quinta-feira, abril 28, 2011

A INCRÍVEL SABEDORIA DO DEPUTADO BBB (OU: O SOCIALISMO GAYZISTA)

Em breve, isso poderá tornar-se ilegal


O deputado Jean Wyllis (PSOL-RJ) é mesmo do balacobaco, como se dizia antigamente. Membro da multidão de "famosos" e nem tanto que costumam lançar-se candidatos a cada eleição, o ex-BBB aproveitou os quinze minutos de fama instantânea adquirida na gincana televisiva para se candidatar a, e ser eleito, deputado federal. Mas não um deputado qualquer, senhoras e senhores. Gay assumido, ele é um parlamentar GLBT – ou GLBTBBB, como quiserem.

Jean Wyllis é um personagem emblemático, mais até do que o colega Tiririca, vindo, assim como ele, do mundo (ou submundo) da televisão. Ele é, digamos, um símbolo de nosso tempo. Depois de ter ganho uma bolada como vencedor do BBB – não assisti à edição, pois não assisto a esse programa idiota, mas ouvi dizer que foi a maior melação –, ele resolveu se dar um ar "sério", vestindo terno e gravata, pondo óculos e deixando a barba crescer. Isso para defender, como sua principal bandeira – aliás, a única –, o chamado "movimento gay". Mais especificamente: o PLC 122/06, apropriadamente chamado de Lei da Mordaça Gay - o tal projeto de lei bolado por uma deputada petista que, se aprovado, punirá com cadeia qualquer manifestação de "homofobia". Gostaria de saber o que o deputado entende por "homofobia", já que o próprio PLC 122, de tão vago, não deixa claro do que se trata. Gostaria também de saber em que exatamente um projeto como esse irá contribuir para a democracia.

Jean Wyllis não se abala, e, diante das críticas, vindas principalmente de setores religiosos, resolveu emitir uma proclamação. Eis o que escreveu sua excelência, entre outras gemas de sabedoria aprendidas na escola Pedro Bial de filosofia:

"O PLC 122 , apesar de toda campanha para deturpá-lo junto à opinião pública, é um projeto que busca assegurar para os homossexuais os direitos à dignidade humana e à vida. O PLC 122 não atenta contra a liberdade de expressão de quem quer que seja, apenas assegura a dignidade da pessoa humana de homossexuais, o que necessariamente põe limite aos abusos de liberdade de expressão que fanáticos e fundamentalistas vêm praticando em sua cruzada contra LGBTs".

Muito bem, deputado Jean Wyllis. O PLC 122 é um projeto maravilhoso e o Brasil, pelo que se depreende de suas palavras, é um campo de extermínio de homossexuais, onde estes vêem sua "dignidade de pessoa humana" constantemente ameaçada (com a maior parada gay do mundo? deixa pra lá...) etc. etc. Pergunto apenas: as demais leis existentes, a começar com a Constituição Federal, não asseguram para os homossexuais, assim como para qualquer cidadão, os "direitos à dignidade humana e à vida"? Se alguém assassinar um gay, por exemplo, não irá ser preso e condenado por homicídio? Acaso o juiz irá perguntar a opção sexual da vitima ou do agressor antes de determinar a sentença? (O mesmo no caso de gays que matam, e casos assim, embora o deputado Jean Wyllis possa discordar, existem.)

Outra coisa que acho que não entendi direito: se o PLC 122 "não atenta contra a liberdade de expressão de quem quer que seja", como diz o deputado, o que significa exatamente "pôr limite aos abusos de liberdade de expressão"? Seria proibir padres católicos e pastores evangélicos de citarem a Bíblia? E todos os que fizerem isso são, portanto, "fanáticos e fundamentalistas em cruzada" contra a santa causa LGBT? E os que contarem piadas de bichinha, também se enquadram nessa categoria? Torcedores de futebol que chamam de "viado" os juizes e jogadores adversários são todos carolas e fanáticos, e devem ser impedidos de xingar? Quem irá decidir o que é e o que não é "abuso da liberdade de expressão"? Talvez o deputado Jean Wyllis e a Rede Globo.

Em sua "resposta", o sábio Jean Wyllis afirma não se pautar pelo que diz a Epístola de S. Paulo aos Romanos, mas pela Constituição. Posso estar enganado, mas acho que o deputado ex-BBB esqueceu que a Constituição do Brasil garante a igualdade de todos perante a Lei. E que isso vale para os homossexuais, os heterossexuais, os panssexuais e a torcida do São Cristóvão. Todos têm o direito legal a receber e exigir o mesmo tratamento, indistintamente, no serviço público.

Mas Jean Wyllis e seus amigos gayzistas não estão contentes com isso. Eles querem mais. O quê, exatamente? Querem ser tratados como seres diferentes, e não iguais em direitos e deveres. Diferentes como? Superiores, acima dos demais mortais. Em outras palavras: querem privilégios, pura e simplesmente. Tal como o de ser tratado com reverência sacramental, acima de qualquer crítica e mesmo de qualquer gracinha.

Na prática, graças à ditadura cotidiana do "politicamente correto", os gays e assemelhados já dispõem desse tratamento VIP nos meios de comunicação, como já cansei de escrever aqui. Agora querem porque querem que isso esteja escrito em Lei. Em resumo: querem ser tratados como indivíduos especiais. Parece absurdo? E é mesmo. Um absurdo abençoado e crismado pela Rede Globo e pelo BBB.

Que alguém veja dignidade e decência em dois marmanjos ou duas mulheres fazerem o que quiserem na cama, não é problema meu, cada um tem suas proprias idéias a respeito. Trata-se de uma questão puramente individual, pertencente unicamente à esfera privada. Do mesmo modo – o que é geralmente esquecido –, ter ou não preconceitos, nessa ou em outra área. O que não se pode nem se deve aceitar de jeito nenhum é que isso signifique a imposição de um "direito" acima dos de outros. Pouco importa se os que se opõem a essa iniciativa sejam "fanáticos e fundamentalistas". Aliás, corrijam-me se estou errado, a liberdade religiosa ainda é um dos pilares da democracia.

Ainda assim, Jean Wyllis acha que o PLC 122 não afronta a liberdade de expressão. Ele acredita, quero crer que sinceramente, que a tal lei é compatível com a democracia. Não é difícil entender por que ele pensa assim. Afinal, o partido político ao qual se filiou tem como símbolo um sol sorridente e se chama "Socialismo e Liberdade". Para quem defende aberrações como o PLC 122, nada mais natural do que ser eleito por um partido que estampa em seu nome dois termos antagônicos e inconciliáveis, um verdadeiro oxímoro.

Já falei e repito: não tenho nada contra os gays, mas contra o gayzismo. São duas coisas distintas. Se você não sabe a diferença, eu explico. A primeira é uma opção sexual e diz respeito unicamente à pessoa que a faz, ou que a tem, sei lá, desde criancinha. A segunda é uma ideologia política. Há homossexuais que não sao gayzistas e há militantes GLBTT que são héteros. Jean Wyllis, por acaso, é gay e gayzista. Um ativista do socialismo gay. Do mesmo modo, não tenho nada a favor do que dizem os evangélicos sobre o "amor entre iguais", mas nem por isso vou me dar o direito de querer ensinar religião a pastores e padres, determinando que passagem da Bíblia deve e qual não deve ser levada a sério. Por que não reescrever o livro ou queimá-lo? Seria mais honesto.

No começo deste texto, falei do Tiririca. O palhaço pelo menos tem a seu favor o fato de não se levar a sério. Já Jean Wyllis, com seu discurso de bom-moço e sua militância gayzista, acredita-se mesmo um benfeitor da humanidade. Pior que um ex-BBB, só um ex-BBB com agenda política.

sábado, abril 23, 2011

MINHA CONVERSÃO AO DESARMAMENTISMO

Acho que cometi uma injustiça com os defensores do desarmamento civil. Desde o último texto que publiquei sobre o assunto, sou atormentado pela impressão de que posso ter sido duro demais com essas pessoas maravilhosas, que só querem o bem de todos e a paz para a humanidade.

Por isso, resolvi me redimir comigo mesmo e com minha consciência. Sensibilizado com os argumentos da Rede Globo e do Viva Rio, que aproveitaram o morticínio em uma escola no Rio de Janeiro por um demente para ressuscitar a idéia de que as armas de fogo adquiridas legalmente por cidadãos honestos são a raiz de toda a violência no Brasil e no mundo, resolvi me converter de vez à religião desarmamentista. Decidi renunciar definitivamente a meu direito de escolher ter ou não um revólver 32 comprado num estabelecimento legalizado e engrossar a legião dos que vestem branco e fazem passeata "pela paz".

Mas, para isso, vou fazer apenas algumas exigências. Aceito não mais ter o direito de decidir sobre minha segurança e de minha família, passando a confiar unicamente em nossas competentíssimas autoridades policiais, desde que sejam atendidas as seguintes condições. Ei-las:

- Que todos os bandidos, em especial os assaltantes de bancos e os narcotraficantes, sigam esse meu exemplo cívico e entreguem também suas armas, como fuzis automáticos e metralhadoras, em nome de um mundo melhor, de paz e de amor;

- Que loucos psicopatas como o assassino da escola de Realengo - que adquiriu suas armas ILEGALMENTE, repita-se - façam o mesmo, diminuindo assim a probabilidade de novos massacres;

- Que o ilustríssimo senador José Sarney, bem como os juízes que defendem o desarmamento civil, aposentem igualmente os carros blindados que costumam usar e os guarda-costas que estão a seu serviço, pagos com dinheiro público - afinal, eles também estão armados;

- Que a excelentíssima ministra dos direitos humanos (rarará), Maria do Rosário, que retirou da gaveta a idéia de um novo plebiscito sobre o desarmamento, devolva o dinheiro que recebeu durante sua campanha à deputada da fábrica Taurus pois, ao aceitar essa ajuda financeira de um fabricante de armas de fogo, que, segundo ela, contribuem para a violência, está assumindo que contribui, ela também, para a violência;

- Que se proíbam facas e outros objetos letais, como grampos e garfos, ou canetas de ponta fina, já que armas de fogo devem ser proibidas porque ferem e matam; melhor: que se proíbam também pedaços de pau e pedras, e que qualquer indivíduo de posse desses objetos de morte, como lenhadores e pedreiros, sejam presos e processados por porte ilegal de arma;

E, finalmente:

- Que se dê uma resposta racional e lógica à seguinte pergunta: se proibir o comércio legal de armas de fogo e desarmar a população é solução para a violência, então por que, nos EUA, onde o comércio é legal, está provado que mais armas significam menos crimes, e não o contrário?

