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terça-feira, julho 15, 2014

A MÁSCARA DO GIGANTE

por Mario Vargas Llosa
 
Não houve nenhum milagre nos anos de Lula, e sim uma miragem que agora começa a se dissipar


Fiquei muito envergonhado com a cataclísmica derrota do Brasil frente à Alemanha na semifinal da Copa do Mundo, mas confesso que não me surpreendeu tanto. De um tempo para cá, a famosa seleção Canarinho se parecia cada vez menos com o que havia sido a mítica esquadra brasileira que deslumbrou a minha juventude, e essa impressão se confirmou para mim em suas primeiras apresentações neste campeonato mundial, onde a equipe brasileira ofereceu uma pobre figura, com esforços desesperados para não ser o que foi no passado, mas para jogar um futebol de fria eficiência, à maneira europeia.
 
Nada funcionava bem; havia algo forçado, artificial e antinatural nesse esforço, que se traduzia em um rendimento sem graça de toda a equipe, incluído o de sua estrela máxima, Neymar. Todos os jogadores pareciam sob rédeas. O velho estilo – o de um Pelé, Sócrates, Garrincha, Tostão, Zico – seduzia porque estimulava o brilho e a criatividade de cada um, e disso resultava que a equipe brasileira, além de fazer gols, brindava um espetáculo soberbo, no qual o futebol transcendia a si mesmo e se transformava em arte: coreografia, dança, circo, balé.
 
Os críticos esportivos despejaram impropérios contra Luiz Felipe Scolari, o treinador brasileiro, a quem responsabilizaram pela humilhante derrota, por ter imposto à seleção brasileira uma metodologia de jogo de conjunto que traía sua rica tradição e a privava do brilhantismo e iniciativa que antes eram inseparáveis de sua eficácia, transformando seus jogadores em meras peças de uma estratégia, quase em autômatos.

Contudo, eu acredito que a culpa de Scolari não é somente sua, mas, talvez, uma manifestação no âmbito esportivo de um fenômeno que, já há algum tempo, representa todo o Brasil: viver uma ficção que é brutalmente desmentida por uma realidade profunda.
 
Tudo nasce com o governo de Luis Inácio 'Lula' da Silva (2003-2010), que, segundo o mito universalmente aceito, deu o impulso decisivo para o desenvolvimento econômico do Brasil, despertando assim esse gigante adormecido e posicionando-o na direção das grandes potências. As formidáveis estatísticas que o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística difundia eram aceitas por toda a parte: de 49 milhões os pobres passaram a ser somente 16 milhões nesse período, e a classe média aumentou de 66 para 113 milhões. Não é de se estranhar que, com essas credenciais, Dilma Rousseff, companheira e discípula de Lula, ganhasse as eleições com tanta facilidade. Agora que quer se reeleger e a verdade sobre a condição da economia brasileira parece assumir o lugar do mito, muitos a responsabilizam pelo declínio veloz e pedem uma volta ao lulismo, o governo que semeou, com suas políticas mercantilistas e corruptas, as sementes da catástrofe.
 
A verdade é que não houve nenhum milagre naqueles anos, e sim uma miragem que só agora começa a se esvair, como ocorreu com o futebol brasileiro. Uma política populista como a que Lula praticou durante seus governos pôde produzir a ilusão de um progresso social e econômico que nada mais era do que um fugaz fogo de artifício. O endividamento que financiava os custosos programas sociais era, com frequência, uma cortina de fumaça para tráficos delituosos que levaram muitos ministros e altos funcionários daqueles anos (e dos atuais) à prisão e ao banco dos réus.
 
As alianças mercantilistas entre Governo e empresas privadas enriqueceram um bom número de funcionários públicos e empresários, mas criaram um sistema tão endiabradamente burocrático que incentivava a corrupção e foi desestimulando o investimento. Por outro lado, o Estado embarcou muitas vezes em operações faraônicas e irresponsáveis, das quais os gastos empreendidos tendo como propósito a Copa do Mundo de futebol são um formidável exemplo.
 
O governo brasileiro disse que não havia dinheiro público nos 13 bilhões que investiria na Copa do Mundo. Era mentira. O BNDES (Banco Brasileiro de Desenvolvimento Econômico e Social) financiou quase todas as empresas que receberam os contratos para obras de infraestrutura e, todas elas, subsidiavam o Partido dos Trabalhadores, atualmente no poder. (Calcula-se que para cada dólar doado tenham obtido entre 15 e 30 em contratos).
 
As obras em si constituíam um caso flagrante de delírio messiânico e fantástica irresponsabilidade. Dos 12 estádios preparados, só oito seriam necessários, segundo alertou a própria FIFA, e o planejamento foi tão tosco que a metade das reformas da infraestrutura urbana e de transportes teve de ser cancelada ou só será concluída depois do campeonato. Não é de se estranhar que o protesto popular diante de semelhante esbanjamento, motivado por razões publicitárias e eleitoreiras, levasse milhares e milhares de brasileiros às ruas e mexesse com todo o Brasil.
 
As cifras que os órgãos internacionais, como o Banco Mundial, dão na atualidade sobre o futuro imediato do país são bastante alarmantes. Para este ano, calcula-se que a economia crescerá apenas 1,5%, uma queda de meio ponto em relação aos dois últimos anos, nos quais somente roçou os 2%. As perspectivas de investimento privado são muito escassas, pela desconfiança que surgiu ante o que se acreditava ser um modelo original e resultou ser nada mais do que uma perigosa aliança de populismo com mercantilismo, e pela teia burocrática e intervencionista que asfixia a atividade empresarial e propaga as práticas mafiosas.
 
Apesar de um horizonte tão preocupante, o Estado continua crescendo de maneira imoderada – já gasta 40% do produto bruto – e multiplica os impostos ao mesmo tempo que as “correções” do mercado, o que fez com que se espalhasse a insegurança entre empresários e investidores. Apesar disso, segundo as pesquisas, Dilma Rousseff ganhará as próximas eleições de outubro, e continuará governando inspirada nas realizações e logros de Lula.
 
Se assim é, não só o povo brasileiro estará lavrando a própria ruína, e mais cedo do que tarde descobrirá que o mito sobre o qual está fundado o modelo brasileiro é uma ficção tão pouco séria como a da equipe de futebol que a Alemanha aniquilou. E descobrirá também que é muito mais difícil reconstruir um país do que destruí-lo. E que, em todos esses anos, primeiro com Lula e depois com Dilma, viveu uma mentira que seus filhos e seus netos irão pagar, quando tiverem de começar a reedificar a partir das raízes uma sociedade que aquelas políticas afundaram ainda mais no subdesenvolvimento. É verdade que o Brasil tinha sido um gigante que começava a despertar nos anos em que governou Fernando Henrique Cardoso, que pôs suas finanças em ordem, deu firmeza à sua moeda e estabeleceu as bases de uma verdadeira democracia e uma genuína economia de mercado. Mas seus sucessores, em lugar de perseverar e aprofundar aquelas reformas, as foram desnaturalizando e fazendo o país retornar às velhas práticas daninhas.
 
Não só os brasileiros foram vítimas da miragem fabricada por Lula da Silva, também o restante dos latino-americanos. Por que a política externa do Brasil em todos esses anos tem sido de cumplicidade e apoio descarado à política venezuelana do comandante Chávez e de Nicolás Maduro, e de uma vergonhosa “neutralidade” perante Cuba, negando toda forma de apoio nos organismos internacionais aos corajosos dissidentes que em ambos os países lutam por recuperar a democracia e a liberdade. Ao mesmo tempo, os governos populistas de Evo Morales na Bolívia, do comandante Ortega na Nicarágua e de Correa no Equador – as mais imperfeitas formas de governos representativos em toda a América Latina – tiveram no Brasil seu mais ativo protetor.
 
