digo que há tragédias e 'tragédias'. Não posso falar sobre todas as outras pessoas do mundo, mas, aparentemente, você coloca todos no mesmo saco e argumenta que isso não passa de maquinação de um bando de essencialistas do debate político. Mas, veja, ao argumentar isso, você mesmo entra no mesmo tipo de fragilidade analítica e, no fim das contas, só fortalece esse debate tragédia/tragédias, ele/nós, estados unidos/resto do mundo. Eu não faço parte desse debate e, portanto, não me inclua nele.

Depois de dizer que me imaginava "mais inteligente e preparado do que isso", ela arremata: Os 'outros setembros' não são estúpidos, Gustavo. Todos os setembros são validos, todos eles contam uma narrativa de dor, sofrimento e perda de vidas.

Respondi da seguinte maneira:

Bom (segue o nome de minha amiga), gostei de saber que você, segundo suas palavras, não é da turma do OU ISSO OU AQUILO, até porque as tragédias não são excludentes. Eu também sou do ISSO E AQUILO, como no poema. Mas nem por isso vou deixar de perceber quando tentam fazer uma manipulação da realidade com claros objetivos ideológicos. Vamos aos dois pontos que você mencionou:

1) Você diz que há uma "política de memória" que estabelece que fatos devem ser lembrados e quais devem ser esquecidos. Quem estabeleceu essa política? Se você está falando do 11/9, não vejo como lembrar os mortos no atentado pode significar o esquecimento de outras tragédias e de outros sofrimentos. A menos que você seja um Noam Chomsky ou um Tariq Ali da vida, autores que aliás cito, e que acham que vale tudo para atacar os EUA. Esse pessoal, é engraçado, faz exatamente aquilo que acusa os outros de fazer, tentando apagar (e é isso mesmo que querem) a memória do 11/9. É como se os mortos nas Torres Gêmeas e nos aviões tivessem alguma culpa a expiar pelo golpe de 73 no Chile ou por Sabra e Chatila. Enfim, uma baita pliantragem.

Sem falar que os episódios do Chile e de Sabra e Chatila são dois dos mais lembrados e repisados da História. O Pinochet, inclusive, foi sim, no final da vida, "brought to justice" (ao contrário do Fidel Castro, por exemplo). Nem por isso vou sair por aí dizendo que se deve punir alguns ditadores e perdoar outros. Portanto, o que se quer é apagar a lembrança do 11/9, sim (já que não conseguiram culpar os proprios EUA pelos atentados - até tentaram, mas não colou).

2) Quanto ao segundo ponto, acho que você não entendeu o que eu escrevi: qualquer exercício de comparação envolve senso de proporções. É evidente que as mortes no Chile ou no Líbano não pertencem apenas aos chilenos ou aos palestinos, assim como o Holocausto e os 100 milhões de mortos pelo comunismo não dizem respeito apenas aos judeus ou aos russos e chineses (ou seja: não estou tentando "qualificar" a morte de ninguém, é exatamente o oposto). Mas é preciso ter algum senso de proporções para avaliar a realidade. Allende foi em parte responsável pela própria queda, como sabe qualquer um que estudar um pouco o que foi o governo marxista da Unidade Popular, e o massacre dos palestinos ocorreu dentro do contexto da guerra civil libanesa. Nada disso se pode dizer do 9/11: as pessoas morreram sem saber por quê, de forma não-provocada. Isso não justifica nada, claro, mas ajuda a desmascarar associações como a que os antiamericanos de plantão fazem todo 11 de setembro.

Enfim, toda essa onda de "outros setembros" é coisa da esquerda tonta e antiamericana.

E, a título de P.S.:

Só mais uma coisa: você não acha curioso que os "outros setembros" citados são sempre fatos que tiveram o dedo dos EUA ou de Israel, como o golpe do Chile e o massacre no Líbano? Por que não citam, sei lá, o começo da Segunda Guerra Mundial, que também aconteceu num setembro? Afinal, todos os setembros são válidos, não é verdade?

Fiquei esperando uma resposta para essa minha última observação. Em vez de respondê-la, minha amiga reclamou do fato de que, segundo ela, "as pessoas tiram Chomsky de bode expiatório para tudo". Aproveitou para fazer um pequeno elogio de Chomsky ("é o cara que desperra da pós-adolescência branca, rica e universitária americana para a idéia de que há um mundo depois das fronteiras dos EUA") e, na frase seguinte, me critica por eu estar supostamente baseando "a esquerda do mundo todo" no Chomsky etc. Afirma que, ao criticar a esquerda e seus "outros setembros", eu estaria caindo na mesma ciranda maniqueísta etc. etc. (quanto a isso, não faço nenhuma questão em negar: quando se trata de liberdade versus tiranias, sou maniqueísta mesmo, e com muito orgulho). Pediu alguma citação ou referência em que Chomsky ou Tariq Ali tenham dito que querem esquecer o 11/09 e que ele deve ser apagado da memória, pois "não tem uma pessoa sã que diga isso". Afirmou ainda alguma coisa que não consegui entender direito sobre palhaçada e crianças pedindo para morrer, e que "os atentados de 9/11 não podem ser reduzidos simplesmente a uma política de memória - o que é necessário são estudos que ultrapassem o que a memória constrói e consigam revelar dados, narrativas, e explicações importantes sobre o mundo em que vivemos e sobre o que queremos fazer daqui para frente" etc. Finalmente, disse que não vai ficar discutindo minhas opiniões políticas, que seriam "essencialistas". (Fez, a propósito, uma associação entre minha afirmação sobre os "outros setembros" serem coisa de esquerda tonta antiamericana e o criacionismo que até agora também não consegui entender.)

Minha amiga certamente não entendeu, ou não quis entender, nada do que escrevi, o que não me surpreende (também se disse ocupada demais com a tese que está escrevendo na universidade para debater comigo, o que compreendo). Afinal, reconheço que é mesmo difícil para alguém com vagas inclinações esquerdistas (ou seja, alguém que, em geral, segue o mainstream) apreender um texto de quem não reza pela cartilha de um Noam Chomsky. Sem falar que ela parece não saber que o sujeito já chegou até a defender o regime genocida do Khmer Vermelho do Camboja, dizendo que as denúncias de massacres nos campos da morte eram invenções da imprensa burguesa... Hoje ele anda por aí abraçado a Hugo Chávez e a Fidel Castro, entre um livro e outro em que tudo o que faz é desviar a atenção do que aconteceu em 11 de setembro de 2001 para citar a Baía dos Porcos ou o Vietnã. Uma mente sã?

Certamente minha amiga não sabe, assim como 99% da humanidade, que todo o discurso dos "outros setembros", sob o pretexto de "lembrar outros sofrimentos", pretende, na verdade, relativizar, minimizar e anular a memória do que aconteceu nos EUA naquela manhã de terça-feira uma década atrás. Ou seja: não visa a lembrar, mas esquecer. E faz isso ao CONTRAPOR à lembrança do horror nas Torres Gêmas os setembros cultuados pela esquerda, como se uma tragédia relativizasse, minimizasse ou anulasse outra. Certamente, ela não sabe que isso se chama propaganda e desinformação - coisa que a esquerda, chomskiana ou não, é useira e vezeira em fazer.

