quarta-feira, outubro 31, 2007

COPA DO MUNDO PARA QUÊ?


Com muita pompa e circunstância, a FIFA anunciou ontem, dia 30/10, que o Brasil será a sede da Copa do Mundo de 2014. Como não poderia deixar de ser, o evento foi prestigiado por várias importantes autoridades brasileiras. Lá estavam eles, na cerimônia oficial: Lula, a ministra Marta Suplicy, o presidente da CBF, Ricardo Teixeira, o craque Romário e o (o.k., vamos dar um desconto) escritor e "mago" Paulo Coelho. Os brasileiros celebraram o acontecimento histórico. Em São Paulo, foram soltos milhões de balões de gás no estádio do Morumbi. No Rio de Janeiro, uma multidão celebrou a notícia, no Cristo Redentor, vestida de verde-amarelo, agitando bandeirinhas.

É preciso desconfiar sempre desse tipo de oba-oba. Sobretudo se, na mesma ocasião, estão reunidos Lula, Marta Suplicy, Ricardo Teixeira, Romário e Paulo Coelho. Lula estava mais feliz do que pinto no lixo. Marta Suplicy exibia um sorriso de orelha a orelha, mostrando as virtudes do Botox. Ricardo Teixeira enfatizou as oportunidades de investimentos e as belezas naturais do Brasil. Romário fez um discurso enaltecendo o caráter pacífico e hospitaleiro do povo brasileiro. Paulo Coelho comparou uma discussão sobre futebol na mesa de bar a uma relação sexual. Até agora não entendi o que ele quis dizer com isso. Assim como até hoje não consigo entender o que ele diz em seus livros.

O anúncio de que o país vai sediar a Copa do Mundo de 2014 foi recebido com festa no Brasil, claro. Brasileiro gosta dessas coisas. Somos como o louco da aldeia, que corre alegremente atrás da banda, pulando e cantando, mesmo sem saber do que se trata. Não queremos saber o que está sendo festejado, queremos apenas festejar. Sempre achei que esta é a raiz de todos os nossos problemas, nossa principal falha de caráter. Os brasileiros fariam bem se fossem mais desconfiados. Se fossem mais céticos. Mais críticos. Mais tristes. Mais introspectivos. Mais circunspectos. Seríamos certamente um povo mais evoluído, um povo mais civilizado, se fôssemos menos crédulos. Menos festeiros. Menos ufanistas. Menos alegres. Menos cordiais. Menos tolerantes. Menos reverentes. Menos patrioteiros. Menos deslumbrados. Menos otimistas. Menos bananeiros. Enfim, menos ordinários, menos vagabundos, menos cafajestes, menos safados. Se fôssemos um pouco mais inteligentes, perceberíamos facilmente que estamos diante de mais uma patacoada. Seríamos um povo melhor, um país melhor, sem dúvida. Haveria menos corrupção, menos roubalheira, menos bandalha. Com certeza, não haveria Lula. Não haveria Marta Suplicy. E, acima de tudo, não haveria Paulo Coelho.

O Brasil não vai ganhar nada com a Copa do Mundo. Muito pelo contrário. Basta lembrar o que foram os Jogos Pan-Americanos no Rio de Janeiro. O que houve ali foi um festival de pilantragem, com milhões gastos em obras faraônicas e superfaturadas. Se fosse realizada uma CPI para apurar todas as mutretas, toda a farra com o dinheiro público ocorrida no Pan, o governo não duraria uma semana. Sem falar que é muito difícil se entusiasmar com esportes eletrizantes como o pólo aquático e o softball. Passei todo o Pan assistindo a velhos DVDs, torcendo para que os Jogos acabassem logo. A única coisa boa do Pan foi a vaia a Lula no Maracanã. E mesmo assim foi um prazer efêmero, pois, na mesma ocasião, o público também vaiou a delegação dos EUA e aplaudiu a de Cuba. Acabo de ouvir no rádio que a previsão é que se gaste a bagatela de 6 bilhões de dólares na Copa de 2014. Anote aí: o Brasil não vai ganhar nada com a Copa.

Sempre achei que, assim como Lula e Paulo Coelho, o futebol é a nossa desgraça, é a perdição do Brasil. Poucos esportes conseguem ser mais emburrecedores, mais idiotizantes. Não é por acaso que somos pentacampeões mundiais. Não é por acaso que somos os melhores do mundo. Se existe algo em que somos verdadeiramente bons, é em correr atrás de uma bola e colocá-la dentro de três paus na pequena área. É a nossa verdadeira vocação nacional, nosso asset, nossa vantagem comparativa. Há países que se especializaram em fazer bons carros. Outros, em produzir filmes em série. Outros, ainda, em dar ao mundo bons escritores, filósofos e cientistas. Nós fabricamos jogadores de futebol. O futebol está no nosso sangue, no nosso DNA. Faça um teste. Pergunte a qualquer moleque de qualquer favela ou periferia, de qualquer cidade do Brasil, e ele lhe dará de cor toda a escalação da seleção brasileira, e ainda se achará no direito de distribuir conselhos ao técnico. Pergunte, em seguida, quem proclamou a independência do Brasil e por quê, ou qual a capital da Bolívia, e ele ficará mudo como um poste. Ou como uma bola. Não é por acaso também que Lula é fã de futebol e torcedor entusiasmado do Corinthians. Não é por acaso que ele é o Presidente da República.

Sei que esta é uma causa perdida, e que ninguém vai deixar de esperar avidamente por 2014 nem de torcer para a seleção brasileira por causa destas minhas palavras. Mas alguém tem que dizê-las. Mesmo que o Brasil se sagre campeão, mesmo que vença todos os jogos de goleada, ainda assim sairemos perdendo. Ficaremos mais burros, mais idiotas, mais deslumbrados e terceiro-mundistas. Soltando balões de gás no Morumbi. Ou vestidos de verde-amarelo, agitando bandeirinhas.

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P.S.: Para quem não conseguiu entender a frase da foto que ilustra este texto, escrita numa língua que lembra remotamente o português, a tradução é "Rumo ao Hexa". Como se vê, o futebol é de fato um importante instrumento de elevação do nível intelectual e cultural das camadas menos desfavorecidas da sociedade.

terça-feira, outubro 30, 2007

OSCAR, O GÊNIO


O Brasil tem um gênio. É Oscar Niemeyer. Uma empresa de consultoria inglesa acabou de divulgar uma lista em que ele aparece em nono lugar, entre os 100 maiores gênios vivos da humanidade. Lá está ele, o quase centenário arquiteto brasileiro (fará 100 anos no próximo dia 15 de dezembro), o único representante da glória nacional, ao lado de outros luminares da humanidade, como o químico suíço Albert Hoffman, que ficou em primeiro lugar, o megainvestidor George Soros (3o), Matt Groening, criador do desenho animado Os Simpsons (4º), Nelson Mandela (5º), o físico britânico Stephen Hawking (8º), o líder espiritual tibetano Dalai Lama (26º), o terrorista saudita Osama Bin Laden (44º) e o criador da Microsoft, o americano Bill Gates (45º).

Mal saiu a lista e os critérios da seleção foram postos em dúvida, sendo considerados bastante polêmicos, para dizer o mínimo. Muitos criticaram, por razões compreensíveis, a inclusão de nomes como o de Bin Laden na tal lista. Eu acho que estão criticando o nome errado. Bin Laden é sem dúvida um gênio, talvez o maior da atualidade. Ninguém conseguiu instrumentalizar com tanta eficiência o antiamericanismo, algo caro às esquerdas secularistas ocidentais, a fim de promover uma guerra religiosa contra a democracia e o Ocidente. É maligno, mas genial. Se é para se espantar com um dos nomes da lista, o de Niemeyer vence de longe. Mais até do que o do criador dos Simpsons.

Em sua justificativa, a empresa que elaborou a tal lista dos gênios afirmou que estes foram escolhidos por sua importância em suas respectivas áreas de atuação. A empresa aponta cinco fatores considerados na elaboração da listagem: mudança de paradigmas, reconhecimento público, capacidade intelectual, realizações e importância cultural. O ponto forte de Niemeyer, segundo a empresa, são as realizações. A principal realização de Oscar Niemeyer é Brasília. Ao lado do urbanista Lúcio Costa e de Juscelino Kubitschek, ele foi o maior cérebro por trás da criação da Capital Federal, em 1960, tendo projetado seus principais prédios, na Esplanada dos Ministérios. Ele fez outras coisas, antes e depois, claro. Mas foi Brasília que lhe garantiu um lugar na lista da empresa inglesa.

É aqui que me convenço que a homenagem a Niemeyer é, para dizer o mínimo, exagerada. Brasília é um fracasso total, urbanístico e arquitetônico. A cidade é louvada por sua suposta modernidade. Eu discordo. De moderna, Brasília não tem nada. Pelo contrário. Brasília é uma cidade velha, velhíssima, a mais velha do Brasil. Quando foi projetada, a idéia era criar um ambiente em que as pessoas pudessem conviver, com os funcionários e seus empregados habitando as mesmas superquadras no Plano Piloto. Acontece que não contaram com a nossa cultura escravocrata, baseada na idéia do "cada um em seu lugar". Tangidos do centro, os trabalhadores que a construíram, a maioria migrantes nordestinos, migraram de novo, dessa vez para as cidades-satélites. O resultado foi um rápido processo de favelização do entorno, semelhante ao ocorrido em outras cidades brasileiras, como Rio e São Paulo, com os mesmos problemas sociais, de falta de transportes até tráfico de drogas. Além disso, os prédios que tornaram Brasília famosa, como o Palácio do Planalto, a Catedral e o Congresso, vocês me desculpem, mas, em minha opinião, eles têm de bonitos o que têm de funcionais. Ou seja: nada. Verdadeiros monstrengos de concreto, impessoais, soviéticos, totalitários (não por acaso, outra obra famosa de Niemeyer é a sede do Partido Comunista Francês). Sem falar no legado terrível que a construção da cidade deixou: os milhões gastos, o sorvedouro de dinheiro público, a inflação, a dívida externa, a corrupção desenfreada. Moro em Brasília há cinco anos. Até hoje não vi essa tal modernidade de que tanto se ouve falar.