Por isso, quanto mais cedo cair a máscara desse suposto gigante no qual Lula transformou o Brasil, melhor para os brasileiros. O mito da seleção Canarinho nos fazia sonhar belos sonhos. Mas no futebol, como na política, é ruim viver sonhando, e sempre é preferível – embora seja doloroso – ater-se à verdade.
 
(Para ler no original:

quarta-feira, julho 09, 2014

A COPA DA VERGONHA

 
Sei que tem gente que vai chiar e achar que estou tripudiando, tirando onda, sendo "impatriótico", "do contra", "bem-que-eu-te-disse" etc. mas, paciência. É o preço a pagar por ter uma opinião que destoa da manada. Diante do acontecido ontem no Mineirão, não posso deixar de dizer o seguinte, que só corrobora o que venho dizendo desde que começou essa pantomima toda (e ninguém pode me chamar de estraga-festa):

A maior humilhação sofrida pelo Brasil NÃO foi
a derrota de 7 a 1 para a Alemanha. Futebolisticamente falando, foi sim um vexame sem precedentes, mas não foi essa a maior vergonha de todas. A maior humilhação, o maior vexame, a maior vergonha, o maior fiasco foi - é - a própria Copa do Mundo, um festival de corrupção e de desperdício do dinheiro público como nunca houve "na história deste país".

Acreditem, o chocolate de ontem não foi NADA, absolutamente nada, comparado aos 35 bilhões - repito: trinta e cinco bilhões - de reais jogados na latrina com a construção de estádios inúteis (só por curiosidade: para que vão servir os majestosos Arena Amazônia, Arena Pantanal e Arena das Dunas, entre outros elefantes brancos?), impostos não pagos (a FIFA não pagou um tostão de impostos na brincadeira), obras não realizadas (alguém lembra do Trem-Bala?), inacabadas e superfaturadas, para não falar das mortes de operários (foram nove ao todo) e da cagação de regras pela FIFA, que virou, no último mês, a verdadeira instância governante do Brasil.

Outra vergonha não menor foi a tentativa descarada da atual governante (sic) de usar politicamente o evento, tentando faturar eleitoralmente em cima de uma eventual vitória da seleção, coisa típica de mentes totalitárias - o que, felizmente, não poderão mais fazer. A referida já tinha tentado fazer isso, com a ajuda de um gigantesco esquema de marketing, no episódio da vaia na abertura ("coisa da elite branca" - muita gente se deixou cair nessa) e até com a contusão do Neymar. Ela estava contando com o Brasil na final para montar nos louros da equipe, do mesmo jeito que fez o regime militar com o Tri em 1970. Sendo que, naquela ocasião, a Copa era no exterior, e não havia dinheiro da viúva envolvido. Tudo isso torna a Copa uma VERGONHA sem tamanho para qualquer pessoa com um mínimo da dita-cuja na cara.

Sinto-me muito confortável para dizer isso pois, ao contrário de muitos que só agora vão perceber o tamanho do estrago, sou contra a Copa desde o começo, desde o dia em que o Brasil foi e$$$colhido pela FIFA para sediar o regabofe. Desde 2007 - e posso provar o que digo (vejam aqui: http://gustavo-livrexpressao.blogspot.com/2007/10/copa-do-mundo-para-qu.html) - não deixei de alertar para o fato de que, mesmo na hipótese improvável de a seleção brasileira vencer o campeonato, o grande perdedor seria o Brasil, a população brasileira, o contribuinte. E isso apesar de todo o oba-oba, de toda a babaquice megalomaníaca da "Copa das Copas", em que muitos embarcaram.

E não, não tenho nada a ver, nem quero ter, com os idiotas mascarados que saíram arrebentando vitrines gritando "Não vai ter Copa" etc. - estes, aliás, fazem o jogo do governo, que não por acaso mantém com eles relações que ainda estão para ser explicadas (perguntem ao Gilberto Carvalho). Para esses criminosos, todo o rigor da Lei, assim como para os larápios que tiveram a ideia de gerico de fazer uma Copa com 12 (doze!) sedes e lucraram com essa papagaiada. Creio que não preciso dizer quem eles são. Vocês sabem de quem estou falando.

Faço votos de que o fracasso futebolístico da seleção de Felipão, Fred e cia. sirva, pelo menos, para acordar o povo desse delírio ufanista em que foi atirado por um bando de quadrilheiros que se outorgou até o direito de manipular a alegria popular. O Brasil já estava derrotado no dia em que o governo (?!) decidiu transformar o país numa filial da FIFA.

Os jogadores da seleção brasileira poderão se recompor e dar a volta por cima. Haverá outras Copas etc. Já o Brasil terá de conviver com a vergonha eterna do saque do país por um bando de ladrões. Pensem nisso quando assistirem a Nacional X Princesa do Solimões na Arena Amazônia.

terça-feira, maio 13, 2014

Para quitar dívida da Copa, governo irá vender cidades-sede para a FIFA

 
O governo Dilma Rousseff decidiu tomar uma medida drástica para saldar o rombo de bilhões de reais nos cofres públicos devido à construção dos doze estádios para a Copa do Mundo: vender as cidades-sede para a FIFA.
 
A decisão sem precedentes foi anunciada no dia 16 pelo ministro dos Esportes, Aldo Rebelo, ao lado do presidente da FIFA, Joseph Blatter. “Estamos certos de que, em nome do espetáculo, a população irá entender essa medida”, afirmou o ministro. E explicou: “As doze capitais serão entregues por contrato à FIFA, que recolherá os impostos municipais e ficará encarregada dos serviços públicos essenciais, como segurança, transportes, saúde e educação, por um prazo mínimo de 99 anos, prorrogável caso seja necessário”. Completou: “Tenho certeza de que as cidades terão serviços Padrão FIFA!”.
 
Rebelo chegou a irritar-se com um jornalista que perguntou se a entrega das cidades à FIFA seria privatização, afirmando que se trata, na verdade, de uma “concessão”. “Privatização é o que o governo FHC e os tucanos fazem. Nós concedemos, como nos aeroportos”, declarou, em tom enfático.
 
Indagado sobre o que será feito a partir de agora dos prefeitos das cidades, que ficarão sem emprego, o ministro mostrou-se evasivo: “Estamos estudando algumas possibilidades. Talvez possamos aproveitá-los como gandulas nos jogos da seleção”.
 
Outra pergunta foi sobre o que seria feito depois da Copa com estádios monumentais como os de Fortaleza, Natal, Cuiabá, Brasília e Manaus: “Estamos pensando em usá-los para os jogos da Champions`League”, respondeu Joseph Blatter, acrescentando que os times de futebol locais farão parte da competição. “Certamente equipes de primeiro nível como Icasa, Alecrim, Brasiliense e São Raimundo irão encher os estádios com jogos de altíssima qualidade técnica”.
 
Garoto-propaganda da Copa, o ex-jogador Ronaldo Fenômeno elogiou a iniciativa. “Não se faz Copa do Mundo com prefeituras”, declarou. O rei Pelé também enalteceu a medida: “Morrer operário em construção de estádio é algo normal, Copa do Mundo é só de quatro em quatro anos”, entusiasmou-se. E arrematou: “Pra frente Brasil!”
 
