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sábado, março 09, 2013

10 MOTIVOS POR QUE HUGO CHÁVEZ NÃO VAI DEIXAR SAUDADES

Não sou do tipo que se regozija com a morte de alguém. Esta sempre nos diminui, diz a sabedoria convencional. No entanto, é forçoso admitir que, em alguns casos - ditadores, por exemplo -, o desaparecimento físico de um indivíduo constitui, senão uma solução, pelo menos um alívio, uma libertação.

Hugo Chávez, o ditador in the making da Venezuela, encaixa-se perfeitamente nesse figurino. Falecido após longa doença no dia 5 de março - mesma data do 60. aniversário da morte de Josef Stálin, talvez o tipo perfeito de ditador -, Chávez não vai deixar saudades, a não ser para sua corriola.

Assim como Stálin, ele foi pranteado por milhões de admiradores, dentro e fora de seu país. Seu funeral, que se arrastou durante a semana, foi seu último gesto teatral, um espetáculo grotesco de necrofilia digno de Evita Perón, Khomeini e Kim Jong il. E, assim como nesses casos, há razões de sobra para não derramar uma lágrima por ele. Vejamos dez dessas razões:
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1 - Destruição da democracia - Chávez apareceu pela primeira vez para o mundo como o chefe militar de uma tentativa fracassada (e sangrenta) de golpe, em 1992, contra o governo constitucional do desacreditado Carlos Andrés Pérez. Preso, passou somente dois anos na cadeia, lançando-se então candidato a presidente. Nesse meio tempo, passou a cortejar a opinião pública, enquanto buscava o conselho político do tirano cubano Fidel Castro (a quem considerava seu mentor) e de uma figura hoje esquecida, o sociólogo argentino Norberto Ceresole, um personagem sinistro, defensor de idéias claramente neonazistas e antissemitas.

Chávez e Norberto Ceresole: o chefe da "revolução bolivariana" e seu guru
 
Munido da ambição de Castro e das teorias racistas e totalitárias de Ceresole, e
amparado num eficiente esquema de marketing político, Chávez conseguiu eleger-se em 1998, apresentando-se como um moderado. Uma vez no poder, rasgou suas promessas de campanha e pôs em ação seu projeto totalitário, à semelhança de Fidel. Em pouco tempo, impôs sua própria Constituição, interveio no Judiciário nomeando juízes dóceis e acabou com a independência dos Poderes, garantindo, por meio de referendos (como Hitler fez), uma permanência de 14 anos no poder, chamando a isso de "democracia participativa e protagônica".
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Não satisfeito com isso, o coronel tratou de dar sua própria interpretação casuística do texto constitucional sempre que os fatos teimavam em não se adaptar a seu esquema bolivariano, descumprindo a própria Constituição quando lhe convinha - a última vez que isso ocorreu foi em janeiro, quando, doente terminal em Cuba, conseguiu que fosse empossado ilegalmente na presidência o vice Nicolás Maduro, agora confirmado no cargo, novamente de forma ilegal (segundo a Constituição, em caso de morte ou ausência do titular, deve assumir a presidência da República o presidente da Assembléia Nacional, Diosdado Cabello).
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O candidato Chávez em 1998: e ele se dizia um democrata...

2 - Populismo desenfreado - Como todo tiranete que se preze, Chávez adotou o populismo com gosto, passando a adular as massas, sobretudo os mais pobres, ignorados por sucessivos governos oligárquicos. Desse modo, usou e abusou dos recursos públicos, garantidos pela renda do petróleo, para financiar projetos assistencialistas, as chamadas misiones, transformadas no carro-chefe de seu governo demagógico e paternalista (e que muitos vêem como seu "legado positivo").
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Como não poderia deixar de ser, as misiones transformaram-se num instrumento de controle político, criando uma grande rede de clientelismo e servindo para forjar uma legião de estadodependentes, que compõem, juntamente com os burocratas estatais e do PSUV (Partido Socialista Unificado da Venezuela, um nome copiado do partido criado por Fidel Castro em Cuba nos anos 60), o grosso da militância chavista. Esta, tornada dependente e infantilizada pelas benesses estatais, hoje chora a morte de seu "paizinho". 
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Nada disso, porém, adiantou muito: passados 14 anos de chavismo, os níveis de pobreza praticamente não mudaram, e 60% da população venezuelana continua pobre. Antes de Chávez, havia pobreza e democracia. Hoje, há pobreza e populismo. A política social foi talvez o maior fracasso do governo Chávez.
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3 - Desperdício de recursos públicos - O populismo não existe sem gastança, e nisso Chávez foi pródigo. Em seu governo, a gigantesca estatal de petróleo do país, a PDVSA, mandou às favas qualquer noção de meritocracia e virou um grande cabide de emprego para a militância, que se entregou gostosamente à tarefa de saquear o Erário. Recursos que deveriam ter sido investidos em tecnologia e produção foram desviados para financiar as misiones assistencialistas ou foram parar no bolso da companheirada. O resultado foi que o país aumentou sua dependência da exportação do petróleo, deixando de investir na diversificação da economia, o que gerou escassez e inflação (hoje, 80% dos alimentos consumidos no país são importados). Chávez também desperdiçou recursos para alimentar sua megalomania, gastando milhões em armas, iniciando uma corrida armamentista na América do Sul. Também desperdiçou recursos de outros países, como no caso da refinaria de petróleo Abreu e Lima, em Pernambuco, que já custou milhões aos cofres públicos brasileiros e que até agora não saiu do papel (não, presidenta Dilma, ele não era um "amigo do Brasil"...).   
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4 - Ataques à liberdade de expressão - Talvez a principal marca registrada de Chávez tenha sido os constantes atentados à liberdade de imprensa, que ele rotulava como "aliada das oligarquias". Chávez foi o presidente que fechou a emissora de rádio e TV mais antiga em funcionamento da América Latina, a RCTV, fundada em 1953. Perseguiu jornalistas, muitas vezes utilizando-se de subterfúgios, como acusá-los judicialmente de calúnia e de evasão fiscal, levando à prisão de vários e ao exílio de tantos outros. Embora a imprensa seja, ainda, teoricamente livre na Venezuela, seu espaço de atuação tem sido cada vez mais reduzido. Diariamente, militantes chavistas acossam jornalistas de oposição, e uma deputada chavista já chegou a invadir ao vivo uma emissão de TV para agredir um apresentador. Além disso, Chávez criou sua própria rede de TV, a Telesul, dedicada 24 horas a louvar seu governo e a fazer propaganda antiamericana. Outros políticos da região, como a argentina Cristina Kirchner e o equatoriano Rafael Correa, seguem na mesma direção. Deve ser por isso que Chávez angariou tantos simpatizantes também no Brasil, onde o governo Lula e o PT tudo fizeram para calar a imprensa não-alinhada - só não conseguiram porque o Brasil felizmente (ainda) não é a Venezuela.
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Milicianos chavistas: qualquer semelhança com o fascismo não é mera coincidência...

5 - Violência contra opositores - Em um regime como o chavista não poderia faltar o elemento da violência contra os que discordam do governo. Com a diferença de que, nesse aspecto, o chavismo resolveu inovar. Em vez de fuzilamentos, como em Cuba, Chávez preferiu terceirizar a repressão, entregando-a a milícias armadas pelo regime, inspiradas nos CDRs (Comitês de Defesa da Revolução) cubanos. Essas milícias, ou "círculos bolivarianos" intensificaram sua ação principalmente após o controverso "golpe" de abril de 2002, no qual Chávez foi temporariamente afastado (ou renunciou, até hoje não se sabe) depois do massacre de 15 manifestantes oposicionistas que participavam de uma marcha contra Chávez em Caracas. Desde então, a intimidação dos adversários políticos do chavismo, de forma ostensiva, tem sido comum na Venezuela, assim como começa a virar lugar-comum em outros países da região.

6 - Aumento do crime e da corrupção - Resultante diretamente dos fatores acima, o crime e a corrupção tornaram-se fora de controle na Venezuela do coronel Chávez.  Hoje, o país é o mais violento da América do Sul, com uma taxa de homicídios per capita superior a qualquer outro da região. Mais que isso, a Venezuela tornou-se, sob o chavismo, um paraíso do tráfico de drogas, convertendo-se num importante corredor de escoamento da cocaína proveniente da Colômbia para os EUA e a Europa. A isso soma-se a corrupção generalizada nos altos escalões governamentais, com o surgimento de uma burguesia bolivariana, tão entusiasta do "socialismo do século XXI" quanto rapace: nos últimos anos, a Venezuela tornou-se um dos maiores mercados consumidores mundiais de carros de luxo e de uísque, e a "revolução bolivariana" passou a ser conhecida popularmente como robolución. Sob Chávez, a Venezuela deixou de ser uma democracia corrompida para se tornar uma proto-ditadura corrupta.

