sábado, outubro 30, 2010

UM EDITORIAL MAGNÍFICO DO ESTADÃO

Há tempos O Estado de S. Paulo nos vem brindando com editoriais excelentes, sempre precisos e inteligentes. O deste domingo, 31 de outubro, não é exceção. Na verdade, provavelmente é o melhor editorial que já li em minha vida. Não menos do que magnífico.

Como agora milito nas fileiras do PDD (Partido em Defesa da Democracia), reproduzo o editorial logo abaixo. É uma pena que não adiantaria nada enviar uma cópia para o Apedeuta, pois este tem com as letras a mesma relação que o palhaço-deputado Tiririca. Confiram.

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Afinal, o que queremos?
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Encerra-se hoje a mais longa campanha eleitoral de que se tem notícia no País, e certamente em todo o mundo: oito anos de palanque na obstinada perseguição de um projeto de poder populista assentado sobre o carisma e a popularidade de um presidente que, se por um lado tem um saldo positivo de realizações econômico-sociais a apresentar, por outro lado, desprovido de valores democráticos sólidos, coloca em risco a sustentabilidade de suas próprias realizações na medida em que deliberadamente promove a erosão dos fundamentos institucionais republicanos. Essa é a questão vital sobre a qual deve refletir o eleitor brasileiro, hoje, ao eleger o próximo presidente da República: até onde o lulismo pode levar o Brasil?
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Quanto tempo esse sentimento generalizado de que hoje se vive materialmente melhor do que antes resistirá às inevitáveis consequências da voracidade com que o aparelho estatal tem sido privatizado em benefício de interesses sindical-partidários? Tudo o que ambicionamos é o pão dos programas assistenciais e do crédito popular farto e o circo das Copas do Mundo e Olimpíada?
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Lamentavelmente, as questões essenciais do País não foram contempladas em profundidade pelo pífio debate político daquela que foi certamente a mais pobre campanha eleitoral, em termos de conteúdo, de que se tem notícia no Brasil. Mais uma conquista para a galeria dos “nunca antes neste país” do presidente Lula, que nessa matéria fez de tudo. Deu a largada oficial para a corrida sucessória, mais de dois anos atrás, ao arrogar-se o direito de escolher sozinho a candidata de seu partido. Deu o tom da campanha, com a imposição da agenda - a comparação entre “nós e eles”, entre o “hoje e ontem”, entre o “bem e o mal” - e com o mau exemplo de seu destempero verbal.
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Uma das consequências mais nefastas dessa despolitização que a era lulo-petista tem imposto ao País como condição para sua perpetuação no poder é o desinteresse - resultante talvez do desencanto -, ou pelo menos a indulgência, com que muitos brasileiros tendem a considerar a realidade política que vivemos. A aqueles que acreditam que podem se refugiar na “neutralidade”, o antropólogo Roberto DaMatta se dirigiu em sua coluna dessa semana no Caderno 2: “Você fica neutro quando um presidente da República e um partido que se recusaram a assinar a Constituição e foram contra o Plano Real usam de todos os recursos do Estado que não lhes pertencem para ganhar o jogo? (…) Será que você não enxerga que o exemplo da neutralidade é fatal quando há uma óbvia ressurgência do velho autoritarismo personalista por meio do lulismo, que diz ser a ‘opinião pública’? O que você esperava de uma disputa eleitoral no contexto do governo de um partido dito ideológico, mas marcado por escândalos, aloprados e nepotismo? Você deixaria de tomar partido, mesmo quando o magistrado supremo do Estado vira um mero cabo eleitoral de uma candidata por ele inventada? É válido ser neutro quando o presidente vira dono de uma facção, como disse com precisão habitual FHC? Se o time do governo deve sempre vencer porque tem certeza absoluta de que faz o melhor, pra que eleição?”
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Quatro anos atrás, nesta mesma página editorial, dizíamos que “as eleições de hoje são o ponto culminante da mais longa campanha eleitoral de que se tem notícia no Brasil. Desde 1.º de janeiro de 2003, quando assumiu a Presidência da República, Luiz Inácio Lula da Silva não deixou, um dia sequer, de se dedicar à campanha para a reeleição. Tudo o que fez, durante seu governo (…) teve por objetivo esticar o mandato por mais quatro anos”. Erramos. O horizonte descortinado por Lula era, já então, muito mais amplo. Sua ambição está custando à Nação um preço caríssimo que só poderá ser materialmente aferido mais para a frente. Mas que já se contabiliza em termos éticos, toda vez que o primeiro mandatário do País desmoraliza sua própria investidura e não se dá ao respeito. Mais uma vez, essa semana, no Rio de Janeiro, respondeu com desfaçatez a uma pergunta sobre o uso eleitoral de inaugurações: “Não posso deixar de governar o Brasil por conta das eleições.” Ele que, em oito anos no poder, só pensou em eleições!

E OS PATRULHEIROS, QUEM DIRIA, AGORA RECLAMAM QUE SÃO PATRULHADOS... É A INVERSÃO PSICÓTICA EM AÇÃO


O militonto a que respondi em meu último post - o tal que tentou espancar números para que eles confessassem que o Brasil começou em 1/01/2003 e que a estabilidade econômica foi uma conquista do governo Lula, e não de FHC - andou espalhando por aí que eu sou um "patrulheiro ideológico compulsivo". Mais: disse que eu, por dizer o que penso e discordar do que alguém escreve em um site, seria um "patológico psicanaliticamente falando", movido por sentimentos mesquinhos como a inveja e a vontade de aparecer, como se eu fosse uma espécie de Darlene virtual etc. (basta contar quantas fotos minhas aparecem no blog para ver como isso é verdade...) O mesmo bestalhão afirma que eu uso o site dos outros como escada, e que isso é muito feio etc. etc. (Como se eu, com 713 posts escritos até agora, sendo uns 10 diretamente relacionados ao site em questão, precisasse subir nos ombros de alguém, como faz uma certa candidata-laranja à Presidência da República.)
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Ai, ai... Confesso que é chato tentar explicar o bê-a-bá da democracia a quem se recusa a descer das árvores e a adotar uma postura ereta. Principalmente a alguém que se atribui ares freudianos, arrogando-se a capacidade de compreender os recônditos da psique alheia... (O sujeito chegou a dizer que, ao falar, num comentário, da TFP, eu estaria cometendo um "ato falho", porque estaria resgatando "das profundezas do seu [meu] inconsciente a sua [minha] verdadeira identidade social e política", vejam só...) Mas vamos lá. Mesmo sabendo que, provavelmente, será inútil, vou tentar trazer um botocudo para a civilização.
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Não, bobão! Não "patrulho" ninguém. Quem entende de patrulhas é a esquerda. Foi ela que durante décadas - ainda hoje - se especializou em vigiar jornalistas, professores, artistas e intelectuais para que todos abdicassem de pensamento próprio e, em vez disso, pensassem e agissem conforme a "linha justa" do Partido (hoje isso se chama "politicamente correto"). Minha ambição é bem mais modesta. Em vez de exigir obediência cega aos dogmas de uma ideologia, como fazem os esquerdiotas, limito-me a apontar incoerências e a discordar do que acho errado, apresentando fatos e argumentos. Quando vejo alguém tratar igualmente democracias e tiranias, por exemplo, ou colocar no mesmo saco terroristas e os que os combatem, não resisto à tentação - na verdade, o dever moral - de defender a opinião contrária, que considero a certa. E faço questão de ter lado, de maneira clara, sem relativismos nem ambigüidades. Faço isso com quem respeito intelectualmente e com quem mantenho discordâncias pontuais, assim como com quem não merece resposta, pois acha que isso é "patrulha". Não é.
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É engraçado como os mesmos que se acostumaram, durante décadas, ao papel de patrulha e polícia ideológica, impedindo e punindo - muitas vezes literalmente - o pensamento discordante, agora têm a cara de pau de se dizerem vítimas de "patrulhamento" porque alguém veio e denunciou as suas falácias e imposturas. E ainda por cima tentam desqualificar a crítica, como o produto de inveja ou de algum desequilíbrio psicológico. Isso mostra como esses esquerdopatas não entenderam ainda, nem aceitam, a natureza da democracia, cuja base fundamental é o respeito e a garantia da diversidade e da divergência (na ex-URSS, vale lembrar, os dissidentes eram internados em hospitais psiquiátricos).
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É uma característica do marxismo de galinheiro que impera por estas bandas e que, muitas vezes, passa por filosofia ou ciências humanas a inversão psicótica da realidade, aquilo que é chamado, no jargão científico, de dissonância cognitiva (o mesmo que a "novilíngua" de Orwell). Assim, quando um comunista fala em democracia, o que está defendendo, na verdade, é seu oposto, a ditadura (que eles chamam "do proletariado"). Quando um petista, por sua vez, fala em "democratização dos meios de comunicação", o que está querendo, na verdade, é censura mesmo (que eles chamam de "controle social da mídia"). Do mesmo modo, os esquerdistas acusam seus adversários de calúnia e boataria, quando são eles os que espalham calúnias e boatos aos quatro ventos. E assim por diante. Posam de vítimas do crime que eles mesmos cometem, agindo como a dona do bordel que se finge de pudica.
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Agora, pelo visto, esses stalinistas farofeiros e revolucionários do toddynho e do sucrilho deram de acusar os outros de patrulhamento ideológico, algo que sempre fizeram. Para essa gente, os militontos do credo totalitário, a crítica a eles, qualquer critica, será sempre "patrulha". É que a única linguagem que eles entendem e aceitam, nesse caso, é o aplauso. O meu, pelo menos, eles não têm.