Esse último traço de Brasília diz muito sobre a verdadeira figura do arquiteto. Niemeyer é um dos últimos comunistas do planeta. Um stalinista empedernido, crítico implacável do capitalismo e admirador entusiasmado de Fidel Castro e do MST. Como tal, é também amigo de Lula. Não somente a ideologia de Niemeyer é comunista. Sua arquitetura também é. Comunista. Soviética. Stalinista. Totalitária.

A fama de Niemeyer é mundial. Tirando talvez Pelé ou Ronaldinho, ele deve ser o brasileiro mais conhecido no exterior. Estive recentemente na Coréia do Sul. Lá também estava havendo uma exposição sobre a obra de Niemeyer. O salão de exposição estava cheio de estudantes sul-coreanos, admiradores do trabalho do mestre. Não sei o que os estudantes sul-coreanos podem aproveitar das idéias arquitetônicas de Oscar Niemeyer. Espero sinceramente que não aprendam nada.

Prestes a completar 100 anos, Niemeyer é uma figura venerável. Quando alguém chega a essa idade, ainda saudável e em plena atividade, é comum dizer-se que está "lúcido". Com todo o respeito que seu quase um século de vida exige, tenho algumas dúvidas quanto à lucidez de Oscar Niemeyer. Se julgarmos por suas opiniões políticas, teremos que admitir que ele é tão lúcido quanto Dercy Gonçalves, outra centenária ilustre. Na entrada de seu escritório, ele mandou pendurar uma placa com a seguinte frase: "Enquanto houver miséria e opressão, ser comunista é nossa opção". Sabe-se que os regimes comunistas foram os maiores geradores de miséria e opressão da História. Em nome de uma utopia messiânica, a de acabar com as desigualdades e redimir a espécie humana, foram os responsáveis por rios de sangue e por algumas das piores fomes de todos os tempos, como na China e na Etiópia. Mas isso não importa. Oscar Niemeyer é um gênio. E gênios, como se sabe, estão acima desses detalhes.

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P.S.: Na hora de buscar uma imagem no Google para ilustrar este texto, acabei me confundindo e, em vez de colocar uma foto do nosso gênio, tasquei uma de Dercy Gonçalves. Mas resolvi manter a foto. Fica como uma singela homenagem minha a essa grande representante da inteligência nacional, conhecida pela mudança de paradigmas, reconhecimento público, capacidade intelectual, realizações e importância cultural. Um verdadeiro patrimônio da humanidade.

segunda-feira, outubro 29, 2007

O MUNDO VAI ACABAR


O mundo vai acabar. Al Gore recebeu o Prêmio Nobel da Paz. Al Gore e o Painel Inter-Governamental sobre Mudanças Climáticas da ONU, o IPCC. Anote aí: o mundo vai acabar.

Sempre desconfiei de Al Gore e da ONU, assim como sempre desconfiei do Prêmio Nobel. Principalmente do Nobel da Paz, o mais importante ou, pelo menos, o mais festejado. De todos os prêmios internacionais, este é certamente o mais estranho, o menos transparente. Até hoje, nunca vi, e acredito que ninguém também jamais viu, nenhum dos membros do tal comitê que decide as premiações falando na TV. Não há um rosto, um nome, nada. Para mim, eles parecem mais uma sociedade secreta, como os Skull and Bones ou o Priorado de Sião. Do mesmo modo, os critérios de premiação do Nobel continuam a ser para mim um mistério, algo completamente insondável, como a possibilidade de vida extraterrestre ou a insistência na crença na respeitabilidade e honestidade de Lula. Outros ganhadores do Nobel da Paz, em anos anteriores, foram Henry Kissinger, Madre Teresa de Calcutá, Jimmy Carter e Yasser Arafat. É algo que diz muito sobre a respeitabilidade e honestidade do Nobel.

Não somente o Nobel da Paz sempre me causou estranheza e desconfiança. Outras categorias, como Literatura, não deixam de me provocar espanto. Basta dar uma olhada na lista de ilustres ganhadores em anos mais ou menos recentes. Pablo Neruda era um stalinista devoto. Gabriel García Márquez é amigo de Fidel Castro. José Saramago, idem. Günter Grass escondeu de todos seu passado nazista. Harold Pinter tem saudades dos sandinistas. A última agraciada com o Nobel de Literatura foi a escritora britânica Doris Lessing. Ela declarou há alguns dias que o 11 de setembro de 2001 não foi tão terrível nem tão dramático assim. Podemos ficar otimistas. A continuar desse jeito, existe a forte possibilidade de levarmos o prêmio nos próximos anos. Eu recomendo Leonardo Boff ou Ariano Suassuna. Eles têm grandes chances. Podem acreditar em mim.

Os brasileiros sempre se ressentiram de nunca terem levado um Nobel, assim como de nunca terem levado um Oscar. Faz parte de nosso complexo de vira-latas. Bobagem. O Brasil não ganharia nada com um Nobel. Não somente o da Paz ou de Literatura. Os científicos também. Um dos ganhadores do Nobel de Medicina em outros tempos é um português, inventor da lobotomia. Desconheço o valor da lobotomia para o avanço da medicina. Também ignoro completamente em que sentido isso elevou o nome da medicina portuguesa. Outro agraciado com o prêmio é o biólogo norte-americano James Watson, um dos descobridores da estrutura do DNA. James Watson andou dizendo por aí que os africanos são racialmente menos inteligentes do que os europeus. É nisso que dá ganhar o Nobel.

A principal justificativa do comitê do Nobel para conceder o prêmio a Al Gore é a suposta contribuição do ex-presidente dos EUA (governo Clinton) à luta contra o aquecimento global. Al Gore, como todos sabem, é aquele senhor meio rechonchudo e de jeitão apalermado que foi derrotado por George W. Bush nas eleições presidenciais de 2000, aquelas que dizem que foram roubadas. Na época, de tão sem sal, ele era chamado de "Al Bore" pelos comediantes americanos. De ex-candidato e político fracassado, ele se tornou uma espécie de oráculo do meio ambiente, um Rajneesh dos verdes, um Cacique Cobra-Coral dos ecologistas. Tudo por causa de um documentário, Uma Verdade Inconveniente, que caiu nas graças de Hollywood e ganhou o Oscar deste ano. No filme, ele aparece alertando para as conseqüências do aquecimento global, a febre do momento, como já o foi o efeito estufa e a destruição da camada de ozônio. Segundo a pregação apocalíptica de Al Gore, se a humanidade não fizer nada nos próximos anos, o nível dos oceanos vai elevar-se em até 7 metros, causando inundações e devastação em todo o planeta. Segundo Al Gore, o furacão Katrina, que arrasou Nova Orleans em 2005, é o resultado direto desse aquecimento causado pelo homem. Segundo Al Gore, os ursos polares estão morrendo afogados por causa do derretimento do gelo do Ártico provocado pelas chaminés das fábricas e pelo escapamento dos carros.

Ainda não vi o filme, mas sei que ele já está dando o que falar. Um juiz na Inglaterra determinou que, antes de sua projeção, seja mostrada uma advertência afirmando que os dados apresentados na tela, como a previsão alarmante do nível dos oceanos aumentando em até 7 metros, não são confiáveis, e que a idéia da responsabilidade humana pelo aquecimento global está longe de ser um consenso entre os cientistas. Entre o juiz que deu essa ordem e Al Gore, é claro, eu fico com o juiz. Assim como, entre o lobby pró-armas da NRA e Michael Moore - outro vencedor do Oscar, como Al Gore, mas (ainda) não do Nobel - eu fico com os reacionários da NRA sem pestanejar. Recomendo, aliás, que a idéia do juiz da Inglaterra seja imitada, e sejam apresentadas advertências também antes dos documentários de Michael Moore, informando que se trata de obra de ficção.

De todas as "causas nobres" defendidas pelas esquerdas, tanto nacionais quanto internacionais, a causa ecológica ou ambientalista, a chamada "defesa do meio ambiente", é certamente uma das mais lucrativas, como demonstra o filme de Al Gore. E uma das mais falsas, mais desonestas. As esquerdas do mundo todo encamparam a bandeira ambientalista, assim como fizeram com a racial e a dos direitos humanos, como uma causa contra o lucro e o capitalismo. Afirmam, com o cinismo e a cara-de-pau que as caracterizam, que a devastação da natureza, da matança de baleias no Pacífico às queimadas na Amazônia, do derretimento das calotas polares à extinção de espécies selvagens, é produto da ganância capitalista. É uma equação simples, capaz de ser rapidamente assimilada até pela mente mais obtusa: menos lucros, mais natureza. Ou: menos capitalismo, mais preservação. Assim afirmam todos os dias, insistentemente, os militantes da causa ecológica, reunidos em ONGs como o Greenpeace. Daí a idéia do Protocolo de Kyoto, assinado dez anos atrás, e que os EUA se recusaram a assinar, sob a justificativa - aliás, verdadeira - de que tal documento prejudica o desempenho de sua economia. O que nem Al Gore, nem os ecomilitantes do Greenpeace conseguiram me explicar até agora, de jeito nenhum, é por que, se a poluição ambiental é conseqüência inevitável e inerente ao capitalismo, os países mais poluidores do mundo eram os pertencentes ao antigo bloco socialista, como a ex-Alemanha Oriental e a ex-URSS (remember Chernobyl). Sem falar na China de hoje. Não sei nada sobre aquecimento global e efeito estufa. Sou totalmente ignorante em emissões de CO2, Protocolo de Kyoto e créditos de carbono. Mas sei alguma coisa sobre Al Gore e a esquerda. O suficiente para desconfiar do discurso ambientalista. Assim como de qualquer prêmio que lhe for dado.

