sexta-feira, outubro 02, 2009

CAMPEÕES DO UFANISMO


Mudam-se os tempos, mas alguns costumes permanecem os mesmos
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Como todo mundo já deve saber, o Rio de Janeiro foi escolhido como sede da Olimpíada de 2016, derrotando Madri, a capital da Espanha, por 66 votos a 32. Como todo mundo também já deve saber, não se falará de outra coisa por alguns dias, e Lula e seus cumpinchas vão aproveitar para usar e explorar politicamente o fato como se fosse uma vitória deles próprios, ou - o que é ainda menos verdadeiro -, como se a escolha do Rio fosse uma prova de que o Brasil agora é um dos "grandes" do mundo, tendo finalmente adentrado o seleto clube dos ricos e poderosos (o México, que sediou uma Olimpíada em 1968, está aí para mostrar uma história diferente). Também correrá muito dinheiro nas obras, claro, e os superfaturamentos dificilmente vão se limitar aos 10%.
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É claro que isso que estou dizendo é inútil, não fará qualquer diferença diante de mais essa patriotada da Era Lula. Esses são tempos difíceis para quem tenta manter um mínimo de racionalidade. Vamos ter de agüentar mais uma onda de ufanismo festivo e patrioteiro, na linha "Pra Frente Brasil", que deixaria ruborizado o general Médici. Mas é exatamente por isso que insisto em escrever e em ser "do contra". Pelo menos enquanto eu tiver um cérebro que funcione.

Assim, para não deixar passar em branco esse acontecimento cívico, bem como para fazer jus ao nome deste blog, faço questão de dar minha contribuição à elevação da auto-estima nacional, tão abalada nos últimos tempos por coisinhas sem importância como o mensalão ou a trapalhada de nossa diplomacia em lugares como Honduras. Vou transcrever um post meu de 31/10/2007, que escrevi logo após a notícia de que o Brasil sediará a Copa do Mundo de 2014. Vocês verão que alguns personagens, como Lula e Paulo Coelho, são os mesmos. Meus argumentos contra mais esse oba-oba, também.

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COPA DO MUNDO PARA QUÊ?

Com muita pompa e circunstância, a FIFA anunciou ontem, dia 30/10, que o Brasil será a sede da Copa do Mundo de 2014. Como não poderia deixar de ser, o evento foi prestigiado por várias importantes autoridades brasileiras. Lá estavam eles, na cerimônia oficial: Lula, a ministra Marta Suplicy, o presidente da CBF, Ricardo Teixeira, o craque Romário e o (o.k., vamos dar um desconto) escritor e "mago" Paulo Coelho. Os brasileiros celebraram o acontecimento histórico. Em São Paulo, foram soltos milhões de balões de gás no estádio do Morumbi. No Rio de Janeiro, uma multidão celebrou a notícia, no Cristo Redentor, vestida de verde-amarelo, agitando bandeirinhas.

É preciso desconfiar sempre desse tipo de oba-oba. Sobretudo se, na mesma ocasião, estão reunidos Lula, Marta Suplicy, Ricardo Teixeira, Romário e Paulo Coelho. Lula estava mais feliz do que pinto no lixo. Marta Suplicy exibia um sorriso de orelha a orelha, mostrando as virtudes do Botox. Ricardo Teixeira enfatizou as oportunidades de investimentos e as belezas naturais do Brasil. Romário fez um discurso enaltecendo o caráter pacífico e hospitaleiro do povo brasileiro. Paulo Coelho comparou uma discussão sobre futebol na mesa de bar a uma relação sexual. Até agora não entendi o que ele quis dizer com isso. Assim como até hoje não consigo entender o que ele diz em seus livros.