sexta-feira, outubro 29, 2010

A HERANÇA MALDITA DE LULA

Outro dia, navegando na internet, como sempre faço após o trabalho, deparei com um texto de um velho conhecido deste blog, o Pablo Capistrano (http://www.pablocapistrano.com.br/2010/10/27/a-desconstrucao-da-mulher/), em que ele diz mais ou menos isso: as críticas ao flip-flop de Dilma Rousseff sobre a questão do aborto são parte de uma estratégia de campanha de José Serra e dos tucanos, feita de boatos ardilosos, para “desconstruir a mulher”, atiçando velhos preconceitos machistas da sociedade etc. Ele lembrou que um tempo atrás até apareceu um boato de que Dilma seria homossexual, e que isso mostraria bem o caráter sombrio e obscurantista dessa campanha sórdida etc. etc.
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Não resisti e postei um comentário. Escrevi então, logo após parabenizar o autor por ter, finalmente, resolvido sair do armário e assumir seu esquerdismo – ele até me expulsou de seu site algum tempo atrás por eu ter perguntado por que ele, escrevendo como um esquerdista, com jeito e até vocabulário de esquerdista, não se assumia como esquerdista –, escrevi então, dizia, que eu só poderia ser um membro da TFP e do Opus Dei, pois não vou votar em Dilma. Disse que sou um porco machista e chauvinista, porque não vou ceder à chantagem sexual-vitimista e votar na criatura do chefe por ela ser (apesar de, devo dizer, às vezes não parecer) mulher. Serra, por sua vez, deve ser da Ku Klux Klan (já a ligacão de Dilma com o MST só pode ser calúnia e boato eleitoral, claro...). Lembrei também que, se tem alguém que recuperou o estereótipo machista na campanha foi Dilma, que fez questão de posar de "mãe-mulher-pró-vida" na questão do aborto (sua escolha por Lula, aliás, parece indicar bem essa mentalidade retrógrada, de dominação masculina sobre uma fêmea subserviente...). Aproveitei para perguntar por que ninguém usou os mesmos argumentos sobre "desconstrução da mulher" no caso de Margaret Thatcher e de Sarah Palin, por exemplo. Fiquei sem resposta.
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Pois não é que, em vez da resposta esperada, eis que aparece um camarada e escreve um comentário longuíssimo no site me desancando por eu ser - surpresa - “de direita”, “reacionário”, enfim esse trololó todo? Pensei em ignorar (tentei ver alguma relação entre o comentário e o que escrevi sobre o texto; em vão). Mas aí percebi que o tal sujeito usa uma enxurrada de dados e números “oficiais”, que supostamente provariam que o governo Lula foi um mar de excelência empresarial, e o de FHC, um desastre haitiano. Compreendi que se trata de uma corrente, de um texto-padrão, uma espécie de power-point que os lulo-petistas, na falta de argumentos, usam para apoiarem-se uns aos outros (já falei que eles são como formigas: agem movidos por feromônios, não pela razão). Enfim, uma maneira de dar um ar de "objetividade" ao que é, na verdade, mero pitaco ideologico - repetido à exaustão, aliás, na propaganda eleitoral.
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Então, por pura piedade, e também porque o troço demonstra bem a maneira de, digamos, “pensar” desse pessoal, resolvi responder aqui ao dito-cujo. Por pura piedade, também, omito seu nome (tenho o coração mole, não gosto de ver pessoas passando vergonha). É mais uma prova, vocês verão, de que a estatística é mesmo a arte de torturar números para que eles digam apenas o que interessa.
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Lá vai ele, em vermelho. Eu respondo em seguida. Tentem conter o riso, por favor.
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Sr. Gustavo, você deveria usar a razão para abordar os fenômenos sociais, no entanto insiste no pensamento mitico, místico, mágico, fantasioso, metafísico, preconceituoso, carregado de ódio e fanatismo.
Puxa, tudo isso? Agora fiquei com medo de mim mesmo...
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Quando cita a TFP, a Opus Dei e a Ku Klux Klan, comete um “ato falho”, resgata das profundezas do seu inconsciente a sua verdadeira identidade social e política.
Quem cita a TFP, para começo de conversa, é o texto do Pablo. Além do mais, ironia é para quem tem um mínimo de inteligência... "Ato falho", é?
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Mas deixa pra lá. O importante é que estou diante de uma pessoa iluminada, alguém que conhece “as profundezas do seu [meu] inconsciente e a sua [minha] verdadeira identidade social e politica”... Uau! E que é, nada mais nada menos, do que a mesma da TFP, do Opus Dei e da KKK! (Faltou citar Hitler, a Inquisição, Átila, o Huno e Charles Manson, sem falar nos incas venuzianos.)
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Não sou petista, exatamente por considerar Lula um traidor dos trabalhadores ao manter no seu governo a macroeconomia do seu antecessor,o neobobo FHC.
Pode achar que não é petista, mas é apenas mais um da patota. Basta ver o que diz sobre o Lula “traidor dos trabalhadores” (por causa do mensalão ou de outra maracutaia qualquer? Não: por causa da macroeconomia do “neobobo” FHC...). Pelo visto o sujeito deve considerar o PT "de direita" demais para seu gosto... Isso também é uma forma de petismo, não dá para negar.
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Votei no primeiro turno no Plinio de Arruda Sampaio.
Sem comentários. Isso explica tudo.
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Agora no segundo turno é uma outra eleição. Mesmo com severas críticas ao conservadorismo do governo Lula, devo admitir que qualquer comparação feita entre o governo de FHC e de Lula, esse último foi superior.
“Conservadorismo do governo Lula” foi ótimo... Gostaria de saber o que economistas e filósofos conservadores como Friedrich Hayek e Edmund Burke diriam de um governo que inchou a máquina estatal, aumentando enormemente os gastos com apaniguados. Ou então da política externa alinhada com o que de pior existe na humanidade. Mas sobre isso falarei mais adiante.
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Agora vejam por que, na opinião de quem escreveu essa peça de lógica matemática, o governo do Apedeuta foi "superior ao de FHC":
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Lula teve a maior votação da história deste país, aproximadamente, 53 milhões de votos.
E daí? Quem disse que urna é tribunal?
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Lula erra ao assumir,na “Carta ao Povo Brasileiro”, (na verdade direcionada aos credores do Brasil, buscando acalmar o mercado), o compromisso de respeitar os acordos feitos pelo governo anterior: metas de superávit primário e de inflaçãoe o financiamento da divida externa. Nisto eu critico ele [sic].
Muito bem, pois foi esse “erro” de Lula que lhe garantiu surfar na onda alheia e posar de estadista durante oito anos. Foi esse “erro” que lhe permitiu governar sem maiores sobressaltos na economia, e ainda sair com altos índices de popularidade, e até inventar uma candidata-frankenstein para, se eleita, ele controlar nos bastidores. Foi esse “erro” que lhe garantiu enganar milhões de otários dizendo que ele inventou o Brasil em 1/01/2003. Foi esse “erro”, enfim, a única coisa boa em um governo em que o que era bom não era novo, e o que era novo não foi bom.
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Mas vamos a comparação objetiva entre os dois governos.
Oba, vamos lá. Objetivamente, então. Porque até agora não vi nada de objetividade. Muito pelo contrário.
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Lula assumiu em 01/01/2003: o dólar valia R$ 3.53, hoje vale 1.67;
Ótimo, e quem foi que aplicou políticas cambiais efetivas que permitiram fortalecer o real nos anos 90? (Uma dica: Lula estava do outro lado, chamando tal política de “estelionato eleitoral”...)
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a taxa de juros básicos (selic) era de 25% ao ano, hoje é em torno de 11% ao ano;
Continua alta. Mas, novamente, e mesmo sem ser economista: quem foi que começou a aplicação dessas medidas? É engraçado como, até há bem pouco tempo, os lulo-petistas nem falavam em selic etc. Pegaram o bonde andando, como tudo o mais.
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a inflação no governo FHC atingiu 1.31 % ao mês, hoje gira em torno de 4.5% ao ano;
Pois é, e quem foi mesmo que aplicou o Plano Real e domou a inflação? Ou vai me dizer que era Guido Mantega o ministro da Fazenda em 1994? (E só para lembrar: antes disso, a inflação era de uns 80%... Ao ano? Não! Ao mês!!!)
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Sem falar que inflação é um fenômeno econômico que depende de uma série de variáveis, inclusive de ordem internacional. FHC conseguiu domar a inflação apesar de uma série de crises externas e da oposição irresponsável dos petistas. Já Lula foi contra o Real desde o início, só descobriu suas virtudes quando percebeu que poderia ajudar a ganhar eleições...
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as reservas cambiais deixadas por FHC era [sic] de aproximadamente US$ 25 bilhões, hoje é [sic] de US$ 280 bilhões;
Mais uma vez: tudo isso só foi possível devido ao ajuste da economia no governo FHC, que estabilizou o câmbio e garantiu o aumento das exportações. Enfim, justamente a “macroeconomia do ‘neobobo’ FHC”...
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FHC multiplicou por 14 a nossa dívida pública que saltou de R$ 60 bilhões para R$ 850 bilhões. Lula triplicou essa dívida.
Não entendi. Se Lula triplicou uma dívida que já era grande, então cadê a vantagem?
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E só para que não haja dúvidas: o total da dívida pública brasileira, segundo dados oficiais de setembro de 2010, é de R$ 1,62 trilhão (fonte: http://g1.globo.com/economia-e-negocios/noticia/2010/10/divida-publica-sobe-05-em-setembro-para-r-162-trilhao.html). Isso significa não o triplo, mas cerca do dobro da dívida do governo FHC. Se fosse o triplo, seria algo em torno de R$ 2,5 trilhões.
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É um dado que, em teoria, serviria para favorecer os argumentos dos lulo-petistas (o Guia Genial "só" duplicou, não triplicou, a dívida, vejam só...). Por que, então, eu o cito aqui, mesmo sabendo que, diante de uma informação verídica que pudesse reforçar os argumentos do lado adversário, os petralhas certamente não fariam o mesmo? Primeiro, por honestidade. Segundo, para mostrar como esse pessoal, até mesmo quando é para os favorecer, trata os números: do mesmo jeito como trata a lógica e a língua portuguesa...
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Lula conseguiu através de medidas de ajuste conter a inflação, pagar ao FMI, uma divida contraída por FHC,quando ele em 1999 quebrou o país, na ocasião perdemos todas as nossas reservas. Lula quita antecipamente a divida com o FMI e ainda empresta dinheiro ao FMI, instituição essa considerada: “banqueiro dos banqueiros”. Com isso cai o “risco Brasil” (mede a confiabilidade dos títulos brasileiros no exterior).
Em seis linhas, quatro mentiras:
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1) Não foi Lula quem, “através de medidas de ajuste”, conseguiu “conter a inflação”: foram FHC e sua equipe econômica, graças ao Plano Real (Só para lembrar: Lula e o PT ficaram contra, assim como ficaram contra a Lei de Responsabilidade Fiscal);
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2) O Brasil não “pagou ao FMI”, muito menos "antecipadamente"; a dívida continua: o que houve foi a regularização da situação do Brasil junto ao Fundo, o que foi conseguido – mais uma vez – graças às políticas macroeconômicas do demonizado FHC. E o Brasil empresta dinheiro ao FMI desde que ele foi criado, em 1944 (chama-se cotas; cada país tem a sua);
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3) A dívida externa brasileira não foi “contraída por FHC” – ela já existia muito antes mesmo do regime militar; e
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4) O choque cambial de 1999 não “quebrou o país”; pelo contrário: foi o que permitiu, através de medidas duras e impopulares, como a desvalorização do real, blindar a economia brasileira contra crises externas e impedir o retorno da inflação. Enfim, tudo aquilo que permitiu a redução do risco Brasil e a eleição de um certo político populista que gosta de encher a boca para se apropriar do que os outros fizeram.
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Além da política externa, onde destacamos:
Oba, política externa é a minha praia. Vamos lá, "objetivamente".
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defendeu o fortalecimento do MERCOSUL e endureceu o discurso sobre as negociações da ALCA, pondo fim as pretenções [sic] imperialistas norte-americanas;
Eis os fatos: Sob Lula, o MERCOSUL virou um MERDOSUL, com sua transformação em palanque de Hugo Chávez e de seu circo bolivariano. Nunca o bloco, que nasceu sob o signo do livre comércio (portanto, do liberalismo econômico), esteve mais enfraquecido, caminhando para a irrelevância. Agora, adivinhem: quem mais perdeu com o naufrágio da ALCA, o Brasil ou os EUA?
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aproximou o país da União Européia;
A aproximacão vem desde antes, mas essa não é a questão. O fato é que poderia ser maior. Se o governo Lula não priorizasse, por exemplo, as relações com gigantes como a Venezuela e a Guiné Equatorial... (Sem falar da chanchada bolivariana em Honduras e das alianças absurdas com titãs da democracia e dos direitos humanos como os regimes de Cuba e do Irã.)
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criou o G- 20,
O G-20 não foi criacão de nenhum país específico, mas resultou do reconhecimento, pela comunidade internacional, da existência e importância das economias emergentes. Isso não tem nada a ver com a vontade de nenhum governante, mas do próprio andar da economia mundial. Ou vai me dizer que foi Lula o responsável pelo crescimento econômico da, sei lá, India ou da África do Sul?
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os BRIC’s;
Também não foi criado por nenhum governo. Simplesmente foi uma sigla inventada por um analista de um banco americano - e em 2001, antes, portanto, da eleição do Redentor da Humanidade.
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propôs a criação de um fundo mundial de combate à fome, financiado pelos países ricos.
Que até agora não saiu do papel. Sem falar que fundos semelhantes existem há décadas na FAO. Nem nisso o Apedeuta foi original.
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Enfim, FHC depois de torna-se [sic] através das privatizações feitas como [?!] o governo mais entreguista da humanidade, sem nenhum precedente em lugar e em tempo nenhum, termina o seu governo com 23% de aprovação e Lula que impede, de certa forma, as sangrias internacionais e as privatizações, termina seu mandato com 96% de aprovação.
Caramba! Tudo bem que os esquerdiotas tenham lá suas queixas contra as privatizacões – que permitiram uma revolução nas telecomunicações, por exemplo, mas deixa pra lá –, mas daí a dizer que o governo FHC foi “o mais entreguista da humanidade” (!), “sem nenhum precedente em lugar e em tempo nenhum” (!!!), é mais do que exagerar a história: é inventar um país e um tempo completamente imaginários. FHC, “entreguista” e, ainda por cima, sem nenhum precedente? Mais do que, digamos, o governo Thatcher na Inglaterra? Ou o de Pinochet no Chile? Pudera...
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Quer dizer que o índice de aprovação do Filho do Barril já é de 96%? Mas, ainda ontem, não estava em 80%? Deixa pra lá. O importante é que, mesmo que fosse de 368%, eu não arredaria pé. Continuaria a ser do contra e a lembrar os fatos acima. O Apedeuta pode até ter os aplausos do rebanho. Deste blogueiro, ele vai receber é cascudo. E não tem esquerdista que me faça mudar de opinião!
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Lembrando ainda o PAC, que representa 504 bilhões reais investidos em infraestrutura, em logística: portos, aeroportos, rodovias, ferrovias, matriz energética, infraestrutra urbana (metrô, saneamento básico, habitação popular etc).
Que beleza, mas cadê essas obras todas? Talvez o distinto autor do comentário saiba, como parece indicar o ato falho ("representa" 504 bilhões...). Não que se tais obras existissem de fato, e não fossem só uma peça de marketing eleitoreiro (um Programa de Aceleração da Candidatura), isso iria fazer muita diferença para mim. Afinal, como já afirmei aqui, não sou do tipo que troca cultura democrática por obras públicas. Até porque, se houvesse uma relação direta entra as duas coisas, o país mais democrático do mundo seria a... China.
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Sr. Gustavo, após 65 anos da primeira participação das mulheres em eleições para presidente da república. O sr. e essa direita reacionária, entreguista e antipatriota vão ter que engolir depois do “sapo barbudo”, uma mulher presidente da república.
O “sapo barbudo” eu não engoli até agora, nem creio que vou engolir um dia. Aliás, eu já o regurgitei há tempos, desde a época em que ele fazia pose – e era visto por muitos bobalhões – como uma espécie de Lênin brasileiro. O frankenstein criado pelo chefe, então, esse não vou engolir mesmo. Afinal, como um legítimo representante da direita reacionária, entreguista e antipatriota (e existe, na cabeça dos esquerdopatas e esquerdiotas, alguma direita que não seja "reacionária, entreguista e antipatriota"?), só posso lamentar que tanta gente se deixe levar por essa monumental empulhação. Não que o Serra seja uma maravilha, mas pelo menos em alguns temas - aborto, por exemplo - eu sei no que ele acredita. E Dilma, no que acredita? Acho que nem ela sabe.
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Cuidado com a indigestão promovida pela ignorância. Li o seu blog, “do contra”. O sr. nao é do contra, é sim , a favor de tudo ! de tudo que não interessa ao nosso povo! Um abraço!
OK, obrigado por me explicar o que realmente interessa ao “nosso povo”. Falo apenas por mim mesmo e pela minha consciência. Sou um indivíduo, não mais um na manada. De minha parte, se houver indigestão, não será por ignorância. Será que o esquerdinha aí em cima pode dizer o mesmo?
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E, finalmente, a pergunta que não quer calar: se o sujeito é contra a política macroeconômica do "neobobo" FHC, a ponto de dizer que não é petista e chamar Lula de "traidor dos trabalhadores" por manter a macroeconomia de seu antecessor (ou seja: essa mesma política de respeito aos contratos, superávit primário e metas de inflação), então por que raios defende esse mesmo governo com dados e números só possíveis por causa dessa mesmíssima política? (vai ver essa é a tal "herança maldita" de que falava o grande mentecapto até bem pouco tempo atrás). Alguém poderia tentar me explicar isso, por favor?
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Como foi mesmo que o sujeito escreveu, no começo do texto? Ah, lembrei: "Sr. Gustavo, você deveria usar a razão para abordar os fenômenos sociais, no entanto insiste no pensamento mitico, místico, mágico, fantasioso, metafísico, preconceituoso, carregado de ódio e fanatismo." Pois é...
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Eu poderia escrever mais sobre esse assunto. Poderia tentar explicar para esse pessoal o que significam coisas como lógica, coerência, democracia etc. Mas já me convenci que é inútil. Explicar a esquerdistas, lulo-petistas ou não, o significado dessas palavras é como tentar ensinar violino a um bando de orangotangos. Simplesmente não dá.
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Essa é a grande herança maldita da era Lula: além de mensalões, dossiês, aloprados e erenices, além da falsificação da História e da avacalhação das instituições, o aumento brutal da burrice.
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P.S.: Já tinha acabado de escrever este texto quando o sujeito postou mais um comentário. Ei-lo, na íntegra: "A direita é instintiva, não é inteligente! Sempre coloca a razão das armas sobre as armas da razão, a força bruta sobre a inteligência, o preconceito sobre o conceito. O simples fato de saber em quem votei paralizou o seu pensamento, quebrou a estrutura do diálogo, da comunicação e da democracia: calou-se! O seu silêncio demonstra preconceito e autoritarismo bem destilado! Sr. Gustavo, como diz o grande compositor cubano,Pablo Milanés: ” A História é um carro alegre/ cheio de uma gente contente/ que atropela indiferente todo aquele que a negue!” Um abraço fraterno, em nome do proletariado! Até a vitória sempre!" Depois disso, o que posso dizer? É o tipo de coisa que me faz lembrar dos meus 15 anos de idade. Só me resta repetir as palavras que meu pai me dizia quando eu era um adolescente enfezado, simpatizante de um obscurso grupúsculo trotskista: "Vai, meu filho... Faz o que tu queres, se é isso que te faz feliz..."

