Mostrando postagens com marcador Yoani Sánchez. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Yoani Sánchez. Mostrar todas as postagens

domingo, fevereiro 24, 2013

YOANI SÁNCHEZ. OU: A HISTERIA DOS ESQUERDIOTAS


Imaginem o seguinte: um opositor de uma ditadura latino-americana está em visita a um país estrangeiro. Na chegada, é hostilizado por um bando de apoiadores dessa ditadura, que tentam calá-lo e impedir que divulgue sua mensagem pró-democracia. Xingam-no e insultam-no, cospem nele, atiram-no notas de dólares, acusando-o de espião e mercenário a serviço de uma potência estrangeira. Em todos os lugares aonde vai, depara com uma súcia que o insulta aos berros. Antes de sua chegada ao país, descobre-se que funcionários do governo, em conluio com o embaixador da ditadura, montam uma operação de espionagem para desacreditá-lo. O embaixador inclusive admite que agentes da ditadura atuam no país monitorando opositores – o que é uma clara violacão do princípio de não-ingerência.

Imaginaram? Agora pensem que a ditadura em questão é a ditadura militar do Brasil (1964-1985), e que o opositor é um exilado brasileiro.

A situação descrita acima aplica-se perfeitamente, apenas com o sinal ideológico trocado, à tumultuada visita ao Brasil da blogueira e dissidente cubana Yoani Sanchéz. Com algumas diferenças fundamentais: a ditadura militar acabou no Brasil há mais de vinte anos; a de Cuba, comandada pelos irmãos Castro desde 1959, ainda não acabou, nem dá sinais de que vai acabar um dia. Outra diferença é que a tirania cubana, um regime totalitário comunista, matou muito mais do que os generais brasileiros, e a censura do regime de 64 não chegou nem aos pés do controle total da informação pelo Partido-Estado na ilha-presídio.  

Mas a maior diferença é outra, e ficou explícita na visita de Yoani. Ao contrário dos militares brasileiros, uruguaios ou chilenos do passado, os gerontocratas cubanos contam com apoiadores fervorosos no Brasil. Mais que isso: prontos a usar a violência física contra quem ouse usar a palavra para criticar, por mínimo que seja, a ditadura mais antiga do Ocidente. Nenhuma outra ditadura latino-americana se equipara, nos quesitos repressão e longevidade, à gerontocracia cubana. E nenhuma tem tantos defensores apaixonados fora de suas fronteiras.

Desde o momento em que pisou em solo brasileiro, iniciando a primeira viagem para fora da ilha-cárcere em seis anos (e após 20 tentativas negadas pelas autoridades de Havana), Yoani foi constantemente hostilizada por uma turba de fanáticos e gorilas fascistóides pagos por partidos de esquerda que compõem o atual governo Dilma Rousseff. Foi ofendida e injuriada com slogans que a acusavam de ser espiã e mercenária da CIA (acreditem: há quem pense que ela é agente da ditadura castrista, e com os mesmos argumentos: ela bebe cerveja, vai à praia e come banana...). Tais bobocas impediram, na base do berro e de ameaças de agressão, a projeção de um documentário do qual Yoani participa. Perseguiram-na em quase todos os lugares, inclusive no Congresso Nacional, onde deputados do PT, do PCdoB e do PSOL comportaram-se de maneira semelhante às claques de militontos histéricos (caracterizando, aliás, o crime de constrangimento ilegal, tipificado no Código Penal brasileiro). Tamanha foi a fúria dos esquerdopatas inimigos da liberdade de expressão que até o senador Eduardo Suplicy, caprichando na pose de falso bobo alegre que é sua marca registrada, saiu em defesa de Yoani, esperando com isso que todos se esqueçam de décadas de conivência sua com a castradura cubana e ficar bem na fita. 

Pois bem. De nada adiantaria repetir aqui alguns fatos óbvios sobre a tirania dos Castro em Cuba. De nada adiantaria perguntar aos amantes da castroditadura, por exemplo, se eles topariam viver uma semana em um país onde faltam papel higiênico, sabão, pão, carne, leite, com apagões diários e vivendo (?) com 12 dólares por mês (detalhe: quem reclama termina no xilindró...). Tampouco seria de grande valia indagar aos parlamentares esquerdistas que tentaram calar Yoani se eles desejam para o Brasil o mesmo que defendem para Cuba, ou seja, uma ditadura eterna, com censura à imprensa, sem liberdade de expressão e de reunião, partido único, presos políticos etc. (muitos certamente  vão querer dizer "sim", mas não têm a coragem de dizer abertamente). Aduladores de ditaduras simplesmente estão além do alcance de qualquer racionalidade. O importante é que a visita de Yoani já é histórica.

A visita de Yoani é histórica porque ajudou a tirar a máscara de muita gente no Brasil, mostrando a verdadeira cara dos militontos de esquerda, muitos dos quais adoram posar de defensores da democracia e dos direitos humanos (quando lhes convém, claro). Bastou a vinda de uma blogueira que não dança conforme a música ditada por Raúl e Fidel, e cujas críticas à tirania são aliás bastante moderadas, para tirar essa gente do sério e fazê-los mover mundos e fundos (principalmente fundos, que são abundantes) para atacar o mensageiro. Bastou a visita de Yoani para revelar para quem quiser ver que, para essa patota, há ditaduras boas e ditaduras más - as boas são as que matam mais (e que duram mais tempo).  Poucas vezes a expressão FASCISMO DE ESQUERDA fez tanto sentido quanto nesses ultimos dias no Brasil.