Ou então:

Por que, se armas de fogo nas mãos de cidadãos de bem significam mais violência, países como a Jamaica, onde as armas são proibidas, têm uma taxa de criminalidade muito maior do que a Suiça, onde cada cidadão pode ter um fuzil debaixo da cama?

Estou disposto a abjurar tudo que escrevi até hoje sobre o tema, e a me tornar o mais ativo dos militantes anti-armas e pró-desarmamento civil, se qualquer uma das condições acima (nem é preciso que sejam todas) for atendida. Prometo virar o maior inimigo de tudo que dispara, corta, fura ou contunde. Prometo também cantar 100 vezes, todos os dias, "Imagine", de John Lennon e abraçar a árvore mais próxima.

Como viram, é muito fácil me converter à causa desarmamentista. E aí, Viva Rio, vai encarar?

quinta-feira, abril 21, 2011

PEQUENA GALERIA DE VULTOS DA HUMANIDADE

A seguir, apresento uma série de breves biografias de algumas figurinhas carimbadas do álbum da esquerda. Vai em ordem cronológica. Vocês verão o tipo de gente humanista e amante da liberdade que são os ídolos de nossos esquerdistas, essas pessoas, como se sabe, maravilhosas e do bem, que só querem o melhor para a humanidade. Começo com o pai de todos. Vejam como eles defendem o bom, o belo e o justo.

Como diz o velho ditado (que acabei de inventar): dize-me quem veneras e eu direi quem és.


Karl Marx (1818-1883) - Nos livros de História, é o filósofo e economista alemão fundador do chamado "socialismo científico", um dos mais importantes pensadores da humanidade. Na vida real, foi um notório racista e eurocêntrico, defensor do extermínio de raças inteiras, além de farsante contumaz, que falsificava dados econômicos para favorecer suas teses, que apresentava sob um falso véu "científico", mediante as quais pregava o "fim inexorável" do capitalismo.


Fundador e primeiro presidente da Associação Internacional dos Trabalhadores, jamais trabalhou, tendo sido durante toda a vida um parasita social, sustentado, juntamente com sua família, pelo amigo Friedrich Engels (1820-1895), rico herdeiro de uma indústria de tecidos em Manchester, Inglaterra.


Democrata radical, expulsou os seguidores de Bakunin do movimento que fundou, enquanto denunciava o autoritarismo dos governos europeus de sua época. De origem burguesa e judia, odiava burgueses e judeus. Casado com uma aristocrata, demonstrou todo seu amor ao proletariado engravidando a empregada, de quem, como bom progressista, tratou de se livrar junto com a criança, mandando-as embora.


Economista genial, até hoje é levado a sério por causa, entre outras coisas, de sua teoria do empobrecimento gradativo da classe operária, realidade que pode ser facilmente atestada em qualquer país europeu ou nos EUA.


Embora ateu, concebeu uma teoria essencialmente escatológica com traços messiânicos e apocalípticos, que descambou na maior máquina assassina da História da humanidade - e, paradoxalmente, numa forma de religião estatal. Mas ainda há quem acredite que ele não teve nada a ver com o que veio depois, coitado.



Vladimir Lênin (1870-1924) - Discípulo fiel de Marx e Engels, passou à História como o principal líder da Revolução bolchevique de 1917 na Rússia, que inaugurou o primeiro Estado socialista da História, a URSS, da qual foi o primeiro governante. No mundo real, foi o idealizador do partido comunista vertical e centralizado, sem lugar para divergências, e primeiro ditador soviético, responsável por milhares de mortes.


Grande humanista, foi responsável por milhões de mortes na grande fome de 1921-1922 e criou os primeiros campos de concentração, tendo sido o mentor e criador do totalitarismo comunista. Maquiavélico no pior sentido da palavra, livrou-se dos partidos que lutaram juntamente com os bolcheviques para derrubar o czar e o governo provisório, dando início à repressão comunista.


Pertencente à nobreza, como tantos revolucionários, dirigiu seu ódio a essa classe social em particular, após o enforcamento, durante sua adolescência, de seu irmão mais velho, por este ter participado em uma conspiração para assassinar o czar.


Após a "desestalinização" iniciada por Krushev em 1956, os dirigentes soviéticos tentaram dissociar sua imagem do terror stalinista. A farsa durou algum tempo, tendo vindo abaixo depois do colapso da URSS em 1991. Foi o guru de Stálin - e de Mao, de Fidel Castro, de Kim Il-Sung, de Ceaucescu...



Josef Stálin (1878-1953) - Ditador psicopata e genocida, seu nome tornou-se sinônimo de terror e totalitarismo. Começou a carreira de revolucionário profissional assaltando bancos a mando de Lênin.


Amante da arte e da cultura, amigo das crianças e das flores, tanto que não permitia nenhuma manifestação cultural que não fosse aprovada pelo partido, perpetrou alguns dos piores massacres da História, como a grande fome ucraniana de 1932-1933, com dezenas de milhões de mortos. Paranóico, instaurou o terror absoluto na URSS em gigantescos expurgos, que incluíram as Forças Armadas e alguns de seus mais próximos colaboradores. Antissemita, aliou-se a Hitler em 1939, assinando com este um "pacto de não-agressão" pelo qual os dois ditadores dividiram a Polônia e deflagraram a II Guerra Mundial.


Segundo o historiador russo Dimitri Volkogonov, foi o grande culpado pela II Guerra Mundial, que planejava desencadear, tendo sido surpreendido por Hitler, que atacou a URSS em 1941. Vangloriava-se de ter derrotado os nazistas, mas só o conseguiu devido à ajuda dos EUA e da Grã-Bretanha.


Após a guerra, usou as armas doadas por Roosevelt para expandir o comunismo para o Leste Europeu à ponta de baioneta, dando início à Guerra Fria. Antes de morrer, completamente senil, planejava um novo expurgo, dessa vez contra os judeus. Seu reino de terror levou à morte de mais de 30 milhões de pessoas. É o ídolo do PCdoB e de Oscar Niemeyer.



Leon Trotsky (1879-1940) - Figura estranhíssima, um dos líderes da Revolução Russa de 1917 juntamente com Lênin. Foi, assim como aquele, um assassino serial e um defensor do extermínio de classes inteiras. Mas muitos o têm, sabe-se lá por quê, na conta de antitotalitário.


Um dos arquitetos do Estado totalitário soviético, criou o Exército Vermelho, que usou para reprimir de forma sangrenta revoltas contra os comunistas no poder. Inimigo figadal da democracia e da sociedade "burguesas", terminou sendo vítima da própria máquina repressiva que ajudou a montar: tendo perdido a disputa pelo poder para Stálin, foi por ele deportado da URSS em 1929 e por fim assassinado por um agente stalinista no México, em 1940.


O cerne do trotskismo é a teoria da "revolução permanente", segundo a qual o socialismo, para triunfar em um país, precisa ser implantado em nível mundial. Em outras palavras, o que se estabeleceu na URSS não deu certo porque a revolução não se espalhou pelo mundo todo... Seus seguidores, que se dividiram em inúmeros grupelhos, cada um mais radical e trotskista do que o outro, estão há décadas tentando ressuscitar a IV Internacional, fundada por ele em oposição à III Internacional (Comintern).


Sua oposição ao stalinismo (mas não à ditadura comunista) e sua morte trágica, assim como sua origem judia (que sempre renegou), deram-lhe uma aura de "profeta expulso" e de "mártir" revolucionário contra o "burocratismo stalinista". É o D. Sebastião da esquerda radical, herói maior do PSTU e do PCO.


Antonio Gramsci (1891- 1937) - Conhecido por sua teoria do "bloco histórico" e da "conquista da hegemonia", segundo a qual os comunistas deveriam se concentrar na batalha cultural, mediante a ocupação de espaços na superestrutura da sociedade. Fingido e dissimulado, para dizer o mínimo, sua teoria baseia-se na idéia de que os comunistas devem partir para a busca da hegemonia cultural, em primeiro lugar, para depois consolidar seu poder político e econômico. Não surpreende que seja uma espécie de Dale Carnegie da esquerda, idealizador de uma estratégia revolucionária disfarçada que foi adotada entusiasticamente por partidos como o PT. O fato de ter sido prisioneiro político do regime fascista de Mussolini (que começou no Partido Socialista Italiano, diga-se) apenas reforça sua aura de "mártir" comunista.

Mao Tsé-Tung (1893-1976) - Principal líder da revolução comunista chinesa e fundador do Estado comunista chinês, foi o maior assassino em massa da História - o número de mortes pelo regime que comandou chega a cerca de 75 milhões de pessoas, provocadas, em particular, pela fome em massa decorrente do desastroso "Grande Salto Adiante" e pela chamada "revolução cultural" - o movimento de destruição da cultura chinesa tradicional em favor do culto de sua personalidade por legiões de adolescentes fanatizados, em 1966-1969.


Tirano cínico e megalomaníaco, conhecido como O Grande Timoneiro, quis rivalizar com a URSS pelo controle do movimento comunista internacional. Invadiu e anexou o Tibete em 1959, promovendo uma limpeza étnica. Gostava de deflorar mocinhas e, dizem, também rapazes. Foi um dos tiranos mais sanguinários de todos os tempos, fonte e inspiração para o Khmer Vermelho do genocida Pol Pot no Camboja. Os chineses de hoje, mais interessados em ganhar dinheiro, têm certa vergonha em lembrar dele, apesar de ser o seu rosto bolachudo a estampa da moeda local. Mesmo assim, ainda tem fãs no exterior. Gente como o filósofo e Guarda Vermelho tardio Slavoj Zizek, que vê profunda sabedoria em seus ensinamentos, assim como vê em A Noviça Rebelde.