Do blog do Joselito Müller.

domingo, novembro 17, 2013

Marcola e Fernandinho Beira-Mar prestam solidariedade aos mensaleiros e se declaram presos políticos

 
O ex-ministro José Dirceu e o deputado federal José Genoíno, que tiveram a prisão decretada pelo STF (Supremo Tribunal Federal) no dia 15 de novembro por seu envolvimento no escândalo do Mensalão em 2005, receberam um apoio de peso. Inspirados pelo exemplo dos petistas, que se declararam "presos políticos", os líderes das facções criminosas PCC (Primeiro Comando da Capital), de São Paulo, Marcos Willians Herbas Camacho (vulgo Marcola) e Comando Vermelho, do Rio de Janeiro, Luiz Fernando da Costa (o Fernandinho Beira-Mar), presos desde 2001, lançaram hoje, dia 17, um manifesto no qual protestam de forma veemente contra a "forma arbitrária e antidemocrática" com que foram condenados, e se declaram, também, presos políticos.

No manifesto - chamado de "salve" na gíria criminal -, Marcola e Beira-Mar expressam total apoio e solidariedade aos doze condenados cujos mandados de prisão foram expedidos na última sexta-feira. Não foram poupadas palavras duras ao ministro do STF Joaquim Barbosa, que decretou a prisão imediata dos acusados: "negro traidor" e "capitão-do-mato a serviço da elite conservadora" são alguns adjetivos assacados contra Barbosa. O manifesto também acusa a "mídia burguesa" e os "interesses capitalistas" pelas detenções. "Nesse momento difícil que os manos companheiros presos políticos Zé Dirceu, Genoíno, Delúbio, Valério, Pizzolato e outros estão atravessando, queremos mandar um salve e manifestar todo nosso apoio e solidariedade. Também nos consideramos presos políticos", afirma o texto do manifesto. "Assim como vocês, somos vítimas inocentes do sistema, punidos injustamente e sem provas por termos lutado por um mundo melhor, mais justo, fraterno e solidário". 
 
A nota louva ainda Dirceu, ex-ministro da Casa Civil do governo Lula, e Genoíno, ex-presidente nacional do PT, chamando-os de "heróis da luta pela democracia" e "guerreiros do povo brasileiro". Quanto a Dirceu, o texto credita sua prisão a uma "perseguição das forças reacionárias que dominam há quinhentos anos este país" e à "inveja da elite". Esta não se conformaria, segundo o texto, em consumir apenas vinhos nacionais e de segunda categoria, "mordendo-se de inveja por não poder, como Dirceu, desfrutar um Romané Conti de 2 mil reais a garrafa todo café da manhã".
 
O manifesto contesta a legitimidade das prisões e finaliza, de forma desafiadora:  "Não poderão prender nossas consciências. Abaixo o sistema! Liberdade para os presos políticos! Viva o PT!"
 
Procurado por nossa reportagem, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que se encontra de férias em Cuba, declarou por sua assessoria que não irá comentar a nota-manifesto dos dois líderes criminosos. Entretanto, afirmou que considera os petistas encarcerados "presos de consciência" e "vítimas de um julgamento de exceção". "É triste ver os cumpanhêro (sic) Dirceu e Genuíno ser preso desse jeito", lamentou o ex-presidente. E acrescentou, lembrando visita presidencial dele à ilha em 2010: "Eles (os petistas presos) são os único prêsu políticu (sic) da América Latina, hoje. Os daqui de Cuba é tudo (sic) bandido comum". 

Do lado de fora das penitenciárias de segurança máxima de Presidente Bernardes (SP) e de Catanduvas (PR), onde Marcola e Beira-Mar, respectivamente, cumprem pena por tráfico de drogas, assalto, sequestro e homicídio, um grupo de militantes e simpatizantes está desde ontem em vigília, defendendo a inocência dos acusados.

domingo, junho 30, 2013

O FIM DE DILMA ROUSSEFF? (E ISSO NÃO É NECESSARIAMENTE UMA BOA NOTÍCIA...) OU: REFLEXÕES SOBRE UMA REVOLTA EM BUSCA DE UM OBJETIVO


Acredito que já é possível tirar algumas conclusões sobre o que está acontecendo. Aí vai minha análise. Vamos tentar botar alguma ordem nesse galinheiro.

Primeiro o lado bom:

- Os protestos que há três semanas sacodem o Brasil não têm nada a ver com outros movimentos no mundo atual ou no passado, tais como os que recentemente sacudiram Espanha, Portugal, Grécia, Turquia, Egito, “Occupy”, 1968 e
tc. Isso é bom, porque 1) todos esses movimentos tiveram como tônica o anticapitalismo ou o antiocidentalismo, enquanto as reivindicações no Brasil são muito mais difusas; 2) alguns desses movimentos, como no Egito e os de 68 no Brasil, se dirigiam contra regimes autoritários (não é o caso – ainda – do Brasil, embora muita gente no partido do governo trabalhe nesse sentido); e 3) sobretudo na Europa, tais movimentos se deram num contexto de crise econômica, o que também não é (ainda) o caso do Brasil (apesar do “pibinho” e da volta da inflação);

- O discurso governamental triunfalista, do tipo “Brasil Maravilha”, foi totalmente desmoralizado. As ruas mostraram que a propaganda lulo-petista, exaustivamente repetida nos últimos dez anos, é uma farsa. “Mais saúde e educação”, “mais hospitais e menos estádios”, “mais segurança”, “menos impostos” “chega de corrupção” etc. mostraram que os problemas cruciais do País continuam sem solução, e escancararam o abismo entre o discurso oficial e a realidade. Enfim, acabou o oba-oba. De agora em diante, será muito mais difícil para os marqueteiros do Planalto venderem a ideia ufanista de que vivemos no melhor dos mundos;

- Caiu a máscara de Dilma Rousseff. A “gerentona” supostamente ultra-competente revelou-se como aquilo que realmente é: inábil e despreparada, incapaz de gerir os destinos do País. Demorou para dar uma resposta às manifestações e, quando o fez, depois de se aconselhar com seu padrinho político (o que mostrou, mais uma vez, despreparo e falta de independência), agiu de forma desastrosa e destrambelhada, primeiro fingindo que os protestos não tinham qualquer relação com seu governo e, depois, com propostas inócuas e/ou alopradas como a importação de médicos cubanos e o plebiscito para convocar uma Constituinte exclusiva – medida que, além de cheirar a golpismo, revelou falta de coordenação dentro do próprio governo. Incompetente, à frente de um ministério de áulicos, Dilma demonstrou também falta de coragem ao desistir, por medo de vaias, de comparecer à decisão da Copa das Confederações no Maracanã – o que deveria ser a apoteose do “Brasil Maravilha” virou motivo de constrangimento;

- Acabou o monopólio esquerdista das ruas. Os protestos, até por não terem liderança e serem (aparentemente) espontâneos, tiveram como uma das marcas principais o caráter apartidário, dirigindo-se contra todos os partidos – inclusive os de esquerda. Sob as palavras de ordem “sem partidos” e “fora oportunistas”, bandeiras do PT e de outras legendas de esquerda foram rasgadas e militantes desses partidos que tentaram se infiltrar nas manifestações foram hostilizados e expulsos. Pela primeira vez em décadas não se viram bandeiras vermelhas dominando um movimento de massas no Brasil.

