quinta-feira, julho 31, 2008

As FARC e o Brasil - Com a palavra, o TPI


Não custa nada lembrar o que disse o promotor-chefe do Tribunal Penal Internacional (TPI), Luís Moreno-Campo, e que reproduzi aqui num post de 21/07:

Aqueles que dão apoio financeiro às Farc compartilham da intenção de cometer os delitos praticados pelo grupo. Por isso, podem ser considerados participantes em crimes contra a humanidade. O apoio político a um grupo como as Farc igualmente pode ser considerado um delito e, dependendo das circunstâncias, passível de ser investigado pelo país ou pelo TPI. Estamos avaliando agora o caso de grupos ou pessoas de fora da Colômbia, tanto da América do Sul quanto da Europa, que aparentemente apóiam as Farc. Queremos saber se é o caso de iniciar um processo. Por enquanto, só o que eu posso dizer é que estamos coletando informações sobre esse tema.

Diante disso, só resta perguntar o seguinte:

E AGORA, JOSÉ?

(E Roberto, e Gilberto, e Erika, e Celso, e Marco Aurélio, e Perly, e Paulo, e Selvino...?)

As FARC e os lulistas, os lulistas e as FARC...

Notícia quentinha, saída do forno. Leiam e tirem suas próprias conclusões (revista Cambio, da Colômbia, número 787, "El Dossier Brasileño", matéria de capa):

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Sem querer dar uma de profeta, vou me permitir lembrar a mim mesmo:

http://gustavo-livrexpressao.blogspot.com/2008/07/o-brasil-e-as-farc-ou-por-que-no.html

http://gustavo-livrexpressao.blogspot.com/2008/07/nota-do-governo.html

http://gustavo-livrexpressao.blogspot.com/2008/07/barbrie-terrorista-golpeada-na-colmbia.html
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Agora vejamos o que os petralhas terão a dizer sobre essa verdadeira "bomba". Será que vão afirmar, também desta vez, que "todos fazem igual"? Ou que é tudo uma "conspiração das elites e da mídia"? Ou o Apedeuta virá a público dizer-se "traído"? Ou, melhor, que "não sabe de nada, não viu nada"?...
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O mais triste de tudo é que muita gente, certamente, vai engolir - mais uma vez! - a lengalenga dos lulistas... Até quando?

segunda-feira, julho 28, 2008

ODEIO A POLÍTICA. POR ISSO ESCREVO SOBRE ELA


"Political language — and with variations this is true of all political parties, from Conservatives to Anarchists — is designed to make lies sound truthful and murder respectable, and to give an appearance of solidity to pure wind." - George Orwell, "Politics and the English Language" (1946)

Numa tradução meio literal, a frase acima quer dizer o seguinte: "A linguagem política - e com variações isso é verdade para todos os partidos políticos, dos conservadores aos anarquistas - destina-se a fazer mentiras soarem verdadeiras e o assassinato respeitável, e a dar uma aparência de solidez ao puro vento". Escolhi-a para iniciar este texto pois ela traduz, como poucas, o verdadeiro sentido da política, e serve para explicar uma questão que vez ou outra me fazem: por que, afinal de contas, com tanta coisa mais amena e interessante sobre a qual pensar, este blogueiro perde seu (pouco) tempo de ócio escrevendo sobre política e seus atores?

Quem quiser saber de verdade a resposta para a pergunta formulada acima deve ler O Príncipe, de Maquiavel. Toneladas de papel foram gastas para tentar explicar se o pequeno livro do sábio florentino era imoral ou não - a Igreja Católica, pelo menos, não teve dúvidas, e tratou de colocá-lo em um lugar de destaque em seu índice de livros proibidos, o Index Librorum Prohibitorum. Há quem admire sinceramente o autor, e há quem o abomine completamente. Basta dizer que, em inglês, o apelido "Old Nick" (velho Nick, diminutivo de "Nicolas") passou a designar, na linguagem cotidiana, o Diabo, o rabudo, o cramulhão, o coisa ruim. O termo "maquiavélico", também, passou ao vocabulário com o significado de mau, imoral, diabólico etc., enfim, de tudo que há de ruim e perverso na alma humana. Mas o fato é que, goste-se ou não de Maquiavel e de sua obra, é impossível ignorá-la. Ainda mais nos tempos em que vivemos. Ainda mais no governo Lula. Ainda mais em época de eleição.

Há pelo menos duas maneiras de interpretar o que diz Maquiavel em O Príncipe: uma, mais tradicional, é como um manual de maldades. Esse é o sentido que geralmente se dá ao livro, como se ele fosse nada mais do que uma coletânea de perversidades cometidas pelos governantes, e como se deve praticá-las sem correr o risco de ser desmascarado e pagar por isso. Coisas como democracia, liberdade, verdade, moral, segundo essa visão, não seriam mais do que palavras vazias, que deveriam ser usadas pelos governantes apenas como uma forma de enganar os trouxas e garantir o poder. De acordo com essa visão, o livro teria sido escrito para os governantes da época, na Florença do Século XVI, e desde então tornou-se um manual para os políticos ou para executivos gananciosos.

Outra maneira de ler o clássico de Maquiavel é enxergar o pequeno tratado de política não como um manual, mas como uma advertência. Essa é a minha leitura preferida. Segundo ela, o livro não foi escrito para os políticos, mas para o vulgo, o povo, os mortais comuns. Em outras palavras: para quem não suporta a política, nem os políticos. A descrição feita por Maquiavel das técnicas para tomar e manter o poder, do mau-caratismo dos governantes, seria, assim, uma forma de denúncia, uma maneira de tirar o véu da política, vista até então como uma atividade sagrada, revelando toda sua fétida e terrível humanidade. Com Maquiavel, a política, entendida pela primeira vez como uma atividade humana, perdeu o caráter sagrado que lhe dava a filosofia cristã medieval. Desde então, a imagem do político, do sujeito que dedica sua vida a conquistar poder e angariar cargos estatais, mudou completamente, e definitivamente, sofrendo um rebaixamento drástico e radical: do "rei iluminado" da Idade Média, passou aos espertalhões e vigaristas de hoje, aos zé dirceus e Lulas da vida.

É por isso que escrevo sobre política, e não sobre poesia ou literatura: porque, apesar de gostar dessas atividades, ao contrário da política, escrever sobre esta última é algo imperioso, um dever de consciência. É por isso também que pego tanto no pé das esquerdas: porque ninguém, na atualidade, se encaixa tão perfeitamente no modelo maquiaveliano do político quanto eles, os bambambãs, os gostosões, os companheiros donos da verdade e salvadores do mundo. Em sua capacidade de enganar e de mentir, os esquerdistas superam qualquer um, deixam os collors e os malufs no chinelo. Não somente por terem se atribuído um papel messiânico e convencido a muitos disso, mas principalmente por encarnarem aquilo que George Orwell tentou denunciar: juntamente com a inversão moral, com a desconstrução de todos os valores tradicionais como meras "convenções burguesas", o esquerdismo resultou na perversão da linguagem, de fato na invenção de uma nova língua (a "novilíngua" orwelliana), em que as palavras adquirem um sentido completamente diferente de seu significado do dicionário, de acordo com as conveniências políticas do momento. Daí o lema do partido no romance mais conhecido de Orwell, 1984: "liberdade é escravidão/guerra é paz/ignorância é força".

Vejam o uso que os petistas fazem das palavras, por exemplo. Em 2005, todos assistiram estarrecidos a um desfile interminável de acusações envolvendo o governo Lula. O que fizeram os petistas na hora de se explicarem? "Caixa dois", na boca dos petistas, virou "recursos não-contabilizados". "Mensalão" e "corrupção" tornou-se "complô da mídia e das elites". "Crime" virou "erros de alguns companheiros" e assim por diante. No auge do escândalo, o próprio Lula veio à TV dizer que "todos fazem igual" (antes, dizia-se diferente dos outros). Forçado a se explicar, o Apedeuta descobriu um novo uso para uma palavra da língua portuguesa, inventando a traição sem traidor, dizendo-se "traído" (por quem? até hoje não respondeu). Agora que querem revisar a Lei de Anistia para punir apenas um lado do conflito dos anos 60 e 70, essa novilíngua e esse duplipensar esquerdistas ficam ainda mais evidentes: terrorista é "guerrilheiro"; assalto a banco é "expropriação"; assassinato é "justiçamento", e por aí vai... (os que participaram ou colaboraram com a repressão, por sua vez, serão sempre criminosos e torturadores, não importa se isso for verdade ou não).

