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domingo, dezembro 29, 2013

ESQUERDA E DIREITA: UM DEBATE NECESSÁRIO

 
O GloboNews Painel,  programa televisivo comandado por William Waack, promoveu um debate no dia 28 sobre os conceitos de "direita" e "esquerda" no Brasil contemporâneo. Não vi ainda o vídeo do programa, mas, a se julgar pela importância do tema e pelos convidados  - o jornalista Reinaldo Azevedo e os professores Luiz Felipe Pondé e Bolívar Lamounier - acredito ter sido um debate interessante e produtivo, no mais alto nível.
 
Trata-se de um tema por demais pertinente, sobretudo no Brasil, onde vigora a total confusão mental sobre quase tudo, devido a um certo culto da ambiguidade em todos os terrenos - ideológico, político, moral etc. Particularmente, não compartilho da visão confortável de que "esquerda e direita são conceitos ultrapassados", que teriam sido enterrados junto com os escombros  do Muro de Berlim. A meu ver, eles continuam válidos, até porque, ao que parece, o Muro ainda não caiu nas terras de Cabral. (Se alguém tem alguma dúvida, que veja os nomes ou, se tiver tempo, leia os programas de partidos como PT, PSDB, PDT, PCdoB e tutti quanti, ou leia a Constituição de 1988, e conte quantas vezes lá aparecem as palavras "igualdade" e "justiça social", em contraste com termos como "liberdade" e "propriedade privada"...) Nesse aspecto, estamos uns trinta anos atrasados. Daí que um debate desse tipo pode ser uma excelente oportunidade de tentar rever esse atraso e botar os pingos nos "is".  Reinaldo Azevedo, aliás, fez as perguntas certas em seu blog, as quais vou aproveitar para responder, dando assim meus pitacos sobre o assunto.  Creio que muito que foi dito no programa coincide com o que vou dizer aqui.
 
Pergunta: Existem direita e esquerda por aqui?
Minha resposta: Esquerda, certamente existe, e de todos os tipos: centro-esquerda (majoritária), extrema-esquerda, esquerda aguada, esquerda caviar etc. Temos esquerdas e esquerdistas de todos os tipos e para todos os gostos, desde a esquerda mais escancaradamente pragmática (o PT à frente) até os mais porraloucas seguidores de Lênin e Trotsky. O que não há é direita, ou pelo menos uma direita politicamente viável. Há, aqui e ali, um ou outro deputado, um ou outro jornalista (como o próprio Reinaldo Azevedo), um ou outro blogueiro ou professor, que não rezam segundo a cartilha das patrulhas esquerdistas, mas estes são a minoria da minoria, e não estão articulados politicamente (alguns, como o deputado Jair Bolsonaro, são figuras folclóricas, que fazem mais bem do que mal à esquerda, certamente sem saber). O que é, diga-se com todas as letras, uma anomalia, uma verdadeira jabuticaba: o Brasil é o único - repito: o ÚNICO - país democrático sem um partido de direita forte e competitivo. Daí, aliás, não haver praticamente oposição ao lulopetismo.

Pior que isso: não há, no Brasil, uma cultura de direita. E o mais grave: num país em que a população é majoritariamente, esmagadoramente, instintivamente conservadora e de direita, como já escrevi aqui. O que torna ainda mais dramática e necessária a missão de romper a camisa-de-força ideológica imposta ao país por décadas de propaganda sistemática e persistente, que separou o mundo político do mundo real. Não por acaso, a população saiu às ruas em junho passado gritando "eles não nos representam": de fato, nenhum partido representa o pensamento médio do brasileiro. Tanto que, sem lideranças, os protestos não tiveram um Norte definido, perdendo-se no generalismo de slogans "contra-tudo-isso-que-está-aí" e no "por-um-mundo-melhor", facilmente apropriados pela esquerda radical...
 
Pergunta: Por que todos os políticos e partidos se dizem de centro-esquerda?
Minha resposta: Porque vigora no Brasil há décadas a hegemonia cultural e política das ideias de esquerda, via gramscismo. Daí a política, no Brasil, ter-se transformado num sambinha de uma nota só, como o é também o discurso cultural e nas universidades, em que todos repetem, por um automatismo inconsciente, os chavões e slogans marxistas. No Brasil, existem partidos de esquerda e fisiológicos, e só. Não é de surpreender, portanto, que as eleições sejam, há décadas, um concurso de esquerdismo - onde ganha, obviamente, o mais esquerdista. 
 
A hegemonia de esquerda é tão forte que partidos como o PT e seus aliados e derivados de extrema-esquerda se dão ao luxo de criar a própria direita. Na ausência de uma sigla que possa ser considerada como tal, o papel recaiu sobre o PSDB, um partido social-democrata, logo de centro-esquerda por excelência. Houve até um idiota que disse, um dia desses no Roda Viva da TV Cultura que os black blocs, os comuno-anarquistas aliados de legendas como PSOL e PSTU,  são... "de direita"! (a explicação que ele deu: "eles usam máscaras"...). Vigora, enfim, a mais completa demonização, a satanização, da "direita", aliás inexistente no Brasil, algo perigoso para a democracia. Nessas circunstâncias, não é de se estranhar que todos no Brasil sejam de centro-esquerda, algo que não ocorre em nenhum outro lugar no mundo.   
 
(Um parêntese: existe sim, direita no Brasil, mas uma direita burra, politicamente desarticulada - ainda bem. Inclusive, há políticos de direita ou conservadores - no mau sentido da palavra, não no burkeano - entre os partidos aliados do governo, e no próprio PT. Mas não é dessa direita que estou falando: refiro-me a um certo sentimento difuso, que se alimenta, paradoxalmente, do vazio ideológico deixado pela hegemonia esquerdista. Esse sentimento é facilmente constatado nas redes sociais, onde reina a indignação imediatista e exortações demagógicas a favor da pena de morte, por exemplo, são comuns. É uma "direita" formada geralmente de nacionalistas nostálgicos do regime militar ou de devotos religiosos, para os quais a aniquilação de seus inimigos ou o reino dos céus é mais importante do que a defesa da liberdade. Apesar de professarem um anticomunismo retórico, "direitistas" assim se sentiriam à vontade em países como Cuba e Coreia do Norte. Uma direita laica, responsável e democrática - conservadora, enfim - seria o melhor antídoto contra essa "direita" de fancaria. Esta apenas dá munição aos esquerdistas.)  
 