Ho Chi Mihn (1890-1969) - Passou para a História como o líder de um movimento de libertação, primeiro da dominação colonial francesa e depois contra os norte-americanos, um símbolo da vitória do mais fraco contra o mais forte, imagem reforçada pela aparência frágil. Foi, na verdade, um típico ditador comunista, chefe da repressão no Vietnã do Norte e mentor da agressão vietcongue ao Vietnã do Sul, fato que desencadeou a Guerra do Vietnã. Patrocinou atentados terroristas e massacres, como o de cerca de 3 mil pessoas na cidade de Huê durante a Ofensiva do Tet (1968) - fato que praticamente não foi noticiado na imprensa ocidental durante o conflito.



Fidel Castro (n. 1926) - O ditador mais longevo do Ocidente é mesmo uma figuraça. Admirador de Hitler e de Franco na juventude, começou a carreira de revolucionário distribuindo tiros como gângster estudantil. Farsante ideológico, mentiroso patológico e mitômano, enganou a todos, a começar pela CIA e pelo New York Times, fazendo-se passar por democrata e anticomunista para tomar o poder e instalar sua ditadura pessoal, juntamente com seu irmão Raúl e os comunistas cubanos.


Humanista ao extremo, é responsável por cerca de 100 mil mortos na ilha-prisão de Cuba, dos quais 17 mil fuzilados. Quase levou o mundo a uma guerra nuclear em 1962, ao defender um ataque nuclear soviético aos EUA. Deu dinheiro, armas e homens para movimentos terroristas na América Latina, África e Ásia nos anos 60/70/80. Auto-proclamado inimigo do imperialismo e defensor do Terceiro Mundo, aplaudiu com entusiasmo a invasão soviética da ex-Tchecoslováquia em 1968 e do Afeganistão em 1979, provando assim que esse negócio de terceiro mundo é mesmo coisa do submundo.


Campeão das boas causas e nada homofóbico, mandou prender e encarcerar homossexuais em campos de "reeducação" nos anos 60. Megalomaníaco, perseguiu a Igreja Católica e os intelectuais. Arruinou Cuba, antes um país próspero, levando sua população à pobreza, à prisão e ao exílio. Impôs um regime de terror e de censura que já dura 52 anos.


Apesar disso (ou, provavelmente, por causa disso), é até hoje endeusado pela esquerda latino-americana e mundial, tendo virado um verdadeiro popstar, ídolo e ditador do coração de cantores da MPB e de vários astros de Hollywood. Nos últimos tempos, andou meio adoentado, decidindo dedicar seu tempo a suas reflexões e a seu novo trabalho como garoto-propaganda da Adidas.


Os cubanos, como se sabe, amam o Coma Andante, como se vê pelo apelido carinhoso que lhe deram: "Esteban" (de "este bandido"). Amam tanto, aliás, que o regime castrista não vê necessidade alguma em permitir eleições livres, com partidos plurais - enquanto isso, os cubanos se antecipam, votando com os remos e com os pés.



Ernesto "Che" Guevara (1928-1967) - Talvez a maior patacoada criada pelos fabricantes de mitos esquerdistas, entrou para a História porque fotografava bem (no sentido de posar, diga-se). Virou uma espécie de trademark, de marca registrada, para vender de cerveja até biquíni.


Estrategista brilhante, guerrilheiro ultra-competente, "El Chancho" ("O Porco", por causa da catinga de rim fervido que exalava) ficou famoso por ter participado da guerrilha de mentirinha de Fidel Castro em Sierra Maestra e por ter fracassado miseravelmente nas duas tentativas guerrilheiras que comandou: Congo e Bolívia. Fracassou também como ministro da economia (!) de Cuba, quando levou a economia do país ao colapso (botou na cachola que iria transformar a ilha numa potência industrial vendendo açúcar).


Idealista, humanista sensível, demonstrou toda sua competência comandando centenas de fuzilamentos sumários em Havana. Admirador de Stálin e de Mao Tsé-Tung, dizia-se incapaz de ser amigo de alguém que dele discordasse ideologicamente.


Tolerante e transigente, nada arrogante e antipático, não se misturava com os cubanos. Pregava o ódio que transforma a pessoa numa "perfeita e fria máquina de matar". Apesar disso, sua frase mais famosa, que fala em "não perder a ternura", parece saida de um livro do Gabriel Chalita. Depois de morto, virou pôster e camiseta, usada por muitos pacifistas. É o ídolo de gerações de idiotas: Jean-Paul Sartre chegou a dizer que ele era "o ser humano mais completo do século XX" e seu conterrâneo Diego Maradona tatuou seu rosto no ombro - o que prova, mais uma vez, o mal irreparável que cafungar um certo pó branco causa ao cérebro. Perdoai-os, Pai!



Salvador Allende (1908-1973) - Na versão oficial, é um dos santos e mártires da esquerda latino-americana, tendo preferido suicidar-se no palácio presidencial de La Moneda a render-se aos golpistas do general Augusto Pinochet.


A realidade, porém, é um pouco mais complexa. Antissemita, racista e defensor da eugenia, o médico Salvador Allende Gossens teve esse lado pouco conhecido de sua biografia revelado há alguns anos pelo escritor chileno Victor Farías (Salvador Allende: Antissemitismo e Eutanásia). Também se costuma ignorar o fato de ele ter dado abrigo a criminosos de guerra nazistas depois da guerra.


Mas nem precisaria conhecer essa faceta do ex-presidente socialista do Chile. Aliado de Fidel Castro, ele levou o Chile ao abismo, tendo sido provavelmente morto pelos próprios guarda-costas cubanos, como afirma o ex-agente do serviço secreto cubano Juan Vivés em livro lançado na França (Cuba Nostra: les sécrets d'état de Fidel Castro, 2005).


Dessa maneira, os seguranças de Allende, diante da derrota iminente, teriam pretendido criar um "mártir" da esquerda. Pela quantidade de pessoas que acreditam nessa versão dos acontecimentos, eles conseguiram alcançar esse intento.





Hugo Chávez (n. 1954) - Ditador fanfarrão da Venezuela, o chefe da "revolução bolivariana" e do "socialismo do século XXI" quer ser uma cópia de Fidel Castro. Militar golpista, liderou uma tentativa de golpe sangrenta em 1992. Desde então, acusa todos que se opõem a ele de golpistas.


Eleito presidente em 1998, tratou de descumprir todas as promessas de campanha e de rasgar a Constituição do país, criando uma nova, que lhe permitiu perpetuar-se no poder. Governa por plebiscitos, como Hitler fazia, e conseguiu impor-se como o campeão do antiamericanismo na América Latina, criando até mesmo uma associação de países, uma tal Aliança Bolivariana para as Américas (ALBA).


Gosta muito de televisão, tanto que criou uma própria, a Telesul, para fazer propaganda. Defensor da liberdade de imprensa, desde que seja a favor, fechou o principal canal de televisão do país porque não gostava das notícias. Intervém constantemente nos assuntos políticos dos países vizinhos, já tendo patrocinado tentativas de golpe no Peru e em Honduras (nesta última, em conluio com o companheiro Lula). Dá apoio e armas aos narcoterrroristas colombianos das FARC, que possuem bases em território venezuelano.


Sempre que tais fatos vêm à tona, o coronel Chávez dá o maior piti e reage com bravatas nacionalistas, ameaçando ir á guerra contra a Colômbia. Recentemente, ele mudou a lei no último instante para garantir a maioria de seu partido no Parlamento.


Sempre uma voz da razão, o visionário Chávez enxerga coisas que os outros não vêem. A última dele foi ter descoberto que o capitalismo e o imperialismo destruíram a civilização em Marte, onde os marcianos viviam felizes no socialismo. Isso foi antes de os EUA terem destruído o Haiti com sua máquina de fazer terremotos.


Figura folclórica, saída diretamente das páginas do Manual do Perfeito Idiota Latino-Americano, Chávez já deixou de ser uma pessoa e, como o McDonald's, virou uma franquia, com clones em outros países, como o galã de filme pornô equatoriano Rafael Correa e o índio de araque Evo Morales na Bolívia. Sua "robolución", regada a petrodólares e a muita ladroeira, tem arrastado a Venezuela para o caos, e ele não esconde sua intenção de vê-la transformada numa segunda Cuba (e, pelos números da economia, está conseguindo).


Luiz Carlos Prestes (1898-1990) - Figura venerável, considerado o principal líder do comunismo no Brasil. Ficou famoso pela Coluna Prestes (na verdade, Miguel Costa, nome de seu verdadeiro comandante), movimento tenentista que percorreu o Brasil em 1924-1926 contra a República Velha. Personagem lendário, toda sua vida foi isso mesmo: uma lenda.


Em 1930, Prestes rompe com o tenentismo e adere ao comunismo, viajando para a URSS de Stálin, onde trabalha como engenheiro e, segundo sua biografia hagiográfica escrita por Jorge Amado ("O Cavaleiro da Esperança"), denunciou pessoas num expurgo stalinista.


Em 1934, entra no PCB (fundado em 1922), contra a vontade dos militantes mais antigos, por imposição da URSS. Revolucionário incompetente e atrapalhado, liderou na clandestinidade a malograda insurreição comunista de 1935 no Rio de Janeiro. Nessa e em outras ocasiões, deixou cair nas mãos da polícia documentos comprometedores que levaram à prisão de muitos companheiros de partido. Submisso à URSS, stalinista empedernido, promoveu perseguições internas no PCB, que comandava como ditador. Num episódio cuja autoria negou até o fim, ordenou o assassinato de uma adolescente por suspeita de traição em 1936.