Talvez eu seja apenas um direitista entediado e rabugento. Talvez eu seja apenas paranóico. Talvez eu queira apenas aparecer. Talvez. Nada disso importa. Al Gore é o Prêmio Nobel da Paz de 2007. O mundo vai acabar.

sexta-feira, outubro 26, 2007

EU, O MENTIROSO


Tenho recebido algumas cartinhas. Algumas me elogiando por meus textos no blog, outras me esculachando. Agradeço a todas. Principalmente as que descem o sarrafo em mim. Como a de um distinto leitor, que se apresenta como João Paulo ou Paulo (acho que são a mesma pessoa). João Paulo/Paulo escreveu dois comentários bastante simpáticos ao meu texto "Batismo de Sangue: a história torturada", postado aqui em 8/05, no qual eu falo do filme de Helvécio Ratton sobre o envolvimento dos frades dominicanos de São Paulo com a luta armada nos anos 60. São comentários como os dele que ajudam a esclarecer vários pontos importantes e tornam este blog mais interessante.

Em 14/10/2007, o João Paulo escreveu o seguinte comentário, que transcrevo aqui na íntegra, com os erros de português e tudo:

"O seu artigo de certa forma é válido.Porém entre outras coisas, não posso concordar com sua opinião recheada de uma carga emocional, quando se refere a o Frei Beto, como um "Frade católico adpto da Teologia da libertação e admirador de Fidel Castro.Na verdade ele e os demais dominicanos, não eram revolucionários.Apenas estavam dando apoio a um movimento que contribuiu mais tarde, para que você por exemplo, pudesse escrever seu artigo.Portanto,não seja injusto com pessoas que lutaram por uma causa nobre.Eu não vivi a época de chumbo mas tenho idéia do que foi.Acho que você também não viveu essa época, mas ao contrário de mim, não faz idéia.
Ass. João Paulo Cavalcante"

Não resisti e resolvi escrever algumas palavras ao comentário acima. Ei-las:

Caro João Paulo,

1) Em primeiro lugar, obrigado por seu comentário. Gostaria apenas que você me explicasse por que lembrar dois fatos notoriamente conhecidos sobre Frei Betto - sua filiação à chamada teologia da libertação e seu apoio incondicional a Fidel Castro, demonstrados por ele em dezenas de artigos, livros e entrevistas - seria emitir "uma opinião recheada de carga emocional" de minha parte. Se é para se deixar levar pelo lado emocional das coisas, eu poderia ser mais explícito, chamando o referido Frei, por exemplo, de padre de passeata e testa-de-ferro de uma das ditaduras mais perversas do planeta (o que é também verdade). Em vez disso, citei apenas dois fatos bastante conhecidos.
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2) Pelo que eu entendi, você afirma que Frei Betto e os demais frades dominicanos, que embarcaram na aventura guerrilheira dos anos 60 e 70 (como apoio, vá lá), estavam lutando para que eu, por exemplo, pudesse ter a liberdade de escrever o que penso hoje. Nesse caso, segundo essa sua opinião, eu estaria sendo injusto com ele. Na verdade, de acordo com o que você diz, eu deveria me ajoelhar aos pés dele e pedir-lhe perdão, como um bom cristão, agradecendo ao piedoso Frei por ter-se engajado nessa, como você diz, causa nobre. Mais ainda: tudo o que temos hoje - democracia, eleições livres, liberdade de expressão, de ir e vir, de pensamento etc. - se deve a ele, Frei Betto, e a todos aqueles que pegaram em armas contra a ditadura militar, como Mariguella e Lamarca. Frei Betto, o democrata.
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3) João Paulo, fiquei confuso: afinal, Frei Betto é um conhecido defensor da ditadura de Fidel Castro em Cuba, que guerrilheiros como Carlos Mariguella viam como o modelo a ser implantado no Brasil. Aliás, o grupo de Mariguella, a ALN, chegou mesmo a receber apoio material e financeiro de Cuba, enviando vários de seus militantes para treinamento de guerrilhas na ilha (um deles, um tal de José Dirceu de Oliveira e Silva). Mas, de acordo com você, eles, os guerrilheiros, queriam transformar o Brasil não numa Cuba, mas numa Suécia ou numa Dinamarca. Logo, das duas uma: ou a luta armada dos anos 60/70 era pela democracia, e os elogios à ditadura cubana eram/são falsos, mera encenação de quem neles não acredita; ou era para substituir uma ditadura por outra, e nesse caso os slogans a favor do regime cubano são mesmo sinceros. Gostaria que você me esclarecesse qual das duas opções é a verdadeira.

Como se vê, João Paulo, parece que você, embora não tenha vivido os "anos de chumbo", faz bem idéia do que foi esse período...

"Ah e só pra lembrar, o Carlos Marighela não era uma (sic) terrorista não seu imbecil.

Ass. Paulo".

Paulo, você tem razão. Carlos Mariguella - e Lamarca, e todos os demais que praticaram assaltos, seqüestros e assassinatos nos anos 60 e 70 - não era terrorista. Era, na verdade, um grande mentiroso. Senão, não teria escrito coisas como:

"Hoje, ser terrorista é uma condição que enobrece qualquer homem de honra porque isto significa exatamente a atitude digna do revolucionário que luta, com as armas na mão, contra a vergonhosa ditadura militar e suas monstruosidades". Citado em Elio Gaspari, A Ditadura Escancarada, 2002, p. 142.
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"Sendo o nosso caminho o da violência, do radicalismo e do terrorismo (as únicas armas que podem ser antepostas com eficiência à violência inominável da ditadura), os que afluem à nossa organização não virão enganados, e sim, atraídos pela violência que nos caracteriza" ("O papel da ação revolucionária na Organização"). Citado em Daniel Aarão Reis Filho e Jair Fernandes de Sá, Imagens da Revolução, 1985, p. 212.

"Ao terrorismo que a ditadura emprega contra o povo, nós contrapomos o terrorismo revolucionário" - "La lutte armée au Brésil", novembro de 1969 - citado em Elio Gaspari, A Ditadura Envergonhada, 2002, p. 106.

Como se vê, eles não eram nada terroristas.
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E eu, claro, sou um imbecil.
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Um abraço.
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Algumas sentenças são exemplares pela clareza e sinceridade. Que o diga o parágrafo seguinte, ante o qual fica faltando muito pouco a acrescentar:
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A luta armada fracassou porque o objetivo final das organizações que a promoveram era transformar o Brasil numa ditadura, talvez socialista, certamente revolucionária. Seu projeto não passava pelo restabelecimento das liberdades democráticas. Como informou o PCBR: "Ao lutarmos contra a ditadura devemos colocar como objetivo a conquista de um Governo Popular Revolucionário e não a chamada "redemocratização". Documentos de dez organizações armadas, coletados por Daniel aarão Reis Filho e Jair Ferreira de Sá, mostram que quatro propunham a substituição da ditadura militar por um "governo popular revolucionário" (PCdoB, Colina, PCBR e ALN). Outras quatro (Ala Vermelha, PCR, VAR e Polop) usavam sinônimos ou demarcavam etapas para chegar àquilo que, em última instância, seria uma ditadura da vanguarda revolucionária. Variavam nas propostas intermediárias, mas, no final, de seu projeto resultaria um "Cubão". (Elio Gaspari, A Ditadura Escancarada, Companhia das Letras, 2002, páginas 193-194).

quarta-feira, outubro 24, 2007

"TROPA DE ELITE" É FICHINHA. MESMO.


Finalmente, assisti a Tropa de Elite, de José Padilha. Como estão todos dizendo que é um filme bastante polêmico e, além disso, "de direita", "reacionário", "fascista" etc., resolvi deixar meu preconceito contra o cinema nacional de lado e dar uma espiada. Como já fui chamado de tudo isso e polêmica é comigo mesmo, fiz questão de ver, para dar também meus pitacos.

Francamente, não entendi o porquê de tanta celeuma. De polêmico, em minha opinião, o filme tem muito pouco. Ele não mostra nada que já não seja conhecido de todos, tanto dos moradores das favelas acostumados a conviver com o narcotráfico quanto dos consumidores habituais de maconha e cocaína que, com seu vício, financiam os criminosos. Com a exceção, talvez, do treinamento do BOPE, não vi nada que já não soubesse ou de que não tivesse ouvido falar.

A grande novidade de Tropa de Elite, e o que tem causado tanta irritação em certos setores que sempre se acharam os donos exclusivos da verdade (leia-se: a esquerda), está em mostrar uma realidade incômoda que está aí para quem quiser ver, e que sempre foi escamoteada do grande público: 1) o fato de que bandido é bandido, e não uma espécie de Robin Hood ou "vítima da sociedade", e 2) a hipocrisia e a cumplicidade com os traficantes de setores da classe média, que sempre choram rios de lágrimas quando um dos seus se torna mais uma estatística da criminalidade nas grandes cidades brasileiras, mas que se acostumaram a conviver e até mesmo a compactuar com a bandidagem.