Pergunta: Por que alguns grupos ideológicos reivindicam o monopólio da virtude?
Minha resposta: Porque se consideram, como no caso dos partidos comunistas, entes de razão, donos absolutos da Verdade Revelada e da chave da História. Essa é a essência, aliás, da ideologia marxista, totalmente vitoriosa entre nós (e pior: por W.O...). Em nome desse ideal de uma sociedade perfeita no futuro, tudo, absolutamente tudo - o extermínio de 100 milhões de pessoas, por exemplo - é permitido, e coisas como o Mensalão tornam-se facilmente compreensíveis. Nesse sentido, o PT é um partido fundamentalmente leninista: todos os meios são válidos, aos olhos dos companheiros petistas, para chegar ao poder e nele se manter - o assassinato, de reputações ou de fato (vide o caso Celso Daniel), é apenas um exemplo. Trata-se do herdeiro legítimo de uma tradição revolucionária que remonta à Revolução Francesa, passando pela Revolução bolchevique na Rússia e, mais recentemente, pelo castro-guevarismo e pelo gramscismo, sem jamais reconhecer o valor inerente da democracia.  
 
Além disso, o PT tem uma arma poderosa à sua disposição, que falta às demais agremiações e que o aproxima ainda mais de partidos totalitários: os chamados "movimentos sociais". É sobretudo nessa área que se revela seu caráter gramscista, de partido que faz de tudo para alcançar seus objetivos. Não importa se as causas que professa e suas políticas práticas sejam absolutamente contraditórias: não se espantem se a defesa dos direitos humanos feita por uma Maria do Rosário ou um Luiz Eduardo Greenhalg caminha lado a lado com a devoção fanática a ditaduras totalitárias como a dos Castro em Cuba, ou se a tentativa de criminalizar a "homofobia" anda de mãos dadas com a defesa do regime teocrático do Irã, onde se enforcam homossexuais, ou ainda se a implantação de cotas raciais no serviço público seja uma forma de institucionalizar o racismo, ou se militantes feministas calam-se covardemente ante a incitação ao estupro feita por um professor esquerdista contra uma jornalista - todas essas bandeiras de minorias não passam de instrumentos, de um meio para se chegar ao fim almejado. Não esqueçam: o compromisso do PT e assemelhados é com o poder, e nada mais. Para tanto, não hesitam em manipular as causas mais disparatadas, a fim de minar o "sistema" e semear o caos, valendo-se de idiotas úteis. Antes, eram os camisas negras e a Guarda Vermelha; hoje, são os "movimentos" negro, indígena, feminista, LGBTT etc.
 
Pergunta: O conservadorismo é necessariamente reacionário?
Minha resposta: Absolutamente não. A associação entre conservadorismo e reacionarismo é uma invenção da esquerda, sobretudo da esquerda marxista, que penetrou profundamente nos corações e mentes da população brasileira. O conservadorismo nasce da moderação, da busca por mitigar os horrores trazidos pelos jacobinos na Revolução Francesa, e conservar - daí o nome - princípios universais consagrados anteriormente, dos quais a liberdade é o principal. Não por acaso, sua matriz é anglo-saxônica, tendo como um dos maiores filósofos o britânico Edmund Burke (1729-1797), e fortemente alicerçada nas conquistas institucionais das "revoluções" inglesa (1688) e norte-americana (1776) - revoluções só no nome, pois visaram antes a conservar, e não a transformar, a propriedade privada e a liberdade individual diante da ameaça do Estado absolutista. Na França revolucionária e sobretudo na Rússia, ao contrário, a revolução foi feita para eliminar a propriedade e, com ela, a liberdade do indivíduo, resultando nas piores formas de opressão estatal conhecidas na História da humanidade. Se o critério é a democracia e a liberdade, portanto, reacionários são os socialistas e comunistas, não os conservadores. 
 
(Mais um parêntese: não que não exista uma direita reacionária, como escrevi acima. Mas é a parte da direita que abandonou o conservadorismo, preterindo-o em favor de soluções estatistas e socialistas. Isso mesmo: socialistas. Parece confuso? Então lembrem do criador do fascismo, o ditador italiano Benito Mussolini, que veio das fileiras do Partido Socialista italiano. Não que ele tenha abandonado o socialismo para mergulhar no delírio totalitário - ele apenas lhe deu um outro nome. Mussolini e Hitler consideravam o liberalismo seu maior inimigo, adotando políticas muitas vezes copiadas dos comunistas, a começar pelo controle total da sociedade pelo Partido-Estado. Quando virem um esquerdista chamar alguém de "fascista" - um de seus xingamentos preferidos -, pensem nisso.)
 
Pergunta: Direita liberal e extrema direita se confundem?
Minha resposta: De maneira nenhuma direita liberal e extrema-direita se confundem, pois não se pode confundir liberalismo político e econômico com a sua antítese, o dirigismo estatal, encarnado tanto pela extrema-direita quanto pela extrema-esquerda. Daí os conservadores serem inimigos irreconciliáveis do totalitarismo, seja de direita ou de esquerda, mantendo uma distância não somente política, mas sobretudo filosófica, dos fascistas. O mesmo não pode ser dito da esquerda "moderada", ou centro-esquerda, em relação à extrema esquerda: une-as um laço fundamental, que é a devoção ao Estado, laço este comum também aos extremistas de direita. Por isso é mais provável uma aliança entre a esquerda e a extrema-esquerda (como de fato ocorre, atualmente, no Brasil), ou entre os dois extremos ideológicos, do que entre liberais (ou liberais-conservadores) e a extrema-direita. Aliás, a aliança entre os extremos de cada lado já se realizou historicamente (o pacto "de não-agressão" entre Hitler e Stálin, que foi o catalisador imediato da Segunda Guerra Mundial, em 1939). Uma aliança assim jamais seria possível entre liberais e fascistas.
 
