sábado, março 26, 2011

VOCAÇÃO PARA BAJULAR


O prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, está dando uma aula de como pensam e agem os políticos no Brasil e, mais do que isso, os brasileiros. Há alguns dias, ele anunciou oficialmente sua saída do DEM, partido em que, desde os tempos do PFL, fez sua carreira política, para fundar uma nova agremiação, batizada de PSD (Partido Social-Democrático). Motivo alegado: o DEM, segundo afirmou Kassab em entrevista à VEJA, perdeu o rumo, tornando-se um partido de oposição tão irresponsável quanto foi um dia o PT. Ele, Kassab, não acredita nisso e quer trabalhar "pelo Brasil". Tradução: ele quer ter liberdade para aderir ao governo de Dilma Rousseff sem corar. Está ansioso para se juntar ao cordão de puxa-sacos, que nunca foi tão numeroso, e que não pára de crescer.

Que Kassab queira pular do barco oposicionista e ingressar no partido dos vira-casacas, vá lá, é um direito dele, embora seus eleitores devam estar se sentindo traídos. Mas não precisava ofender tanto a verdade e a inteligência. O DEM, partido de oposição, ainda por cima comparável ao PT dos velhos tempos? Só pode ser brincadeira. Se há algo que falta no Brasil de hoje, mais até do que vergonha na cara de gente como Kassab, é oposição. Refiro-me a oposição de verdade, como existe em qualquer país civilizado, e não a jogo de cena. O DEM virou um mero coadjuvante do PSDB, partido irmão do PT, gerado na mesma incubadora uspiana esquerdista em que este foi engendrado. O DEM, oposição ao lulo-petismo? Quem dera que fosse. Lembram da última eleição presidenciai?

Até as pedras da Praça da Sé sabem o real motivo de Kassab estar abandonando o DEM: ele quer trocar de partido, como já é rotina na política brasileira. Como não pode fazê-lo sem o risco de ter o mandato cassado, bolou uma estratégia: criar um partido-fantasma, o tal PSD, para depois fundir-se a um partido da base governista, o PSB (Partido Socialista Brasileiro). Tudo para ficar mais perto do pudê. De liberal a socialista, num passe de mágica. Coerência ideológica total, como se vê.

Kassab nâo é o primeiro, nem será o último, a se bandear para o lado do governo. Um dos primeiros que percebeu a mudança de ventos e montou a mula encilhada foi outro prefeito de capital, o carioca Eduardo Paes. Em 2005, então jovem deputado federal pelo PSDB, ele despontou como uma das estrelas da CPI do mensalão. Era, então, uma das "promessas éticas" do Congresso contra a corrupção etc. Menos de três anos depois, porém, lá estava ele, lépido e fagueiro, no PMDB, partido do governo (de qualquer governo), fazendo juras de amor a Lula. Chegou mesmo, nessa virada, a escrever uma carta à dona Marisa Letícia pedindo desculpas por ter participado da CPI do mensalão... O motivo? Sua eleição para a prefeitura do Rio de Janeiro (outro mestre insuperável na arte do puxa-saquismo é o governador do Rio, Sérgio Cabral).

A malandragem de figuras como Paes e Kassab - até no nome escolhido para o partido-tampão: quando um político não quer se definir ideologicamente, diz que é "social-democrático" ou coisa que o valha - é reveladora, ao demonstrar de forma quase pornográfica a vocação chapa-branca que caracteriza a política brasileira. E não só a política. Na verdade, trata-se de uma característica cultural tipicamente brasileira, assim como o samba e o carnaval. Bajular, adular quem está por cima, é um aspecto atávico da sociedade e da psicologia nacionais, que daria assunto, certamente, para vários tratados acadêmicos. Entre nós, historicamente, a atração pelo poder é uma força irresistivel, quase erótica. É algo que vem de longe, está nos nossos genes, por assim dizer. A atração pelo poder. A ânsia adesista. A vontade de ser áulico. O pendor para a vida de cortesão. O desejo de ser chapa-branca. A vocação do puxa-saquismo.

É algo facilmente encontrado em todos os setores, de todas as classes e categorias sociais. Pode-se com facilidade detectar o fenômeno, com níveis semelhantes de fervor e intensidade, entre intelectuais, jornalistas, artistas, bandidos e donas-de-casa. Sobretudo entre os que se convencionou chamar, por estas bandas, de intelectuais. Entre esses, o comichão servil se manifesta até mais do que entre os políticos.

Dou um exemplo: Arnaldo Jabor. A partir de 2005, ano do mensalão, e durante todo o segundo mandato do mandarinato lulista, não passou uma semana sem que o cineasta de filmes que quase ninguém viu e comentarista da Globo não despejasse suas performances indignadas contra os petistas. Nisso, ele pareceu querer expurgar a responsabilidade da classe artística na criação do mito Lula: tendo ajudado a erguer o monumento à falsidade que é o lulo-petismo, intelectuais como Jabor subitamente descobriram que o PT é um partido corrupto, e que Lula é um político brasileiro, não um santo ou um messias (alguns ainda acreditam nisso, mas para esses não há remédio que dê jeito). Como acontece quando um marido se descobre traído, a perplexidade dá lugar à desilusão, a desilusão à raiva, e esta à indignação. Que pode ser para sempre ou diluir-se com o tempo, mostrando-se, assim, uma paixão momentânea e superficial.

(Claro, para não fugir à regra dos intelectuais esquerdistas, não faltaram a Jabor, nesses anos todos, oportunidades de compensar sua desilusão com o lulo-petismo, reforçando o coro dos inimigos de George W. Bush e da guerra no Iraque, por exemplo, ou cantando loas a Barack Obama. Outros fazem o mesmo por outros meios: criticando, por exemplo, o "politicamente correto", mas apondo suas assinaturas em manifestos e abaixo-assinados em favor de Hugo Chávez... Tudo para ficar de bem com a beautiful people, a gente linda e maravilhosa que dita as regras de pensamento e comportamento no Brasil. Como diz o provérbio: quem muito fuma cachimbo, fica com a boca torta.)

Hoje, vê-se que toda aquela raiva e indignação de Jabor em relação a Lula e aos mensaleiros não passou de fogo de palha, de uma oposição de ocasião, como foi também a do PSDB e a do DEM (vide Eduardo Paes e Kassab). Mal acabou o governo Lula e Jabor já retornou ao estado normal de um intelectual brasileiro, substituindo a indignação pelo adesismo. Seguindo sempre a corrente, ele apressou-se em ver as diferenças entre Dilma Rousseff e seu criador e inventor, Lula da Silva, inventando uma Dilma que não existe.

Para ele, Jabor, assim como para muita gente, Dilma é a anti-Lula. Onde Lula falava e aparecia demais, ela, Dilma, acerta ao falar e aparecer de menos, governando discretamente por trás dos bastidores, quase como uma rainha da Inglaterra. Onde Lula apoiava ditadores, ela, Dilma, condena os apedrejamentos de mulheres no Irã. Onde Lula se mostrava omisso e dizia não saber de nada, ela cobra resultados de seus subordinados. E assim por diante.

É mais um mito, claro, assim como foi o mito lulista. Dilma não é o anti-Lula coisa nenhuma. É, sim, a continuação do Apedeuta, que a pariu e que a moldou. As mudanças (se é que se pode chamar assim) cosméticas na política salarial ou na política externa, por exemplo, nada mais são do que isso: mudanças cosméticas, necessárias para corrigir os abusos do lulanato (a verdadeira herança maldita), como o aumento dramático do déficit público e os danos à imagem do governo pelo apoio ao que há de pior na humanidade. A essência do lulo-petismo, esta continua intocada. O projeto de poder continuísta do PT e de seus sócios permanece exatamente o mesmo. O objetivo de acabar com a democracia - mediante o amordaçamento da imprensa, por exemplo - está mais forte do que nunca. A diferença é que, com Dilma, o projeto de poder petista deixou de ser pessoal para virar uma pelegocracia.