Esse foi o lado bom dos acontecimentos. Agora as más notícias:

- Os protestos, que começaram em SP como uma manobra eleitoreira do PT contra o governo estadual, a pretexto do aumento da tarifa de ônibus (manobra que deu errado e fugiu ao controle), não têm rumo, nem liderança. Nessas condições, acabaram se perdendo em slogans vazios e muitas vezes contraditórios, que expressam apenas um vago sentimento de insatisfação “por um Brasil melhor” ou “contra tudo isso que está aí”, sem clareza e sem dar nome aos bois. Resultado: grupos esquerdistas e o próprio governo vêm tentando se rearticular para sequestrar as manifestações, com as causas mais disparatadas (“Fora Feliciano”, “contra a ‘bolsa-estupro’” etc.). Assim, os protestos, sem objetivos claros, perdem-se no vazio ou degeneram em baderna e vandalismo – vândalos de lojas e de instituições;

- Mais uma vez, ficou claro que não há oposição no Brasil. Tão perplexos e desorientados pela marcha dos acontecimentos quanto o governo, os partidos soi-disant
 oposicionistas se limitaram a assistir ao povo na rua, perdendo mais uma chance de se colocarem à frente das reivindicações e dos protestos, preferindo continuar no rame-rame de declarações anódinas e/ou eleitoreiras (não se viu até agora, por exemplo, nenhum movimento parlamentar a favor de uma CPI da Copa). Tímida e vacilante, a “oposição” recusou-se a denunciar o governo, chegando mesmo a considerar válida a proposta bolivariana do plebiscito para a reforma política. Um vexame, talvez pior do que o de 2005, quando DEM e PSDB perderam a oportunidade de pedir o impeachment de Lula da Silva, envolvido até o pescoço no escândalo do Mensalão;

- A grande incógnita: Lula. Em silêncio há mais de 200 dias por causa do escândalo Rosemary Noronha (mais um!), o auto-proclamado maior líder mundial da História sumiu de circulação com o início dos protestos. A má notícia é que, com o esfarelamento de Dilma Rousseff e sua queda vertiginosa nas pesquisas, "ele" poderá retornar em 2014 (muita gente no PT torce para que isso ocorra, e quer ver Dilma longe da Presidência). Pode mesmo acontecer uma inflexão mais à esquerda do governo, como a ideia do plebiscito parece antever. Enfim, não há nada certo, e as coisas podem ficar ainda piores do que já estão. A ver.

quinta-feira, junho 20, 2013

NOTAS SOBRE UMA "REVOLUÇÃO" IMAGINÁRIA (2)


Voltando a como esse bafafá todo começou: concordo que a questão não se resume aos 20 centavos de aumento da passagem de ônibus em SP. Quem conhece o tal "Movimento Passe Livre" sabe muito bem que não é isso o que move esse pessoal. Eles estão se lixando pra esse tipo de coisa. Os objetivos deles, na verdade, são bem mais, digamos, revolucionários (e, portanto, inconfessáveis)... Só não vê quem não quer.
 
*

Aposto o quanto quiserem que, dentro de alguns dias, algum "intelequitual" marxista/socialista/gramsciano de galinheiro, filiado ao PT ou ao PSOL e provavelmente da USP ou da PUC, vai aparecer com altas "análises" do que está acontecendo no Brasil, tentando provar por A mais B que os protestos constituem uma nova forma de expressão de revolta das massas exploradas/oprimidas contra o "neoliberalism...o", o "capitalismo selvagem", as "corporações", o FMI, o Marco Feliciano etc. Vão falar tudo, menos o essencial: que o povo está de saco cheio de Dilma e dos petralhas. Somente está confuso e não sabe direito o que quer e contra o quê está protestando, pois não tem quem o represente e o lidere numa hora dessas, já que o país não tem oposição. Vão se aproveitar disso e tentar usar as manifestações a favor das teses esquerdistas, como a própria Dilma tentou fazer em seu discurso surrealista de ontem. Querem apostar como isso vai acontecer?

*
Meus parabéns aos manifestantes em SP que impediram ontem um grupo de militantes de um partideco comunista jurássico infiltrado no movimento de se apropriar do protesto, deixando claro que a manifestação era apartidária. É por aí. Não se pode deixar que esses bocós esquerdopatas sequestrem os protestos para suas agendas totalitárias. Agora só falta encontrarem um rumo para as manifestações, deixando claro que se trata de uma revolta contra O GOVERNO DE DILMA ROUSSEF e tudo que ele representa, como a impunidade de Lula e a farra com o dinheiro público na Copa. No momento em que aparecer uma faixa gigantesca dizendo FORA DILMA ou LULA NA CADEIA eu pego o primeiro avião e me junto aos protestos.
*
Agora parece que todos acordaram para o fato de que a Copa do Mundo vai ser um desperdício monumental de dinheiro público. Não gosto de me gabar, mas se tivessem lido meu blog em 2007, teriam descoberto isso faz tempo.

Como os fatos não param de mostrar, eu estava certo. De novo. Infelizmente.

Taí a prova do crime: htt
p://gustavo-livrexpressao.blogspot.gr/2007/10/copa-do-mundo-para-qu.html
 
P.S.: No texto, eu estava sendo modesto: na época, falava-se que a brincadeira iria custar 6 bilhões de reais aos cofres públicos. A última estimativa bota a conta em 28 bilhões (e contando). Pois é...
*
DA SÉRIE "PERGUNTAR NÃO OFENDE":

O que tem a dizer a filósofa (!) Marilena Chauí sobre os protestos no Brasil?
*

Aí vem um bobinho e me escreve o seguinte:

" Fora Dilma" e quem vamos colocar lá? Aecio, Serra, Marina, Fernando Paes ? ; me desculpe mas se eles sequer são capazes de fazer uma oposição decente e mostrar um contraponto as ideias do PT, não merecem o meu voto."

Tirando a parte da oposição que nao honra as calças que veste - uma papinha de alface sem sal feita de aécios, serras e marinas -, o rapaz parece querer se fazer de besta. O FORA DILMA, assim como o LULA NA CADEIA, dariam um Norte aos protestos, que até o momento não passam de uma onda contra-tudo-e-contra-nada-ao-mesmo-tempo. Sem falar que seria a quebra de um tabu. Nem precisa ser impeachment.

A proposito, alguém lembrou "de quem colocar lá" no "Fora Collor"? E nos inúmeros "Fora FHC" dos anos 90, alguém lembrou desse detalhe?
*
PERGUNTAR NAO OFENDE...
Se o tal "Movimento Passe Livre" é realmente um movimento "pacífico", como se apresenta e como diz parte da imprensa, então por que até agora não condenou o vandalismo em SP?
*
O discurso ontem de dona Dilma elogiando (!?) os manifestantes (???!!!) deveria entrar pra História como uma dos mais surreais de todos os tempos. Ficou parecendo que o que está acontecendo nas ruas não tem nada a ver com o governo dela. E o pior é que tem gente na imprensa que achou o máximo (!!!).

Depois a Grande Vaiada foi se encontrar em reunião com - adivinhem quem! - LULA e o marqueteiro Joã
o Santana... Sobre o que conversaram? Será que foi sobre as tarifas de ônibus em SP?

E até agora não vi nenhuma faixa de FORA DILMA nos protestos. Somente vandalismo e slogans anódinos, que não querem dizer nada. Parece mesmo que as manifestações viraram uma grande Terra do Nunca. Muito calor e pouca luz. Que pena.
*
A pergunta que não quer calar: cadê a UNE? Não são eles que gostam de protestos?