Este ano teremos eleições. Nessa época, a novilíngua aparece de forma redobrada. Podem apostar o quanto quiserem. Haverá uma enxurrada de candidatos, de todos os partidos, maltratando a lingua pátria. E não falo em termos puramente gramaticais, como o Molusco já se tornou useiro e vezeiro em fazer, mas nos termos da perversão lingüística denunciada por Orwell. Os candidatos, como sói acontecer, usarão e abusarão de frases feitas como "é preciso redistribuir renda", "mais saúde", "mais escolas", "mais educação","justiça social" etc. etc. Não se enganem: quando um esquerdista, ou qualquer outro político, fala esse tipo de coisa, quer dizer, na verdade, "vou aumentar os impostos", "quero me dar bem" ou "o poder, o poder". É claro que, por serem políticos, eles jamais vão admitir isso. Não podem fazê-lo, pois deixariam de ser políticos.

Pode não parecer, mas eu detesto a política. Detesto mais ainda os que se metem em política. Os que vivem para ela, ou melhor, para o poder. Aliás, detesto não é a palavra: eu os desprezo. Acho uma prova da maior canalhice usar as esperanças dos miseráveis e a incultura do povão para atingir o que se quer. Para mim, os políticos são todos - todos - uns pilantras e uns farsantes. Quem quiser perder minha amizade, que se candidate nas eleições. Acho a política uma coisa suja e porca, a mais degradante das atividades humanas. É exatamente por isso que eu a estudo.

Não conheço nenhuma obra política importante escrita por um deputado ou governador brasileiro, nem mesmo por um presidente da República (desnecessário dizer que o atual presidente, que jamais leu um livro na vida e que é louvado por muita gente por causa disso, não vai se dar, um dia, a esse trabalho). Para eles, que amam o "pudê", não convém confessar suas verdadeiras intenções; estão muito mais preocupados em fazer política do que em pensar sobre ela. Daí porque a frase de Orwell que abre este texto, assim como a referência a Maquiavel, ajusta-se perfeitamente ao que penso sobre política, e por que escrevo sobre política.

Os que gostam da política viram políticos. Os que a detestam, como eu, escrevem sobre ela.

terça-feira, julho 22, 2008

A PEDIDO - UM ARTIGO SOBRE A COMUNA DE PARIS

Barricadas em Paris, 1871: esquerda quer modificar a História, não interpretá-la.


Um leitor assíduo deste blog - sim, eu tenho leitores! -, o Augusto Araújo, me escreve pedindo que eu faça uma análise sobre a Comuna de Paris de 1871. O motivo para esse seu pedido me parece bastante lógico: assim como outros movimentos sociopolíticos do passado, este também é geralmente utilizado pelos esquerdopatas e comunofascistóides para distorcer a realidade dos fatos e tentar vender suas teses totalitárias. Sendo assim, e mesmo não sendo meu costume escrever algo sob encomenda, atendo ao pedido do Augusto com prazer.

O tema não me é totalmente estranho. Em minha época de porralouquice trotskista, cheguei inclusive a dar uma aula/comício sobre o tema, seguida de debate. Foi em 1996, quando o fato completava cento e vinte e cinco anos. A, digamos, platéia para a qual eu fiz minha palestra dispensa comentários: um camarada revolucionário, um servidor público e um punk. Primeiranista do curso de História da universidade federal, deitei falação durante uma hora e pouco sobre o levante dos comunards franceses, que se seguiu ao colapso do Segundo Império de Napoleão III após a derrota acachapante da França na Guerra com a Prússia, na batalha de Sedan - embrião do revanchismo francês, uma das causas, mais tarde, da Primeira Guerra Mundial. Como não poderia deixar de ser na época, eu, intoxicado de literatura marxista, usei como base para minha exposição o livro de Karl Marx, A Guerra Civil na França, numa versão empoeirada que eu acabara de comprar num sebo.

Basicamente, minha análise era a mesma de Marx, a quem considerava, então, a última palavra sobre esse ou qualquer outro assunto: os insurretos parisienses - operários, setores médios e também muitos membros do que Marx chamava de lumpen-proletariado (mendigos, prostitutas, cafetães, desocupados, punguistas etc.) - poderiam ter alcançado seus objetivos revolucionários e "assaltado o céu", desde que tivessem tido uma liderança política conseqüente, imbuída da concepção científica da História - em outras palavras: desde que houvesse o tal "partido revolucionário". Esta era a idéia central esboçada por Marx em seu livro, e que seria a base para a tese desenvolvida por Lênin, anos depois, em seu panfleto intitulado Que Fazer? (1902), segundo a qual a revolução socialista não poderia ser espontânea - pelo contrário: para que fosse vitoriosa, seria necessário o partido de militantes profissionais, que se encarregaria de injetar a "consciência revolucionária" nas massas, de fora para dentro. Caberia ao partido, segundo essa visão, conduzir a classe operária rumo ao caminho glorioso da tomada do poder e da construção do Estado socialista. Como, na Comuna de Paris, não havia essa agremiação de intelectuais iluminados, o movimento foi rapidamente e sangrentamente reprimido pelas forças francesas e prussianas. A Comuna teria servido, assim, como uma espécie de "ensaio" para o triunfo dos trabalhadores, mais ou menos como fora a Revolução de 1905 em relação à Revolução de 1917 na Rússia. Essa era a lição que nós, revolucionários marxistas, deveríamos tirar do episódio. Essa era, aliás, a lição que se deveria tirar de todos os fatos da História, que só existia, em nossas mentes, para comprovar a verdade insuperável da doutrina marxista.

É claro que, nessa época, eu não tinha ainda aberto os olhos para o que é óbvio, para o que está na cara, a ponto de me dar certa vergonha dizê-lo hoje: tudo aquilo que eu dizia, aquela patacoada toda sobre a necessidade do partido revolucionário e a luta de classes aplicada à Comuna de Paris, não passava de wishful thinking, um enorme exercício de masturbação intelectual. Mais que isso: era um exercício de mistificação histórica e de babaquice ideológica sem tamanho. A Comuna nada mais foi do que o resultado do vazio de poder surgido na França com a derrota na guerra e a queda do Império, o que levou ao surgimento, na ausência do Estado, de um embrião de "poder popular" que durou três meses, e que foi rapidamente destruído em função da repressão e de suas inconsistências internas. Marxistas, socialistas moderados e anarquistas - principalmente estes últimos, que tomaram a dianteira do movimento - não se entendiam entre si. O resultado foram dias de caos e baderna, semelhante a tantas outras mazorcas do tipo, e que terminaram num banho de sangue.

Pelo menos numa coisa Marx estava certo: não havia, entre os comunards, nada que pudesse ser chamado, sequer remotamente, de consciência política. Não se compararmos o que ocorreu em Paris em 1871 ao que teve lugar na mesma cidade em 1789 ou em 1848. Ao contrário dessas duas revoluções anteriores, os ideais dos insurretos, se vitoriosos, levariam não a um sistema político melhorado, a um regime democrático ou coisa que o valha, mas a um tipo de Estado totalitário. De fato, foi exatamente isso que aconteceu depois na Rússia, a partir de 1917, e em todos os países que tiveram o infortúnio de se transformarem em repúblicas socialistas. A Comuna de Paris, apesar das idéias libertárias de muitos de seus integrantes, apontava numa única direção: a destruição completa das liberdades individuais, em nome da "redenção da humanidade". Assim como todos os movimentos reverenciados pela esquerda, diga-se.

Mas qual a razão de lembrar esses fatos sobre um acontecimento pouco conhecido, de mais de um século atrás? A razão principal é que os "intelequituais" de esquerda, em seu afã de poder total, construíram um discurso eficiente, baseado na monopolização da interpretação de certos fatos históricos. Reunidos num conjunto mais ou menos coerente, esses fatos - a Comuna de Paris, a Revolução Russa de 1917, as revoluções chinesa e cubana etc. - formam uma espécie de calendário revolucionário, paralelo ao calendário oficial, mediante o qual as esquerdas buscam reverenciar seus mártires e heróis e manter viva a chama da revolução proletária, descambando para a apologia e o panegírico. É somente por esse motivo que os esquerdistas se interessam pela História. O uso que fazem dela é puramente instrumental, não tem outra finalidade senão reforçar suas crenças. Não é difícil perceber que a principal vítima disso é a própria verdade histórica, a honestidade intelectual. Afinal, essa gente não está interessada em pesquisar seriamente os fatos históricos, mas apenas em usá-los como um pretexto para fazer proselitismo político e propaganda revolucionária. Para tanto, eles distorcem e mistificam fatos a seu bel-prazer, fazendo analogias impossíveis e desafiando as leis mais elementares da lógica. Dou um exemplo: certa vez, quando eu estava lecionando na universidade, um grupo de grevistas invadiu minha sala de aula e tentou convencer os alunos a aderirem à greve. Na ocasião, falaram em revolução. Perguntei então ao grupo como eles pretendiam fazer uma revolução impedindo os alunos que o quisessem de assistir às aulas. Um dos militantes, aliás estudante universitário, mencionou então o levante dos marinheiros alemães em Kiel, em 1918... Por aí se vê.