O anúncio de que o país vai sediar a Copa do Mundo de 2014 foi recebido com festa no Brasil, claro. Brasileiro gosta dessas coisas. Somos como o louco da aldeia, que corre alegremente atrás da banda, pulando e cantando, mesmo sem saber do que se trata. Não queremos saber o que está sendo festejado, queremos apenas festejar. Sempre achei que esta é a raiz de todos os nossos problemas, nossa principal falha de caráter. Os brasileiros fariam bem se fossem mais desconfiados. Se fossem mais céticos. Mais críticos. Mais tristes. Mais introspectivos. Mais circunspectos. Seríamos certamente um povo mais evoluído, um povo mais civilizado, se fôssemos menos crédulos. Menos festeiros. Menos ufanistas. Menos alegres. Menos cordiais. Menos tolerantes. Menos reverentes. Menos patrioteiros. Menos deslumbrados. Menos otimistas. Menos bananeiros. Enfim, menos ordinários, menos vagabundos, menos cafajestes, menos safados. Se fôssemos um pouco mais inteligentes, perceberíamos facilmente que estamos diante de mais uma patacoada. Seríamos um povo melhor, um país melhor, sem dúvida. Haveria menos corrupção, menos roubalheira, menos bandalha. Com certeza, não haveria Lula. Não haveria Marta Suplicy. E, acima de tudo, não haveria Paulo Coelho.

O Brasil não vai ganhar nada com a Copa do Mundo. Muito pelo contrário. Basta lembrar o que foram os Jogos Pan-Americanos no Rio de Janeiro. O que houve ali foi um festival de pilantragem, com milhões gastos em obras faraônicas e superfaturadas. Se fosse realizada uma CPI para apurar todas as mutretas, toda a farra com o dinheiro público ocorrida no Pan, o governo não duraria uma semana. Sem falar que é muito difícil se entusiasmar com esportes eletrizantes como o pólo aquático e o softball. Passei todo o Pan assistindo a velhos DVDs, torcendo para que os Jogos acabassem logo. A única coisa boa do Pan foi a vaia a Lula no Maracanã. E mesmo assim foi um prazer efêmero, pois, na mesma ocasião, o público também vaiou a delegação dos EUA e aplaudiu a de Cuba. Acabo de ouvir no rádio que a previsão é que se gaste a bagatela de 6 bilhões de dólares na Copa de 2014. Anote aí: o Brasil não vai ganhar nada com a Copa.

Sempre achei que, assim como Lula e Paulo Coelho, o futebol é a nossa desgraça, é a perdição do Brasil. Poucos esportes conseguem ser mais emburrecedores, mais idiotizantes. Não é por acaso que somos pentacampeões mundiais. Não é por acaso que somos os melhores do mundo. Se existe algo em que somos verdadeiramente bons, é em correr atrás de uma bola e colocá-la dentro de três paus na pequena área. É a nossa verdadeira vocação nacional, nosso asset, nossa vantagem comparativa. Há países que se especializaram em fazer bons carros. Outros, em produzir filmes em série. Outros, ainda, em dar ao mundo bons escritores, filósofos e cientistas. Nós fabricamos jogadores de futebol. O futebol está no nosso sangue, no nosso DNA. Faça um teste. Pergunte a qualquer moleque de qualquer favela ou periferia, de qualquer cidade do Brasil, e ele lhe dará de cor toda a escalação da seleção brasileira, e ainda se achará no direito de distribuir conselhos ao técnico. Pergunte, em seguida, quem proclamou a independência do Brasil e por quê, ou qual a capital da Bolívia, e ele ficará mudo como um poste. Ou como uma bola. Não é por acaso também que Lula é fã de futebol e torcedor entusiasmado do Corinthians. Não é por acaso que ele é o Presidente da República.

Sei que esta é uma causa perdida, e que ninguém vai deixar de esperar avidamente por 2014 nem de torcer para a seleção brasileira por causa destas minhas palavras. Mas alguém tem que dizê-las. Mesmo que o Brasil se sagre campeão, mesmo que vença todos os jogos de goleada, ainda assim sairemos perdendo. Ficaremos mais burros, mais idiotas, mais deslumbrados e terceiro-mundistas. Soltando balões de gás no Morumbi. Ou vestidos de verde-amarelo, agitando bandeirinhas.

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