Tamanha é a cegueira para esse fato mais que óbvio que gente como Arnaldo Jabor, mesmo sem ser petista, acaba exagerando na bajulação. Jabor já chegou a dizer que acha Barack Obama "sexy". Agora, acaba de declarar que acha Dilma Rousseff bonita. Bonita só, não. Bonita e inteligente. Que ele a ache bonita, tudo bem: afinal, tem gosto para tudo. Mas, inteligente... Bem, inteligente supõe certo nível de coordenação mental, ou, pelo menos, de articulação verbal. E quem já teve o duvidoso privilégio de ouvir Dilma Rousseff discorrer sobre qualquer assunto, sabe que lhe faltam esses dois requisitos num nível abaixo do aceitável para um adolescente, quanto mais para alguém que ocupa a Presidência da República.

Se jogadas como a de Gilberto Kassab e comentários como os de Arnaldo Jabor provam alguma coisa, é que o desejo de agradar, a vocação para aplaudir, é a verdadeira ideologia nacional do Brasil. A tal ponto que provoca mesmo frêmitos de excitação erótica em quem a pratica. Parafraseando o ex-secretário de Estado norte-americano Henry Kissinger, o poder - melhor dizendo, a bajulação dos poderosos - é mesmo um afrodisíaco.

quinta-feira, março 24, 2011

OBAMA: O TRISTE FIM DE UM MITO


Quem passou pela Terra de Cabral um dia desses foi um tal Barack Hussein Obama, que, dizem, é o presidente dos EUA. Foi recebido com festa pelos nativos, que o adularam com salamaleques oficiais na capital. Para não perder a viagem, ele aproveitou para passear no Rio de Janeiro, onde, entre um discurso histórico e uma pose histórica da família histórica, o presidente histórico fez um pouco de turismo. Enquanto isso, um grupo de crianças de uma ex-favela (agora se chama "comunidade") lhe entretiveram e à primeira-dama Michelle e suas filhas dando saltos mortais e fazendo piruetas. Na próxima, vão chamar um grupo de funk.

Alguém teve a brilhante idéia de que, ao colocarem as mãos no chão e darem cambalhotas, os meninos e meninas da Cidade de Deus estariam exibindo algo genuinamente "nacional", a fina flor de nossa cultura, esses papos, enfim. Se tivessem declamado Goethe ou Shakespeare, ou exibido bons conhecimentos de ciências e matemática, não seria a mesma coisa. Afinal, gringo gosta de ver coisas exóticas, como o samba e a macumba, ou o rebolado de nossas mulatas. Além do mais, é nossa sina. Parece que os brasileiros têm certa dificuldade em permanecer em posição ereta diante de Obama.

Estava previsto inicialmente que Obama faria um discurso na Cinelândia. A idéia, certamente saída do cérebro de algum gênio do marketing político, foi, felizmente, abandonada. Parece que alguém na comitiva obamista lembrou que os brasileiros não entendem inglês. Mas não poderia haver tradução simultânea, por meio, sei lá, de um telão com legendas em português? Poderia, claro. Mas aí alguém deve ter lembrado que os brasileiros não sabem ler em nenhuma língua.

A visita de Obama foi também uma oportunidade para confirmar aquilo que sabemos há, pelo menos, oito anos: que o Brasil, finalmente, é um país importante, cujos líderes são respeitados mundialmente. Chegou a hora, pensaram os anfitriões, dessa gente bronzeada mostrar seu valor, provando aos gringos que somos iguais a eles e que estamos no mesmo nível. Imaginem Lula ou Dilma Rousseff falando aos americanos no Capitólio ou na Times Square. Imaginaram?

(Nota à margem: Lula não foi ao almoço oferecido em homenagem a Obama pelo Itamaraty em Brasília. Deve ter pensado que o lugar não comportava dois demiurgos e reformadores do mundo. Afinal, cerimônia em que ele não discursa não vale. Essa peça é somente para um ator.)

No final, Obama não mostrou seu queixo de estátua na Cinelândia, mas num palco um pouco mais acanhado, o Teatro Municipal. Não haveria lugar mais adequado. Afinal, o homem é um ator, e dos bons. Obama, como já sabem mais de 70% dos americanos que, a essa altura, querem vê-lo despejado da Casa Branca, não passa de uma operação de marketing, a mais gigantesca de que se tem notícia. Lá de onde ele veio, apenas uma minoria ainda acha que ele é algo mais do que isso, e ainda compra seus slogans. Há alguns meses, ele sofreu um duro revés, com a derrota esmagadora do Partido Democrata nas eleições legislativas americanas. Nos EUA, não falta quem levante dúvidas sobre seu passado, e inclusive questione se ele é cidadão nato norte-americano. No Brasil, porém, onde as coisas sempre chegam com certo atraso, ele goza de ampla simpatia. Eu disse simpatia? Eu quis dizer devoção. Tietagem. Oba-oba.

O Brasil é mesmo o lugar certo para Obama. Como demonstraram pela enésima vez os petistas - um grupo chegou mesmo a ensaiar um protesto contra o representante do "imperialismo ianque" -, somos incapazes de manter uma relação adulta com os EUA. Não conseguimos ainda superar a esquizofrenia, passando do antiamericanismo rombudo à adulação servil. No caso de Obama, às vezes as duas coisas se confundem.

No discurso - histórico, claro - do Municipal, perante uma platéia selecionada de políticos e atores da Globo, Obama desfilou todo seu charme e elegância, arriscando algumas palavras decoradas em português de marinheiro gringo e mostrando toda sua desenvoltura de animador de auditório - aliás, eu vi, juro que vi, uma jornalista derramando-se em elogios a Obama, descrevendo seus dotes de animador de auditório (ela usou essa mesma expressão, "animador de auditório"), como se fosse uma coisa boa! Desconfio que, se em vez de discursar ele tivesse sapateado ou feito malabarismo, ou cantado My Way de Frank Sinatra, o efeito teria sido o mesmo sobre a patuléia embasbacada. Para fechar com chave de ouro, ele encerrou o discurso citando uma frase de significado profundo de um grande pensador e intelectual brasileiro, um nome capaz de deixar Mark Twain e Ralph Waldo Emerson no chinelo: Paulo Coelho.

Ninguém percebeu, hipnotizados todos que estavam pela lábia obâmica, mas Obama repetiu, no Rio, a mesma mentira histórica com a qual começou seu discurso oficial em Brasília. Em ambas as ocasiões, ao elogiar sua anfitriã, ele avalizou uma fraude, afirmando que a luta no passado de pessoas como Dilma Rousseff foi o que permitiu aos brasileiros desfrutarem hoje de uma democracia. Alguém precisa informá-lo de que a "luta pela democracia" de Dilma Rousseff deu-se nas fileiras da Vanguarda Armada Revolucionária e da Vanguarda Popular Revolucionária, grupos terroristas que desprezavam a democracia e queriam implantar o comunismo no Brasil. Das duas uma: ou Obama não sabe nada de História (assim como a maioria dos brasileiros), ou sabe, e nesse caso considera que explodir bombas e assassinar pessoas pelo comunismo é uma coisa boa.