Uma coisa é lembrar outros massacres e outras tragédias; outra coisa é tentar CONTRAPOR esses massacres ao que aconteceu nos EUA dez anos atrás. E é EXATAMENTE ISSO o que está por trás da discurseira dos "outros setembros". Mais uma vez: se o objetivo é lembrar, e não esquecer, por que não lembram do começo da II Guerra? Ou do massacre dos atletas israelenses em Munique, em 1972, cometido por um grupo terrorista que se chamava, não por acaso, Setembro Negro?

A resposta é óbvia e, como tudo que é óbvio, precisa ser explicado nestes dias: o começo da II Guerra e o massacre de Munique não servem aos objetivos propagandísticos dos antiamericanos. A queda de Allende no Chile, ou a chacina dos palestinos, sim. Afinal, o governo dos EUA de então apoiou o golpe de Pinochet, e o massacre de Sabra e Chatila ocorreu sob as barbas das tropas israelenses - e Israel é aliado dos EUA, entenderam? Logo, o 11/9 viria como uma espécie de "vingança" contra atos passados dos EUA, que estariam, assim, "colhendo o que plantaram" (como se os mortos tivessem alguma coisa a ver com isso...). Não se trata, portanto, de lembrar tragédias por serem tragédias, por constituírem momentos de sofrimento e dor para toda a humanidade, como faria qualquer pessoa com um mínimo de decência, mas de instrumentalizá-las, de utilizá-las com um fim político-ideológico. Mesmo que a tragédia em questão não possa ser comparada, em termos de contexto e de dimensão, ao 11/9 (sobretudo no caso do Chile). Em outras palavras: uma canalhice, uma imoralidade total.

Minha amiga não é - isso posso dizer com certeza - uma fanática, tampouco uma radical antiamericana. Não é uma militante de esquerda, embora tenha lá suas simpatias mais ou menos secretas (ainda traz um certo ranço petista, mas tudo bem). Até onde sei, é uma pessoa bastante razoável; desconfio mesmo que nem seja particularmente politizada. É somente alguém inteligente que se deixou levar por um discurso vigarista, que repete provavelmente sem pensar, como a maioria dos que o repetem ad nauseam, mecanicamente. Acredito em sua sinceridade quando diz que todos os setembros são iguais e constituem tragédias da humanidade. Mas, infelizmente, ela não se deu conta da manipulação ideológica de que está, sem querer e sem saber, participando. E é aí que está a eficácia desse tipo de propaganda. Ela é eficaz não pelo que diz abertamente, mas pelo que NÃO diz, apenas sugere ou estimula, apelando muitas vezes para a ingenuidade e a boa-fé das pessoas.

O que está por trás do discurso dos "outros setembros"? O ódio, pura e simplesmente. O ódio aos EUA e a tudo que ele representa. Sobretudo o ódio à liberdade e à democracia. Mas é claro que os antiamericanos que o engendraram não podem explicitar esse ódio. Precisam apresentá-lo com outra roupagem, desidratada, liofilizada, embalada e envernizada, como se fosse o contrário do que é. Mas basta cavar um pouco e a verdade vem à tona: não engoliram o fato de que os EUA (o mundo civilizado, na verdade) foi alvo de um ataque abjeto, e portanto buscam pretextos para continuar alimentando essa mentalidade odienta. E os "outros setembros" caem como uma luva para esse objetivo, levando muita gente - gente inteligente, racional e moderada - a referendar essa impostura.

Minha amiga pode achar que não faz parte do debate e pedir que eu não a inclua nele. Tarde demais. Ao ter referendado o discurso dos "outros setembros", ela já se incluiu. Só me resta tentar ajudá-la a sair desse atoleiro.

terça-feira, setembro 20, 2011

É PRECISO DAR NOMES AOS BOIS. E O NOME DA CORRUPÇÃO É DILMA ROUSSEFF!

Desde o último dia 7 de setembro, protestos contra a corrupção mais ou menos espontâneos têm ocorrido em todo o país. Em diversos lugares, cidadãos cansados de serem feitos de idiotas pelas "otoridades" resolveram sair às ruas e protestar, sem bandeiras partidárias, contra a ladroagem que impera no Planalto. Já está sendo organizado um protesto nacional em várias cidades para o próximo dia 12 de outubro.

A notícia em si é animadora, e parece demonstrar que parte da população brasileira, diante do silêncio cúmplice e covarde da oposição (?), decidiu responder a pergunta do correspondente do jornal espanhol El Pais, Juan Arias ("Por que não reagem?"), e finalmente despertou de anos de letargia. Já estava mais do que na hora de sacudir o marasmo e o conformismo e dizer um basta à roubalheira, à lambança e à cafajestagem, que nos últimos anos atingiram níveis de descaramento sem precedentes. É algo importante, também, por romper o monopólio das ruas pela esquerda, que dura, no Brasil, uns quarenta anos, no mínimo (pela primeira vez, não vejo bandeiras vermelhas numa manifestação política). Talvez por isso, alguns veículos de imprensa, principalmente do PIG (Partido da Imprensa Governista) não gostaram da novidade. Quem sabe se os manifestantes quebrassem algumas vitrines de lojas e ateassem fogo à bandeira dos EUA, eles vissem a coisa com outros olhos... Enfim, trata-se de algo, certamente, bem-vindo. Mas há uma pegadinha aí.

A pegadinha consiste no fato de que, até agora, não se deu nome aos bois. Fala-se em corrupção em termos genéricos e abstratos, de forma vaga, não se ligando a coisa a partidos ou a pessoas. Tirando algumas vagas e tímidas citações a Lula e a Zé Dirceu, não vi nenhum manifestante defender claramente a punição de fulano ou beltrano. Não vi ninguém, por exemplo, denunciar a farsa que é o PAC, ou o escoadouro de dinheiro público que serão as obras para a Copa do Mundo, ou o festival de absurdos que virou o MEC sob o inacreditável Fernando Haddad (que até "kit-gay" já quis enfiar goela abaixo de criancinhas nas escolas). Nessas condições, as marchas contra a corrupção correm o risco de virar algo parecido com uma "marcha contra a violência" ou uma "marcha pela paz" - ou seja: algo até bem-intencionado, mas absolutamente inútil. Ou, então, de cair na generalização resignada de que "é assim mesmo", "somos todos corruptos", "não tem jeito" etc.

É preciso deixar bem claro: a corrupção, no Brasil, tem cara, nome e sobrenome. E a corrupção na atualidade se chama Dilma Vana Rousseff. Assim como, até ontem, atendia pelo nome de Luiz Inácio Lula da Silva, o Apedeuta.

Que fique claro que o governo Dilma Rousseff não passa de uma continuação do mandarinato lulo-petista, que a "presidenta" durona e competente é apenas um mito criado pelos mesmos que criaram o mito Lula. Nada mais cínico, nesse sentido, do que a idéia da "faxina" nos ministérios que estaria sendo feita por Dilma, o que não passa de mais uma invenção da imprensa companheira (invenção, aliás, negada pela própria Dilma). Vários ministros já caíram e outros, provavelmente cairão, mas é como se Dilma, que os nomeou, não tivesse nada a ver com o esquema.