7 - Apoio ao narcoterrismo - Se o regime chavista fosse somente corrupto e leniente com a violência, já seria um escândalo de grandes proporções. Mas Chávez foi além, e transformou a Venezuela num valhacouto de narcotraficantes e terroristas, apoiando abertamente as FARC colombianas, a quem classificou como uma "força beligerante". Em 2004, o "chanceler" das FARC, Rodrigo Granda, foi capturado em pleno centro de Caracas, onde vivia tranquilamente sem ser importunado pelo governo local, e entregue às autoridades colombianas. Chávez, em vez de reconhecer o absurdo de um chefe terrorista abrigado em seu país, ameaçou uma guerra com a Colômbia, ameaça que repetiu em 2008, quando Bogotá matou numa operação de guerra o número dois das FARC, Raúl Reyes, em cujo laptop foram encontradas provas incriminadoras das ligações dos narcoterroristas colombianos com o governo venezuelano (e também brasileiro, o que foi abafado). Pouco depois, descobriu-se que as FARC mantêm campos de treinamento em território venezuelano, e caixas de mísseis anti-tanque AT-4 pertencentes ao exército da Venezuela foram descobertas nos arsenais dos terroristas colombianos. A cada denúncia, Chávez respondeu sempre da mesma maneira: com ameaças de guerra e declarações de apoio às FARC. Foi também no seu governo que se descobriram planos do ETA basco juntamente com militantes chavistas de  assassinar membros do governo espanhol, denúncia esta que, uma vez feita, simplesmente sumiu do noticiário.    
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8 - Aliança com ditadores - O chavismo jamais escondeu suas ambições continentais e mesmo extra-continentais. Como todo regime autoritário e megalômano, sentiu-se atraído por regimes semelhantes, com os quais forjou, graças à ideologia antiamericana comum e aos dólares abundantes do petróleo, sólidas alianças. Entre as tiranias com as quais Chávez se aliou, está a de Cuba, cuja ditadura comunista sobrevive hoje à base dos 100 mil barris de petróleo diários e dos seis bilhões de dólares de ajuda anuais fornecidos pela Venezuela, que substituiu a finada URSS como principal lastro do falido regime cubano. Juntamente com os Castro e com outros governos afins da América Latina (Equador, Bolívia, Nicarágua etc.), Chávez criou uma organização, a ALBA (Aliança Bolivariana das Américas) para confrontar os EUA (seu antiamericanismo, porém, não o impediu de continuar a abastecer o Tio Sam com 15% do petróleo que os americanos importam). 

Outros regimes tirânicos que contaram ou contam com o apoio camarada de Caracas são o do finado ditador líbio Muamar Kadafi, a ditadura teocrática iraniana do antissemita, patrocinador do terrorismo, negador do Holocausto e louco nuclear Mahmoud Ahmadinejad, o regime assassino sírio de Bashar al-Assad e a Bielorússia do último ditador da Europa, Alexander Lukashenko. Todos eles (com a exceção, claro, de Kadafi) mandaram representantes, ou estiveram presentes, bastante emocionados, nas exéquias do coronel em Caracas. Chávez também assinou acordos militares e buscou uma aliança estratégica com a Rússia de Vladimir Putin e com a China dos burocratas comunistas, novamente com o objetivo de enfrentar o "imperialismo ianque". 
O mestre e o pupilo
 
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9 - Ingerência nos assuntos internos de outros países - A proto-ditadura chavista não se contentou em restringir-se a suas próprias fronteiras. Obcecado por Simón Bolívar, o "libertador das Américas", Chávez quis ser ele próprio o Bolívar do século XXI, esquecendo-se, porém, de que Bolívar lutou para libertar as colônias sul-americanas do jugo espanhol, enquanto ele, Chávez, tratou de intervir descaradamente em vários Estados soberanos. As ambições megalomaníacas de Chávez levaram-no a patrocinar uma tentativa de golpe no Peru, em 2005; a arquitetar a volta clandestina (com a vergonhosa cumplicidade do governo Lula) de um presidente golpista deposto legalmente em Honduras, em 2009; e a tentar insuflar um golpe militar para derrubar um presidente constitucional empossado após o impeachment de um aliado no Paraguai, em 2012 (em vez de ter sido repreendido por isso, Chávez foi recompensado com a entrada - ilegal - da Venezuela no Mercosul...). Sem falar no apoio às FARC e nas malas de dinheiro para a candidatura dos Kirchner na Argentina. 

Em todos esses movimentos, Chávez contou com o apoio e a cumplicidade dos companheiros do Foro de São Paulo, criado por Lula e por Fidel Castro em 1990 para "restaurar na América Latina o que se perdeu no Leste Europeu". Tentando emular seu ídolo Bolívar, o coronel igualou-se a Fidel Castro, que apoiou diversos movimentos terroristas na América Latina nos anos 60, tentando igualmente "exportar" sua "revolução". Só conseguiu, na verdade, equiparar-se a um Napoleão de hospício com sonhos grandiloquentes.


Chávez, o pistoleiro maluco
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10 - Falsificação da História - A exemplo de todos os ditadores, Chávez, um obcecado pela História, tentou reescrevê-la para que se ajustasse a sua "revolução bolivariana". O culto de sua personalidade precisava de um símbolo, um herói nacional, e ele foi encontrá-lo na figura de Simón Bolívar, que ele buscou apresentar sob uma roupagem "socialista". Logo Bolívar, um aristocrata que desprezava negros e mestiços, a quem o próprio Karl Marx, num célebre artigo de 1858, chamou de incompetente e covarde, um "Napoleão das retiradas"... Chávez não deu importância a esses fatos, tratando de levar o culto ao Bolívar por ele idealizado até o nome do país, rebatizado de República Bolivariana da Venezuela. E assim como inventou uma cabala da oligarquia colombiana para matar Bolívar, chegando ao ponto de desenterrar o corpo do Libertador para tentar provar essa tese, estimulou todo tipo de teorias conspiratórias. Estas seriam somente ridículas se não revelassem também um forte e inegável traço de insanidade: por exemplo, o terremoto que devastou o Haiti em 2010 teria sido obra de uma "arma secreta" da Marinha dos EUA, e o capitalismo teria destruído a civilização em Marte! (Aliás, os chavistas nem esperaram o defunto esfriar para começar a falar que Chávez foi vítima de um "ataque" de seus inimigos...)

A todos esses fatos poderíamos acrescentar, ainda, a desmoralização do Mercosul, transformado num palanque político para Chávez e suas diatribes antiamericanas, de um nível capaz de corar de vergonha até um militante da UNE. Ou a redução da política a um circo (literalmente), uma palhaçada comandada por um bufão que fez do próprio histrionismo uma forma de se comunicar com as massas... A lista seria interminável.  

Resta, porém, um alento: por suas próprias características, regimes autoritários personalistas, como o de Chávez, quase sempre chegam ao fim com a morte de seus líderes. Desaparecido o chefe, o guia genial e iluminado, simplesmente surge um grande vazio, pois em sua volta não floresce mais do que a sabujice e a mediocridade. Este parece ser o destino do chavismo: ser engolido por sua própria vacuidade ideológica.

Enfim, o legado de Chávez é uma prova de que o populismo não somente destrói as instituições; ele também emburrece e infantiliza. Chávez já vai tarde. Espero somente que a democracia retorne à Venezuela, e que não se cumpra o vaticínio do próprio Bolívar: “Lutar pela liberdade na América Latina é o mesmo que arar no mar".

domingo, julho 29, 2012

UMA CONSPIRAÇÃO A CÉU ABERTO - E A MAIOR OPERAÇÃO-ABAFA DA HISTÓRIA DO BRASIL

O vídeo que vocês verão a seguir deveria dispensar comentários. Digo deveria porque, apesar de ser a confissão de um crime - no caso, um crime contra a democracia em escala continental -, o delito e o delinquente certamente continuarão impunes. Pior: tanto um quanto o outro seguirão ignorados, como se o que está sendo dito logo abaixo não fosse real.