Alguns anos depois daquela minha inesquecível palestra para três pessoas, li outro livro sobre a Comuna de Paris, História da Comuna de 1871, de Prosper-Olivier Lissagaray (Editora Ensaio, 1991). O livro é basicamente uma narrativa clássica e factual sobre a revolta. Dele retirei a epígrafe que utilizei em minha dissertação de final de curso, e que desde então passou a ser uma das minhas citações preferidas: "Aquele que conta ao povo falsas lendas revolucionárias, que o diverte com histórias sedutoras, é tão criminoso quanto o geógrafo que traça falsos mapas para os navegadores". Poucas frases descrevem tão acuradamente o que as esquerdas fazem com a História. Parafraseando Marx, o que querem não é interpretar a História, mas modificá-la.

E isso não somente em relação à Comuna, é bom que se diga. Em praticamente todos os personagens e movimentos sobre os quais a esquerda se debruça, percebe-se o peso da falsificação histórica. Quem, entre nossos "intelequituais", teria a ousadia de lembrar, por exemplo, que Marx era um renomado racista que desprezava os povos eslavos e outros como "raças inferiores"? Ou que Lênin, e não Stálin, foi o criador dos campos de concentração na Rússia? Ou que foi o governo comunista do Vietnã do Norte, e não os EUA, que começou o conflito no Sudeste Asiático? Ou que a luta armada no Brasil nos anos 60 e 70 não visava à restauração das liberdades democráticas, mas sim ao estabelecimento de um regime totalitário no País? Quem, das hostes esquerdistas, teria coragem de admitir esses fatos publicamente?
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Se nossos esquerdopatas e marxistas de galinheiro estudassem a sério, sem maniqueísmos idiotas, os fatos e personagens que costumam louvar, ao invés de simplesmente tentarem manipular a História para gritar slogans e defender o fim do capitalismo, ficariam certamente decepcionados. Cairiam em si e perceberiam o quão tontos são, ao quererem que os fatos se adaptem a suas idéias, e não o contrário. Tomei essa decisão - estudar a História, e não distorcê-la para atender a objetivos políticos - alguns anos atrás. Por isso deixei de ser de esquerda. Não sei se quem me pediu esse texto ficará satisfeito. Mas é o que eu tinha a dizer.

segunda-feira, julho 21, 2008

É PRECISO INDICIAR LULA

Julgamento de altos oficiais nazistas em Nuremberg: tarefa inacabada


Todos sabem que não sou fã de Lula. Não costumo poupar adjetivos, nem argumentos, quando me refiro a ele e aos lulistas. Nunca escondi minha antipatia pelo Apedeuta, nem pelos que o cercam e idolatram. Falo mal de Lula e de seu cordão de puxa-sacos há muito tempo, bem antes de que isso virasse moda, seguida hoje até por muita gente que antes batia palmas para os "companheiros". Muito do que escrevo, reconheço, são opiniões pessoais, e se quiserem podem descartá-las como simples observações impressionistas, até mesmo como pirraça ou obsessão de minha parte, ou como mera vontade de ser "do contra". Não me importo com isso. Mas o que vem a seguir está além de qualquer opinião ou juízo que eu poderia emitir. É algo realmente grave, que me faz pensar sobre o verdadeiro caráter - ou a falta de - dos que estão no governo no Brasil, e como estamos todos anestesiados e idiotizados por não percebermos a gravidade desses fatos.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva precisa ser preso e processado imediatamente. E não é somente por causa do mensalão ou de outro escândalo qualquer dos petistas, como o da venda da Varig ou dos cartões corporativos. Esses delitos já são sérios o bastante, e se houvesse oposição no Brasil já teriam sido motivo, pelo menos, de impeachment. O delito pelo qual o Apedeuta deve responder, porém, é bem mais grave. Lula deve ser indiciado por crime contra a humanidade.
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Isso mesmo. Lula e os lulistas precisam ser chamados à Justiça pelo pior dos delitos. Mais precisamente, por cumplicidade ou co-autoria com quem pratica esse tipo de crime. Não, não sou eu quem diz isso. Quem o diz, e com todas as letras, é o promotor-chefe do Tribunal Penal Internacional (TPI), o argentino Luís Moreno-Ocampo. Em entrevista à VEJA desta semana, ele afirmou o seguinte, ao se referir às Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC) e a quem lhes dá apoio:

"Aqueles que dão apoio financeiro às Farc compartilham da intenção de cometer os delitos praticados pelo grupo. Por isso, podem ser considerados participantes em crimes contra a humanidade. O apoio político a um grupo como as Farc igualmente pode ser considerado um delito e, dependendo das circunstâncias, passível de ser investigado pelo país ou pelo TPI. Estamos avaliando agora o caso de grupos ou pessoas de fora da Colômbia, tanto da América do Sul quanto da Europa, que aparentemente apóiam as Farc. Queremos saber se é o caso de iniciar um processo. Por enquanto, só o que eu posso dizer é que estamos coletando informações sobre esse tema."

Para quem não sabe ou já se esqueceu, eu vou lembrar: as FARC contam com o apoio financeiro dos governos de Hugo Chávez da Venezuela e de Rafael Correa do Equador. Isso foi revelado de forma inegável pelos computadores do número dois da organização narcoterrorista, Raúl Reyes, morto em março pelo exército colombiano. De acordo com a afirmação do promotor-chefe do TPI, Chávez e Correa deveriam ser indiciados por participação em crimes contra a humanidade. As FARC contam, também, com a leniência do governo brasileiro, que se declara "neutro" e se recusa a considerá-las um grupo terrorista, tendo-se colocado inteiramente ao lado de Chávez e Correa contra a Colômbia, durante a crise entre os três países após a morte de Reyes em território do Equador. Mais que isso, o governo Lula mantém há anos sob sua proteção, como "refugiado político", o "representante" das FARC no Brasil, Olivério Medina, recusando-se a extraditá-lo para a Colômbia, onde responde a vários processos por terrorismo e homicídio. A esposa de Medina, inclusive, faz parte da folha de pagamento do governo brasileiro, como funcionária contratada do Ministério da Pesca.
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E não pára por aí. O partido de Lula, o PT, e as FARC são parceiros na mesma organização internaciomal, o Foro de São Paulo, criado em 1990 por Lula e o ditador de Cuba, Fidel Castro. A direção das FARC enviou, inclusive, uma carta de agradecimento a Lula, por haver, com o Foro, ajudado a salvar o comunismo da extinção na América Latina. Isso está documentado, e quem quiser que vasculhe a internet. Logo, não há como falar sequer em "neutralidade" do Brasil a respeito das FARC - o que já seria um absurdo -, mas em cumplicidade disfarçada, em apoio político. E o apoio político a quem comete crimes contra a humanidade, como seqüestros, narcotráfico e atentados a bomba, como bem apontou o promotor-chefe do TPI, pode ser considerado um delito. Para esconder isso do distinto público, os lulistas fazem verdadeiros prodígios de dissimulação: ontem mesmo Lula esteve na Colômbia, ao lado de Álvaro Uribe, para assinar uns acordos na área de segurança (?!). Participou também de uma cerimônia pela libertação dos 700 reféns que ainda são mantidos pelas FARC. Ora, se o governo brasileiro é "neutro", por que agora fala em libertação dos reféns? A quem querem enganar com isso?
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Não sei se, entre as pessoas investigadas pelo TPI por darem apoio às FARC, estão Lula e seus ministros. Sei apenas que a "neutralidade" do Brasil no conflito colombiano é uma cortina de fumaça para esconder o que, a essa altura, até as árvores da floresta amazônica já sabem: que Lula e as FARC são cúmplices e parceiros, assim como o são Chávez e Correa. A situação se torna mais grave ainda pelo fato de que o narcotráfico - prática em que as FARC se especializaram - é um crime internacional, e atinge em cheio a sociedade brasileira, na forma de milhares de mortos todos os anos. Para essa realidade, os membros do governo brasileiro fecham os olhos. Em qualquer lugar sério do mundo, isso daria um processo, no mínimo, por associação com o crime organizado.