O jeito mais rápido e fácil de desmascarar um hipócrita esquerdista (seja "hard" ou da esquerda aguada, do tipo que se enche de indignação contra os crimes da ditadura militar mas considera "extremismo de direita" pedir democracia em Cuba) é perguntar o que ele(a) acha do regime comunista da ilha da fantasia da esquerda. Se ele(a) se recusar a condená-lo, insistindo num tom "neutro" ou fazendo silêncio, pode ter certeza: trata-se de um farsante. A visita de Yoani Sánchez foi uma excelente oportunidade de mostrar o que essa gente realmenre pensa e o que realmente quer.

Eis mais uma invenção da era lulopetista: o "protesto pró-ditadura", o "protesto a favor".

Imaginem o barulho que haveria se um grupo de "manifestantes" recebesse com gritos de protesto e ameaças de linchamento os exilados brasileiros que voltaram ao Brasil em 1979, chamando-os de agentes da KGB (e muitos eram mesmo)...

Como eu já disse inúmeras vezes, o clube mais numeroso do mundo é o dos inimigos das ditaduras passadas, e amigos das ditaduras atuais. Aí está Yoani para provar.

***
Não me admira a raiva dos militontos petistas e assemelhados contra Yoani Sánchez. Afinal, além de tudo que está aí em cima, ela milita "do lado errado". Vejam só:

- Yoani não ergue bandeira nem grita slogans contra o capitalismo, a globalização ou as multinacionais (até porque ela sabe que capitalismo e democracia, duas coisas inexistentes em Cuba, são inseparáveis);

- Yoani não invade igreja pelada para "comemorar" a renúncia do papa (até porque a religião cristã sofreu dura perseguição por parte da ditadura castrista em Cuba);

- Yoani não bate tambor em defesa do "casamento gay" e por uma lei "contra a homofobia" (o que diabos seria isso?);

- Yoani não defende cotas raciais nas universidades "contra o racismo" (ela vem de um país racialmente miscigenado, como o Brasil);

- Yoani não pinta a cara nem adota nome indígena fake no Facebook, posando de índio de boutique e defendendo aldeias e quilombos de mentitinha para mamar nas tetas do Estado-babá;

- Yoani não sai por aí endossando teses fajutas de artistas da Globo para protestar contra a construção de uma usina hidrelétrica (de onde ela vem falta luz todo dia);

- Yoani não gasta seu tempo em causas da elite descolada como a legalização da maconha (até porque em Cuba também há drogas, como sabe qualquer um que ler seu blog);

- Yoani não justifica atentados terroristas perpetrados por fanáticos islamitas, nem protesta contra os EUA por derrubarem tiranos genocidas;

- Yoani não sai por aí em favor do "controle social da mídia" (não, obrigado: ela sabe o que é censura);

- Yoani não considera o Mensalão "uma conspiração das elites";

- Yoani não quer rever anistias para punir apenas um lado etc.

Em vez disso, Yoani defende uma outra causa, mais simples: Liberdade e Democracia para Cuba.

Em resumo, Yoani não é uma militonta anticapitalista, antiglobalização, antirreligiosa, feminista, gayzista, racialista, ecochata, maconhista, antiamericana, antiocidental, multiculturalista, antiliberal e antidemocrata.

Convenhamos, realmente Yoani é uma figura muita estranha, estranhíssima. Principalmente no Brasil.

sexta-feira, novembro 20, 2009

DESAFIO

Este blog DESAFIA qualquer pessoa a mostrar qualquer PROVA de que a cubana Yoani Sánchez, do blog Generación Y, tem qualquer relação com os serviços secretos da ditadura dos irmãos Castro em Cuba.
.
Comprometo-me a publicar aqui todas as mensagens que trouxerem argumentos sobre o caso. Se eu não conseguir refutar o que for escrito com fatos e lógica, eu RETIRO tudo que escrevi sobre a Yoani até agora: apagarei todos os posts sobre o assunto. De quebra, ainda escreverei um texto me retratando.
.
O desafio está lançado. Quem vai encarar?

quinta-feira, novembro 19, 2009

AINDA YOANI SÁNCHEZ (OU: A IRRACIONALIDADE DAS TEORIAS CONSPIRATÓRIAS)


Já eu prefiro que me mostrem provas...
.
Ainda sobre o rumor lançado na internet de que Yoani Sánchez seria uma espiã infiltrada da ditadura comunista cubana, paga pelo governo de Raúl Castro para escrever seu blog em que denuncia o... governo de Raúl Castro (!), alguém me escreve com a seguinte pergunta: "como ela pode ter tanta notoriedade e não ter sido jamais detida"? Eu saberia explicar isso?