quarta-feira, outubro 27, 2010

UM TESTE PARA LULIRICA


Como agora estou filiado ao PCE (Partido Contra a Empulhação), reproduzo, abaixo, o excelente texto de Augusto Nunes sobre o caso Tiririca. O autor acrescenta ao imbróglio um outro personagem de circo mambembe, igualmente ignorante e analfabeto, que chamarei de Lulirica.
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Qual a diferença entre Tiririca e Lulirica? Um é, ou pelo menos era, inofensivo; o outro fez da boçalidade e da megalomania suas marcas registradas. Um debocha de si mesmo, confessando-se despreparado e ignorante; o outro, se leva a sério. Um corre o risco de perder o mandato; o outro, por força e obra de décadas de bajulação e cegueira voluntária, é o unico político inimputável da história do Brasil.
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O deputado Tiririca estaria longe do perigo se fosse eleito presidente da República

O promotor Maurício Lopes finalmente conseguiu o endosso da Justiça paulista para proteger a imagem da Casa do Espanto: o humorista Tiririca, deputado federal eleito pelo PR de São Paulo, só poderá instalar-se num gabinete da Câmara se provar que não é analfabeto. Num dia qualquer de novembro, diante do juiz, do promotor e do seu advogado, Tiririca terá de escrever um ditado e ler em voz alta um trecho da Constituição. Se não fizer bonito no teste de escrita e leitura, mais de 1,3 milhão de eleitores ficarão sem representante no Congresso.