Na semana passada, o TPI indiciou formalmente o ditador do Sudão, Omar al-Bashir, por genocídio, crimes de guerra e crimes contra a humanidade. Al-Bashir é o responsável direto pela morte de mais de 300 mil pessoas na região de Darfur, no oeste do Sudão, em um conflito que já deixou cerca de 2,5 milhões de refugiados, sob as barbas - e o silêncio compassivo - da ONU. É um fato histórico. Pela primeira vez, um ditador está sendo processado por um tribunal internacional enquanto os crimes pelos quais é acusado estão acontecendo. Mal comparando, é como se Hitler estivesse sendo processado pelo Tribunal de Nuremberg em plena Segunda Guerra Mundial, ou se o mesmo estivesse acontecendo a Stálin durante os expurgos dos anos 30. Mas, como o acusado não é os EUA, ou algum aliado seu, o fato não teve a repercussão merecida. A nossa imprensa "isentista" gosta de lembrar que os EUA se recusaram a assinar o tratado que deu origem ao TPI, em 1998, e geralmente esquece que a Rússia e a China também se recusaram a assiná-lo. A China, aliás, é a maior aliada do governo islamita do Sudão, e na prática o avalista de suas atrocidades. Mas quem se importa?

Se fosse apenas pelas FARC, já haveria motivo de sobra para levar o governo Lula ao banco dos réus. Mas há outras fontes de indiciamento criminal. Assim como é leniente com terroristas e narcotraficantes, o governo Lula mostra-se bastante próximo de ditadores. O caso de Fidel Castro e de seu irmão Raúl em Cuba é o mais notório, mas não é o único. Em 2005, o Brasil votou contra a condenação do Sudão no Conselho de Direitos Humanos da ONU. Em 2006, no mesmo Conselho, votou contra Israel.

Em 1998, no mesmo ano em que surgiu o TPI, um juiz espanhol causou furor ao conseguir indiciar e prender, por um tempo, o ex-ditador do Chile Augusto Pinochet. Na ocasião, multidões ululantes saíram às ruas para festejar o fato, considerado um marco na evolução do Direito Internacional. Ainda espero que o mesmo rigor jurídico seja um dia aplicado às FARC e a Fidel Castro, assim como a Lula e aos petistas.
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Só para lembrar: você já viu um petista preso e algemado? Pelo visto, dependemos do TPI para que essa cena ocorra. Quem sabe, um dia...

segunda-feira, julho 14, 2008

QUEM NOS PROTEGERÁ DO ESTADO POLICIALESCO?


- Vocês viram? Prenderam um figurão. Que beleza! Até que enfim um ricaço vai em cana! Aquele papo de que a justiça no Brasil é só para os 3 Ps - preto, pobre e prostituta - finalmente parece que está mudando. Ricos no xilindró! Bem-feito!

Certamente muita gente pensou assim na semana que passou, ao ver as cenas do banqueiro Daniel Dantas e de mais uns seis algemados após serem presos numa operação da Polícia Federal, batizada com o exótico nome de Satyagraha ("esse pessoal da PF escolhe uns nomes tão legais..."). O País está mudando para melhor, começou-se a ouvir. Daniel Dantas, uma sombra que percorre a política brasileira desde os tempos do governo FHC, um dos maiores corruptores do País, finalmente estaria encarando a Dona Justiça. Como nem tudo é perfeito, não poderia deixar de haver um juiz estraga-prazeres, que considerou a prisão abusiva e ordenou a soltura dos presos, resultando daí uma disputa com outro juiz e um prenda-e-solta que, para muitos, apenas comprovou aquilo que nos acostumamos a ouvir desde pequenininhos - que a Justiça, no Brasil, é só para os 3 Ps mesmo. Mas restou a satisfação de ver, pelo menos por alguns instantes, um bacana atrás das grades. Pobres e ressentidos, uni-vos! A Revolução pode não estar próxima, mas, enquanto isso, saboreemos essa doce vingança!

Não vou me debruçar aqui sobre o mérito da prisão de Daniel Dantas. Quem quiser saber os detalhes do caso, encontrará farto material à disposição na internet e nos jornais, e poderá fazer seu próprio juízo. Vou apenas me referir ao que me incomodou no assunto. E muita coisa me incomodou.

Incomodou-me, em primeiro lugar, que a operação da PF tenha sido montada como um verdadeiro circo midiático - no caso, um circo cuja principal atração era a prisão de um "tubarão do capitalismo financeiro". Desde o primeiro momento, desconfiei desse aparato todo, principalmente porque percebi, logo nas primeiras chamadas dos noticiários, um forte viés ideológico nessa história - "pegaram um rico, pegaram um rico". Quando li a respeito do inquérito policial montado pelo delegado da PF, de nome Protógenes (bom nome para um delegado da PF) - uma verdadeira peça de alucinação ideológica esquerdista, eivada de teorias conspiratórias e de uma visão delirantemente messiânica, cheia de impropérios contra os "ricos exploradores" e de um claro teor liberticida -, minhas desconfianças se confirmaram. Lembrei na hora daquele procurador do Ministério Público, o Luiz Francisco de Souza (lembram dele?), que fez muito barulho no governo FHC, posando de vingador dos fracos e oprimidos... Alguns anos atrás ele lançou um livro, um catatau de umas mil páginas, louvando o marxismo como uma "utopia cristã". Pois é... Sempre que se mistura Justiça e ideologia - no caso, um sentimento difuso de raiva e frustração, vingado pela captura de um "burguês" -, o que me vem à mente são os processos stalinistas dos anos 30.

Não que Daniel Dantas, Naji Nahas e Celso Pitta sejam vítimas inocentes de um pesadelo kafkiano, nada disso. Dantas, aliás, é uma caixa-preta, uma bomba que pode explodir a qualquer momento, e, como Pedro Collor e Roberto Jefferson, abalar profundamente os alicerces da nossa República - muita gente graúda no governo lulista, com certeza, deve estar roendo as unhas de apreensão com a prisão do banqueiro... Mas a questão não é essa. Sendo Dantas culpado ou não, a operação da PF é mais um capítulo rumo ao Estado policialesco em que está se transformando o Brasil. Há indícios de que a PF, ou pelo menos parte dela, anda extrapolando de suas funções, e que inclusive vem lançando mão de grampos ilegais e outras arapongagens do tipo, no melhor - ou pior - estilo SNI dos tempos da ditadura militar. A diferença - aqui está o ponto - é que dessa vez a comunidade de informações está a serviço dos "pobres" contra os "ricos", dos "trabalhadores" contra os "patrões", do "proletariado" contra a "burguesia". Ah, bom.

Outra coisa que me incomodou foi que essa tentativa tosca de ideologização da Justiça tenha vindo acompanhada de uma maré de intervencionismo policialesco na vida do indivíduo. Poucos dias antes da operação, entrou em vigor mais uma lei criada para proteger-nos de nós mesmos, a tal "lei seca" que criminaliza a cervejinha ao volante, e que está fazendo a alegria dos taxistas. Os legisladores, que certamente deveriam estar bêbados, esperam que a lei venha diminuir o número de acidentes nas estradas provocadas por motoristas embriagados. À primeira vista, uma lei muito racional e, a julgar pelas estatísticas, eficiente. No entanto, ninguém parece ter lembrado que, pela mesma legislação, o sujeito pode estar completamente alucinado de maconha ou cocaína e nada vai lhe acontecer se for apanhado numa blitz. Aliás, é curioso como o cerco aos fumantes e aos apreciadores de uma cervejinha no fim de semana está vindo acompanhado de um movimento cada vez mais forte no sentido de descriminalizar a erva maldita. Em outras palavras: fumar e cheirar pode; beber, não. Também pudera: ao contrário daquele baseado, o cigarro e o álcool são uma "indústria", algo capitalista... Ah, bom.

Quando se mistura esquerdismo de galinheiro e intervenção justiceira, o resultado não é uma sociedade mais civilizada e justa, e sim mais infantilizada e, por isso mesmo, menos livre. Está-se criando uma situação em que ao Estado está sendo dada carta branca para, em nome do que quer que seja - a "justiça social", a "segurança nas estradas", até mesmo a saúde dos nossos pulmões -, decidir o que é melhor para os cidadãos, que são tratados como crianças ou débeis mentais, incapazes de decidir por sua própria conta. Li que em alguns lugares já estão até mesmo proibindo o cidadão de fumar em recintos fechados, como bares e restaurantes, mesmo se for - vejam só - numa ala de... fumantes! Se não se pode mais fumar num ambiente reservado especialmente a quem fuma, separado de quem não é fumante, onde mais se pode fazê-lo? Onde está a liberdade de opção?
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Paradoxalmente, ao invés da responsabilidade, o que se estimula com essa imposição do politicamente correto na vida privada dos cidadãos é a irresponsabilidade, o paternalismo estatal. Isso, aliás, é uma nota constante do governo lulista. Em 2005, uma enorme campanha de propaganda tentou convencer os brasileiros de que a solução para a violência seria o desarmamento do cidadão comum. Este ficaria impedido de escolher ter ou não um revólver 38 para se defender da bandidagem, enquanto os bandidos manteriam seus AR-15 e AK-47. Do mesmo modo, o governo investe cada vez mais contra a liberdade de expressão e de informação, na forma de um projeto de lei que condena manifestações "homofóbicas" ou de tentativas de ressuscitar a censura - não por acaso, o inquérito do delegado Protógenes sugere a prisão de uma jornalista por haver, segundo ele, vazado informações da operação...