Portanto, só se pode entender a atual hegemonia ideológico-cultural esquerdista no Brasil, e a consequente vilanização da "direita", como o resultado de uma grosseira falsificação da História e das ideias. Falsificação que precisa ser denunciada com todas as forças por qualquer pessoa com um mínimo de honestidade intelectual. Do contrário, o Brasil continuará a ser um país em que a política se resume a petistas e tucanos, dilmas e aécios. Uma quase república soviética, governada por comissários de araque - e sem oposição digna desse nome.

quarta-feira, julho 24, 2013

UMA MODESTA PROPOSTA PARA MUDAR O BRASIL



 
A onda de protestos que varreu o Brasil em junho foi vista com perplexidade pelo governo lulodilmista e saudada otimisticamente como o despertar de um "novo Brasil" por muitos analistas. Como já escrevi aqui, tenho motivos para ser cético em relação a esse "novo Brasil" que se está alardeando por aí. Isso porque, entre outras coisas, não vi um foco nos protestos, uma liderança capaz de dar um rumo claro e direcionar a indignação represada durante 11 anos de mandarinato petista para além do oba-oba e do eventual vandalismo.  As manifestações, sem comando e sem objetivos claros, perderam-se numa barafunda de reivindicações as mais difusas e até mesmo estapafúrdias (a começar pelo tal “passe livre”, na verdade uma desculpa de grupelhos de extrema-esquerda e de mentes pré-púberes para brincar de “revolução”), sem Norte e sem conteúdo. Como numa tragédia de Shakespeare, tudo pareceu resumir-se a um espetáculo de som e fúria, significando nada.
 
Apesar de todo o barulho, não se tocou, até agora, no essencial, limitando-se os protestos a palavras de ordem vagas e abstratas, que convidam ao sequestro das manifestações pelo próprio governo e pelos partidos esquerdistas. 
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Um exemplo: quase ninguém se deu conta de que o slogan mais repetido nas manifestações – "mais saúde, mais educação" –, pode significar mais gastança, mais desperdício do dinheiro público, assim como nas obras da Copa. Não por acaso, a maior manifestação popular da História dos EUA ocorreu em 2011 CONTRA a proposta do governo Obama de universalizar o sistema de saúde pública. Mais escolas e mais hospitais (e mais médicos, como quer o governo) significa mais gastos, o que quase sempre quer dizer mais impostos – e mais corrupção. Mas ninguém parece ter percebido isso.
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Outro exemplo: o desencanto com os "partidos" e os "políticos" em geral, sem dar nomes aos bois (quase não se viram cartazes de "Fora Dilma" ou "Lula na cadeia") e "contra tudo isso que está aí". Os brasileiros que foram às ruas manifestaram-se contra todos os partidos, deixando claro que nenhum deles lhes representa. Mas do quê – ou melhor: de quais partidos e políticos – estavam falando exatamente? O que os representa?
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Para tentar colocar alguma ordem nesse caos e nessa confusão mental – que parece ser mesmo a característica principal do País de Macunaíma –, apresento a seguir uma agenda política que, asseguro, se for aplicada vai transformar radicalmente o cenário nacional. Eis minha modesta proposta para mudar o Brasil.
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Trata-se do seguinte. Um partido, ou movimento - o nome pouco importa -, que defenda os seguintes pontos:
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- Livre Mercado – Ou seja: livre iniciativa e meritocracia, e não o "capitalismo de Estado" dos companheiros no poder, o capitalismo estatal ou semi-estatal dos Eikes Batistas financiado pelo BNDES e pela Petrobrás.  Isso que dizer lutar pelo fim dos monopólios, estatais ou de empresas queridinhas do governo, e pela livre concorrência. Em outras palavras: trata-se de implantar, no Brasil, aquilo que se implantou nos EUA e na Inglaterra há uns duzentos anos, e que ainda não deu as caras na terra do patrimonialismo e dos bolsas-famílias: o capitalismo.
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- Redução do Estado – Condição essencial para que exista capitalismo é limitar o papel do Estado ao mínimo indispensável, a fim de não prejudicar a atividade econômica e proporcionar serviços públicos de qualidade onde a ação governamental é imprescindível (segurança, justiça e defesa, por exemplo). Isso passa, necessariamente, pela redução dos impostos e pela utilização mais racional do dinheiro público. Máquina inchada, apadrinhamento, ineficiência e corrupção caminham juntos, como qualquer brasileiro sabe muito bem. (Aí estão 39 ministérios para ilustrar esse fato.)
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- Defesa do Estado de Direito Democrático – Parece óbvio (e é!), mas qualquer partido ou movimento que se preze deve ter na defesa das liberdades democráticas  - de expressão, de crença, de reunião, de imprensa – parte inseparável de seu programa. Isso significa defender o mais possível a não-intervenção do Estado na vida privada do cidadão, a defesa das liberdades individuais contra o Leviatã estatal.
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- Política externa não-ideológica – Embora não seja um assunto popular no Brasil, a diplomacia deve coadunar-se com os princípios acima, distanciando-se da agenda bolivariana e antiamericana que hoje domina o Itamaraty, ditada pelo Foro de São Paulo (o maior tabu político da América Latina nos últimos 23 anos).   
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Aí está. Acredito que ninguém poderá chamar os pontos acima de radicais, ou dizer que eles pecam pela ambição desmedida. Pelo contrário: trata-se  de um programa básico, o mínimo necessário para se construir uma alternativa democrática e liberal aos partidos existentes no País. E, mesmo assim, trata-se de algo absolutamente inédito no Brasil.
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É incrível, mas nenhum – nenhum! – partido político atualmente existente no Brasil pauta sua agenda pelos princípios acima. Há partidos de todos os tipos e para todos os gostos – de esquerda, de ultra-esquerda, fisiológicos, dinheiristas etc. –, mas nenhum, pelo que sei, define-se abertamente como conservador ou liberal, portanto de direita. Esta continua a ser um anátema, enquanto ser de esquerda (ou seja: a favor de ditaduras como a de Cuba, por exemplo) é visto geralmente como algo bom e positivo. Não por acaso, as eleições no Brasil já viraram um samba de uma nota só, com todos falando a mesma linguagem esquerdista ou de Miss, defendendo "mais saúde", "mais educação", "pela vida" (alguém é contra?) etc.
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(A propósito, caro leitor: que país civilizado e democrático não possui pelo menos um partido de direita solidamente estruturado? Que nação democrática possui apenas partidos pertencentes a um lado do espectro ideológico? Poderia responder?)  
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Não me surpreende que a maioria da população brasileira, que é honesta, paga impostos e não quer viver mamando nas tetas do Estado-babá, não se reconheça em nenhum partido existente. É que nenhum deles realmente a representa. E não há nada no horizonte para preencher esse vazio. Daí o povo não saber ao certo contra o quê ou quem protesta.
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Quer mudar o Brasil? Que tal pensar no que está aí em cima, para começar?

quarta-feira, julho 10, 2013

A DIREITA PERMITIDA


por Olavo de Carvalho                                
          
        
O controle sobre o uso do vocabulário público é um dos instrumentos mais eficientes e mais perversos do arsenal criado pela estratégia de Antonio Gramsci para o estabelecimento da hegemonia – o domínio hipnótico das consciências – e a subseqüente tomada do poder pela esquerda revolucionária.

