sexta-feira, outubro 31, 2008

LULA EM HAVANA: A FAVOR DE OBAMA... E DA DITADURA CUBANA

Lula e sua paixão


Notícia saída do forno, do Portal Terra. Comento depois.
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Cuba: Lula torce por Obama e pede fim de embargo
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Elaine Lina

Direto de Havana
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O presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, disse nesta sexta-feira em Cuba que está torcendo pelo candidato democrata, Barack Obama, nas eleições americanas, que acontecem na próxima terça-feira. "É uma decisão soberana, mas existe uma ponta de alegria na mente silenciosa de cada um de nós se um negro for eleito nos Estados Unidos", disse.

Lula destacou ainda que, seja quem for o vitorioso na disputa americana, espera que acabe com o embargo a Cuba, que classificou como insensível e inexplicável. "Talvez a única explicação seja apenas a insensibilidade, a insensatez ou interesses políticos - ou apenas ressentimento de um país grande que perdeu para um país pequeno", disse.

O presidente disse estar consciente do fim do embargo econômico a Cuba e comentou os únicos três votos contrários à decisão da ONU: "Água mole em pedra dura tanto bate até que fura", afirmou. Segundo Lula, é comum a ONU ter decisões cumpridas quando é de interesse "dos grandes", mas disse que, de qualquer maneira, está agradecido à decisão política da organização.
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Lula afirmou que, embora não conheça muito bem McCain nem Obama, "da mesma forma que o Brasil elegeu um metalúrgico, a Bolívia elegeu um índio, a Venezuela elegeu Chávez e o Uruguai elegeu um bispo, seria bom um negro nos Estados Unidos".
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O presidente brasileiro fez a afirmação durante discurso de inauguração do escritório da Agência Brasileira de Promoção das Exportações (Apex), no país governado por Raúl Castro.

Comento
Sabem por que o Apedeuta está torcendo para que Obama vença as eleições nos EUA? Em parte respondi a isso em meu texto anterior. Para quem não leu, eu repito: ele sente uma "ponta de alegria" diante da possibilidade de Obama ser eleito porque Obama, como já escrevi antes, é o Lula americano. Porque ambos são almas gêmas (viu, Arnaldo Jabor?). Porque, assim como Lula em 2002 e em 2006, ninguém sabe ao certo o que pensa Obama, e ele já foi eleito e canonizado antes mesmo das eleições. Lula se identifica com essa trajetória.

A vitimização - social, racial, sexual etc. - de si próprio e de seus aliados já se transformou numa característica inseparável dos esquerdistas. De acordo com esse padrão politicamente correto, pertencer a alguma "minoria oprimida" - negro, índio, mulher, gay etc. - é meio caminho andado para chegar ao poder. É pura demagogia, claro, que serve apenas para encobrir o vazio de idéias - ou interesses inconfessáveis. Nosso Guia Genial sabe disso por experiência própria, tendo chegado ao governo não por qualquer mérito pessoal, mas pela manipulação de seu passado sofrido de coitadinho. É, de certo modo, uma nova ideologia, o pobrismo ou coitadismo. Natural, portanto, que ele pense que seria bom os EUA terem um "negro" na Casa Branca, embora confesse não conhecer bem McCain e Obama (incrível...).
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Para ilustrar o que diz, o Apedeuta compara a provável eleição de Obama à sua própria ("um metalúrgico") e a dos companheiros Morales ("um índio"), Chávez (que dispensa epítetos) e Lugo ("um bispo") no Paraguai - e não Uruguai, como ele disse em mais uma gafe geográfica. O que ele quer dizer com isso? Ninguém sabe. Talvez ele esteja estabelecendo um novo critério para aferir a honestidade pessoal e a capacidade administrativa dos políticos: em vez de honesto, digno e competente, "negro" (ainda que seja só pela metade), "índio" (ainda que seja de butique), "bispo" (desde que seja da escatologia da libertação, claro...) e, last but not least, "metalúrgico" (notem que sem o "ex"). Ou, como ele já se definiu ideologicamente, alguém assim, com idéias claras e objetivas, nem de esquerda nem de direita, politicamente torneiro mecânico... .
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Há mais, claro. Lula está torcendo por Obama não somente porque ele é negro (para os padrões americanos, entenda-se), mas porque, assim como os companheiros Chávez, Morales e Lugo, acredita que Obama irá trabalhar para acabar com o embargo (que o regime cubano chama de "bloqueio" e os cubanos comuns chamam, às escondidas, de "o pretexto") dos EUA a Cuba. Em algumas declarações, Obama já deu a entender que fará isso. Afinal, o Apedeuta considera o embargo/pretexto algo "insensível" e "inexplicável", fruto do (palavras suas) "ressentimento de um país grande que perdeu para um país pequeno". Simplesmente não passa pela cabeça do Molusco que o tal embargo possa ter algo a ver com o fato de o "país pequeno" - ou melhor, Fidel Castro - ter promovido o saque das propriedades do "país grande" de uma forma absolutamente despótica, ou ter transformado a ilha em sua fazenda e em sua prisão particular, mandando ao paredón ou ao exílio qualquer um que ousasse se opor a seu poder absoluto. Não chega a seu cérebro semiletrado que a manutenção de tal medida por parte do Congresso dos EUA se deva à pressão - justa, diga-se de passagem - dos cerca de 2 milhões de refugiados políticos cubanos e seus descendentes que vivem hoje nos EUA, aonde chegaram fugindo da ditadura de Fidel e Raúl Castro. Para ele, Lula, nada disso importa: o embargo é o resultado de simples ressentimento. De uma, digamos assim, dor-de-cotovelo do Tio Sam...

Por falar em embargo, vejam que curioso: Castro tomou o poder em Cuba e impôs sua ditadura pessoal apoiada pela defunta URSS após romper os laços econômicos que a ilha tinha com os EUA, os quais acusava de imperialistas. Na ocasião, o que dizia Fidel? Que os americanos exploravam as riquezas da ilha, que era pobre (não era: Cuba tinha o 3. melhor nível de vida da América Latina) porque era uma "colônia" dos EUA. Pois bem. O que ele deseja agora, assim como Lula? Que o próximo presidente dos EUA seja "sensato" e acabe com o embargo, ou seja, que os imperialistas ianques voltem a explorar a ilha... O Coma Andante deve estar ansioso para que os gringos voltem e invistam seus dólares na ilha, fazendo dela o prostíbulo que ele diz que era Cuba antes de 1959 (as jineteras da ilha não devem estar dando conta do recado, pelo visto...). Deve ter chegado à conclusão que o sistema socialista que impôs a Cuba é mesmo um fiasco completo, ou que o comércio que a ilha mantém com a maioria dos países - 185 dos quais votaram ontem pelo fim do embargo na Assembléia Geral da ONU - não é suficiente para tirar o país do buraco sem fundo em que ele o atirou por décadas de descalabro econômico e falta de liberdade.

A viagem de Lula a Cuba é a segunda que ele faz à ilha somente este ano. Isso demonstra o interesse do chefe dos petralhas pela ilha de Fidel e Raúl. A presente viagem tem por finalidade, entre outras coisas, estreitar os laços da PETROBRÁS com a estatal cubana de petróleo, ajudando na prospecção de petróleo na ilha. Na verdade, a ida a Cuba já se tornou uma espécie de ritual, uma peregrinação dos esquerdistas à ilha-prisão, na qual enxergam um modelo de "justiça social" e de "dignidade" (pois é...). Lula declarou que os países da região precisam se unir para evitar o isolamento de Cuba no continente. Os países devem cuidar de agir e ajudar Cuba, segundo Lula, pois do contrário há o grande risco de Cuba se tornar - horror! - uma democracia...

Tenho uma coisa em comum com o Apedeuta, assim como com outros admiradores da castradura cubana, como Frei Betto, Chico Buarque e Oscar Niemeyer. Assim como eles, me interesso bastante pelo que se passa em Cuba. Estudo a História da ilha e da Revolução Cubana há anos. Por isso só posso expressar meu pasmo diante de tamanha paixão pelo totalitarismo caribenho.

quinta-feira, outubro 30, 2008

SANTO BARACK INÁCIO OBAMA DA SILVA

"Se Obama não ganhar as eleições, os Estados Unidos vão decair como as torres do 11 de Setembro". A frase, histérica e apocalíptica, é de Arnaldo Jabor, no Jornal da Globo de ontem, dia 29. Eu já me preparava para dormir quando fui surpreendido por essa afirmação retumbante de Jabor, feita em seu costumeiro estilo teatral e histriônico. Sua fala veio logo após uma extensa reportagem sobre Barack Obama, e como os americanos - principalmente os negros - o amam e o veneram. Jabor entrou de cabeça na obamamania. "Obama é o jazz, é o novo, é a inteligência, é o humanismo, é a liberação sexual, é os anos 60", entoava o ex-cineasta de vanguarda, quase em êxtase, contrapondo o democrata ao "obscurantismo" dos republicanos. Uma demonstração de idolatria e de tietagem explícitas. Ave, Obama!

Faltam cinco dias para as eleições presidenciais nos EUA. E, desconfio cada vez mais, os americanos - e o mundo - estão prestes a cair num enorme conto-do-vigário. Não, não me refiro apenas à quantidade de auto-ilusão que costuma acompanhar grande parte do eleitorado, em qualquer eleição, em qualquer país, a que quase sempre se segue uma ressaca cívica monumental. É do jogo. Não importa quem seja vitorioso, a desilusão provavelmente será a mesma. Refiro-me, isso sim, à enormidade do mito criado em torno do personagem Barack Obama, que, ao contrário de McCain, permanece um enigma envolto num mistério. Em minha opinião, se ele, Obama, for eleito, os americanos irão colocar um completo desconhecido na Casa Branca. Vão dar um salto no escuro (sem trocadilho).