Foi esse último fato que certamente mais incomodou os esquerdistas: ao mostrar os playboys da Zona Sul carioca como sócios do crime organizado, agindo, eles próprios, como traficantes nas universidades, enquanto hipocritamente organizam ONGs nas favelas e realizam passeatas "pela paz", o filme cutucou num vespeiro da intelectualidade gauche no Brasil. A meu ver, esse é seu principal mérito.
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Uma de minhas cenas favoritas é a da aula na universidade freqüentada pelo policial negro que, com receio de ser marginalizado, tem de esconder sua condição dos demais colegas (se fosse um traficante, quem sabe, seria melhor recebido...). Na cena, ele corajosamente enfrenta uma turma de playboys que, intoxicados - literalmente - de demagogia marxistóide, começam a soltar impropérios contra a polícia. Poucas vezes a idiotização esquerdista imposta às universidades brasileiras foi mostrada com tanta eloqüência, e de maneira tão realista. Como eloqüente e realista é a cena em que o Capitão do BOPE arrasta, aos safanões, um "estudante" apanhado em uma operação junto com traficantes. Perguntado sobre quem acabara de matar um dos bandidos, abatido a tiros pelo BOPE, o tal estudante-traficante responde, relutante, que foi um dos policiais. Ao que o Capitão berra, esfregando, furioso, o rosto do mesmo na ferida ensangüentada do meliante morto: "Nada disso. Quem matou foi você, seu maconheiro!". Como toda a platéia, vibrei com a cena, sentindo-me intimamente vingado por anos e anos de retórica demagógica a favor dos "direitos do usuário". Valeu por várias teses de doutorado sobre o assunto.

Outra coisa que certamente fez nossos esquerdistas torcerem o narizinho arrebitado de leitores de Gramsci e Foucault são as cenas de violência policial, mostradas de forma bastante gráfica na tela. A esquerda, horrorizada, não deixou de manifestar sua sacrossanta indignação pelas cenas em que os cruéis meganhas descem o pau nos pobres traficantes, inclusive empregando táticas condenáveis de tortura. À primeira vista, parece que, nesse caso, a esquerda tem razão, mas olhando-se mais de perto, fica claro que é tudo jogo de cena. O que lhe causa horror, na verdade, não é a brutalidade e os excessos das táticas do BOPE, não são as violações aos direitos humanos - até porque os regimes apoiados por nossas esquerdas, como o de Cuba, não são exatamente modelos de respeito aos direitos humanos -, mas a própria ação da polícia contra os traficantes.
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Todos sabem que a idéia mesma de repressão ao crime - a função básica do trabalho policial, em qualquer país do mundo - causa urticária nos setores esquerdistas. Quando se trata de pôr a mão na massa e enfrentar a bandidagem, estes sempre preferiram olhar para o outro lado e, para não passar por autoritários, defender políticas "preventivas", como ações sociais - o que equivale, ironicamente, a considerar todos os pobres criminosos em potencial. Para esse pessoal, prender os bandidos, metê-los na cadeia, é uma bandeira da extrema direita.
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Não faz muito tempo assim, um governador do Rio de Janeiro - estado onde se passa o filme -, aliás um reconhecido ícone das esquerdas no Brasil, sob o pretexto populista de "defender os valores" do povo do morro, simplesmente proibiu a polícia de subir as favelas à caça de bandidos (o mesmo político, já falecido, tinha por hábito receber alegremente os principais chefões do jogo do bicho em seu gabinete). Como se o narcotráfico e a contravenção fossem parte dos valores do povo das favelas, na verdade suas maiores vítimas. O resultado, como não poderia ter sido diferente, foi a criação de um verdadeiro Estado paralelo, com os traficantes ditando as leis nas "comunidades" infestadas pela criminalidade.
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Se há alguma coisa que o extraordinário sucesso de Tropa de Elite demonstra de forma cabal e irrefutável é que esse tipo de discurso rasteiro e demagógico já não tem mais guarida entre a massa da população. As pessoas, cansadas da lengalenga esquerdóide sobre as tais "causas sociais da violência", já perceberam que, contra a bandidagem, o que vale não é a velha cantilena marxistóide e a vigarice sociológica da USP, mas a eficiência do BOPE. Capitão Nascimento neles!

Por tudo isso, o filme já está sendo chamado, claro, de "fascista" pelos esquerdistas. Sempre que a esquerda não gosta de uma opinião, a rotula de "fascista". É sua forma de desqualificar quem a emite e dizer que não aceita ser contestada - características, aliás, do fascismo propriamente dito. Mas até esta já começa a perceber que a brecha entre o que ela pensa e o grosso da população, que sofre diariamente com a violência do tráfico, é grande demais para ser ignorada. Enquanto a esquerda perde tempo debatendo as "causas sociais da criminalidade" - em geral, uma forma de justificar a inação no combate à mesma -, o povão já se antecipou, e transformou Tropa de Elite, antes mesmo de sua estréia no cinema, em campeão (pirata) de bilheteria e o Capitão Nascimento, e não Foucault, em seu herói.

Essa brecha entre o que os ideólogos da esquerda politicamente correta crêem ser o melhor para a humanidade e o que pensa o cidadão comum, que paga impostos e quer ver seus filhos longe da criminalidade, é bem demonstrada pela maneira diferente como cada um encara o problema da violência urbana, e as soluções que apresentam. Há dois anos, uma gigantesca mobilização oficial esquerdista, que incluiu um batalhão de artistas, sempre dispostos a se engajar em patacoadas do tipo para exercer seu bom-mocismo, tentou convencer a todos que a causa da violência era a própria existência de armas de fogo nas mãos de cidadãos de bem, e que a solução estava em desarmar a todos - menos, claro, os bandidos. Tal medida, por demagógica, foi fragorosamente rejeitada por 64% da população. Mesmo assim, a esquerda não desiste, classificando Tropa de Elite, à falta de argumento melhor, de "fascista". E por que motivo? Porque o filme, como também o faz (em menor escala) Cidade de Deus, de Fernando Meirelles, rompe com a tradição cinematográfica brasileira de tratar bandido como mocinho e polícia como bandido (vejam Carandiru, por exemplo).

Tropa de Elite é certamente um bom filme e, como obra cinematográfica, está muito acima da média da produção nacional, tanto pelo tema quanto tecnicamente. Mas, assim como mostra algumas verdades inconvenientes, o filme deixa de mostrar outras, igualmente incômodas. Por exemplo, seria interessante ver retratada na tela a trajetória da cocaína que chega aos morros cariocas, vinda de países como a Colômbia, onde o narcotráfico é controlado pelos guerrilheiros castristas das FARC, vistos como aliados e "lutadores da liberdade" pelos esquerdopatas brasileiros. Mesmos esquerdopatas, aliás, que agora vociferam contra o filme de José Padilha. Aliás, apenas para recordar: onde foi mesmo que prenderam o Fernandinho Beira-Mar?

Por mostrar muito menos do que isso, Tropa de Elite foi rotulado de "fascista" pelos patrulheiros ideológicos de plantão. Perto do que faltou dizer, porém, o que é mostrado no filme é fichinha. Quase um conto-de-fadas.

terça-feira, outubro 23, 2007

A COMPETÊNCIA A SERVIÇO DO MAL


Um dos erros mais repetidos sobre "isso que aí está" e que, por falta de nome melhor, chamamos de governo Lula, é dizer que se trata de um governo de despreparados e incompetentes. Eu mesmo, em textos anteriores, cometi esse erro, do qual aproveito para fazer aqui um mea-culpa. Não, o governo Lula não é incompetente. Muito pelo contrário: é competente até demais. Aí está, justamente, a raiz de todos os nossos problemas, atuais e futuros.

Na verdade, ao chamarmos os lulistas de despreparados e incompetentes, estamos fazendo-lhes um favor. Trata-se, de fato, não de uma crítica, mas de um elogio. Se fossem apenas desastrados, os lulistas ainda teriam solução, e não haveria por que ser tão duro com eles. Afinal, despreparo e incompetência têm cura. Basta, para tanto, apenas um pouco de esforço e de boa vontade. Mas a questão não é essa. Criticar Lula e seus apaniguados por sua incompetência na gestão da máquina pública é perder de vista o verdadeiro foco da questão. É mirar no acessório e esquecer o essencial, contribuindo, assim, para a perpetuação do problema. O descalabro moral, o aparelhamento do Estado, a ideologização da política externa, o caos aéreo - nada disso resulta da incompetência pura e simples. Aliás, nesse governo, nada é "puro e simples": tudo que lhe diga respeito, suas ações ou omissões, decorre não da inépcia ou de confusão de seus integrantes, mas de uma visão ideológica há décadas enraizada em nosso inconsciente coletivo, de forma sistemática, quotidiana - e ultra-eficiente.

O que há não é desgoverno, mas projeto de poder. Não é o despreparo puro e simples, mas a preparação do terreno para a implantação - lenta, gradual, solerte, calculada, paralisante, estupefaciente - do Estado dos sonhos dos petistas. Um Estado socialista, autoritário, talvez até totalitário, nos moldes da Venezuela de hoje ou da Cuba comunista, os verdadeiros modelos da companheirada. Um regime, enfim, em que as liberdades democráticas cedam lugar a uma forma de coletivismo forçado, baseado no inculcamento gradativo, constante, das velhas fórmulas e chavões esquerdistas. Não importa que essas fórmulas e chavões desbotados se apresentem sob formas vagas e aparentemente inofensivas, tais como "inclusão social", "correção de injustiças históricas" ou, ainda, "democratização dos meios de acesso à informação e cultura". É exatamente dessas fórmulas vagas e imprecisas que o discurso lulista se nutre e é a partir delas que consegue engabelar a todos, de forma muito competente. O diabo mora nos detalhes.