A exigência confirma que o País do Futebol valoriza o secundário tão aplicadamente quanto ignora o essencial. Se as arquibancadas do Maracanã descobrirem que o juiz é ladrão, será imediatamente instituída e aplicada a pena de morte na forca. Mas Erenice Guerra continua frequentando sem sobressaltos o supermercado da esquina. Se a camisa 10 da Seleção for entregue a um jogador bisonho, não escaparão do linchamento o técnico do time, o presidente da CBF e o escalado. Mas Lula pode contar com o apoio de milhões de brasileiros para entregar a Dilma Rousseff a faixa presidencial.

Incoerente vocacional, o país que acha muito justo o vestibular imposto a Tiririca é governado há oito anos por um sessentão que jamais leu um livro, não sabe escrever, orgulha-se da formação indigente, recusa-se a estudar e zomba de quem possui diplomas de cursos estrangeiros. O humorista inofensivo está na mira da Justiça eleitoral por ser suspeito do que o presidente sabidamente é. O suposto analfabetismo de Tiririca tem animado milhares de conversas de botequim — sem que o dono ache necessário avisar a Polícia Federal. A comprovada ignorância de Lula não deve ser comentada sequer aos sussurros.

É coisa de preconceituoso, reagem as Marilenas Chauís. Um enviado da Divina Providência já nasce professor de tudo mesmo que seja um analfabeto funcional juramentado, ensinam os Antonios Cândidos. Como o Mestre é inimputável, todos fingem ignorar o que sabe até o neurônio solitário de Dilma Rousseff: submetido ao mesmo exame de leitura e escrita, avaliado por educadores honestos, o animador de comício estaria condenado ao naufrágio.


Os dois únicos manuscritos produzidos nos últimos 20 anos informam que o maior governante desde as caravelas não sobreviveria ao teste do ditado. O que Lula tem feito durante a campanha eleitoral confirma que nunca leu sequer uma linha da Constituição. Tiririca teria chances maiores sobretudo na prova oral. Além da selva de expressões em juridiquês castiço, Lula enfrentaria a selva de algarismos romanos plantados à frente dos incisos. Provavelmente enxergaria no VI, por exemplo, um derivado do verbo ver. Se o trecho escolhido fosse o assinalado na ilustração, o presidente veria o mar territorial.

O erro de Tiririca foi disputar um lugar no Congresso. Se fosse eleito presidente da República, bastaria invocar o precedente de Lula para poupar-se de incômodos. Neste outubro, liberado de exames em tribunais, estaria preparando a festa do dia da posse. Ou, quem sabe, escrevendo o prefácio do próximo livro do companheiro Aloísio Mercadante.

sábado, outubro 23, 2010

LULA, DILMA E A TEORIA DA "BOLINHA DE PAPEL". OU: COMO IGNORAR FATOS E ENXERGAR SOMENTE O QUE INTERESSA


Eu não sei o que atingiu José Serra na cabeça na passeata de sua campanha no Rio de Janeiro. Os lulo-petistas sabem. Aliás, já sabiam antes mesmo de qualquer perícia: "foi uma bolinha de papel".

O ex-presidente Lula - ele abandonou o cargo há meses, trocando-o pelo de chefe de facção política em tempo integral -, acusou Serra de fazer teatrinho e querer criar um "factóide" (sempre que seus adversários denunciam seus malfeitos, os lulo-petistas dizem ser um factóide). Isso foi um dia antes de o Jornal Nacional desmentir a versão divulgada pelo SBT e pela Record, que mostram apenas a imagem do que parece uma inofensiva bola de papel arremessada contra Serra. O JN preferiu mostrar também as imagens do celular de um jornalista da Folha de S. Paulo, feitas 15 minutos depois em meio ao tumulto, que mostram o que parece ser um objeto pesado atingindo a cabeça do candidato tucano - imagens atestadas como autênticas por um perito.

Resumo da ópera(bufa): O candidato rival dos lulo-petistas foi vítima de agressão por uma horda de militantes possuídos pelo ódio que agiram como um bando de gorilas ou como tropa de choque fascista, e isso está provado cientificamente pela análise pericial das imagens. O (ex)presidente da República, que, em vez de repudiar a agressão - como faria se fosse um estadista, e não um chefe de torcida -, açula seus seguidores à intolerância, é o chefe dessa milícia de camisas-pardas (ou vermelhas). E nada disso, assim como a análise das imagens, vai mudar a versão lulo-petista: "foi uma bolinha de papel"...

O episódio todo, que parece pequeno, é extremamente grave. Além de demonstrar o desprezo boçal de um presidente da República transformado em animador de comício pelas regras da democracia e da civilização - pela primeira vez na história do Pais, um candidato à Presidência da República foi vítima de agressão física, instigada pelo ocupante do Palácio do Planalto, que ainda por cima acusa a vítima -, o fato comprova, na verdade, um padrão, monotonamente seguido pelos lulo-petistas sempre que divulgados fatos que não lhes convêm ou agradam (como as declarações de Dilma sobre o aborto, por exemplo):

- O fato não ocorreu; trata-se de "calúnia", "boato" ou "factóide" (antes mesmo de qualquer avaliação técnica, notem bem);

- O "outro lado" também faz igual, logo os dois lados se equivalem moralmente (Lula lembrou que teriam jogado uma bola de água em sua pupila em Curitiba - como se uma bola de água e um objeto contundente tivessem o mesmo efeito, e como se tal fato, se realmente ocorreu, tivesse partido de uma turba de vândalos, como os que agrediram Serra no Rio, e não de um gesto isolado.);

- De qualquer maneira, a denúncia é falsa porque foi a "mídia golpista" que a levou ao ar (se a notícia fosse a seu favor, não diriam o mesmo);

- Enfim, o culpado é a vítima (total inversão da realidade).

Desde 2003, esse padrão tem-se repetido com freqüência quase religiosa. Com poucas variações, até as palavras são as mesmas. Além das que estão aí em cima, "conspiração das elites golpistas" é um termo-chave (ou chavão) empregado constantemente, bem como atribuir tudo a um "excesso" de alguns poucos "aloprados". Dizer-se traído (mas com o cuidado de omitir o nome do suposto traidor) também pode ser útil para livrar a cara do chefe.

Dizem que, em um dos processos de Moscou, quando o ditador soviético Josef Stálin resolveu exterminar seus potenciais inimigos na década de 30, um dos réus, convencido da inutilidade de qualquer defesa no tribunal - os veredictos estavam decididos antes do próprio julgamento -, virou-se para um dos membros do Partido e perguntou: "o que devo pensar?" Com os lulo-petistas, ocorre o mesmo. Se vêem um fato que não lhes convém, não analisam se é ou não verdade: viram-se e perguntam para o chefe: "o que devo pensar?" É que já abdicaram de pensar há muito tempo.

George Orwell, em sua obra-prima 1984, resume de forma genial esse processo de construção mental: se alguém lhe mostra quatro dedos, e o Grande Irmão diz que, em vez de quatro, são cinco, você nega o que está diante de seus olhos e diz que são cinco. Mais: depois de algum tempo, passa a acreditar que, de fato, são cinco.

Hoje, quando imagens de vídeo mostram o contrário do que os lulo-petistas dizem, os militantes pró-Dilma, feito zumbis, tentam convencer uns aos outros de que a realidade não é o que todos vêem, mas apenas o que eles, lulo-petistas, querem que seja verdade. Diante de imagens que mostram claramente Dilma defendendo a legalidade do aborto, ou um rival sendo agredido, não lhes resta outra coisa senão negar os fatos e apegar-se à teoria da bolinha de papel.

Se mostrarem um video em que Lula aparece roubando uma velhinha à mão armada, seus devotos lulo-petistas dirão primeiro que o vídeo é falso, depois que isso não passa de uma conspiração da mídia golpista. Comprovada a veracidade das imagens, dirão que seus adversários fazem o mesmo. Finalmente, vão afirmar que o dinheiro era para ajudar os pobres. O nome disso, em bom português, é lavagem cerebral. Parece piada, mas é a realidade.

quinta-feira, outubro 21, 2010

BURRICE ELEITORAL


Está circulando na internet um auto-proclamado "manifesto em defesa da educação pública", assinado por algumas vacas sagradas do esquerdismo acadêmico nacional, como os petistas Marilena Chauí e Antonio Candido. Oportunisticamente, os signitários da coisa acusam a candidatura de José Serra de querer destruir a educação pública, o que o governo FHC teria quase conseguido etc. etc. Enfim, o trololó de sempre.

O texto, que está sendo repassado em blogs e sites de petistas e de incautos, é absolutamente mentiroso. Os motivos, para quem quiser saber, podem ser encontrados aqui: http://veja.abril.com.br/blog/reinaldo/geral/um-manifesto-de-mentirosos-faz-campanha-anti-serra-e-pro-dilma-o-que-fara-o-tse-e-preciso-acionar-o-tse-para-que-este-acione-a-pf/. (E antes de pensarem em atacar o mensageiro, procurem primeiro refutar a mensagem e os fatos que estão lá elencados, se puderem.)

Há alguns dias, um grupo de petistas fez uma blitz em frente a uma gráfica de São Paulo. Num video que eles próprios fizeram, eles aparecem, câmeras em punho, "denunciando um crime". Um senhor, contador da citada gráfica, é acossado pelos militantes, entre os quais um que se identifica como deputado. Eles exigem saber quem pagou a impressão de uma nota da CNBB - Confederação Nacional dos Bispos do Brasil - recomendando os católicos a não votarem em candidatos que apóiam a legalização do aborto. Como a candidata petista à Presidência da República, Dilma Rousseff, já declarou, em várias ocasiões, ser favorável à legalidade do aborto, os jornalistas-militantes interpretaram a nota como material de propaganda a favor da candidatura rival, de José Serra.