Essas tentativas de regular a vida do indivíduo, travestidas de boas intenções, assim como armações ideológicas rastaqüeras baseadas numa visão eivada de marxismo vagabundo, na linha "luta de classes" aplicada ao Direito, não me comovem. Aprendi a valorizar acima de tudo a liberdade do indivíduo, e a desconfiar de qualquer tentativa, por mais bem-intencionada que seja, de diminuir essa liberdade em nome de algo maior do que o indivíduo - a "coletividade", que muitos identificam com o próprio Estado. Tenho medo de sair à rua e ser atropelado por um motorista bêbado (ou fumado e cheirado), mas temo muito mais o "Estado sábio", que supostamente sabe o que é melhor para mim. Assim como desconfio de papagaiadas ideológicas travestidas de operações justiceiras. Estamos acostumados a querer que o Estado nos vigie a todos. Na verdade, devemos vigiar o Estado.

A propósito, você já viu um petista preso e algemado?

sexta-feira, julho 11, 2008

VIETNÃ: RESGATANDO A VERDADE HISTÓRICA


Soldados norte-americanos em combate, Ofensiva do Tet, 1968: vitória militar, derrota política


Em visita oficial ao Vietnã, o presidente Lula, querendo fazer uma média com os anfitriões, disse que se identificava com os vietnamitas, pois, afinal, "sempre esteve do lado dos fracos e oprimidos". Foi mais além e, repetindo um chavão reafirmado ad nauseam nos últimos trinta e cinco anos, afirmou que "os vietnamitas venceram a guerra".
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A fala de Lula é uma excelente oportunidade para resgatar a verdade sobre a Guerra do Vietnã, colocando os pingos nos is. .

Até hoje, a percepção comum sobre o que foi o conflito no Sudeste Asiático é moldada mais pelos filmes de Hollywood, como Platoon, Apocalypse Now e Nascido para Matar, nos quais os soldados norte-americanos são mostrados quase sempre como bárbaros assassinos e os guerrilheiros vietnamitas e vietcongues, como vítimas e lutadores da liberdade, do que pelos fatos. Em muitos desses filmes, quase não se mostra o inimigo: até parece que os marines estavam lutando contra a população e a selva. Um espectador menos atento chegaria à conclusão de que, no Vietnã, os norte-americanos foram lutar contra o mato e os insetos e que, nas horas vagas, se divertiam metralhando velhos e criancinhas indefesas. Além disso, o Vietnã tornou-se, para as gerações seguintes, sinônimo de desastre e derrota militar. Não por acaso, vários analistas já se habituaram a chamar o Iraque atual de um "novo Vietnã". Tal percepção - de que a agressão foi unilateral e que os EUA saíram militarmente derrotados do Vietnã - está longe da verdade.
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A Guerra do Vietnã (1964-1975) foi um conflito muito mais complexo do que supõe a visão simplista que atribui aos norte-americanos o papel de agressor e aos vietnamitas, o de vítimas e/ou combatentes da liberdade. Vista em retrospectiva, há fortes razões para concluir que tal visão constitui, na verdade, mais um mito revolucionário criado pelas esquerdas na segunda metade do século XX, como foram os mitos comunista e anticolonialista.
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Em primeiro lugar, é preciso responder a pergunta: quem venceu a guerra? Do ponto de vista político, a vitória foi toda dos vietnamitas. Do ponto de vista militar, porém, a realidade foi bem diferente. O body count não deixa dúvidas: no total, 58 mil soldados norte-americanos morreram durante o conflito. Do lado vietnamita, as baixas são incontáveis - fala-se em algo como 2 milhões de mortos. Por qualquer ângulo que se olhe, os EUA não foram derrotados militarmente no Vietnã - foi uma derrota política. Mais precisamente, uma derrota no front interno, dentro de casa.
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De 1964, quando os EUA intervêm diretamente no Vietnã após o incidente do Golfo de Tonquim, até 1968, a situação militar das tropas norte-americanas era estável. Nesse ano, porém, a situação se modifica, com a Ofensiva do Tet lançada logo em janeiro no Sul pelos norte-vietnamitas e seus aliados, os guerrilheiros vietcongues. Militarmente, esta foi um fracasso total para o lado vietnamita - ao contrário do que era esperado pelos líderes comunistas de Hanói, a ofensiva não conseguiu deflagrar uma insurreição popular que derrubasse o regime do Vietnã do Sul, os soldados norte-americanos e sul-vietnamitas conseguiram rechaçar o ataque e a guerrilha vietcongue, devido às pesadas baixas sofridas, foi praticamente aniquilada. No entanto, foi a partir daí que se convencionou dizer que a guerra estava perdida para os EUA. .
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A resposta para esse paradoxo está numa característica peculiar do conflito vietnamita. Acima de tudo, o Vietnã foi uma guerra midiática, a primeira dos tempos modernos. Pelo menos, a primeira a ser televisada. Isso fez toda a diferença no desenrolar do conflito. Os comunistas sabiam que, dada a superioridade bélica e tecnológica das tropas dos EUA, não poderiam derrotá-las em combate. Suas ações, portanto, visavam não a alcançar uma vitória militar, aliás impossível, mas a abalar a determinação moral do governo norte-americano de manter-se na guerra, conseguindo assim um efeito psicológico importante. Tática que seria repetida pelos terroristas de todos os matizes nas décadas seguintes, da OLP a Al-Qaeda. De certo modo, há um paralelo entre a Ofensiva do Tet e os atentados de 11/9.
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Não foi qualquer derrota no campo de batalha, mas sim as pressões da opinião pública, decorrentes das cenas de soldados norte-americanos mortos e feridos, mostradas pela primeira vez na televisão, o que levou a população norte-americana a pressionar os governos Johnson e Nixon a retirar as tropas do Vietnã. As cenas da tomada, pelos guerrilheiros vietcongues, da embaixada dos EUA em Saigon - um alvo puramente simbólico, sem nenhum valor militar - tiveram um impacto político muito maior do que qualquer vitória. Pouco importa que todos os atacantes tenham sido mortos na ação - o importante era que a embaixada fora atacada.
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Graças ao poder avassalador da televisão, habilmente explorado pelos comunistas vietnamitas com a ajuda da New Left no Ocidente, a opinião pública norte-americana e mundial ficou conhecendo em todos os mórbidos detalhes as atrocidades cometidas pelos soldados norte-americanos, como o massacre de My Lai e os efeitos devastadores dos bombardeios ao Vietnã do Norte, mas permaneceu na ignorância total do que se passava do outro lado. Quando o exército dos EUA retomou, em 1968, a cidade de Huê, por exemplo, encontrou uma cova comum com cerca de 3 mil cadáveres de pessoas executadas pelos soldados do Vietnã do Norte, mas a opinião pública do mundo inteiro já estava ganha para a causa antiguerra e antiamericana. Gerações cresceram com a imagem na retina do policial sul-vietnamita estourando os miolos de um prisioneiro vietcongue com as mãos amarradas nas ruas de Saigon, ou da menina queimada correndo, nua, a pele se desprendendo por causa do napalm, após um ataque aéreo à sua aldeia. Mas quase ninguém se lembrou que, do lado dos vietcongues, também se matava e torturava. A derrota do governo dos EUA na batalha da propaganda impediu muita gente de perceber que houve atrocidades de ambos os lados.

Outra pergunta que se deve fazer é: qual o lado agressor? Pelas cenas dos bombardeios norte-americanos veiculadas nos noticiários de televisão, a resposta, desde então, passou a ser: os EUA, claro. Isso levou muitos a se esquecerem de por que os EUA estavam no Vietnã, em primeiro lugar. A primeira coisa a ter em mente é que o conflito no Sudeste Asiático não pode ser desvinculado da Guerra Fria. As tropas norte-americanas foram enviadas ao Vietnã a partir de 1964 - assessores militares estavam no país desde o governo Kennedy, em 1961 - não como uma força invasora, como foram os japoneses durante a Segunda Guerra ou os franceses até 1954, mas para auxiliar o governo do Vietnã do Sul, capitalista, que se encontrava acossado pelas guerrilhas do Vietcongue e pelas freqüentes incursões das tropas regulares do Vietnã do Norte, comunista, que contava com o apoio da União Soviética. A partir de 1960, intensificaram-se as ações terroristas do Vietcongue, com o apoio do Norte, contra o governo de Saigon, resultando na prática em uma sangrenta guerra civil, agravada após a queda em um golpe militar e o assassinato do corrupto e brutal presidente sul-vietnamita Ngo Dihn Diem, em 1963. A agressão comunista ao Vietnã do Sul era real. Não era uma fantasia de alguns "falcões" e cold warriors do Pentágono.