Posso apenas arriscar uma hipótese, já que nesse assunto estamos inteiramente no reino das especulações: acredito que a tirania castrista ainda não a meteu numa prisão por causa, justamente, da notoriedade que ela alcançou no exterior. A fama do blog e os prêmios jornalísticos que ela ganhou fora da ilha, como o Ortega y Gasset e o Maria Moors Cabot, além do fato de ter sido eleita uma das 100 pessoas mais influentes do mundo pela revista Time em 2007 etc., tudo isso lhe deu, digamos assim, uma certa "blindagem". Graças ao uso inteligente da internet, ela saiu do controle da ditadura, tornou-se grande demais para ser simplesmente eliminada. Até para os padrões da tirania cubana, trancafiá-la ou mandá-la ao paredón seria, pelo menos agora, dar demais na vista. Embora essa possibilidade não deva ser descartada, é bom que se diga.
.
Mesmo com essa "liberdade", que nada mais é do que a liberdade da internet, Yoani não está livre, porém, do acosso da repressão, como demonstra a tentativa de seqüestro da semana passada ("uma armação", certamente vão dizer os conspiracionistas, para quem nenhum fato é suficiente para demovê-los de suas certezas religiosas). Além disso, ela está proibida de deixar o país e é vigiada constantemente pelos espiões do regime - o que ela inclusive denuncia no blog. Seu blog, aliás, é inacessível para os cubanos que moram na ilha (somente quem está no exterior pode acessá-lo e sabe quem é Yoani Sánchez).
.
Não é preciso forçar a barra para mostrar a ditadura cubana como pior do que já é. Yoani não é "prova" de que "não é tão ruim assim viver na ilha", como se está dizendo, muito pelo contrário: ela é um fenômeno novo, uma opositora do totalitarismo que usa a internet, vedada à maioria dos cubanos, como principal instrumento de resistência à tirania. É algo com que os Castro e seus serviços de espionagem não contavam, nem podem controlar totalmente: basta um notebook e um pen-drive para denunciar ao resto do mundo o que ocorre na ilha. Além, claro, de coragem, muita coragem. Com isso, ela, Yoani, incomoda muita gente, inclusive alguns exilados em Miami, que gostariam de ter o monopólio da oposição ao castrismo. É possível que tenha saído daí o boato de que ela é agente da DGI cubana.

Tudo isso me dá o direito, creio eu, de acreditar que a acusação de que ela é agente do castrismo não passa de um boato sem fundamento, uma calúnia, talvez criada pelos próprios órgãos de desinformação cubanos. Até o momento, há tantas provas de que ela é agente do castrismo quanto de que ela é agente da CIA. Ou seja: nada. Nadinha mesmo.

Mas, por mais que eu pise e repise essa questão, não acredito que vai adiantar muito. Boatos, afinal de contas, são feitos não para ser provados (do contrário, não seriam boatos), mas para desmoralizar, desqualificar, caluniar. É uma pecha que, uma vez lançada, é extremamente difícil de desaparecer, obrigando o caluniado a se defender, enquanto os caluniadores permanecem seguros, muitas vezes no anonimato. Por coincidência, terminei de ler um dia desses uma biografia do cantor Wilson Simonal, que teve a carreira - e a vida - destruída por causa de um boato de que ele seria "dedo-duro" da repressão política nos anos da ditadura militar. Havia muito mais motivos para crer que Simonal fosse agente do DOPS do que para crer que Yoani é agente da G2. E, no entanto, depois de décadas, descobriu-se que Simonal nunca teve nada a ver com a repressão, foi tudo um grande mal-entendido. Acredito que o mesmo tipo de equívoco fatal está acontecendo agora no caso da Yoani Sánchez.

Eu poderia tentar discutir teorias conspiratórias. Mas, infelizmente, teorias conspiratórias não podem ser discutidas: elas não são racionais, como já disse aqui. Não adianta pedir fatos e provas para quem acredita em algo porque QUER acreditar. Para quem quer crer que Yoani é uma espiã a serviço do castrismo, nenhuma prova em contrário basta. Assim como sempre haverá quem duvide que o homem foi à Lua, sempre haverá quem jure que Yoani, por ser blogueira, por estar viva, por ser bonita ou por sei lá o quê, é agente da DGI cubana ou dos incas venusianos.

Mais uma vez pergunto, e mais uma vez vou ficar sem resposta: cadê as PROVAS de que Yoani Sánchez é agente dos Castro? Será que eu vou ter de criar um prêmio para quem conseguir essa façanha?
.
ATENÇÃO: Não estou me dirigindo a quem quer que seja quando escrevo sobre o rumor de que Yoani seria espiã. Estou refutando, isso sim, argumentos que até o momento me parecem totalmente descabidos e sem qualquer fundamento. Não escrevo sobre pessoas, mas sobre idéias.

terça-feira, novembro 17, 2009

AINDA SOBRE YOANI SÁNCHEZ: MOSTREM-ME PROVAS, NÃO TEORIAS CONSPIRATÓRIAS


Tenho recebido alguns comentários de pessoas que dizem acompanhar e gostar muito de meu blog, mas que discordam de mim em uma única coisa: minha opinião sobre a "tese", apresentada até agora sem nenhuma prova que a sustente, de que a blogueira cubana Yoani Sánchez seria uma agente da ditadura castrista.