No vídeo, o Molusco Apedeuta, agora sem barba e com a voz rouca por causa da doença, envia uma mensagem de solidariedade aos "companheiros do Foro de São Paulo", que realizava então uma renião em Caracas, Venezuela, no começo de julho.  Praticamente não saiu uma linha sequer, não se falou absolutamente nada sobre o assunto, na imprensa brasileira. Mas Lula dá o serviço. Eis o que ele diz, com a cara mais lavada do mundo:

- Em primeiro lugar, ele lembra que, em 1990, quando o Foro foi criado (para, lembremos, restabelecer na América Latina o que se acabara de "perder" no Leste Europeu - ou seja: o comunismo), a esquerda estava no poder em apenas um país na América Latina - Cuba - e que, desde então, "governamos" - o "nós" inclui, obviamente, quem está hoje no poder na ilha caribenha - vários países do continente; 

- Afirma - e nisso está certo - que o Foro tem mudado radicalmente a face do continente, e que mesmo onde os partidos do Foro são oposição, eles têm uma influência crescente em seus países (o que também é verdade, infelizmente);

- Com a mesma desfaçatez com que nega, até hoje, a existência do mensalão, que está (finalmente!) para ser julgado no STF, repete mentiras deslavadas, afirmando que, graças ao Foro, os países por ele governados passam por uma fase de grande "crescimento econômico" - os números não mostram nada disso - e que "somos uma referência internacional de alternativa de sucesso ao neoliberalismo". Alternativa? De sucesso? Ao "neoliberalismo"?;

- Elogia as "conquistas extraordinárias" do governo populista e autoritário de Hugo Chávez na Venezuela, que vem arrastando o país para o caos econômico e social, dizendo que nunca as classes populares daquele país foram tratadas "com tanto respeito, carinho e dignidade" (sic); 

- Lamenta que Honduras e Paraguai, em que governos populistas e irresponsáveis foram destituídos de forma constitucional, tenham resistido às tentativas de Chávez de intervir nos assuntos internos para aniquilar as instituições. Lula não acha que Honduras e Paraguai sejam democracias. Democracia, para ele, é o que existe em Cuba e na Venezuela;

- Prosseguindo no desfile de cretinices, Lula fala ainda na existência de "colônias" na região, citando as Malvinas, cujos habitantes britânicos Cristina Kirchner quer porque quer converter em argentinos;

- Termina pedindo votos para seu companheiro Hugo Chávez - haverá eleições presidenciais na Venezuela em 7 de outubro -, dizendo "tua vitória será nossa vitória", no melhor estilo eternizado pelo deputado Cândido Vacarezza - aquele do "você é nosso, nós somos teu (sic)", lembram?.

Durante anos, o Foro de São Paulo foi um tabu na imprensa brasileira. Somente o Olavo de Carvalho falava do tema. Negava-se até mesmo a existência do Foro - falar sobre ele era coisa de alucinados e de teóricos da conspiração que viam comunistas em cada esquina etc. Somente em 2005, 15 anos depois da criação do Foro - isso mesmo: 15 anos depois! -, é que parte da imprensa brasileira, com a VEJA à frente, "descobriu" que a coisa existia de fato, e não era uma fantasia de mentes delirantes.  Mesmo assim, jornalistas companheiros acharam um jeito de botar panos quentes e evitar que a história crescesse: o Foro existia, mas era apenas um convescote sem consequências, uma simples reunião de amigos e nada mais, sem nenhuma influência na realidade dos países da região  - e isso apesar de farta documentação, que inclui resoluções (alguém já viu uma reunião de amigos com resoluções?). Enfim, uma coisa assim, sem importância (deve ter sido por isso que, assim que o assunto veio à baila, as atas do Foro sumiram do site oficial da Presidência da República). Agora essa teoria é desmentida, de forma acachapante, por ninguém menos do que um dos criadores do Foro, que faz questão de mostrar, até vangloriando-se, que a organização mudou e vem mudando radicalmente - para pior - a realidade política da América Latina. 

Um fato que vale a pena lembrar: quem até um dia desses participava ativamente do Foro de São Paulo, além de partidos como PT e PCdoB e da ditadura comunista cubana dos irmãos Castro, sem falar em governos "progressistas" como os de Hugo Chávez, Evo Morales e Rafael Correa, eram as FARC, os narcoterroristas colombianos.  Desnecessário dizer que, assim que a VEJA mencionou pela primeira vez a existência do Foro, não faltou quem se apressasse a "esclarecer" que as FARC dele não mais faziam parte e que isso era coisa do passado etc. e tal (isso depois de terem negado, durante uma década e meia, que o Foro existia). Só esqueceram de mencionar que tal organização narcoterrorista jamais foi expulsa, tendo-se retirado discretamente assim que se tornou impossível esconder a notícia da existência do Foro - e da vinculação das FARC com o PT. Vinculação que a descoberta dos arquivos do computador pessoal do número dois das FARC, Raúl Reyes, morto no Equador em 2008, tornou mais difícil esconder - outro assunto que estranhamente continua ignorado na grande imprensa nacional. Alguma relação com o fato de o governo brasileiro, pela voz de Marco Aurélio Garcia (ex-presidente do Foro e habitué de suas reuniões), declarar-se "neutro" em relação às FARC, colocando os narcobandoleiros, portanto, no mesmo nível de legitimidade do governo colombiano democraticamente constituído? Tirem suas próprias conclusões.

Em qualquer país sério, os fatos acima seriam suficientes para levar figuras como Lula às barras de um tribunal ou, pelo menos, a ser intimado a dar explicações numa CPI. Por muito menos do que está no vídeo, seria algemado e expulso da vida política para sempre. Mas estamos no Brasil, onde não há oposição. Por estas bandas, simplesmente proclamar um fato, juntar lé com cré, é visto como a pior das heresias. Daí vídeos asquerosos como este não causarem escândalo, sequer um comentário.

Nunca na História do universo uma conspiração internacional, envolvendo inclusive terroristas e narcotraficantes, para tomar o poder e destruir as instituições democráticas em um continente inteiro esteve mais bem documentada. E nunca - nunca mesmo - houve uma operação tão abrangente para ocultá-la dos olhos do público. E com tanto êxito. O que leva à seguinte conclusão: não basta divulgar a verdade; é preciso encontrar pessoas dispostas a ouvi-la.  Se estiverem narcotizadas por um estupefaciente mental chamado lulopetismo, continuarão cegas, surdas e mudas ao que se passa em sua volta. Os brasileiros, esses distraídos, estão anestesiados. Ou corrompidos.

Claro, certamente haverá quem procure diminuir o que está no vídeo, dizendo que ele não "prova" nada, no máximo que Lula e o PT se movem, em termos ideológicos, no terreno da ambigüidade e da duplicidade, o que não é nenhuma novidade etc. etc. Nesse caso, seria forçoso admitir que Lula e o PT têm uma agenda secreta. Com o detalhe de que nem secreta ela é.

Assistam e comprovem:

segunda-feira, julho 02, 2012

CONFORME EU QUERIA DEMONSTRAR - A MORTE DO MERCOSUL

Escrevi o texto abaixo em 30/10/2009. Continua mais atual do que nunca, por isso o republico. Vejam a palhaçada que foi a entrada da Venezuela de Hugo Chavez no Mercosul e a suspensão do Paraguai do bloco. Um é uma ditadura, outro é um país em que um presidente foi deposto segundo as normas constitucionais. Está claro que toda a gritaria sobre "golpe" no Paraguai não passou de uma desculpa para os bolivarianos e seus amigos darem um golpe de verdade, mandando a cláusula democrática do Mercosul para as cucuias.

Notem como, quase três anos atrás, os parlamentares brasileiros já preparavam o caminho para golpear o Mercosul com a entrada da Venezuela. O Mercosul, que já nao funcionava, agora será um palanque do chavismo.
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O FIM DO MERCOSUL

Um minuto de silêncio, por favor.

Faleceu ontem, 29/10, o Mercosul - Mercado Comum do Sul. Morreu vítima de cinismo e de vigarice. Quem o matou foram os senadores brasileiros. Em reunião no Conselho de Relações Exteriores do Senado, estes decidiram, por 12 votos a 5, a favor da entrada da Venezuela chavista no bloco.

De nada adiantou o relatório inicial do senador Tasso Jereissati (PSDB-CE), contrário à medida. O rolo compressor lulo-petista e a falta de oposição real no País falaram mais alto, garantindo a vitória do pleito, para a alegria de senadores governistas comprometidos com os princípios dos direitos humanos e da democracia, como Inácio Arruda (PCdoB - CE).