Tampouco a expansão do conflito para os vizinhos Camboja e Laos deveu-se unicamente às ações militares dos EUA, como se tornou comum dizer. Quando Nixon decide intervir nos dois países, em 1970 e em 1971 respectivamente, as forças norte-vietnamitas há muito utilizavam esses territórios como passagem e "santuários", através da Trilha Ho Chi Mihn, para lançar ataques ao Vietnã do Sul. O que ocorreu depois, principalmente no Camboja - a tomada do poder pelos guerrilheiros maoístas do Khmer Vermelho, que instituíram uma ditadura ensandecida que resultou em mais de 2 milhões de mortos, em cinco anos - foi o resultado, em grande medida, da retirada norte-americana do Vietnã, em 1973, completada com a fuga precipitada do país, em 1975.
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A partir de então, a história é mais ou menos conhecida. O Vietnã, sob controle dos comunistas do Norte, foi reunificado, tornando-se uma república socialista. Milhares de pessoas, sobretudo sul-vietnamitas, fugiram do país, resultando no fenômeno do boat people - semelhante aos balseros cubanos -, e, dos que ficaram, muitos foram executados ou enviados a "campos de reeducação". Obviamente, nada disso teve a mesma repercussão na mídia ocidental.
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É inegável que os EUA cometeram erros terríveis no Vietnã, o maior deles, certamente, a subestimação do caráter psicológico do conflito, inerente à guerra de guerrilhas. Cometeram, inclusive, crimes de guerra como My Lai e o bombardeio de civis. Mas daí a dizer que foram o lado agressor e que saíram derrotados militarmente, vai uma grande diferença. A Guerra do Vietnã é o maior exemplo de como o pacifismo, associado ao poder manipulativo da mídia e a táticas de desinformação, pode minar o moral e a determinação psicológica de uma nação em enfrentar uma ameaça externa, servindo, no caso, a interesses antidemocráticos. Não é à toa que a mesma tática esteja sendo repetida, hoje, pelos adversários das intervenções norte-americanas no Iraque e no Afeganistão. Mas, como hoje, com a internet, a difusão da informação é muito maior, é possível conhecer os crimes cometidos pelos regimes de Saddam Hussein e do Talibã - daí porque o pacifismo não tem a mesma força do passado.
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Hoje, o Vietnã é um país bem diferente. Desde a implementação das reformas econômicas, a partir de 1986, o país vem seguindo um caminho de abertura econômica sem abertura política, a exemplo da China. No campo das relações internacionais, o país se reconciliou com os EUA em 1995, e os norte-americanos, com os seus dólares, são muitíssimo bem-vindos ao Vietnã. Assim como os chineses em relação à Revolução Cultural dos anos 60, os vietnamitas parecem ter, porém, um certo pudor ao relembrar os anos de guerra. Talvez porque tenham seus próprios esqueletos no armário. Certamente, por causa do que também fizeram, e não somente do que sofreram, eles relutam em lembrar o passado recente. É uma pena que Lula não tenha tido esse pudor e tenha preferido, em vez disso, utilizar velhos mitos para dar vazão à demagogia antiamericana.

quinta-feira, julho 10, 2008

RECORDAR É VIVER

Do blog de Claudio Humberto:
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Terror das Farc explodiu nossa embaixada
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05/07/2008
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O presidente Lula e o ministro Celso Amorim (Relações Exteriores) se recusam a classificar de terroristas as “Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia”, que o PT chama de “movimento popular”, mas não têm esse direito: os narcoterroristas das Farc explodiram 200kg de dinamite na embaixada do Brasil em Bogotá, em 17 de abril de 1993, dia em que o governo brasileiro recebia em Brasília o chanceler colombiano.
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Carnificina
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O atentado terrorista das Farc matou 43 pessoas e feriu 350, oito delas diplomatas e funcionários da embaixada brasileira.
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Por um triz
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O embaixador Alberto da Costa e Silva só escapou porque acompanhava o chanceler colombiano na visita ao Brasil. Seu gabinete ficou destruído.
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Imagens do terror
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A cabeça de uma criança de dez anos foi encontrada no alto do prédio de oito andares, onde funcionava a embaixada do Brasil.
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Vexame
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Além de não condenar o terror das Farc, o presidente Lula se recusa a participar do esforço para resgatar os 700 reféns que restam. Vergonha.
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Não há muito o que comentar. Esta é a organização que o governo Lula deseja um dia venha a participar do jogo democrático na Colômbia...
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Só lembrando: Lula já disse que o conflito no país vizinho é um "problema da Colômbia". Como se o narcotráfico nas cidades brasileiras não tivesse nada a ver com as FARC.
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Diz-me quem não consideras terrorista e eu te direi quem és.

quarta-feira, julho 09, 2008

O BRASIL E AS FARC, OU POR QUE NÃO É POSSÍVEL SER "NEUTRO" DIANTE DA BARBÁRIE

Prisioneiros em campo de concentração das FARC: "neutralidade" do Brasil favorece o terrorismo
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Como todo mundo que acompanha as notícias sabe, o governo de Lula da Silva se declara "neutro" em relação às FARC. O argumento do governo pode ser resumido da seguinte forma:

1) Se o País se colocasse abertamente contra as FARC, considerando-a uma organização terrorista, perderia a possibilidade de intermediar a libertação dos reféns;

2) O conflito entre as FARC e o governo colombiano é uma questão interna da Colômbia; e

3) Logo, qualquer posição que não seja a neutralidade seria uma forma de intervenção nos negócios internos da Colômbia.

Muita gente, inclusive gente que não tem qualquer simpatia ideológica pelas FARC, concorda com essa posição do governo brasileiro, a qual consideram equilibrada e responsável. É claro que estão iludidas. É claro que a "neutralidade", nesse caso, não passa de outro nome para a cumplicidade com o terrorismo e o narcotráfico.

Primeiro, a afirmação de que o não-reconhecimento das FARC como terroristas se justificaria diante da necessidade de intermediação para a soltura dos reféns não se sustenta. Ao adotar tal posição, o governo brasileiro está, na verdade, reconhecendo as FARC como um interlocutor legítimo. Isso significa ceder à chantagem terrorista, e nada mais. As FARC são um bando de criminosos que utilizam o seqüestro e o narcotráfico como forma de ação. Recusar-se a chamá-los pelo nome sob a alegação de que é preciso negociar é o mesmo que considerar o Comando Vermelho ou o PCC atores políticos respeitáveis. Com bandidos e terroristas não se negocia - é essa a lição que o governo Uribe está dando ao mundo.

Segundo, as FARC há muito deixaram de ser um problema interno somente da Colômbia. Devido ao tráfico de drogas, cujas rotas passam pelo Brasil e chegam até as periferias das grandes cidades e às favelas do RJ, essa questão tornou-se um assunto continental. Não é segredo para ninguém que os traficantes brasileiros se abastecem de cocaína nas selvas colombianas, e que as FARC estão entre seus principais parceiros e fornecedores. Fernandinho Beira-Mar, por exemplo, foi preso em um acampamento das FARC na Colômbia. O Brasil, ao que se saiba, não produz um grama de cocaína. No entanto, é um dos maiores consumidores do mundo. Como dizer então que se trata de um problema interno de um único país?

Terceiro, e finalmente, afirmar que chamar as FARC de terroristas seria uma forma de intervenção nos assuntos internos da Colômbia significa, por si só, escolher um dos lados do conflito. O princípio da não-intervenção se aplica no caso da disputa política entre dois ou mais contendores, em que tomar partido por um dos lados significa ingerência. Mas não é esse o caso da Colômbia. Lá, o que ocorre não é uma disputa pelo poder político entre dois concorrentes com ambições mais ou menos semelhantes: é o confronto entre o governo legalmente constituído e um bando de seqüestradores e narcotraficantes. A neutralidade existe para impedir que terceiros modifiquem o equilíbrio interno em favor deste ou daquele lado. Não para lavar as mãos diante de crimes comuns. Acrescente-se que é o próprio governo da Colômbia que solicita há anos, em vão, o reconhecimento, pelo Brasil, das FARC como um grupo terrorista. Logo, não há sentido em falar aqui em intervenção nos assuntos internos colombianos.