Não, senhores: a entronização do "politicamente correto" nas escolas e outros estabelecimentos públicos, na forma de leis que, a pretexto de combater o racismo e a homofobia, apenas oficializam o primeiro e criminalizam a liberdade de expressão e pensamento; os movimentos para restabelecer a censura aos meios de comunicação, mediante uma lei copiada da Venezuela chavista; a doutrinação ideológica nas escolas, na forma de textos didáticos que ensinam o ódio ao capitalismo e enaltecem tiranos genocidas como Stálin e Mao Tsé-Tung; os afagos públicos a ditadores como Fidel Castro e a seus discípulos Hugo Chávez e Evo Morales - nada disso, absolutamente nada, ocorre no vazio. São, na verdade, manifestações de um plano diabólico, totalitário, que não visa outra coisa senão ao estabelecimento e perpetuação, no Brasil, de uma ditadura de esquerda. Tal plano já se encontra em estágio relativamente avançado, expressando-se nas articulações mais ou menos subterrâneas para garantir o terceiro mandato presidencial de Lula, por exemplo. Outra expressão: a defesa, por parte do governo, de uma nova Constituição, a fim de extinguir-se o Senado - a nova manobra lulista para assegurar sua base de apoio, depois da queda em desgraça do companheiro Renan Calheiros. Qualquer semelhança com um país vizinho, onde o atual governante assumiu o poder também por meios legais e, igualmente por meios legais, impôs uma nova Constituição e tratou de garantir sua reeleição ad aeternum, enquanto preenchia com companheiros seus o aparelho estatal e impunha uma ridícula e fantasiosa versão histórica nas escolas, em nome de um mal-definido "socialismo do século XXI", não é - repito: não é - mera coincidência. Que os lulistas tenham conseguido convencer a todos, durante mais de trinta anos, que seu principal defeito é a incompetência administrativa, e não o laivo antidemocrático e totalitário, revela muito sobre sua extrema competência em enganar a todos e ocultar seus verdadeiros desígnios.

Mas onde está a origem desse plano infernal, cuidadosamente preparado e implantado durante anos e anos, sem que quase ninguém percebesse? Se fosse possível sintetizar em um nome o cerne de toda essa articulação revolucionária, eu não hesitaria em dizer: Foro de São Paulo. Em que consiste essa organização, cuja simples existência, apesar do próprio discurso oficial, a imensa maioria da mídia, impressa, falada e televisada, insiste em negar? Nas palavras do atual mandatário brasileiro, em um "espaço de articulação estratégica" dos partidos e movimentos esquerdistas da América Latina. Com que objetivo? Novamente, deixemos seus próprios formuladores dizerem: "para restabelecer, no continente, o que foi perdido após a queda do Muro de Berlim e a extinção da URSS". Entre seus fundadores, estão Lula e Fidel Castro. Alguns de seus membros, além do PT, são as FARC e o MIR chileno. Nada mais é preciso dizer.

Les jeux sont faits. A sorte está lançada. E ela não é nada favorável aos que defendem a liberdade e a democracia. Estes estão ocupados demais cobrando honestidade e eficiência de Lula e do PT. Além de cometerem o erro crasso de exigir honestidade de quem, sob o disfarce da "defesa da ética", sempre a repudiou como um valor "burguês", esquecem-se que o problema dos lulistas e de seus apoiadores não é a falta, mas o excesso, de eficiência. Enquanto não se derem conta do tamanho da farsa lulista, estarão cavando seu próprio túmulo.

segunda-feira, outubro 08, 2007

CHE GUEVARA, O MITO SEM NENHUMA TERNURA


Certa vez, quando eu era moleque, comprei uma camiseta de Che Guevara. Era uma dessas camisetas baratas que a garotada adora, com a famosa fotografia de Alberto Korda (que, segundo dizem, é a mais reproduzida de todos os tempos). Na época, eu tinha acabado de tomar contato com as idéias marxistas e era um fã arrebatado da epopéia da Revolução Cubana, que, para mim, era uma espécie de conto de fadas realizado (12 homens contra um exército, imaginem só...). Acima de tudo, já entrado na adolescência, eu estava de saco cheio das criancices dos colegas de turma e ansiava por ser "diferente". Nessa idade, para se enturmar ou se destacar do resto da galera, tem gente que bota piercing, fura orelha, faz tatuagem, pinta o cabelo de verde. Mais intelectualizado, eu idolatrava Che Guevara.

Ao contrário da multidão de "revolucionários" infanto-juvenis que acham muito fashion as camisetas com a estampa de Che mas que não têm a menor idéia de quem foi e do que fez o "Guerrilheiro Heróico", e dos bocós esquerdóides que vêem alguma semelhança no retrato dele com a imagem de Jesus Cristo (o que é, para mim, um argumento a mais para não ser religioso), eu sempre soube, no entanto, que a figura adorava matar. E não somente em combate - coisa que, aliás, fez bem menos do que diz a lenda, e com muito menos competência. Mas principalmente inimigos desarmados, muitos deles ex-companheiros de luta e inocentes apanhados no turbilhão da repressão política em Cuba, que ele eficientemente mandou ao paredão, em orgias de sangue. Nesse trabalho, sim, ele era muito valente e competente, agindo com zelo e devoção fanáticos. A ponto de se especular que, se tivesse demonstrado a mesma eficiência e profissionalismo na luta de guerrilhas, a América Latina inteira teria se transformado, como ele desejava, num imenso Vietnã. Ou, mais provavelmente, num grande Camboja dos anos do Khmer Vermelho.

Não, nunca ignorei esse traço acentuadamente homicida da personalidade do guerrilheiro cubano-argentino. Não era por desconhecer seu trabalho como fuzilador-mor em La Cabaña, sua aversão à democracia e sua intolerância política, nem seus retumbantes fracassos como chefão da economia em Cuba no começo dos anos 60 e, claro, como guerrilheiro, que eu me vi atraído, à certa altura, pela imagem do revolucionário barbudo. Pelo contrário. O que realmente me atraía, o que me seduziu naquele ícone rebelde do século XX, era exatamente esse apelo à violência revolucionária, a atração estética que a idéia de matar - e matar não um ou dois ou meia dúzia, mas milhares, milhões - exerce sobre cérebros facilmente impressionáveis e ainda não totalmente amadurecidos. Principalmente se esse apelo vier acompanhado de uma ideologia totalitária travestida de humanismo, como é o marxismo-leninismo. Aí, a violência e a intolerância, latentes em certos espíritos, encontram um álibi perfeito, adquirindo ares de uma verdadeira catarse pessoal.
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Por isso acho tão engraçado quando vejo tanta gente ainda se sentir surpreendida e indignada com a "revelação" de algumas verdades inconvenientes sobre a figura histórica do guerrilheiro, como os assassinatos e os massacres que ele promoveu ou ajudou a promover (a Veja da semana passada lembrou até que ele fedia como um gambá, algo que, diga-se de passagem, também não era nenhum segredo). Como se não soubessem que, para fazer uma revolução - e uma revolução socialista -, é praticamente impossível não derramar sangue em abundância. Ora, era justamente isso que me fascinava em Che Guevara: sua disposição de mandar para o túmulo, sem dó nem piedade, os contra-revolucionários e todos aqueles que se pusessem no seu caminho rumo à construção do "homem novo". Em nome desse ideal, eu já me via, de boina e fuzil na mão, passando fogo nos burgueses e reacionários, dando um teco nos imperialistas, como um Rambo da esquerda. Por isso também nunca gostei muito da frase mais famosa que o Che teria supostamente dito, aquela do "hay que endurecer, pero sin perder la ternura jamás", que me parecia uma frescura, aliás totalmente destoante do personagem. Preferia outras frases dele, como aquela em que ele afirma que "a solução dos problemas da humanidade está do outro lado da cortina de ferro" e a que enaltece a capacidade do revolucionário de se transformar "numa fria, dura, insensível e perfeita máquina de matar".

Hoje, para mim, a mitologia criada em torno de Che Guevara - sua quase santificação, na verdade, com direito a mausoléu em Cuba e tudo - serve apenas para confirmar aquilo de que tomei consciência alguns anos atrás: que a violência e a intolerância, o terror e a repressão, são inerentes ao ideal comunista. Os 100 milhões de cadáveres produzidos pelas tiranias comunistas no século XX - dos quais alguns milhares devendo ser debitados na conta da ditadura que se apossou da paradisíaca ilha de Cuba, onde Che deixou sua marca de executor impiedoso - estão aí para demonstrar essa verdade mais que inconveniente. Mais que isso: a justificação da violência, a glamurização do terror, é também um traço característico dessa ideologia política. Acabo de ler uma entrevista do principal biógrafo de Che, o jornalista norte-americano Jon Lee Anderson, em que ele diz que a revolução, para Guevara, era uma religião. Isso significa que, para ele, matar, exterminar os "inimigos da revolução", era um dever sagrado, como ir à missa e receber a comunhão, ou rezar um padre-nosso.

Nisso ele não estava, obvamente, sozinho. Todos os líderes revolucionários de esquerda, desde Robespierre na Revolução Francesa, passando, claro, por Lênin e Stálin, eram/são sedentos de sangue. Mesmo os revolucionários que se tornaram vítimas da própria máquina genocida comunista que ajudaram a construir, como Trotsky, não tinham qualquer pudor moral em mandar milhares para a morte. Aliás, um dos meus textos preferidos na época em que eu andava por aí, de cabelos longos, barba rala e um retrato do Che no peito era "Nossa Moral e a Deles", de Trotsky. Nesse texto revelador, o companheiro de Lênin e criador do Exército Vermelho - que logo tomaria o lugar de Che, na minha mente adolescente, como paradigma de revolucionário dedicado e honesto - deixa claro que a moral revolucionária não tem nada a ver com a moral burguesa, capitalista. Ou seja: que, na luta pela revolução, assassinar, roubar, mentir, corromper etc. são virtudes, desde que conduzam ao fim almejado. Pelo mesmo motivo, ele não se opunha ao terrorismo por razões ideológicas ou morais, mas unicamente táticas. Assim como Che Guevara, que considerava a morte de seres humanos um mero inconveniente, um mal necessário. Ou, como certa vez disse Himmler, referindo-se aos judeus, algo apenas necessário.