Nas últimas semanas, a campanha de John McCain passou a engrossar o discurso contra Obama, apostando no que os marqueteiros chamam de "propaganda negativa" (e os defensores de Obama preferem chamar de "campanha do medo"). Passaram a centrar fogo, principalmente, numa questão que causa arrepios ao cidadão americano médio, branco e protestante: afinal, Obama é muçulmano?
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A meu ver, essa é a menor das dúvidas a respeito do candidato democrata. Como bem disse o ex-secretário de Estado (republicano) Colin Powell, ao anunciar seu apoio a Obama, não há nada de fundamentalmente errado em ser muçulmano. De fato, não há, assim como não há nenhum problema em ser judeu, ou budista, ou ateu, ou crer em gnomos. Há problema, isso sim, em ser mentiroso. E Barack Hussein Obama tem sido tudo menos transparente em relação a um número não desprezível de fatos de sua biografia. A começar por seu verdadeiro local de nascimento. Afinal, ele nasceu no Havaí ou no Quênia? Por que ele se recusa a mostrar sua certidão de nascimento, conforme lhe foi solicitado judicialmente por um advogado, aliás democrata? Ele concorda ou não com Jeremiah Wright? Se não, por que esperou mais de vinte anos para romper com ele, e somente às vésperas das eleições mais importantes de sua vida? Qual é exatamente sua relação com o terrorista William Ayers? E com o vigarista sírio Tony Rezko? Ele deu ou não dinheiro ao genocida queniano Raila Odinga? Se Obama é tão moderado e inofensivo quanto diz e como gostam de pensar seus apoiadores, por que recebe o apoio tão entusiasmado do extremista islamita Louis Farrakhan, e até de Ahmadinejad? Até o momento, há mais perguntas do que respostas, mais dúvidas do que certezas.
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Não são questões sem importância, convenhamos. Vamos supor que Obama seja, realmente, muçulmano, como insinuam muitos que votarão em McCain. Como disse Colin Powell, que problema haveria? Seria mais uma prova de que os EUA são um país tolerante e pluralista - exatamente o oposto do que dizem os antiamericanos, muitos dos quais, aliás, apóiam Obama. O problema é que não se sabe ao certo quem é Obama, que se diz cristão, mas não o diz claramente, e cujo sobrenome do meio, "Hussein", só aumenta as dúvidas. Seria bom se ele viesse a público e esclarecesse essas questões de uma vez por todas. Até mesmo para eliminar certos preconceitos e rumores. Se ele dissesse, com todas as letras, que é um devoto de Maomé e que nasceu na África, poderia até perder as eleições, mas estaria dando uma prova de honestidade - aí sim, histórica. Isso é o mínimo que se espera de alguém que pretende assumir a presidência do maior país do planeta. Sem falar que seu silêncio apenas alimenta as especulações, muitas delas, vá lá, movidas por preconceito. Então, por que ele se cala?

A quantidade de perguntas sem resposta - e de perguntas que simplesmente não são feitas - sobre quem é e o que realmente quer Obama, além do endeusamento de sua figura, lembram inevitavelmente um filme - e um protagonista - que nós, brasileiros, já conhecemos. Em 2002, Luiz Inácio Lula da Silva elegeu-se presidente da República com base em um discurso "Lulinha Paz e Amor", reelegendo-se em 2006, embalado por um culto de sua personalidade jamais visto na história do Brasil. Na ocasião, o Foro de São Paulo, criado por Lula e Fidel Castro, já existia há mais de uma década, com o PT e as FARC convivendo harmoniosamente nas reuniões do foro. No entanto, o assunto foi completamente ignorado pelos meios de comunicação durante a campanha, inclusive pelos demais candidatos. Como ignoradas foram também as denúncias de corrupção nas cidades administradas pelo PT, que remontavam a 1996, e o caso Celso Daniel. Nos dois casos - Lula e Obama -, a chantagem mental era e é óbvia: quem ousasse tocar nesses assuntos seria imediatamente tachado de paranóico e reacionário, assim como quem ousar fazer as perguntas elencadas acima sobre Obama será automaticamente chamado de racista e nazista. Tivesse a imprensa brasileira feito seu dever de casa, cumprindo a função básica de informar, ao invés de cantar loas ao "presidente-operário", muito do que se viu depois teria sido evitado. Certamente, não teria havido Zé Dirceu, nem mensalão, nem aloprados, nem Palocci, nem a "república de Ribeirão Preto", só para citar os escândalos mais conhecidos. Mas aqui, como lá, pouca gente parece estar interessada na verdade.

Assim como Lula nas duas vezes em que foi eleito, Obama já está eleito de antemão, não pelo que ele é ou defende, mas pelo que se espera que ele seja - o anti-Bush, o anti-republicano por excelência. Nunca na história dos EUA, como nunca na história deztepaís, alguém foi brindado com um apoio tão explícito dos meios de imprensa, nunca se depositou tanta esperança em um candidato com slogans tão vagos. Obama tem baseado sua campanha numa única palavra: change ("mudança"). O.k., mas que mudança? Hitler e Stálin também falavam em mudança. Lula e Fidel Castro também.

Na semana passada, foi descoberto um plano neonazista para assassinar Obama. Dois debilóides queriam causar um banho de sangue, matando o candidato democrata e uma porção de negros. Como não poderia deixar de ser, muitos viram nisso mais uma prova da intolerância reinante nos EUA, a pátria do racismo, omitindo, propositalmente ou não, que o plano só foi descoberto e presos seus autores devido à pronta ação dos agentes secretos do governo Bush, esse facínora racista. Mas nada disso importa. O fato é que esse é mais um ponto a favor do mito Obama, que não raro é comparado a Martin Luther King, o líder negro assassinado em 1968. Eu prefiro compará-lo a Lula, ou a Santo Luiz Inácio, para quem já começaram a acender velas e a fazer promessas no interior do Nordeste.

O mais curioso é que todo esse culto messiânico de Obama, ouso dizer, irá desaparecer tão rápido quanto surgiu. Como todo ídolo fabricado pela mídia, Obama tem pés de barro. E se ele vencer as eleições? O que dirão os antiamericanos de plantão? Continuarão a gritar que os EUA são a pátria do racismo, do preconceito, do imperialismo? Certamente que sim. Os EUA são, para essa gente, a pátria do racismo, do preconceito e do imperialismo independentemente de quem esteja na Casa Branca. Passado algum tempo de namoro e embevecimento com "o primeiro presidente negro", cujos discursos já nascem "históricos", virá o cansaço e, com ele, a desilusão. Os terroristas islamitas continuarão a se explodir em atentados contra o "Satã imperialista ocidental"; demagogos como Hugo Chávez continuarão a ver conspirações da CIA para matá-lo; militantes de esquerda seguirão culpando o "neoliberalismo" e a "globalização" por todos os males do mundo etc. etc. No final, tudo será como dantes no quartel de Abrantes. A diferença é que todos esses inimigos do progresso e da civilização terão diante de si um governo bem mais vacilante e menos resoluto na hora de usar a força, muito mais interessado em relações públicas e em não ferir suscetibilidades politicamente corretas do que em agir efetivamente contra quem deseja a destruição da liberdade e da democracia. Uma fórmula para o suicídio.

Os EUA já têm seu santo eleito previamente para a presidência. O Brasil também tem o seu. Deu no que deu. Mundus vult decipi. O mundo quer ser enganado.

quarta-feira, outubro 29, 2008

"O País dos Petralhas" na Capital Federal

Não fui ontem ao lançamento, aqui em Brasília, de O País dos Petralhas, livro de Reinaldo Azevedo que já li e recomendo. Na hora marcada, houve um imprevisto. Vou ter que esperar a próxima oportunidade para conseguir um autógrafo do autor, e quem sabe até levar pra casa um chapeuzinho daqueles. O lançamento, pelo que eu soube, foi um sucesso, repetindo o que já ocorreu em outras cidades. Parece que o petralhismo não embotou as mentes de todos. Felizmente.
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Fica aqui apenas o registro de que gostaria de ter ido, e não pude ir. Pena. É sempre uma boa oportunidade conhecer de perto alguém que não sucumbiu ainda à maré unanimista engendrada por decênios de propaganda esquerdóide e politicamente correta. Apesar de algumas divergências pontuais - algo natural, pois, ao contrário dos esquerdistas, a "direita" não cultua muito os consensos -, a cada dia me descubro mais e mais "reinaldete" (e "olavete" e "mainardete"...).

Um balanço das eleições, por um historiador honesto

Segue artigo do historiador Marco Antonio Villa, publicado na seção Tendências/Debates da Folha de S. Paulo de ontem, dia 28. Para quem ainda acha que o Bolsa Família e outros programas assistencialistas do tipo são um instrumento de justiça social, e não de preservação de velhos e maus hábitos políticos - e da pobreza. A análise mais sincera que eu li até agora sobre as eleições deste ano e as perspectivas para 2010. Para ler e guardar.
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Acenderam a luz vermelha
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O Bolsa Família se tornou um instrumento de petrificação política, impedindo a alternância no poder municipal
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O GOVERNO federal tem uma idéia fixa: vencer a eleição presidencial de 2010. Todas as ações político-administrativas estarão voltadas para esse objetivo. E, se necessário, vencer a qualquer preço.
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Mas os resultados surpreendentes (para o governo) das eleições municipais acenderam a luz vermelha. Desapareceu do espectro político a possibilidade de o próximo presidente da República ser escolhido por um só eleitor, e 125 milhões de cidadãos simplesmente referendarem o desejo imperial.
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As análises que davam como certa uma onda vermelha fracassaram, assim como aquelas que imputavam ao presidente Lula uma espécie de varinha de condão para escolher os prefeitos. Sua popularidade era tal, diziam, que bastaria indicar o candidato a ser votado. Seu prestígio era tão grande, afirmavam, que o povo, obedientemente, seguiria a determinação do condutor.
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Se Lula e seus apoiadores acreditavam nessa falácia, não cabe crítica. O estranho foi a oposição ter imaginado que esse delírio era real.
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Como esperado, nos pequenos municípios, o índice de reeleição dos prefeitos foi o maior da história. O uso político do programa Bolsa Família -o cadastramento é controlado pelos prefeitos- fez com que a reeleição se transformasse em favas contadas: quando não foi o próprio prefeito, o candidato vencedor foi alguém do seu grupo político.
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Assim, o Bolsa Família se transformou em um instrumento de petrificação política, de permanência das oligarquias, impedindo a alternância no poder municipal. Pior: o governo Lula, que já conta com 11 milhões de famílias beneficiárias, ameaça incluir mais 4 milhões que já estão cadastradas no programa. Em outras palavras, o programa Bolsa Família será um dos instrumentos usados em 2010 para ganhar de qualquer jeito as eleições.
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O final do ano será marcado por um cenário político confuso. Surpreendido pelo resultado das eleições municipais, ao governo interessa colocar vários obstáculos no caminho até chegar a 2010. Vai lançar diversos balões de ensaio: transformar o Congresso em Assembléia Constituinte, voltar a insinuar o desejo de apresentar a proposta do terceiro mandato, falar em extinção da reeleição, defender um mandato presidencial de cinco anos -mas, no fundo, sabe que nada disso pode ser aprovado.
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A maioria congressual que o governo Lula teve nos seis anos de mandato vai diminuir paulatinamente. E minguará na relação inversa do tamanho da crise econômica internacional.
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O governo continuará tentando dividir a oposição, buscando aqueles mais propensos à composição política em troca de algumas migalhas. Deverá explorar vaidades e esperanças frustradas.
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Não faltarão adesistas. Estes, claro, vão se justificar argumentando que estão defendendo os interesses dos seus Estados. Vimos na campanha municipal que poucos candidatos tiveram a altivez de não se prostrarem frente ao presidente, como se o gestor municipal (ou estadual) tivesse de ter uma relação de subserviência em relação ao governo da União.
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Até o momento, a oposição não esteve à altura das necessidades do país: teve receio de se contrapor, de remar contra a corrente, de enfrentar o governo no terreno da política; como se o índice de popularidade de Lula -que não será eterno- fosse um escudo que impedisse a construção de um outro projeto de país.Mas os eleitores dos principais colégios eleitorais deram um recado: querem ter uma alternativa, não aceitam o voto de cabresto, não votarão em um poste na eleição de 2010, mesmo que indicado e apoiado ostensivamente por Lula.
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O bloco anti-histórico que está no poder -o sindicalismo amarelo associado ao atraso oligárquico e aos interesses do grande capital financeiro- não cederá o governo facilmente. Vai lutar com todas as armas.
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Teremos a eleição mais violenta da nossa história, com o uso da máquina administrativa e dos programas assistencialistas, com acusações e ameaças, dossiês à vontade, para todos os gostos, e, provavelmente, em um cenário econômico desfavorável.
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Tivemos uma pequena mostra agora. Se o presidente foi tão agressivo na eleição de Natal, imagine quando estiver em jogo o Palácio do Planalto: o figurino "Lulinha paz e amor" será jogado no lixo.
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O exército de aloprados prepara-se para o combate. Eles sabem que não podem perder o acesso privilegiado ao poder. Não mais sobrevivem distante dele. E farão de tudo para continuar mais quatro anos (oito seria melhor) usando e abusando das benesses produzidas em Brasília.

terça-feira, outubro 28, 2008

JOSÉ SARAMAGO, OU ENSAIO SOBRE A CEGUEIRA... DO ESCRITOR!