Aliás, alguém viu o Sérgio Cabral por ai? E Fernando Haddad, por onde anda? Tem político que só aparece no hora do aplauso...
*
Jornalistas agredidos, lojas saqueadas, bancos depredados, carros incendiados... Não, isso não é manifestacao. É fascismo. Ponto.
*
Não faltam motivos para protestar no Brasil, e inclusive para exigir a queda do governo, como a roubalheira petista e a gastança indecente com eventos inúteis e idiotas como a Copa do Mundo. Por isso é lamentável constatar que as manifestações estão sendo sequestradas por grupos radicais ultra-esquerdistas que orbitam em torno do PT e degeneraram numa onda de vandalismo sem sentido, que parece ter como único objetivo desviar a atenção do essencial e fazer quebra-quebra para provocar a reação da PM e depois posar de vítima da "violência policial" etc. O que aconteceu ontem em SP e no RJ deixou isso claro para quem ainda pensa.

Sinto-me muito à vontade pra dizer isso, pois desde o início desconfiei da sinceridade dos "manifestantes" em SP, que, divididos entre provocadores radicais e uma massa de idiotas úteis, queria o "passe livre" nos transportes públicos (?!). O resultado é que a coisa toda acabou virando uma onda de protestos confusos e sem foco, onde cabe literalmente de tudo, com reivindicações vagas e muitas vezes incoerentes e contraditórias ("contra a corrupção", "contra os políticos", "contra o capitalismo", "por um mundo melhor" etc.). Nessas condições, eu ficaria surpreso se seitas esquerdóides como o PSOL não tentassem se apropriar dos protestos
, como de fato está acontecendo.

Ainda há tempo, porém, para reverter essa situação: basta os manifestantes abandonarem os slogans abstratos e, de forma apartidária, isolarem os baderneiros infiltrados e se concentrarem no que realmente importa, dando nomes aos bois. Por exemplo: "LULA NA CADEIA", "FORA DILMA" (não necessariamente impeachment), "POR UMA OPOSIÇÃO DE VERDADE", "CHEGA DE PT" ou "CADEIA PARA OS MENSALEIROS". Aqui e ali, alguém timidamente e de forma individual lembra essas reivindicações, mas até agora não vi nenhuma delas se transformar em bandeira de luta capaz de arrastar multidões. Enquanto isso não acontecer, sinto dizer, a tendência é que os protestos virem uma oportunidade perdida.
*
Sugestão de faixa para os protestos:

"LULA LÁ... NA CADEIA!"

Então? Bora pra rua?

domingo, fevereiro 17, 2013

PETISTAS OTÁRIOS

Este não é um blog de humor, embora às vezes alguns leitores se esforcem para que ele o seja. Um anônimo, por exemplo, ficou mordido por causa do que escrevi em meu post QUERO SER PETISTA. E acabou aumentando a lista das piadas que seguem a linha "humor involuntário" (também conhecido como "vergonha alheia").
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Vejam o que ele escreveu, na língua que desconfio ser o Português (língua de petista, enfim):
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É uma injustiça o que vocÊ postou, agride a todos os petistas, não foi um petistas que roubaram dinheiro foram pessoas que se aproveitaram do seu cargo, independente do partido. o que mais me anojou é vc dizer que ser petista é um bom negocio, eu sou petista pelos ideais aos quais luto e não por dinheiro porque nunca recebi R$1,00 do governo e nem quero. não somos todos iguais.
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Realmente, fico na dúvida sobre o que mais me enojou - e não "anojou", como está aí em cima, quero crer que num erro de digitação (estou sendo bonzinho...) -: se a idéia mixuruca de que foram "pessoas que se aproveitaram do seu cargo, independente do partido" (e o Mensalão existiria sem o PT?), ou se a insistência, quero crer que sincera, de que alguém seja petista "pelos ideais aos quais (sic) luto"... (que nobre ideal moveria o partido de Lula e Zé Dirceu? O enriquecimento próprio em nome dos trabalhadores? O apoio a figuras como Collor e Maluf em nome da ética na política?).
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Mas tudo bem, vou dar um desconto. Admito que cometi uma injustiça, como diz o caro leitor. É verdade, há petistas e petistas: há os espertalhões, como Lula e Zé Dirceu, e há os idiotas. Os primeiros estão na cúpula do partido, e se locupletaram nos últimos dez anos em todo tipo de negociata. Os segundos geralmente são os militantes da chamada "base", a arraia-miúda. Estes são perfeitos otários, pois continuam a acreditar que um partido que transformou a corrupção numa forma de arte ainda teria algum "ideal" pelo qual lutar. Em geral, até reconhecem que o Mensalão existiu - até porque o STF, diante da abundância de provas, já condenou os mensaleiros e a tese da "conspiração das elites e da mídia", por totalmente ridícula e ofensiva à inteligência, não colou -, mas vêem esse e outros escândalos como meros "desvios de conduta" de um partido que teria a marca original da pureza e da santidade. Como se o fato de TODA A CÚPULA do PT ter caído por causa das denúncias não fizesse qualquer diferença... É o caso do rapaz (ou da moça) aí em cima.
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Certa vez, Nelson Rodrigues escreveu que havia dois tipos de stalinista: o stalinista puro, que defendia abertamente o terror político, muitas vezes de forma cínica, por oportunismo, e o crente sincero no comunismo, que ele admitia que existisse. Não importa, ele dizia, este último também é stalinista, ainda que não o saiba. Talvez até mais stalinista do que Stálin, pois sua crença ideológica está alicerçada na mais completa ignorância, na idiotice mais escancarada.
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Assim ocorre também com os petistas. Nem todos se beneficiam da corrupção - um dos articuladores do esquema do Mensalão, José Genoíno, por exemplo, vangloria-se de morar numa casa modesta na periferia de São Paulo, e isso não o torna menos petralha. Pelo contrário: apenas confirma o padrão dos partidos de esquerda, mistos de máfia e seita religiosa. Do mesmo modo que fiéis incautos sustentam o fausto de pastores espertalhões, os militantes petistas bancam a farra dos delúbios e dirceus. Não é por acaso, aliás, que o PT se aliou à Igreja Universal do Reino de Deus: o PT é a Igreja Universal da política, assim como a Igreja Universal é o PT da religião. Ainda que não receba um Real dos cofres públicos, o militante petista é cúmplice do maior escândalo de corrupção da História do Brasil. Cumplicidade agravada pela completa estultice.
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Outro exemplo: o sujeito que, tendo militado durante anos no PT e dedicado a ele parte significativa de sua vida, decide romper com o partido, pois este, atolado na corrupção e em alianças espúrias, teria se afastado de seus ideais de origem e não seria mais, portanto, "de esquerda". Surge, assim, um outro partido, clamando pela "volta às origens" (que são também as da corrupção)... E assim o ciclo se renova e se repete, ad infinitum. É também uma forma de petismo.  O petismo é auto-renovável e imune aos fatos. Daí porque ser petista continua a ser um excelente negócio.
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Qualquer criança sabe que, para cada malandro, há milhares de otários. O PT é uma prova disso. Não é preciso ser um Lula ou um Zé Dirceu para avalizar a roubalheira dos petralhas. Para tanto, basta ser idiota. Basta ser petista.   

quarta-feira, janeiro 02, 2013

A DÉCADA PERDIDA – POR MARCO ANTONIO VILLA

A década perdida

31 de dezembro de 2012
MARCO ANTONIO VILLA - O Estado de S.Paulo

A eleição de Luiz Inácio Lula da Silva em 2002 foi recebida como um conto de fadas. O País estaria pagando uma dívida social. E o recebedor era um operário.

Operário que tinha somente uma década de trabalho fabril, pois aos 28 anos de idade deu adeus, para sempre, à fábrica. Virou um burocrata sindical. Mesmo assim, de 1972 a 2002 - entre a entrada na diretoria do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo e a eleição presidencial -, portanto, durante 30 anos, usou e abusou do figurino do operário, trabalhador, sofrido. E pior, encontrou respaldo e legitimação por parte da intelectualidade tupiniquim, sempre com um sentimento de culpa não resolvido.