Já vi esse filme. Assistimos, durante oito anos, à comédia do presidente que, diante dos descalabros planejados na sala ao lado, não sabia de nada, não via nada (isso foi antes de se dizer “traído” e de descobrir que “todos fazem igual”). Agora temos a presidente-faxineira (a gerente ultra-competente, pelo visto, não cola mais, assim como a lenda da presidente "intelectual" que falsificou o próprio currículo e é incapaz de lembrar o título e o autor do último livro que leu). Blindada, com certeza. Ninguém se dá conta de que a corrupção é a própria alma do governo Dilma, e que qualquer um que for indicado para participar desse governo deve ser colocado de antemão sob suspeita.

Pior: há o risco de a causa ser sequestrada pelos mesmos que deveriam estar na berlinda. Vamos lembrar. A "luta contra a corrupção" ou pela "ética na política" sempre foi uma bandeira da esquerda no Brasil. Foi no impeachment de Collor, em 92, que o PT se fortaleceu e surgiu, de fato, para a política nacional (antes, era o partido dos sindicalistas barbudos e socialistas, para quem combater a corrupção era coisa da pequena burguesia moralista). Depois, na CPI dos anões e em todas as outras que se seguiram, os petistas e seus clones esquerdistas emergiram como os vigilantes da moral e dos bons costumes, os únicos bons e puros em meio a um mar de ladrões.

No decorrer dos anos, o partido da estrela vermelha se especializou em destruir reputações alheias enquanto erguia seu próprio mito, e tratava de preparar o caminho para o assalto (literal e figurado) ao Estado. Tudo isso apenas como um instrumento para chegar ao poder: uma vez alcançado o objetivo, os companheiros trataram logo de jogar a bandeira da ética na lata do lixo, pois não mais lhes servia. Hoje, a UNE, que esteve à frente dos protestos vinte anos atrás, virou uma repartição chapa-branca, e dedica-se a fazer "protestos a favor" (não me surpreenderia, aliás, se organizasse um ato "contra a corrupção"...). O líder dos estudantes “carapintadas” que saíram às ruas pedindo o impeachment de Collor, o ex-prefeito de Nova Iguaçu Lindbergh Farias, é um dos frequentadores do cafofo de Zé Dirceu em Brasília, e o partido das vestais está de braços dados com Maluf, Sarney e Collor. (E não venham me dizer que a Rainha Muda é "prisioneira" da base alugada ou coisa parecida: ninguém é prisioneiro porque quer.)

Collor só caiu porque os brasileiros foram às ruas contra ele, Collor, e não contra a "corrupção" (nas passeatas, o grito era "Fora Collor", não "Fora Corrupção"). Enquanto os que marcham não se derem conta que Dilma Rousseff é apenas a gerente da roubalheira, insistindo em não ligar o criador à criatura (e há mesmo, nos protestos, quem acredite piamente que ela vai fazer a tal "faxina"), nada vai acontecer. Até que tomem consciência de que é preciso dar nomes aos bois e às vacas, vão ficar enxugando gelo e correndo atrás do próprio rabo, pedindo para serem enganados de novo.

Fora Dilma! Fora PT!

sábado, setembro 17, 2011

É POR ESTAS E OUTRAS QUE DEFENDO ISRAEL

Juro que um dia ainda vou descobrir que estranho mecanismo psíquico leva algumas pessoas a, voluntariamente, passarem vergonha. Por exemplo, entrando em blogs alheios para postar cretinices as mais absurdas na área de comentários, mostrando-se em toda sua empáfia e ignorância.

Um bestalhão desses aí achou que poderia responder a meu post "UM ANO DEPOIS, O DESMONTE DE UMA FARSA", sobre a patuscada monumental, desmascarada agora por um relatório da própria ONU, montada no ano passado por uma ONG "humanitária" mancomunada com os fanáticos terroristas do Hamas para provocar uma cena de sangue que deixasse Israel mal na fita. Do texto mesmo, o dito-cujo não diz uma palavra. Em vez disso, repete um punhado de clichês antiisraelenses e acaba revelando seu ódio - atenção - contra um povo. Vejam o que despejou aqui o energúmeno, que se esconde no anonimato:

Mais uma vez entra em cena um personagem, que ignora historia e que despeja impropérios os quais ignora seu contexto.

Imagino que o tal "personagem" a que se refere o autor da frase acima seja eu. Digo "imagino" porque a construção torturada da oração ("despeja impropérios os quais ignora seu contexto"...) permite diferentes interpretações. O autor do enunciado diz que ignoro a História, mas se mostra totalmente ignorante em análise sintática. Tanto que desconhece a expressão "cujo" (dica: "impropérios cujo contexto ignora" fica melhor).

O que os palestinos tem ?? nada... um povo que foi tirado de sua terra,de sua historia por decisão de terceiros ( ONU ).

Eu vou dizer o que os palestinos têm (e não "tem", a menos que o verbo venha no singular): uma liderança irresponsável e demagógica na Cisjordânia, que já recusou várias ofertas de paz desde o tempo de Arafat, e um governo terrorista na Faixa de Gaza (o Hamas), que se recusa a reconhecer o direito de Israel existir e faz de tudo para sabotar o processo de paz na região. Para tanto, opõe-se à criação do Estado palestino, conforme os acordos de Oslo de 1993 (surpreso?).

Outra coisa: gostaria de saber que decisão recente da ONU foi favorável aos israelenses e contrária aos palestinos. Digamos, nos últimos quinze anos. Estou curioso.

Se o leitor está se referindo à decisão da ONU que criou o Estado de Israel, em 1947, a idéia de Estado palestino (e mesmo de "povo palestino") era inexistente à época, só se impondo depois da derrota árabe na Guerra dos Seis Dias (1967). Até lá, e mesmo depois, adivinhe de onde partiu a maior oposição à idéia de um Estado palestino: dos países... árabes (Egito e Síria, principalmente).

Por que estou dizendo isso? Porque ignoro a História do Oriente Médio, claro.

Uma nação sem território, se isso não fosse o bastante, um povo privado dos mais básicos direitos como alimentação e remédios.

O território já está definido desde 93. Falta apenas o Hamas concordar com a existência dos dois estados, convivendo lado a lado. Para isso, só precisa fazer duas coisas: reconhecer a existência do outro lado e renunciar ao terrorismo (assim como fez a Fatah de Arafat). Quando farão isso?

Quanto ao povo palestino estar privado dos direitos à alimentação, remédios etc., Israel se ofereceu para fazer chegar a "ajuda humanitária" que a ONG IHH afirmava trazer aos palestinos em Gaza. O bloqueio também existia pelo lado egípcio, mas jamais se leu ou ouviu um pio sobre isso. Por que será?

Diante do terrorismo de Israel o terrorismo do Hamas é como um sussurro que responde a um grito.

Nem sei se vale a pena comentar isso... Mas vamos lá, didaticamente: o Hamas prometeu destruir Israel, varrer o país do mapa, e só não mata mais civis por causa da vigilância israelense. Seu objetivo é instalar um Estado teocrático islâmico, à semelhança do Irã. Em 2007, o grupo deu um golpe em Gaza e massacrou seus rivais da Fatah. Dezenas foram mortos a tiros e degolados. Parece um sussuro?

Israel sim é uma nação terrorista.