Quando você ouvir dizer que "Direita e esquerda são noções ultrapassadas", repare bem e notará que em geral a frase vem da boca de algum senhor satisfeito e de unhas polidas, que corresponde esquematicamente àquilo que no imaginário comunista constitui um "burguês". Ela é, com efeito, um lugar-comum da "direita". Pelo menos um esquerdista contumaz diria que o é -- e eu não hesitaria em lhe dar razão, com a ressalva de que aí não se trata da direita em geral, da direita essencial que se encarnou historicamente em Edmund Burke, em Disraeli, em Aléxis de Tocqueville, em T. S. Eliot ou em João Camilo de Oliveira Torres, mas de uma direita muito específica, localizada e até peculiar: a direita brasileira de hoje, constituída inteiramente de senhores satisfeitos e de unhas polidas, cuja única preocupação na vida, além de absorver rios de dinheiro para engordar e dispender rios de dinheiro para emagrecer, é precisamente não se preocupar com nada.
 
Além de poder ser facilmente identificado pela mencionada palavra-de-passe, o membro dessa facção ideológica assinala-se também por autodenominar-se "centro", um termo cuja exatidão se pode aferir matematicamente pela equidistância do seu umbigo a qualquer ponto da majestosa circunferência abdominal que delimita, por assim dizer, a sua substância espiritual.
 
Se, munido desses dois indícios, o leitor ainda tiver alguma dificuldade para distinguir o tipo, há um terceiro critério, que não falha: o componente desse partido notabiliza-se pela absoluta inexistência, no seu ser consciente, de qualquer conflito entre a tranquilidade soberana com que ele nos assegura que o comunismo morreu e a solicitude temerosa com que busca aplacar as exigências do falecido mediante polpudos cheques para projetos educacionais de doutrinação esquerdista, para a campanha do PT, para prêmios culturais dados aos ídolos da esquerda.
 
Visto da esquerda, esse é o direitista ideal, o direitista que os comunistas pediram – ou pediriam, se fossem crentes -- a Deus. Além de alimentar com sua conta bancária os empreendimentos da revolução em marcha e protegê-los sob o manto de invisibilidade das almas do outro mundo, ele ainda consente em oferecer sua própria pessoa como máximo exemplo comprobatório do argumento comunista, desempenhando de bom grado o papel do gorducho fominha, a imagem didática do burguês enfatuado, egoísta e interesseiro, que o doutrinador marxista pode, com a certeza do fácil sucesso oratório, exibir a boquiabertos militantes como protótipo do inimigo odioso e desprezível a ser varrido da face da terra pela revolução salvadora.
 
Outra vantagem indiscutível que a rotunda presença desse personagem na ala direita do palco oferece aos ocupantes da ala contrária é que, uma vez identificado o seu perfil com o da direita enquanto tal, qualquer direitista um pouco diferente dele que se apresente, por exemplo, um direitista honrado, cheio de idéias, que prefira antes defender valores morais do que representar alegremente o papel do palhaço da história, acabará parecendo um tipo estranho, não terá como ser catalogado e facilmente será expelido para o domínio do anormal, do inaceitável, do absurdo. Não havendo nome específico para isso no vocabulário corrente, o jeito será apelar à ampliação quantitativa e carimbá-lo: "Extrema-direita". Hoje em dia, com efeito, basta você dizer qualquer coisa que saia dos lugares-comuns da direita gorda sonsa, basta você fazer qualquer crítica mais séria ao discurso dominante – basta você dizer, por exemplo, que ser "gay" não é tão valioso quanto ser santo --, e pronto: todos respondem que você é o Le Pen em pessoa, se não Benito Mussolini ou Adolf Hitler. Não estou caricaturando: estou descrevendo coisas que se passam todos os dias nos jornais e nas universidades.
 
Eis então a direita reduzida à opção entre fazer o papel de bode expiatório ou ser chamada de fascista, de nazista, de virtual assassina de negros, índios e judeus (embora ela esteja repleta de judeus, negros e descendentes de índios). Como ninguém quer fazer esse papel vexaminoso, todos se apressam em vestir seu uniforme de gorduchos fominhas e a sair repetindo pelas ruas: "Sou de centro! Sou de centro!"
 
Aí a esquerda deixa você existir: o gorducho, afinal, está aí apenas para ser roubado, cuspido e ainda acusado de corrupção. Qualquer direita que não caiba nesse modelo é nazismo.
 
O próprio termo "direita" foi tão criminalizado, que hoje um brasileiro, viajando pela Europa, se surpreende ante a tranqüilidade com que um Paul Johnson, um Roger Scruton se apresentam como direitistas e na platéia ninguém tem chilique, nem os confunde com Le Pen. Sim, na Europa a direita se mostra e não é considerada pornográfica. No Brasil, quando ela aparece, as mães cobrem os olhos de seus filhos.
 
O controle sobre o uso do vocabulário público é um dos instrumentos mais eficientes e mais perversos do arsenal criado pela estratégia de Antonio Gramsci para o estabelecimento da hegemonia – o domínio hipnótico das consciências – e a subseqüente tomada do poder pela esquerda revolucionária.
 
Uma direita inerme e caricatural que não ousa dizer seu nome, uma direita incapaz de escolher seu próprio destino, uma direita condenada a desempenhar os papéis ora ridículos ora odiosos que seus inimigos lhe designaram, é o produto mais típico da hegemonia esquerdista triunfante.
 
Publicado no jornal Zero Hora, de Porto Alegre, em de julho de 2000.

sábado, agosto 25, 2012

A FALTA QUE UM LACERDA FAZ

O último dos moicanos. Infelizmente.