A posse - parte dos gastos paga pelo esquema do pré-mensalão, de acordo com depoimento de Marcos Valério ao Ministério Público - foi uma consagração. Logo a fantasia cedeu lugar à realidade. A mediocridade da gestão era visível. Como a proposta de governo - chamar de projeto seria um exagero - era inexequível, resolveram manter a economia no mesmo rumo, o que foi reforçado no momento da alta internacional no preço das commodities.

Quando veio a crise internacional, no final de 2008, sem capacidade gerencial e criatividade econômica, abriram o baú da História, procurando encontrar soluções do século 20 para questões do século 21. O velho Estado reapareceu e distribuiu prebendas aos seus favoritos, a sempre voraz burguesia de rapina, tão brasileira como a jabuticaba. Evidentemente que só poderia dar errado. Errado se pensarmos no futuro do País. Quando se esgotou o ciclo de crescimento mundial - como em tantas outras vezes nos últimos três séculos -, o governo ficou, como está até hoje, buscando desesperadamente algum caminho. Sem perder de vista, claro, a eleição de 2014, pois tudo gira em torno da permanência no poder por mais um longo tempo, como profetizou recentemente o sentenciado José Dirceu.

Os bancos e as empresas estatais foram usados como instrumentos de política partidária, em correias de transmissão, para o que chamou o ministro Celso de Mello, do Supremo Tribunal Federal, de "projeto criminoso de poder", quando do julgamento do mensalão. Os cargos de direção foram loteados entre as diferentes tendências do Partido dos Trabalhadores (PT) e o restante foi entregue à saciedade dos partidos da base aliada no Congresso Nacional. O PT transformou o patrimônio nacional, construído durante décadas, em moeda para obter recursos partidários e pessoais, como ficou demonstrado em vários escândalos durante a década.

O PT era considerado uma novidade na política brasileira. A "novidade" deu vida nova às oligarquias. É muito difícil encontrar nos últimos 50 anos um período tão longo de poder em que os velhos oligarcas tiveram tanto poder como agora. Usaram e abusaram dos recursos públicos e transformaram seus Estados em domínios familiares perpétuos. Esse congelamento da política é o maior obstáculo ao crescimento econômico e ao enfrentamento dos problemas sociais tão conhecidos de todos.

Não será tarefa fácil retirar o PT do poder. Foi criado um sólido bloco de sustentação que - enquanto a economia permitir - satisfaz o topo e a base da pirâmide. Na base, com os programas assistenciais que petrificam a miséria, mas garantem apoio político e algum tipo de satisfação econômica aos que vivem na pobreza absoluta. No topo, atendendo ao grande capital com uma política de cofres abertos, em que tudo pode, basta ser amigo do rei - a rainha é secundária.

A incapacidade da oposição de cumprir o seu papel facilitou em muito o domínio petista. Deu até um grau de eficiência política que o PT nunca teve. E o ano de 2005 foi o ponto de inflexão, quando a oposição, em meio ao escândalo do mensalão, e com a popularidade de Lula atingindo seu nível mais baixo, se omitiu, temendo perturbar a "paz social". Seu principal líder, Fernando Henrique Cardoso, disse que Lula já estava derrotado e bastaria levá-lo nas cordas até o ano seguinte para vencê-lo facilmente nas urnas. Como de hábito, a análise estava absolutamente equivocada. E a tragédia que vivemos é, em grande parte, devida a esse grave erro de 2005. Mas, apesar da oposição digna de uma ópera-bufa, os eleitores nunca deram ao PT, nas eleições presidenciais, uma vitória no primeiro turno.

O PT não esconde o que deseja. Sua direção partidária já ordenou aos milicianos que devem concentrar os seus ataques na imprensa e no Poder Judiciário. São os únicos obstáculos que ainda encontram pelo caminho. E até com ameaças diretas, como a feita na mensagem natalina - natalina, leitores! - de Gilberto Carvalho - ex-seminarista, registre-se - de que "o bicho vai pegar". A tarefa para 2013 é impor na agenda política o controle social da mídia e do Judiciário. Sabem que não será tarefa fácil, porém a simples ameaça pode-se transformar em instrumento de coação. O PT tem ódio das liberdades democráticas. Sabe que elas são o único obstáculo para o seu "projeto histórico". E eles não vão perdoar jamais que a direção petista de 2002 esteja hoje condenada à cadeia.

A década petista terminou. E nada melhor para ilustrar o fracasso do que o crescimento do produto interno bruto (PIB) de 1%. Foi uma década perdida. Não para os petistas e seus acólitos, claro. Estes enriqueceram, buscaram algum refinamento material e até ficaram "chiques", como a Rosemary Nóvoa de Noronha, sua melhor tradução. Mas o Brasil perdeu.

Poderíamos ter avançado melhorando a gestão pública e enfrentado com eficiência os nossos velhos problemas sociais, aqueles que os marqueteiros exploram a cada dois anos nos períodos eleitorais. Quase nada foi feito - basta citar a tragédia do saneamento básico ou os milhões de analfabetos.

Mas se estagnamos, outros países avançaram. E o Brasil continua a ser, como dizia Monteiro Lobato, "essa coisa inerme e enorme".

MARCO ANTONIO VILLA É HISTORIADOR E PROFESSOR DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS (UFCAR)

domingo, novembro 04, 2012

RECORDAR É VIVER

O que vai a seguir é uma seleção de vídeos sobre a maior farsa da História política do Brasil, um cidadão que há quase quatro décadas frequenta o noticiário. Trata-se de uma modesta contribuição minha à preservação da memória nacional. Nela, pretendo lembrar aos brasileiros desmemoriados o que dizia há alguns anos e quem é um estranho personagem que fez sua carreira denegrindo e atacando adversários e se dizendo o único verdadeiro representante do bom, do belo e do justo abaixo da linha do Equador.

Acometidos de estranha amnésia, muitos eleitores parecem ter esquecido completamente de quem se trata. Faço questão, portanto, de lembrar-lhes esse fato, mediante as próprias palavras do personagem. Aquele que Celso Amorim chama de "nosso guia" e que muitos consideram um "gênio".
 
Sobre o bolsa-família:
 

Sobre o Real (e Collor):

Sobre a prisão, em 1980 (ele recebeu uma indenização do Estado por isso):


Sobre o aquecimento global (uma aula de geografia):


Sobre o Mensalão:


Sobre os Sarney:


Sobre si mesmo (ao falar de outros políticos):

segunda-feira, outubro 22, 2012

JOAQUIM BARBOSA E O RACISMO PETISTA

Quando Lula nomeou Joaquim Barbosa para ser ministro do STF, o PT acreditava que ele, por ser negro, estaria afirmando as políticas raciais do governo e que seria, ao mesmo tempo, um instrumento dócil a serviço do projeto de poder lulopetista.

Agora que o julgamento do Mensalão mostrou que Joaquim Barbosa, ao contrário do que esperava o PT, é um juiz de verdade, e não um militante, os petistas estão furiosos com ele. Isso porque acreditam que, por o terem "colocado lá", ele lhes deve favores. E o estão cobrindo de insultos e ofensas racistas na internet.

Trocando em miúdos: quando Joaquim Barbosa foi nomeado, era o "primeiro ministro negro do STF". Agora, é o "negro traidor", pois se recusou a fazer o papel de jagunço do lulopetismo.

Conclusão1: Assim como fizeram no Congresso com o Mensalão, os petistas tentaram acabrestar o STF. Desta vez, com a arma racial. Mas quebraram a cara.