Libertado da prisão em 1945, subiu ao palanque com o ex-ditador Getúlio Vargas, que enviara, anos antes, sua primeira mulher, a agente comunista alemã Olga Benario, para a morte na Alemanha de Hitler. Eleito senador, declarou em discurso que, em caso de guerra entre o Brasil e a URSS, ficaria do lado da URSS, sendo esse fato uma das razões para a cassação de seu mandato e do registro do PCB em 1948.


Gabava-se, em 1964, de que os comunistas já estavam no governo, embora ainda não estivessem no poder. Com a tomada do poder pelos militares, vê seu prestígio e influência na esquerda diminuírem drasticamente. Em 1980, de volta do exílio (na URSS, novamente), perde o comando do PCB. Foi enterrado com a bandeira do PDT de Leonel Brizola, um ano antes da implosão da URSS.




Leonel Brizola (1922-2004) - Cunhado do ex-presidente João Goulart e afilhado político do ex-ditador Getúlio Vargas, o engenheiro gaúcho Leonel de Moura Brizola despontou para a política nacional após a renúncia de Jânio Quadros em 1961, ao liderar a "campanha da legalidade" pela posse do cunhado. É o descobridor da famosa equação matemática segundo a qual cunhado não é parente; é candidato.


Boquirroto e valentão, Brizola desprezava a legalidade, tendo sido um dos pivôs do movimento militar que levou à queda de Jango em 1964 - foi dele, por exemplo, a idéia de organizar milícias armadas conhecidas como "Grupos de Onze" durante o governo Goulart.


Exilado no Uruguai, o caudilho dos pampas recebeu dinheiro do ditador cubano Fidel Castro para implantar focos de guerrilha no Brasil. As tentativas deram em nada, e Brizola deixou de vez a carreira de guerrilheiro. Quanto ao dinheiro recebido de Havana, que dizem ter sido algo em torno de 1 milhão (de dólares), Brizola jamais prestou contas, tendo sido apelidado por isso de "El Ratón" pelos cubanos.


De volta do exílio em 1979, Brizola passou a bajular os militares e tentou recuperar o espólio do getulismo, organizando o PDT - Partido do Dono, Táentendendo? Personalista e autoritário, comandou o PDT de forma ditatorial, como um feudo ou uma estância. Demagogo e populista, estimulou a ocupação ilegal dos morros cariocas quando foi governador do Rio de Janeiro (1983-1987 e 1991-1994), o que contribuiu drasticamente para o aumento da criminalidade, em especial do tráfico de drogas, agravado pela leniência oficial. Para piorar, proibiu a polícia de subir morro atrás de bandido, enquanto se encontrava alegremente, em seu gabinete, com banqueiros do jogo do bicho. Ao mesmo tempo, via espiões da CIA em cada esquina, xingava a Rede Globo e defendia a reforma agrária. Menos no Uruguai, onde criava umas cabecinhas de gado. Alavancou e promoveu a carreira política de grandes nomes da inteligência e da política nacional, como Agnaldo Timóteo e Anthony Garotinho.


Oportunista, Brizola seguiu à risca o conselho de Getúlio, de aproveitar para montar sempre a égua encilhada. Nas eleições presidenciais de 1989, em que chegou em terceiro lugar, perdendo por pouco para um tal sapo barbudo, ele desceu o malho no então candidato Fernando Collor de Mello, apenas para collorir depois que este foi eleito. Mas sua grande herança foram os CIEPs - Centros Integrados de Exercício com Pistolas. Cada tiro disparado por traficante numa favela do Rio de Janeiro é uma homenagem a Leonel Brizola.




Luiz Inácio Lula da Silva (n. 1945) - O Filho do Barril não poderia ficar de fora dessa lista. Também conhecido como "o cara" (de pau) é fundador e "presidente de honra" do PT, Partido da Tapeação.


Chefe da maior quadrilha e do maior esquema de corrupção da História do Brasil, gerenciado pelos compadres Zé Dirceu e Delúbio Soares e denunciado pelo Procurador-Geral da República. Amigo e irmão de ditadores, fundador, ao lado de Fidel Castro, do Foro de São Paulo, que durante quinze anos disseram que não existia.


Ex-sindicalista, não trabalha desde 1975, mas é o maior líder dos trabalhadores da História do Brasil. Foi preso por uma greve ilegal em 1980, quando enganou os carcereiros e os demais companheiros de cela numa "greve de fome" que durou três dias, tendo escondido debaixo do travesseiro um saco de balas Paulistinha. (Na mesma ocasião, sentindo-se muito solitário e em protesto contra o cruel regime militar, tentou estuprar um companheiro de cela.) Tomou gosto pela pantomima, aperfeiçoando-a nos anos seguintes, até atingir o estado da arte como animador de auditório.


Foi deputado federal, mas ninguém lembra do que fez no Congresso, nem ele mesmo (tanto que, ao ser eleito presidente da República, em 2002, esqueceu que tinha sido diplomado antes como deputado, dizendo, emocionadíssmo, que aquele era seu "primeiro diploma"). Passou anos vociferando contra todos os governos, em especial o de FHC, a quem nunca perdoou por tê-lo vencido em duas eleições no primeiro turno e diante de quem sempre se sentiu meio inferiorizado por este ter estudado e falar inglês e francês, enquanto ele ainda não passou da Fase I do bê-a-bá para mentalmente prejudicados.


Farsante e bravateiro, adotou a mesma política econômica do governo anterior, que vivia esculhambando, passando a reivindicar, confiante na falta de memória dos brasileiros, ter sido o pai da estabilidade econômica, além de inventor do Brasil e descobridor da Via-Láctea. Seu governo ajudou a alavancar as contas bancárias de amigos e parentes e a reabilitar figuras ilustres e impolutas da República como José Sarney e Fernando Collor de Mello, hoje firmes aliados de sua sucessora.


Dono de uma, digamos, sabedoria popularesca, aprendida nos churrascos com os companheiros e vendo os jogos do Corinthians, é um caso único na História, pois é filho de uma mulher que nasceu analfabeta. Expressão acabada do político vindo de baixo (do esgoto) e de demagogo populista, acharia lindo o epíteto, se soubesse o que é epíteto. Doutor honoris causa em embromação e fanfarronice, é a perfeita encarnação do apedeuta, não tendo estudado porque não quis (e quem disser isso é um preconceituoso e elitista).


Bonachão, é chegado numa pinga, mas não gosta que falem nisso - chegou a expulsar um jornalista gringo que teve a ousadia de escrever sobre o assunto, mostrando, assim, todo seu apreço pela liberdade de imprensa e de expressão. Homem sem complexos, só não gosta que o comparem a FHC, aquele metido. Também é reconhecidamente um sentimental, que chora por tudo: menos para as vítimas de ditaduras amigas, que compara a bandidos do PCC.


Canonizado e elevado à condição de Messias por intelectuais leitores de orelha de livros sobre Marx e Gramsci que acham o máximo suas batatadas (como dizer que o problema do aquecimento global é porque a Terra é redonda), é adorado por milhões de brasileiros, sejam militantes petistas e intelectuais marxistas, sejam milhões de pobres ignorantes comprados com o prato de lentilhas do Bolsa-Cabresto (o assistencialismo, aliás, era criticado duramente por ele antes de chegar ao poder).


Seus oito anos de viagens no Aerolula foram um deboche interminável das leis e das instituições, começando com o caso Waldomiro Diniz e com o mensalão e terminando com o escândalo Erenice Guerra. Sobre o mensalão, aliás, disse primeiro que não sabia de nada, depois que era caixa dois e que todo mundo fazia igual e, finalmente, que tinha sido traído. Só há pouco decidiu que foi uma tentativa de golpe das elites (pronuncia-se "zelite") e da "mídia". Recentemente, fizeram um filme sobre sua vida, ao custo de 16 milhões de reais, em que não se tocou em nenhum desses assuntos inconvenientes.


Espertalhão, picareta e gozador (com a nossa cara e com o nosso dinheiro), é o maior vigarista da história política brasileira. Sem oposição a lhe denunciar as pilantragens, conseguiu fabricar e emplacar, em tempo recorde, uma sucessora para esquentar a cadeira, enquanto prepara sua volta. Os brasileiros podem ficar tranquilos: como mostra a foto acima, o futuro do Brasil está nas mãos desse homem.

sábado, abril 16, 2011

POR QUE NÃO EXISTE DIREITA NO BRASIL (E O QUE FAZER PARA RESSUSCITÁ-LA)

O sono da razão produz monstros (Goya)



Aí vai um texto longo, de análise. Peço que me perdoem. Afinal, dizem que blogs são para textos curtos. Mas não acho que seja possível análises telegráficas. Ainda mais de um assunto como o que segue. Espero que gostem.

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Algumas coisas, como a jabuticaba, só existem no Brasil. Outras existem em quase todos os lugares, menos no Brasil. É o caso de um partido político claramente de direita, liberal ou conservador.

Já apontei, em outros textos meus, esse estranho fenômeno, quase exclusivamente nacional (digo “quase” porque há uma Cuba e uma Coréia do Norte – entre as democracias, certamente, é um caso único). Em todos os países democráticos – todos, sem exceção – existe pelo menos um partido conservador forte e estruturado, que a cada eleição disputa de igual para igual, quando não em melhores condições, com a esquerda ou a centro-esquerda, e com estas se reveza no poder. É assim em todos os lugares em que vigora a democracia. Menos no Brasil.

Aliás, por estas bandas, a não-existência de um partido de direita é até celebrada como algo positivo, uma prova mesmo de “maturidade democrática” - como se democracia fosse sinônimo de uniformidade de pensamento, e não de pluralidade. Há alguns meses, o antecessor da atual presidente da República defendeu publicamente a “extirpação” de um partido adversário; antes disso, chegou ao ponto de afirmar, a sério, que o fato de os candidatos presidenciais serem todos de esquerda era um sinal de “progresso da democracia”… E houve quem o aplaudisse por isso!

Cadê a direita?