Mas o momento culminante da jornada carioca de Obama foi sua visita ao Corcovado. Lá, ele posou, com seu sorriso de mil dentes, ao lado da estátua do Cristo Redentor. Naquele mesmo dia, jatos e navios dos EUA iniciaram uma campanha devastadora de bombardeios à Líbia. Imaginem o efeito de relações públicas no Oriente Médio: o presidente do Satã imperialista ocidental posando para fotografias tendo como pano de fundo um símbolo cristão no mesmo dia em que ordenava um ataque a um país muçulmano... George W. Bush quase foi crucificado, sem trocadilho, porque usou a palavra "cruzada" para se referir à "guerra ao terror" (expressão, aliás, que não quer dizer nada) após o 11 de setembro. Foi atacado por todos os lados, principalmente pela esquerda, como instigador do ódio religioso etc. e tal. Já Obama fez o que fez, e é enaltecido como campeão da tolerância e do respeito à diversidade. A essa hora, a foto dele ao lado do Cristo já deve estar circulando em sites de fundamentalistas islâmicos, como prova de que os EUA estão mesmo em guerra com o Islã.

Por falar em Oriente Médio, é lá que o mito Obama tem sido enterrado nesses dias. Começou no Egito, com Obama dando a senha para o caos, ao virar as costas a Hosni Mubarak sem se importar com as conseqüências. Seguiu-se uma onda de revoltas "espontâneas" em países como Iêmen e Líbia. Nesse último país, onde o ditador Kadafi reagiu com fogo e bombas a uma rebelião armada, que logo degenerou em guerra civil, Obama não mostrou nem a sombra da determinação que teve ao pedir a saída imediata de Mubarak do poder no Egito. Somente quando França e Reino Unido deixaram claro que iriam atacar Kadafi é que ele, Obama, mudou de idéia.

Há alguns dias, o Barein, assolado por manifestações violentas dos xiitas, quase certamente instigadas pelo Irã, pediu e conseguiu ajuda militar da Arábia Saudita, que prontamente enviou tropas e tanques para o país vizinho. Sem que Washington sequer fosse consultado. Foi a primeira vez que isso aconteceu. Pela primeira vez, também, os EUA se colocaram a reboque de Paris e Londres numa campanha militar - e contra um tirano asqueroso que continua a chamar Obama, apesar dos bombardeios, de "meu filho amado". O declínio do poder americano parece mesmo real.

Ou Barack Hussein Obama diz o que diz e faz o que faz por inépcia, e é, portanto, um idiota, ou o faz de caso pensado, e é alguém que age conscientemente para minar o poder americano e, por conseguinte, a segurança do mundo. Em qualquer caso, é uma farsa e um desastre total. Já está pronto para ser presidente do Brasil.

terça-feira, março 22, 2011

UMA PERGUNTA INCONVENIENTE - E UMA RESPOSTA INACREDITÁVEL


Em meu último post fiz a seguinte pergunta: POR QUE BOMBARDEAR A LÍBIA E DERRUBAR KADAFI É UMA AÇÃO HUMANITÁRIA, E INVADIR O IRAQUE E DESTRONAR SADDAM HUSSEIN FOI UM CRIME?

Aí, apareceu alguém – anônimo, claro – e respondeu com a seguinte pérola (em vermelho):

Será porque Kadafi esta matando sua população, diferente de Saddam Hussein ? .

Como é que é????

Então Saddam Hussein, o açougueiro de Bagdá, NÃO matava sua população???

Eu poderia citar os curdos, os xiitas ou qualquer outro inimigo da ditadura. Mas acho que seria inútil. Quem fez esse tipo de comentário acharia que eu estou falando de seres extraterrestres.

Adianta dizer para uma criatura dessas que Saddam foi um dos maiores assassinos em massa e genocidas de todos os tempos? .

E só para lembrar: na Líbia, há uma guerra civil em andamento. No Iraque, não havia nem isso. Perto de Saddam, Kadafi é até bonzinho.

A primeira resposta já era. Vamos à outra.

Será porque apopulação da Líbia estava clamando por isso, diferente da população do Iraque.

Espera aí!

Então a população iraquiana estava feliz e contente com a ditadura do Saddam?

Sério? Foi isso mesmo que eu li?

Os curdos, assassinados em massa nos anos 80 com gás mostarda, estavam felizes da vida em ser massacrados?

E os xiitas – 60% da população iraquiana, e que haviam inclusive se revoltado nos anos 90, CLAMANDO POR UMA INTERVENÇÃO EXTERNA (como os curdos) –, oprimidos pela ditadura (sunita) de Saddam, também?

A segunda resposta também já foi pro saco. Assim como a inteligência de quem escreveu o que está acima.

Mas esperem! Tem mais:

Hoje o Iraque é um país em guerra, Bush deixou aquele lugar um caos urbano, muito diferente da epoca em que Saddam Hussein estava no poder.

A guerra no Iraque acabou faz uns três anos. Hoje, morre-se mais de tiro no Rio de Janeiro ou em Alagoas do que em Bagdá. Mas OK, vamos supor que o país esteja hoje numa situação de insegurança pior do que antes. Em quê isso retira a legitimidade da intervenção externa?

A invasão do Iraque foi uma vingança a queda das torres, ou antes disso Saddam não estava no poder ?

Não foi, não. Mas, se tivesse sido, qual teria sido o problema? Estaria mais do que justificado invadir o país e derrubar o tirano assassino do poder. Como esteve, aliás.

Pois é. Hoje, o Iraque tem algo parecido com uma democracia. Já sob o Saddam... O Iraque hoje tem uma pequena chance de dar certo. E nos tempos de Saddam, que chance tinha?

Mas deixa pra lá. O importante é que o Iraque, sob Saddam, era a Suiça do Oriente Médio. Abu Ghraib, por exemplo, era uma colônia de férias...

E para fechar com chave de ouro:

Só você mesmo para defender esse regime americano.

Pois é, né? Notem que o sujeito fala em “regime americano” (não falou em “governo de Obama”, ou em “governo de Bush”).

O problema dele, portanto, não é com Obama ou com Bush, mas com o REGIME, ou seja, com a DEMOCRACIA.

Se sou a favor desse regime? CLARO QUE SIM! O companheiro prefere os regimes de Saddam e de Kadafi?

O que leva esse pessoal a escrever tanta asneira? Burrice? Estupidez? Ignorância? Dano mental? Amnésia? Dislexia? Demência? Sonsice? Vai ver é tudo isso junto.