Outro dia falei aqui de um movimento que surgiu no Sul para refundar a ARENA, o partido de sustentação da ditadura militar de 1964. Confesso que fiquei curioso em conhecer melhor a proposta que, embora certamente ousada, considerei desde o início equivocada, para dizer o mínimo. Levado pela curiosidade, entrei em contato com a autora da idéia, uma estudante de Direito de 22 anos que usa piercing e é fã de heavy-metal. Expus a ela minha opinião, tentando mostrar que a tal proposta, ainda que bem-intencionada (pelo menos assim eu acreditava no início), é, na verdade, um grande erro: em nome da causa louvável do combate à hegemonia político-ideológica esquerdista, tal iniciativa fatalmente só dará mais munição à esquerda. Meus argumentos:

1 - A ARENA não era um partido ideologicamente consistente, mas sim uma sigla artificialmente criada pelos militares para servir de correia de transmissão do regime militar. Não era um partido ideológico, no verdadeiro sentido da palavra, de direita e conservador, até porque os militares não eram conservadores, mas revolucionários formados na tradição positivista, que defendia uma ditadura tecnocrática (não por acaso o movimento de 64 foi batizado de "revolução"). Enfim, não era um partido com agenda ideológica própria, mas um instrumento da ditadura - ou seja, não da política, mas da anti-política.

2 - Pelo mesmo motivo que seria um contra-senso ressuscitar tal legenda, mais fisiológica do que ideológica, é um erro defender, como antídoto à esquerda, o nacionalismo, que é muito mais afinado com a esquerda do que com a direita no Brasil (dei o exemplo do getulismo). Um partido de direita que se preze, além de conservador, precisa romper com a tradição nacional-estatista, que vem desde o Brasil-Colônia. E, finalmente:

3 - Onde já se viu um partido desse tipo, conservador ou liberal, aberto para integralistas, essa relíquia totalitária dos anos 30? (A propósito: sobraram alguns?)

Mandei as questões acima para a estudante gaúcha, esperando com isso suscitar um debate. Para minha surpresa, porém, logo percebi que estamos em sintonias diferentes: as respostas que recebi foram todas evasivas, limitando-se a estudante a dizer que "o nome é esse porque houve uma votação e assim escolheram" etc. Insisti, tentando iniciar um debate sobre os pontos acima. Finalmente recebi, em vez de uma refutação lógica às questões por mim colocadas, uma resposta meio atravessada, na qual a estudante dizia que "não iria responder de novo" e me pedia que eu não a importunasse mais porque ela tinha mais o que fazer etc. Entendi o recado, lamentei a falta de disposição para o debate e desejei-lhe boa sorte.

Tal episódio serviu para confirmar, a meu ver, aquilo de que eu já desconfiava: que a tal proposta de ressuscitar a ARENA surgiu sem que tivesse havido qualquer debate ideológico, qualquer discussão mais profunda sobre a conveniência ou não de levá-la adiante. Ficou claro para mim - e assim pensarei até receber uma resposta que mereça o nome - que os autores da idéia carecem de estofo intelectual, de preparo, e que a simples escolha do nome surgiu mais como uma forma de marketing - nesse caso, de marketing negativo -, a fim de atrair a atenção da mídia (o que, ao que parece, foi alcançado pela autora da idéia). Não me parece também que a iniciativa esteja livre de certo aspecto juvenil, uma espécie de rompante. Enfim, tudo, menos uma proposta política séria, capaz de desafiar a ditadura mental esquerdista em que está imerso o Brasil há décadas.

Fiquei ainda mais convencido disso quando vi, na página criada para divulgar o novo partido, as mensagens de apoio. Com algumas exceções, as pessoas que apóiam a iniciativa de recriar a ARENA são saudosistas do regime militar, que o vêem mesmo como uma solução para os problemas do Brasil na atualidade (principalmente a corrupção). Deixando de lado o fato de que desejar a "volta do regime militar" não é política, mas espiritismo, é curioso como há tanta gente que idealiza a ditadura dos generais, como escreveu outro dia o Olavo de Carvalho. Quero crer que por ingenuidade, muitos que se dizem "de direita" disputam com seus rivais esquerdistas no quesito romantização do passado, esquecendo-se que foram os militares de 64 que, ao alijarem a direita civil e extinguirem partidos como a UDN, abriram o caminho para a hegemonização esquerdista da vida cultural e política brasileira. Ou seja: exatamente o que vemos hoje.

Esse tipo de idealização do passado não se restringe aos nostálgicos dos governos militares. Fiquei sabendo, por exemplo, que um grupo pretende recriar a antiga UDN. A idéia me parece infinitamente mais interessante do que ressuscitar a ARENA, mas, mesmo assim, incorre em alguns inconvenientes. O principal é que, a meu ver, a recorrência ao passado demonstra claramente a ausência de uma direita organizada no presente. Isso é um problema. Além das dificuldades organizacionais (quem pode reivindicar, hoje, o espólio da antiga UDN?), tal insistência pretérita parece demonstrar mais falta de perspectivas do que qualquer outra coisa. Quem vive de passado não tem muito futuro.

Ainda assim, reconheço que trazer de volta a UDN, a velha UDN de grandes tribunos e políticos combativos como Carlos Lacerda, teria seus méritos. Sobretudo a figura polêmica de Lacerda, com todos os seus defeitos (e ele tinha vários), faz hoje uma falta gritante na política brasileira, caracterizada pela ausência de uma oposição que mereça o nome e honre as calças que veste. Se, em vez dos serras e aécios da vida, tivéssemos hoje um Lacerda, o governo dos petralhas não duraria uma semana. Os militares que criaram a ARENA, aliás, sabiam disso. Tanto que a primeira coisa que fizeram depois de tomar o poder foi se livrar do demolidor de presidentes. Com isso, privaram o Brasil de sua maior liderança de direita no século XX. Os frutos desse erro grotesco colhemos no Brasil de hoje. E ainda aparece alguém e propõe ressuscitar a... ARENA?

Se é verdade que a maior defesa da democracia contra o comunismo (e o fascismo) é uma direita filosoficamente forte e bem estruturada, conservadora e liberal, defensora da democracia e da livre iniciativa, então o Brasil vai mal, muito mal. Propostas esdrúxulas como a recriação da ARENA (e, em menor grau, da UDN) demonstram isso de forma cabal e acachapante. Infelizmente, os conservadores e liberais brasileiros estão totalmente órfãos, reduzidos a uma condição marginal na vida política. Enquanto isso, uma parte da direita, desprovida de uma base teórica sólida, olha para trás, suspirando por um passado fictício.