(Aparentemente, os milicianos lulo-petistas que fizeram a vigília na gráfica não se deram conta da contradição lógica em que estavam incorrendo: se Dilma Rousseff está se contorcendo para negar o que disse sobre o aborto, apresentando-se, inclusive, como uma devota católica - ou evangélica -, a ponto de chamar de "boato" ou de "campanha difamatória" o que ela mesma disse, então por que diabos se importam com o que está numa nota da CNBB que desrecomenda os fiéis a não votarem em candidatos abortistas? Enfim, vestiram a carapuça. Mas essa não é a questão principal, por ora.)

É verdade que um crime grave foi cometido no dia em que os petistas fizeram a tal blitz na gráfica. Qual crime? Um crime contra o artigo 5 da Constituição Federal, o qual garante a liberdade de expressão e a liberdade religiosa. Quem cometeu o crime? A turba que intimidou o contador da gráfica. Agora é com a Justiça.

A nota que provocou a fúria dos lulo-petistas não era apócrifa; vinha com a assinatura de três bispos e com o selo oficial da CNBB, uma entidade não-governamental, que pagou pelo serviço. Seu conteúdo não trazia nenhum dado falso, nenhuma inverdade. Nem pedia voto para qualquer candidato - somente expressava o ponto de vista da Igreja Católica sobre o legalização do aborto, e recomendava os católicos a votarem de acordo com essa opinião religiosa. Era um documento da Igreja, não de um partido ou de uma candidatura. Mas nada disso fez diferença para a turma de lulo-petistas. Uma das militantes presentes no ato ilegal de intimidação do contador da gráfica, disfarçada de jornalista, chega a perguntar se ele imprimiria materal apócrifo do PCC... Como se um manifesto apócrifo de um bando criminoso pudesse ser comparado, sob qualquer ângulo e qualquer ponto de vista, com uma nota assinada da CNBB contendo a opinião da Igreja Católica sobre o tema do aborto! Isso dá bem uma idéia de como funciona a cabeça dos lulo-petistas...

A gráfica que imprimiu a nota da CNBB foi acusada pelos dilmistas de ligação com o PSDB - um de seus donos seria filiado ao partido (como se pertencer a um partido adversário, verdade ou não, fosse um crime...). A mesma gráfica também imprime material de propaganda do PT, inclusive de alguns candidatos a deputado que intimidaram o contador. Mas quase ninguém lembrou esse detalhe. Assim como quase ninguém, apenas alguns blogueiros "do contra", lembraram que dinheiro dos cofres públicos paga a publicação de panfletos pró-Dilma publicados por sindicatos, o que, ao contrário da nota da CNBB, é ilegal. Qual a diferença entre os panfletos dos sindicatos e o manifesto da CNBB? Além do fato de serem ilegais, porque custeados com o dinheiro dos impostos, os panfletos dilmistas não contêm nenhuma verdade. O da CNBB, por sua vez, não contém nenhuma mentira. Desafio quem quiser a provar o contrário.

Há algumas semanas, Luiz Inácio Lula da Silva convocou o eleitorado a extirpar - esta foi a palavra que utilizou - um partido político da vida política nacional. "É preciso extirpar o DEM da vida política", bradou o grande democrata a uma platéia domesticada, antes que os eleitores extirpassem qualquer esperança de sua candidata ao governo local de sagrar-se vitoriosa nas urnas. Pela primeira vez em período democrático, um presidente da República exortou abertamente à extirpação de seus adversários políticos, numa clara demonstração de golpismo (deve ter lembrado de outros governantes que extirparam a oposição, como Fidel Castro e Stálin). Isso já seria grave o suficiente, se o presidente do partido em questão, Jorge Bornhausen, não tivesse sido alvo de uma campanha calhorda há alguns anos, por ter afirmado, numa expectativa que infelizmente não se concretizou, que o mensalão iria livrar o País "dessa raça" (os petistas) por uns 30 anos. Por ter dito isso, Bornhausen viu-se retratado como racista e nazista em panfletos apócrifos - e ilegais - pagos por um sindicato em Brasília, em mais uma ilegalidade dos lulo-petistas.

Os exemplos acima são inquietantes, e vão além do jogo sujo e da baixaria que costumam caracterizar as disputas eleitorais no Brasil. Eles refletem um fenômeno perigoso. Neles estão presentes vários elementos que constituem a forma petista de fazer política - manifestos mentirosos, censura à liberdade de expressão, atentados à democracia etc. Com o agravante da inversão total da realidade, sobretudo no caso das notas da CNBB (que, absurdamente, e mostrando o poder de pressão dos lulo-petistas, um ministro do TSE mandou apreender): enquanto a CNBB era impedida de se manifestar livremente, os pastores da Igreja Universal do Reino de Deus, aliada do governo Lula, defendem abertamente o aborto e pregam o voto em Dilma, e nada acontece. É um acinte.

É impressionante como as pessoas emburrecem no Brasil em época de eleições, ou deixam aflorar a burrice que sempre esteve lá, latente. O nível geral de inteligência, que geralmente já não é lá essas coisas, nesse período simplesmente despenca para as profundezas mais abissais. Gente que se apresenta como intelectuais assina manifestos que não contêm uma grama de verdade. Militantes de um partido político se comportam como uma tropa de choque fascista, constrangendo ilegalmente funcionários de gráficas e exigindo censura ao pensamento livre. Um presidente da República que muitos consideram democrata declara explicitamente sua intenção de extirpar um partido político. Fatos são descartados como boatos e boatos e calúnias tratados como fatos, numa brutal e absurda inversão da realidade. E o que é mais grave: com o apoio da imprensa adesista, que há tempos renunciou a fazer jornalismo para atuar contra ela própria. Há algumas semanas, houve uma manifestação no sindicato dos jornalistas em São Paulo, dominado por petistas. A pauta da manifestação: repudiar a... liberdade de imprensa! É o PIG (Partido da Imprensa Governista) em ação.

Mas a maior burrice está na falsa polarização que mostra o PSDB como um partido "de direita". É uma pena que não seja! Ao rotularem os tucanos dessa maneira, seus detratores fazem, sem querer, um elogio a um partido que, a começar pelo nome - social-democrata - sempre jogou nas hostes esquerdistas. Se o PSDB fosse de direita, seria um alento para a democracia brasileira. Seria uma garantia de pluralidade. Isso mostra até que ponto chegou a hegemonia ideológica gramsciana no Brasil. A única crítica aceitável passou a ser a de esquerda. Serra, privatista? Contem outra.

O lado bom dessa histeria eleitoral é que, nessas horas, muita gente que sempre se apresentou como "neutra" e "imparcial" sai do armário e assume de vez suas preferências ideológicas. Não é o caso deste blogueiro, que sempre deixou claro o que pensa de petistas (e de tucanos), e que faz questão de dizer: não vota em Dilma nem amarrado. O tal manifesto dos intelectuais petistas sobre educação, por exemplo, encontrei no site de alguém que sempre fez pose de imparcialidade superior. Ele até me expulsou do site, algum tempo atrás, por eu insistir em que ele deveria sair de cima do muro e se assumir como esquerdista.

"Por que você pega tanto no pé dos petistas? Por que não faz o mesmo com os tucanos?" etc. As respostas podem ser encontradas aí em cima. Há motivos de sobra para desconfiar do PT e temer pelo futuro da democracia caso esses stalinistas farofeiros permaneçam no poder. E há muito menos motivos, ou motivo nenhum, para ter a mesma apreensão em relação ao PSDB. Não é preciso ser tucano ou eleitor de Serra para perceber a diferença entre democratas e autoritários. Ou entre verdade e mentira. Basta não renunciar à inteligência.