E, mais uma vez, a pergunta que não quer calar – e que continua sem resposta: POR QUE BOMBARDEAR A LÍBIA E DERRUBAR KADAFI É UMA AÇÃO HUMANITÁRIA, E INVADIR O IRAQUE E DESTRONAR SADDAM HUSSEIN FOI UM CRIME? Continuo aguardando resposta.

domingo, março 20, 2011

A PERGUNTA QUE NÃO QUER CALAR


Há algumas horas, França, Reino Unido, EUA, Canadá e Itália, cumprindo resolução da ONU, iniciaram um ataque maciço às forças do ditador Muamar Kadafi da Líbia.
..
OK, Kadafi é um tirano, um déspota assassino etc. e tal. Por mim, quero mais é que ele se lasque e que vá montar sua tenda na casa do capeta. Mas a pergunta que não quer calar, e que até agora não vi ninguém responder, é a seguinte (vou repeti-la de um texto meu anterior):

POR QUE BOMBARDEAR A LÍBIA E DERRUBAR KADAFI É UMA AÇÃO HUMANITÁRIA E INVADIR O IRAQUE E DESTRONAR SADDAM HUSSEIN FOI UM CRIME?
.
Vou manter esta pergunta no alto do blog durante todo o tempo que durar o ataque das potências ocidentais à Líbia. Ou até alguém me responder.
.
Alguém se habilita?

sábado, março 19, 2011

CONTRA O RACISMO, LIBERDADE DE EXPRESSÃO E MERCADO NELES (OU: COMO O POLITICAMENTE CORRETO DESTRÓI A DEMOCRACIA)


Cena do filme "The Black Gestapo" (1974)


Há alguns dias li na VEJA uma entrevista que me deu vontade de agradecer aos céus e de aplaudir de pé, tendo chegado mesmo a pensar em fazer milhares de cópias e distribuir pelas ruas. O professor norte-americano de economia Walter Williams deu uma chinelada nos devotos do politicamente correto (o novo nome da velha "linha justa"dos partidos comunistas), que acreditam que as tais cotas raciais são uma solução válida para "integrar" os "excluídos" etc.

De forma clara - didática, lógica, incisiva -, o professor deixou evidente por que todo o palavrório sociologizante a favor de cotas raciais num país como o Brasil é na verdade um despropósito, um despautério que apenas cria um problema onde este é mínimo ou não existe. Também afirmou que, a longo prazo, o governo de Barack Obama, por se afigurar um fracasso (como provavelmente será lembrado), será ruim para os negros americanos. Citou números e estatísticas e arrematou, afirmando o óbvio: só uma educação de qualidade, o livre mercado, o capitalismo e os valores de liberdade individual promovem a inclusão dos negros. Enfim, tudo aquilo que causa espasmos de horror a nossos intelectuais estatizados, que odeiam com a mesma intensidade o liberalismo e seu corolário, a democracia. (Ah, e só por curiosidade: Walter Williams é negro.)

Sempre me chamou a atenção o fato de os militantes negros (ou "afro-americanos", ou "afro-descendentes", ou sei lá como são chamados pela novilíngua politicamente correta) serem quase todos, também, ardentes anticapitalistas. Melhor dizendo: sempre me intrigou que eles, que se dizem paladinos da "igualdade racial" e das oportunidades iguais para todos, não tenham a coragem de defender o capitalismo, o único sistema econômico-social compatível com esses objetivos.

Afinal, o que querem os defensores das cotas racialistas? (O termo adequado é racialista, e não "racial" - racialismo é uma ideologia; "racial" é apenas um adjetivo sem nenhum sentido, até porque quem tem raça é cachorro, gato, cavalo, galinha...) Tudo, menos promover a inclusão dos menos favorecidos. Qualquer outra coisa, menos combater o racismo.

Se os militantes racialistas o quisessem realmente, defenderiam o livre mercado, a única forma de promover a inclusão e a integração social. Como não o fazem, o que buscam, então? Exatamente o contrário: a não-integração, a exclusão, mediante a segregação, a separação das raças. Qual seu objetivo final? A destruição do livre mercado, o dirigismo estatal - enfim, o socialismo.

Na realidade, a chamada "causa negra", assim como a de outras minorias (gays, índios, feministas, ecologistas etc.) não passa de um pretexto para "combater o sistema" (ou seja: o capitalismo). E nada mais do que isso. Os ideólogos e militantes desses movimentos pouco se importam com os problemas, reais ou não, que alegam combater: o importante é culpar o maldito capitalismo por tudo de ruim que existe, e defender sua aniquilação. Nisso, apenas repetem o objetivo dos comunistas de outrora: como aqueles não conseguiram alcançá-lo pela revolução proletária, seus sucessores da Nova Esquerda passaram a defender a "inclusão" no sistema, mediante - aí está o pulo do gato (ou do gatuno) - a separação da sociedade em raças e em outros grupos sociais, a abolição da meritocracia em favor de critérios ideológicos. Mudaram de tática, mas o objetivo último - o fim do capitalismo - continua o mesmo. De certa forma, é a continuação da velha luta de classes, disfarçada sob o rótulo aparentemente anódino de "defesa das minorias". Não mais burgueses versus proletários, capitalistas versus operários ou camponeses, mas "brancos" contra "afro-descendentes", e assim por diante.

Isso fica claro no caso das cotas racialistas (e, na prática, racistas). Sabe-se que o próprio livre mercado - a própria sociedade - se encarrega de minimizar o racismo onde ele existe, promovendo a integração de populações marginalizadas por motivos raciais ou étnicos. O lucro, como sabe qualquer dono de bodega, não distingue cor, raça ou religião. Também não foi necessário nenhum sistema de cotas para que os negros nos EUA ocupassem o lugar dos brancos como os melhores jogadores de basquete, por exemplo. A sociedade (quer dizer: o mercado) se auto-corrige e se auto-regula.

Mas reconhecer isso seria admitir que o capitalismo não é o bicho-papão que todos dizem ser. A solução encontrada, então, foi defender as cotas, que são uma forma de o Estado - o deus pagão dos socialistas - impor sua autoridade, eliminando a meritocracia e substituindo-a por tribunais de pureza racial. A "promoção dos negros" (ou índios, ou pardos, ou amarelos, ou torcedores do Íbis) seria, assim, resultado não da própria dinâmica do mercado, mas da benemerência e boa vontade dos agentes estatais. Seria necessária a presença da "mão visível do Estado", exatamente para impedir que a mão invisível do mercado aja e dê frutos.

O mesmo raciocínio tortuoso, e o mesmo objetivo totalitário, se aplicam às demais "causas" caras aos militantes do "politicamente correto". Aqui, o que importa não é o combate ao racismo ou a qualquer outra forma de discriminação, mas aumentar o alcance da intervenção do Estado, que passa a ser um juiz supremo e definidor da raça e da sexualidade das pessoas, separando-as pela cor da pele ou pela opção sexual. A mesma lógica - ou falta de lógica - encontra-se nos programas assistencialistas do governo lulo-petista, como o Bolsa-Cabresto (oficialmente conhecido como Bolsa-Família): o aumento da dependência estatal, a criação de uma multidão de estadodependentes. Não é por acaso que a maioria dos militantes politicamente corretos esteja no PT e nos demais partidos de esquerda.

E isso a despeito da própria realidade nacional, por mais diferente que ela seja do que querem os militantes racialistas ou gayzistas. Na verdade, quanto mais diferente ela for do que apregoam seus slogans, mais eles intensificam sua militância, mais forte se faz a ação estatal. É difícil dizer, devido à intensa miscigenação, quem é e quem não é negro no Brasil? Não tem problema: o governo, por meio das cotas, diz quem é, instituindo a auto-declaração como critério científico e irretorquível ("Sou negro porque 'acho' ou me 'sinto' negro" etc.). E vai além: concede direitos especiais - privilégios, em bom Português - àqueles que assim se declararem. Estes gozarão, portanto, de tratamento diferenciado em vestibulares e em concursos públicos, largando na frente da maioria que não teve a sorte de ser considerada afro-descendente pelo Estado, e que terá, portanto, que estudar.

Do mesmo modo: o País é um dos mais tolerantes do mundo quanto à opção sexual dos indivíduos, possuindo a maior "parada do orgulho gay" do planeta? Também não há problema algum: pinça-se aqui e ali um caso isolado de preconceito, supervaloriza-se um xingamento, e pronto! - está cientificamente provado que o Brasil é um paraíso da homofobia. O passo seguinte é inventar uma lei para criminalizar expressões como "viado" e "boiola" e piadas de bichinha. Isso, evidentemente, depois de alguma ONG gayzista, com o apoio das novelas e do noticiário da Rede Globo, tentar manipular dados e estatísticas para "provar" que o País é um campo de extermínio de homossexuais, em que todos os dias um número "x" de gays, lésbicas e travestis é abatido como moscas em cada quarteirão e em cada rua das grandes, pequenas e médias cidades.