Juntamente com o bloco, serão enterrados os documentos-base do Mercosul, como o Protocolo de Ushuaia, que estabelece a cláusula democrática - ou seja, que somente países em que as regras da democracia sejam respeitadas e cumpridas poderão participar do bloco. Farão companhia à honestidade e à vergonha na cara, que já bateram as botas faz tempo.

Foram duas as desculpas dos coveiros do Mercosul para justificar o magnicídio: 1) é melhor integrar do que isolar; e 2) quem fará parte do bloco é o Estado venezuelano, não o governo de Hugo Chávez.

As duas desculpas são apenas isso: desculpas, e das mais esfarrapadas. Trata-se de uma argumentação que seria estúpida, se não fosse vigarista. Coisa de canalhas mesmo, de gente sem nenhuma consideração pela verdade nem pela inteligência alheia.

Primeiro: o argumento do "não-isolamento" é desmentido pelos fatos. A idéia é que, ao não isolar a semi-ditadura chavista dos demais países, o país melhoraria e caminharia rumo à democracia. Devemos conversar com os ditadores, convidá-los para jantar e para freqüentar nossos salões, e eles se converterão em democratas, é o que se está dizendo. É o mesmo argumento usado para justificar a política brasileira e da OEA em relação à ditadura castrista de Cuba. É uma falsidade completa. Nos últimos anos, o regime chavista foi tudo, menos isolado internacionalmente, e isso não o fez avançar um milímetro em direção à democracia. Chávez não deixou de ser Chávez, ou seja, não melhorou nada, por causa disso. Pelo contrário: os países que tiveram contato com ele, Chávez, pioraram bastante - vejam os exemplos de Bolívia, Equador, Nicarágua e Honduras. O mesmo no caso de Cuba: há tempos os países do continente, Brasil inclusive, vêm defendendo o diálogo com a tirania castrista. Isso levou a algum tipo de abertura ou democratização do regime nos últimos cinqüenta anos?

Para não ir muito longe: o regime racista do apartheid na África do Sul caiu, em 1990, não porque fosse paparicado pelos demais países, mas, pelo contrário, porque a "comunidade internacional" - a mesma que hoje baba por Cuba e tenta isolar Honduras - fez pressão e defendeu o ISOLAMENTO do país (do país mesmo, e não somente do "governo"). Até boicote na área esportiva houve. É um exemplo de que esse papo de "não-isolamento" não passa de colóquio para ruminantes adormecerem (traduzindo: não passa de conversa pra boi dormir).

Em outras palavras: de acordo com a diplomacia brasileira, chancelada pelos senadores brasileiros, nada de isolar regimes humanistas como os do Sudão ou do Irã, ou de Cuba ou da Coréia do Norte, com os quais se pode conversar; isolar, só se for uma ditadura brutal e genocida, como a de Honduras.

Quanto ao segundo argumento, de que quem está entrando no Merdosul, digo Mercosul, é o país-Venezuela, não o país-Chávez, é outra cascata da grossa: quem a defende, gente do naipe do senador governista (de qualquer governo) Romero Jucá (PMDB-RR), aposta que todos sejam idiotas, ou que não saibam de nada que está acontecendo na Venezuela. Desde que Chávez chegou ao poder, há dez anos, ele deixou claro para quem quiser saber que só deixará o trono quando passar desta para melhor (ou para pior, espero sinceramente). Dito de outro modo: ele vai ficar na presidência até morrer. Para isso ele já tomou e está tomando todas as providências: submeteu o Judiciário, acabrestou o Congresso, acabou com a separação de Poderes e ameaça, todos os dias, a imprensa que o critica com prisões e censura. Isso significa que votar pela entrada da Venezuela no Mercosul, neste momento, é o mesmo que avalizar o governo Chávez. Do mesmo modo que fazer um acordo com a Alemanha nos anos 30 seria o mesmo que referendar o nazismo. É provável, aliás, que a ditadura chavista dure mais tempo do que o Mercosul.

Nada que está aí em cima, claro, foi levado em conta pelos senhores senadores brasileiros. Assim como não foi levado em conta pelos Congressos argentino e uruguaio, que já aprovaram o ingresso da Venezuela no Mercosul. Agora a votação final será no plenário do Senado. É bastante provável que este confirme a decisão da Comissão de Relações Exteriores. Nesse caso, terá sido dado o tiro de misericórdia no Mercosul.
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O Mercosul nasceu da necessidade de integração regional decorrente da democratização da América do Sul, nos anos 80, e acaba seus dias, ingloriamente, como palanque de um caudilho autoritário e populista.
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Descanse em paz, Mercosul. Que a terra lhe seja leve. Que pena, era tão jovem... Acendamos uma vela.

terça-feira, março 04, 2008

"A COLÔMBIA É O ISRAEL DA AMÉRICA LATINA", DIZ CHÁVEZ. E A VENEZUELA É O IRÃ


Frase do fanfarrão venezuelano Hugo Chávez dita ontem, quando estourou a crise político-diplomática com a Colômbia por causa da morte de um facínora das FARC: "A Colômbia é o Israel da América Latina".

Pela primeira vez vou concordar com algo dito pelo palhaço de Miraflores. Sem querer, ele fez uma analogia correta. A Colômbia pode mesmo ser comparada a Israel. Afinal, ambos os países estão há décadas sitiados por movimentos terroristas que agem dentro de suas fronteiras e por governos hostis, que lhes dão apoio. E ambos são constantemente atacados por exercerem o direito elementar de se defenderem, tendo muitas vezes de realizar incursões nos países vizinhos para caçar terroristas que lá buscam - e conseguem - refúgio. Sim, a Colômbia pode ser comparada a Israel. E os narcoterroristas das FARC são o Hamas, o Hizbollah. A Venezuela de Hugo Chávez é o Irã. E o Equador de seu pupilo Rafael Correa é a Síria.

Hugo Chávez não dá ponto sem nó. O Napoleão de circo sabe que grande parte da opinião pública latino-americana já está adestrada ideologicamente a se colocar de forma automática contra os EUA e Israel, e ao lado dos terroristas palestinos. Nisso ele conta com décadas, senão séculos, de propaganda anti-semita. Sabe que muita gente, inclusive gente que se considera ilustrada e progressista, que fica indignadíssima quando o exército israelense responde a algum atentado terrorista palestino, como está ocorrendo agora mesmo na Faixa de Gaza, não se importaria se os assassinos do Hamas ou do Hizbollah cumprissem o que juraram fazer há anos, promovendo um novo Holocausto e atirando os judeus ao mar. Preferem protestar contra uma declaração infeliz do vice-ministro da Defesa israelense, que ameaçou os facínoras do Hamas com duras represálias caso continuem atacando Israel, a condenar de forma clara e sem ambigüidades o terrorismo anti-Israel. O mesmo faz agora o governo "moderado" e "progressista" do Brasil, que prefere pedir que a Colômbia se desculpe ante o Equador por uma "violação de soberania", enquanto se recusa a condenar as FARC e até mesmo a chamá-las de terroristas. Coloca-se, assim, ao lado das FARC/Hamas contra a Colômbia/Israel.

Ao comparar Colômbia e Israel, enquanto fornece apoio e dinheiro aos narcoterroristas das FARC, Chávez se iguala a seu companheiro Mahmud Ahmadinejad, do Irã. O coronel venezuelano está se esforçando para transformar a América Latina num novo Oriente Médio. Com o apoio de seus aliados equatorianos e brasileiros, está conseguindo.

segunda-feira, março 03, 2008

A COMÉDIA DE CHÁVEZ, CORREA E DAS F.A.R.C: A GUERRA DOS "COMPAÑEROS"


Aconteceu. Hugo Chávez conseguiu o que queria. Finalmente o Napoleão de circo venezuelano deflagrou uma crise política e diplomática séria com a Colômbia, que pode vir a degenerar em guerra aberta. Espera, com isso, igualar-se a seu ídolo, Bolívar, realizando seus sonhos de grandeza. Não contente em arruinar a economia de seu país, apesar da abundância do petróleo, ele agora quer arrastar toda a região para o abismo. Está a um passo de fazer isso. Certamente fará, se não for detido.