Há governos que praticam o terrorismo. Há, inclusive, Estados terroristas. Mas não existe "nação terrorista". O Irã, por exemplo, é um Estado patrocinador do terrorismo, mas a nação iraniana, o povo iraniano, não. Nação é uma coisa; Estado, é outra. A identificação entre os dois como se fosse uma coisa só é algo típico de fascistas, como os criminosos do Hamas e do Hezbollah. Aqui o autor da frase acima revelou sua verdadeira face antissemita - considera uma nação inteira, no caso o povo judeu, como "terrorista" (o qual, portanto, deve ser eliminado).

Sem falar que a frase acima, no contexto em que está colocada, dá a entender que o Hamas não seria terrorista, e que esse epíteto caberia, em vez disso, a Israel. Algo assim como dizer que a Al-Qaeda é um clube de caridade, e os EUA, um império totalitário e fundamentalista... Se alguém conhece algo mais cretino do que isso, por favor escreva para o blog.

Páro por aqui. Mais não digo, para poupar o anônimo autor do comentário de maior humilhação. Mas é só pedir de novo, e terei prazer em expô-lo.

sexta-feira, setembro 16, 2011

A ESTUPIDEZ DOS "OUTROS SETEMBROS"

Já é uma tradição: todo 11 de setembro, enquanto a humanidade, compungida, lembra o horror indizível das Torres Gêmeas desabando e levando consigo milhares de seres humanos transformados em pó no maior ato terrorista da História, um bando de zé-manés, leitores de Noam Chomsky e Tariq Ali, aproveita a ocasião para lembrar "outros setembros". Certamente incomodados com as homenagens às vítimas de um ataque cruel e desumano, perpetrado por fanáticos, arranjam um jeito, mesmo assim, de destilar sua raiva contra a maior democracia do mundo, buscando contrapor, ao 11 de setembro "dos americanos", uma data "alternativa": o 11 de setembro de 1973 (queda do governo de Allende no Chile), ou o setembro de 1982 em Beirute (massacre dos refugiados palestinos em Sabra e Chatila). O objetivo é contrapor a memória de outros fatos ao 11 de setembro de 2001, a "data deles", a fim de minimizá-la e abafá-la, reduzindo-a à insignificância.

Trata-se de uma verdadeira obra-prima de desviacionismo e vigarice intelectual, digna dos manuais de desinformação e propaganda da época do antigo KGB, e que precisa ser denunciada com toda força. Em primeiro lugar, o 11 de setembro de 2001 não é "dos americanos" (alguns preferem dizer "estadunidenses"). É uma data da humanidade. Assim como Auschwitz e o Holocausto não dizem respeito somente aos judeus, e o genocidio em Ruanda não é um assunto apenas dos ruandeses. Morreram, no WTC e no Pentágono, além do vôo que se espatifou na Pensilvânia, cerca de 3 mil pessoas, de mais de 50 nacionalidades (inclusive brasileiros). Logo, o atentado terrorista não atingiu apenas um país, mas foi uma ofensa a todo o mundo civilizado. Mesmo que só tivessem morrido americanos, o ataque foi uma barbaridade sem precedentes, que só pode causar repulsa a pessoas decentes. Rotular o 11/09 como uma data "dos americanos", como se dissesse respeito tão-somente aos EUA ou ao governo de George W. Bush, além de ser uma obscenidade, não passa, portanto, do antiamericanismo mais bocó, sequer disfarçado.

Ao tentarem contrapor à lembrança dos ataques fatos como a queda de Allende e o massacre de Sabra e Chatila, como se fossem uma espécie de "anti-11/09", os antiamericanos de plantão incorrem na total delinquência e na completa cretinice. Isso porque tais memórias não são, em absoluto, excludentes. A menos que se considere as pessoas esmagadas e queimadas vivas nas Torres Gêmeas como diretamente responsáveis pelo golpe militar do general Pinochet, 28 anos antes, ou pela chacina de civis palestinos levada a cabo pelos milicianos falangistas libaneses da família Gemayel, não há qualquer razão lógica e, muito menos, moral, para qualquer tipo de associação entre um e outro fato. Todos foram tragédias - a de 2001, bem maior em dimensões e consequências. Eu poderia lembrar, por exemplo, o 5 de setembro de 1972 (data do massacre dos atletas israelenses nos Jogos Olímpicos de Munique, executado por um grupo terrorista palestino que se intitulava, não por acaso, Setembro Negro) e isso não mudaria absolutamente nada o que sinto em relação a outras tragédias do tipo, como a do Chile ou a do Líbano. Não sei se os que ficam mordidos com a lembrança do 11 de setembro "dos americanos" podem dizer o mesmo. Acho que não.

Além do fato de serem tragédias humanas, não há termo de comparação entre o que aconteceu nos EUA e o que houve nas ruas de Santiago ou de Beirute. O golpe de 11 de setembro de 1973 no Chile foi a culminação de um longo processo de radicalização política, iniciado três anos antes e instigado pelo próprio governo marxista de Salvador Allende. Por mais terrível que tenha sido o golpe (e foi terrível, com milhares de mortes, inclusive a do próprio Allende, morto dentro do palácio presidencial com seus guarda-costas), a verdade inegável é que ele esteve longe de ter sido não-provocado, ao contrário dos ataques da Al-Qaeda. Diferentemente destes, tratou-se do desfecho sangrento de uma quase guerra civil, em que ambos os lados – e não somente os militares – conspiravam contra a democracia e em favor de um golpe de Estado. No final, venceu a direita – e a esquerda, derrotada, desde então passou a se dizer democrata, como escreveu o cientista político Carlos Rangel. (E agora cobra equivalência entre os dois 11 de setembros, como se não tivesse sua parcela de culpa pelo ocorrido, eu diria.)

O golpe do Chile e o massacre de Sabra e Chatila foram episódios, respectivamente, da Guerra Fria e da Guerra Civil Libanesa. Evidentemente, nenhuma das vítimas merecia morrer. Terríveis como foram, com sua cota de vítimas inocentes, não se pode compará-los, contudo, ao 11 de setembro de 2001, quando milhares de pessoas foram trucidadas, sem saber por que, por um inimigo literalmente caído do céu. Pretender minimizar seu impacto, apelando para a lembrança de "outros setembros", é coisa de verdadeiros aleijões morais, de gente sem o menor escrúpulo e sem a menor consciência, que acredita que uma desgraça anula outra - ou pior: que uma justifica outra.

Na verdade, o que incomoda muita gente no 11 de setembro é que não podem dizer, como estão acostumados a fazer, que os EUA foram o lado agressor. É que têm que admitir, contra a vontade, que o grande satã imperialista foi vítima de uma agressão covarde e canalha. Essas pessoas se alimentam do ódio, pura e simplesmente, que sentem por aquilo que muitas delas invejam em segredo. Elas não dizem, e jamais vão admitir um dia, que se regozijaram com as cenas de morte e destruição em Manhattan dez anos atrás. São pessoas como o ex-frade Leonardo Boff, que lamentou – lamentou! – que tivessem sido "apenas" dois aviões os que atingiram o WTC: "quisera que tivessem sido 25"... Enfim, são uns verdadeiros humanistas, pessoas maravilhosas, gente do bem e preocupada com o bem-estar da humanidade.

domingo, setembro 11, 2011

MEU TEXTO SOBRE O 11 DE SETEMBRO

Se, depois deste texto, eu sair à rua e não for linchado por uma multidão de petistas enfurecidos e manifestantes anti-EUA, anti-sistema e anti-tudo, vou me dar por feliz. Mas a verdade é que não posso deixar de escrever o que se segue, por um dever de consciência. Como li outro dia: o segredo de aborrecer é dizer toda a verdade.