(Claro que, se desse número, a maioria dos agredidos o tiver sido por parceiros homossexuais - como ocorre em CEM POR CENTO dos estupros nas cadeias, por exemplo -, esse fato não será computado. Assim como não o serão os casos de serial killers que matam gays após transarem com eles - o que os torna, automaticamente, gays também. Nada disso será levado em conta, cabendo todas as agressões e assassinatos cometidos desse modo e nessas circunstâncias na mesma rubrica de crimes de "homofobia"...)

Desnecessário dizer, mas uma lei que pune com pena de prisão ou multa qualquer um que tiver a ousadia de contar uma piada do Costinha ou imitar os trejeitos do colega desmunhecado não estará completa se não atingir diretamente a maior fonte de homofobia que existe: a religião. Em particular, a Bíblia, que terá de ser proibida ou totalmente reescrita para adaptar-se a esses novos e brilhantes tempos de liberdade. (O Islã, que pune tais comportamentos com a morte ou o açoitamento, ficará de fora dessa interdição, pois se trata de religião exótica, não fazendo parte da civilização branca-européia-ocidental e gozando, portanto, de status diferenciado perante os multiculturalistas.)

Também não é preciso lembrar que o padre católico ou o pastor protestante que tiver o atrevimento de expulsar da igreja ou do templo o casalzinho gay que estiver dando uns amassos em frente ao altar durante a missa/culto será condenado a vários anos de cadeia pelo crime nefando de não permitir que eles transformem o local em motel. Afinal, quem liga para coisas sem importância como liberdade de culto e de expressão religiosa, não é mesmo?

O importante é que os gays, essas criaturas maravilhosas e ultra-sensíveis, possam ter a liberdade de expressar livremente e sem preconceitos sua sexualidade, beijando-se e acariciando-se em qualquer lugar, em qualquer momento, diante de qualquer platéia. Se podem fazê-lo durante um culto religioso, por que não numa creche, por exemplo, em frente a criancinhas de 2 anos de idade? E por que não com as próprias? Seria uma forma excelente de ensinar-lhes, na prática, o significado de "tolerância" e "respeito à diversidade". Uma lição de cidadania, sem dúvida...

E como fica, no final disso tudo, a liberdade de expressão e a igualdade de todos perante a Lei, cláusula primeira e fundamental da democracia? A essa altura, quando alguém se lembrar de fazer essa pergunta, todos já terão se esquecido desse detalhe há muito tempo.

E assim os militantes do politicamente correto - racialistas, gayzistas, feministas etc. - vão, a cada dia mais, minando as bases da democracia e do Estado de Direito. Em lugar deste, surgirá um mundo em que a discriminação por raça, sexo ou ideologia será institucionalizada, tornando-se de fato a única lei. Pelo menos enquanto não surgir uma forte corrente de opinião contrária a essa monstruosa impostura.

Um velho provérbio diz que o caminho do inferno é pavimentado por boas intenções. Tenho minhas dúvidas quanto às boas intenções. Mas, no tocante ao resultado final, não tenho dúvida alguma.

segunda-feira, março 14, 2011

FAZ-ME RIR


Leitor (?) metido a engraçadinho quis equilibrar uma bola no nariz e fazer cambalhota no blog. Vejam o que desovou aqui o candidato a Tiririca:
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Extra, extra! O Blog do Contra denuncia: a culpa pelo tsunami no Japão é do Lula, da Dilma e dos petralhas!
Esse blog devia se candidatar a melhor blog de humor.

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Lembrei na hora de um post meu, de mais de um ano. É sobre outra tragédia natural e sobre o que dela disse um rapaz muito apreciado pelo Apedeuta: http://gustavo-livrexpressao.blogspot.com/2010/01/loucura-de-chavez.html.
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Diante disso, dizer o quê? Os petralhas são mesmo uns comediantes.
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Ô racinha idiota!
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P.S. Estou pensando mesmo em inscrever o blog num concurso de humor. Comentários como o do companheiro aí em cima merecem um prêmio na categoria nonsense e besteirol.

sábado, março 12, 2011

SOBRE KADAFI, A LÍBIA, TIRANIAS ETC. - E ALGUMAS PERGUNTAS INCÔMODAS


Há algumas semanas, a Líbia mergulhou na guerra civil. O que virá daí, ninguém sabe. Até alguns dias atrás, parecia que as forças insurgentes, que tomaram a metade leste do país, iam ganhar a parada. O tal "comitê de transição" ganhou apoios importantes no campo diplomático, e foi mesmo reconhecido pelo governo da França. Agora, porém, já se admite que o ditador e destaque de escola de samba Muamar Kadafi - o "irmão e amigo" de Luiz Inácio, o Apedeuta - poderá manter-se no poder, esmagando a ferro e fogo a oposição. De qualquer maneira, é possível que, se os rebeldes marcharem sobre a capital e expulsarem Kadafi, o que surja daí seja algo até pior - o exemplo do Egito, onde os fanáticos da Irmandade Muçulmana ganham terreno a cada dia após a queda do regime de Hosni Mubarak, está aí para servir de aviso aos incautos, que acham que uma revolta popular contra uma ditadura é sinônimo de democracia (infelizmente não é, principalmente no Oriente Médio, principalmente nos países árabes).

Não tenho o menor apreço por Kadafi, um tirano assassino e terrorista, como já deixei claro em vários textos meus. Tenho-no na mesma categoria de outros tiranos assassinos e terroristas, como os mulás ensandecidos do Talibã e o finado Saddam Hussein do Iraque (ou seja: na mesma classe dos insetos pestilentos, como as baratas e os piolhos). Ficaria muito feliz de vê-lo no banco dos réus em Haia ou pendurado numa corda em Trípoli. É por esse motivo que não consigo entender o que tenho lido e ouvido na imprensa nos últimos dias sobre a guerra civil na Libia.

Ligo a TV e leio os jornais e vejo uma penca de jornalistas e comentaristas conclamando, indignadíssimos, as potências ocidentais a enviar os fuzileiros navais à Líbia e deporem o tirano Kadafi, em nome da liberdade, dos direitos humanos etc. Por coincidência ou não, trata-se das mesmas pessoas que passaram os últimos sete anos descendo o malho em Jorjibúxi por causa da invasão do Iraque, tais como, para ficar apenas no Brasil, Arnaldo Jabor. Tais jornalistas e comentaristas pintam a invasão e a ocupação anglo-americana como nada menos do que um desastre e uma catástrofe total, embora o Iraque tenha hoje algo parecido com uma democracia, quando jamais conhecera nada semelhante em 5 mil anos de história (também ninguém lembrou que Abu Ghraib era, nos tempos de Saddam, um matadouro humano). Muito bem. Também acho que intervir na Líbia e expulsar Kadafi seria prestar um serviço à humanidade. Mas uma pergunta incômoda me vem à mente: por que invadir o Iraque e derrubar Saddam Hussein foi um crime e fazer o mesmo na Líbia com Kadafi é um gesto humanitário? Alguém poderia me explicar ou só eu percebi a contradição?