Nem é preciso lembrar tais fatos para constatar o fenômeno. Fale em "direita" no Brasil e a primeira coisa que virá à mente de seu interlocutor será algum estereótipo do passado, como um general de pijamas remanescente da Guerra Fria ou algum fanático da TFP. Predomina, no Brasil, a anatemização, a satanização da direita, como se esta se resumisse a esses arquétipos e fosse mesmo um sinônimo do mal. Ser de esquerda, por contraste, seria o mesmo que defender o bom, o belo e o justo (em Cuba ou na Venezuela, por exemplo). Chamar alguém de conservador, então, é cobrir-lhe com o pior dos palavrões (ser politicamente conservador, enfim, não seria uma opção respeitável). Adiantaria lembrar que Winston Churchill era de direita, e Stálin era de esquerda?

Há uma clara distorção nisso tudo. Ser "de direita", no Brasil, é estar no centro do espectro politico, olhando para a esquerda. Qualquer coisa que estiver à direita do centro – e não há aí quase nada, a não ser figuras folclóricas como o deputado Bolsonaro – é “fascismo”. Daí o ridículo de alguém considerar “de direita” partidos como o PSDB ou o DEM – o primeiro é um partido social-democrata ao estilo europeu (de esquerda, portanto); o outro, embora tenha entre seus quadros representantes de antigas oligarquias regionais e figuras apontadas como alinhadas à política conservadora, limita seu liberalismo à economia e imita até no nome o Partido Democrata norte-americano (o partido de Barack Obama e de Jimmy Carter, a esquerda dos EUA). Desde 1994, as eleições presidenciais no Brasil apenas atestam a farsa, não sendo mais do que um campeonato de esquerdismo - em que vence, naturalmente, o mais esquerdista. Enfim, cadê a direita?

Recentemente, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso escreveu um longo artigo, “O papel da oposição”, em que chegou perto de apontar esse problema – o maior com que se defronta a política brasileira. FHC é e sempre foi um homem de esquerda, como não se cansa de dizer, mas percebeu o perigo que um país sem oposição representa para as liberdades democráticas. No artigo, ele lembra, não sem certos saudosismo e constrangimento, o periodo da oposição legal à ditadura militar para repetir o óbvio – que o papel da oposição é opor-se ao governo – e argumenta, com certo desalento, que é inútil disputar o “povão” com os lulopetistas, pois estes já conseguiram aparelhar os sindicatos e toda a chamada superestrutura, para usar o jargão marxista, o que só se consolidou durante o governo Lula, mediante bolsas-isso e bolsas-aquilo (os petralhas, obviamente, não perderam a chance de distorcer o que disse FHC, usando a referência ao "povão" para repetir a balela do PSDB "representante da 'elite'”).

Acertadamente, FHC denuncia, em seu texto, o cinismo e a hipocrisia do PT, que se apropriou de conquistas econômicas e da estabilidade proporcionadas pelo governo do PSDB, contra as quais se bateram no passado, bem como o desfazimento institucional que os oito anos de governo Lula acarretaram, com a institucionalização de práticas clientelistas e fisiológicas como o mensalão. O importante, escreveu FHC, é buscar novas estratégias para ganhar setores ainda não homogeneizados pelo discurso e pelas práticas dos lulopetistas, inclusive fazendo uso das redes de comunicação social da internet como o Facebook, o Twitter etc.

Tivesse se atrevido a ir um pouco mais longe, o sociólogo FHC acertaria em cheio, e não pela tangente. Se houvesse se livrado de certo ranço marxistóide, abandonando de vez os cacoetes esquerdistas apreendidos na época em que era um dos principais expoentes da hoje desacreditada “teoria da dependência”, ele perceberia que o grande problema brasileiro, atualmente, não é a ausência de “oposição”, mas de um partido claramente de direita e conservador. É a falta de tal partido, e não o fato de os tucanos não saberem usar a internet, o que constitui a maior ameaça à democracia no Brasil. (O fato de tantos não se terem dado conta disso, ou ignorarem essa ameaça, é mais uma prova da lavagem cerebral esquerdista – imaginem um país em que só houvesse partidos de direita.) Enfim, é algo que ele, FHC, também não poderia fazer, pois equivaleria a um "mea-culpa".

(Na verdade, não deveria causar surpresa a ninguém que os lulopetistas tenham se apoderado desavergonhadamente da política econômica do PSDB, a ponto de reivindicarem cinicamente sua paternidade: afinal, tucanos e petistas são crias do mesmo berço esquerdista uspiano, e aqueles apenas prepararam o caminho para que estes os substituíssem no governo. Antes de um Lênin, vem um Kerensky.)

A questão fundamental, em outras palavras, é a seguinte: como explicar que, embora o comunismo tenha caído em desgraça como regime político após a queda do Muro de Berlim e o colapso da URSS, ele tenha até ficado mais forte na América Latina, e no Brasil em particular? Como explicar esse fenômeno, além, claro, pela ignorância dos crimes inomináveis do comunismo, que não mais se justifica, ou pelo cinismo puro e simples, que leva algumas pessoas a se orgulharem de sua condição de comunistas, enquanto liberais e conservadores escondem, envergonhados, suas posições ideológicas?

Dito de outro modo: após 1989, a esquerda, ou pelo menos sua parcela mais importante, abandonou qualquer esperança de ser hegemônica em economia, mas manteve, e até ampliou, sua hegemonia ideológica e cultural. Abraçou o capitalismo - parte dela o fez -, mas apenas como um instrumento para levar adiante sua agenda antiliberal e antidemocrática. Questões antes desprezadas pelos partidos comunistas tradicionais, como a defesa de "minorias" e a preservação do meio ambiente, atreladas à agenda esquerdista, tornaram-se meros pretextos para atacar o capitalismo. Hoje, há mais comunistas na USP e na UnB do que em Pequim ou em Havana. Ao mesmo tempo, ninguém no Brasil se diz abertamente de direita, mas muitos se declaram oprimidos pela elite burguesa. Como explicar essa incongruência? Mais: como se chegou a essa situação?

O erro dos militares

Grande parte da culpa, paradoxalmente, recai sobre o regime militar de 1964, implantado exatamente para varrer do país a ameaça comunista.

Os militares são lembrados por terem imposto um regime autoritário conservador e combatido sem trégua a oposição de esquerda, sobretudo a esquerda armada. Quase ninguém lembra, porém, que entre as vítimas do arbítrio militar esteve também a direita civil, que foi marginalizada após 1964. Partidos como a UDN foram extintos e politicos anticomunistas como Carlos Lacerda foram cassados e tiveram suas carreiras políticas destruídas. O lugar destes foi ocupado por uma multidão de áulicos e oportunistas. O partido de sustentação do regime militar, a ARENA – de onde saíram muitos integrantes do DEM, ex-PFL – era ideologicamente nulo, como foram também seus sucessores.

Ao mesmo tempo, os militares no poder promoveram a ascensão de tecnocratas para os principais cargos públicos. Gente como Delfim Netto, hoje um dos principais gurus econômicos de Lula da Silva. Em termos politicos, surgiu um enorme vazio, que foi logo preenchido, durante o processo de “abertura” após 1974, pelo antigo MDB - de onde saíram FHC e José Serra – e por lideres esquerdistas exilados, como Leonel Brizola e Miguel Arraes, para não falar de um certo sindicalista barbudo e de voz rouca, que desponta para a politica exatamente nessa época. Nesse processo, defensores do regime, como ACM e José Sarney, passaram-se rapidamente para o outro lado. E onde ficou a “direita”? Em parte alguma.

O alijamento da direita civil pré-64 e sua substituição pela tecnocracia prepararam o terreno para a convergência de todos esses setores no campo da economia, em que o nacionalismo econômico e o dirigismo estatal se tornaram a ideologia oficial de nove em cada dez politicos brasileiros (o caso de Roberto Campos, ex-ministro do marechal Castello Branco, era uma anomalia excepcionalíssima). De tal forma que, após o interregno desastroso do governo Collor – aliás, uma caricatura de politico liberal, hoje comodamente alinhado nas hostes governistas –, não havia ninguém para defender abertamente e sem rodeios medidas como a privatização das estatais e cortes nos gastos públicos. Tal tarefa foi desempenhada, de forma relutante e pela metade, quase pedindo desculpas, pelo PSDB de Fernando Henrique Cardoso, desde então tachado imbecilmente de “neoliberal” pelas esquerdas.

Quanto aos partidos “de direita”, o DEM à frente, restringiram-se a um liberalismo pela metade, a um liberalismo para inglês ver, limitado quase inteiramente aos números da economia. Esquecem-se, assim, que o liberalismo econômico é inseparável do liberalismo politico, sem o qual aquele não passa de uma casca vazia, uma forma de justificativa de regimes autoritários. Ou alguém duvida que, economicamente, a China é hoje mais “liberal” do que o Brasil? Não dá para separar Adam Smith e John Locke, Friedrich Hayek e John Stuart Mill.

Mas o mais importante: a despolitização da sociedade promovida pelos militares veio de mãos dadas com a renúncia à guerra cultural. Os militares perseguiram os opositores do regime e exterminaram as guerrilhas de esquerda, e nisso demonstraram implacável eficiência, mas não fizeram absolutamente nada para impedir que o marxismo tomasse conta das universidades e do aparato cultural no Brasil. Pelo contrário: figura de proa do regime de 64, o general Golbery do Couto e Silva – o principal articulador do processo de abertura política nos governos Geisel e Figueiredo – defendia abertamente a “teoria da panela de pressão”, segundo a qual era necessário, e até desejável, que a esquerda dispusesse de um canal de expressão nas artes e na cultura, vistas até então como um terreno “inofensivo”.