José Saramago é o maior nome atual das Letras Portuguesas. É o único falante da língua de Camões a ostentar um Prêmio Nobel de Literatura em sua sala de estar. Ele é uma dessas pessoas veneráveis, que se tornam ainda mais veneráveis diante da ignorância generalizada da maioria da população, mais ou menos como é, entre nós, um Oscar Niemeyer ou um Chico Buarque: um "sábio", enfim. Por isso, tudo que ele diz, mesmo que seja sobre a melhor maneira de fritar um ovo, ganha automaticamente, para muita gente, status de Dogma Revelado. Para essas pessoas, Saramago é um oráculo: sua palavra tem quase a força de Lei.

Ontem Saramago deu uma entrevista coletiva - claro sinal de que o personagem em questão é um VIP, pois só VIPs, como Saramago e Paris Hilton, dão entrevistas coletivas - sobre o lançamento do filme Ensaio sobre a Cegueira, do diretor brasileiro Fernando Meirelles, em Lisboa. Embora a entrevista fosse sobre o filme e o livro homônimo de Saramago que o inspirou, em certo momento o guru português deixou de lado a Literatura e enveredou por seu passatempo preferido: fustigar o capitalismo. Ao comentar a atual crise financeira que abala as bolsas de valores no mundo inteiro, Saramago, o arauto do anticapitalismo literário, saiu-se com a seguinte pérola: "Karl Marx nunca teve tanta razão como agora". Sobre o desbloqueio do dinheiro que está sendo efetuado agora para salvar o sistema financeiro, afirmou o ganhador do Nobel de Literatura de 1998: "Onde estava todo esse dinheiro? Estava muito bem guardado. Logo apareceu, de repente, para salvar o quê? Vidas? Não, os bancos". Acrescentou ainda, não se sabe se com tristeza ou com júbilo, que "as piores conseqüências ainda não se manifestaram".

Ah Saramago, Saramago... Desculpem a frase que já virou um hit, mas não consigo evitar: por que não te calas? Sempre que o escritor português fala em outra coisa que não Literatura (leia-se: Política ou Economia), quem fala não é o escritor, mas o ideólogo, o devoto de teses obsoletas e descartadas pela História. Nesse particular, diga-se, ele não está sozinho: para ficar apenas nos latino-americanos que também já levaram o Nobel, Pablo Neruda, por exemplo, era um stalinista de babar na gravata (como diria Nelson Rodrigues), e Gabriel García Márquez é um tiete de Fidel Castro (assim como Saramago, aliás um comunista empedernido que chegou a anunciar seu rompimento com a castradura cubana em 2003, depois que Fidel mandou fuzilar três pobres-coitados e prender 78 dissidentes, mas voltou atrás pouco depois, acometido de delirium totalitarium). Agora, com a crise das bolsas, o sábio lusitano aproveita para prestar sua reverência ao velho Marx.

É verdade que Marx previu, sim, as crises periódicas do capitalismo - que o próprio capitalismo, mediante a intervenção pontual (e não-permanente) no mercado trata de sanar -, mas daí a dizer que ele "estava certo", vai uma certa distância. A não ser que se considere o remédio prescrito por Marx para tais situações, assim como para todos os problemas da humanidade - a estatização completa dos meios de produção, a ditadura do proletariado - a saída mais racional para crises como a que estamos vivenciando. A História, essa mestra implácável, já tratou de mostrar que, nesse caso, o "remédio" é muito pior do que a doença. Mas para Saramago isso não importa. Afinal, nas ditaduras comunistas do Leste Europeu, como sabemos, não havia crises do mercado. Pelo simples motivo de que não havia mercado, ora! Alguém aí está disposto a seguir o conselho de Marx - e de Saramago - e cortar a cabeça para acabar com a enxaqueca?

Saramago é comunista. Talvez o último que sobrou, ao lado de Oscar Niemeyer. Isso significa que ele é um humanista, certo? Que é alguém que se preocupa com "vidas", como ele diz, e não com bancos (claro que não as vidas perdidas das cem milhões de pessoas que sentiram na pele - literalmente - todo o "humanismo" marxista na ex-URSS e na China de Mao, mas isso, como já disse acima, não importa). Enfim, um exemplar superior da espécie humana, como dizia aquele argentino barbudo que gostava de fuzilar pessoas e que virou estampa de camiseta... Daí essa sua indignação com o desbloqueio do dinheiro para salvar não "vidas", mas "bancos". Acho estranha essa fixação dos esquerdistas em separar a vida humana, o bem mais precioso, do que seria o pérfido sistema financeiro, dominado por tubarões, só interessados em dinheiro. Principalmente porque isso parece ir de encontro ao que o próprio Marx preconizava. Afinal, não foi ele quem defendeu, durante toda sua vida, que eram as condições materiais de existência que possibilitavam as condições espirituais, a própria vida humana, enfim? E a tal "ajuda aos bancos", tão condenada por Saramago, não visa justamente a impedir o colapso do sistema, que levaria consigo à ruína não dos gatos gordos do sistema financeiro - os "bancos", enfim -, mas de milhões de correntistas e pessoas comuns, que se veriam, caso os bancos quebrem, na rua da amargura? Em suma, não seriam as vidas dessas pessoas comuns, muitas sem dinheiro no banco, que estariam sendo resgatadas também? Que coisa cruel, o capitalismo, não é mesmo?

À certa altura da entrevista coletiva, Saramago foi indagado sobre o vínculo entre o tema de seu romance e a crise financeira. Ele respondeu: "sempre estamos mais ou menos cegos, sobretudo, para o fundamental". Ele sabe disso por experiência própria.

sexta-feira, outubro 24, 2008

Unidos venceremos - uma imagem do passado (e do futuro, quem sabe...)


A foto acima foi tirada em 2004, durante a campanha à prefeitura de São Paulo. Na ocasião, Dona Marta "Relaxa e Goza" concorria contra José Serra, do PSDB. É mais uma prova da extrema coerência e da superioridade moral do PT, o partido mais ético e mais democrático da história do Universo.

Comentário de Reinaldo Azevedo, em seu blog, há alguns dias, sobre o que Marta diria hoje desse cartaz: "Que que tem, gente? O Maluf é casado e tem filhos..."

P.S.: Se a campanha em São Paulo está sendo assim, imagine o que virá em 2010. Preparem o engov!

quarta-feira, outubro 22, 2008

A IMPRENSA E O MAU HUMOR ESQUERDISTA


- Fala, Dona Marta!
- Fala, Genoíno!

A candidata petista à prefeitura de São Paulo, Dona Marta Suplicy, não fala com os humoristas do CQC - Custe o Que Custar -, programa que, comandado por Marcelo Tas, vai ao ar todas as noites de segunda-feira na rede Band de televisão. O deputado federal e ex-presidente nacional do PT, José Genoíno, também não. Sempre que avistam um dos rapazes de terno escuro e microfone, viram o rosto e tratam de fugir como o diabo da cruz, ou fecham a cara e saem pisando fundo, espumando de raiva. Na semana passada, um dos repórteres do programa, Danilo Gentili, foi quase agredido pelos cabos eleitorais de Marta durante passeata da candidata do PT na periferia de São Paulo. Em meio a cotoveladas e pisões no pé, os pit-bulls de Marta tentaram arrancar à força o microfone das mãos de Danilo, fazendo um cordão para impedi-lo de entrevistar ou sequer de chegar perto de Marta. Do alto de suas várias camadas de Botox e de toneladas de empáfia, esta o ignorou solenemente, olimpicamente, como fizera das outras vezes, esquivando-se de qualquer pergunta embaraçosa.

O humorismo do CQC ou do Pânico na TV pode ser meio tosco, até infantil - confesso que já ri mais lendo alguns artigos "sérios" na Folha de S. Paulo -; em alguns casos, principalmente no Pânico, beira mesmo a grosseria. Mas vale pela ousadia com que demole a pose de eternos bons-moços e a pretensa seriedade de celebridades da política e do show-business. Estas, diante dos microfones e das perguntas atrevidas, sem a ajuda dos marqueteiros e assessores, ficam desorientadas, despidas de toda a persona que criaram para si mesmas, sendo reduzidas à condição de meros mortais que de fato são. Tais gracinhas já custaram ao pessoal do CQC uns bons tapas na orelha e até uma expulsão do Congresso, no qual só puderam pôr os pés novamente depois de uma campanha de assinaturas na internet. Em outras palavras, as perguntas do CQC são uma excelente maneira de desmascarar os esnobes e pretensiosos, fazendo-os descer do salto e perder a pose. Além de ser algo engraçado de se ver.

Alguns dias atrás, a turma do CQC esteve entrevistando o Reinaldo Azevedo, durante o lançamento de seu livro O País dos Petralhas. Na ocasião, o lançamento foi chamado de uma "convenção da direita". Reinaldo saiu-se bem das perguntas, e não demonstrou nenhum constragimento em respondê-las. Pelo contrário: com a verve que só os que não têm nenhum rabo preso com quem está no poder possuem, até escreveu um texto em seu blog elogiando o programa. No mesmo dia, foi ao ar uma entrevista com vários participantes de uma cerimônia em homenagem aos 40 anos do XXX Congresso da UNE - aquele em que todos os estudantes foram presos -, entre os quais Zé Dirceu e Tarso Genro. Diferentemente do que houve na tal "convenção da direita", os esquerdistas entrevistados se mostraram visivelmente desconfortáveis com a presença dos homens de preto - "cuidado com esse cara" ou "não responde, não" foram algumas das frases repetidas entre si pelos presentes ao convescote, como se estivessem ainda nos tempos de clandestinidade, quando fugiam não da imprensa, mas do DOPS. A conclusão do CQC foi que a "direita" (seja lá o que isso for) é muito mais bem-humorada do que a esquerda.

A conclusão é óbvia, e nem precisaria acuar um José Genoíno com perguntas sobre cuecas recheadas de dólares e coisas do tipo para constatar o que segue: a esquerda, sobretudo os petistas, tem uma séria dificuldade em lidar com a imprensa, principalmente com a imprensa que não é de esquerda nem petista. Para eles, jornalismo, só se for a favor. Humor, idem. Dar entrevistas, só se for para reforçar e embelezar a própria biografia, muitas vezes construída às custas dos fatos. Se for para tentar arrancar risos da platéia, nada feito. Nada de piadas: afinal, trata-se de gente muito séria, empertigada, que tem uma "história", uma "missão", e, como tal, exige respeito e reverência.