Imaginem se a situação fosse inversa. Se o Brasil, e não a Colômbia, estivesse há décadas acossado pelo terrorismo e pelo narcotráfico de uma organização que jurou destruir a democracia no país. E se um país vizinho, alegando neutralidade, se recusasse a considerar essa organização terrorista e narcotraficante? Certamente, os brasileiros não ficariam nada satisfeitos.

A posição do Brasil em relação às FARC é insustentável. Moralmente, é um escândalo. Ideologicamente, é uma impostura. Politicamente, é um contra-senso.

Alguém poderia ainda argumentar que a posição do governo Lula é correta, pois, ao se manter neutro, impede algum tipo de retaliação por parte das FARC, evitando, assim, que o conflito colombiano transborde para dentro das fronteiras brasileiras. Acontece que as FARC já estão no Brasil! Basta olhar para os morros cariocas. O narcotráfico é hoje o principal problema de segurança pública brasileiro. Cerca de 50 mil pessoas morrem devido à violência no Brasil, todos os anos. É muita ingenuidade - ou cumplicidade criminosa - achar que isso não tem nada a ver com o que acontece na Colômbia.

Não somente as FARC estão presentes no Brasil, como têm, no atual governo, um valioso aliado: seu representante no País, Olivério Medina, que responde a vários processos na Colômbia, inclusive por assassinato, circula livremente entre as altas esferas do PT e o governo nega-se a extraditá-lo. Recentemente, sua esposa foi contratada pelo Ministério da Pesca, a pedido de Dilma Rousseff. Como falar em neutralidade, portanto?

A "neutralidade" do Brasil no conflito colombiano é mais uma cortina de fumaça dos lulo-petistas para enganar a todos. O governo Lula já escolheu seu lado. E não é o lado da liberdade e da democracia.

segunda-feira, julho 07, 2008

A NOTA DO GOVERNO


O governo Lula emitiu uma nota oficial por ocasião do resgate de Ingrid Betancourt na Colômbia. Vamos lembrar:

Nota da Presidência da República sobre o resgate de reféns em poder das FARC
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O Presidente da República tomou conhecimento da libertação da Senadora Ingrid Betancourt e de outros 14 reféns que se encontravam seqüestrados pelas FARC.

Ao enviar seu abraço fraternal aos reféns hoje libertados e a seus familiares, o Presidente Lula manifestou satisfação com essa notícia tão aguardada pela comunidade internacional. Expressou a esperança de que tenha sido dado um passo importante para a libertação de todos os demais seqüestrados, a reconciliação de todos os colombianos e a paz na Colômbia.

Secretaria de Comunicação Social
Presidência da República
Brasília, 2 de julho de 2008

Traduzindo para o português, o que está transcrito aí em cima é o seguinte:

O Presidente da República lamenta profundamente que o Exército da Colômbia tenha resgatado a Senadora Ingrid Betancourt e mais 14 reféns das FARC.

Ele preferiria mil vezes que o Governo da Colômbia não tivesse agido como agiu e tivesse, em vez disso, cedido às exigências das FARC.

Para salvar as aparências, mandamos uma nota pífia e ridícula na qual fingimos satisfação com a desmoralização de nossos companheiros das FARC e expressamos falsamente a esperança de que os reféns sejam todos libertados.

Para não perdermos o hábito, manifestamos cinicamente a esperança de que haja "reconciliação" na Colômbia - ou seja: a reconciliação entre um punhado de narcotraficantes terroristas e 91% da população, que condena as FARC e apóia o Governo - e que nossos companheiros das FARC participem um dia de eleições, já que agora estão com o pé na cova.

Nesse momento de profunda dor e tristeza para todos nós, em que estamos lambendo as feridas, precisamos manter as aparências e a máscara de bons-moços e defensores da democracia.

Queremos manifestar nossa solidariedade a nossos companheiros das FARC, que foram feitos de otários, e aos companheiros Rafael Correa, Hugo Chávez, Evo Morales, Fernando Lugo, Daniel Ortega e Fidel Castro, assim como aos demais companheiros do Foro de São Paulo, por essa derrota sofrida.

Para não reconhecer que fomos pegos todos com as calças na mão, não fazemos em nossa nota nenhuma referência ao governo de Álvaro Uribe.

Esta é a tradução para o vernáculo comum da nota do Governo. Aí abaixo vai a nota que teria sido feita caso o Brasil não fosse governado por Luiz Inácio Lula da Silva:

O Presidente da República manifesta sua satisfação com o resgate heróico da Senadora Ingrid Betancourt e de mais 14 reféns pelo glorioso Exército colombiano, das garras do bando narcoterrorista e facinoroso conhecido como FARC.

O Governo brasileiro enaltece a bravura dos reféns e de seus libertadores e felicita o Presidente Álvaro Uribe por essa vitória histórica da liberdade e da democracia.

O Governo brasileiro repudia o terrorismo e o narcotráfico, em todas as suas formas, e se irmana aos esforços do Governo e do Povo da Colômbia na luta pela erradicação desses dois flagelos que enlutam aquele país irmão há mais de quatro décadas.
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Paulo Francis dizia que a melhor maneira de desmoralizar um esquerdista é deixar que ele fale. Ele estava quase certo. Mesmo na omissão, eles se revelam.
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P.S.: O titular da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República é o jornalista Franklin Martins. Foi ele o autor do célebre manifesto dos guerrilheiros que seqüestraram o Embaixador norte-americano, em setembro de 1969. Pelo visto, Franklin Martins não é tão bom em emitir notas oficiais sobre a libertação de reféns quanto em escrever manifestos de seqüestradores. Talvez as FARC devam contratá-lo para escrever suas comunicações...

quinta-feira, julho 03, 2008

MAIS UMA TAPEAÇÃO


Epa! Que estória é essa?

Começaram a aparecer vozes por aí dizendo que as FARC não são marxistas - são apenas um bando de traficantes e criminosos comuns, dizem. Que a guerrilha não tem nada de ideológica, sendo antes uma mera quadrilha de malfeitores. Muita gente, inclusive gente reconhecidamente de direita, comprou essa idéia. As FARC seriam uma "guerrilha degenerada" que, tendo começado comunista, desviou-se em algum momento - nomeadamente, após o fim da URSS, em 1991 - de sua pureza original, perdendo seu substrato ideológico marxista e se transformando numa mera súcia de assassinos e ladrões, dedicados a traficar drogas, seqüestrar e extorquir. No dia mesmo da libertação pelo Exército colombiano de Ingrid Betancourt, vi Arnaldo Jabor defendendo esse ponto de vista na TV, e inclusive cantando loas a Marx ("Grande Marx", assim ele terminou seu comentário). Terroristas, sim; marxistas, não, é o que se está dizendo.

É mais uma tapeação, mais uma tentativa de salvar o marxismo. Este não é uma ideologia humanista que, infelizmente, foi pouco entendida e manejada de forma errada por seus seguidores. Foi - é - uma doutrina criminosa e genocida, que traz em seu prontuário a conta dos piores crimes já cometidos contra a humanidade, que chegaram, no século XX, à marca macabra de cem milhões de cadáveres. Tampouco é uma ideologia fracassada - fracassar, como disse Olavo de Carvalho, é brochar na noite de núpcias; o comunismo, ao contrário, funcionou bem até demais, mostrando a que veio. Não há que se falar aqui, portanto, em uma suposta "pureza" virginal, em "socialismo ideal" versus "socialismo real" - como se tornou moda dizer para salvar a cara do marxismo - ou usar fórmulas extravagantes para manter viva a crença comunista, como fazem os trotskistas em relação aos "Estados operários degenerados". Trata-se, isto sim, de deixar os eufemismos de lado e chamar as coisas pelo nome. As FARC são, sim, um grupo criminoso e terrorista. São, sim, um bando de assassinos e narcotraficantes. São, sim, inimigos da liberdade e da democracia. E são também militantes marxistas.

Durante a operação de resgate de Ingrid Betancourt na selva colombiana, os agentes infiltrados do Exército na guerrilha usavam camisetas com a estampa de Che Guevara. Esse detalhe quase cômico demonstra por si até que ponto os narcoterroristas das FARC se identificam com a ideologia marxista. Nada mais apropriado do que enganar os bandoleiros com camisetas estampando a imagem do fuzilador-mor e carniceiro de La Cabaña. Ainda há quem pense que Guevara era um romântico idealista que queria construir um mundo melhor etc. etc. Pura bobagem. Idealista realmente ele era, como eram Hitler e Robespierre. Já construir um mundo melhor... Para gente como ele, fanática e imbuída de uma fé messiânica no futuro comunista da humanidade, todos os meios são válidos, como dizia Lênin. Inclusive o seqüestro e o tráfico de drogas. As FARC não fazem mais do que confirmar essa realidade. Atuam de forma perfeitamente coerente com a estratégia e os objetivos revolucionários marxistas.