O domínio ideológico da esquerda no Brasil é tão profundo, e a ausência de uma oposição de direita tão completa, que a tarefa de romper com esse estado de coisas exigirá muito mais do que coragem moral ou ousadia de alguns attention-seekers. Exige, em primeiro lugar, um pouco mais de conhecimento histórico e de clareza das idéias. Na falta desses fatores, o que existe, infelizmente, são propostas bizarras e reacionárias (aqui, sim, o termo se aplica), e inclusive fascistóides, nascidas de uma indignação mal-direcionada e balizadas por uma falsa memória histórica. Tais propostas servem apenas para estereotipar e caricaturar a direita, num país em que ela praticamente não existe. É difícil imaginar serviço maior que se poderia prestar à causa esquerdista.

sábado, agosto 11, 2012

A FALSA MEMÓRIA DA DIREITA - UM TEXTO DE OLAVO DE CARVALHO

Como adendo a meu post anterior, reproduzo a seguir texto de Olavo de Carvalho. Trata-se da melhor análise disponível - na realidade, a única, até agora - sobre um fenômeno tipicamente brasileiro: a ausência, no Brasil, de uma direita que valha o nome. Tanto que os "direitistas" brasileiros (se é que existe algum) se resumem a alguns saudosistas do regime militar - a única "direita" que a maioria dos brasileiros conhece ou conheceu um dia.
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O texto confirma aquilo que venho dizendo neste blog há tempos: que o regime militar, apesar de alguns êxitos alcançados (particularmente na área econômica e no combate às guerrilhas), prestou um serviço inestimável à esquerda, ao decapitar toda uma geração de políticos de direita que fizeram o movimento de 64, substituindo o pensamento conservador pela tecnocracia e abrindo o caminho, assim, para a hegemonia cultural e ideológica da esquerda.  Os militares acabaram com partidos como a UDN de Carlos Lacerda, queimando as pontes que os uniam à sociedade civil, em nome de uma visão antipolítica e autoritária herdada do positivismo. O resultado foi um imenso vazio, logo preenchido pela esquerda. Estamos hoje colhendo os frutos desse erro histórico gigantesco.  
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É por essa razão que propostas como a da refundação da ARENA, o partido de sustentação política do regime militar, é um tiro na água. Pior: é um tiro no próprio pé. Se o objetivo é romper com o monopólio ideológico esquerdista e construir uma verdadeira alternativa conservadora de direita, o primeiro passo é se livrar do legado histórico do regime dos generais - e não reivindicá-lo, como querem alguns generais aposentados. É algo que deveria ser óbvio, mas em um país sem memória - ou melhor, com falsa memória, como diz o prof. Olavo -, afirmar o óbvio é a maior das heresias. (GB)  

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A FALSA MEMÓRIA DA DIREITA
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por Olavo de Carvalho

O positivismo nada tem de conservador: é, com o marxismo, uma das duas alas principais do movimento revolucionário.

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Dizem que o Brasil é um país sem memória, mas isso não é verdade: o Brasil é um país com falsa memória. Esquecer o passado é uma coisa, reinventá-lo conforme as ilusões do dia é bem outra. É desta doença que a memória do Brasil padece, e ela é bem mais grave que a amnésia pura e simples.
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Não, não estou falando da manipulação esquerdista do passado. Ela existe, mas é apenas um aspecto parcial da patologia geral a que me refiro. Esta infecta pessoas de todas as orientações ideológicas possíveis e algumas sem orientação ideológica nenhuma. Ela é um simples resultado da ojeriza nacional à busca do conhecimento, portanto à reflexão madura sobre o que quer que seja.
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Querem um exemplo de falsa visão do passado que não foi produzida por nenhum esquerdista? O País está cheio de almas conservadoras e cristãs que ainda idealizam o regime militar, como se ele fosse uma utopia retroativa, a encarnação extinta das suas esperanças.
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É verdade que os militares não roubavam, que eles fizeram o Brasil crescer à base de quinze por cento ao ano, que eles construíram praticamente todas as obras de infra-estrutura em que a economia nacional se apoia até hoje, que eles acabaram com as guerrilhas, que no tempo deles a criminalidade era ínfima e que os índices de aprovação do governo permaneceram bem altos pelo menos até a metade da gestão Figueiredo. Que tudo isso são méritos, ninguém com alguma idoneidade pode negar.
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Mas também é verdade que, tendo subido ao poder com a ajuda de uma rede enorme de instituições, partidos e grupos conservadores e religiosos, a primeira coisa que eles fizeram foi desmanchar essa rede, cortar as cabeças dos principais líderes políticos conservadores e privar-se de qualquer suporte ideológico na sociedade civil.
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Fizeram isso porque não eram conservadores de maneira alguma; eram indivíduos formados na tradição positivista – forte nos meios militares até hoje – que abomina o livre movimento das ideias na sociedade e acredita que o melhor governo possível é uma ditadura tecnocrática.
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Pois foi uma ditadura de militares e tecnocratas iluminados o que impuseram ao País por vinte anos, rebaixando a política à rotina servil de carimbar sem discussão os decretos governamentais. Suas mais altas realizações foram triunfos típicos de uma tecnocracia, seus crimes e fracassos o efeito incontornável do desejo de tudo controlar, de tudo reduzir a um problema tecnoburocrático, em que o debate político é reduzido a miudezas administrativas e a iniciativa espontânea da sociedade não conta para nada.
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O positivismo nada tem de conservador: é, com o marxismo, uma das duas alas principais do movimento revolucionário. Compartilha com a sua irmã inimiga a crença de que cabe à elite governante remoldar a sociedade de alto a baixo, falando em nome do povo para que o povo não possa falar em seu próprio nome.
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Tal foi a inspiração que acabou por predominar nos governos militares. Que dessem ao movimento de 1964 o nome de "Revolução" não foi mera coincidência, nem usurpação publicitária de um símbolo esquerdista, mas um sinal de que, por baixo da meta de derrubar um governo corrupto e devolver rapidamente o País à normalidade, tinham planos de longo prazo, ignorados da massa que os aplaudia e até de alguns dos líderes civis de cuja popularidade se serviram para depois jogá-los fora com a maior sem-cerimônia.
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Todas as organizações civis conservadoras e de direita que criaram a "Marcha da Família com Deus pela Liberdade", a maior manifestação popular da história brasileira até então, foram depois extintas, marginalizadas ou reduzidas a um papel decorativo.
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Como bons tecnocratas, os militares acreditavam piamente que podiam governar sem sustentação cultural e ideológica na sociedade civil, substituindo-a com vantagem pela pura propaganda oficial. Esta, por sua vez, era esvaziada de toda substância ideológica, reduzida ao triunfalismo econômico e à luta contra o "crime".
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Gramsci, no túmulo, se revirava, mas de satisfação: que mimo mais delicioso se poderia oferecer aos próceres da "revolução cultural" do que um governo de direita que abdicava de concorrer com eles no campo cujo domínio eles mais ambicionavam? Naqueles anos, e não por coincidência, o monopólio do debate ideológico foi transferido à esquerda, que ao mesmo tempo ia dominando a mídia, as universidades, o movimento editorial e todas as instituições de cultura, sob os olhos complacentes de um governo que se gabava de ser "pragmático" e "superior a ideologias".
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A esquerda, quando caiu do cavalo, em 1964, teve ao menos o mérito de se entregar a um longo processo de autocrítica e até de mea culpa, de onde emergiu a dupla e concorrente estratégia das guerrilhas e do gramscismo, calculada para usar os guerrilheiros como bois-de-piranha e abrir caminho para a "esquerda pacífica", na qual o governo militar não viu periculosidade alguma – até que ela, por sua vez, o derrubou do cavalo com o escândalo do Riocentro e a enxurrada de protestos que se lhe seguiu.
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Aqueles que, na "direita", ou no que resta dela, se apegam ao regime militar como um símbolo aglutinador, em vez de examinar criticamente os erros que o levaram ao fracasso, estão produzindo um falso passado. Não o fazem por esperteza, como a esquerda, mas por ingenuidade legítima, com base na qual a única coisa que se pode construir é um futuro ilusório.