Esse relacionamento dos políticos de esquerda com os programas de humor - a forma mais subversiva de jornalismo - revela mais sobre os petralhas do que muitos livros ou tratados. A intolerância dos esquerdistas com quem não reza segundo o figurino por eles traçado é o produto de décadas de adulação por parte da imprensa dita "séria", que elevou figuras como Genoíno e Lula à condição de seres quase divinos, abstendo-se de perguntar o que estes não querem responder. Basta um grupo de jovens repórteres atrevidos quebrar essa rotina e perguntar aos mesmos o que o sujeito em casa quer saber, de maneira provocadora e irreverente, e os nossos salvadores da pátria saem literalmente do sério. Esse traço autoritário fica impossível de se disfarçar, sendo revelado com todas as suas carrancas. Com tais reações hilárias, os esquerdistas apenas comprovam o velho ditado: quem não suporta o escracho e perde a capacidade de rir de si próprio, quem não consegue conviver com o deboche e se leva demais a sério, além de virar um chato, não merece ser levado a sério.
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Aliás, é bom que se diga: durante muito tempo, o humor foi a arma da esquerda para espinafrar quem pensava diferente dela. Desde a época de Aparício Torelly, o célebre Barão de Itararé, que militava no antigo Partido Comunista. Quem não se lembra do Henfil, o irmão cartunista do Betinho, com suas charges n'O Pasquim? O que Torelly foi para o PCB, Henfil foi para o PT nos anos 80, chegando ao ponto de patrulhar ideologicamente os demais artistas e escritores. Agora que a esquerda e o PT deixaram de ser pedra para virar vidraça, o humor deixou de lhes ser útil. Mais uma vez se comprova a máxima de Abraham Lincoln: "qualquer um pode suportar a adversidade; mas se você quer conhecer o caráter de alguém, dê-lhe poder".
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Assim como - segundo disse certa vez Millôr Fernandes - a imprensa que se preza precisa ser do contra, não existe humor a favor. Principalmente a favor dos que estão no governo. Nesse ponto, estamos engatinhando ainda. Os brasileiros gostam de pensar que são um povo malandro e irreverente, sempre pronto a zombar dos governantes. Mas a maioria dos programas humorísticos no Brasil evita falar mal dos políticos. Quando o fazem, é quase sempre de maneira caricatural, sem dar nomes aos bois. Quando falam de Lula, por exemplo, é meio que pisando em ovos, de forma oblíqua. No máximo, brincam com seu português trôpego, mas sempre de maneira a não ferir alguma suscetibilidade politicamente correta. Nunca vi um humorista, de televisão pelo menos, perguntar a Lula por que ele não estudou, ou por que ele insiste em dizer que Fidel Castro é um democrata, certamente a maior piada de todas. Mesmo quando parecem criticar, estão na verdade adotando uma postura bastante respeitosa, quase reverencial, diante do Grande Molusco. O que mostra que temos muito ainda a avançar, inclusive no terreno do humor.

O ideal de jornalismo, e de humor, para os lulistas, não é o CQC. É a TV Brasil, a LulaNews. Isso, por si só, já é uma piada. Ou seja: os lulistas querem, sim, que haja imprensa - mas uma imprensa institucionalizada, esterilizada, domada, toda aplauso e elogios, bem-comportada, reverente, sem nenhum humor, nenhum senso crítico. É somente para esse tipo de imprensa que Dona Marta e Genoíno abrem um sorriso.

terça-feira, outubro 21, 2008

Pensamento do dia


"Dizem que ofendo as pessoas. É um erro. Trato as pessoas como adultas. Critico-as. É tão incomum isso na nossa imprensa que as pessoas acham que é ofensa. Crítica não é raiva. É crítica. Às vezes é estúpida. O leitor que julgue. Acho que quem ofende os outros é o jornalismo em cima do muro, que não quer contestar coisa alguma. Meu tom às vezes é sarcástico. Pode ser desagradável. Mas é, insisto, uma forma de respeito, ou, até, se quiserem, a irritação do amante rejeitado." - Paulo Francis (1930-1997)

Com uma especial dedicatória a O Globo, à Época e à Folha de S. Paulo.

sexta-feira, outubro 17, 2008

O TERRORISMO GREVISTA ATACA EM SÃO PAULO


Quem assistiu às cenas da arruaça promovida ontem, quinta-feira, por grevistas armados contra a polícia militar em frente ao prédio do governo estadual em São Paulo, em que mais de vinte pessoas - vários policiais militares - foram feridas, presenciou um momento de terrorismo explícito patrocinado por baderneiros profissionais e uma jogada desesperada com objetivos claramente eleitoreiros.

Os policiais civis do estado de São Paulo estão em greve por melhores salários. Suas reivindicações são justas? Pode ser que sim. Acredito até que sejam. Mas greve de gente armada? Tiros em frente ao palácio do governo? Policiais militares feridos à bala - bala de verdade, e não de borracha? Isso não é greve. É terrorismo. Ponto.

Se fosse somente isso, já seria grave o suficiente. Mas há coisa pior por trás. A "manifestação" - ou seja, a baderna - não teve nada de espontânea. Foi planejada, provocada com antecedência. Quem esteve por trás dela foi o PT, a Força Sindical e a CUT, como comprova, para quem quiser ver, o discurso aos manifestantes, feito pouco antes da confusão, pelo presidente da Força - também chamada, em outros tempos, de "Farsa Sindical" -, Paulo Pereira da Silva, o "Paulinho da Força". Ele mesmo, o do escândalo do desvio de dinheiro do BNDES, que corre o risco de ter o mandato de deputado federal cassado por causa disso (esperança talvez vã, mas sempre deve haver uma esperança). Num discurso inflamado, Paulinho incitou os grevistas a atacarem o palácio do governo, colocando toda a estrutura da Força Sindical a serviço do "movimento". Paulinho é aliado de Dona Marta "Relaxa e Goza" Suplicy na campanha para a prefeitura de São Paulo. O atual governador do estado é José Serra, do PSDB, rival de Paulinho e de Marta. Esta resolveu apelar para todos os meios, inclusive para a exploração calhorda da vida pessoal do candidato adversário, Gilberto Kassab. Está clara a manipulação eleitoreira de um movimento terrorista contra um governo legitimamente constituído.

Não se trata de um fato isolado. Os petistas e seus aliados se especializaram, nas últimas três décadas, em promover paralisações no serviço público - onde é mais difícil demitir -, com objetivos claramente demagógicos e eleitoreiros. Quem já estudou em universidade pública ou dependeu algum dia de atendimento médico na rede estatal de saúde sabe do que estou falando. Na totalidade dos casos, o prejudicado não foi o governo, mas a população, sobretudo os mais pobres, em nome dos quais a esquerda sempre disse lutar. E quem ousasse criticar isso era um reacionário e um traidor. Agora, ao incitar uma rebelião armada da polícia civil no maior estado do País, a esquerda cruzou uma linha perigosa. A linha que separa movimentos legítimos da incitação ao terrorismo.

Imaginem se a situação fosse inversa. Se, em vez de ser o governo Serra, fosse algum governador petista que estivesse enfrentando esse tipo de movimento criminoso. Os petistas gritariam, com razão, que estariam sendo alvos da ação de vândalos e arruaceiros, interessados apenas em provocar o caos e em desestabilizar a democracia. Pois bem. É exatamente isso que aconteceu ontem no centro de São Paulo. Mas qual foi a reação do dignissíssimo senhor ministro da Justiça, o trotskista Tarso Genro, encarregado de zelar pela aplicação da Lei e pela manutenção da democracia no País? Ele condenou veementemente, claro, a... "violência policial" da PM! Não disse uma palavra sobre os terroristas baderneiros! Tarso Genro, que acha normal seqüestrar e devolver na calada da noite refugiados políticos da ditadura comunista de Fidel Castro, não vê nada de mais em policiais civis em greve atirarem contra a polícia militar dentro de uma zona de segurança. O problema, para ele, está em reprimir esse tipo de coisa. Ou seja: em cumprir a Lei.

O que mais falta para perceber que essa gente no poder em Brasília não tem nenhum compromisso com o Estado de Direito e com a Democracia, e que apenas a usam e interpretam de acordo com suas próprias conveniências? O que falta para perceber que terroristas, para eles, são não os arruaceiros que dão tiros em passeatas usando armamento e equipamento da própria corporação, ou os militantes do movimento "Sem" alguma coisa, adestrados em táticas de guerrilha, mas sim os agentes da Lei - e da Democracia? O que falta para perceber isso? Um cadáver?

O Brasil já tinha corrupção e demagogia de sobra. Mas não tinha ainda terrorismo estimulado e patrocinado por políticos oportunistas para destruir a Democracia. Agora tem.

quinta-feira, outubro 16, 2008

A ESTRANHA MORAL SEXUAL DOS PETISTAS


Não tem jeito. Por mais que se tente debater Política (com "P' maiúsculo), é sempre a política (com "p" minúsculo) o que acaba predominando no Brasil. Bastou a canalhice da campanha de Marta Suplicy contra o candidato adversário à prefeitura de São Paulo, Gilberto Kassab, ser desmascarada e a turbamalta esquerdista saiu em defesa da petista, lembrando que o preconceito e a discriminação também existem "do outro lado" - a "direita", supõe-se -, como se isso fosse um álibi para justificar a baixaria.

Ainda assim, insisto no assunto, pois, como já escrevi, questões que à primeira vista seriam irrelevantes podem trazer ensinamentos preciosos. No caso, a hipocrisia e o duplo padrão moral do PT e de seus aliados são evidentes. O chato é quando não querem enxergar isso, apontando para pecados semelhantes "do outro lado", mesmo quando estes sejam inexistentes. Até pessoas inteligentes - ainda há alguns deles na esquerda, embora em ínfima minoria - caem de vez em quando nessa armadilha mental, tamanho é o esterótipo criado por décadas de doutrinação ideológica segundo a qual tudo que vem da esquerda é bom, e tudo que vem do outro lado, da "direita", é ruim. Li há pouco no site do Pablo capistrano (http://www.pablocapistrano.com.br/) um texto em que ele aponta um laivo de preconceito moralista na campanha da candidata vitoriosa já no primeiro turno à prefeitura de Natal/RN, Micarla de Souza, contra a candidata derrotada, Fátima Bezerra, do PT. No texto, Pablo mencionou uma frase em particular da campanha de Micarla - "sou mãe, sou mulher" - que lhe pareceu uma forma subliminar de preconceito contra Fátima, uma demonstração oblíqua de discriminação por parte da TFP (Tradicional Família Potiguar).