Antes de mais nada, permitam-me uma breve digressão: não defendo esta ou aquela posição, nem sustento esta ou aquela opinião, porque queira me ajustar a este ou àquele grupo, a esta ou àquela tendência política ou igreja ideológica. Chamam-me de direitista e anticomunista porque, por minha própria cabeça, cheguei às mesmas conclusões em diversos assuntos dos que militam na direita. Descobri isso por minha própria conta, procurando basear-me unicamente na lógica e na razão, e não por qualquer outror fator, como amizade, afinidade pessoal etc. Enfim, descobri que sou conservador e de direita não porque eu gosto de fulano ou sicrano, mas porque os FATOS, principalmente os fatos sobre ditaduras, se mostraram de direita.
.
Feito isso, vamos ao tema deste post: a suposta "traição" de Yoani Sánchez, que seria uma "espiã infiltrada" do castrismo etc.
.
Abordei a questão em dois outros posts sobre o assunto. No primeiro, apontei os diversos furos na teoria conspiracionista, que se baseia tão-só em elementos circunstanciais, como se diz em Direito Penal. Segundo a teoria, Yoani seria espiã porque:
.
- mora numa boa casa para os padrões cubanos (com o marido jornalista e com o elevador do conjunto habitacional quebrado, acrescentei);

- tem "livre acesso à internet" (só usa a internet quando consegue se passar por turista em algum hotel da ilha, vedado aos cubanos comuns);

- (o principal "argumento", até agora) goza de uma "liberdade incomum" dentro da ilha-cárcere (já foi proibida de sair do país inúmeras vezes e na semana passada levou uma surra dos meganhas da tirania).

Há outros "argumentos" do mesmo naipe. Por exemplo:

- ela tem boa saúde (já chegou a dizer que é magra de tanto passar fome quando criança);

- ela tem celular (até na Coréia do Norte existe celular).
.
E mais esses:
.
- é bonita;
.
- veste boas roupas para uma cubana;
.
- está viva.
..
Trocando em miúdos, para ser dissidente em Cuba é preciso, segundo quem defende que Yoani é uma "infiltrada": morar num muquifo, desconhecer internet e celular, estar preso incomunicável, ter péssima saúde, vestir-se com farrapos, ser feio e estar morto... Ou seja: os únicos dissidentes em Cuba só podem ser ou exilados ou cadáveres.
.
Uma outra grave "evidência": o blog de Yoani está hospedado na Alemanha, com registro na Espanha. Logo ela só pode ser espiã, dizem os teóricos da conspiração. Pois é... Sabem por que o site está hospedado fora da ilha? Porque não é possível acessá-lo em Cuba. Coisas de tiranias totalitárias.
.
Então, estão convencidos de que Yoani é uma agente do serviço de espionagem cubano? (ATENÇÃO: é ironia. Não me façam acionar a tecla SAP.)
.
(É preciso dizer: há mal-entendidos de todos os tipos. Alguém que me escreveu se dizendo leitor do blog de Yoani defendeu, pasmem, uma visão "equilibrada" sobre a tirania castrista, com base na tese da "ditadura benigna" - aquela que prende, tortura e mata, mas que "pelo menos" dá saúde e educação ao povo... Como se ficar à míngua em um hospital em que falta de tudo e sofrer lavagem cerebral em alguma escola do regime fosse sinônimo de saúde e boa educação.... Há delírios para todos os gostos.)
.
Nessa questão da Yoani Sánchez eu jogo no mesmo time do Reinaldo Azevedo e do Demétrio Magnoli, dois autores que estão muito longe de serem considerados "de esquerda": não há qualquer prova de que Yoani seja agente do castrismo. Nada mesmo. Mostrem-me qualquer prova, qualquer evidência factual irrefutável, de que Yoani trabalha para a ditadura cubana, e eu engulo minhas palavras. Por enquanto, há apenas ilações, elucubrações, rumores, fofocas - enfim, nada suficiente para sustentar uma acusação, o que me dá o direito de dizer que isso não passa de CALÚNIA contra Yoani Sánchez.

É incrível, mas ninguém pensou ainda que esse tipo de insinuação pode ter sido plantada pelos mesmos setores para os quais dizem que Yoani trabalha: os serviços de espionagem da ditadura castrista. Motivos não faltariam, haja visto o que ela escreve no blog, para que a castradura cubana tentasse desmoralizá-la desse jeito, atirando-lhe a pecha de "infiltrada". Prefiro acreditar nessa hipótese a dar crédito a quem diz, sem prova alguma, que Yoani é agente da tirania. Até porque considero a acusação das mais graves que se possa fazer a alguém - daí o cuidado em mostrar provas sólidas, e não meras conjecturas. Foi por desconfiar de teorias conspiratórias que me descobri anti-esquerdista.

Se o que se está dizendo de Yoani Sánchez é verdade, então é obrigação dos que estão falando PROVAR o que dizem. Simples assim. Qual a "prova" existente até agora de que ela é agente do castrismo? A casa? O acesso à internet? O notebook? A "liberdade incomum" na ilha? As roupas bonitas? Francamente, é preciso mais do que isso para me convencer que alguém é um agente a soldo de uma ditadura, e uma das piores do mundo.

Se Yoani Sánchez é uma espiã do castrismo, com a missão de mostrar, por vias tortas, que afinal "não é tão ruim viver em Cuba", porque lá é possível ser "oposição consentida" ao regime, então é necessário PROVAR também que tudo que ela escreve em seu blog e tudo o que ela diz em entrevistas é FALSO. É preciso provar que, quando ela escreve, por exemplo, sobre a falta de carne e de frango no mercado ou sobre os slogans pró-Castro que seu filho é obrigado a repetir na escola, ou que só enaltece Cuba quem nunca viveu lá, ela está na verdade elogiando o regime. É preciso provar tudo isso. Quem se habilita?