terça-feira, julho 31, 2012

BOM MOTIVO, MÁ IDÉIA

Para muita gente, isso aí em cima é a única "direita" que conhecem

Li que uma estudante de Direito de 22 anos iniciou um movimento no Sul para ressuscitar a ARENA, o partido de sustentação política do regime militar de 1964. Inicialmente achei a idéia curiosa, para dizer o mínimo, ainda mais por surgir de pessoa com tão pouca idade, nascida depois do fim do regime dos generais – o simples fato de alguém tão jovem se interessar por Política com P maiúsculo, nos dias que correm, é uma grata surpresa. Principalmente por se tratar de uma proposta que destoa tão radicalmente do que se tornou habitual ver nas escolas e universidades brasileiras, que já se tornaram verdadeiras madraçais do pensamento único esquerdista, baseado num marxismo pé-de-chinelo que, de tão primário, encheria de vergonha o próprio Marx. Dizer-se de direita ou anticomunista no Brasil ainda é um tabu, um anátema, uma mácula para quem o faz. Por aqui, Stálin e Fidel Castro ainda têm mais admiradores do que Churchill ou Margaret Thatcher.

Pelo que li, acredito que a motivação da moça é boa. Palmas pra ela. Mas bons motivos e coragem para dar a cara à tapa não são garantia de boas idéias. Nesse caso, sinto dizer, a proposta de ressuscitar a ARENA, ainda que seja para provocar um debate, não é nada boa. É péssima.

É tão grande e tão sufocante a hegemonia da ideologia esquerdista no Brasil que qualquer tentativa de romper essa camisa-de-força é bem-vinda. O simples fato de alguém se insurgir contra essa lavagem cerebral coletiva, que já dura décadas, deve ser comemorado. Como já escrevi em varios posts (principalmente aqui: http://gustavo-livrexpressao.blogspot.gr/2011/04/por-que-nao-existe-direita-no-brasil-e.html), a inexistência no Brasil de um partido de direita, conservador ou liberal, é uma aberração, e constitui certamente o maior problema político do país na atualidade, a explicação para o fato de não termos oposição. A idéia de reconstruir um partido de direita é, assim, uma provocação, no bom sentido da palavra. Mas é preciso ter cuidado. As boas intenções, somadas à falta de conhecimento histórico, costumam gerar resultados contrários ao que se espera. No caso em questão, é quase certo que tal iniciativa vai levar mais água para o moinho da esquerda.

A autora da iniciativa, talvez pela pouca idade, comete uma série de erros. O primeiro e mais óbvio deles é considerar a ARENA um paradigma de política ideológica. Ora, ideologicamente, a ARENA (que virou PDS, PPR, PPB e PP) tinha a firmeza de princípios e a consistência de um pudim, não se distinguia da geléia geral da política brasileira. Criada após a extinção dos partidos políticos pré-64, era formada, principalmente, por áulicos do regime e pelos oportunistas de sempre, que enxergam na política uma profissão. Gente como Paulo Maluf, nomeado prefeito e depois governador de São Paulo pelo partido dos militares e que hoje está na base alugada do lulopetismo, dizendo-se mais comunista do que o Lula. Se é para ressuscitar um partido, que se ressuscite a UDN, que tinha lá seus defeitos (Roberto Campos dizia que era um "partido burro de homens inteligentes"), mas contava em suas fileiras com grandes oradores e polemistas como Carlos Lacerda – cassado pelo regime de 64, que criou a ARENA. A extinção de partidos como a UDN, aliás, foi um dos grandes erros dos militares, servindo apenas para decapitar uma geração inteira de políticos de direita e criar um vazio ideológico que a esquerda apressou-se a preencher depois. Tampouco um autêntico partido de direita, conservador ou liberal, teria espaço para integralistas – até porque havia muito mais em comum entre estes e os comunistas do que os últimos gostariam de admitir. Sem falar que o nacionalismo, pelo menos no Brasil, é uma ideologia mais afeita à esquerda do que à direita.

Além disso, convenhamos: a proposta de ressuscitar um partido, ainda mais um criado para dar apoio à ditadura dos generais, remete ao passado. Reforça, assim, simbolicamente, o estereótipo de direita como coisa ultrapassada e, pior, "reacionária", enquanto a esquerda se apresenta como "progressista". Acaba servindo, portanto, aos atuais donos do poder político e cultural.