quarta-feira, outubro 20, 2010

OS PETISTAS E A EDUCAÇÃO

Trabalhei como professor da rede pública de ensino durante certo tempo. Minha experiência no ramo foi suficiente para nunca mais querer repeti-la. Contando com os anos de faculdade, enfrentei no período, calculo, umas cinco ou seis greves de professores e até de “estudantes”, todos ligados, de alguma forma, à CUT e ao PT. A pauta de “reivindicações” era sempre a mesma: abaixo o ENEM e o Provão, fora FHC etc. (hoje, o ENEM e o Provão, desfigurados pela incompetência de quem os aplica, são os carros-chefe do Ministério da Educação, e o “fora FHC” foi convenientemente apagado da história oficial petista). Em 2001, lembro bem, fui encurralado em minha sala por um piquete de grevistas que acharam o cúmulo do absurdo um professor substituto do curso de História da Universidade Federal do Rio Grande do Norte ter feito uma votação com os alunos na qual eles decidiram pela continuação das aulas. Fui xingado de tudo que é nome e quase fui agredido. Ao resolver seguir a decisão da maioria dos alunos e manter o calendário de aulas, fui acusado de ser um inimigo da educação e dos trabalhadores. Já contei essa história aqui.
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É por isso que acho tão engraçado ver os lulo-petistas, declarados ou enrustidos, dizendo quão glorioso é o modelo educacional do governo Lula, e quão terrível seria o modelo tucano se for expandido para todo o País. Em especial, no que diz respeito aos chamados IFs (Institutos Federais de Educação) que, pelo que andei lendo por aí, devem ser assim uma espécie de Sorbonne para os pobres.
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Antes, uma pequena digressão, se me permitem. Se tem uma coisa que não deve servir de parâmetro para medir a qualidade de um governo, ao contrário do que dizem dez em cada dez políticos, é a educação. Explico. Um país-modelo do que seria um sistema educacional de qualidade para a esquerda é Cuba. Lá, repetem há décadas os lulo-petistas com a constância de um disco quebrado, não há crianças fora da escola, e todos têm acesso à educação básica e superior gratuita. Até mesmo as prostitutas cubanas, já se gabou Fidel Castro, são instruídas. Pois bem. Isso mostra que o modelo cubano é um éden de dignidade e de boa educação, certo? Nada disso. Basta perguntar a um estudante cubano se ele pode ler o que quiser, ou somente o que o Partido permite. Em Cuba, somente dez anos depois o povo soube da queda do Muro de Berlim. É isso que os lulo-petistas geralmente omitem quando falam de sua ilha da fantasia. Na realidade, regimes totalitários costumam dar muita atenção à educação. Não há melhor maneira de controle político e ideológico. Na Coréia do Norte, por exemplo, ao que se saiba não existem analfabetos.
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Ainda que o governo Lula tivesse criado 20.000 escolas federais no interior, eu não votaria em Dilma Rousseff. Por trás de argumentos como o dos IFs, está o seguinte raciocínio: “Eles roubam, mentem e transformaram o Estado num sindicato, mas expandiram a educação superior” etc. Não consigo engolir esse tipo de coisa, assim como não aceito trocar cultura democrática por obras públicas. O governo brasileiro que mais fez para expandir a educação superior em todos os tempos foi o do general Emílio Garrastazu Médici, de 1969 a 1974. Durante esse período, a economia brasileira cresceu, em média, 10% ao ano. Desnecessário dizer, Médici era muito popular. Seu governo tinha um programa de alfabetização, o Mobral. Uma das que se alfabetizaram graças ao Mobral foi uma tal de Marina Silva.
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Mas voltando. A candidatura oficialista está querendo convencer a todos que são eles, os lulo-petistas, os amigos da educação. Por essa lógica maniqueísta, a do adversário seria inimiga da educação. Dificil é conciliar isso com os fatos. Afinal, foi no governo do satanizado FHC que se criou um sistema de avaliação dos ensinos médio e superior, e se atingiu o número inédito de 97% de crianças matriculadas nas escolas públicas. (Mas repito: não é isso que me fará votar em Serra - vide o exemplo de Cuba acima.)
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Agora leiam o que vem a seguir com atenção:
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O sentido fundamental da expansão dos IFs no governo Lula foi o de contribuir ativamente para transformação educacional e social integral das comunidades nas quais atua, de modo a construir uma rede articulando ensino médio, ensino técnico, graduação e pós-graduação a fim de contribuir para a melhora dos índices de educação no interior do país.” O trecho acima não foi retirado do blog da campanha de Dilma, nem de nenhum comunicado oficial do Ministério da Educação, mas do site de alguém que se diz neutro em questões políticas (embora essa neutralidade só costume se manifestar em relação à esquerda...). Alguém que, inclusive, já me ejetou de seu site por eu ter apontado essa contradição.
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Prossegue o texto: “Ao pensar o Brasil a partir de seu próprio quintal (São Paulo) Serra acaba por cometer um erro histórico, que já comprometeu a qualidade de vida e o desenvolvimento social do povo brasileiro por muitos e muitos séculos.” A questão de fundo parece ser não o que o candidato fará pela educacão, mas uma espécie de bairrismo geográfico, que infelizmente voltou à tona na era Lula: “ele é paulista, logo não conhece nem entende o Brasil” etc. Sei. Quem conhece e entende o Brasil é Dilma Rousseff, que jamais tinha botado os pés no Nordeste até uns dois ou três anos atrás. Ela, sim, seria a candidata mais sintonizada com uma visão nacional... ..
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Além do mais, Lula, para todos os efeitos, é um político paulista. Até pouco tempo atrás, por exemplo, o grosso de seu eleitorado e do PT se concentrava nas grandes cidades do Sul-Sudeste do País. Lula, inclusive, não perdia a chance de esculhambar as “oligarquias nordestinas que exploram o povo”. Mesmas oligarquias com as quais ele agora se deleita no mesmo palanque, e cujos representantes, como Collor, vão votar com um adesivo de Dilma no peito. Hoje, o grosso de seu eleitorado está nos grotões.
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Sem falar que "erro histórico", ainda por cima de "muitos e muitos séculos", é mais que exagero. Se o erro a que se refere o autor do texto é priorizar o ensino técnico-profissionalizante, este só existe no Brasil há uns oitenta anos, mais ou menos. O Brasil mesmo tem apenas cinco séculos de existência. A primeira universidade brasileira, a USP, só existe desde 1934. Mesma USP que já virou uma espécie de madraçal do pensamento único esquerdista, e de onde saem professores que acusam Serra de querer implantar um modelo que reproduziria erros "de muitos e muitos séculos". Talvez alguém precise estudar um pouco mais de História.
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Um pouco mais do texto: “Serra (ou o seu auxiliar para assuntos educacionais) não parece ter a sensibilidade social de alguém que conhece a diversidade brasileira e erra profundamente ao imaginar que um modelo que funciona em São Paulo pode ser exportado com sucesso para outras regiões.”
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Agora sim, captei a mensagem. O problema do candidato tucano não estaria em ser paulista (logo, segundo a visão pró-Dilma, “limitado”), mas em não ter uma visão da educação calcada na “sensibilidade social” e no conhecimento da "diversidade brasileira"... Ao contrário, seu modelo educacional seria baseado tão-somente na obsessão empresarial capitalista em cortar gastos e em reduzir os serviços públicos e as políticas de desenvolvimento social ao mínimo. Isso significaria, enfim, "esfacelar o elemento social e humano da educação", substituindo-o pela “mentalidade fria dos números que tratam alunos como gráficos da bolsa de valores” etc. etc.
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Para além da simplificação grosseira – Serra como um “neoliberal”, vejam só... –, típica de panfletos da CUT, é a visão “social” ou “humana” da educação que me chama a atenção. Esta significaria, em contraposição a um ensino meramente técnico, um envolvimento com a comunidade etc. Com base nessa visão comunitarista, o governo Lula criou há alguns anos uma universidade do MST. Perguntem a mim que tipo de educação eu escolheria para meu filho, se a técnica profissionalizante ou a do Universidade do MST... Preciso responder?
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No universo conceitual dos lulo-petistas, não basta ensinar a ler e escrever, ou a fazer contas: é preciso “conscientizar”. Ditaduras como a de Cuba ou a da Coréia do Norte também se propõem a “conscientizar” a população. Não, obrigado. Prefiro o estudo alienante de porcas e parafusos.
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“Nós, professores da rede federal de ensino, já sabemos o que acontece quando essa lógica que toma a Avenida Paulista como a medida do mundo é transportada para a educação pública brasileira. O terrível dessa eleição é que questões importantes como essa se dissolvem no falatório do marketing, no leilão de promessas mirabolantes e da guerra suja de boatos. Você, leitor amigo, precisa prestar atenção nesses detalhes antes de votar, sob pena de comprar um produto muito bem embalado (mas que já está com a validade vencida a mais de [sic] oito anos) por pura negligência na leitura atenta do rótulo.”
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Causa-me arrepios ver esse “nós” em um texto, ainda mais de um autor que não se pretende representante de ninguém além dele mesmo. O resto do texto, tirando a menção à Avenida Paulista, eu assino embaixo. Ele define à perfeição um produto de marketing que estão tentando nos empurrar goela abaixo, com o selo oficial da Presidência da República.
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Um dos leitores do texto cujos trechos transcrevi acima, entusiasmado, escreveu um comentário em que informa que está enviando uma cópia para um blog pró-governo. Recomendo enviar, junto com o link, a imagem que vem a seguir. Ela vale por mil manifestos de intelectuais a favor de Dilma Rousseff. É uma manifestação de professores (!) em greve contra o governo tucano em São Paulo. Eis como os lulo-petistas tratam a educação.

Aí está. Se eles fazem isso em São Paulo, imaginem o que poderão fazer no resto do Brasil...

segunda-feira, outubro 18, 2010

É INÚTIL TENTAR EXPLICAR

Ok, a imagem não é muito original. Mas, convenham, é bem apropriada


Um lulo-petista - ou seja, alguém cujo cérebro já parou de funcionar faz tempo e que age como se fosse guiado por feromônios, como uma formiga-operária programada biologicamente para defender a rainha-mãe - escreveu um comentário sobre meu último texto, "Tirem a máscara". Segue o comentário anônimo, que quero crer seria uma refutação do que está lá escrito. Volto depois.
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José Serra já deu declarações brilhantes como "sou favorável à união gay", mas deixou à Igreja católica a batata quente da celebração do casamento gay. Que será que ele realmente pensa a respeito?

A Mônica Serra confidenciou à quatro alunas que já cometeu aborto e, que, no entanto ela diz que Dilma é a verdadeira "assassina de criancinhas". Ela sequer respondeu às alunas. O PSDB desfez a questão. Que será que ela pensa a respeito do aborto?

Chega de direita. Chega de preconceito social. Chega de Farol de Alexandria. Dilma 13!

José Serra se disse favorável à união civil de homossexuais. O que isso irá influir na decisão da Igreja Católica de "celebrar o casamento gay"? Resposta: nada. Absolutamente nada.

Por quê? Simples: a Igreja não reconhece o "casamento gay" há dois mil anos. E não vai ser por causa de Serra, ou de Dilma, ou de quem quer que seja, que vai reconhecer um dia. Muito menos celebrá-lo.

Digamos que um dia seja oficializada a união gay no Brasil. Uma vez que religião e Estado são coisas distintas no País desde a Constituição de 1891, e que desde então existem duas opções de casamento (o civil e o religioso), isso não mudaria um milímetro a orientação da Igreja sobre o assunto (certa ou não, isso é outra questão; e só para lembrar: ninguém é obrigado a ser católico). Então, cadê a "batata quente" de que fala o leitor?
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"Que será que ele [José Serra] pensa realmente a respeito?" Ele já disse o que pensa a respeito: é a favor. E Dilma, quando dirá o que realmente pensa a respeito de qualquer assunto, em vez de omitir o que pensa para tentar ganhar votos?
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Quanto à mulher de Serra ter feito aborto ou não, há dois pontos importantes, creio eu:
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1) Caso ela tenha mesmo abortado - O problema seria só dela, que deve responder por seus atos perante sua própria consciência. Ademais, não me consta que seja ela o candidato à Presidência da República. Ou é?
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Sem falar que, nesse caso, parece que estamos diante da repetição da máxima lulo-petista consagrada no mensalão: "viram? eles também fazem igual; então não há culpados" etc. É atacar para não ter que se defender.

Tendo ou não Mônica Serra feito aborto, a questão persiste: em que isso muda o fato de Dilma Rousseff não assumir o que disse?