Fui a favor da intervenção no Iraque, e não escondo isso de ninguém. Achei então, e continuo achando - e até agora ninguém conseguiu me mostrar um argumento convincente provando o contrário - que havia razões - éticas, morais, filosóficas, geopolíticas - mais que suficientes para que a ONU (que infelizmente declinou da missão para que foi criada), ou os EUA, ou o Reino Unido, enfim alguém, ocupasse o país e mandasse o regime e a pessoa de Saddam Hussein para os quintos dos infernos. Digo mais: havia muito mais motivos para derrubar Saddam do que há, hoje, para intervir na Líbia e destronar Kadafi.

Querem fatos e argumentos? OK, vamos lá. Os dois principais motivos pelos quais se criticou e continua a se criticar o envio de tropas à Bagdá - as tais armas de destruição em massa e o terrorismo - estavam presentes no Iraque, mas não na Líbia. Saddam não tinha as tais armas, mas se comportava como se as tivesse. Bravateou acerca das mesmas até não poder mais, brincando de gato-e-rato (melhor: de gato-e-sapato) com os inspetores da ONU durante doze anos e dezessete resoluções do Conselho de Segurança. Se tivesse mentido menos, e bravateado menos, é possível que ainda estivesse no poder. Mais que isso: ele havia usado as tais armas proibidas, como gases tóxicos, anos antes, contra o próprio povo iraquiano (curdos, principalmente). Era, portanto, comprovadamente um genocida sem qualquer escrúpulo em matar civis com armas como gás mostarda, e que se negava a permitir inspeções internacionais. E continuava, sim, a apoiar o terrorismo - por exemplo, abrigando chefes terroristas como Abu Nidal e dando dinheiro vivo a parentes de homens-bomba palestinos mortos em atentados contra cidadãos israelenses.

O mesmo não pode ser dito de Kadafi, que, apesar de ser um déspota asqueroso, fez um acordo com o mundo civilizado em 2003 - não por acaso, no mesmo ano da invasão do Iraque -, pelo qual renunciou formalmente a ter armas nucleares, e também, ao que se sabe, ao apoio ao terrorismo, que lhe tornara o maior inimigo dos EUA nos anos 70 e 80 e lhe custara um bombardeio norte-americano que quase o matou em 1986. Chegou mesmo, por esse motivo, a ser cortejado e adulado por muitos governos ocidentais, inclusive pelos EUA, que passaram a vê-lo, aliás burramente, como um "aliado" (Barack Obama só faltou pedir-lhe a bênção na reunião do G-8 em L'Aquila, na Itália - sem falar em genuflexões abjetas, como a do Apedeuta, que o chamou de "amigo e irmão"...). Kadafi é, portanto, um tirano sanguinário e certamente louco, mas nem de longe apresenta o mesmo grau de periculosidade do açougueiro de Bagdá (que Satanás o tenha).

Visto isso, o que sobra? Sobra o fato incontrastável de que Kadafi, assim como Saddam, é um tirano nojento, que oprime e mata seu próprio povo. Para mim, motivo suficiente para clamar por uma intervenção da comunidade internacional, ou de quem mais o possa, para livrar o mundo dessa escória. Mas e os que se encheram de indignação pela decisão de Bush e dos neocons de invadir o Iraque e livrar o mundo de Saddam, que justificativa têm para defender uma intervenção externa na Líbia hoje? O fato de Kadafi ser um tirano e um assassino? Mas Saddam também não era, e até pior? E por que ficaram em silêncio esses anos todos quanto ao genocídio em Darfur, por exemplo? Será que é porque o presidente dos EUA agora é Obama, e não Bush? Então uma invasão armada democrata é melhor do que uma invasão armada republicana? É mesmo? Por quê?
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Das duas uma: ou os que condenaram a invasão do Iraque retiram tudo que disseram e pedem perdão a George W. Bush, ou deixam de lado essa conversa oportunista de defender uma intervenção na Líbia. No primeiro caso, admitem que derrubar Saddam foi a decisão certa, e que ficaram contra por pura babaquice antiamericana. No segundo caso, tornam-se cúmplices do ditador, mas pelo menos mantêm um mínimo de honestidade. No primeiro caso, fazem as pazes com a coerência e com a democracia. No segundo, apenas com a coerência. De qualquer modo, essas são as únicas atitudes honestas que podem tomar. Tudo o mais é duplo padrão moral e demagogia.
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Parafraseando o que eu já disse sobre outros ditadores: eu posso defender uma intervenção estrangeira para retirar Kadafi do poder na Líbia, assim como defendi a intervenção estrangeira que retirou Saddam Hussein do poder no Iraque (e não me arrependo, muito pelo contrário). Posso dizer, sem medo de ser ou parecer contraditório, que odeio todos os ditadores, não somente uns, e que o caminho para lidar com eles é a força.
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E Arnaldo Jabor, será que pode?

quarta-feira, março 09, 2011

A PROIBIÇÃO DE PERGUNTAR

Alguns anos atrás, o senador José Agripino Maia (DEM-RN) caiu numa armadilha que ele mesmo ajudou a montar. Em uma das inúmeras CPIs para, dizem, investigar mais um dos milhares de escândalos dos petralhas – no caso, o dos dossiês contra adversários do lulanato fabricados nos computadores da Casa Civil da Presidência da República –, ao inquirir a então chefona da pasta, Dilma Rousseff, se ela estava ou não mentindo (como se fosse preciso perguntar...), ele se referiu ao passado da atual presidente. "Se a senhora mentiu a seus interrogadores na prisão, por que não estaria mentindo agora?", perguntou o senador, candidamente. Foi a deixa que Dilma esperava. "O senhor não sabe o que é ser torturado, senador", respondeu Dilma. De um instante para outro, passou de principal acusada num caso de espionagem a mártir e heroína da esquerda, para gáudio dos lulo-petistas.

O exemplo é eloquente, por mostrar, de um lado, a ingenuidade política de um senador experiente da assim chamada "oposição" e, de outro, o processo de construção da mitologia em torno da figura misteriosa de Dilma. Provavelmente sem o querer, Agripino deu a Dilma a oportunidade de lembrar um fato que até agora tem somente ela, Dilma, como testemunha. Com isso, permitiu que ela, Dilma, controlasse e manipulasse o show, posando à vontade de vítima, uma verdadeira Joana d'Arc, enquanto ele passava por torturador...

Há muitos pontos cegos no passado de Dilma Vana Rousseff. Pessoalmente, não duvido que ela tenha sido torturada, como afirma a versão oficial. Mas durante 22 dias? Além de parecer fisicamente impossível – e também inútil, como sabe qualquer pessoa com conhecimento sobre as condições do combate à luta armada, em que tempo era tudo –, é unicamente a palavra dela, até agora. Outra coisa: por que ela foi presa mesmo? Segundo diz a própria e repete a propaganda petista, ela foi presa pelo "crime de organização". Na verdade, ela foi presa e condenada a três anos de prisão por ter feito parte de três organizações terroristas. O que faziam essas organizações? Assaltavam bancos, sequestravam diplomatas estrangeiros e assassinavam pessoas. Em nome do que o faziam? Do comunismo. (Mas isso, claro, também não convém lembrar – além de ex-torturada, Dilma lutou pela democracia, não nos esqueçamos...)