Hoje é dia 11 de setembro de 2011. Exatamente dez anos atrás, o mundo assistia a cenas que, já se tornou um clichê repetir, marcaram a História. Dez anos e milhares de mortos e palavras depois, o principal responsável pelos atentados às Torres Gêmeas e ao Pentágono está morto e o mundo, definitivamente, mudou. Muitos acham que para pior.

Discordo dessa conclusão. O mundo não ficou pior. Pelo contrário: pelo menos no item segurança, as melhoras foram consideráveis.

Graças aos EUA, a ameaça representada por grupos como a Al-Qaeda, embora ainda continue a existir, diminuiu bastante. Também graças aos EUA, milhões de afegãos e iraquianos podem, pela primeira vez em mais de 5 mil anos de História, respirar outros ares que não os da opressão mais brutal. Não dá para negar que isso foi uma mudança e tanto. Do mesmo modo, não é porque a consciência do perigo fosse menor antes do 11/09 que a segurança tenha diminuído. Na verdade, ocorreu o contrário.

Não é assim, porém, que entende grande parte do que se convencionou chamar de opinião pública mundial (que nada mais é do que uma invenção da grande imprensa). Se um marciano descesse hoje na Terra, e assistisse a alguns documentários e a reportagens especiais sobre os ataques, ou se lesse a pilha de livros e artigos na grande mídia que saíram sobre o assunto, ficaria com a nítida impressão de que o autor da atrocidade não foi Osama Bin Laden, mas... George W. Bush!

Todos contra Bush

Provavelmente, o marciano deixaria o planeta com a impressão de que o ex-presidente dos EUA, e não o fundamentalismo islamita, é o maior inimigo da humanidade desde o fim do comunismo soviético. Aliás, essa expressão - fundamentalismo islamita - raramente aparece no noticiário. Quando muito, os ataques são mostrados como obra de um bando de fanáticos, que não representariam de maneira alguma, longe disso, a maravilhosa religião islâmica. Em contrapartida, sobram acusações ao "imperialismo" dos EUA etc. Ao mesmo tempo, a reação norte-americana é considerada quase unanimemente como expressão de uma "cultura" - ocidental, cristã e majoritariamente "branca" - intrinsecamente intolerante, da qual Bush seria o maior expoente.

Há pouco, assisti a uma reportagem na Globonews sobre o 11 de setembro. O autor da matéria foi a Crawford, no Texas, onde Bush tem um rancho. Em dado momento, seu guia, um militante anti-republicano, parou em frente ao rancho e abriu uma faixa anti-Bush em que se lia: "O pior presidente da História dos EUA" ou algo assim.

Fiquei um tempo meditando sobre o significado daquilo. Não demorei para chegar à seguinte conclusão: Bush pode ter sido um péssimo presidente dos EUA. Pode até mesmo ter sido o pior presidente da história dos EUA. Mas uma coisa mesmo seus maiores detratores terão de admitir: ele foi o melhor presidente que o Iraque e o Afeganistão já tiveram. Alguém pode negar?

Não é preciso ser bushista ou membro do Tea Party para reconhecer que, como presidente, Bush foi um bom comandante militar. Ele foi um presidente de guerra, e deixou isso bem claro depois do 11 de setembro. Não seria fora de propósito compará-lo, nesse aspecto, a Franklin D. Roosevelt. Assim como Roosevelt, Bush liderou a reação do país depois deste ter sido atacado. Assim como Roosevelt, ele comandou os EUA e parte do mundo contra uma ameaça à democracia. E, assim como Roosevelt, ele derrubou dois ditadores. Mas FDR era do Partido Democrata, amigo e querido do New York Times e da esquerda chique da Costa Leste. Já Bush é um roceiro do Texas, e republicano da gema.

O curioso é que os detratores do Junior não chegaram ainda a um acordo sobre quem ele é. Vale tudo contra Bush, desde chamá-lo de despreparado e de negligente por ter ignorado informes do FBI de que Bin Laden estava planejando atacar os EUA até dizer que saiu da cabeça dele a idéia de derrubar as Torres Gêmeas e atacar o Pentágono para começar uma guerra para tomar o petróleo do Oriente Médio. Os documentários da escola Michael Moore de delinqüência intelectual gostam de focalizar a cara de paisagem de Bush ao ser informado dos ataques, com aquela expressão meio preocupada, meio apalermada num jardim-de-infância na Flórida. Querem com isso transmitir a imagem de um presidente fraco e idiota, que, no momento de maior perigo, não soube o que fazer. Ao mesmo tempo, antes mesmo das torres virem abaixo, teorias da conspiração pululavam na internet acusando - adivinhem só! - o governo Bush de ter planejado os ataques como um pretexto para iniciar uma guerra ao Islã e tomar os poços de petróleo do Oriente Médio...

(Da minha parte, se o motivo da guerra foi o petróleo, espero sinceramente que as multinacionais americanas ganhem muito dinheiro explorando as reservas do Iraque. Desejo que lucrem bastante, e que tragam benefícios para o país, ajudando a reconstruir sua infra-estrutura abalada por décadas de descalabro totalitário. O petróleo iraquiano está melhor nas mãos dos americanos do que nas de Saddam Hussein. Parece, porém, que isso vai demorar um pouco para acontecer - as empresas petrolíferas americanas só tiveram, até agora, prejuízo com a invasão do Iraque, e muitas foram mesmo contra a derrubada de Saddam.)

Tamanha era a raiva dos esquerdinhas contra o Bush Junior que muitos nem se deram conta da contradição em que acabaram caindo. Numa hora, Bush era apresentado como um boboca e inepto que ignorou relatórios de segurança e foi incapaz de defender seu país na hora mais necessária; noutra, era mostrado como um gênio maquiavélico, o mentor do maior ataque terrorista da História. Até hoje não sei se ele era um despreparado ou se foi ele, Bush, quem ordenou os ataques...

Tendo ficado claro, com a confissão de Bin Ladin, que foi ele, e não a CIA ou o Mossad israelense, quem planejou e executou os atentados, os devotos da seita antiamericana tiveram de buscar outra forma de acusar a vítima. Julgaram ter encontrado o argumento perfeito na idéia (essencialmente imoral) de que os EUA estavam, com os ataques,"colhendo o que plantaram", haja vista que Bin Laden tinha lutado contra os soviéticos no Afeganistão durante os anos 80. Esqueceram apenas de dizer que ele não foi o único: muitos outros guerrilheiros mujahedin que combateram o exército vermelho nas montanhas afegãs receberam dinheiro, armas e treinamento da CIA, e nem por isso se tornaram jihadistas e saíram atirando aviões contra prédios por aí.

Iraque: uma guerra necessária

Existe, claro, a guerra no Iraque. Aqui é que se abriu a verdadeira frente de batalha contra Bush. Os EUA invadiram o Iraque atrás das armas de destruição em massa que o país possuiria e porque Saddam Hussein patrocinava o terrorismo. Nenhum desses motivos, argumentam os críticos da guerra, mostrou-se verdadeiro. Tudo não teria passado, assim, de uma loucura, uma aventura dos neoconservadores que fizeram a cabeça do Bush.