O resultado disso foi que os militares renunciaram completamente a qualquer tipo de controle capaz de impedir a hegemonia gramsciana da esquerda, que se intensificou a partir do final dos anos 60, com os esquerdistas ocupando cada vez mas espaços nas áreas jornalística, artística e cultural, ao mesmo tempo em que a repressão se intensificava. Havia censura, é verdade, mas esta visava tão-somente impedir a divulgação de certas notícias consideradas incômodas para o regime, e não a impor a visão ideológica dos militares – até porque o regime militar não tinha qualquer ideologia, apenas a chamada "doutrina de segurança nacional". Nas artes, no cinema, nas redações dos jornais e revistas, nas universidades, nos sindicatos, nas igrejas – em toda a superestrutura da sociedade a visão de mundo marxista, na forma de revolução gramsciana, se impôs praticamente sem oposição.

Nunca se leu tanto Marx e Gramsci nas escolas e universidades brasileiras quanto nos anos 60/70, auge da ditadura militar. Também não se fez nenhuma tentativa séria, por parte dos militares, de evitar que a esquerda monopolizasse a História do período. Resultado: 25 anos depois do fim do regime dos generais, somente se conhece o ponto de vista dos "derrotados", com a consequente repetição ad nauseam de mitos e falácias sobre os "heróicos guerrilheiros que só queriam a democracia" - uma mentira desmentida pela simples leitura dos documentos das organizações terroristas (aliás, dizer que não eram terroristas é outro mito esquerdista sobre a época, desmentido facilmente por palavras e fatos). Com o tempo, seria estranho que o PT e seus aliados de esquerda não cooptassem os "movimentos sociais" e as universidades não se tornassem, como se tornaram, verdadeiras madraçais do pensamento único esquerdista. Do mesmo modo, foi durante o regime militar que os meios de comunicação, em especial a TV, tiveram um extraordinário avanço, sendo a grade de programação preenchida por novelas e filmes escritos e dirigidos por renomados esquerdistas, com temas esquerdistas. Eis o grande erro dos militares: negligenciaram a cultura. A esquerda e a extrema-esquerda agradecem.

A revolução gramsciana em ação

Como sempre acontece quando ocorre uma revolução, ainda que silenciosa, a cultura anterior – nesse caso, a alta cultura –, foi completamente obnubilada, tendo dado lugar à propaganda ideológica pura e simples. A tal ponto que falar em cultura hoje no Brasil é falar de algo que não existe, ou que já deixou há muito de existir: as grandes figuras da intelectualidade brasileira deixaram de ser Gilberto Freyre, Graciliano Ramos, Guimarães Rosa ou mesmo Jorge Amado, e passaram a ser Chico Buarque de Holanda, Marilena Chauí, Emir Sader, Marco Aurélio Garcia, Tarso Genro, Frei Betto…

Enfim, um enorme deserto, em que a alta cultura, substituída por um misto de agitprop e show business, tornou-se coisa do passado. Em seu lugar, a propaganda, muitas vezes nem sequer disfarçada, foi entronizada. E o pior: sem que ninguém percebesse. (O que comprova a máxima de que a melhor propaganda é mesmo a que não parece propaganda.) O objetivo desse tipo de propaganda é tornar mais fácil a ascensão dos esquerdistas ao poder, mediante a conquista de corações e mentes. Para que fazer a revolução pela força, ou mesmo pelas urnas, se se pode transformar todos em militantes repetidores de slogans – e o melhor: sem que ninguém se dê conta disso?

Assim, de forma lenta e gradual, anestésica, quase imperceptível, a esquerda brasileira conseguiu impor, nos últimos quarenta anos, sua hegemonia cultural e política, baseada na ditadura do "politicamente correto" e mediante os meios de comunicação de massa. Hoje, a agenda esquerdista é a única que se faz ouvir nos canais de TV, especialmente nos chamados temas comportamentais. O povo brasileiro é majoritariamente conservador e nem quer ouvir falar em legalização do aborto ou em "casamento" gay, mas tais coisas lhe são constantemente impingidas pelo noticiário e pelas novelas da Rede Globo, que fazem abertamente a apologia do gayzismo e do abortismo. Imposturas como as cotas raciais, por exemplo, só são possíveis porque não existe uma resistência politica efetiva, algo que partidos como o DEM e o PSDB não têm a menor intenção de fazer (tal tarefa acaba ficando nas mãos de setores da Igreja ainda não sequestrados pela "teologia da libertação" e pastores evangélicos - menos, claro, os da Record -, da VEJA ou de associações de empresários, ou de blogueiros isolados). Sem falar em atentados claros à liberdade religiosa e de expressão disfarçados de defesa dos "direitos humanos" como o PNDH-3 e em campanhas falaciosas como a do "desarmamento" que, mesmo derrotada num plebiscito em 2005, reaparece sempre, de forma oportunista, como no recente massacre na escola em Realengo, no Rio de Janeiro.

Nos EUA e nas democracias européias, temas como esses fazem parte do debate politico cotidiano. No Brasil, ao contrário, denunciar fatos documentados como a ligação do PT com as FARC e a corrupção governamental, ou mesmo cobrar coerência em temas como aborto, ou defender princípios e valores cristãos, é descartado imediatamente como "moralismo direitista", quando não é "golpismo" (!). Nesses e em outros assuntos, como a descriminalização das drogas e a maioridade penal, a opinião popular destoa frontalmente da agenda dos esquerdistas. Com que direito, portanto, estes se dizem os legítimos representantes do "povão"?

Enquanto a inexistente “oposição” brasileira continuar bancando o avestruz e enfiando a cabeça na areia, recusando-se a travar a necessária batalha das idéias e elegendo a defesa do liberalismo econômico como única bandeira, o caminho para a implantação de uma forma de ditadura esquerdista no Brasil estará aberto sem qualquer impedimento. E sem que um único tiro precise ser disparado. De fato, em nenhum outro país a revolução cultural gramsciana está tão avançada quanto no Brasil. Realmente, o Brasil é, por esse ângulo, menos democrático do que a Venezuela – no país de Hugo Chávez, existe oposição ao governo, e inclusive uma direita organizada e atuante, ao contrário do que ocorre (ou melhor: não ocorre) no Brasil. Pode-se dizer, sem exagero, que nenhum outro país está mais pronto para se tornar uma ditadura comunista. Cultural e ideologicamente, o Brasil já é uma república soviética. Graças, em parte, aos militares e à "oposição".

sexta-feira, abril 15, 2011

DILMA, A HUMANISTA



Petralha não brinca mesmo em serviço. Mal terminaram de protagonizar a maior farsa da História do Brasil, que durou oito anos, e uma nova comédia já está sendo encenada.

Faz pouco mais de cem dias que uma tecnocrata desconhecida assumiu a Presidência da República em Banânia e já foi criado um novo mito político, capaz de rivalizar com o de seu antecessor e criador em cinismo e empulhação.

Dilma Rousseff está sendo vendida por seus apoiadores, antigos e recentes, como a anti-Lula. Não importa que ela só exista por causa do Apedeuta, que a retirou da obscuridade e a escolheu para sucedê-lo (ou melhor dizendo: para gerenciar o governo em seu lugar): o "estilo Dilma", dizem, é diferente. Cansados da fanfarronice e da discurseira infindável do descobridor do Universo, muita gente, compreensivelmente, viu no silêncio enigmático de Dilma um alívio. Não perceberam que isso também é uma manobra política. Sai de cena o animador de auditório e entra a Muda Decorosa. Logo, concluem os "analistas", o governo Dilma é diferente do governo Lula. É outro governo, enfim.

O que leva gente aparentemente inteligente e em pleno domínio de suas faculdades mentais a essa fantástica conclusão? Além da diferença, digamos, de estilo pessoal - falastrão e megalomaníaco, no caso de Lula, e mais reservado e contido, no de Dilma -, apenas duas coisas.

Primeiro: a economia. Dilma anunciou privatizações em setores como aeroportos e - o horror, o horror! - bateu-se pela aprovação, no Congresso, do salário mínimo de 545 reais. É o governo da austeridade!, apressaram-se em anunciar os que vêem nisso uma ruptura com a irresponsabilidade orçamentária e o populismo desbragado da Era Lula.

Segundo: a política externa. Mais precisamente, os direitos humanos. Aqui, a Soberana teria tratado logo de demarcar sua posição em relação à atitude de Lula e de Celso Amorim, ao denunciar o apedrejamento de mulheres no Irã do companheiro Mahmoud Ahmadinejad. É o fim da política externa delinquente de apoio a ditaduras!, alardearam, em júbilo, muitos dos críticos do governo lulista. Estes viram nisso a prova definitiva de que a diplomacia brasileira teria retomado o caminho da racionalidade, de que jamais deveria ter-se desviado, depois do namoro indecoroso com o que de pior existe na humanidade.

É claro que é mais uma balela. Mostro por quê.

Em primeiro lugar, se Dona Dilma resolveu mexer na política econômica, é porque percebeu o risco que esta representa para o ato teatral que está encenando. Trata-se, simplesmente, de mais um ziguezague, coisa que os petistas são useiros e vezeiros. O que está por trás dessa nova manobra é tão-somente garantir o poder, nada mais do que isso. Foi com essa finalidade que Lula, aconselhado por marqueteiros, resolveu lançar sua "Carta aos Brasileiros" em 2002, para acalmar os mercados, admitindo, assim, ter sido um bravateiro durante toda a vida. Dilma está seguindo o mesmo rumo, com a diferença de que está tendo de consertar a herança maldita deixada por Lula e por... Dilma. É algo que está em perfeita sintonia com a verdadeira ideologia do PT - a do "farinha pouca, meu pirão primeiro" (tradução: aparelhamento do Estado pela máquina sindical-petista devoradora de recursos públicos). Em outras palavras: se é conveniente, adota-se. E se o discurso anterior contrariava essas práticas, passa-se uma borracha e pronto. Nisso ela está só repetindo o que sempre foi a prática petista.