Aqui é que começa a parte mais nebulosa da história/estória de Dilma Rousseff, presidente do Brasil. No ano passado, o historiador Carlos Fico tentou ter acesso ao processo da guerrilheira Dilma Rousseff na Justiça Militar. Lá estão, segundo se acredita, os verdadeiros motivos da prisão de Dilma, sua ficha completa. Foi barrado por uma liminar judicial a pedido da Casa Civil da Presidência da República, que impediu a divulgação dos documentos. A pergunta que fica é: se Dilma se gaba de seu passado de guerrilheira e de prisioneira política, a ponto de utilizá-lo em sua defesa numa CPI, então por que não deixa que ele venha a lume? Deve ser o único caso na História de alguém que se orgulha de seu passado, mas faz de tudo para mantê-lo na penumbra.

O que fez exatamente no período aquela que o guerrilheiro de festim e mensaleiro José Dirceu chamou de "minha camarada de armas"? Ninguém sabe. E, se depender dela, ninguém jamais saberá um dia. É proibido perguntar.

A mesma cortina de sombras e segredos que cerca Dilma repetiu-se durante as eleições presidenciais de 2010. Naquelas que foram provavelmente as eleições mais mornas da História, um dos raros momentos em que a oposição decidiu tirar a cabeça da areia e fazer Política (assim, com P maiúsculo) ocorreu quando foi divulgado um vídeo de 2007 em que Dilma aparece dizendo sua opinião sobre a legalização do aborto. "Eu acho que deve haver, sim, a legalização do aborto", foram as palavras textuais da chefe da Casa Civil, que a candidata a presidente tratou de negar de pés juntos e rosário na mão. De repente, virou "jogo sujo" e "reacionarismo medieval" simplesmente repetir o que estava no vídeo. Numa clássica inversão da realidade, buscou-se condenar não a candidata pega na mentira, mas quem divulgou o material. Um grupo de militantes petistas disfarçado de jornalistas chegou mesmo a intimidar em São Paulo o dono de uma gráfica que imprimiu panfletos da Igreja Católica que recomendavam não votar em quem defende a legalização do aborto (uma posição com a qual se pode ou não concordar, mas que é da Igreja Católica). Acusou-se o candidato adversário de difundir "boatos" e "rumores" etc. Em nenhum momento a campanha de Dilma – e a imprensa com ela mancomunada – referiu-se ao conteúdo do video. Sobre este, assim como sobre o passado de Dilma, baixou-se o decreto implacável: é proibido perguntar. E ponto final.

Ninguém quis saber, mas a verdadeira questão não era o aborto em si, mas o ziguezague retórico de uma candidata sobre um assunto que, queira-se ou não, afeta os brasileiros e é, sim, um tema politico importante. Em nome da proteção a uma candidata de discurso tatibitate, o que se tentou, e efetivamente se conseguiu, inclusive com argumentos forçados e demagógicos ("é porque ela é mulher" etc.), foi impedir que a verdade viesse à tona. Assim como ocorreu com seu mentor e inventor Luiz Inácio Lula da Silva, indagar sobre quem é e o que realmente pensa Dilma Rousseff passou a ser visto como um crime de lesa-majestade. O importante, decretaram os lulo-petistas, era elegê-la. Indagar quem ela é, e o que passa por sua cabeça, é algo que só pode ser coisa de reacionários da Opus Dei.

Por denunciar esse tipo de impostura e insistir em saber quem é e o que pensa Dilma, fui acusado por um blogueiro pró-Dilma de ter um discurso "proto-fascista". Pois é. De repente, cobrar coerência de uma candidata à Presidência, lembrando o que ela mesma disse, virou uma forma de proto-fascismo... Se a eleição de Dilma Rousseff prova alguma coisa, é que não é preciso mais ter passado, nem idéias, nem mesmo cérebro, para ser presidente do Brasil. Basta ter um padrinho influente e milhões de devotos prontos a adorar mais um ídolo de pés de barro.

O Brasil já teve um ex-operário-bravateiro na chefia da nação. Agora tem a ex-guerrilheira que ninguém sabe ao certo o que fez. Nem o que diz. E falar disso virou um tabu. Em outros tempos chamava-se a isso de censura.

quinta-feira, março 03, 2011

O PAÍS DOS TIRIRICAS


O Brasil virou piada. E das mais sem graça (tipo Show do Tom).

Não bastou ter sido eleito – com 1 milhão e trezentos mil votos! –, Tiririca agora é membro da Comissão de Educação e Cultura (!) da Câmara dos Deputados!

Claro que fiquei abismado, assim como todo mundo. Quer dizer, todo mundo que ainda insiste em levar a sério a política nesta terra de lulas e dilmas.
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Tiririca no Congresso já é uma anedota. Na Comissão de Educação e Cultura, então, é um deboche, é um escracho total. Coisa do "novo-velho Brasil" inaugurado pelo Apedeuta em 2003. É capaz de Tiririca chegar na comissão e dizer, em seu primeiro pronunciamento: "O que é que faz a Comissão de Educação e Cultura da Câmara dos Deputados? Na realidade, eu não sei"... É nisso que dá oito anos de culto oficial da ignorância e do analfabetismo.
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Mas também, onde já se viu, o abestado ocupar um assento em tal comissão, quando a Comissão de Infra-Estrutura do Senado tem entre seus membros a figura ilustre de José Sarney, e a Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional conta com a presença ínclita do probo e impoluto Fernando Collor de Mello? Sem falar no lídimo João Paulo Cunha, integrante da Comissão de Ética (de Ética!) da Câmara dos Deputados. Realmente, por que se espantar com coisa tão pouca, quando a Fundação Casa de Rui Barbosa quase foi tomada de assalto pelo sapientíssimo revolucionário da ortografia Emir Sader?...
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Agora, para virar chanchada de vez, só falta chegar à Presidência da República alguém de passado nebuloso e incapaz de elaborar um raciocínio coerente, sem agredir as regras mais básicas da língua, única e simplesmente por indicação do chefe, que abusou da máquina estatal e mandou a Lei às favas para elegê-lo. Só falta mesmo alguém eleito para esquentar a cadeira e que vai em programa matinal de culinária falar "o" omelete e "pra mim cozinhar".

Epa! Peraí...

quarta-feira, março 02, 2011

QUANDO DOIS E DOIS SÃO QUATRO


Ferreira Gullar

Talvez seja esta a última vez que escreva sobre o cidadão Luiz Inácio Lula da Silva, ex-presidente do Brasil. Com alívio o vi terminar o seu mandato, pois não terei mais que aturá-lo a esbravejar, dia e noite, na televisão, nem que ouvir coisas como esta: "Ele é tão inteligente que fala todas as línguas sem ter aprendido nenhuma". Pois é, pena que não fale tão bem português quanto fala russo.

É verdade que tivemos, ainda, que aturá-lo nos três últimos dias do mandato, quando "inaugurou" obras inexistentes e fez tudo para ofuscar a presidente que chegava.

Depois de passar a faixa, foi para um comício em São Bernardo, onde, até as 23h, continuava berrando no palanque, do qual nunca saíra desde 2002.

Aproveitou as últimas chances para exibir toda a sua pobreza intelectual, dizendo-se feliz por deixar o governo no momento em que os Estados Unidos, a Europa e o Japão estão em crise.

Alguém precisa alertá-lo para o fato de que a crise, naqueles países, atinge, sobretudo, os trabalhadores. Destituído de senso crítico, atribui a si mesmo ("um torneiro mecânico") o mérito de ter evitado que a crise atingisse o Brasil. Sabe que é mentira mas o diz porque confia no que a maioria da população, desinformada, acreditará.

Isso dá para entender, mas e aqueles que, sem viverem do Bolsa Família nem do empréstimo consignado, veem nele um estadista exemplar, que mudou o Brasil? É incontestável que, durante o seu governo, a economia se expandiu e muita gente pobre melhorou de vida. Mas foi apenas porque ele o quis, ou também porque as condições econômicas o permitiram?