A sanha assassina e antidemocrática de Che Guevara, assim como do Comandante-en-Jefe Fidel Castro, nunca foi um segredo para mim. Se fosse vivo hoje, Che Guevara estaria provavelmente embrenhado na selva colombiana, ao lado dos narcotraficantes das FARC. Ou mesmo, quem sabe, nas montanhas do Afeganistão, ao lado de Osama Bin Laden (desconfio, porém, que nosso herói hesitaria em se apresentar voluntariamente para alguma missão suicida em nome de Alá). Por isso achei tão insólitas as homenagens ao líder guerrilheiro por alguns deputados do PT e do PCdoB, no dia dos 40 anos de sua morte nos cafundós da Bolívia, como um símbolo da luta "pela igualdade, justiça social e liberdade" (!). Mas, pensando bem, num país em que se ensina nas escolas que Stálin e Mao tsé-Tung foram grandes humanistas, isso não deveria causar nenhuma surpresa.
 
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Veja também:
"Desconstruccíon de un mito" - Elizabeth Burgos

sexta-feira, outubro 05, 2007

REALIZAÇÕES DO GOVERNO LULA

Eu tinha prometido a mim mesmo que não ia mais falar do Lula. Mas não dá para evitar. Todo dia, quando eu chego ao trabalho e abro a caixa postal do correio eletrônico, lá está, em meio a propagandas de viagra e outras baboseiras do tipo, uma mensagem da Secretaria de Comunicação da Presidência da República, enaltecendo as conquistas do petismo no poder. Em geral, provocando em mim efeitos exatamente opostos ao do viagra. Como funcionário público, mesmo concursado, tenho que agüentar esse tipo de aporrinhação diária.

Nos últimos tempos, fomos atingidos por um bombardeio de dados estatísticos e informes publicitários saídos do Palácio do Planalto, dando conta de como o Brasil, desde 1 de janeiro de 2003, é outro País, tendo enveredado por um caminho luminoso de felicidade e prosperidade sem paralelo na história da espécie humana. Como já está mais do que claro que o que chamamos de governo hoje no Brasil só se sustenta na amnésia crônica da população e na cumplicidade disfarçada da oposição inexistente, resolvi tomar a liberdade de elencar, eu mesmo, as grandes realizações do governo Lula. Ei-las, as mais importantes:
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- Bolsa-Família - O carro-chefe do petismo na atualidade, principal responsável, sem dúvida, pela reeleição do atual mandatário, e que encobriu o fracasso de outros programas semelhantes na área social, como o outrora badaladíssimo e hoje esquecidíssimo "Fome Zero"(alguém lembra?). Consiste numa bolsa, de 50 ou 90 reais dependendo do tamanho da família, distribuída pelo governo federal à população mais pobre do País. A idéia, surgida no governo FHC, é combater a evasão escolar, pois só recebe a bolsa quem comprovar que tem filho na escola, e, ao mesmo tempo, ajudar quem passa necessidade. Uma idéia muito caridosa, muito católica, muito bem-intencionada, sem dúvida. A grande novidade em relação aos programas assistencialistas anteriores, além do fato de este ser do PT (que sempre fez questão de condenar, antes, o assistencialismo como um paliativo paternalista das classes dominantes, destinado a anestesiar a consciência das massas e frear mudanças verdadeiras), é que, desta vez, resolveu-se unificar tudo numa coisa só, em nível federal. Incentivados pela propaganda petista, que insinuava a possibilidade de o candidato adversário acabar com o benefício no dia seguinte à eleição, milhões de miseráveis votaram em Lula. Como resultado, ocorreu uma alteração substancial no quadro político-eleitoral do País, com os petistas dominando as áreas mais pobres e carentes. Em outras palavras: o retorno do voto de cabresto, agora federalizado.
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- Choque de gestão - A expressão da moda, que Lula, como uma criança de jardim-de-infância que aprende a balbuciar uma palavra nova, não cansa de repetir, maravilhado. Significa dar mais eficiência e racionalidade à administração pública. Nessa área, realmente, o atual governo tem dado um show de eficiência e responsabilidade com o dinheiro do contribuinte (aliás, cada vez mais contribuinte). Sobretudo quando se trata de contratar milhares de funcionários sem concurso e aparelhar órgãos estatais com militantes e apaniguados. Um festival de gastança, que não dá sinais de diminuir. E de eficiência, claro. Li que, somente no Palácio do Planalto, Lula tem 149 assessores à sua disposição. Nenhum deles lembrou de dizer-lhe, por exemplo, que não é preciso cruzar o Atlântico para chegar aos EUA ou que o Brasil faz fronteira com a Bolívia. Quanto ao aparelhamento partidário da máquina estatal, chegou-se ao ponto de diretores da agência que fiscaliza a aviação civil viajarem às expensas das empresas que deveriam fiscalizar, e o órgão que cuida da infra-estrutura do setor privilegiar a pintura dos saguões dos aeroportos em vez das ranhuras nas pistas. O que, obviamente, não deve ter tido nada a ver com o caos aéreo que tomou conta dos céus do País de um ano para cá, nem com o desastre que matou 199 pessoas em julho passado em São Paulo, claro...
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- PAC - A sigla-símbolo do segundo mandato lulista. Um verdadeiro achado da propaganda, provavelmente saído da mente brilhante de algum marqueteiro a serviço do governo, que surpreendeu a quase todos, pelo ineditismo, no discurso presidencial proferido por ocasião da segunda posse na presidência da República ("PAC? Que é isso?"). Significa "Programa de Aceleração do Crescimento". Notem bem: de Aceleração. Pois o crescimento econômico, como se sabe, já é um dado da realidade, bastando apenas dar-lhe um empurrãozinho oficial. E como se dará esse salto para o futuro? Simples: retomando projetos engavetados, ou criando outros. Desde que se mantenha a idéia da "aceleração" da economia, mantida estável graças a uma política econômica - ah não, aí já é demais... - herdada do governo anterior, o tal da "herança maldita". Como não poderia deixar de ser, já começam a aparecer as primeiras denúncias de fraude nas licitações, de malversação de fundos públicos nos tais projetos. Mas nada disso importa. No primeiro mandato, falou-se em "espetáculo do crescimento". O tal espetáculo prometido, porém, mixou, virou um show de marionetes. Agora, a bola da vez é a "aceleração do crescimento". Ou seja: durante quatro anos, anunciaram um filme que ninguém viu. Agora, querem rodar a fita o mais rápido possível. Talvez para que ninguém lembre do tal espetáculo prometido e nunca realizado, emPACado, vá-se ver.

- Etanol - A menina dos olhos do governo Lula. Basicamente, é o velho Proálcool, que tanta alegria deu aos usineiros durante o regime militar, de cara nova. Aqui, justiça seja feita, Lula parece ter tomado um caminho diferente dos companheiros Fidel Castro e Hugo Chávez, que já se posicionaram contra o etanol, pois este só fará "aumentar a fome no mundo". Tudo bobagem, claro, que os milhares de barris de petróleo produzidos diariamente pela Venezuela e fornecidos de graça a Cuba talvez expliquem. Lula já anunciou, com a fanfarra que lhe é habitual, que o programa dos biocombustíveis é uma verdadeira revolução, que colocará o nome do Brasil nas alturas, além de ser ecologicamente correto e gerador de milhares de empregos. Entusiasmado, já chamou os usineiros de "heróis". Faltou perguntar aos bóias-frias que trabalham de sol a sol nas plantações de cana-de-açúcar o que eles acham dessa afirmação.
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- Política externa - Outra área bastante prestigiada pelos companheiros lulistas. Sendo eu do ramo, hesitei um pouco antes de falar no assunto, pois, ao contrário do que pode parecer, é preciso, nesse caso, estar do lado de fora para ver a situação com mais clareza. Mas não resisti em dar também aqui meus pitacos. Afinal, também tive, por dever profissional, de ler o panfleto antiamericano de Moniz Bandeira, o "historiador" oficial do Itamaraty do B, e também me assustei com o que li. Do mesmo modo, também achei esquisita a explicação da chefia da "Casa" para as acusações de ideologização da política externa brasileira, consideradas apenas uma intriga da oposição. Ora, só porque, sob o governo dos companheiros, em nome de uma "nova geografia comercial do mundo", o Brasil resolveu assistir de camarote (a)o enterro da ALCA, vista como um projeto expansionista e anexionista da hiperpotência imperialista norte-americana? Só porque, em lugar da ALCA, que nos abriria as portas de um mercado insignificante como o dos EUA, o Brasil preferiu apostar suas fichas em verdadeiros titãs da economia mundial, como a Venezuela e S. Tomé e Príncipe? Somente porque, para ficar apenas na América Latina, o governo de Lula e do ghost-chancellor Marco Aurélio Garcia insiste em não ver qualquer mal na decisão do companheiro Hugo Chávez de fechar o principal canal privado de TV no país e em chamá-lo, além disso, de parceiro do Brasil? Ou, ainda, na tunga das refinarias da PETROBRAS pelo governo do companheiro e índio fajuto Evo Morales na Bolívia, decisão que muitos petistas chegaram inclusive a aplaudir? Ideologização da política externa? Imagine...