Com relação à política externa, a farsa é ainda mais clara. É aqui que se tem dito as maiores barbaridades nos últimos tempos. Cheguei a ouvir, de uma pessoa considerada sensata, que a nova atitude "humanista" de Dilma, em contraste com a política "pragmática" de seu antecessor (como se adular ditadores fosse sinal de pragmatismo, e não de delinquência...), seria o resultado de um compromisso íntimo da atual presidente, decorrente de seu passado como ex-presa política e torturada durante o regime militar. "Ela foi presa e torturada, logo, é natural que defenda os direitos humanos", tornou-se o mantra a ser repetido pelos incautos, que acreditam numa história com apenas uma versão e que os idealistas da Vanguarda Armada Revolucionária só queriam a democracia.

Poucas vezes se leu e ouviu mentira maior. Se Dilma resolveu mudar um pouco o discurso em relação ao Irã, condenando, "como mulher", a execução de adúlteras no país muçulmano, isso não se deveu a nenhuma conversão sua à causa da Anistia Internacional ou da Human Rights Watch, mas, novamente, a uma conveniência política. Depois do fiasco total da política externa megalonanica no Oriente Médio, manter a mesma posição calhorda no tocante ao regime de Teerã seria passar recibo de idiotice. E os petralhas são tudo - hipócritas, principalmente -, menos burros. Tivesse dado certo a jogada do acordo fajuto com o Irã, e não sido torpedeado como foi pela ONU, o Itamaraty teria mantido a mesma política?

Além do mais, uma coisa é condenar o regime do Irã, um país distante e um pária da comunidade internacional. Outra coisa, muito diferente, é fazer o mesmo com companheiros vizinhos. Fico cá pensando: quando será que a humanista Dilma Rousseff, ex-camarada Stela da VAR-Palmares, vai condenar as violações aos direitos humanos em Cuba ou o narcoterrorismo das FARC? Quando será que ela vai dizer uma palavra contra algum de seus companheiros do Foro de São Paulo? Nem precisa ir muito longe: basta condenar as depredações dos vândalos do MST. A democrata Dilma está disposta a fazer isso?

(Em tempo: Dilma jamais se disse arrependida dos anos de terrorismo, quando lutava de três-oitão na mão para que o Brasil se tornasse uma nova Cuba. Até agora, o máximo que ela fez foi declarar que "mudou com o Brasil". O que significa que não lamenta nem se arrepende da época em que participava de grupos que assaltavam bancos, sequestravam e matavam pessoas para implantar o comunismo no País. Pelo contrário: tem orgulho disso. Coisa de gente humanista e comprometida com os direitos humanos, como se vê.)

Muita gente, levada pelo ilusionismo oficialista, ignorância ou wishful thinking, ou tudo isso junto, está caindo nesse conto-da-Dilma-responsável-e-humanista. A ponto mesmo do delírio. Arnaldo Jabor, por exemplo, caiu de amores por Dilma Primeira e Única, a quem não cansa de elogiar por sua beleza (!?) e... cultura (!!!???). Dispenso de comentar o gosto estético do cineasta-que-virou-comentarista. Quanto à cultura, basta dar uma olhada em algum dos vídeos em que a Pudorosa aparece exibindo todos os seus dotes de elegância linguística e fluência verbal, para não falar em sua lógica perfeita (a última dela foi ter dito, na China, que o mundo está entrando, em pleno ano de 2011, na segunda metade do século XXI...). Coisa de deixar os grandes oradores do passado, como Cícero e Demóstenes, revirando-se no túmulo, de inveja.

"Ah mas ela é competente, entende muito de energia" etc. Nem vou comentar. Quem tem que dizer alguma coisa, aqui, é quem ficou no escuro em dois apagões recentes. No primeiro dos quais, a então ministra Dilma mostrou toda sua competência... para fugir (literalmente) de qualquer explicação convincente.

Quanto ao estilo discreto e recatado, nada de surpreendente. Ou você já viu, caro leitor, um subordinado querer aparecer mais do que o chefe?

Sempre me intrigou o fato de tantos atores serem de esquerda. Agora sei por quê. Ser esquerdista é mesmo encenar para a platéia. Os atores podem até mudar, mas o enredo continua o mesmo.

quarta-feira, abril 13, 2011

MENTIRAS "DO BEM"




Até o massacre de 12 crianças na escola do Rio de Janeiro, eu achava que era possível defender o desarmamento de boa-fé, com um mínimo de honestidade. O que tenho visto e lido na imprensa desde a última quinta-feira, porém, abalou profundamente essa minha convicção.

Confesso que poucas vezes li e ouvi tanta besteira, tanta mentira travestida de humanismo e de defesa da "paz". Como se defender o direito a escolher ter ou não uma arma de forma legal fosse o mesmo que aplaudir loucos que entram atirando em escolas. Como se Wellington Menezes de Oliveira tivesse adquirido os dois revólveres em alguma loja de caça com CNPJ inscrito na Associação Comercial. Como se ter ou não uma arma registrada tivesse alguma coisa a ver com o ocorrido na escola em Realengo.

É de espantar! O oportunismo e o descaramento dos desarmamentistas parecem não ter limites. Li há pouco uma declaração do presidente do Viva Rio, a ONG queridinha da Rede Globo, em que ele se dizia "feliz" – isso mesmo: feliz! – pelo massacre em Realengo, pois este teria trazido de volta o "debate" sobre o desarmamento... É assim que eles chamam a tentativa descarada de engabelar e manipular a opinião pública: "debate". "Debate" que exclui deliberadamente fatos e números que desmentem a falácia desarmamentista.

Nem vou repetir os números, que citei aqui em outro texto. Basta atentar para o seguinte fato: os desarmamentistas, de boa ou má fé, argumentam que a proibição pura e simples da venda legal de armas teria uma relação direta com os números da violência. Muito bem. A proibição é adotada na Jamaica e no Japão, dois paises com indices de violência muito diferentes entre si. Onde está a tal "relação direta" (ou qualquer relação) entre uma coisa e outra?

Isso para não falar dos EUA, país que muita gente acha, graças aos filmes de Michael Moore, que é uma espécie de território sem lei, onde há um maluco armado até os dentes em cada esquina, pronto para mais um massacre. Faço um convite: comparem os números da violência nos EUA, onde o porte de armas é um direito constitucional, com os do Brasil, onde o cidadão precisa passar por uma verdadeira via-crúcis, que dura meses, para poder botar a mão legalmente num revólver 32. Façam isso, e depois me digam se desarmar a população civil é remédio contra o crime...

Os argumentos acima, claro, são inúteis para demover os devotos do culto desarmamentista de mais essa cruzada. Estes já estão convencidos – ou melhor: se convenceram – de que retirar do cidadão o direito a escolher ter ou não uma arma é o caminho luminoso, a solução mágica que irá abrir as portas de um mundo de paz e harmonia, no qual não haverá violência e todos, bandidos e policiais, criminosos e cidadãos de bem, se darão as mãos e cantarão juntos, fazendo aquele gesto com as mãos imitando as asas de um pássaro...

Em momentos como este, parece que todos, levados por um horror de ocasião, jogam a lógica e o bom senso às favas. Aliás, todos não: somente os que se convenceram que proibir o comércio legal de armas de fogo irá significar uma sociedade mais segura e pacífica. Gente como José Sarney, o ínclito senador do Maranhão, que ameaça convocar novo referendo sobre o assunto (o resultado do primeiro, como não foi o que esperava o Viva Rio e a Rede Globo, não teria expressado o verdadeiro valor da democracia...). Ou, então, a ministra petista dos Direitos Humanos (?), Maria do Rosário, que clama pelo desarmamento mas que, revelou-se agora, recebeu dinheiro da Taurus, fabricante de revólveres e pistolas, durante a campanha eleitoral para deputada federal (em tempo: nada contra políticos receberem contribuições financeiras de fabricantes de armas, apenas contra a hipocrisia). E isso tudo sem abdicar, claro, da segurança que lhes é proporcionada por seus guarda-costas armados, privilégio que a imensa maioria da população, que tem que conviver com a bandidagem, nem sonha em ter. Sarney e Maria do Rosário alegam que as armas legalizadas contribuem para a violência. Pela lógica, eles também contribuem.

Eu também sou a favor de um mundo melhor, sem violência, sem massacres, sem psicopatas à solta. E sem mentira. Principalmente se for uma mentira do "bem". Até porque não existe verdade "do mal", existe?

segunda-feira, abril 11, 2011

A RELIGIÃO DESARMAMENTISTA: UM EDITORIAL MENTIROSO DE "O GLOBO"

\O grupo Globo, da família Marinho, é, como se sabe, um dos maiores defensores da idéia do "desarmamento". A Rede Globo de televisão, principalmente, é um celeiro de gente bonita e maravilhosa, que só quer o bem para a humanidade. Foi do Projac que saiu o pelotão de artistas e cantores que, em 2005, tentaram convencer a população, com musiquinha e tudo, que estaria mais segura e viveria em paz se aceitasse uma lei que retiraria do cidadão o direito de escolher ter ou não uma arma adquirida legalmente. (Nesses momentos, claro, a turma da esquerda que advoga a mesma idéia desarmamentista silencia sobre a emissora "de direita".)

O jornal O Globo, obviamente, não poderia ficar de fora dessa patacoada. Mal se haviam passado 24 horas do assassinato brutal e covarde de 12 adolescentes em uma escola municipal no Rio de Janeiro e o jornal carioca tratou de estampar em suas páginas um editorial que tem tudo para entrar para os anais do jornalismo. Não pela qualidade do texto ou pela verdade das palavras, mas exatamente pelo motivo oposto: trata-se de uma das maiores peças de desinformação e de manipulação da realidade que já li.

O problema do texto começa já pelo título: “Levar o desarmamento a sério”. Como se fosse possível levar a sério semelhante idéia estapafúrdia. Vocês verão por quê. É, de certo modo, uma síntese de todas as mentiras e lorotas que, repetidas por vigaristas, militantes devotos e iludidos vocacionais, estão sendo vendidas como verdade nesses dias, como se proibir o comércio legal de armas tivesse alguma coisa a ver com a tragédia perpetrada pelo louco de Realengo. Uma clara demonstração de que estatísticas existem para ser torturadas para que digam o que se convém.