Vamos aos fatos: até a criação do Plano Real, a economia brasileira sofria de inflação crônica, que consumia os salários. Qual foi a atitude de Lula ante o Plano Real? Combateu-o ferozmente, afirmando que se tratava de uma medida eleitoreira para durar três meses.

À outra medida, que veio consolidar o equilíbrio de nossa economia, a Lei de Responsabilidade Fiscal, Lula e seu partido se opuseram radicalmente, a ponto de entrarem com uma ação no Supremo para revogá-la. Do mesmo modo, Lula se opôs à política de juros do Banco Central e ao superávit primário, providências que complementaram o combate à inflação e garantiram o equilíbrio econômico. Essas medidas, sim, mudaram o Brasil, preservando o valor do salário e conquistando a confiança internacional.

Lembro-me do tempo em que o preço do pão e do leite subia de três em três dias.

Quem tinha grana, aplicava-a no overnight e enriquecia; quem vivia de salário comia menos a cada semana.

Se dependesse de Lula e seu partido, nenhuma daquelas medidas teria sido aplicada, e o Brasil -que ele viria a presidir- seria o da inflação galopante e do desequilíbrio financeiro. Teria, então, achado fácil governar?

Após três tentativas frustradas de eleger-se presidente, abandonou o discurso radical e virou Lulinha paz e amor. Ao deixar o governo, com mais de 80% de aprovação, afirmou que "é fácil governar o Brasil, basta fazer o óbvio". Claro, quem encontra a comida pronta e a mesa posta, é só sentar-se e comer o almoço que os outros prepararam.

A verdade é que Lula não introduziu nenhuma reforma na estrutura econômica e social do país, mas teve o bom senso de dar prosseguimento ao que os governos anteriores implantaram. A melhoria da sociedade é um processo longo, nenhum governo faz tudo. Inteligente, mas avesso aos estudos, valeu-se de sua sagacidade, já que é impossível conhecer a fundo os problemas de um país sem ler um livro; quem os conhece apenas por ouvir dizer não pode governar.

Por isso acho que quem governou foi sua equipe técnica, não ele, que raramente parava em Brasília. Atuou como líder político, não como governante, e, se Dilma fizer certas mudanças, pouco lhe importará, pois nem sabe ao certo do que se trata. Para fugir a perguntas embaraçosas, jamais deu uma entrevista coletiva.

Afinal, ninguém, honestamente, acredita que com programas assistencialistas e aumento do salário mínimo se muda o Brasil.

O tempo se encarregará de pôr as coisas em seu devido lugar. O presidente Emílio Garrastazu Médici também obteve, em 1974, 82% de aprovação.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO/ILUSTRADA


terça-feira, março 01, 2011

BATENDO NUM ESPANCADOR DA INCULTA E BELA


O tal fã da patacoada neomarxista-pop de Slavoj Zizek pede para apanhar mais um pouquinho. Hesito, por caridade, mas faço sua vontade. É mais uma oportunidade de defender a Inculta e Bela de mais um de seus agressores esquerdofrênicos.

Pois é... Entào tanger é um verbo de sentido único? Tá certo, GÊNIO.

Lembrando: o rapaz escreveu gostar das opiniões de um autor "que tangem cultura". Vamos ver o que diz o dicionário a respeito?

tanger (tan-ger)

v.t.

Tocar (as cordas de instrumentos musicais, um fole de ferreiro, ou o gado).

Tocar, açoitar, fustigar (animais para que andem ou fujam): o boiadeiro tangeu o gado para a invernada.

Fig. Dizer respeito a, pertencer. (na expressão "no que tange a")

v.i.

Soar: o sino tangia lúgubre.
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Ao dizer que gosta das opiniões de um autor "que tangem cultura" (e não "no que tange à cultura"), o leitor quis dizer, portanto, uma das opções abaixo (como verbo transitivo):

1) As opiniões de Slavoj Zizek tocam cultura (no mesmo sentido de tocar violão, p. ex.);

2) As opiniões de Slavoj Zizek tocam, açoitam ou fustigam a cultura (como na expressão "tocar a boiada").

Ou, como verbo intransitivo:

- As opiniões de Slavoj Zizek soam cultura (com o mesmo sentido de "o sino soa").

Não contente com as opções acima, o leitor quis encontrar um outro sentido para o verbo. Só se esqueceu de combinar com a gramática. "Tanger", no sentido de "dizer respeito a", "pertencer", é transitivo indireto, exige o emprego completo da expressão "no que tange a" ("no tocante a", "no que diz respeito a", "no que concerne a"). O resto... bem, o resto é ignorância do idioma mesmo!
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Sei não, mas, se eu tivesse que apostar, apostaria na opção 2 acima – tanger como verbo transitivo direto. As opiniões de Zizek realmente açoitam e fustigam a cultura. Assim como açoitam e fustigam os cérebros da legião de bobocas que o consideram o máximo.
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Como besteira puxa besteira, o ruminante comete ainda as seguintes palavras:

Parabéns mais uma vez, agora pela manipulacão de minha "fala", o seu inimigo comunista. HEHEHEHEHEHEHEHEHE, patético a sua pessoa, me coloca como um comunista mais uma vez na caixinha (através do método dicotômico estúpido olaviano).

Vejamos. O tal Slavoj Zizek, que é acusado às vezes de ser um intelectual e um filósofo, costuma louvar as "virtudes revolucionárias" do pensamento de grandes humanistas e defensores da democracia e dos direitos humanos como... Robespierre, Lênin e Mao Tsé-tung (!). O primeiro inaugurou a palavra terrorismo, no sentido atual. Os dois últimos, até prova em contrário, eram comunistas. O que devo concluir, a partir de então: que Zizek e os idiotas que o elegeram o guru dos órfãos do Muro são devotos de Nossa Senhora Aparecida?
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Apenas a título de exercício especulativo: imaginem se alguém resolvesse organizar uma coletânea de discursos de, sei lá, Hitler ou Goebbels, escrevendo para estes um prefácio em que louva as virtudes revolucionárias do nazismo e a "hipótese nazista". Que tal? Conseguem imaginar a barulheira que seria? (E com toda razão: um lixo desses não merece mesmo ser publicado.)
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Só mais uma coisinha: "patético a sua pessoa"? O que houve com a velha e boa concordância de gênero? (patético – masculino; pessoa – feminino; logo, "patética a sua pessoa".) Agora entendi por que o dito-cujo se queixou, assim como uma sua coleguinha, de minhas palavras "difíceis": não se deve esperar mesmo um vocabulário muito amplo de quem não sabe a diferença sequer entre os gêneros masculino e feminino...

E só para deixar o rapaz feliz:

Lembrando que você não publicou meu comentário no post de ante ontem, respondeu ele (SIC) neste de forma picotada e incompleto e provavelmente nem vai publicar este. Grato
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Aí está. Publiquei. Pior para o leitor. Poderia tê-lo poupado de mais esse vexame.

Por que os esquerdiotas não sabem escrever? E por que gostam tanto de passar vergonha? É falta de noção mesmo ou é por prazer?
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P.S.: Slavoj Zizek é um dos autores de referência do novo diretor da Casa de Rui Barbosa, o “sábio” Emir Sader, um sujeito que escreve "Getulho" e "fusilar", entre outras preciosidades. É mais um fato a corroborar que espancar a ultima flor do Lácio é mesmo um requisito dos devotos tupiniquins do Marcuse piorado da Eslovênia...