Boatos e falsas acusações sobre dissidentes de regimes totalitários que seriam agentes desses regimes não são nenhuma novidade. Eles eram comuns nos países do antigo bloco comunista, como uma forma de desmoralizar e dividir a oposição. Um dos maiores dissidentes da antiga URSS, o físico Andrei Sakharov, por exemplo, teve de enfrentar esse tipo de acusação jamais provada. O mais famoso de todos, Alexandr Solzhenitsin, era visto com desconfiança por alguns círculos anticomunistas, pois ganhou o Prêmio Nobel de Literatura e recebeu permissão, inclusive, de morar no exterior (na verdade, permissão é eufemismo: ele foi expulso mesmo). De qualquer maneira, ele tinha uma liberdade de ir-e-vir bem maior do que a de Yoani Sánchez hoje em Cuba. Yoani, aliás, é a versão cubana dos samizdat da época soviética - assim como Solzhenitsin e outros escritores dissidentes, ela contrabandeia seus textos para fora do país, com seu notebook doado por uma ONG espanhola e um pen-drive. Sua "liberdade" suspeita nada mais é do que a liberdade propiciada pela internet, a maior inimiga das ditaduras.

"Quem a banca? Quem banca o blog dela?" etc. Francamente, são perguntas descabidas. É o mesmo tipo de pergunta feito pelos testas-de-ferro da ditadura castrista, que insistem em apresentar Yoani como "mercenária a soldo do imperialismo ianque". Pelo visto, há malucos em todos os quadrantes do leque ideológico.

Seria surpreendente, para dizer o mínimo, que os irmãos Castro patrocinassem um blog que fala a verdade sobre a penúria e a falta de liberdade na ilha-presídio, e que ainda por cima ganhou tanta notoriedade internacional justamente por causa disso. Não subestimo a capacidade da propaganda castrista de enganar e iludir, como já afirmei aqui, mas essa seria a primeira vez que uma ditadura patrocina uma blogueira para dizer a verdade e esculhambar o próprio regime. Basta ler qualquer post de Yoani para sentir pena de quem vegeta em Cuba.

O chato nisso tudo é que, com teorias conspiratórias, não se pode dialogar. Elas simplesmente não podem ser provadas, nem refutadas. Isso porque se baseiam no lado irracional do ser humano: de nada adianta mostrar provas de que o homem foi à Lua, por exemplo, que sempre haverá quem ache que foi tudo uma encenação em estúdio, assim como há quem jure de pés juntos que foi a CIA ou o Mossad israelense que derrubaram as Torres Gêmeas. Não duvido que os que estão repetindo, sem provar, que Yoani é assalariada da DGI cubana vão começar a afirmar que ela encenou a tentativa de seqüestro da semana passada. Ainda que ela aparecesse com as duas pernas quebradas, diriam que foi ela mesma que se infligiu tais ferimentos para afastar as suspeitas de ser uma "infiltrada"... O estoque de conspirações, para os que nelas acreditam, é ilimitado. A inteligência, infelizmente, não.
.
Mas o mais triste é que, no caso das insinuações contra Yoani, quem sai manchada é a "direita", os conservadores que, de boa-fé e por amor à liberdade, querem ver o fim da tirania comunista de Cuba. Ao dar respaldo a idéias descabeladas como essa, apenas dão munição aos inimigos da sociedade aberta. Isso é lamentável, até porque conspirações existem, como eu venho apontando neste blog (o Foro de São Paulo, por exemplo, está longe de ser uma fantasia). É esse tipo de conspiração, a conspiração da esquerda contra a democracia, que deve ser constantemente denunciada.

Repito: mesmo que Yoani Sánchez morasse numa cobertura com piscina e tivesse acesso total à internet com banda larga, eu continuaria exigindo provas sólidas de seu papel de dedo-duro a serviço do totalitarismo castrista. Enfim, mostrem-me uma PROVA, qualquer que seja, de que Yoani Sánchez é o que estão dizendo que é. Enquanto não o fizerem, enquanto não for apresentado nada mais do que boatos, eu me reservo o direito de continuar a considerá-la uma voz da liberdade contra a opressão.


P.S.: Para arejar um pouco o ambiente escurecido pela sombra conspiracionista, deixo aqui um pedaço de uma crônica de Yoani Sánchez em seu blog, Generación Y. Ela escreve sobre a acusação de que falo acima, e um pouco sobre sua vida. Vejam o "vidão" que a "infiltrada" tem em Cuba. Está em espanhol, mas acho que não haverá problema para compreender. (OBS.: G2 é o nome da polícia política em Cuba.)

***
Muchos de los que me conocen creen que tengo “guayabitos en la azotea”, “me falta un tornillo” o “estoy ida del coco”. Todo lo que he hecho en esta vidita (meterme en problemas, escribir una tesis sobre la literatura de la dictadura en Latinoamérica, unir mi vida a un periodista en desgracia, regresar a mi país y postear en este Blog) bien podría ser visto por un especialista como manifestaciones de un desorden psiquiátrico. Todo es posible…

A los que afirman –bajo la impunidad de un seudónimo- que soy del G2, quiero aclararles que muy pocos en Cuba lo siguen llamando así. Ahora le decimos “la seguridá”, “el Aparato”, “la maquinaria”, “el Armagedón”, “la trituradora”, “los muchachos” o solamente “ellos”. Si alguien le preguntara a un joven “Oye ¿tú sabes qué cosa es el G2?” quizás respondería que se trata de un grupo de Rock o de una marca de zapatos.
.
No pienso dar ninguna prueba que niegue esas acusaciones de “infiltrada”. A los que les alivia y les quita la culpa creer que “me atrevo porque estoy protegida o que me han mandado a decir todo esto”, pues adelante. Cada cual –al menos en el pequeño espacio de este Blog- puede pensar y comentar lo que quiera.