O mais curioso, ou nem tanto assim, em se tratando de Chávez, foi o estopim da atual crise entre Venezuela e Colômbia: um ataque do exército colombiano, em território do Equador. No ataque, foram mortos 17 guerrilheiros das FARC, os narcoterroristas que Chávez quer ver elevados à categoria de "força beligerante", inclusive seu porta-voz e número dois, Raúl Reyes. O governo do Equador, presidido por um pupilo de Chávez, o enfant terrible Rafael Correa, protestou pelo que considerou uma invasão de seu território e mandou retirar seu embaixador em Bogotá. Chávez, cujas relações com o presidente colombiano Álvaro Uribe já andavam estremecidas por seu apoio velado às FARC e sua insistência em "intermediar" as negociações entre os narcoterroristas colombianos e o governo de Bogotá, fez o mesmo, rompendo relações com a Colômbia e enviando tanques e aviões para a fronteira entre os dois países. Enquanto isso, o governo colombiano apresenta documentos que provam que o Equador dava refúgio aos guerrilheiros. Falta pouco para estourar uma guerra na região.

Por que Chávez está tão bravo? A resposta é simples: o governo da Colômbia assestou um duro golpe contra um seu importante aliado. Como todos sabem, Chávez é parceiro e cúmplice das FARC, assim como Correa. Isso ficou claro como o mar do Caribe quando do caso dos reféns seqüestrados pelos bandidos colombianos, que Chávez tentou transformar num circo midiático para se promover internacionalmente, ao mesmo tempo em que interferia abertamente na política interna colombiana, reconhecendo as FARC como "força beligerante". A morte de Raúl Reyes, portanto, significa a perda de mais um compañero. Não por acaso, Chávez chegou mesmo a prantear o narcoterrorista morto com um minuto de silêncio na televisão, enquanto chamava a eliminação do facínora de "assassinato" - pelo visto o que as FARC fazem há quarenta anos, segundo ele, deve ser filantropia -, num gesto equivalente a Lula decretar luto oficial pela morte de um chefe do narcotráfico numa favela carioca... Quanto a Correa do Equador, deveria estar grato à Colômbia por ter livrado a humanidade de mais um criminoso, traficante e assassino, mas, em vez disso, vocifera contra Bogotá. Explica-se: assim como Chávez, ele é parceiro das FARC.

Há tempos venho denunciando, aqui neste blog, as artimanhas do sargentão Hugo Chávez e seus aliados. Nem ele, nem Correa, estão interessados numa solução pacífica para o conflito colombiano, ou qualquer coisa que o valha. Pelo contrário. Chávez não se conforma com o fato de que a Colômbia seja governada por um homem que transformou a eliminação das FARC numa questão de honra para si mesmo e para seu país. O que ele, Chávez, deseja é explorar ao máximo o conflito, tanto por motivos políticos como narcisísticos. Isso ficou demonstrado claramente no caso dos reféns colombianos. Chávez cultiva a lógica do confronto, do enfrentamento, buscando aparecer como o campeão da "luta contra o imperialismo" (ou seja: contra os EUA) na América Latina, assim como já fez seu ídolo e mentor Fidel Castro, que ainda tem admiradores devotos. Desse modo, ele espera projetar-se na arena internacional, ao mesmo tempo em que consolida seu poder interno, armando suas milícias e sufocando a oposição. O governo de Álvaro Uribe na Colômbia é uma pedra no sapato dessa sua estratégia. Daí a corrida armamentista que ele vem implantando nos últimos anos (para "enfrentar uma invasão imperialista", diz), com a aquisição de milhares de fuzis russos Kalashnikov - o mesmo tipo utilizado pelas FARC - e modernos caças SU-30. Ele quer ser, enfim, o novo Napoleão das Américas. Só precisa de uma guerra.

Não é a primeira vez que a oportunidade para tanto se apresenta ao fanfarrão venezuelano. No final de 2004 e começo de 2005, outra grave crise estourou entre a Venezuela e a Colômbia, quando policiais venezuelanos capturaram e entregaram às autoridades colombianas, em troca de uma recompensa, o "chanceler" das FARC, Rodrigo Granda. Granda, que tinha dupla nacionalidade, se encontrava em Caracas, como representante das FARC, num congresso patrocinado e realizado sob os auspícios do governo da Venezuela. Chávez acusou então a Colômbia, como Correa o está fazendo agora, de "violar a soberania" do país, transformando em patriotada o que era, na verdade, um caso escandaloso de um governo dando guarida e refúgio a um procurado terrorista. A história, agora, parece repetir-se, com um ingrediante explosivo de alta intensidade.

E o Brasil, como fica nisso tudo? Como não poderia deixar de ser, o governo Lula da Silva já deu sinais de sua notória pusilanimidade, tentando esconder o que até cego já viu: sua cumplicidade com Chávez e Correa. O ghost-chancellor Marco Aurélio "Top, Top, Top" Garcia já foi à imprensa para dizer que o Brasil está disposto a "usar toda a força da diplomacia brasileira para ajudar na solução da crise" etc. e tal. Balela, pura balela. Nessa crise, o governo dos petralhas já escolheu de que lado está. E não é o da paz e da democracia. Pelo contrário: Lula e Marco Aurélio Garcia também devem estar bastante tristes, pois afinal Raúl Reyes, o número dois das FARC morto pelos soldados colombianos, era seu companheiro no Foro de S. Paulo, do qual já falei aqui várias vezes. Por isso tenho fortes razões para crer que, caso irrompa uma guerra declarada entre Bogotá e Caracas, a frase do camarada Garcia - "usar toda a força da diplomacia brasileira" - não deixará dúvida alguma sobre seu real significado. O governo Lula já entregou dois atletas cubanos que queriam escapar para o exílio de volta à ditadura comunista cubana, metendo-os às pressas, na calada da noite, num jatinho fretado pelo governo venezuelano, agindo assim como capitão-do-mato a serviço de Fidel Castro. Alguém duvida de que lado se colocarão os companheiros petistas numa eventual guerra entre Uribe e o compañero Hugo Chávez?

Claro, não faltarão idiotas que darão ouvidos às arengas demagógicas de Chávez, acreditando, por exemplo, que o culpado pela crise é o governo do "americanófilo" Uribe, que, ao fechar o cerco sobre as FARC, estaria "colocando em risco a vida dos reféns", vejam só... Já começou a aparecer quem afirma essa absurdo. Ora, se alguém ameaça a vida dos reféns das FARC, não é o governo colombiano, que está cumprindo sua função, mas os narcoterroristas que os mantêm acorrentados a árvores e ameaçam fuzilá-los em caso de ataque do governo. Também haverá almas piedosas que lamentarão a morte de Raúl Reyes e seus capangas, e afirmarão que a ofensiva militar do governo Uribe contra as FARC é um passo atrás nas negociações etre governo e guerrilha... Como se o que as FARC realmente quisessem, nessas negociações, fosse a paz, e não estabelecer um "território independente" dentro da selva colombiana, de onde continuariam a realizar suas operações terroristas, matando, extorquindo, traficando e seqüestrando. A situação na Colômbia pode ser resumida da seguinte maneira: de um lado, um governo democraticamente eleito, que luta para fazer valer o império da lei e neutralizar uma guerrilha que há mais de 40 anos ensangüenta o país. De outro, um movimento armado terrorista, um subproduto da Guerra Fria, sustentado pelo narcotráfico e pelos seqüestros de quase 800 pessoas, que luta para instaurar no país uma ditadura comunista, e que conta com o apoio dos governos mais autoritários e retrógrados do continente. A Colômbia é, hoje, um país duplamente sitiado: internamente, pelas guerrilhas narcoterroristas das FARC e do ELN; externamente, pelos governos irresponsáveis e populistas de Chávez e Correa. Mesmo assim, tem gente que acha difícil discernir entre o bem e o mal nesse caso, assim como acham maniqueísmo simplista dizer que a ditadura de Fidel Castro é uma ditadura.

Em outro texto, afirmei que, com figuras como Chávez e Correa, a fascistização da América Latina está apenas começando. Eu me enganei. Este processo já vai bem adiantado. Chávez está prestes a cruzar o Rubicão.

terça-feira, maio 08, 2007

HUGO CHÁVEZ, OU O TOTALITARISMO DO SÉCULO XXI*


É triste o destino das esquerdas. Depois de mergulharem de cabeça na ilusão marxista, que intoxicou milhões de corações e mentes no mundo todo após a Revolução de outubro de 1917 na Rússia - tornando-se portanto cúmplices dos milhões de mortos gerados pelo comunismo no século XX -, estas se deixaram enganar por ditaduras como a de Fidel Castro em Cuba e por empulhações como o "pós-modernismo" e outras idiotices semelhantes, que geraram o discurso "politicamente correto". Agora, nossos esquerdistas, órfãos de qualquer referência após a queda do Muro de Berlim e o colapso da URSS, encontraram outro ícone da revolução mundial para idolatrar, outro "líder de novo tipo"(como gosta de dizer o editor do Le Monde Diplomatique, Ignacio Ramonet). Enfim, outro guia genial dos povos, o herói dos fracos e oprimidos. Quem? Ele, o Presidente da República Bolivariana da Venezuela, o Coronel Hugo Rafael Chávez Frías.