Vamos devagar com o andor. Em primeiro lugar, quanto as armas de destruição em massa, vamos admitir que Bush mentiu ao dizer que sabia que o Iraque as tinha. Nesse caso, será forçoso reconhecer que os que se opuseram à guerra também mentiram, ao dizer que sabiam que Saddam não tinha as tais armas proibidas. Na verdade, ninguém sabia. E isso porque Saddam contava com o medo de que elas existissem, usando-o como instrumento de chantagem.

Na realidade, o que houve até março de 2003 foi o desfecho de um jogo perigoso, que durou mais de uma década, e no qual o ditador iraquiano brincou de gato-e-rato com a comunidade internacional, negando que tinha as tais armas, ao mesmo tempo em que impedia os inspetores da AIEA de fiscalizarem seus arsenais. De 1990 a 2003, foram 17 resoluções da ONU descumpridas sistematicamente pelo tirano de Bagdá, que comandava, portanto, um regime fora-da-lei. Mais do que isso: um regime que já utilizara armas químicas contra sua própria população (no caso, gás mostarda, usado para matar 5 mil curdos em 1988). Era, portanto, um tirano assassino que ameaçava o mundo e escarnecia do Direito e da ONU - mesma ONU que se recusou a levar adiante a intervenção no Iraque, com base, ironicamente, no "respeito à lei internacional". Saddam contava com a tática do medo para manter o mundo paralisado e garantir sua própria sobrevivência. Para seu azar, ele teve pela frente um presidente dos EUA que não aceitou mais fazer esse joguinho. Saddam e Bush se encararam para ver quem piscava primeiro. Bush não piscou. Saddam caiu.

Suponhamos que Saddam tivesse as tais armas proibidas e as usasse contra as forças invasoras. Nesse caso, ninguém poderia dizer que Bush não teve razão ao ordenar a intervenção, e ficaria claro que os inspetores da AIEA tinham sido feitos de tolos. Felizmente, isso não aconteceu, pois o resultado seria milhares ou milhões de mortes. Em vez disso, foi revelado que as armas eram um blefe de Saddam. E o mundo se livrou de um tirano que o chantageava.

A outra justificativa para intervir no Iraque - o apoio de Saddam ao terrorismo - também está longe de ter sido uma fantasia. É certo que Saddam Hussein não tinha relação com a Al-Qaeda, assim como Kadafi e Kim Jong-il também não tinham. Mas é um fato irrefutável que o regime iraquiano do partido Baath (o mesmo que governa a Síria do carrasco Bashar al-Assad) patrocinava diversos grupos terroristas palestinos, como o de Abu Nidal, simplesmente o terrorista mais procurado do mundo nos anos 80. Até pouco antes de cair, Saddam distribuía pacotes de dinheiro à família de cada homem-bomba palestino morto em ação, como uma forma de encorajar mais atentados.

Na esteira da guerra ao terrorismo islamita deflagrada após os atentados de 11 de setembro, permitir que um regime como o de Saddam Hussein sobrevivesse era mais que uma temeridade: era uma demonstração inaceitável de fraqueza. Derrubá-lo e instalar a democracia em Bagdá, além de um dever moral, era uma necessidade militar e psicológica. Uma questão de segurança. Algo necessário, enfim.

Na falta de algo mais consistente a favor da permanência do statu quo ante, sobra o argumento econômico. A guerra, além de "inútil" e "ilegal" (como se manter ditadores no poder, e não derrubá-los, fosse a coisa legal a fazer) custou uma fortuna etc. e tal. Estou curioso para saber a opinião de um iraquiano, que pela primeira vez na História pode falar o que quer sem o medo de ser preso, torturado e morto, sobre esse tipo de argumento dos pacifistas. Gostaria de saber o que ele pensa do fato de que derrubar Saddam Hussein foi um erro, pois afinal custou muito caro...

Aliás, é curioso: se os EUA só tiveram prejuízo com a guerra no Iraque, por que diabos a fizeram? Afinal, tudo não teria sido apenas um pretexto para lucrar com a exploração do petróleo etc.? Parece que esses americanos não são tão maus quanto dizem. Tanto que, vejam só, eles aceitam até perder dinheiro para livrar o mundo de um bandidão como Saddam Hussein...

"Ah mas eles foram aliados um dia; Washington inclusive apoiou o regime iraquiano na guerra Irã-Iraque" etc. Sim, e as democracias ocidentais se aliaram a Stálin durante a Segunda Guerra Mundial. Próximo!

Mentes colonizadas

Toda a gritaria contra a "guerra do Bush", na realidade, não passa de uma cortina de fumaça, de mero pretexto para atacar os EUA. Conforme já escrevi aqui várias vezes, a pátria de Jefferson e de Lincoln estará sempre na berlinda, não importa o que faça ou deixe de fazer - antes, era por apoiar ditaduras, como as da América Latina; hoje, é por as derrubar. Os que se opuseram à derrubada de Saddam são os mesmos que condenaram a derrubada do Taliban no Afeganistão. São os noams chomskys e os freis bettos da vida, aqueles que se regozijaram, em público ou intimamente, pelos ataques ao coração da democracia e que vivem de odiar os EUA e Israel. Desonestos até a medula, usam e abusam de imagens de crianças feridas e de fotos de prisioneiros torturados para denunciar a guerra "ilegal" e "imoral", quando defendem regimes que massacram civis inocentes e torturam até a morte prisioneiros políticos. Lobos em pele de cordeiro, estão se lixando para os direitos humanos.

"Mas, se os EUA estão mesmo interessados em democracia, por que não derrubam os regimes da Arábia Saudita ou do Paquistão?", é a pergunta, feita com ar meio cândido, meio malandro, pelo antiamericano de plantão. Há várias razões, mas vou me concentrar apenas nas mais óbvias: A Arábia Saudita é uma monarquia teocrática fundamentalista, mas, ao contrário do Iraque de Saddam Hussein, não chantageia o mundo com a carta das armas de destruição em massa, nem se dedica a patrocinar ataques terroristas contra os EUA (pelo contrário, Bin Laden, que era cidadão saudita, foi condenado à morte no país). O Paquistão, uma ditadura corrupta, é um balaio de gatos que sempre fez jogo duplo, oficialmente aliado dos EUA mas secretamente aliado do Talibã, com militares ligados ao terrorismo islamita (tanto que foi lá que Bin laden foi morto). Além do mais, o país possui armas nucleares, o que desencoraja qualquer intervenção. De qualquer maneira, são, pelo menos formalmente, aliados na luta contra o terrorismo islamita, e, exatamente por isso, existe a esperança de que venham um dia a ser estados seculares e democráticos. O mesmo não podia ser dito do Afeganistão sob o Talibã e do Iraque sob Saddam Hussein.