Como escrevi no site, não acompanhei a campanha municipal deste ano em Natal, nem vou dizer que Pablo pertence à curriola dos petralhas que já transformaram o emporcalhamento de reputações adversárias e a mistificação das próprias numa verdadeira religião (esquerdistas são sempre vítimas, jamais culpados...). Sei que ele não é petista. Mas não pude deixar de perceber, em seu texto, um forte viés favorável ao petismo, ou que pelo menos pode ser por ele utilizado, e uma interpretação de uma frase de campanha que me pareceu, para dizer o mínimo, forçada. Para que fique claro o que estou dizendo, vou transcrever aqui o que me escreveu uma pessoa, que se apresentou como "Delia", na sessão de comentários do blog:

"A questão que me trouxe aqui, foi especificamente em relação à seu comentário, sobre a postura da propaganda de Micarla contra a deputada Fátima Bezerra. Como vc mesmo falou , não acompanhou a campanha, e deve desconhecer a Deputada Fátima para tal perspectiva. Fátima é homossexual, lésbica assumida, uma das líderes da bancada da câmara pelos direitos GLBTT. Nunca casou-se com homem, nem tem filhos. Então o problema do discurso de Micarla, não se deu porque Micarla é de direita e Fátima de esquerda, até porque a oposição nessa campanha era de Micarla , pois Fátima detinha o apoio do atual prefeito, da governadora e do presidente da república. O real absurdo foi exatamente pela tentativa de desvalorização da capacidade e do carater de Fátima mediante o fato dela ser lésbica. Num discurso moralista e preconceituoso em que sem muitas subliminaridade Micarla palestrava: " Sou mãe, sou mulher" (e só uma mãe pode entender o que é melhor para seus filhos...)o "sou mãe, sou mulher" era um claro : Sou hétero, sou hétero. bem, espero ter esclarecido um pouco essa questão. Um abraço"

O parágrafo acima tem uma série de problemas. Ao contrário do que sugere quem o escreveu, conheço a candidata Fátima Bezerra, desde antes de ela se tornar deputada federal pelo PT. Também conheço Micarla. Entre as duas, não sei se votaria em Micarla, embora com certeza eu não votaria em alguém do PT. Mas isso não é o mais importante. O que vale, aqui, é saber se a frase utilizada pela campanha de Micarla ("sou mãe, sou mulher") teve mesmo essa conotação discriminatória que estão dizendo que tem, e que tenha, de algum modo, influído no resultado das urnas. A meu ver, nem com muita sutileza poderia ser dito que se trata de uma peça preconceituosa. Ao contrário da campanha suja de Marta em São Paulo, que entrará para a história como um dos golpes mais baixos e nojentos dos últimos tempos, digna de Collor em 1989, a de Micarla pode ser vista, quando muito, como uma típica peça publicitária eleitoreira, ao nível do que se costuma ver nesse período - ou seja: entre o insignificante e o bizarro, passando pelo medíocre. Não como uma menção, mesmo subliminar, à opção sexual da adversária. Aliás, a própria Fátima, pelo que eu vi até agora, não entendeu por esse lado, o que parece ter causado até uma certa irritação entre seus simpatizantes (ela deveria ter "denunciado" essa manifestação de "preconceito", segundo eles). A opinião de que a frase de Micarla traria consigo uma mensagem discriminatória e preconceituosa, ao contrário, é que traz uma clara conotação ideológica. Vou dar um exemplo.

Algum tempo atrás, no Rio de Janeiro, uma candidata petista - que se tornaria ministra do governo Lula e seria defenestrada depois de ser descoberto que fazia turismo às custas do dinheiro público - baseou sua campanha no seguinte lema: "mulher, negra e favelada". Pois bem. Ninguém a acusou de sexista (contra os homens), racista (contra os brancos) ou demagógica (contra os ricos) por causa disso. E isso apesar do evidente apelo vitimista e preconceituoso - sim, preconceituoso! ou vai dizer que ser "mulher, negra e favelada" agora é um critério científico para aferir o caráter e a honra pessoal de alguém? - desse mote de campanha. É que a candidata em questão, Benedita da Silva, era do PT, mesmo partido de Fátima Bezerra. Micarla, do Partido Verde (PV), foi apoiada pela "direita" do estado. Fátima, por sua vez, teve um amplo leque de alianças a seu favor, que incluía o atual prefeito, a governadora e o próprio Lula. Este, em discurso na cidade, falou cobras e lagartos de Micarla, e chegou até a questionar a capacidade de uma jornalista - Micarla é jornalista - de governar uma cidade (como se torneiro mecânico fosse uma profissão mais adequada para quem quiser governar o Brasil...). Pois bem. Não vi ninguém na esquerda criticar a afirmação de Lula como preconceituosa contra jornalistas. À exceção de Micarla, nem os próprios jornalistas o fizeram.

Estranha moral, essa das esquerdas. Inclusive no campo sexual, onde se acham capazes de dar lição até ao Papa. Quando acham que estão sendo vítimas de "preconceito" pelo que quer que seja - se, por exemplo, um candidato adversário se diz pai ou mãe, como se ser solteiro e sem filhos fosse algum defeito -, ficam indignadíssimos e sensibilíssimos, exagerando e distorcendo até não mais poderem a suposta ofensa para que pareça mais grave do que é. Quando, porém, são eles os preconceituosos, usando inclusive a sexualidade do oponente para desmoralizá-lo perante seus eleitores, então não estão fazendo "nada de mais", e ainda aproveitam para atacar a "mídia" por uma suposta "manipulação" e "distorsão" da mensagem veiculada. Aqui, comprova-se mais uma vez o velho ditado de Lênin: "acuse-os do que você é; faça exatamente aquilo que você condena".

Micarla disse que é mãe e mulher. É algo que não pode ser posto em dúvida, e diz respeito a mais do que uma opção sexual - a menos que ser homem ou mulher tenha deixado de ser uma determinação biológica e se transformado numa questão de escolha pessoal na hora de nascer. Pode-se questionar se ser mãe e mulher é ou não sinal de caráter ou honestidade, ou se é ou não suficiente para determinar a qualidade de bom administrador. Mas, a menos que venha acompanhado de uma mensagem explícita contra os que não partilham dessa condição, tentar enxergar nisso algum sinal de "discriminação" ou "homofobia" é pura forçação de barra. Até porque, pode-se perfeitamente ser pai (ou mãe) e ser homossexual, ou ser hetero e não ter filhos. É isso que ocorre sempre que se mistura vida privada e eleições, ou sempre que se tenta usar fatores como opção sexual - homo, hetero, bi, pan ou o que seja - como bandeira política: um festival de hipocrisia e indignações afetadas. Se a suposta vítima do preconceito é alguém de esquerda, então, o escarcéu é total. É como se, porque uma candidata tem trejeitos pouco femininos, a candidata adversária estivesse proibida, pelos padrões politicamente corretos, de se dizer mãe e mulher. Alguém falou em preconceito? Alguém falou em ditadura mental?

Enxergar qualquer traço de homofobia - ou, como escreveu alguém, "valoração ideológica da representação familiar" segundo um "arquétipo de moralismo e discriminação" - na afirmação "sou mãe, sou mulher", como se fosse uma forma subreptícia de dizer "sou hétero" diante da opção homossexual, clara ou oblíqua, do(a) candidato(a) adversário(a), é algo tão absurdo quanto identificar na frase um quê de aversão aos homens solteiros e sem prole. Segundo o mesmo raciocínio que enxerga uma mensagem subliminar preconceituosa e homofóbica nessa afirmação, todos os que não se enquadram no padrão "mulher" e "mãe" - os indivíduos do sexo masculino sem filhos - deveriam se sentir injuriados e ofendidos com a peça de marketing eleitoral e não votar em Micarla. Pode-se dizer que a frase da campanha de Micarla é infeliz. Pode-se dizer que seja uma besteira demagógica. Idiota, até. Mas, homofóbica? Preconceituosa? Ora, façam-me o favor!

Tudo isso seria uma imensa besteira se não servisse para revelar o nível de farisaísmo hipócrita dos esquerdistas. Desde quando ser mãe e mulher - ou ser homem e pai, ou hetero e solteiro, ou gay e casado e com filhos - é defeito? E desde quando reivindicar para si esses epítetos é um sinal de preconceito contra quem quer que seja? Afinal, existe um "movimento" gay, que tem inclusive uma sigla - GLBTT - e uma parada do "orgulho gay". Quem diz que isso é uma manifestação de preconceito contra quem NÃO É gay (embora o seja em muitos casos)? Inventaram um "dia do orgulho gay". Agora vêem discriminação até em alguém se dizer mãe (ou pai). Daqui a pouco o sujeito, para não passar por "homofóbico", terá que se declarar - e provar ser! - adepto entusiasta de práticas sexuais pouco ortodoxas...

Ao contrário da campanha de Micarla, a de Marta Suplicy é claríssima em sua alusão à sexualidade do candidato concorrente ("ele é casado? tem filhos?"). É uma demonstração homofóbica como a que os petistas se acostumaram a denunciar em seus adversários, com todo estardalhaço, dizendo-se os únicos legítimos defensores da liberdade sexual. A diferença é que, tendo sido feita contra alguém "de direita", a insinuação sobre a vida privada jamais será considerada grave o suficiente ("o que tem de mais, gente? o eleitor tem o direito de saber sobre a vida pessoal do candidato"). Já qualquer suposta referência feita à vida pessoal deles próprios, os esquerdistas, será recebida, por mínima ou inexistente que seja, como a obra pérfida de moralistas e fascistóides, um escândalo de proporções bíblicas. Dona Marta, que agora chafurda na lama em São Paulo, mostra-se ultra-sensível e ultra-melindrosa sempre que alguém lembra as circunstâncias de sua separação e segundo casamento, que ela mesma transformou num circo midiático alguns anos atrás. Ao mesmo tempo, ela e seus aliados não vêem "nada de mais" em fazer ilações sobre a vida pessoal dos rivais. Enquanto isso, os simpatizantes do PT em outros estados buscam pêlo em ovo, vendo "homofobia" até em canção de ninar. Há uma diferença entre sutileza e paranóia. Assim como entre indignação e hipocrisia.

quarta-feira, outubro 15, 2008

O DISCURSO DAS "MINORIAS" E A FALÁCIA ESQUERDISTA



Você é gay? É negro? Índio? Mulher? Pertence a alguma outra "minoria" sexual, étnica, racial ou religiosa?
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Se for, pode ter certeza: você está sendo usado(a).

Isso mesmo. Convenci-me disso depois de ver a propaganda eleitoral da candidata petista Marta Suplicy à prefeitura de São Paulo, a qual insinua que o candidato adversário, Gilberto Kassab, seria homossexual ("ele é casado? tem filhos?"). Às vezes um fato aparentemente de menor importância pode servir de estopim para desvendar verdades fundamentais escondidas por camadas e camadas de retórica ideológica. É esse exatamente o caso.

Os insultos e as ilações da campanha de Marta sobre a vida pessoal de Kassab serviram para desmascarar, por completo, um discurso há muito engendrado pelas esquerdas no Brasil, segundo o qual caberia a eles, os esquerdistas, o monopólio da tolerância e da defesa das "minorias". Todos os outros que não pertencessem à grei esquerdista - ou seja: a "direita" - seriam os representantes do discurso oposto, do preconceito e do obscurantismo. Com os ataques quase explícitos à vida privada de Kassab, ficou demonstrada, de forma inequívoca, a falácia desse discurso, seu caráter inegavelmente hipócrita e eleitoreiro.