Vejam por vocês mesmos. O editorial vai em vermelho. Eu vou em preto.

A campanha lançada em 2003 como desdobramento do Estatuto do Desarmamento, para recolher armas, foi eficaz instrumento de redução dos indicadores da violência.

Não foi, não. Os motivos estão listados em seguida.

Em outubro de 2005, ao fim do movimento que convidava a população a participar de forma espontânea, o total de armas recolhidas pelo Estado chegou à casa de 500 mil. Prova incontestável de que esse arsenal abastecia estatísticas com trágicos números foi recolhida em levantamento do Ministério da Saúde: de 2003 a 2006, houve uma queda de 17% nos registros de mortes por armas de fogo no país. No âmbito da administração pública, só em internações evitadas de feridos o SUS deixou de gastar R$93 milhões; pelo viés social, dessa redução decorreu que número significante de famílias deixou de lamentar a perda de parentes.

“Prova incontestável” de quê, cara-pálida? A queda de 17% no número de mortes por armas do fogo entre 2003 e 2006 foi devida ao desarmamento? Durante esse período, e mesmo antes, assistiu-se a uma redução da criminalidade em alguns estados, como São Paulo (no Nordeste, ao contrário, a taxa de crimes aumentou). O que isso teve a ver com o desarmamento? Nada, absolutamente nada. Teve a ver, sim, com mais investimentos públicos em segurança – em outras palavras, em mais polícia na rua. E quanto aos bandidos, teriam eles se convertido à campanha oficial e entregue suas armas? No dia em que isso acontecer, aí sim, as campanhas pelo desarmamento terão algum sentido. Se recolher armas diminuísse a violência, países como a Jamaica, onde as armas são proibidas, seriam paraísos da paz e do amor. Por que não recolher todas as facas?

Infelizmente, a esse bom indicador não se seguiu um movimento que aprofundasse o repúdio da sociedade a engenhocas letais.

O “repúdio da sociedade a engenhocas letais” foi ótimo... Para a Globo, o único repúdio que vale é o que o Viva Rio acha certo. A sociedade já deu seu repúdio à lorota desarmamentista. Mas isso, obviamente, não conta para a/o Globo. Ademais, uma faca, como já disse, ou um trator, também são engenhocas letais. Que tal proibí-las?

Em 2005, o país perdeu, no plebiscito sobre o fechamento do comércio especializado, grande chance de tirar mais armas de circulação e estabelecer barreiras efetivas à compra de armamento.

Quem perdeu foi a Globo, não "o país". Barreiras efetivas à compra de armamento LEGAL, faltou dizer. Quanto às armas nas mãos dos bandidos... Só apelando para o Felipe Dylon, mesmo.

Em boa hora, portanto, o Ministério da Justiça reafirma a retomada da Campanha do Desarmamento. É medida urgente, imperiosa, premente, diante da tragédia de anteontem em Realengo, uma chacina que deixou 12 crianças mortas e um sentimento de horror no mundo inteiro.

“Em boa hora” quer dizer: vamos aproveitar a chance e manipular a opinião pública. Raras vezes vi confissão maior de demagogia do que essa. Por “medida urgente, imperiosa, premente”, leia-se: medida demagógica que tenta ressuscitar uma idéia idiota já rejeitada pela população, tentando faturar em cima da comoção por uma tragédia provocada por um demente que adquiriu suas armas de forma ILEGAL.

Não é, no entanto, ação com que se pretenda dar por resolvido o problema da violência. Mas o desarmamento é passo estratégico, e se devem dar outros, como o cumprimento estrito do Estatuto em vigor, a adoção de um programa de fiscalização permanente e um sistema efetivo de controle das fronteiras, por onde passa boa parte do arsenal que arma bandidos e loucos - e mesmo cidadãos que comungam com o equivocado princípio de se armar como defesa contra a violência.

Pelo menos O Globo não disse que o desarmamento vai curar o câncer e espinhela caída... Ah, mas é um “passo estratégico”. Para quê? Para desarmar os membros da ADA ou do Comando Vermelho? Já que o editorial fala de cumprimento ao Estatuto em vigor, que tal lembrar que as leis existentes no Brasil sobre porte de armas estão entre as mais rigorosas do mundo, e isso não impede em absolutamente nada fatos como o da escola de Realengo? Quanto à vigilância nas fronteiras, estou de pleno acordo. Até porque qualquer morador da Rocinha ou do Complexo do Alemão sabe perfeitamente que o arsenal que entra no País e que arma bandidos e loucos é de armas ILEGAIS - como fuzis e submetralhadoras – e que a maioria das armas compradas legalmente no Brasil são revólveres e espingardas produzidos nacionalmente. Mais uma vez: em que impedir o cidadão de possuir, se quiser, de forma legal tais armas irá impedir tragédias como a da escola Tasso da Silveira?

Mas atenção, leitor! A parte mais impressionante do editorial vem agora.

Adeptos desse tipo de raciocínio argumentam que, enquanto os cidadãos se desarmam, os criminosos reforçam seus arsenais - segundo eles, graças ao tráfico de armas, e não por culpa do comércio legal e controlado. Mas relatório da CPI do Tráfico de Armas da Câmara dos Deputados desmente a tese com números.

Vejamos o que diz o Relatório da CPI, e como o editorial de O Globo o interpreta.

De acordo com o documento, especificamente no Estado do Rio, palco da tragédia e onde existem quase 600 mil armas ilegais, 86% do armamento usado por criminosos saíram das lojas legalmente estabelecidas. Cai por terra, portanto, o argumento de que é possível manter sob controle, pelo rastreamento, a circulação de armas em mãos de cidadãos pacíficos. Ajuda a desfazer esta inocente visão o fato de a Polícia Federal ser leniente com o controle da trajetória desse arsenal em direção ao paiol dos bandidos.

Vamos pensar um pouco?

Primeiramente, de onde veio o número de 600 mil armas ilegais no RJ? Se são ilegais, como se pode ter chegado a essa estatística? Fizeram uma pesquisa com os traficantes?

Se me perguntarem quantas armas clandestinas existem na minha vizinhança, eu direi que não tenho a menor idéia, exatamente porque são clandestinas e estão, portanto, além de qualquer monitoramento... Particularmente – é só um chute, nada tem de científico – acredito que o número de 600 mil armas ilegais no RJ é bem inferior ao que existe na realidade.

Outra coisa: 86% das armas usadas por criminosos ou 86% das armas APREENDIDAS? Existe aí, convenhamos, uma grande diferença. Pode-se dizer, com uma margem pequena de erro, o percentual de armas recolhidas pela polícia que saíram de estabelecimentos legais. Mas dizer quanto por cento de revólveres ou pistolas usados atualmente por assaltantes e outros criminosos se encaixa nessa categoria é puro palpite. Eu não sei. O governo não sabe. Ninguém sabe. Quem disser que sabe ou tem dons telepáticos ou é um vigarista.

Digamos que 100% das armas usadas em assaltos ou assassinatos recolhidas pela polícia tenham saído de lojas de caça. O que isso prova? Que não existem armas ilegais, e que a quantidade de pessoas mortas ou feridas por tais armas é menor do que a por armas legais? A meu ver, esse dado prova apenas que apreender um revólver 38 é mais fácil do que, digamos, um AR-15 ou um AK-47.

Enfim, o relatório da CPI não desmente "tese" alguma. Até porque não existe nenhuma "tese" a ser desmentida, mas um FATO - as armas que abastecem a bandidagem chegam a ela de forma clandestina e ilegal, mediante o tráfico de armas. Só não vê quem não quer - ou quem leva a sério os editoriais desarmamentistas e oportunistas de O Globo.

É preciso tratar a questão do desarmamento, da aplicação do Estatuto e da fiscalização como política de Estado, perene.

Como na Jamaica?

Criar barreiras para a circulação de armas não é uma fórmula mágica, panaceia capaz de, por si só, proteger a sociedade de psicopatas como o assassino de Realengo.

Desarmar cidadãos de bem também não. Aliás, o efeito disso seria justamente o contrário do esperado. Vejam, novamente, o caso da Jamaica. Ou dos proprios EUA, como mostra John Lott em seu livro More Guns, Less Crime (que ninguém na Globo e no Viva Rio leu ou lerá um dia, pelo visto).

Mas é uma entre tantas medidas a serem tomadas pelo poder público para reduzir riscos e conter a banalização de tragédias, sejam elas restritas a pequenos círculos familiares ou de proporções como o assassinato em série na Escola Tasso da Silveira.

Está mostrado e demonstrado que retirar armas legais de circulação - e, com isso, o DIREITO do cidadão de armar-se, se assim considerar necessário - não reduz riscos nem contém a banalização das tragédias. Mas vamos admitir, por um momento, que sim, proibir a posse de armas legais tenha algum resultado benéfico nos números de pessoas mortas por armas de fogo, seja por violência ou por acidente. Nesse caso, o que deveria ser feito com as facas de cozinha? Ou com os próprios automóveis, que são também instrumentos letais, causadores de milhares de mortes todos os anos? Se for para seguir o mesmo raciocínio dos desarmamentistas, todos deveriam comer com facas de plástico e andar a pé.

Lembro que quando eu era criança, certa vez me feri com uma faca de cozinha. O corte foi profundo, e perdi muito sangue. Na hora, fiquei com muita raiva, e desejei um mundo sem facas de cozinha. Algumas horas depois, estava procurando uma faca para cortar um pedaço de pão.

REPITO A PERGUNTA: EM QUE IMPEDIR A VENDA DE ARMAS LEGAIS IRÁ IMPEDIR TRAGÉDIAS COMO A DO RIO? SE ALGUM PAI DE ALUNO ESTIVESSE PRESENTE E ARMADO PARA DETER O ASSASSINO, SERÁ QUE O NÚMERO DE VÍTIMAS FATAIS TERIA SIDO O MESMO? Estou pensando em mandar essa pergunta para a seção de cartas de O Globo. Mas algo me diz que eles não vão responder.