O que está aí em cima dá bem uma idéia de por quê, ou por quem, Bush é (até hoje) tão odiado e os EUA (desde sempre), tão vilipendiados. Afinal, Bush derrubou duas das piores ditaduras de todos os tempos - uma das quais, ex-aliada da URSS, cuja morte tantos orfãos ainda choram. Pior que isso: ele usou da força para combater os terroristas, quando os bem-pensantes da esquerda bocó prefeririam que ele os chamasse para beber uma cerveja. Mas o pior de tudo, o maior dos crimes de Bush, na opinião dessa gente, é o seguinte: ele é cristão, e fervoroso. Isso não, os militantes politicamente corretos não podem perdoar! Onde é que já se viu, um presidente dos EUA que reza? Só se for no Irã: aí sim, isso é algo correto e aceitável. (E quem disser que não, é um agente da dominação imperialista...)

Outra coisa que os esquerdinhas não conseguem nem vão conseguir um dia engolir: foi o cowboy simplório do Texas, com QI 81, e não algum intelectual refinado da Nova Inglaterra, como Kennedy, ou um produto de marketing multirracial e politicamente correto, como Barack Obama, quem fez o que ele fez na arena internacional. Aliás, Bush pode até ser um caipira abobalhado e idiota, mas tanto fez na área de seguranca que Obama, o queridinho da esquerda, segue seus passos... (E nem dá para usar o argumento do sujeito ignorante que violenta o idioma em seus discursos. Afinal, disso nós, brasileiros, entendemos bastante.)

Em resumo, em 11/09/2001 os EUA foram vítimas de uma agressão covarde e terrível, não-provocada, por parte de um inimigo que não respeita nenhuma noção de humanidade. E, desde então, reagiram valentemente, a fim de tornar o mundo mais seguro e livre, na medida do possível, de tiranos e terroristas. Graças à ação enérgica e desassombrada de Bush, Condoleeza Rice e Donald Rumsfeld, a humanidade não tem mais que conviver com tipos como Bin Laden e Saddam Hussein. Pela primeira vez em milênios, os afegãos e iraquianos têm a chance de conhecer a democracia. Somente esse motivo já justifica a intervenção. (E antes que alguém lembre de Abu Ghraib, seria interessante fazer um exercício de memória e recordar como era a prisão na época de Saddam. Posso garantir que é mais uma razão para louvar a mudança de regime.)

É... pensando bem, os esquerdiotas de lá e de cá têm razão em dizer que o governo Bush foi o pior da História. Afinal, a discurseira ideológica antiamericana e pró-terrorista é incompativel com a defesa intransigente de valores democráticos. O problema é que muita gente, por preguiça mental e mimetismo, transformou-se em um exército de autômatos, repetindo sem pensar esse discurso vigarista. Isso, sim, é ser uma mente colonizada.

sexta-feira, setembro 09, 2011

UM ANO DEPOIS, O DESMONTE DE UMA FARSA

No último dia do mês de maio de 2010, nove militantes da ONG turca IHH morreram quando soldados israelenses abordaram o navio Mavi Marmara, no Mar Mediterrâneo. O navio era parte de um comboio que se dirigia à Faixa de Gaza, onde pretendia romper o bloqueio militar criado por Israel desde 2006, quando os terroristas do Hamas tomaram o poder na região.

Foi um deus-nos-acuda. Seguiu-se imediatamente uma onda de indignação mundial, não pelo fato de os soldados israelenses terem sido recebidos com paus e pedras, mas por terem reagido e não se deixado linchar. Embora um vídeo deixasse claro que os militares foram atacados ao abordarem o navio, Israel foi acusado de assassinato a sangue-frio de inocentes ongueiros e militantes pacifistas, que só queriam levar ajuda humanitária aos palestinos. Como em outras situações, o Estado judaico foi execrado. Chegou-se mesmo à comparação infame dos métodos isralenses com os dos nazistas...

À época, confesso que quase senti o cheiro dos fornos crematórios nos campos de concentração. Tentei debater com alguns colegas de trabalho, chamando a atenção para fatos que, como em todas as situações envolvendo Israel, estavam sendo sistematicamente omitidos pelos jornais. Sobretudo para o fato de que a tal "flotilha da liberdade" (?!) sabia que estava se dirigindo para uma área sob bloqueio militar, e que certamente haveria reação do governo israelense à qualquer tentativa de rompê-lo. Argumentei - ou melhor: tentei argumentar - que de "humanitário" o comboio não tinha nada, e que a coisa toda tinha jeito de provocação contra Israel. Apanhei um bocado, no blog e fora dele. Não adiantou mostrar o vídeo (um dos soldados israelenses foi ferido à bala), nem as óbvias conexões da ONG turca com o Hamas. O veredicto já estava dado, antes mesmo do Mavi Marmara zarpar da Turquia: Israel era o inimigo da humanidade, e ponto final.

Pois bem. Passou-se mais de um ano, e não é que um relatório da ONU concluiu que o que houve foi uma... provocação contra Israel? O chamado Relatório Palmer, divulgado no último dia 4 de setembro, considera que o bloqueio israelense foi uma ação legal, dando razão a Tel-aviv quando sublinha que os militares enfrentaram “resistência organizada e violenta por parte de um grupo de passageiros”. Embora apresente críticas a Israel por ter usado o que chama de força “excessiva e não-razoável”, o relatório não deixa dúvidas: a começar pela tentativa de romper o bloqueio, Israel foi agredido, e reagiu a uma agressão - uma provocação, enfim. Tanto que, tão logo o Relatório saiu à tona, o governo da Turquia, que deu apoio ao tal comboio, saiu ameaçando cortar relações diplomáticas com Israel. Está falando grosso, para desviar a atenção de sua participação numa farsa.

A repercussão do Relatório Palmer, claro, não chegará nem perto da gritaria que se seguiu ao "massacre israelense" contra os "pacíficos militantes" da ONG turca IHH. Se fosse para dar o mesmo peso às duas notícias, as manchetes dos jornais do mundo inteiro teriam que só ter um assunto por semanas a fio. Mas é algo importante, sem dúvida, por servir para desmascarar mais uma gigantesca fraude montada pelos inimigos da única democracia do Oriente Médio, que muitos odeiam exatamente por isso, mas não têm coragem de dizê-lo.

Obviamente, os que detestam Israel e gostariam de vê-lo varrido do mapa não vão deixar de odiá-lo por causa disso. Tipos como o primeiro-ministro turco, Recep Tayyip Erdogan, que aspira a transformar a Turquia numa potência islâmica, sem falar em malucos como Mahmoud Ahmadinejad e os terroristas do Hamas, vão continuar a hostilizar Israel de todas as maneiras possíveis. Eles sabem que sempre poderão contar com o apoio de inocentes úteis e inúteis, alguns dos quais embarcaram na nau dos insensatos um ano atrás. Eles sabem que, para muitos ocidentais, não importa o que faça, Israel (assim como os EUA) estará sempre errado. Foi confiando nisso que armaram a palhaçada sangrenta do Mavi Marmara. Afinal, de que valem os fatos, se o ódio fala mais alto?

Quanto a mim, vou continuar esperando os que me desceram o malho no ano passado terem ao menos a dignidade de se retratarem e me pedirem desculpas. Desconfio, porém, que será uma espera inútil. Mais uma vez.

sexta-feira, setembro 02, 2011

O ELOGIO DA DEDURAGEM

Perigosos terroristas e mercenários de extrema direita financiados pela CIA, segundo Fernando Morais


Acabou de sair, pela Companhia das Letras, o novo livro do badaladíssimo Fernando Morais, Os Últimos Soldados da Guerra Fria. Segundo a sinopse que li num site, o livro narra a história de uma rede de espiões a serviço da ditadura comunista cubana infiltrados em grupos de exilados anticastristas nos EUA durante os anos 90 - uma história que, por si só, vale a pena ser lida.