2) Caso ela não tenha abortado - Nesse caso, isso não passa de calúnia e difamação mais abjeta, uma perfeita repetição do caso Miriam Cordeiro em 1989 (bolado pelo hoje lulista e dilmista roxo Fernando Collor, é bom lembrar).

Agora, sabem como essa estória começou? Eu digo como.

Tudo isso apareceu na imprensa porque uma ex-aluna - ou quatro, como diz o leitor - escreveu que Mônica Serra lhe teria confidenciado, assim como quem conta um segredinho de alcova, que, certa vez, quando estava no exílio, fez um aborto. E sabem de onde essa informação tão explosiva foi retirada? De um post... no Facebook!

Mas, esperem! Tem mais. O melhor vem agora.

Uma, digamos, "jornalista" - ou, melhor dizendo, uma militante petista travestida de jornalista - achou a informação "quente" ou boa demais para não ser noticiada. Deve ter esfregado as mãos e pensado: "Uau! Olha só a hipocrisia da turma do Serra! Isso é dinamite pura" etc. Resolveu então dar foros de legitimidade ao caso, partindo de fonte assim tão, digamos, confiável... Única fonte, aliás, da, digamos, "notícia". Além, claro, da única pessoa que pode realmente dizer se tal estória procede ou é boato: Mônica Serra. Mas a opinião dessa, para os fins a que se destina tão fidedigna "notícia", não conta, não é mesmo? De nada vale o que diz a dona do útero de onde teria sido retirado o suposto feto. O que vale mesmo é o que uma ex-aluna sua postou em sua página pessoal do Facebook sobre o que sua ex-professora lhe teria dito sobre o que teria feito há uns quarenta anos... Jornalismo de alta credibilidade, como se vê.

Outra coisa: no comentário, o leitor ou leitora usa o verbo "cometer" para falar de aborto ("ela cometeu aborto"...). Devo deduzir, portanto, que o caro leitor ou leitora é contra o aborto, e deve achá-lo uma coisa abominável, no que estaria em sintonia com a opinião da Igreja Católica. Sim, porque ninguém "comete" uma coisa boa, não é verdade? Nesse caso, só posso concluir, pela lógica, que o leitor ou leitora não deveria votar em alguém que se declarou, com todas as letras, a favor da legalização de prática tão horrenda e anticristã, certo? E que ser a favor da legalização de tal prática e depois se desdizer é algo da maior gravidade, não é mesmo? Preciso dizer mais ou fui suficientemente claro?

Resumindo: no caso de Dilma Rousseff, há um vídeo - aliás, mais de um - em que ela defende claramente a legalização do aborto, o que agora ela nega ter dito um dia (nessa hipótese, o que está no vídeo só poderia ser uma trucagem ou algum tipo de alucinação coletiva). No de Mônica Serra, há um post de uma ex-aluna sua no Facebook. Agora, adivinhem: para os lulo-petistas, qual dos dois casos é fato, e qual é boato?

Eu poderia tentar explicar aqui para os lulo-petistas a diferença entre casamento civil e casamento religioso, ou a separação entre Igreja e Estado, ou entre ter uma opinião clara sobre um tema e esconder o que pensa para fazer demagogia eleitoreira, ou entre jornalismo de verdade e boato postado no Facebook. Mas é inútil tentar explicar. Como inútil é querer explicar para essa gente o que significa coerência, vergonha na cara, enfim, essas coisas.

Abstenho-me de comentar a última linha do comentário do leitor. Creio que ela é auto-explicativa. Quem considera o PSDB "de direita" e fala, nesse contexto, em "preconceito social" (confesso que não entendi a referência ao Farol de Alexandria), precisa não de resposta, mas de remédio tarja-preta (talvez genérico).

E só para não perder a chance: não, não sou "serrista", tucano ou o que seja - e aí estão vários textos meus para provar o que digo, é só pesquisar -, mas, francamente, não me importo que os lulo-petistas me chamem assim. Não dou a mínima. Se querem me chamar de tucano ou serrista por ser a favor da coerência, e contra o trololó, então, vão em frente! Que assim seja. Já deixei de me importar com o que dizem de mim esses fazedores de rótulos. Para mim, importa é que um pato é um pato, não um cavalo ou um cachorro. Não vou perder meu tempo tentando mostrar a diferença entre uma coisa e outra para quem não quer saber e já renunciou à capacidade de pensar. É inútil tentar explicar isso também.

É verdade que as pessoas ficam mais burras em época de eleição. Mas também não precisam exagerar.

quinta-feira, outubro 14, 2010

TIREM A MÁSCARA


Aí vai um texto longo. Longo e necessário. Vocês vão perceber que se trata de um dos textos mais importantes que já escrevi aqui. Talvez o mais importante. Conto com a paciência de quem o ler.
***
Se tem algo que me irrita, mais até do que barulho de despertador ou buzina de carro às quatro da manhã, não é quando discordam de mim - pelo contrário, trato a discordância, feita nos marcos da civilização, como algo muito bem-vindo, sem a qual não há debate possível. É quando deparo com alguém que, instado a emitir uma opinião, simplesmente se recusa a fazê-lo, por medo de ferir suscetibilidades ou para não desagradar a fulano ou a beltrano, bancando o invertebrado. Pessoas assim, que confundem verdade com não ter lado, equilibrando-se sob um manto de ambigüidade que apenas revela falta de personalidade ou refugiando-se atrás do medo patológico de fazer uma escolha moral, me tiram do sério. Nessas horas, confesso que perco facilmente a paciência e mando o sujeito que insiste em ficar em cima do muro pastar. Faço questão de ter idéias claras, e espero o mesmo de meu interlocutor. Como dizem os católicos (os verdadeiros): "Sim ou não; o resto é obra do tinhoso".

Estamos presenciando uma situação desse tipo no Brasil. Uma candidata à chefia da nação, confrontada com o que ela mesma afirmou sobre um assunto pouco tempo atrás, agora nega de pés juntos e (literalmente) sob a cruz o que disse e está documentado. Chamada a responder por suas palavras, faz-se de vítima de uma campanha sórdida e de uma cruel cruzada e afirma que não falou nada daquilo que falou. Que sua opinião é outra. Que sempre foi outra. Ou que, sobre o tema em questão, não tem opinião: não é nem contra nem a favor, muito pelo contrário.

Eu quero saber o que Dilma Rousseff pensa sobre o aborto. Quero saber a opinião dela sobre o "casamento gay". Ou sobre a liberalização das drogas. Ou se ela crê ou não em Deus, ou em duendes, ou em ETs. Eu quero saber em que ela acredita e em que não acredita. Quero saber o que ela pensa e quem ela é de fato, e não o que diz a propaganda eleitoral.

Do mesmo modo, quero saber o que ela fez até agora. Quero saber se ela, quando era a "companheira Stela" da VAR-Palmares, participou ou não de seqüestros e assaltos a bancos, ou se matou ou feriu alguém. Quero saber se e como ela treinou guerrilha, e se chegou a disparar uma arma. (Assim como espero saber o que fez exatamente Zé Dirceu nesse período, o que ele só aceita dizer "em 20 ou 30 anos"...) Quero saber se Dilma falsificou ou não seu currículo, inventando títulos inexistentes. Ou o que ela fez realmente na política antes de filiar-se ao PT. Ou, ainda, se é ou não verdade que ela pressionou a Receita Federal para encerrar uma investigação sobre o clã Sarney. Quero saber se ela sabia ou não das falcatruas de sua braço-direito e amiga de compras Erenice Guerra, que transformou a Casa Civil da Presidência da República num balcão de negócios para beneficiar a própria família (esse sim, o verdadeiro ”Bolsa-Família”). Ou se partiu ou não dela, Dilma, a ordem para fazer dossiês e violar sigilos fiscais de adversários políticos. Quero saber se ela é socialista, como está no mesmo vídeo em que fala do aborto, ou se é capitalista, comunista, flamenguista ou zen-budista. Quero saber também, embora desconfie de qual é a resposta, se Lula sabia ou não do mensalão, ou quem matou Celso Daniel, ou se as FARC deram ou não dinheiro para a campanha de Lula em 2002, ou por que ninguém na imprensa falou durante 15 anos do Foro de São Paulo... Enfim, quero saber. Sou curioso.

Trocando em miúdos: quero saber se Dilma é mesmo a favor da legalização do aborto, como está claro no vídeo da sabatina na Folha de S. Paulo, ou se era a favor na época e passou a ser contra depois, ou se continua a favor e está apenas fingindo que não é, ou se estava fingindo que era a favor para os jornalistas em 2007 e agora finge que estava fingindo. Enfim, quero saber a verdade. Toda a verdade.

FALTA DE CLAREZA
"Ah, mas isso é desimportante! O que importa é discutir idéias, propostas para o País" etc. etc. Pois eu digo que a primeira proposta que deve ser cobrada de um candidato à Presidência, aliás de qualquer político, é falar a verdade. Quem não tem clareza em questões como o aborto, quem muda o discurso de acordo com o que é mais conveniente, quem espera que todos esqueçam o que disse um dia sobre um tema polêmico para ganhar uma eleição, está dando um claro sinal do que poderá vir a fazer no poder. Revela não somente falta de sinceridade, mas de projeto de governo. Quem demonstra ter posições pouco claras sobre temas como aborto e religião, quem não se define sobre esses assuntos caros ao povo brasileiro, demonstra também pouca ou nenhuma coerência sobre economia e política. Ou vão me dizer que o PT tem um projeto de governo?

Em qual Dilma se deve acreditar: na ardente defensora da descriminalização do aborto, que comparou a extração de um feto à extração de um dente, ou na versão 2010, “mãe”, “pró-vida” e cristã devotada (embora não tenha aprendido ainda a fazer direito o sinal da cruz)? Na Dilma que se questiona sobre a existência ou não de Deus ou na que frequenta a missa? Qual das duas dilmas é a verdadeira? Creio que tenho o direito de fazer essa pergunta.

Por trás das negativas e tergiversações de Dona Dilma, o que existe é o seguinte esquema, endossado por parte significativa da imprensa nacional comprometida com sua campanha (e que se apresenta como "neutra" ou "imparcial"):

- Toda e qualquer afirmação que os adversários da esquerda fizerem - ainda que seja lembrar o que os próprios esquerdistas fizeram ou disseram um dia - é "calúnia" e "demagogia eleitoral" da "direita fundamentalista".