Essa constatação não decorre apenas de um escorregão de campanha ou de uma estratégica equivocada de marketing eleitoral. É a culminação de décadas de manipulação demagógica dos chamados "movimentos sociais" pela esquerda. Há tempos, esta descobriu que não é mais possível fazer a tão sonhada "revolução socialista" - as tentativas de fazê-la no Brasil, em 1935, 1961-1964 e por meio da luta armada nos anos 60 e 70 redundaram em total fracasso. Restou a seus remanescentes, muitos dos quais entrincheirados nas universidades e nas redações dos jornais, encontrar um outro rumo, buscando "ocupar espaços", segundo o figurino gramsciano. Sobretudo a partir do final dos anos 60, a idéia de que o "proletariado" faria a revolução cedeu lugar gradualmente a outros setores, as "minorias", e a idéia de tomada do poder político pela força daria lugar cada vez mais à idéia da "mudança comportamental" como o passo para a conquista da "hegemonia" moral e ideológica. Daí a ascensão dos chamados "movimentos sociais" e do discurso politicamente correto, hoje hegemônico nos chamados setores "pensantes" da sociedade. A fundação do PT, em 1980, reunindo um amálgama de setores de esquerda, que ia de sindicalistas a padres católicos, foi um marco nesse processo.

O que isso tudo tem a ver com a baixaria de Dona Marta em São Paulo? Muita coisa. Tem a ver porque, ao atacar vilmente a vida privada de seu adversário, de maneira baixa e caluniosa, a candidata petista - que se tornou conhecida pela sua defesa das "minorias", sobretudo dos homossexuais - revelou a natureza demagógica desse discurso político. Demonstrou, em suma, que tal discurso, assim como a ética e a democracia, tem para essa gente um caráter puramente instrumental - se nos ajuda a ganhar votos, o defendemos; se não, o deixamos de lado e partimos para o discurso oposto, usando os mesmos golpes baixos e os mesmos preconceitos que antes dizíamos combater.
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Para a esquerda, somente os "movimentos" importam. Para ela, os indivíduos, em suas singularidades, não existem. A pessoa só vale alguma coisa se fizer parte de algum "movimento", de preferência organizado e controlado pelo PT - se for, enfim, um militante. O que estão fazendo com Kassab não é visto como uma canalhice, pois, afinal, ele é do DEM, um partido "de direita"... Contra eles, os direitistas, pode tudo, todos os preconceitos são válidos (claro que o mesmo não se aplica aos esquerdistas). Como características individuais, a cor da pele ou a preferência sexual só têm algum valor, para os partidos de esquerda, se vierem acompanhadas de um discurso político, de uma bandeira política. Dessa forma, o sujeito deixa de ser indivíduo, perde o nome, a identidade, e se torna um membro do "coletivo". Deixa de ter opiniões, apenas slogans e palavras de ordem. Passa, enfim, a ser uma "não-pessoa", sendo reconhecido não pelo nome, mas pelo "movimento" a que pertence - é o "afro-descendente", o "indígena", o "gay" (há até uma sigla - GLBTT - para designar esse tal "movimento"), a "mulher" etc. Aspectos que deveriam restringir-se à esfera puramente pessoal - como a opção sexual - acabam sendo, assim, politizados, tornando-se rótulos políticos. E aqueles que se opõem a isso, e insistem em ter opiniões próprias, ou até em dizer que cor da pele ou opção sexual não são medida de caráter (para o mal ou para o bem), acabam virando alvo, eles próprios, de preconceito e de censura, sendo invariavelmente tachados de "reacionários", "homofóbicos", "racistas", "machistas" etc. Um discurso muito eficiente, sem dúvida.

E para que toda essa desumanização, essa despersonalização da individualidade ou, se preferirem, essa politização da vida pessoal? Para uma coisa somente: alcançar o poder. Não se trata de simples incoerência, como são geralmente descritas atitudes como a de Marta em relação a Kassab, mas do seqüestro de reivindicações muitas vezes justas com objetivos políticos. Os esquerdistas descobriram que não farão a revolução. Mas podem minar as bases do Estado Democrático de Direito. Um dos caminhos para isso é acabar com a igualdade de todos perante a Lei. Na prática, eles já conseguiram isso, com o sistema de cotas raciais nas universidades. Agora, tentam avançar mais um pouco nesse sentido, com a chamada Lei "anti-homofobia" que, a pretexto de defender os direitos de outra minoria, servirá apenas para tornar alguns cidadãos mais iguais do que outros.
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Suponhamos que Kassab seja, sim, gay, como insinua a campanha do PT. Nesse caso, quem sairia prejudicado? Não ele, certamente, já que sua sexualidade diz respeito a ele e a mais ninguém. Mas Marta, esta sim, seria desmascarada, pois usou um velho preconceito para lançar dúvidas sobre o rival. Mais: seu passado de defensora dos direitos dos homossexuais seria visto, como de fato é, como uma farsa. Não que ela tenha "traído" sua trajetória, nada disso. É que era tudo falso.
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Assim como Lula e Zé Dirceu no caso do Mensalão, ao atacar a vida privada de Kassab, Marta não está jogando no lixo sua trajetória anterior. Está, isto sim, revelando para todos o que sempre escondeu: que toda sua militância em prol das "minorias" (mulheres, homossexuais etc.) não passava de um trampolim para conquistar visibilidade e alcançar o poder. É isso, e não a defesa das minorias, o que norteia o comportamento dos esquerdistas. Basta atentar para o fato de que, no país dos sonhos do PT, Cuba, os homossexuais foram trancafiados nos anos 60 em campos de "reeducação". Quem duvida que, tendo atingido seu objetivo de alcançar o poder, ou para agradar outros setores como os evangélicos, os petistas e seus companheiros se livrarão rapidamente desses incômodos aliados, adotando o mesmo discurso que antes condenavam com tanta veemência?

Em resumo, o que está escrito aí em cima é o seguinte:

- O PT se dizia o partido mais democrático do Brasil. Foi desmascarado.

- O PT se dizia o partido mais ético do Brasil. Foi desmascarado.

- O PT se dizia o partido das minorias e dos direitos humanos. Também essa máscara caiu.

segunda-feira, outubro 13, 2008

O FUNDO DO POÇO


Confesso que relutei um pouco antes de escrever sobre este assunto. Afinal, as eleições municipais, mesmo em uma cidade como São Paulo, estão longe de ser a prioridade na minha lista de temas preferidos. Além do mais, como vocês verão, o nível de sordidez e de podridão geralmente associado a esse tipo de campanha, principalmente no segundo turno, é algo capaz de fazer revirar até o mais forte dos estômagos. Mas, diante dos ensinamentos que daí podem advir, creio ser necessário tapar o nariz e remexer nesse lamaçal.

Uma inserção no rádio e na TV da candidatura de Dona Marta "relaxa e goza" Suplicy à prefeitura de São Paulo, veiculada no domingo, dia 12, questiona vários aspectos da vida pregressa do candidato adversário, Gilberto Kassab, terminando com as seguintes perguntas sobre ele: "é casado? tem filhos?" A propaganda levanta subliminarmente uma série de dúvidas sobre a vida pessoal de Kassab. A insinuação de que ele seria homossexual é evidente. Baixaria pura.

Não tenho nenhuma simpatia por Kassab. Se ele é gay ou não, não me interessa. É algo que diz respeito a ele somente, e a mais ninguém. Aliás, é assim que deve ser nesses casos: a preferência sexual é assunto particular, não deveria ser utilizada como bandeira política, nem contra, nem a favor. Justamente por isso, está mais do que óbvio que o candidato do DEM foi vítima de uma das demonstrações mais abjetas de preconceito que se viu nas eleições nos últimos anos no Brasil. E logo da parte de Marta Suplicy, que se lançou na política como defensora dos direitos das mulheres e dos homossexuais. Uma mulher de "vanguarda", psicóloga e sexóloga, sem medo de enfrentar tabus e preconceitos... Estes seriam representados pela "direita", pelos Malufs e Pittas da vida, jamais pelo PT, esse partido, como se sabe, de gente linda e maravilhosa, avançada e de cabeça aberta... Tudo conversa mole, como se vê agora.
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Confrontada com o que passou no rádio e na TV, Marta agiu como uma legítima petista, dizendo que "não sabia" da campanha (lembra alguém?), mas a aprovava assim mesmo. Ela afirma que o eleitorado tem o direito de saber sobre a vida política do candidato adversário, inclusive de sua vida pessoal. Quando indagada, porém, sobre seu casamento com o argentino Belisario Wermus, vulgo Luís Favre, ela se mostra indignadíssima. E olhem que nada do que se disse na imprensa sobre sua ultra-badalada separação e casamento chegou perto, em vulgaridade e preconceito, das insinuações sobre a vida privada de Kassab. Nada mesmo.

Assim é essa gente: durante décadas, proclamaram-se os donos do monopólio da ética e da virtude, os bambambãs, os gostosões, verdadeiros santos, moralmente superiores até ao Papa. Agora, reivindicam para si também o monopólio do insulto e da baixaria, e até do direito a sentir-se ofendido. É o vale-tudo em sua forma mais descarada. Nada mais típico do modo petista de ser e de agir.

Ao questionar a vida privada de Kassab, levantando dúvidas sobre sua sexualidade, a petista Marta Suplicy caiu na armadilha que ela mesma criou: se Kassab não for gay, estarão caracterizadas a calúnia e a difamação, crimes tipificados no Código Penal brasileiro; se for, pior ainda - Marta será desmascarada como uma homofóbica e uma farsante. O que os gays que apóiam Marta e o PT dirão de uma coisa dessas?

Com a campanha de Marta Suplicy em São Paulo contra Kassab, o PT se iguala a Fernando Collor que, em 1989, em um golpe baixíssimo, usou uma ex-namorada do então candidato - do PT - Luiz Inácio Lula da Silva para tentar atingi-lo em sua vida pessoal. Até hoje, os petistas e seus simpatizantes lembram o caso com asco e nojo, como exemplo de quão baixo pode chegar um candidato sem escrúpulos para ganhar eleições. Ouso dizer, porém, que o caso de Marta em São Paulo é pior. Collor, com todos os seus defeitos, jamais posou de bom-moço defensor de causas das minorias, inclusive dos homossexuais, para, diante da possibilidade de perder as eleições, apelar para o mesmo preconceito vulgar que sempre disse combater. Marta usou os gays para projetar-se na política; agora, para cortejar o voto dos evangélicos, apela para a mais rasteira homofobia. Caiu mais uma máscara dos petistas (a propósito: Collor, hoje senador, é aliado de Lula).

A hipocrisia dos petralhas realmente não tem limites. Corre atualmente no Congresso um projeto de lei que criminaliza a "homofobia". É uma lei idiota, que é apresentada por seus defensores como um "avanço dos direitos humanos", mas visa unicamente a criminalizar a liberdade de expressão e de pensamento, tornando ilegal até uma piada de bar. Pois bem. Adivinhem quem é a autora do projeto: uma deputada petista. Para esse pessoal, os gays, ou qualquer outra minoria - negros, índios, nordestinos etc. - só existem como massa de manobra, nunca como indivíduos. E o preconceito é uma arma que utilizam, sempre que lhes for conveniente, para achincalhar reputações alheias. Os petistas sempre podem descer mais um degrau em safadeza.