Ainda não comprei o livro, mas, pelo que andei vendo e lendo na internet, já posso fazer uma idéia do que se trata. Principalmente de quem são os "heróis" e os "bandidos" dessa história, segundo Morais. E já posso adiantar que, pelo menos quanto a um dos lados, a coisa cheira a engodo, a falsidade, a mistificação.

Se depender do autor de Chatô e Corações Sujos, pode-se facilmente deduzir que o livro pode até ser boa leitura, cheio de revelações saborosas e lances cinematográficos, mas dificilmente o leitor terá em mãos uma obra jornalística que possa ser chamada, por mínimo que seja, de isenta ou imparcial. Muito pelo contrário.

Conhecido chavista e castrista, assim como o famoso guerrilheiro de festim e mensaleiro José Dirceu (de quem, aliás, falava-se até um dia desses que estaria planejando uma biografia), Fernando Morais pode ser qualquer coisa, menos um escritor "neutro". Ainda mais em se tratando de regimes como o dos irmãos Castro, a ditadura mais longeva do Ocidente, por quem nutre uma indisfarçável admiração a ponto da tietagem explícita (como quase toda a esquerda tupiniquim, diga-se). Morais já tratou do tema antes, em um livro publicado em 1976 - A Ilha - que, se teve o mérito de ser a primeira obra escrita por um autor brasileiro sobre Cuba em muitos anos, em pleno governo militar do general Geisel, traz o estigma indelével de ter ajudado a construir a mitologia esquerdóide sobre a tirania castrista, uma velha tara da esquerdopatia latino-americana. Mais tarde, ele daria outra contribuição valiosa à hagiografia esquerdista nacional, em sua biografia da agente comunista alemã (era espiã do serviço secreto militar soviético) Olga Benario - que virou um péssimo filme, por sinal. Assim como em A Ilha Morais pinta a ditadura cubana com tintas benévolas e virtuosas (como se uma ditadura benévola e virtuosa fosse algo possível), em Olga, ele mostra a primeira mulher de Luiz Carlos Prestes como uma heroína e mártir da esquerda revolucionária dos anos 30 etc. e tal. Só faltou cantar a Internacional ao ritmo de salsa.

Em Os Últimos Soldados da Guerra Fria, pelo visto, Morais segue o mesmo figurino esquerdista consagrado em seus outros best-sellers. Basta ver como ele se refere, em todas as entrevistas que concedeu até agora sobre o livro, aos alvos da espionagem cubana nos EUA - os membros da comunidade exilada na Flórida. "Desertores", "traidores", "terroristas", "mercenários" e "milícias de extrema direita" são os adjetivos que ele usa para definir os exilados (só faltou o gusanos - "vermes" -, que é a maneira habitual como a propaganda oficial cubana se refere aos inimigos da tirania). A missão dos agentes cubanos a serviço de Fidel Castro infiltrados entre eles seria, assim, "evitar ataques terroristas contra Cuba" (127 em cinco anos, segundo contabilidade de Morais, que não diz quantos morreram nesses ataques). Até ser desmantelada, com a prisão de vários desses espiões pelo FBI em 1998, essa operação, chamada de Rede Vespa, teria sido responsável por impedir "dezenas de atos terroristas" etc.

Não ponho em dúvida que, entre os cerca de 2 milhões de cubanos exilados nos EUA desde que em 1959 Fidel e Raúl Castro tomaram o poder e instalaram uma ditadura comunista na ilha caribenha, haja grupos de extrema direita e mesmo terroristas. Certamente, eles existem, e já cometeram atentados (alguns deles, como Orlando Bosch e Luís Posada Carriles, contra vítimas civis). Mas uma coisa é admitir esse fato; outra coisa é enaltecer o trabalho de espionagem de uma tirania contra exilados em um país estrangeiro. E parece que é exatamente isso o que Fernando Morais faz em seu novo livro.

Fico pensando como seria recebido um livro que elogiasse, por exemplo, a Operação Condor, a cooperação clandestina entre as ditaduras militares do Cone Sul da América Latina contra seus inimigos exilados nos anos 70. O autor de semelhante peça seria execrado (com razão) como um crápula e um canalha, e coberto com os piores adjetivos. Entre os alvos visados pelos serviços secretos militares estavam grupos terroristas de extrema esquerda que praticavam atentados, alguns dos quais, como os Montoneros argentinos e o MIR chileno, estavam organizados na Junta de Coordenação Revolucionária (JCR, uma espécie de precursora do Foro de São Paulo). E não há, pelo menos na vasta bibliografia de esquerda, nenhuma obra que os chame de mercenários e terroristas. Gostaria que alguém me explicasse por que isso só vale para os cubanos de Miami. Assim como adoraria saber por que nenhuma dessas obras chama abertamente o que existe em Cuba de ditadura. Muito agradeceria também se me explicassem por que os policiais e militares que participaram da Condor são execrados, enquanto que os espiões cubanos presos nos EUA são louvados como heróis em Cuba.

"Alto lá, seu agente do imperialismo ianque! A Operação Condor matou vários exilados; seu objetivo era liquidar fisicamente os opositores das ditaduras militares no exílio, ao contrário da Rede Vespa" etc. - poderia gritar o patrulheiro esquerdista, erguendo sua carteirinha de militante. Pois bem, companheiro! Tenho aqui duas questões a fazer: 1) se o objetivo da rede de espiões cubanos na Flórida era "evitar atos terroristas", como diz Morais, como eles fariam isso? Certamente, não seria pelo convencimento, mas pela eliminação física (sequestro, assassinato ou o que seja) dos terroristas - ou seja: exatamente o que fazia a DINA chilena do general Pinochet; e 2) em 1996, Fidel Castro ordenou o afundamento de uma balsa com dezenas de refugiados cubanos que tentavam escapar da ilha-prisão. Várias pessoas morreram. Eram todas terroristas?

No mesmo ano de 1996, no auge da "guerra secreta" contra os "mercenários" anticastristas descrita por Morais, o Coma Andante deixou clara sua determinação de defender o povo cubano, mandando derrubar um avião do grupo de exilados Hermanos al Rescate, que havia penetrado o espaço aéreo cubano. O que o levou a tomar essa decisão tão patriótica? O avião - vejam vocês - estava atirando... panfletos! Uma terrível ameaça terrorista, como se vê. (Para não falar dos cerca de 17 mil fuzilados desde 59, como os três pobres-diabos executados em 2003 por tentarem fugir do país, assim como centenas de presos politicos e as Damas de Blanco... todos perigosíssimos bandidos contrarrevolucionários, claro.)

Posso estar enganado, mas desconfio que esses fatos ficaram de fora da narrativa de Fernando Morais ou, se foram mencionados, o são de forma superficial, ou mesmo como uma justificativa para os atos da ditadura cubana. Se for esse o caso, fica a pergunta: por que não justificar também os crimes da Operação Condor? Quem sabe Fernando Morais, com seus inegáveis talento literário e veia investigativa, resolva um dia escrever um livro sobre isso. Mas aí acho que já estou sonhando alto demais...