En relación con el dinero, la base material o el salario, me gusta citar a mi marido cuando dice que tengo “alma de fakir”. Me visto con lo que aparezca, hace años que no tengo más que un par de zapatos y como una vez al día. Una sola obsesión de “consumo” recorre ahora mi vida: postear. El dinero que me gano traduciendo del alemán, enseñándole la Habana a un par de turistas o vendiendo mis viejos libros de la universidad, lo invierto –cuando puedo- en pagar media hora de Internet. Por eso mis apariciones en “Generación Y” son a saltos y no con la frecuencia de una bitácora.
.
¿Por qué yo tengo un Blog y otros no? Porque soy de una generación que ha aprendido a moverse en el mundo de la tecnología, incluso teniendo que armar su propio PC con piezas compradas en el mercado negro. Una de las contradicciones que se está dando en la Cuba de hoy, es que los que tienen cosas más interesantes que contar, son en su mayoría analfabetos informáticos. O sea, que los asiduos lectores de blogs tienen que conformarse con gente como yo, sin pedigree, pero para quien el mouse es una prolongación del propio cuerpo.

segunda-feira, novembro 09, 2009

YOANI SÁNCHEZ, UMA AGENTE CASTRISTA?


A blogueira cubana Yoani Sánchez incomoda muita gente. Ela narra em seu blog Generación Y ter sido agredida fisicamente, na última sexta-feira, por capangas da ditadura cubana, que tentaram seqüestrá-la em plena luz do dia e lhe cobriram de pancada. Enquanto a espancavam e tentavam forçá-la a entrar num carro da polícia, os bate-paus dos irmãos Castro repetiam que ela já tinha ido "longe demais" e que iam acabar com sua "palhaçada".

É claro que você não vai ler em nenhum lugar, exceto talvez na VEJA, sobre mais essa violência da tirania comunista cubana, um regime que começou prometendo liberdade à população e que hoje lhe nega até papel higiênico. Nenhum coletivo de intelectuais da USP ou da Unicamp vai se mobilizar para fazer um manifesto de repúdio, o Itamaraty não vai divulgar nenhuma nota à imprensa, nenhum advogado dos direitos humanos ligado ao PT irá fazer um protesto, nem Chico Buarque vai compor uma música genial cheia de metáforas sobre a liberdade e a censura. É que Yoani Sánchez milita no lado errado: não é de esquerda, nem é puxa-saco do ditador certo. É uma, como é mesmo que eles dizem?, "contrarrevolucionária": contra ela os esbirros do totalitarismo castrista podem descer o malho, literalmente, que quase ninguém no Brasil vai mexer uma palha.

O curioso é que por estes dias li na internet alguns artigos, aliás de autores de direita, questionando a sinceridade de Yoani. Um deles, num longo texto, levanta uma série de dúvidas, inclusive a hipótese mesmo de ela ser uma agente a serviço do castrismo. Motivo: ela gozaria de algumas regalias impensáveis para o grosso da população da ilha, como morar numa casa luxuosa para os padrões cubanos, numa das áreas mais nobres de Havana, e ter "livre acesso à internet". Mais: ela se movimentaria com uma liberdade suspeita dentro da ilha-prisão, e, como mostram alguns vídeos por ela mesma postados em seu blog, costuma dar esbregues homéricos nos funcionários da tirania, o que seria no mínimo suspeito. O blog e sua notoriedade no exterior seriam apenas um disfarce, um engenhoso ardil da ditadura cubana, uma pérfida operação de desinformação e contra-inteligência destinada a mostrar ao mundo, por vias tortuosas, que afinal não é tão ruim assim viver na ilha dos Castro, pois uma dissidente pode movimentar-se com relativa liberdade, ter um blog e até distribuir carões aos agentes do regime.

Sou, por natureza, desconfiado - considero a credulidade, ao lado da vaidade e da hipocrisia, o pior dos defeitos humanos. Logo, fiquei com um pé atrás também em relação a essa idéia que está circulando na internet, que me cheira a pura teoria conspiratória. Sim, é bem possível que a castradura cubana utilize fakes e agentes duplos em suas operações de contra-informação, distribuindo, por exemplo, notícias falsas e infiltrando agentes seus em grupos de oposição - isso já aconteceu no passado, e nada impede que aconteça de novo. Aliás, de regimes totalitários como o cubano ou o norte-coreano, devemos esperar mesmo o pior. Mas, nesse caso, com a devida vênia a quem enxergou algo de estranho nas críticas de Yoani à tirania de Havana, sou forçado a dele discordar veementemente. A menos que seja apresentado algo mais do que está sendo dito, continuarei a acreditar que Yoani Sánchez é uma dissidente, não uma agente, do castrismo.