Tendo estagiado na Embaixada do Brasil em Caracas de 2004 a 2005, tive a oportunidade de ver de perto a tal "revolução bolivariana" que o Comandante - é assim que ele é chamado por seus seguidores - Hugo Chávez vem implantando na Venezuela. Pude constatar até que ponto vai a manipulação da História e da vida política da nação, em favor de um projeto pessoal e narcisista de poder, chancelado pelo plebiscito de 15/08/2004, que confirmou a permanência de Chávez na presidência da República. Pude verificar, também, o grau de ingenuidade e ignorância (para ser caridoso) com que muitos dos intelectuais brazucas enxergam nosso vizinho problemático. Para se ter uma idéia do que digo, vou contar apenas uma história, que mais parece uma anedota.

Às vésperas do plebiscito que confirmou a permanência de Chávez no Palácio de Miraflores, um grupo de intelectuais brasileiros (dos quais fazia parte, ao lado de figurinhas carimbadas do esquerdismo tupiniquim, nomes como o de Chico Buarque de Holanda, certamente sem nada melhor para fazer no momento) resolveu publicar um manifesto, em que enaltecia a "iniciativa" do Presidente Hugo Chávez de "se submeter, voluntariamente" ao escrutínio popular em um referendo, coisa inédita na história mundial. Desse modo, buscavam apresentá-lo como um governante magnânimo e um verdadeiro democrata, que estaria colocando seu próprio cargo em jogo em favor da livre manifestação da vontade do povo.

Acontece que a tal iniciativa a que o manifesto se referia não partiu de Chávez coisa nenhuma. Partiu, isto sim, da oposição a ele que, utilizando-se de um dispositivo constitucional, durante mais de um ano lutou na Justiça para conseguir validar os milhares de assinaturas que pediam a convocação do plebiscito. Enquanto isso, Chávez e sua tropa de choque fizeram literalmente de tudo para impedir a realização da consulta popular! (E como, mesmo assim, ele se saiu vitorioso? A resposta a esta pergunta deve ser buscada nos estranhos mecanismos que comandaram o processo eleitoral... mas isso é outra história). Assim, os autores do manifesto, ao louvarem a realização do plebiscito, estavam, na realidade, enaltecendo a oposição a Chávez, e não o próprio.

Isso é apenas uma pequena mostra, embora significativa, do nível de confusão e de auto-engano a que se submeteram os defensores do Coronel fora da Venezuela. Dentro do país, por sua vez, o que existe é uma situação de crise permanente, provocada pelo desmoronamento das instituições republicanas, em função da ação de Chávez e de seus asseclas. A Venezuela de hoje, se não é ainda uma ditadura com todas as letras, está muito longe de ser uma democracia. Chávez recebeu carta-branca do Parlamento - controlado por ele - para governar do jeito que quiser, como quiser, e até quando quiser. A clássica separação de poderes, condição sine qua non do Estado de Direito Democrático, há muito deixou de existir. Existem hoje na Venezuela não três, mas cinco - cinco! - poderes (Executivo, Legislativo, Judiciário, Cidadão e Eleitoral), todos meras fachadas para garantir o poder do "Comandante". Para dar um lustre, digamos, popular à sua ditadura de facto, o coronel venezuelano apela constantemente à máquina política do Estado, mediante a ação de seus seguidores do Movimento Quinta República (MVR) e dos "círculos bolivarianos" espalhados nos bairros pobres, e chama isso de "democracia participativa e protagônica". Pior: tudo isso a serviço de um modelo ideológico falido, uma mistura de nacionalismo, estatismo e militarismo que, à falta de uma definição clara e precisa, foi apelidado pomposamente de "socialismo do século XXI" - na verdade um simples rótulo para classificar o velho populismo e o caudilhismo latino-americanos. É o totalitarismo do século XXI, que não ousa dizer o nome.

Por toda parte a que se vá no país, sente-se um clima de déjà vu, de paródia; respira-se um ar de tapeação, como na célebre frase de Marx sobre a História repetindo-se primeiro como tragédia, depois como farsa. Cartazes com o rosto de Chávez, sozinho ou ao lado de ditadores como Fidel Castro - seu mentor político - ou de heróis nacionais como o onipresente Simón Bolívar são vistos em vários lugares de Caracas, no melhor figurino totalitário, como um Stálin ou um Mussolini tropical. Hábil comunicador, Chávez costuma desfilar seus impropérios contra Bush e o "império" em linguagem de cortiço. Para tanto, ele tem até um programa dominical de TV, no qual anuncia as decisões de seu governo, entre um e outro interminável monólogo contra os EUA, o imperialismo, a globalização etc., para o delírio de claques especialmente selecionadas de perfeitos idiotas latino-americanos.

A utilização da mídia, aliás, tem lugar de destaque na chamada "revolução" chavista. Além da farta propaganda oficial, ultimamente Chávez vem investindo pesado contra as redes e jornais que lhe fazem oposição, mandando fechar, por exemplo, a mais antiga rede de TV do país, acusada por ele de "golpista". Além disso, o governo já baixou um decreto de censura aos meios de comunicação - apelidado de "Lei Mordaça" -, impondo uma série de limites à liberdade de expressão. Em lugar de uma imprensa livre, Chávez resolveu patrocinar, juntamente com a Bolívia, o Brasil, a Argentina e o Uruguai, a criação de um canal de TV chapa-branca, a Telesul, para fazer concorrência, segundo ele, às grandes redes norte-americanas como a CNN e a Fox News e divulgar a "verdadeira" versão dos fatos. Desnecessário dizer que se trata, na verdade, de mais um veículo de propaganda ideológica oficial a serviço do chavismo.

A ASCENSÃO DO CAUDILHO

Mas como um indivíduo tão escancaradamente desqualificado, com um discurso tão anacrônico e intenções claramente autoritárias, para não dizer totalitárias, conseguiu alçar-se à condição de principal fator de instabilidade na América Latina? A resposta para essa indagação, evidentemente, deve ser buscada na trajetória de Chávez, que se confunde com a da própria Venezuela em anos recentes. País rico em petróleo - é o quinto maior produtor mundial do produto -, com uma tradição de quarenta anos de democracia e estabilidade política de 1958 a 1998 (quando, tirando algumas tentativas de guerrilha patrocinadas por Cuba nos anos 60, predominou um sistema na prática bipartidário), a Venezuela era, até meados dos anos 80, uma exceção na América Latina dominada por ditaduras militares e líderes populistas. A "Venezuela saudita", como se dizia então, ostentava alguns dos melhores índices econômicos e sociais do continente, graças à fartura do ouro negro. A vida política, dominada por dois partidos que se alternavam no governo - a AD e a COPEI -, transcorria com previsibilidade e monotonia quase suíças.

Entretanto, como sói acontecer com países que dependem de um único produto de exportação, não foi dada a devida atenção ao desenvolvimento de uma base industrial sólida. Assim, quando o boom do petróleo, que atingiu seu auge nos anos 70, chegou ao fim, o resultado foi uma explosão de descontentamento social. Este se refletiu de maneira trágica no famoso Caracazo de 1989, quando centenas de pessoas morreram em protestos nas ruas da capital contra um aumento do preço da gasolina, durante o segundo governo de Carlos Andrés Pérez (1989-1992).

Com os partidos e os políticos tradicionais desacreditados, estavam criadas as condições para o surgimento de líderes demagógicos e de um salvador da pátria. Este veio, finalmente, da única instituição que ainda não era considerada contaminada pelo descrédito e pela corrupção reinantes, as Forças Armadas, na forma de uma tentativa sangrenta de golpe militar, em fevereiro de 1992 (seguida de outra, igualmente sangrenta, alguns meses depois). À frente dessa primeira intentona putschista, estava um até então desconhecido tenente-coronel do Exército, vindo de um lugar obscuro no interior. Seu nome: Hugo Chávez.

