Ah, sim. Desmontados todos os demais, resta o supremo argumento: a ONU, a OEA, enfim, "o mundo" (ou, como gostam de dizer por aí: a "comunidade internacional") condenou o "golpe" e exige o "imediato retorno" de Zelaya ao poder. Essa é a "prova", segundo os bolivarianos, de que os atuais governantes de Honduras são "golpistas", uns "reacionários", "fascistas" etc. etc.
É impressionante a capacidade dessa gente de transformar o absurdo em regra. Então a ONU do sandinista Miguel D'Escoto, a ONU que é incapaz de passar uma simples moção condenando o regime genocida do Sudão em seu Conselho de Direitos Humanos (!) dominado por ditaduras, está do lado de Zelaya? E também a OEA do socialista José Miguel Insulza, que se ajoelha diante da tirania totalitária de Cuba, tratando-a a rapapés? E o governo de Barack Hussein Obama, o "nosso filho" de Kadafi? Isso tudo me dá mais motivo para não querer ver o fazendeiro neobolivariano Zelaya reinstalado no poder. É um motivo a mais, em minha opinião, para defender o respeito à Constituição em Honduras. É uma prova de que os bárbaros estão dentro das muralhas.
Os bolivarianos já perceberam que estão diante de uma situação inédita. Dessa vez, eles não podem contar com um de seus principais trunfos retóricos, sistematicamente empregado nas últimas décadas para ganhar as mentes dos tolos e iludidos. Não podem dizer, como ocorreu em outras situações, que existe uma "vasta conspiração internacional de direita" para derrubar um "governo popular", a qual envolveria Wall Street, os EUA, a CIA etc. - os EUA, aliás, com o darling da esquerda Barack Hussein à frente, está do lado deles (mesmo assim o bigodudo Zelaya descobriu uma conspiração radioativa de "mercenários israelenses"...). Não podem, portanto, posar dessa vez como vítimas de isolamento e de agressões externas, como fazem há décadas Cuba e a Coréia do Norte, o que, se não justifica a tirania nesses países (nada justifica, aliás), pelo menos lhes dá um certo ar de "resistência", de Davi contra Golias, que até hoje encanta e ilude a muitos. Pelo contrário: no caso de Honduras, o governo sitiado e hostilizado é o de Roberto Micheletti, e a grande conspirata é a do "mundo" - ou seja, Hugo Chávez e seus cúmplices, que querem ver o golpista Zelaya de volta à presidência.
A pequenina Honduras ousou desafiar o consenso bolivariano, e isso é imperdoável para a esquerda. Ousou retirar desta o papel que ela sempre se atribuiu: de "mártir", de "resistente", firme em suas convicções contra as pressões do status quo internacional. Diante disso, só resta aos esquerdistas inverter o discurso, esperando compensar, pela força dos números, a ausência de razão: a maioria condena Honduras; logo, Zelaya é o "presidente legítimo". Antes, o mundo estava contra eles, os esquerdistas; logo, eles eram bravos e heróicos resistentes. Agora, "o mundo" está com eles; portanto, a verdade e a justiça também. Magister dixit. Não conseguem vencer pelo debate e pelos fatos? Então tentam esmagar pela maioria.
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Aliás, é curioso: os mesmos que usam o "argumento" da "maioria" parecem se esquecer de um fato essencial - a MAIORIA (mais de 70 %) dos hondurenhos quer ver Zelaya longe do país ou atrás das grades. Ou seja: todos querem o golpista Zelaya de volta, menos o povo de Honduras. Mas a vontade deste, ao que parece, não conta para a ONU, a OEA etc.
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A tática parece estar dando certo: muitos que já perceberam a falácia do discurso bolivariano deixam-se, porém, intimidar, calando-se, constrangidos, diante do peso da maioria. Para não ser tachados de "reacionários" e "direitistas", fingem seguir a manada e reprimem suas opiniões, temendo as patrulhas. Mas isso está mudando. Lentamente, mas está.
A crise em Honduras já conseguiu derrubar vários paradigmas da política na América Latina. Um deles é o de que a esquerda, ou o que quer que leve esse nome, sempre foi o lado "do contra", tendo contra si a resistência da "elite", do "imperialismo" etc. Ao contrário, como a hostilidade ao governo interino de Honduras na ONU e na OEA revelou cabalmente, os bolivarianos já são a maioria no continente, e ser "do contra", como este blogueiro que vos escreve, agora é ser a favor do respeito à Constituição e à vontade soberana de um país que destronou um caudilho, é denunciar as maquinações do bolivarianismo e do Foro de São Paulo. Em suma: os bolivarianos se apossaram da opinião pública e ameaçam submeter todo o continente, estigmatizando quem quer que os denuncie. Esqueçam a Opus Dei, o Priorado de Sião, os Illuminatti, essas coisas todas: se houve na História do mundo uma conspiração, é essa.
Os bolivarianos não contavam com o que ocorreu em Honduras. Não esperavam que um país se levantasse em defesa da Lei e contra um consenso cuidadosamente fabricado. Por isso apelam para a mentira mais desesperada. Mas, assim como aconteceu com outras conspirações esquerdistas, gradualmente a verdade vem à baila. Pode demorar anos, mas esta, no fim, prevalecerá. Felizmente, a verdade é filha do tempo e da razão, não da autoridade.
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