- Saúde - Aqui não é preciso dizer muito. Basta lembrar uma frase de Lula, lapidar em sua sabedoria: "A saúde pública no Brasil está à beira da perfeição". Quem sabe com a prorrogação/eternização da CPMF, da qual Lula já foi inimigo, a situação vá da perfeição para o state of the art. Uma verdadeira pintura, que o digam os milhares de pacientes do SUS.
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- Educação - Aqui também foram alcançados, nos últimos anos, avanços importantes. Fiquemos em apenas dois: 1) as cotas raciais para estudantes "afro-descendentes" nas universidades, que, sob a justificativa de democratizar o acesso à educação superior, permite a entrada de gente que se declare como tal, por meio de um ultra-sofisticado e cientificamente comprovado método de seleção baseado em... fotos, e 2) a distribuição, nas escolas das redes públicas de ensino, de livros didáticos enaltecendo grandes personagens da História e lutadores da liberdade como Stálin, Mao Tsé-Tung e, claro, Fidel Castro. Falando nesse último, aliás, é bom recordar que, para os companheiros petistas, Cuba é o grande modelo de educação pública, gratuita e de qualidade a ser seguido. E não somente de educação, é bom que se diga.
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- Segurança - Todo mundo sabe que esta não é bem a praia dos petistas, que sempre preferiram botar a culpa pela criminalidade e pelo tráfico de drogas nas desigualdades sociais a investir em policiamento e no combate à bandidagem. Mas aqui é preciso dar a mão à palmatória: no quadriênio lulista, como todos sabem e a imprensa não cansa de não noticiar, o nível de violência baixou, os traficantes cariocas deixaram de trocar tiros com a polícia, os ataques do PCC diminuíram... Falando em PCC, já se descobriu que este mantém vínculos estreitos com os guerrilheiros castristas das FARC, assim como o Comando Vermelho de Fernandinho Beira-Mar (preso, aliás, na Colômbia, num acampamento da dita organização revolucionária). Pois é, as FARC, a mesma guerrilha apoiada por Fidel Castro, de quem Lula é amigo, e que faz parte também do Foro de S. Paulo, que Lula fundou em 1990 junto com o ditador cubano, e que todo mundo finge que não existe... Mas é claro que uma coisa não tem nada a ver com a outra, lógico.

Creio que os itens enunciados acima são suficientes para dar uma idéia do sensacional salto de qualidade que ocorreu nos últimos cinco anos no Brasil. É claro que o quadro está longe de ser completo. Para que o fosse, seria necessário falar também dos maravilhosos avanços alcançados nos campos da ética e da democracia, com o Mensalão (uma invenção da mídia burguesa, claro) e os movimentos mais ou menos subterrâneos para restaurar a censura e enxertar um terceiro mandato presidencial. Mas aí já seria demais. Outras conquistas semelhantes virão, com certeza. Isso é apenas o começo.

quinta-feira, outubro 04, 2007

AS VÁRIAS FACES DO PETISMO


A Hidra de Lerna era um monstro mitológico que povoava a imaginação dos antigos gregos. Com várias cabeças, sua característica principal era que, se se cortasse uma delas, outra nasceria imediatamente no lugar. Não adiantava cortar cada cabeça separadamente: o único jeito de matá-la era desferir um golpe certeiro, capaz de decepar todas as suas cabeças de uma só vez. Do contrário, isto é, se fosse cortada uma cabeça por vez, outras surgiriam para substituí-las, e assim indefinidamente.

O petismo é a Hidra de Lerna do Brasil. Assim como a da lenda, a hidra petista tem várias faces, várias cabeças. E assim como ela, quanto mais se destrói uma delas, mais aparecem outras, mais elas se reproduzem. É inútil arrancar uma cabeça do petismo, separadamente do conjunto da obra, pois ela sempre ressurgirá, renovada, como se nada tivesse acontecido. O petismo é um câncer, uma metástase.

A maior prova disso que estou dizendo é que o petismo sobreviveu e assumiu novas formas após a "crise ética" de 2005. Fosse qualquer outra corrente política e já estaria morto e enterrado, esquecido no fundo da lata de lixo da História. Mas o petismo e seu subproduto, o lulismo, resistem a qualquer crise, por pior que seja. Resistiram ao Mensalão. Resistiram ao Valerioduto. Resistiram a Zé Dirceu. Resistiram ao apagão aéreo. O petismo entranhou-se na psique coletiva nacional de tal maneira que se tornou praticamente impossível separar as duas coisas e identificá-lo com clareza. Ele está em cada casa, em cada mente, até mesmo em nosso vocabulário quotidiano. O resultado é que mesmo os que se dizem antipetistas terminam, invariavalmente, reproduzindo os velhos chavões e lugares-comuns do petismo, sem se dar conta disso. O petismo é um vírus. É possível que você, que está lendo estas linhas, seja um petista e não saiba.

Pode-se dividir os petistas em pelo menos duas grandes correntes: os que o são declaradamente e os que não sabem ou fingem que não o são. Os primeiros são os petistas propriamente ditos, os companheiros da estrela vermelha, petistas de carteirinha, aspones, militantes ou simpatizantes da esquerda e/ou funcionários (comissionados) de alguma sinecura estatal, em geral barbudinhos e leitores de Gramsci (quando lêem, claro). De um modo geral, são os únicos que aparecem e são identificados como tais, os que insistem em manter acesa a chama da crença supersticiosa e beatífica no "Papai Lula", no líder operário e homem mais honesto do Brasil, e que consideram todas as críticas e denúncias de corrupção contra o governo fruto de uma conspiração das elites e da mídia. Estes não têm cura, nem querem ser curados. Estão felizes em seu delírio messiânico, quando não satisfeitos com alguma "boquinha" que arranjaram.

O segundo tipo, bem mais numeroso, é o de que quero falar aqui. São aqueles, em geral críticos ferrenhos do governo, que no entanto acabam, geralmente sem o saber, repetindo a visão de mundo maniqueísta e demagógica consagrada pelo petismo. São os que se encheram de indignação moralista diante da revelação do Mensalão e de outros escândalos de corrupção envolvendo a alta cúpula do governo e do petismo, mas não querem ou não são capazes de ver a relação inequívoca entre petismo e corrupção, entre esquerdismo e roubalheira. Nessa categoria estão incluídos os militantes esquerdistas, muitos deles vindos do PT, que insistem na ficção de que a corrupção petista é o resultado de uma "inflexão à direita" do partido, de suas alianças com políticos venais e legendas como o PR e o PTB. Desse modo, buscam consolo na ilusão confortável de que Lula e os petistas "traíram os ideais" que deram origem ao partido, (auto-)enganando(-se) na crença na pureza do petismo original e na ideía de que este apenas desviou-se do caminho reto e luminoso da revolução socialista... Esta é também uma forma de petismo.

O petismo impregnou a mentalidade brasileira de uma maneira quase total, avassaladora. Graças a décadas de trabalho persistente, paciente, anestésico de infiltração ideológica nas escolas, universidades, mídia, funcionalismo público, igrejas e onde mais fosse possível atuar os petistas e seus aliados conseguiram edificar uma mitologia própria, ancorada nas platitudes esquerdistas e marxistóides. O resultado é que, até para combatê-lo, é preciso antes pedir licença e declarar-se "de esquerda". Sem falar no monopólio esquerdista das ruas, no domínio exclusivo das organizações de massa, como sindicatos, CUT, MST, UNE etc. pelos partidos de esquerda (a apatia da chamada "oposição", sua incapacidade de puxar grandes passeatas de protesto, assim como a recente afirmação de Lula, em tom de ameaça, de que ninguém mais nefte paif pode convocar mobilizações populares como ele, demonstram esse fenômeno claramente). Mais que isso, é preciso martelar a velha idéia de que o PT "traiu a esquerda". Como se ser "de esquerda" fosse um antídoto à corrupção, como se esta fosse algo exclusivo da direita e do capitalismo. Os que pensam assim estão num beco sem saída, pois se opõem, pelo menos retoricamente, ao petismo, mas são incapazes de romper de todo com as ilusões esquerdistas. Dizem que não o são, mas são petistas também.

Muito se falou, depois das denúncias do ex-deputado Roberto Jefferson, dois anos atrás, na morte do PT. Seus supostos adversários, os tucanos (na verdade, uns petistas enrustidos), inebriados diante do espetáculo público de desmascaramento de vários chefes e chefetes petistas, chegaram a desperdiçar a oportunidade legal de destituir um presidente conivente com a corrupção em favor de uma vaga esperança eleitoreira que, no final, não se concretizou. É claro que se deixaram enganar. É claro que o petismo não morreu. Mesmo que o PT desapareça, mesmo que Lula vire apenas uma nota de pé de página nos livros de História, o petismo permanecerá, por muito tempo, a nos lembrar da irracionalidade humana. Em 2005 como agora, ignorou-se totalmente a profundidade e a dimensão da lavagem cerebral petista. Como a Hidra de Lerna, o petismo não poderá ser erradicado enquanto não se eliminarem todas as suas cabeças. Este será um trabalho não de anos, mas de décadas. Talvez de séculos.

terça-feira, outubro 02, 2007

DA NECESSIDADE DE TOMAR PARTIDO


"Você não pode ser neutro diante da morte. Não fazer nada já é tomar uma posição". (do filme No Man's Land - Terra de Ninguém)


Quem já correu os olhos em algum texto meu publicado neste blog já deve ter percebido que meu forte não é a imparcialidade. Aliás, para ser bem honesto, devo dizer que imparcial não sou mesmo, nem tenho qualquer pretensão a ser neutro. Pelo menos no que concerne ao governo Lula. Quanto a ele, assumo abertamente minha parcialidade, meus preconceitos políticos elitistas e minha visão enviesada ideologicamente. Sou um inimigo figadal e inconciliável do petismo e de tudo que ele representa, e me recuso, teimosamente, a ficar em cima do muro. Portanto, se você está em busca de uma análise isenta, bem-comportada, anódina, burocrática do fenômeno petista e lulista, recomendo que páre de ler este texto agora e entre em outro blog.

