Não parece, mas o cartaz acima não é do governo Lula...
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Diogo Mainardi escreveu mais um daqueles textos essenciais na VEJA desta semana (está aqui: http://veja.abril.com.br/blog/mainardi/). Ele desmascara, como já é usual, a propaganda patrioteira e ufanista do governo e do PT, que nos últimos tempos, com o pré-sal e a escolha do Rio para sede das Olimpíadas de 2016, atingiu níveis realmente mussolinianos, tendo ultrapassado tudo que as ditaduras de Vargas e do general Médici produziram.
Mainardi lembra que os intelectuais do lulo-petismo, como Marilena Chauí e Ricardo Kotscho, dedicam-se a repetir, hoje, o que até pouquíssimo tempo atrás condenavam com furor stalinista em outros governos. Marilena Chauí escreveu mesmo um livro em que se mostrava escandalizada com a propaganda patrioteira do governo FHC por ocasião dos 500 anos do descobrimento, em 2000. Pelo visto, seu escândalo se deveu não à celebração dos 500 anos, mas ao fato de ser FHC, e não Lula, quem estava à frente da festa. Era o fato de que Lula não estava lá para dizer que o Brasil agora era a maior potência da História do Universo.
Hoje é difícil acreditar, mas houve uma época em que ser de esquerda era ser "do contra". Era sinônimo de cultivar o senso crítico em relação à propaganda patrioteira e ao ufanismo. De torcer o nariz para o chauvinismo verde-amarelista e para as correntes pra frente, que constituíam uma forma de as "classes dominantes" manterem o poder e esmagar a minoria de impatriotas que se negavam a aplaudir a grandiosidade do governo. Era dizer Epa! quando todos diziam Oba! diante do governante de plantão. Os lulo-petistas conseguiram desmoralizar também essa idéia. Hoje, ser "do contra" é ser "de direita". Como não gosto da música de Don e Ravel, sou, portanto, um impatriota.
De fato, os lulo-petistas conseguiram botar no chinelo tudo que veio antes em termo de patriotada, de ufanismo babão e chauvinista. Eles são mesmo do balacobaco. Perto de Marilena Chauí e Ricardo Kotscho, o Conde Affonso Celso é um traidor da pátria, e Plínio Salgado e Amaral Netto não passam de amadores. Todos os estereótipos cultivados durante décadas pelos esquerdistas para ridicularizar o regime militar e a "direita" - os slogans ufanistas, o "Brasil ame-o ou deixe-o" etc. - aplicam-se à perfeição a eles próprios, os esquerdistas. Outro dia, vi uma propaganda do PCdoB na televisão. Lá estava um militante, cara de nerd. Ele ficou cantando as glórias do governo Lula, o melhor do mundo. A certa altura, ele exclamou, cheio de entusiasmo e de orgulho patriótico: "Ninguém segura este País"... Nisso, os lulo-petistas confirmam, mais uma vez, o conselho de Lênin: "Acuse-os do que você faz, condene-os pelo que você é".
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Como já escrevi aqui, o patriotismo exacerbado tem algo de complexo de vira-latas. Antes, os lulo-petistas criticavam "as elites" pelo apego demasiado às coisas de fora, demonstrado, por exemplo, pela necessidade meio infantil de reconhecimento pelos grandes e poderosos. Hoje, Lula e seus seguidores ostentam como prova de que o País finalmente é um "global player" o... reconhecimento pelos grandes e poderosos. Gostam de repetir que Lula é "O Cara", como o chamou Barack Obama (e ele é "O Cara" porque foi Obama quem disse, vejam bem; tivesse sido o presidente do Gabão, não seria a mesma coisa), e que os jornais estrangeiros não páram de elogiar o Brasil etc. etc. Enfim, transformaram o "Deu no New York Times" no critério absoluto para aferir o sucesso do atual governo - exatamente o que criticavam em governos passados. Há algo de insegurança, de baixa auto-estima, no excesso de orgulho patriótico.
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O governo Lula demonstrou que, pior do que um esquerdita na oposição, é um esquerdista no poder. Do mesmo modo, só há alguém mais patrioteiro do que um general da época da ditadura militar: é um devoto da religião lulo-petista. E muito mais desonesto, também.
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