Conclusão2: Negro bom, para os petistas, é negro que dá a pata.

Ou seja: além de CORRUPTOS, são RACISTAS.

Sem mais, meritíssimo.
***
Em tempo, que fique claro: Joaquim Barbosa merece meu respeito e meu aplauso. Mas não o vejo como um "herói". Não é herói quem simplesmente cumpre seu dever. E ao mandar os mensaleiros para a cadeia os juízes do STF estáo cumprindo suas funções. Nada mais do que isso.

Essa mania dos brasileiros de aclamar heróis de tempos em tempos, seja na política, seja no esporte, é reveladora de um traço cultural nosso, um certo messianismo, um caudilhismo - e, nesse caso, da fragilidade institucional do país. A frase é verdadeira: triste do país que precisa de heróis.

Além disso, Joaquim Barbosa é merecedor de respeito por seu passado, não porque é negro e "veio de baixo", mas porque soube superar as dificuldades e estudou para ser o que é - ao contrário de um certo Apedeuta, que, ao contrário da lenda, não o fez porque não quis. Mesmo assim, muita gente, branca, negra ou cor-de-rosa, veio da pobreza e delas eu não compraria um carro usado. Origem pobre e cor da pele não são atestados de honestidade. Aliás, não são atestados de nada.

Não gosto de heróis. O Brasil não precisa deles, sejam falsos ou verdadeiros. Só precisa que se cumpra a lei. E de vergonha na cara. Já seria de bom tamanho.

domingo, outubro 07, 2012

PERGUNTAR NÃO OFENDE...

Luiz Inácio Lula da Silva chefiou o maior esquema de corrupção da História do Brasil - a condenação dos mensaleiros no STF tornou esse fato inegável e impossível de esconder. Marcos Valério e o advogado de Roberto Jefferson deixaram claro que ele, Lula, não somente sabia de tudo como foi o chefe da quadrilha - José Dirceu, José Genoíno e Delúbio Soares foram apenas os executores, paus-mandados a seu serviço.

Luiz Inácio Lula da Silva, enquanto esteve na Presidência da República, afrontou acintosamente, e de forma quase diária, a Justiça, ao descumprir inúmeras vezes a legislação eleitoral, usando e abusando da máquina do Estado para fazer campanha para seus apaniguados. 

Luiz Inácio Lula da Silva recebeu do representante das FARC no Brasil, segundo denúncia da revista VEJA (jamais refutada), oferta de 5 milhões de dólares para sua campanha à Presidência em 2002. Três anos depois, a mesma revista denunciou a doação ilegal de dinheiro da ditadura comunista de Cuba para sua campanha. Novamente, não foi refutada. 

Luiz Inácio Lula da Silva foi o presidente mais pró-ditaduras que o Brasil já teve, tendo escarnecido dos direitos humanos em países como o Irã, chegando ao ponto de devolver refugiados cubanos para a ilha-prisão, enquanto acolheu terroristas como Cesare Battisti. Juntamente com Hugo Chávez, Lula interveio abertamente nos negócios internos de Honduras e do Paraguai, patrocinando, nesses dois países, tentativas de golpe (enquanto chamava de golpistas os que tinham aplicado a lei). Violou, assim, a Constituição Federal, que determina expressamente que as relações internacionais do Brasil devem guiar-se pelo respeito aos direitos humanos, à paz e à soberania dos povos.

Luiz Inácio Lula da Silva estuprou a Constituição diversas vezes, ao tentar impor a censura aos meios de comunicação de forma sub-reptícia (o "controle social da mídia"), e inclusive tendo expulsado - contra a Lei - um jornalista estrangeiro por não ter gostado do teor de matéria por ele escrita (na ocasião, declarou em alto e bom som: "Foda-se a Constituição!").

Luiz Inácio Lula da Silva fez tudo para abafar o caso do assassinato em 2002 do prefeito de Santo André, Celso Daniel, que seria o coordenador de sua campanha à Presidência naquele ano. Seu chefe da Casa Civil, Gilberto Carvalho, está diretamente envolvido no caso.

Luiz Inácio Lula da Silva usou e abusou de suas prerrogativas presidenciais para favorecer amigos e correligionários, inclusive parentes, como seu filho Lulinha, que desde que o pai chegou ao poder passou de monitor de zoológico com salário de 600 reais por mês a dono de empresa milionária associada à antiga Telemar (coincidentemente ou não, depois que esta foi vendida em transação patrocinada pelo pai-presidente). 

Luiz Inácio Lula da Silva tentou chantagear um ministro do STF, tentando obter com isso o adiamento do julgamento do mensalão.

Luiz Inácio Lula da Silva, segundo documentos divulgados pelo Wikileaks, tentou extorquir dinheiro dos fabricantes do avião Rafale, na concorrência aberta pela FAB para adquirir novos jatos militares. A comissão que receberia pelo serviço seria sua "aposentadoria".   

Diante dos fatos acima - apenas uma amostra, pois há mais -, fica a pergunta:

POR QUE LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA NÃO ESTÁ NA CADEIA? (Ou, pelo menos, respondendo a processo penal?)

Com a palavra, os senhores procuradores do Ministério Público.