Desde então, Chávez apenas colheu os frutos do esfacelamento do sistema político venezuelano, à medida que a crise econômica e social se agravava. Precisava apenas de um referencial histórico (Bolívar, certamente se revirando no túmulo) e de um suporte ideológico. Este veio, finalmente, de outro regime cambaleante, o de Fidel Castro em Cuba, com quem Chávez foi buscar conselhos e inspiração logo após sair da prisão, em 1994. Ao contrário do moribundo regime democrático de Caracas, porém, o de Fidel Castro tinha algo a oferecer ao recém-libertado coronel golpista venezuelano: uma fórmula para conquistar e - principalmente - manter o poder, um projeto político de caráter ditatorial - e os meios para isso.

Outra fonte de inspiração, menos conhecida, para as parlapatices chavistas foram os escritos de Norberto Ceresole, idéologo fascista argentino, já falecido, que entre suas façanhas contava a de ter assessorado a ditadura militar do general Viola na Argentina nos anos 70, e para o qual a derrota das forças de Hitler e Mussolini na 2a Guerra "foi uma tragédia para a América Latina". De Ceresole - que foi mesmo, ao lado do ditador de Cuba, o guru de Chávez nos anos que se seguiram à sua soltura da prisão -, o coronel venezuelano aproveitou a tese do "Exército-Caudilho-Povo", segundo a qual estas três forças juntas deveriam constituir a base da "revolução" pretendida - ou seja, uma mistura de militarismo, caudilhismo e populismo, com uma pitada de fascismo e de anti-semitismo. Dele extraiu também o antiamericanismo visceral, base da idéia de criar um eixo latino-americano de oposição aos EUA - usando, para tanto, a arma do petróleo. Daí os modelos políticos adotados por Chávez serem todos ditaduras - a de Fidel Castro em Cuba, a de Velasco Alvarado no Peru, a do coronel Muamar Kadafi na Líbia etc -, o que faz dele um personagem que está muito mais para Mussolini do que para Marx. Ao que parece, a multidão de idiotas úteis esquerdistas que ora idolatra o histrião de Caracas desconhece esse detalhe ou, então, prefere ignorá-lo.

Chávez não perdeu tempo. Ancorado no partido por ele criado, o MVR, e em sua crescente popularidade, principalmente - mas não exclusivamente - entre os setores mais pobres da população, foi fácil para ele chegar à presidência, em 1998. Na ocasião, ele tinha um discurso anódino, certamente inspirado na experiência de Fidel Castro em Cuba antes de impor sua ditadura, quando este jurava de pés juntos que era um democrata e anticomunista. Assim que botou os pés no palácio presidencial, porém, Chávez deu início a seu plano autoritário. O primeiro passo foi convocar uma Assembléia Constituinte para estabelecer uma nova Constituição, que lhe deu poderes ampliados. Em seguida, a composição do Supremo Tribunal também foi modificada, com a nomeação de juízes sintonizados com o novo governante. E, como que para marcar definitivamente uma ruptura com o passado, mudou-se o nome oficial do país, agora rebatizado de República Bolivariana da Venezuela (algo tão significativo quanto rebatizar o Brasil de República Tiradentina ou coisa que o valha). Com isso, o novo Presidente tratou de consolidar seu poder, sobretudo após os acontecimentos de abril de 2002, quando chegou a ser deposto (ou renunciou, não se sabe) por dois dias, antes de ser reconduzido ao governo por obra dos mesmos militares que o haviam apeado do cargo, em um episódio ainda hoje não esclarecido - e cuja versão oficial, claro, vem sendo desde então explorada ad nauseam pelo governo para fins de propaganda.

Ao mesmo tempo em que montava o aparato institucional necessário à sua perpetuação no poder, o "Comandante" tratou de ampliar sua base de sustentação política entre as camadas mais desfavorecidas da sociedade, mediante as chamadas misiones - programas improvisados de cunho assistencialista, como a Misión Robinson (de alfabetização) e a Misión Barrio Adentro (saúde), ambas levadas a cabo, respectivamente, por professores e médicos cubanos. Como em política não há vácuo, as comunidades assistidas por esses programas, agradecidas, passaram a fornecer o grosso da militância chavista, e tais programas, a despeito de sua eficiência bastante duvidosa, tornaram-se um importante instrumento para garantir a lealdade política ao chavismo: aqueles que assinaram a petição a favor do referendo contra Chávez, por exemplo, tiveram seus nomes incluídos numa lista e ficam de fora dos supostos ou reais benefícios desses programas. Como se vê, uma democracia verdadeiramente "participativa e protagônica".

OS BONS COMPANHEIROS

De todos os regimes com os quais o coronel venezuelano se identifica, o principal é a ditadura comunista de Fidel Castro em Cuba. A "revolução" de Chávez, aliás, não seria possível se não fosse pela candura e condescendência com que até hoje é tratada por muitos governos da região a ditadura castrista. É dela que Chávez retira a inspiração diária para impor sua ditadura pessoal, acumulando poderes, calando a oposição, estabelecendo aos poucos seu próprio culto à personalidade.

É patente a influência cubana nas medidas adotadas pelo regime de Chávez. Um exemplo: em 2005, os governos de Caracas e de Havana assinaram um acordo de cooperação policial que praticamente concede a agentes cubanos o privilégio da extraterritorialidade, ao permitir-lhes deter qualquer pessoa de nacionalidade cubana que viva na Venezuela e extraditá-la para Cuba, por delitos só existentes na legislação cubana (por exemplo: falar mal de Fidel Castro). Como a Venezuela tem uma população de exilados cubanos relativamente grande, tal medida tem um caráter claramente unilateral.

Também no terreno econômico o Comandante venezuelano parece ter buscado inspiração na ilha do Caribe: de 1999 para cá, o PIB da Venezuela vem despencando ladeira abaixo, o nível de vida da população só caiu, e os índices de criminalidade e de inflação crescem sem parar. (Exemplo quase cômico do descalabro do país sob Chávez foi a queda do viaduto que liga o aeroporto de Caracas à capital. É quase uma metáfora da situação do país desde que ele assumiu o poder). Mesmo assim, a Venezuela veio em socorro à ditadura cubana, tendo assumido hoje o papel que um dia já foi da ex-URSS, na forma de 100 mil barris diários de petróleo fornecidos praticamente de graça à ilha, em troca dos tais professores e médicos para as misiones.

Em todas as suas ações, é clara a intenção de Chávez de fazer da Venezuela uma cópia xerox de Cuba, assim como, em épocas passadas, Fidel Castro tentou transformar Cuba em um papel carbono da ex-URSS. Em consonância com esse fim, Chávez já anunciou, de uma penada, uma reforma agrária tão pirotécnica quanto fajuta e a criação de uma nova doutrina militar, baseada no conceito de "guerra assimétrica" - recentemente, ele comprou um lote de caças supersônicos russos e instalou uma fábrica de fuzis AK-103 no país. Além disso, ele já anunciou sua intenção de formar uma milícia com 2 milhões de cidadãos armados. Para quê? Para resistir à "invasão imperialista ianque", claro, no que fica evidente mais uma vez a inspiração cubana (assim como seu ídolo Fidel, Chávez não cansa de denunciar conspirações dos EUA e da CIA para invadir o país e assassiná-lo, o que demonstra uma clara tendência paranóica-esquizóide). Inclusive os famigerados "Comitês de Defesa da Revolução" (CDRs) - cuja função é espionar a vida dos indivíduos em cada quarteirão de Cuba para garantir a fidelidade ao regime - ele vem emulando, criando suas próprias "Unidades de Defesa da Revolução" (UDRs).

Esse outro traço comum com o regime comunista cubano, a militarização da sociedade, caminha de mãos dadas com a exportação da "revolução bolivariana". Assim como Fidel Castro tentou exportar sua revolução, apoiando abertamente grupos guerrilheiros e subversivos na América Latina nos anos 60 - e não só contra regimes ditatoriais, como se tornou um lugar-comum afirmar desde então -, Chávez vem usando os petrodólares para interferir nos países da região e promover a instabilidade no continente. Nos últimos anos, utilizando o dinheiro advindo dos lucros do petróleo, Chávez imiscuiu-se descaradamente nos assuntos internos de vários países vizinhos, tendo apoiado, por exemplo, uma tentativa de golpe militar no Peru em 2005 e comprado briga com o Chile, ao declarar que adoraria molhar os pés "no mar da Bolívia". Chávez já entrou em bate-bocas públicos com os presidentes da Colômbia (Álvaro Uribe), do Peru (Alan García) e do México (o ex Vicente Fox), além de ter sido, como sabemos, o verdadeiro cérebro por trás da decisão recente do governo de Evo Morales de encampar as refinarias da PETROBRAS na Bolívia. Suas fanfarronices já começaram a fazer escola, tendo surgido êmulos seus na Bolívia (Evo Morales) e Equador (Rafael Correa), todos regiamente apoiados pelos petrodólares bolivarianos, generosamente depositados em seus cofres de campanha. Pelo visto, a defesa da soberania nacional, no jargão chavista, vale apenas para criticar os EUA.