Em primeiro lugar, por mais "luxuosa" que pareça a casa em que vive Yoani, é preciso lembrar que ela mora com o marido, o veterano jornalista cubano e também dissidente Reinaldo Escobar, e que o apartamento em que vivem, se parece acima da média das residências cubanas, apresenta algumas de suas deficiências estruturais, que Yoani faz questão de descrever em detalhes. Lembro que um dos primeiros textos que li no blog de Yoani, há uns dois anos, era justamente sobre o elevador russo do edifício onde ela mora em Vedado, que insistia em não funcionar e a obrigava a subir vários lances de escada todos os dias. Sem falar em outras dificuldades enfrentadas, como luz (apagões freqüentes e diários), vestuário, comida etc. Convenhamos: é difícil dizer que isso caracteriza a atividade de uma espiã do regime.

Outra coisa importante: ao contrário do que está sendo dito por aí, Yoani Sánchez, a se confiar no que está em seu blog, não desfruta de "livre acesso à internet". Pelo contrário: uma das coisas que mais me chamou a atenção inicialmente foi a verdadeira odisséia, por ela narrada em minúcias, que ela tem de enfrentar para postar seus textos e manter seu blog, cujo portal em que está hospedado, DesdeCuba.com, está inacessível para quem tenta entrar nele a partir de Cuba. Em Cuba, a internet é um sonho distante para a maioria da população, estando restrita aos hotéis de luxo para turistas, que cobram preços astronômicos, para os padrões cubanos, para que se tenha acesso à rede. Para burlar esse obstáculo, Yoani escreve seus textos em casa ou usa outro meio - o último de seus posts, narrando a agressão covarde de que foi vítima, ela ditou por telefone -, e ela mesma ou amigos no estrangeiro com acesso à web os publicam no blog (não por acaso, ela se descreve como uma "blogueira cega"). O notebook em que ela escreve, pelo que sei, foi doado por uma ONG de defesa da liberdade de expressão, se não me engano espanhola (há ONGs úteis, embora pareça que não). Nada a ver com a imagem de uma blogueira privilegiada, conectada livremente e com banda larga generosamente concedida pelo regime para falar mal dele próprio.

Tudo isso, claro, não impede que eu esteja errado, e que um dia seja descoberto que Yoani Sánchez, o flagelo cibernético de Raúl e Fidel Castro, é, pasmem, uma assalariada da Direção Geral de Inteligência cubana. Mas, reitero, seria um dos casos mais estranhos e surpreendentes de pena de aluguel a serviço do totalitarismo já engendrados em toda a História.

Mesmo que Yoani morasse numa mansão com TV a cabo e piscina, e mesmo que ela pudesse se conectar à internet 24 horas, é preciso mais do que isso para provar que ela não está sendo sincera em suas críticas à falta de pão e de liberdade na ilha-presídio. Sobretudo diante do fato de que Yoani Sánchez, que no mês passado foi impedida pelo regime cubano de viajar ao Brasil para o lançamento de seu livro, é autora de frases como as seguintes:

[...] Quando se trata de Cuba, as estatísticas oficiais divulgadas pelas nossas embaixadas não podem ser levadas a sério. Sou defensora da diplomacia popular, aquela que se inteira da realidade diretamente com o cidadão. Não sou uma analista política. Não sou especialista em nenhum tema. Não sou diplomata. Simplesmente vivo e conheço a realidade do meu país. Aqueles que roubam o estado, que recebem dinheiro enviado por parentes do exterior ou fazem trabalhos ilegais vivem melhor que os demais. Uma pessoa que escreve em um blog pode ser condenada sob a acusação de fazer propaganda inimiga. Os outros países não podem repercutir o clichê de que Cuba é uma ilha de música e rum. É preciso olhar para o cidadão. Aqui, nós vivemos e morremos todos os dias.

[...]
Antes da revolução, nosso país já ostentava um dos menores índices de analfabetismo da América Latina. Uma das primeiras ações do governo autoritário de Fidel Castro foi ensinar o restante da população a ler e escrever. A questão principal hoje não é a taxa de alfabetização, e sim o que vamos ler depois que aprendemos. A censura controla totalmente o que passa diante de nossos olhos. E isso começa muito cedo. As cartilhas usadas na alfabetização só falam da guerrilha em Sierra Maestra ou do assalto ao quartel de Moncada pelos guerrilheiros barbudos. Meu filho tem 14 anos. Na sala de aula dele há seis fotos de Fidel Castro. Tudo o que se ensina nas escolas é o marxismo, o leninismo, essas coisas. Não se sabe o que acontece no resto do mundo. A primeira vez que vi imagens da queda do Muro de Berlim foi em 1999, dez anos depois de ela ter ocorrido. Foi num videocassete que um amigo trouxe clandestinamente. Para assistir às imagens do homem pisando na Lua, foi necessário esperar vinte anos.

[...]
[Sobre os dados a respeito da expectativa de vida em Cuba] É uma estatística oficial, sem comprovação, que não resistiria a um questionamento mínimo feito por uma imprensa livre. Pelo que vejo nas ruas, é difícil acreditar que os cubanos possam sobreviver tantos anos. Os idosos estão em estado deplorável. Há uma avalanche de dados que poderiam ilustrar o que digo, mas estes nunca são divulgados. Jamais fomos informados sobre o número de pessoas que fogem da ilha a cada ano. Ninguém sabe qual é o índice de abortos, talvez o mais alto da América Latina. Os divórcios são inúmeros, motivados pelas carências habitacionais. Como há cinquenta anos quase não se constroem casas, é normal que três gerações de cubanos dividam uma mesma residência, o que acaba com a privacidade de qualquer casal. Também nunca se falou do número de suicídios, um dos mais altos do mundo.