sexta-feira, agosto 17, 2012

A TENTATIVA DE GOLPE DO MENSALÃO

Não tenho tido tempo para acompanhar o julgamento do Mensalão no STF. Mas, pelo que li e ouvi até agora, levando-se em conta tudo que se disse desde que o escândalo estourou, em 2005, é possível arriscar algumas conclusões. Por trás do juridiquês e das manobras dos advogados de defesa – um deles chegou a comparar o tratamento dispensado a seu cliente com as torturas no DOI-CODI na época da ditadura militar (!!!) –, esconde-se, na realidade, uma das tramas mais sórdidas já elaboradas na História do país.
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Dito assim, parece o óbvio ululante. Mas o faço inspirado nas palavras do maior beneficiado e – são os fatos que apontam – mandante do esquema. Refiro-me a ele mesmo, o Apedeuta, Luiz Inácio Lula da Silva, inexplicavelmente ausente da denúncia apresentada pelo Procurador-Geral da República, como notou o advogado do delator do escândalo, o ex-deputado Roberto Jefferson.
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Vamos lembrar. Nos últimos sete anos, Lula apresentou, pelo menos, quatro versões para o que aconteceu. Primeiro negou que o Mensalão tivesse existido. Depois, tentou minimizar o ocorrido, dizendo que era caixa dois e que "todo mundo faz igual". Em seguida, ensaiou um pedido de desculpas em rede nacional e se disse "traído", sem especificar por quem. Finalmente, descobriu que foi uma tentativa golpista da "zelite". Desde então, essa tem sido a linha de defesa oficial do lulopetismo. Entre uma desculpa e outra, tentou safar-se com um "não vi nada, não sei nada" e esperou que acreditassem (e, pasmem, ainda há quem acredite...).
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De todas as versões apresentadas até agora pelo Guia Genial, a última, da conspiração, é a minha preferida. Sim, Lula está certo. Sim, houve uma tentativa de golpe no Brasil. Por parte dos mensaleiros.
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Existe a tendência, bastante simplista, de enxergar a corrupção em termos tão-somente de ganhos financeiros pessoais. O Mensalão não se encaixa nessa categoria. Na verdade, o escândalo foi além disso. Foi uma tentativa de golpe contra a democracia, mediante o acabrestamento do Legislativo. Para tanto, montou-se um esquema gigantesco – e milionário – que envolveu deputados, militantes, publicitários, banqueiros e figuras do submundo da política. Um esquema altamente sofisticado de compra de votos no Congresso, mediante desvio de dinheiro público. Tinha tudo para dar certo, e daria, se um dos membros da gangue – Roberto Jefferson –, inconformado em ser feito de boi-de-piranha após a descoberta do esquema fradulento do PTB nos Correios, não resolvesse chutar o balde e botar a boca no trombone. Como sói acontecer no submundo do crime, foi preciso que um participante da maracutaia abrisse o bico para que toda a lama viesse à tona.
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Por trás de tudo isso, estava não somente a vontade de lucro pessoal – apesar de imagens ridículas, como a dos dólares na cueca, e de alguns membros da quadrilha, como o notório Silvinho Land-Rover, terem se beneficiado financeiramente –, mas, sobretudo, o interesse de um partido e seus aliados de submeterem as instituições políticas do país a seu projeto político de poder. Como nos filmes sobre a máfia – e o PT é uma associação mafiosa –, é a lealdade ao “chefe”, o capo di tutti capi, ou à organização criminosa, o que esteve em primeiro lugar (há inclusive um bode expiatório que se dispõe a ser sacrificado, o ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares). Tratou-se de uma tentativa de acabar com a independência dos Poderes e instalar, em seu lugar, um regime autoritário, com um Legislativo dócil e submisso ao Executivo – por 30 mil reais mensais a cabeça. Esse sempre foi, aliás, o grande objetivo do PT, que sempre desprezou a democracia. O Mensalão foi, assim, nada mais do que a culminação de toda uma trajetória política, pautada desde o princípio pela idéia de que para “mudar o sistema” todos os meios eram válidos.
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(Claro, sempre há os cínicos ou idiotas, que botam a culpa de tudo no "sistema" e depois vão dormir. Acabo de ler um texto de um simpatizante esquerdista que, citando Hegel, responsabiliza o "capitalismo" pela corrupção petista... Segundo esse esquema mental, os petistas seriam seres puros e angelicais, idealistas que se teriam "desviado" do reto caminho da justiça e do socialismo pelo contato com a política "burguesa"...)
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O julgamento do Mensalão – que os petralhas, ainda por cima, fizeram de tudo para melar e adiar, inclusive com uma tentativa de chantagem de Lula a um juiz do STF – não é, portanto, mais um julgamento sobre um caso de roubalheira nos cofres públicos. É mais do que isso. É o julgamento da tentativa mais descarada e atrevida – como disse o Procurador-Geral da República – contra o funcionamento do sistema democrático no Brasil em décadas. É o julgamento de um bando de golpistas que atentaram contra a Democracia.
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Vira e mexe, os lulopetistas afirmam que o Mensalão foi uma "tentativa de golpe". É verdade. De fato, o Mensalão foi uma tentativa de golpe. Dos petralhas contra a democracia. Como demonstram as incursões do lulopetismo em política externa, como em Honduras e no Paraguai, eles falam de golpe porque de golpe eles entendem.

sexta-feira, julho 13, 2012

Lula e Maluf: por que não?




Escrevi o mesmo aqui outro dia.
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Lula e Maluf: por que não?

Postado em 6/7/2012 às 10:53:11hs

Por Guilherme Fiuza*

 
O Brasil ético está escandalizado com o aperto de mão entre Lula e Paulo Maluf. O ex-presidente teria ido longe demais com esse gesto. É uma concessão muito grave para tentar eleger um prefeito, dizem os homens de bem. E o assunto não sai de pauta, com a corrente de indignação se espalhando pela imprensa, pelas escolas e esquinas desse Brasil ultrajado.

Todo cientista político teve sua chance de dizer que aquela foto é um divisor de águas no processo ideológico brasileiro, um retrocesso no campo progressista, um monumento ao vale tudo. Mas nunca é tarde para avisar a esta nação escandalizada: o aperto de mão entre Lula e Maluf não tem a menor importância.

Um comentarista bradava no rádio um dia desses: “Maluf apoiou a ditadura!” Não, essa não é a grande credencial do ex-governador de São Paulo. Vamos a ela: Maluf é procurado pela Interpol. Independentemente dos resultados dos vários processos de que já foi réu por corrupção, Maluf é símbolo de cinismo e trampolinagem. Mesmo assim, não pode fazer mal nenhum a Lula.

O ex-operário que governou o Brasil por oito anos escolheu como um de seus principais aliados José Sarney. Para quem não está ligando o nome à pessoa, Sarney é o protagonista do caso Agaciel Maia – aquele que revelou a transformação do Senado Federal em balcão de favores particulares. Em telefonemas divulgados pela TV em horário nobre, Sarney aparecia usando a presidência do Senado para reger o tráfico de influência na cúpula do Poder Legislativo.

Mostrando influenciar também o Judiciário, o parceiro de Lula conseguiu, através do filho Fernando, instituir a censura prévia ao jornal “O Estado de S. Paulo”, até hoje proibido de mencionar a investigação dos atos secretos operados por Agaciel.

O que fez Lula diante desse escândalo? Disse que Sarney não podia ser julgado como uma pessoa comum. Segurou-o bravamente na presidência do Senado. Até que a tempestade passasse, deu-lhe a mão e não soltou mais. Qual o problema então de dar a mão a Maluf, só um pouquinho, para eleger o príncipe do Enem?

O aperto de mão com Sarney incluiu outras manobras típicas da ditadura que Maluf apoiou. Lula mandou sua ministra Dilma Rousseff intervir na Receita Federal para resolver pendências fiscais da família Sarney. Essa denúncia foi feita por Lina Vieira, ex-secretária da Receita, que contou detalhes do abuso de poder da então chefe da Casa Civil.

Lina aceitou uma acareação com Dilma, que fugiu (e depois virou presidente). Quando sua sucessora saiu em campanha, Lula nomeou como ministra-chefe da Casa Civil a inesquecível Erenice Guerra. Braço direito de Dilma, com quem confeccionou o dossiê Ruth Cardoso (contrabando de informações de Estado para chantagem política), Erenice montou um bazar com parentes e amigos no palácio.

Apesar de ter afundado crivada de evidências de tráfico de influência, Erenice recentemente foi puxada pela mesma mão que apertou a de Maluf: desinibido, o padrinho já tenta publicamente ressuscitá-la. As aventuras de Dilma e Erenice só foram possíveis com queda do antecessor, José Dirceu – o que mostra uma verdadeira linhagem criada por Lula na Casa Civil.

E Dirceu só caiu porque o suicida Roberto Jefferson resolveu atrapalhar um esquema que estava funcionando perfeitamente. Pois bem: no momento em que a Justiça se prepara para julgar o mensalão, maior escândalo de corrupção já visto na República, protagonizado por todos os homens do presidente Lula, o Brasil resolve se escandalizar porque o chefe supremo dos mensaleiros tirou uma foto com Paulo Maluf.

É sempre triste deixar a inocência para trás, mas vamos lá. Coragem. Em todo o seu vasto e conhecido currículo, Maluf jamais chegou perto de engendrar um golpe dessa dimensão: o uso do poder central para fazer uma ligação direta dos cofres públicos com a tesouraria do partido do presidente. O malufismo nunca sonhou com um valerioduto.

Como se vê, o Brasil, esse distraído, precisa atualizar a legenda do famoso encontro: se quiser continuar dizendo que ali está a esquerda sujando as mãos com a direita, vai ter que inverter a foto. E para concluir o jogo dos sete erros: qual dos dois usou crachá de coitado para vampirizar o Estado? Roubar a boa fé dá quantos anos de cadeia? (*GF, no portal da revista Época)