Um dos traços mais irritantes - e mais desonestos - do discurso esquerdopata que vem tomando conta do País desde que o Apedeuta chegou ao Palácio do Planalto é a defesa da "imparcialidade". É mais uma forma de enganação travestida de bom-mocismo, no que os petistas são mestres. O que isso significa, exatamente? O seguinte: que, na análise das ações ou omissões do governo atual, a imprensa ou qualquer um que quiser ter uma opinião devem guiar-se não por preferências, digamos, "ideológicas", ou quaisquer outras, mas única e exclusivamente pelo "compromisso com a verdade", ou seja, com a "imparcialidade" e a "neutralidade". Acima de tudo, segundo esse tipo de discurso, é preciso sempre "ver os dois lados" e evitar ao máximo possível emitir "juízos de valor preconceituosos". O "tomar partido", o definir-se, aberta e inequivocamente, contra ou a favor, é considerado um pecado dos mais graves. A neutralidade, tida como sinônimo de honestidade, é vista como uma virtude máxima a ser perseguida.

É claro que tudo isso não passa de uma máscara para tentar encobrir a desfaçatez e a hipocrisia. Durante anos os petistas e seus aliados martelaram a idéia de que a imparcialidade em política era um ideal inalcançável e mesmo desonesto, pois o importante era colocar-se "ao lado do povo", contra "os opressores", os ricos, a burguesia, os latifundiários, o FMI etc. Afirmavam, com todas as letras, que não era possível ser neutro entre os "exploradores" e os "explorados". O próprio nome do partido - dos Trabalhadores - revelava esse viés ideológico. Do mesmo modo, a teologia da libertação - uma das vertentes fundadoras do petismo, ao lado dos sindicalistas e da intelectualidade marxista - trazia em seu bojo a idéia de escolha, de parcialidade, na forma pleonástica da "opção preferencial pelos pobres". Coerentes com isso, os petistas se acostumaram a cobrar da imprensa e de quem quer que seja uma tomada de posição em relação aos problemas nacionais e internacionais, arvorando-se em patrulhas ideológicas e em censores morais da sociedade. Agora que estão do lado de lá da disputa política, tendo enfim botado a mão no pote de ouro - literalmente - do poder, os petistas e seus "companheiros de viagem" pedem compreensão e imparcialidade, quando não a adesão incondicional a seus objetivos. De ardentes críticos da pretensão jornalística à imparcialidade ideológica, passaram a defensores do "nem contra nem a favor, muito pelo contrário".

Em termos práticos, tal atitude - ou, mais apropriadamente, falta de atitude - tem-se expressado em episódios como o da abstenção do senador petista Aloízio Mercadante na votação da cassação de Renan Calheiros, que tanta indignação suscitou nos meios soi-disant oposicionistas. Para não votar contra o atual presidente do Senado, nem comprometer-se com a oposição votando a favor, o distinto senador paulista, tido como uma das faces "respeitáveis" do petismo, preferiu bancar o "gay cívico" e abster-se na votação. Ao fazer isso, quem ele beneficiou? A imparcialidade, a honestidade intelectual? Nada disso. Beneficiou a Renan Calheiros. Este não precisava do voto a favor do senador petista. Sua abstenção bastava.

Outro exemplo: o "acidente" (e só posso colocar a palavra entre aspas) do avião da TAM em São Paulo, em julho passado. Mal foi revelado que a tragédia poderia ter sido evitada caso a ANAC e a INFRAERO, aparelhadas com companheiros petistas, tivesse feito seu dever de casa, e se ouviu o coro dos defensores do governo gritando que se estava tentando "politizar" a questão. Ora, e não é o caso exatamente de se politizar, visto que o desastre provavelmente só ocorreu porque os companheiros trataram de politizar a ANAC e a INFRAERO? "Não politizar" seria, nesse caso, o mesmo que ser "imparcial" na questão. Mas é possível ser imparcial diante da morte de 199 pessoas causada pelo descaso e pela incompetência oficiais, decorrentes do aparelhamento partidário de um órgão público?

Do mesmo modo, no plano internacional, o governo brasileiro vem adotando há anos uma postura abstencionista na Comissão de Direitos Humanos da ONU, sempre que regimes como o de Cuba são chamados a responder pelas violações aos direitos humanos na ilha. O Brasil tenta justificar seu abstencionismo alegando ser contrário à "politização" do assunto. Quem ganha com isso? Fidel Castro, claro. Qualquer semelhança com o caso do avião da TAM e o de Renan Calheiros não é mera coincidência.

Já afirmei, em outra ocasião, que a tese da existência de "duas esquerdas", uma, moderada e moderna, e outra, radical e demagógica, tão em voga na América Latina de hoje, não passa de uma monumental farsa que só beneficia a esquerda "carnívora", mais radical. O mesmo pode ser dito da retórica da "imparcialidade". Esse tipo de discurso de eunucos tem sido responsável pela anestesia política e moral que passou a caracterizar a sociedade brasileira de uns tempos para cá. Assim como a falsa idéia das "duas esquerdas" constitui apenas uma forma de dar cobertura às patacoadas de demagogos como Hugo Chávez e Evo Morales, o apelo à neutralidade, no caso de governos como o de Lula da Silva, serve apenas para fortalecê-lo, impedindo o surgimento de um verdadeiro movimento de oposição. O "compromisso com a verdade", aqui, transforma-se em pura e simples propaganda oficial.

Um dos erros mais grosseiros que se pode cometer é acreditar que a imparcialidade não favorece nenhum lado. A História política do século XX demonstra exatamente o contrário. Tudo que os inimigos da democracia querem não é, num primeiro momento, a adesão de todos, mas a simpatia discreta, ou mesmo, a indiferença condescendente da "maioria silenciosa". É sempre bom lembrar: os comunistas e os nazistas não tomaram o poder porque eram maioria, ou porque gozavam do apoio entusiasmado do conjunto da sociedade. A exigência de adesão total, de uniformidade de pensamento, veio depois, com a tomada do poder. Na primeira fase, precisam apenas que se lhes faça vista grossa, com os "cidadãos de bem" e a grande massa da população indiferentes a suas ações. Uma vez no controle do Estado, aí sim, tratam de tentar impor a todos sua visão de mundo totalitária. No Brasil, estamos ainda na primeira fase desse processo, mas já começam a aparecer sinais, com as articulações para a mudança da Constitução para garantir o terceiro mandato presidencial e a criação de uma TV pública, por exemplo, de que começamos a marchar rumo à segunda fase, a da consolidação do Estado totalitário petista.

O discurso da imparcialidade só se justificaria caso não conhecêssemos Lula e o PT. Mas há muito tempo eles já deixaram de ser uma incógnita. Seus desígnios claramente antidemocráticos e inclinações pró-totalitarismo, revelados pela atuação junto ao Foro de S. Paulo, estão aí para quem quiser ver, e somente a cumplicidade de uma mídia vendida ou temerosa impedem que sejam melhor divulgados. O apoio de Lula a Hugo Chávez e a Fidel Castro - a ponto de devolver de bandeja a este último, como um presente, dois atletas que ousaram tentar desertar da ilha-prisão caribenha - deixa isso claro como água. Além do mais, a corrupção petista, assim como a incapacidade de Lula e de seus comparsas de governar o que quer que seja, já está mais que demonstrada. O que falta para perceber que não se pode confiar numa única palavra de Lula? Logo, não há razão alguma para dar a Lula e ao PT o benefício da dúvida.

Morro de rir quando vejo algum petista ou simpatizante do petismo falando no "dever de imparcialidade" dos jornalistas. Que tipo de imparcialidade se pode esperar da imprensa comprometida com o petismo, como a Caros Amigos e a Carta Capital? Por que somente a imprensa "do contra", de oposição, como a Veja e o Estado de S. Paulo, devem ser imparciais? Então ser "imparcial", no Brasil da estrela vermelha, é ser a favor do governo? Nesse caso, assumo mais uma vez minha parcialidade. E os petistas, quando vão sair do armário?

Não somente em relação ao petismo é preciso ter a coragem de tomar partido. É possível manter-se neutro e imparcial diante do extermínio de milhares de tutsis pelos hutus em Ruanda, ocorrido em 1994? Ou dos bósnios muçulmanos pelos sérvios cristãos-ortodoxos e croatas católicos na Bósnia? Ou dos cristãos pelo governo muçulmano do Sudão? Ou, ainda, diante de tiranias como a de Saddam Hussein no Iraque e de Fidel Castro em Cuba? A ONU acha que sim. O governo brasileiro, tanto o atual quanto o anterior, também. Eu não. Ao contrário da ONU e do governo do Brasil, acredito que ver impassivelmente alguém ser massacrado e sangrar até a morte não é imparcialidade. É covardia. Pior: é cumplicidade com o crime.
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Se olharmos para a História, vamos perceber vários outros exemplos em que a neutralidade constituiu apenas uma desculpa covarde para fugir à ação e à responsabilidade, e que só beneficiou, no final, regimes tirânicos e opressores. Nos anos 30, os governos dos países democráticos como a França e a Inglaterra, temendo parecer "parciais" ou "facciosos", negaram-se a tomar partido na guerra civil que assolava a Espanha, o que só ajudou as tropas do general Franco a esmagar a então nascente República espanhola. Em nome da não-intervenção, acabaram favorecendo a intervenção das forças fascistas. Também em nome dos mesmos princípios de neutralidade e imparcialidade, receando emitir "juízos de valor preconceituosos", fecharam os olhos voluntariamente para a crescente ameaça nazista, abrindo o caminho para o avanço do expansionismo alemão. Querendo aparecer como neutros, terminaram como cúmplices de alguns dos piores crimes cometidos contra a humanidade.

No Brasil de hoje, com os lulistas no poder, não há espaço para imparcialidades de conveniência e neutralismos estéreis. Ou se está contra o petismo ou a favor dele. Não há meio-termo, pois não há outra alternativa entre os que defendem a democracia e os que querem tirar proveito dela para destruí-la. Assim como não há neutralidade diante da morte, não é possível ser neutro diante desse fenômeno.