[...]
O país construiu hospitais e formou médicos de boa qualidade na época em que recebia petróleo e subsídios soviéticos. Com o fim da União Soviética, tudo isso acabou. O salário mensal de um cirurgião não passa de 60 reais. A profissão de médico é hoje a que menos pode garantir uma vida decente e cômoda. A carência nos hospitais é trágica. Quando um doente é internado, todos os seus familiares migram para o hospital. Precisam levar tudo: roupa de cama, ventilador, balde para dar banho no paciente e descarregar a privada, travesseiro, toalha, desinfetante para limpar o banheiro e inseticida para as baratas. Eles não devem esquecer também os remédios, a gaze, o algodão e, dependendo do caso, a agulha e o fio de sutura.

[...]
Cuba só é reverenciada por quem nunca morou aqui. Eu já conheci um montão de gente que idolatrava Fidel e, depois de um mês vivendo conosco, mudou de opinião. Quando as pessoas descobrem como é receber em moeda sem valor, enfrentar as filas de racionamento ou depender do precário transporte público, começam a pensar de modo mais realista. Não estou falando dos turistas que ficam uma semana, dormem em hotéis cinco-estrelas e andam em carros alugados. Convido quem vê Cuba como um exemplo a vir para cá, sentir na pele como vivemos.

(entrevista à revista VEJA, edição 2133, 7 de outubro de 2009)

Repito: a ditadura castrista é capaz de tudo, até mesmo de ter pessoas como Yoani Sánchez em sua folha de pagamento. Mas é preciso um pouco mais do que rumores sobre o tamanho da casa onde vive ou a suposta liberdade de movimentos que teria dentro da ilha para caracterizá-la como uma espiã a soldo do castrismo. Enquanto não me mostrarem algo mais sólido, seguirei acreditando em Yoani e lendo diariamente seu blog.

quinta-feira, outubro 29, 2009

O QUE FOI PROMETIDO - UM TEXTO DE YOANI SÁNCHEZ


Deixo vocês com a excelente companhia de Yoani Sánchez, do blog Generación Y. Yoani escreve com conhecimento de causa e com profunda melancolia sobre a realidade de Cuba, o "paraíso socialista" de Lula e do PT. Em particular, sobre uma das prinicipais desculpas para justificar o totalitarismo na ilha-prisão: o tal "bloqueio". Nem precisa traduzir.

Em tempo: no começo do mês, Yoani Sánchez foi impedida pela enésima vez, pela ditadura cubana, de viajar para fora do país - no caso, para o lançamento de seu livro no Brasil. O socialismo cubano é tão bom que não deixa as pessoas saírem da ilha para não entrarem em contato com a miséria capitalista...

Fiquem com o texto. Pensei em mandar para o Lula, mas não ia adiantar. Ele não lê em espanhol. Nem em qualquer outro idioma.


***
LO QUE NOS PROMETIERON

Llevaba yo un uniforme blanco y rojo, tenía diez años y el tema del“bloqueo” apenas era mencionado en los ideologizados libros que me entregaban en la escuela. Eran los tiempos del optimismo y creíamos que las vacas F1 darían suficiente leche para inundar todas las calles del país. El futuro tenía esos tintes dorados que no acababan de mostrarse en nuestra despintada realidad, pero éramos un tanto daltónicos como para notarlo. Creíamos haber encontrado la fórmula para estar entre los pueblos más prósperos del planeta, de manera que nuestros hijos habitarían un país con oportunidades para todos.

Desde la tribuna, un barbado líder levantaba su dedo desafiante hacia el Norte, pues contaba con la pértiga del subsidio del Kremlin para saltar cualquier obstáculo en la construcción del comunismo. “A pesar del bloqueo…” nos decía, con la misma convicción que años antes nos había hablado de diez millones de toneladas de azúcar, sembrados de café alrededor de las ciudades y una supuesta industrialización del país que nunca llegó. Tuvimos que recortar los sueños cuando la tubería de petróleo y rublos se secó abruptamente. Llegaron los años de comenzar a explicar el descalabro y de compararnos con las naciones más pobres de la zona, para sentirnos –sino felices- al menos conformes.

Al comenzar mi adolescencia, el tema de las limitaciones comerciales estaba en casi todas las vallas del país. En las marchas políticas ya no se gritaba “Cuba sí, yanquis no” sino una nueva consigna de difícil rima “Abajo el bloqueo”. Yo miraba el plato casi vacío y no podía concebir cómo habían logrado sitiarnos las malangas, el jugo de naranja, los plátanos y los limones. Me formé repudiando el bloqueo, no porque me tragara aquello del país que pudimos ser y nos lo habían impedido, sino porque todo lo que no funcionaba intentaban explicarlo señalando hacia él.

Si mis amigos se iban en masa del país, era por la política de hostigamiento de Estados Unidos; si en el hospital de maternidad las cucarachas caminaban por la pared la culpa partía de los norteamericanos; incluso si en una reunión expulsaban de la universidad a un colega crítico, nos explicaban que éste se había dejado influir ideológicamente por el enemigo. Hoy todo comienza y termina en el bloqueo. Nadie parece recordar aquellos tiempos en que nos prometieron el paraíso, en que nos dijeron que nada –ni siquiera las sanciones económicas- iba a impedir que dejáramos atrás el subdesarrollo.