Se a chamada "revolução" de Chávez se limitasse à Venezuela, talvez seu governo não passasse de uma excentricidade, um exotismo inofensivo, colorido pelo caráter folclórico de seu líder. Certamente, esta é a visão de muitos no Brasil, que o vêem como um paladino do orgulho terceiromundista ou que, pelo menos, divertem-se com suas palhaçadas. No entanto, por suas próprias características, o regime chavista só pode sobreviver estendendo seus tentáculos aos países vizinhos. Chávez não faz segredo de suas intenções expansionistas, baseadas na idéia megalomaníaca de recriar o sonho de Bolívar. Seu objetivo, na verdade sua obsessão, é a formação de um eixo latino-americano, que, além da Venezuela, já abrangeria Cuba, Bolívia, Equador, Argentina e Nicarágua, além de, relutantemente, Brasil e Uruguai, com ele, Chávez, obviamente como guia e líder. A finalidade de tal eixo político é uma só: enfrentar os EUA. Para tanto, Chávez comemorou a não-implementação da ALCA - o que ele se vangloria de ser um de seus maiores triunfos -, propondo, em lugar desta, uma certa "Alternativa Bolivariana das Américas" (ALBA), e conseguiu, com a complacência do governo brasileiro, transformar o MERCOSUL num palco para suas arengas antiamericanas.

Nesse quesito, aliás, ele perde para poucos, fazendo questão de aparecer como o campeão do antiamericanismo no continente. Basta dizer que ele já chegou a afirmar que a Secretária de Estado norte-americana Condoleeza Rice é apaixonada por ele, e, num célebre discurso na Assembléia Geral da ONU - o palco por excelência de todos os déspostas e carniceiros do mundo, de Yasser Arafat a Idi Amim - chamou o Presidente George W. Bush de "diabo", em um gesto teatralmente ensaiado. Chávez fez questão de ser o último governante a visitar Saddam Hussein antes de sua queda pela invasão anglo-americana de 2003, e foi um dos poucos a defender os testes nucleares norte-coreanos ano passado. Entre seus amigos, figura um louco, o Presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, e o venezuelano Illich Ramírez Sánchez, mais conhecido como "Carlos, o Chacal", antiga estrela do terrorismo internacional, atualmente preso e condenado à prisão perpétua na França, que compartilha com Chávez o gosto narcísico pela publicidade e com quem costuma trocar calorosas mensagens de fim de ano. Como se não bastasse, ele tomou de assalto o Fórum Social Mundial, transformando-o num palanque para destilar suas platitudes anti-EUA, e muita gente no Brasil acha o máximo.

O antiamericanismo de Chávez provoca às vezes situações esdrúxulas. Até pouco tempo atrás, por exemplo, o governo da Venezuela era um firme defensor da pesquisa e produção de combustíveis alternativos, como o etanol. Bastou que Bush se interessasse pela idéia, realizando uma visita ao Brasil em março passado, e o mandatário venezuelano mudou radicalmente seu discurso. Para tanto, valeu-se de seu amigão do peito Fidel Castro, que, do leito de morte, publicou um artigo no jornal oficial cubano condenando o etanol, pois este iria "provocar mais fome no mundo"...

Tudo isso torna imperativo não se deixar iludir pela retórica chavista, falsamente integracionista. Tudo que Chávez faz ou diz, todas as suas iniciativas de "integração" com os países vizinhos, seja no terreno econômico ou energético, obedecem tão-somente a um cálculo político, são um instrumento a serviço de seu projeto populista de poder continental. Governar, para ele, é polemizar, é buscar o confronto: com os EUA, com a oposição interna, com quem quer que se coloque no caminho de seu objetivo narcisista de poder absoluto e de liderança continental. Contemporizar, aqui, significa apenas reforçar as ambições de um dirigente autoritário e megalomaníaco, que em nada favorecem a integração latino-americana. Muito pelo contrário.

RUMO À DITADURA

Este é um fato a que alguns governos sul-americanos, como o do Brasil, infelizmente ainda parecem não terem se dado conta. O governo Lula insiste em tratar Chávez, assim como Morales na Bolívia, como um amigo e aliado (Chávez é um "aliado excepcional", declarou recentemente Lula), quando este já deu mostras mais que suficientes de seu caráter funesto e pernicioso. Isso mostra que Chávez, além de tudo, é um político de sorte: para construir sua base de poder, ele contou não apenas com sua própria esperteza e com a incompetência e mediocridade da oposição venezuelana - até hoje incapaz de apresentar uma alternativa viável ao Coronel -, mas também com a cumplicidade dos governos dos países vizinhos, que insistem em fechar os olhos ou em minimizar a ameaça que ele representa para o continente.

A Venezuela caminha para a ditadura. Não há dúvida quanto a isso. No início do ano, a Assembléia Nacional venezuelana, composta por 100% de deputados favoráveis a Chávez, concedeu-lhe poderes ditatoriais, e outra lei permitiu-lhe reeleger-se indefinidamente, quantas vezes quiser (ele já declarou para quem quiser ouvir que pretende ficar no poder, pelo menos, até 2030). É verdade que, na Venezuela atual, ainda não há fuzilamentos nem presos políticos em campos de concentração, ao contrário da ilha de Cuba ou da Coréia do Norte. Também é verdade que, diferentemente desses países, a imprensa, apesar das restrições crescentes à liberdade de expressão, ainda funciona livremente. Ainda. Pois, a julgar pelo andar da carruagem, é só uma questão de tempo até que o Coronel repita o gesto de seu mestre e mentor Fidel Castro, e, empoleirado no poder, proclame aos quatro ventos, com a cara mais lavada do mundo: "Eleições? Eleições para quê?". Se algo não for feito, tal dia, cedo ou tarde, vai chegar. Podem apostar.

Há muito de bufonaria e de chanchada, de caricatura, na tal "revolução" de Chávez e no "socialismo" por ele preconizado. Todavia, é um erro não lhe dar a devida atenção. Chávez certamente é um demagogo, um palhaço e um político primitivo em suas palavras e ações, mas está longe de ser inofensivo. Com seus petrodólares abundantes, suas incursões na política dos países vizinhos e suas armas recém-adquiridas, ele é um perigo para a saúde da democracia na América Latina.

Que o povão da Venezuela, há muito abandonado pelas elites do país, enxergue em Chávez uma espécie de Messias ou um herói vingador, assim como o povo alemão via Hitler na década de 20 como um redentor da nação humilhada e empobrecida, é algo até compreensível. Que tantas pessoas tidas por inteligentes, porém, deixem-se voluntariamente cair em mais esse conto-do-vigário, prestando-se ao papel de porta-vozes do fanfarrão de Caracas e de sua "revolução bolivariana", é um desses mistérios insondáveis da humanidade, que apenas comprovam aquilo que Raymond Aron chamou de "ópio dos intelectuais" e Jean-François Revel, de "tentação totalitária". É algo que desafia a razão, parecendo provar que uma certa categoria de seres humanos sente-se irremediavelmente atraída por políticos histriônicos e demagogos, que usam e abusam da retórica vazia e de gestos teatrais para atingir seus objetivos personalistas. Na América Latina, nos últimos cem anos, tivemos uma safra bastante prolífica desses tipos: Perón na Argentina, Vargas e Lula no Brasil, Fidel Castro em Cuba... Com a diferença de que estes, pelo menos, eram/são grandes atores. Ao contrário de Chávez, um deslavado canastrão. Mas atores canastrões, assim como os cantores bregas, sempre terão um público cativo. E, como este, os admiradores de Chávez, Fidel Castro, Morales et caterva são atraídos não pela qualidade do espetáculo, mas por sua escrachada histrionice, por seu caráter farsesco e absurdo. É triste, muito triste mesmo o destino das esquerdas.


* Texto publicado originalmente em 27/04/2007, e republicado por motivos de melhor editoração.