A baixaria da campanha petista em São Paulo revelou a hipocrisia e o duplo padrão moral do partido de Lula. O PT chegou ao fundo do poço. E ameaça arrastarnos todos junto com ele.

Simplesmente nojento.

sexta-feira, outubro 10, 2008

Resposta a um leitor muito sensível

Alguém não gostou de meu texto "Inveja do Iraque", que publiquei neste blog em 1/11/2007 (http://gustavo-livrexpressao.blogspot.com/2007/11/inveja-do-iraque.html). Um leitor muito sensível e humanista, que se apresenta como "Marcos", escreveu o seguinte comentário ao texto:

"Na minha escala de valores, tortura é pior do que corrupção" Victor Meirelles

Seguindo nas linhas de nosso cineasta, um erro não justifica outro!

Sim, era algo bestial o que sofriam as populações iraqueanas e afegãs nos regimes rígidos de Saddam e do talebã respectivamente. Mas a presença dos EUA não deixa a desejar em totalitarismo, manipulação, controle rígido e humilhações à essas mesmas populações...

Então, elogiar a atitude norte-americana como a coisa mais louvável desde o fim da segunda guerra mundial quando acabaram com a nazismo... É algo que me dói ler.

Mesmo porque, graças a ação do exército da União Soviética, que impuseram a primeira derrota a Hitler - fazendo-o recuar, é que os americanos puderam derrotar os alemães e retomar o controle do centro da Europa.

Sem entrar na questão de quem seria o tal "Victor Meirelles" - acho que o gentil leitor se equivocou, trocando o cineasta Fernando Meirelles, diretor de Cidade de Deus e Blindness, pelo pintor do século XIX -, concordo plenamente com a epígrafe, assim como com a conclusão do Marcos, de que "um erro não justifica outro". Só não concordo com sua maneira muito peculiar de "pensar".

Sim, concordo totalmente - em gênero, número e grau - com a afirmação de que a tortura é pior do que a corrupção. Aliás, vou mais além: na minha escala de valores, que acredito não seja só minha, mas a da civilização e da humanidade, a tortura é algo bestial e abominável, e o torturador é um canalha da pior espécie, que não merece perdão: é o escalão mais baixo da humanidade.

Pois bem. Não é outra coisa o que eu digo no texto comentado pelo Marcos, e que repito em vários outros textos no blog. O que eu digo? Algo muito simples, simplíssimo, que chega a ser atordoante por sua simplicidade: a tortura é algo criminoso, repugnante, nojento. A tortura com morte é pior.

Isso significa justificar a tortura? Significa aplaudir quem arranca as unhas com alicate e dá choque elétrico em prisioneiro?

Não.

Significa dizer tão-somente o que eu escrevi: torturar é mau; torturar e matar é pior.

Ou, em outras palavras: quem tortura é um torturador. Quem tortura e mata é um torturador e assassino.

Ficou claro? Ou preciso desenhar?

Acredito que o Marcos vai entender, se pensar um pouco, que apontar essa diferença não faz de mim um apologista da tortura, assim como espero que nem ele nem o Meirelles sejam justificadores da corrupção.

No meu texto - vamos lembrar - eu falo da prisão de Abu Ghraib, em que prisioneiros iraquianos foram torturados por soldados americanos, que foram devidamente punidos por isso. Lembrei que, na época de Saddam, os prisioneiros eram não só torturados, mas também chacinados, assassinados, e seus torturadores e assassinos eram não punidos, mas condecorados e promovidos por causa disso. Quem me chamou a atenção para esse detalhe - que é mais do que um detalhe - foi alguém que não tem nada de direitista: o jornalista inglês Chistopher Hitchens. Ele, ao contrário do Marcos, percebeu o óbvio: que o Iraque, desde que Saddam foi defenestrado, melhorou bastante, inclusive no terreno dos Direitos Humanos.

Dito isso, vejamos o que o Marcos quer dizer. Ele reconhece que as populações civis iraquiana e afegã sofriam sob o tacão de Saddam e do Talibã. É uma grande conquista dele reconhecer isso! Pelo menos ele não caiu na esparrela de dizer que o Iraque sob Saddam era uma espécie de Suiça do Oriente Médio, como muitos pareceram querer dizer na época da invasão anglo-americana... Mas, logo em seguida, ele vem com a seguinte tirada: "a presença dos EUA não deixa nada a desejar em totalitarismo, manipulação, controle rígido e humilhações a essas mesmas populações..."

Como é que é? Então a presença americana "não deixa nada a desejar" em termos de totalitarismo etc. e tal? É isso mesmo que eu li? Puxa, mas nem um pouquinho? Nem o fato de Abu Ghraib, por exemplo, ter deixado de ser um matadouro de carne humana como era na época do Saddam significa alguma coisa? Nem o fato de o Partido Baath, do Saddam, ter deixado de ser o partido único no poder? Ou o de que grupos como os xiitas e os curdos finalmente podem falar sem medo? Nada disso conta?

Fico pensando cá com meu botões qual deve ser o conceito de Totalitarismo para o Marcos. Porque, certamente, não é o mesmo que eu li, já faz alguns anos, no Dicionário de Política editado por Norberto Bobbio. A edição é um pouco antiga, o livro está um pouco gasto, mas acredito que a definição continua valendo. Lá, está dito que Totalitarismo é um regime político baseado nas seguintes características (para citar apenas algumas das mais importantes): 1) partido único de massas no poder, que se confunde com o próprio Estado ou se coloca acima dele; 2) ideologia e terror oficial, que se estende a todos (daí o nome Totalitarismo) os aspectos da vida social e pessoal, inclusive à religião; 3) mobilização constante do povo mediante a vigilância onipresente da polícia secreta e o monopólio dos meios de comunicação de massa; 4) culto da personalidade do chefe.

Agora, me digam: todos esses aspectos caracterizavam que regime, e que país? Não o Iraque de hoje, certamente. Mas se você respondeu o Iraque de Saddam, acertou em cheio. Em 2005, pela primeira vez o Iraque teve eleições livres e democráticas - pela primeira vez, em mais de 3 mil anos de História! Pela primeira vez também, desde Saddam, os xiitas (60% da população) podem rezar livremente, e inclusive até mandar bala nuns gringos de vez em quando. Pergunte a algum xiita ou curdo iraquiano o que ele acha dos americanos e provavelmente ele dirá que os detesta. Agora, pergunte se ele deseja o retorno da tirania de Saddam... Não, Marcos, Totalitarismo foi o que os EUA derrubaram no Iraque e no Afeganistão, e não o que implantaram.

Agora eu entendi por que o autor do comentário a meu texto disse que lhe doía ler que a derrubada de Saddam e do Talibã foram as duas coisas mais acertadas que os EUA fizeram desde a Segunda Guerra Mundial. É que a Lógica é uma deusa implacável, que pode ser também muito dolorosa. Principalmente para quem nutre crenças infantis há muito arraigadas, baseadas num antiamericanismo primário e idiota. Mas para que ninguém tenha dúvidas nem interprete mal minhas palavras, vou deixar bem claro, em letras garrafais, o que achei da decisão dos EUA e de seus aliados de enxotar o Saddam do poder no Iraque: FIZERAM MUITO BEM!

Agora, uma pequena lição de História.

Não Marcos, não foi "graças à ação do exército da União Soviética" que os alemães sofreram sua "primeira derrota" na Segunda Guerra Mundial. A primeira derrota de Hitler - pergunte a qualquer historiador do conflito - foi para a GRÁ-BRETANHA, então governada por um famoso conservador e anticomunista, Winston Churchill, na chamada Batalha da Inglaterra, em agosto-setembro de 1940. Mais de dois anos antes de o glorioso exército vermelho de Stálin ter começado a reverter a maré a seu favor, em Stalingrado, e quase um ano antes de a URSS ter entrado na guerra. Enquanto isso, Stálin e Hitler eram na prática ALIADOS, tendo assinado em agosto de 1939 o infame "pacto de não-agressão" que dividiu a Polônia e... abriu as portas para a guerra! Stálin, aliás, poupou a Hitler grande parte do trabalho, ao mandar fuzilar quase um terço dos oficiais superiores militares soviéticos antes da guerra. Não foi a URSS que salvou o Ocidente na Segunda Guerra; foram os ianques imperialistas e seus aliados ocidentais que salvaram o mundo (e a própria URSS) do nazi-fascismo, e ainda permitiram que os comunistas de Moscou satelizassem o Leste Europeu. Não gosto de me gabar, mas sou tentado a dizer: nunca tente ensinar História a quem já foi professor da matéria.

Aliás, é curioso como, para apoiar seu ponto de vista sobre tortura, nosso amigo resolva mencionar a finada URSS. Logo um país em que, como todos nós sabemos, não havia tortura, nem totalitarismo, nem humilhação de populações inteiras... Assim como outros países atualmente, como Cuba e Coréia do Norte. Tenho certeza de que o Marcos, que é uma pessoa muito sensível e humanista, deve estar roendo-se de indignação pelo que acontece nesses lugares. Afinal, um "erro" não justifica outro, não é mesmo?...

Enfim, perceber que ainda há gente que fecha os olhos para o que está dito aí em cima... é algo que, realmente, me dói ler.

quarta-feira, outubro 08, 2008

A FARSA OBAMA


Se Barack Hussein Obama for eleito o próximo presidente dos EUA, será por dois motivos principais:

1) a intensa campanha da grande imprensa norte-americana e mundial, maciçamente engajada em favor do endeusamento de sua figura e da criação de um culto de sua personalidade, que contrasta enormemente com o tratamento dispensado ao candidato republicano, John McCain, e em particular à sua vice, Sarah Palin; e

2) a atual crise financeira que assola os mercados dos EUA e do mundo, cuja responsabilidade é atribuída, em particular, ao governo Bush e, genericamente, ao "neoliberalismo" - e para a qual Obama e os democratas, com sua receita supostamente "progressista" baseada na maior intervenção e controle estatal, teriam a solução.

Esses são os principais trunfos da candidatura Obama. Elimine-os e aposto que, em menos de dois segundos, sua campanha vira fumaça. O que demonstra a fragilidade e o nível de impostura em que ela se fundamenta.

Sejamos francos: o que sustentou, até agora, a candidatura Obama? Certamente, não sua experiência (ele não a tem), nem suas idéias (ele tem slogans, como "Change"), nem a racionalidade de suas propostas (ele propôs, como solução para a questão do Irã, sentar-se para conversar com o maluco Ahmadinejad), mas aquilo que está num vídeo lançado algum tempo atrás pelos republicanos: ele é uma celebridade, e ponto. Melhor: ele foi transformado numa celebridade, devido a um processo de santificação de sua imagem que há muito não se via. Com raras exceções, a imprensa dos EUA - e, por extensão, do mundo como um todo - já elegeu Obama há tempos.