- Tudo que os esquerdistas fizerem ou disserem deve ser visto como verdadeiro somente em ocasiões e em contextos que possam beneficiar a esquerda. Por exemplo: se dizem que são a favor da legalização do aborto, ou da união civil de homossexuais, é somente porque aquilo lhes é útil naquele momento, e diante daquela platéia; se não é útil - por exemplo, numa eleição presidencial -, então tratam de mudar o discurso e exigir que todos se esqueçam de suas palavras - e chamam de caluniadores vis os que insistirem no assunto.

- Por conseguinte, a única visão válida e aceitável é a de esquerda. Todo o resto - inclusive lembrar o que os esquerdistas diziam até a véspera - é proibido.

O nome disso, no jargão marxista, é dialética. Já vimos esse método antes: é o método stalinista. Consiste em apagar ou reescrever a História para que se ajuste às conveniências do poder. Stálin mandava retocar fotografias para delas apagar rivais que mandara eliminar. Os lulo-petistas inovaram: querem apagar da memória de todos o que a chefe dizia até ontem. Querem eliminar a própria memória, nos moldes do que é descrito em 1984, de George Orwell.

FALTA CORAGEM
Os brasileiros deveriam se perguntar mais sobre quem os governa ou os quer governar. Se o fizessem, talvez tívessemos sido poupados de um Lula na Presidência da República. E certamente não haveria uma Dilma Rousseff.

Falta coragem aos lulo-petistas. Coragem de vir a público e assumir o que pensam verdadeiramente. Coragem de se apresentarem como o que de fato são, sem os artifícios do marketing e sem máscaras. Falta vergonha na cara.

O tipo de reação da campanha dilmista a um fato tão escancaradamente irrefutável é revelador de como essa gente se comporta diante da verdade. Flagrada sua candidata dizendo o que pensa sobre um tema, não lhes resta outra coisa senão negar que a Terra gira em torno do Sol. Contam, para tanto, com o silêncio e a cumplicidade de parte da imprensa e da intelligentsia, que por décadas alimentou o mito lulo-petista, tratando-os com reverência devota ou com o benefício da ambiguidade. Agora, diante de uma questão como o aborto, entram em choque com a CNBB, exigindo fidelidade canina de quem sempre os apoiou e ajudou a elevá-los ao altar da santidade. Os padres católicos deveriam saber que, com a santidade, vem a impunibilidade, além da onipotência.

Agora que Dilma foi apanhada sem cirurgia plástica e cometendo o terrível delito de dizer a verdade, o que vão fazer, censurar o vídeo? Certamente, é o que fariam os lulo-petistas se pudessem. Vai ver é isso o que eles chamam de "controle social da mídia". Aliás, uma proposta presente no PNDH-3 (que Dilma diz ter assinado sem ler, para variar...). Vale lembrar: o PNDH-3 - em que está incluída a idéia de legalizar o aborto - é um fato, não um boato ou uma calúnia inventados por um rival.

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso foi massacrado diaramente durante seu governo porque supostamente teria dito “esqueçam o que escrevi”. Ele jamais pronunciou essa frase, embora tenha feito questão de rever, sobretudo na política econômica, posições que considerava (corretamente, aliás) ultrapassadas. (FHC, aliás, perdeu uma eleição em 1985 porque titubeou ao responder se acreditava ou não em Deus.) Pois Dilma não só pede que esqueçam o que ela disse, como nega mesmo que tenha dito um dia, apesar das provas abundantes em contrário. A frase de FHC, na verdade um boato plantado por seus adversários, foi tratada como um fato, enquanto a de Dilma, um fato comprovadíssimo, está sendo tratada como boato ou calúnia. Não consigo imaginar exemplo maior de duplo padrão e de desonestidade intelectual.

A VERDADEIRA QUESTÃO
Eu nem discuto se o aborto é certo ou não, se deve ou não ser legalizado. É perfeitamente válido, numa democracia, ser a favor da legalização do aborto, ou das drogas, ou da pena de morte. É algo perfeitamente legítimo, é do jogo que seja assim. O que não é válido nem tolerável é uma candidata à Presidência da República esconder o que pensa sobre um assunto para fazer demagogia eleitoreira. Pior: é ela negar o que ela mesma disse, com todas as letras, chamando de boato ou calúnia o que é um fato inegável, registrado para a posteridade. É posar de feminista radical num dia e transfigurar-se em Madre Teresa em outro.

Pessoalmente, acho que o debate sobre o aborto é necessário. Por isso é tão lamentável - mais que isso: é execrável - ver Dilma Rousseff fugindo da questão como o diabo foge da cruz. Eu gostaria de ouvir os argumentos dela a favor da descriminalização do aborto. Gostaria de vê-la debater o assunto. Mas debater significa dizer o que se pensa, não o que o marqueteiro acha mais adequado. E isso - falar o que se pensa - nem Dilma nem o PT querem fazer. Em vez de responder por suas palavras e encarar a questão, o que faz Dilma? Nega o que está no vídeo, posa de "mãe" e "pró-vida" e vai à missa para tentar ganhar votos. Mais: junta a demagogia à calùnia, espalhando boatos sobre seu adversário querer privatizar o pré-sal. É algo nojento, de revirar o estômago. É triste.

É em momentos como esse que se percebe o fosso que nos separa de povos realmente civilizados. Em outros países - nem falo dos EUA, mas dos países da Europa - temas como aborto ou religião fazem parte da agenda cotidiana do debate político. É a partir do posicionamento dos candidatos a respeito desses temas que os eleitores decidem em quem e em que partido irão votar. Assim, convencionou-se que quem defende posições como a legalização do aborto ou das drogas, por exemplo, é de esquerda ou de centro-esquerda. Quem assume posições contra a legalização do aborto, ou defende pontos de vista com base em valores e princípios cristãos, é a direita ou a centro-direita. E, desse modo, os campos se definem, com espaço para todas as opiniões e correntes políticas existentes na sociedade. No Brasil, não há nada disso: aqui, essas coisas simplesmente não se discutem, e ponto final. Quem ousar indagar um candidato sobre o que pensa - ou simplesmente expor a contradição entre o que ele ou ela diz agora e o que dizia antes das eleições - é tachado imediatamente de extremista de direita e reacionário. (Só falta gritarem: "é preconceito" - aliás, não falta, não.) Isso mostra como somos primitivos e atrasados.

Em um país como o Brasil, onde analistas tidos como sérios se esforçam para ser tão assertivos quanto uma porta e tão incisivos quanto uma canção dos Teletubbies, dissimular o que se pensa pode até render votos e deixar alguém bem na fita. Mas não dá para negar que essa é uma atitude covarde, que revela, na pior das hipóteses, oportunismo demagógico e, na melhor delas, falta de caráter. Mais que isso: demonstra inaptidão para o debate público franco e honesto, a incapacidade, portanto, de conviver com as regras do jogo democrático. Não são qualidades que se espera de um vereador em Santana do Passa-Quatro. Quanto mais em quem almeja ser Presidente da República.

Há alguns dias um jornal de uma cidade no México, acuado pelas ameaças dos narcotraficantes que infernizam o país, perguntou em editoral aos chefões locais do crime que notícias eles gostariam de ver publicadas. No Brasil, para não prejudicar a candidatura governista, há quem prefira sonegar fatos, tratando-os como boatos de campanha. É uma forma de censura. Os jornalistas mexicanos têm a desculpa do medo. Seus colegas brasileiros não têm esse álibi: fazem-no por ideologia. Ou por safadeza. Ou as duas coisas.

Insisto nesse ponto: a questão não é o aborto em si, sua moralidade ou não. Tampouco é se fulano ou sicrano acredita ou não em Deus. É se é moralmente correto e aceitável mentir para vencer eleicões. Tenho cá minha opinião sobre aborto e religião. Mas minha opinião, a não ser para mim e talvez para as pessoas que convivem comigo, não é importante. A de Dilma, porém, é. Idéias e passado obscuros rimam com presente de maracutaias e futuro de incertezas. Eu quero saber o que Dilma pensa a respeito desses temas. Tenho esse direito. Eu e o Brasil.
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Chega de trololó. Chega de tergiversar. É hora de tirar a máscara.

ARGUMENTOS BRILHANTES

Ah, eles estão descontrolados! .

Que direitos humanos e democracia, que nada! Se tem uma causa que mexe com os brios de muita gente, se tem algo capaz de retirar algumas pessoas do marasmo e levá-las às ruas, é a “causa” maconhista. Escrevi um texto sobre o assunto, que cito em meu post anterior. Vejam só algumas pérolas que me mandaram alguns adeptos do nobre esporte de ficar com os olhos vermelhos e engrolar a língua (omito os nomes dos remetentes, para alívio dos mesmos):

Da sua boca só sai merda meu amigo !
Quanta asneira junta ! Desse jeito você vai longe!
Você está precisando construir algumas idéias próprias em vez de continuar sendo um fantoche que concorda com qualquer coisa que seus governantes impõem.
...
quanta bosta escreveu!
mais conteúdo na cabeça
explore mais conhecimentos e
expanda mais seus pensamentos
você é muito fraco espiritualmente, um vendido. nem lí tudo, pois só fala caca de vaca.
Fica a dica!
...
Não da vontade nem de entrar numa conversa com vc, limitado, preconceituoso, quadrado...
e tudo isso sem fumar nada, imagine só

.
O que dizer diante de argumentos tão brilhantes, tão fina e ricamente elaborados, expostos com tão alto nível e com tamanho rigor científico, sem falar no respeito ao pensamento discordante e elegância? Nada, a não ser reconhecer a superioridade intelectual de cérebros intoxicados de maconha. Por isso, transcrevo aqui o que me escreveu um dos militantes da suprema "causa" de torrar conexões neurais:

Você chama a nossa causa, e a esquerda em geral de "idiota, desocupado, de quem não tem mais o que fazer". Aliás, você, o rebelde sem causa, só fez isso no texto inteiro, xingamentos, acusações, demonização... Isso sim é idiotismo, é desocupação... Não é enxergar o mundo e sim ver somente o pouco que está ao seu redor.

Falar o quê? Disse tudo.