Não é por outro motivo que os companheiros de viagem esquerdistas das FARC, como Chávez, Correa e Lula, insistem em não reconhecê-las como o que de fato são. Nisso, aliás, seguem um padrão historicamente estabelecido. Assim como o governo Lula e os companheiros petistas se recusam a chamar os narcoterroristas colombianos de narcotraficantes e terroristas, e persiste a tentativa de tapar o sol com a peneira em relação à ideologia das FARC, muita gente ainda acha que a corrupção petista foi um desvio de rota do partido, não o seu coroamento na prática. Assim tentam separar a ideologia esquerdista de suas conseqüências lógicas e inevitáveis.

Não por acaso, Lula seguiu os passos de Chávez e Correa, exortando as FARC a abandonar a luta armada. Parte da imprensa interpretou isso como uma conclamação de Lula para que as FARC deixassem de existir. Nada disso. O que ele defendeu foi que as FARC fossem "integradas" ao jogo democrático, conquistando pelo voto o que não conseguiram pelas armas - como o próprio PT, aliás. Desse modo, ao criticar os métodos, espera preservar os fins pelos quais elas lutam. Como se apenas os métodos fossem condenáveis, e o fim - a ditadura comunista - fosse algo louvável. Já disse aqui e vou repetir: não são os métodos das FARC apenas que são terroristas - seus fins também são.

Não se enganem. Está em curso uma operação de salvamento das FARC. Lula e seus companheiros do continente já estão se mobilizando para resgatá-las do descrédito e da desmoralização em que afundaram, graças à ação corajosa e decidida do governo Uribe, que não se intimidou ante as pressões para que "negociasse" com os terroristas, tratando-os, em vez disso, como os criminosos que realmente são. Desse modo, os amigos das FARC esperam impedi-las de irem para o lugar a que pertencem: a lata de lixo da Historia. Onde eles, diga-se, também deveriam estar.

A BARBÁRIE TERRORISTA GOLPEADA NA COLÔMBIA


A espetacular operação militar que resultou no resgate da ex-candidata à presidência da Colômbia Ingrid Betancourt e de mais 14 reféns, sem que um só tiro fosse disparado, em plena selva colombiana, foi uma vitória histórica não apenas do presidente Álvaro Uribe, ou do povo da Colômbia, mas da civilização e da humanidade. O resgate feriu de morte não somente as FARC, organização narcoterrorista que goza de reconhecimento oficial pelo governo do caudilho fanfarrão Hugo Chávez da Venezuela, e da condescendência cínica do governo Lula da Silva, mas todos aqueles que apóiam, aberta ou veladamente, os facínoras colombianos. Ambos ficaram totalmente desmoralizados.

Como não poderia deixar de ser, o governo Lula reagiu diante da notícia desfavorável a seus companheiros de luta usando o método de sempre: a mentira. O governo emitiu uma nota oficial absolutamente anódina e ridícula, na qual tenta disfarçar sua frustração com o desfecho do epísodio. Na nota, o governo envia seu "abraço fraternal aos reféns" e Lula manifesta sua "satisfação" com a notícia. Expressa ainda "a esperança de que tenha sido dado um passo importante para a libertação de todos os demais seqüestrados, a reconciliação de todos os colombianos e a paz na Colômbia". É o abraço do algoz, a satisfação de quem quer salvar a cara e a esperança de quem compactua com o terrorismo e o narcotráfico. Nem precisa dizer, mas a nota não faz nenhuma menção ao governo Uribe.

Ai, ai. Como diria o rei Juan Carlos da Espanha: por que não se calam?... As declarações oficiais do governo Lula sobre a soltura de Ingrid Betancourt são uma das coisas mais cínicas e cretinas que já foram pronunciadas em qualquer lugar, em qualquer época. Lula e companhia não estão satisfeitos com a vitória do exército colombiano coisíssima nenhuma. Estão é se remoendo por dentro. Vamos lembrar um pouco.
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Praticamente desde que o governo Uribe declarou guerra total às FARC, Lula e seus companheiros Hugo Chávez e Rafael Correa pressionam o governo colombiano a "negociar" com os narcobandoleiros, e repudiam a ação militar contra eles, inclusive usando o argumento cínico de que isso poderia colocar em risco a vida dos reféns - como se a vida deles não estivesse sob ameaça dos seqüestradores. Queriam que Uribe baixasse as armas e "negociasse" - ou seja, cedesse - aos terroristas traficantes. Com isso, esperavam mediar a libertação dos reféns, como fez Hugo Chávez no começo do ano, para aparecer assim como um humanitário e, de quebra, conseguir o reconhecimento das FARC como "força beligerante", passando totalmente por cima da autoridade legalmente constituída do governo democraticamente eleito da Colômbia - Lula não foi tão longe, mas o governo brasileiro ainda insiste em não reconhecer as FARC como uma organização terrorista. Quando o número dois das FARC, Raúl Reyes, foi morto pelo exército colombiano em março passado, o governo brasileiro colocou-se inteiramente ao lado dos governos Correa do Equador e Chávez da Venezuela, ignorando solenemente as provas de vinculação desses dois com a narcoguerrilha descobertas no computador de Reyes. Chegou-se mesmo a cogitar, nas esferas diplomáticas, em fazer com que as FARC, aproveitando os laços que têm com o PT, entregassem os reféns a ele, Lula. Agora, com o resgate de Ingrid Betancourt pelo exército colombiano, todos eles - Lula, Chávez, Correa - perderam sua principal moeda de troca para fazer demagogia política em torno do conflito colombiano, explorando, para fins propagandísticos, o sofrimento dos reféns e de suas famílias. Sofreram uma terrível derrota, e agora tentam manter as aparências, saindo de fininho.

A desfaçatez dos lulistas não tem mesmo limites. Sua cara-de-pau é um insulto à inteligência alheia. Em declaração à imprensa, Marco Aurélio "Top, Top" Garcia se disse "aliviado" com a libertação de Ingrid e dos reféns. Porque "aliviado"? Não foi ele mesmo que disse, não faz muito tempo, que o Brasil era "neutro" em relação às FARC? Para ser coerente, deveria dizer-se igualmente neutro em relação à libertação de Ingrid Betancourt. Ou, pelo menos, calar a boca. Seria covarde do mesmo jeito, mas pelo menos seria um pouco menos indecoroso. Se querem ouvir um comentário inteligente sobre o que está acontecendo na Colômbia, acessem aqui http://video.globo.com/Videos/Player/Noticias/0,,GIM850143-7823-HISTORIADOR+MARCO+ANTONIO+VILA+COMENTA+RESGATE+DE+INGRID+BETANCOURT,00.html.

A nota do governo e as declarações dos lulistas devem ser compreendidas sob o mesmo prisma do recente "recuo tático" de Hugo Chávez em relação às FARC. Chávez conclamou seus aliados narcoterroristas a soltarem os reféns e abandonarem a luta armada, não porque tenha se convertido, subitamente, à democracia, mas porque percebeu que a guerrilha está fazendo água. Do mesmo modo, Lula agora corre para demonstrar solidariedade aos reféns e suas famílias, tentando disfarçar sua cumplicidade com os seqüestradores e assassinos. Puro fingimento.

Essa cumplicidade dos lulistas com a narcoguerrilha colombiana já está mais do que demonstrada. Vamos lembrar mais uma vez. O representante das FARC no Brasil, Olivério Medina, vive livremente no País, sem ser incomodado, graças á condescendência das autoridades brasileiras, que se opõem à sua extradição para a Colômbia, onde ele responde a vários processos. A esposa de Medina, Angela Maria Slongo, é funcionária contratada do Ministério da Pesca, a pedido da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, que conseguiu sua transferência para Brasília, onde ela se dedica, segundo a assessoria do Ministério, a alfabetizar milionários do Lago Sul... Foram as FARC que agradeceram publicamente ao PT e a Lula por terem salvo o comunismo da extinção na América Latina, ao criarem, em 1990, o Foro de São Paulo. Tudo isso são fatos, não são opiniões. Na última reunião do Foro, realizada em Montevidéu, Uruguai, o presidente da Nicarágua, Daniel Ortega, tido em alta conta pelos petistas, lamentou a morte do chefão das FARC, Manuel Marulanda, tendo sido fervorosamente aplaudido pela platéia, na qual estavam presentes petistas proeminentes como Marco Aurélio Garcia. Por que não estão chorando agora pela libertação dos reféns?

O presidente colombiano Álvaro Uribe está dando uma aula ao mundo de como lidar com narcotraficantes e terroristas. Sairá do episódio certamente fortalecido. Já os cúmplices do narcotráfico e do terror preferem esconder-se por trás de uma cortina de mentira e de dissimulação.