Não vi o debate de ontem entre Obama e McCain, mas sei que, certamente, antes mesmo de este ter acabado, já havia gente nas redações dos principais jornais americanos proclamando a vitória do democrata. Comparem a forma como a imprensa cobre as duas candidaturas. Creio que, a esta altura, já está claro, pelo menos para a minoria dos que pensam, que Obama é uma criação artificial, uma peça de puro marketing, sem qualquer substância, e que se beneficia de décadas de propaganda politicamente correta e esquerdista para passar uma persona de novo Kennedy, ou de novo Martin Luther King (sua confirmação como candidato democrata à presidência foi em 28 de agosto - mesma data do famoso discurso "I have a dream" de Luther King em 1963). Como tal, ele não precisa abrir a boca para ser aplaudido, e seus discursos já nascem "históricos", antes mesmo de serem pronunciados. Qualquer crítica que lhe for dirigida, e mesmo não sendo críticas - como a capa da revista New Yorker mostrando-o como um terrorista - será automaticamente interpretada como uma manifestação de "preconceito" (soa familiar?). No Brasil, quem falar mal de Lula é tachado de preconceituoso e elitista. Nos EUA, quem fizer o mesmo com Obama é racista. Assim como o Apedeuta, Obama não tem eleitores: tem devotos.

O oba-oba criado em torno da candidatura obamista pela imprensa americana só não é maior do que a disposição desta em achincalhar e demonizar a candidatura adversária. Na ausência de fatos escabrosos para atacar o titular, John McCain (o máximo que descobriram até agora foi uma advertência do Senado por um suposto escândalo financeiro de mais de vinte anos atrás), os marqueteiros de Obama passaram a centrar fogo na vice do senador republicano, Sarah Palin. Contra ela, não poupam ataques nem adjetivos injuriosos - "despreparada" e "inexperiente" (como se Obama o fosse!) são alguns dos epítetos mais suaves com que a brindam. Já chegaram a criticá-la até mesmo por ser... mãe! Por essas bandas cá em baixo, a coisa não é muito diferente. A GLOBO, Arnaldo Jabor ("Obama é sexy!")... até a VEJA entrou de cabeça na campanha pró-Obama, macaqueando a "mídia imperialista", antes tão combatida.

Toda essa fúria anti-McCain e anti-Sarah Palin parece servir para desviar a atenção do acobertamento de detalhes obscuros da biografia de Obama, que não são poucos. Sua verdadeira nacionalidade, para não falar em sua religião, por exemplo, é motivo de controvérsia. Recentemente, veio a público - não por acaso, pela boca de Sarah Palin - que quem pagou seus estudos na prestigiosa Universidade de Harvard foi uma associação encabeçada por um ex-militante terrorista do grupo Weathermen ("Homens do Tempo"), que se especializou em atirar bombas e em outros atos de violência nos anos 60. Sem falar no caso até agora mal-digerido de Jeremiah Wright, o pastor da igreja que Obama freqüentou por duas décadas e que ele considerava, até um dia desses, seu mentor e guia espiritual. Obama rompeu publicamente com Wright somente depois de ter vazado um vídeo na internet em que ele, Wright, amaldiçoava, com todas as letras, o país que Obama quer presidir. Tais fatos passaram como um relâmpago pela imprensa, enquanto o "despreparo" de Sarah Palin, e até seus hábitos pessoais e zelo de mãe cuidadosa ("hockey mom", dizem os americanos) são, há semanas, motivo de escândalo e escárnio nos EUA. No caso de Obama, o acobertamento, para usar um paradoxo de linguagem, só falta saltar aos olhos. No de McCain e Sarah Palin, beira a difamação pura e simples.

Não é preciso ter um QI de 180 ou possuir um Nobel de Física emoldurado na sala para perceber que estamos diante de uma monumental farsa, talvez a maior de todos os tempos. O pior de tudo é que se trata dos EUA, e não de uma republiqueta bananeira qualquer, em que esse tipo de coisa é corriqueiro. Que o digam os habitantes de um certo país da América do Sul, governado há seis anos por um sujeito que se elegeu e reelegeu graças a décadas de lavagem cerebral esquerdista e à sua incrível capacidade de embromação.

Quanto ao segundo motivo listado acima, creio que, infelizmente, será o fiel da balança na eleição americana. A crise financeira global é mais um motivo para desconfiar de Obama. Crises como a que os EUA estão enfrentando agora são um prato cheio para demagogos. Gente em geral sem nenhum compromisso senão com o poder vêem em colapsos financeiros como o que ora ocorre uma oportunidade de chegar aonde sempre quiseram chegar, sem muito esforço. A desconfiança tem mais razão de ser quando se vê que Obama escolheu bater em Bush e em sua política econômica "liberal" para responsabilizar pela crise, quando muitos conservadores americanos vêem o atual presidente dos EUA como qualquer coisa, menos um liberal em economia. Mas nada disso importa. O que realmente vale, para os sedentos de poder, é aproveitar o momento, mesmo violentando os fatos. Já vimos esse filme.

Não sei quem vencerá as eleições nos EUA. Provavelmente, Obama. Até porque, o que ele fará da vida se não for eleito para o supremo cargo da maior República do mundo, e para o qual já foi ungido e aclamado antes mesmo das eleições? A Secretaria Geral da ONU já está ocupada. A cadeira do Papa também. Quem sabe o governo mundial das ONGs.

Crise mental 3 - um texto esclarecedor

Segue artigo do jornalista Laurence Bittencourt, que pelo visto sabe das coisas. O texto reafirma muito do que eu venho dizendo aqui, e apresenta alguns fatos que eu desconhecia. Está no Jornal de Hoje, de Natal-RN, nesta data. É impressionante como, diante da onda de besteirol publicada na chamada "grande imprensa" do centro-sul sobre a crise financeira global dos últimos dias, mais uma vez seja necessário vir alguém lá da província, escrevendo num pequeno jornal, dizer aquilo que precisa ser dito. Leiam e tirem suas próprias conclusões.
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Inútil, totalmente inútil
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Um amigo meu que tem um ódio monumental a tudo que cheire aos Estados Unidos estava me dizendo outro dia, que com essa crise americana agora, não tem mais jeito, eles não só perderam a hegemonia econômica como o capitalismo está vivendo seu último estertor. Menas verdade, como diria o nosso "sábio" Lula.
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Óbvio que é inútil argumentar o contrário contra quem pensa dessa forma. Inútil, rigorosamente inútil. Fiquei tentado a lembrar-lhe que também diziam que os americanos tinham perdido a hegemonia em 1929, com o crack da bolsa de Nova York. Os americanos entraram na guerra em 1941, e quando terminou a guerra tinham 50% do PIB mundial. Mas é inútil. É inútil.
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Agora vejam, dos 850 bilhões de dólares dados pelo governo americano para conter a crise, esse valor representa apenas, 8% do PIB dos EUA. Adianta? Mas posso citar outro exemplo, para mostrar que não há perda de hegemonia. Quando terminou a guerra do Vietnam, por exemplo, disseram que os americanos, por perder politicamente, tinham perdido a hegemonia do mundo capitalista e consequentemente da economia. Hoje, o Vietnam é um dos maiores clientes dos States, ou melhor, o maior cliente do Vietnam são os americanos, e o Vietnam vai muito bem das pernas. Mas é inútil. É inútil.
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Para quem não lembra, mas eu lembro, quando os americanos foram derrotados no Irã (o que só prova que para os americanos não importa derrotas politicas, política é coisa de país subdesenvolvido) durante o governo Carter, disseram a mesma coisa. Nada disso ocorreu. Mas é inútil. É inútil.
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O que move os Estados Unidos é a riqueza material e financeira. Sempre foi assim, desde a guerra pela Independência contra os ingleses, quando os americanos se rebelaram contra os altos impostos do país colonizador. Só para você leitor ter uma idéia, o deposito bancário nos EUA atual é algo da ordem de 5 trilhões, que é quase quatro vezes o PIB brasileiro. Isso é muito menos, guardando as devidas proporções, que o Proer deu ao Banco do Brasil (humm), o nosso admirável Banco estatal, para ele não quebrar. Também é possível ler que com a crise, os americanos perderam a hegemonia e consequentemente (é inevitável essa consequência) perderam o valor do dólar. Bom, o incrível é que diante de toda a crise o dólar está se valorizando. Mas é inútil. É inútil.
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Agora imagine a seguinte cena: um sujeito (que pode ser você leitor) vai aplicar 100 reais em um Banco qualquer no Brasil. Desses 100 reais, 45 reais vão direto para o Banco Central, que não pode fazer nada com esse dinheiro. Mas aí, acompanhe-me, uma indústria qualquer quer ampliar, modernizar, ou mesmo expandir seus negócios, e para isso tem que pedir dinheiro emprestado aos Bancos. Como quarenta e cinco por cento do dinheiro dos empréstimos privados fica retido no Banco Central do Brasil, claro que irá faltar recursos para tomar emprestado, e se tomar, como a quantidade disponível é limitada os juros também sobem à estratosfera. Essa é nossa mentalidade "capitalista". Você sabe quanto das aplicações em Bancos nos EUA são retidos? Eu digo: até 10 milhões de dólares em aplicação, há isenção. De 10 milhões até 44 milhões são retidos 3% e mais de 44 milhões são retidos 10%. É isso o que explica a riqueza daquele país. Não é o Estado que financia o desenvolvimento, mas a iniciativa privada. Adianta explicar isso? Não. É inútil. Totalmente inútil!
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Pois bem, se voltarmos para as nossas indústrias brasileiras que precisam de empréstimos e não têm como conseguir, o que elas fazem? Vão pedir empréstimo fora, ao mercado estrangeiro porque tem mais dinheiro e barato. E para onde eles vão? Exatamente para os Bancos americanos. Você pode não lembrar, ou mesmo não saber, mas a compra da Vale do Rio Doce por 3 bilhões de dólares, só foi conseguida através de empréstimos que o Benjamin Steinbruch fez junto ao Banco americano de investimentos Goldman Sachs. Hoje é a 2ª maior mineradora do mundo. Agora com a crise americana, que segundo meu amigo está levando os States a perderem a hegemonia, as linhas de credito de lá, foram fechadas. Mas o "sábio" do Lula ainda insiste em dizer que a crise não chegou ao Brasil. Talvez Lula, assim como meu amigo, ache que os americanos vão perder a hegemonia econômica. A esperança desse amigo comunista, e também de Lula, certamente, é que o peso cubano venha a substituir o dólar. Mas penso eu que o peso cubano "pesou" tanto no mundo, que terminou destruindo a economia soviética com as "mesadas" que os comunistas soviéticos tinham que doar a Fidel e "sua" Ilha.
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A crise chegou ao Brasil, claro, mas a hegemonia econômica dos Estados Unidos não vai ser abalada. Aliás, o Império Romano caiu na antiguidade, porque era um império estatal. Os Estados Unidos é um império capitalista e não vão perder a hegemonia econômica. Adianta explicar isso? Não. É inútil. Totalmente inútil.
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Autor: Laurence Bittencourt Leite
E-mail: Jornalista (laurencebleite@zipmail.com.br)