Enfim, a idéia da jovem gaúcha é provavelmente bem-intencionada, mas é uma bobagem. Infelizmente. Apenas demonstra aquilo que venho tentando mostrar aqui há anos: que no Brasil ainda se desconhece o que seja direita. Ao tomar a velha ARENA de Maluf como referência, apenas serve aos propósitos mistificadores da esquerda.

quarta-feira, julho 18, 2012

ELES SÃO O FUTURO? ENTÃO VIVA O PASSADO!


Outro dia vi um vídeo no youtube que me deixou intrigado. Nele, um jovem economista, defensor entusiasmado da escola liberal (ou "neoliberal", como gostam de dizer os esquerdistas, por ignorância ou má-fé), investia pesado contra um adversário ideológico. Em tom indignado, às vezes embolando as sílabas, o discípulo de Von Mises e de Hayek atacava com veemência um "filósofo-astrólogo", representante de uma direita "medieval" e "reacionária". Ele, o rapaz do vídeo, era o legítimo representante da direita, não o filósofo enganador, “teórico da conspiração” etc.

Pesquisei na internet, e vi vários vídeos e textos de teor semelhante, tanto por parte do economista liberal quanto do filósofo em questão. E reforcei minha quase certeza de que o que falta no Brasil é mesmo uma direita filosoficamente sólida e consequente.

A quizília parece ser antiga, e teria começado por causa de algumas mensagens no Orkut. Francamente, esse tipo de disputa não me interessa. Parece mais uma briga de egos, em que adjetivos injuriosos – não raro, com referências à vida pessoal de cada um – toma o lugar de argumentos. Já li que brigaram até mesmo por um pronome oblíquo.

Tão vazio e sem sentido quanto o arranco-rabo em si é a dicotomia que se quer estabelecer entre uma direita "medieval" e "reacionária" versus uma direita "moderna", "liberal" etc. Sobretudo se os pomos da discórdia forem, como são, questões como aborto, casamento gay e descriminalização das drogas. Onde está escrito que para ser “de direita” ou “liberal” é preciso defender esse tipo de coisa? Pode-se ser contra tudo isso com argumentos políticos e filosóficos, inclusive religiosos, perfeitamente legítimos. E, ainda que o crítico seja um membro da Opus Dei ou um saudoso das Cruzadas, como se poderia almejar, em sã consciência, um "retorno" ao passado? Como disse certa vez o filósofo acusado pelo economista de reacionarismo e medievalismo, isso não é ideologia: é espiritismo.

Não acredito que deva existir uma só direita, aliás não acho que exista somente uma (é curioso como se costuma falar "as esquerdas", no plural, mas quase nunca "as direitas"). Acredito, porém, que se deve ser coerente. Muitos que se dizem de direita hoje em dia são burguesinhos mais interessados na redução de impostos e em balancetes de lucros do que em democracia. São liberais, até ultra-liberais, mas não são conservadores. Pior: vêem mesmo contradição entre uma coisa e outra. Têm verdadeiro horror ao epíteto: para eles, "conservador" é pior do que ser de esquerda. Defendem com ardor o livre mercado e a propriedade privada, leram todo Adam Smith e John Stuart Mill, mas não dizem nada sobre Edmund Burke e G.K. Chesterton. Desde que a economia esteja nos trilhos, e os negócios estejam indo bem, não se importam que o governo seja formado por um bando de tarados e psicopatas. Esquecem que o conservadorismo é o verdadeiro esteio da democracia e que o contrário desta é revolução - seja violenta, seja mediante a guerra cultural gramsciana, que a esquerda está ganhando de goleada.

Esse tipo de "direita", francamente, me diz muito pouco. Do mesmo modo que desconfio de quem proclama as virtudes do liberalismo econômico mas vê na China comunista um modelo, aprendi a desconfiar de quem se diz "progressista" mas não tem uma palavra a dizer sobre o enforcamento de homossexuais e o apedrejamento de mulheres no Irã. A esquerda bem-pensante e politicamente correta está cheia desse tipo de vigarista, que adora acusar a Igreja Católica de reacionarismo, mas não vê nada errado nos países islâmicos. Quem é reacionário? Quem é medievalista?

Se há algo que distingue direita e esquerda, hoje em dia, não é a economia, mas princípios. E princípios, diga-se, morais e religiosos. No caso em questão, são os valores da civilização ocidental e, sim, cristã (em tempo: sou ateu, mas nem por isso deixo de reconhecer a importância desses valores para a democracia). É a defesa desses princípios universais que distingue a direita – pelo menos a direita com que me identifico – do que se convencionou chamar de esquerda. Por exemplo: roubar é errado. Matar, sobretudo se tiverem sido 100 milhões de pessoas, também. A vida humana e a liberdade individual, para mim, são sagradas. Assim como honestidade na política. Isso é "medievalismo"?

Em um país hegemonizado há décadas por um esquerdismo de botequim, onde o comunismo é levado a sério e “conservador” e “direitista” são palavrões, a existência de intelectuais que se reivindicam de direita – "medieval" ou não - é uma boa notícia. Seria uma pena que a vaidade e briguinhas pessoais tomassem o lugar de argumentos.

Certa vez, o escritor Nelson Rodrigues – um famoso "reacionário" –, indagado por um jornalista sobre suas idéias conservadoras, respondeu da seguinte forma, referindo-se aos comunistas: "se eles são o futuro, então eu sou o passado, sou a Idade Média!". As mesmas palavras podem ser repetidas hoje em dia. O futuro da humanidade é o "progressismo" preconizado por gayzistas, abortistas, maconhistas e outros do mesmo naipe? Muito prazer, eu sou o passado.

sábado, junho 16, 2012

A SEITA LULOPETISTA E O "NOVO HOMEM"

Uma das inúmeras vantagens de não ser de esquerda - e, particularmente, não ser petista - é nunca se decepcionar.  Inclusive, jamais se surpreender.
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A notícia de que o inacreditável Paulo Salim Maluf está coligado com o PT na campanha para a prefeitura de São Paulo, em troca de um cargo no governo federal, deixou muita gente, principalmente petistas mais antigos (ou mais avoados), chocada e indignada. Não a mim. Não somente porque conheço o PT de longa data, e jamais me deixei enganar pelo discurso vigarista do partido que até um dia desses se apresentava como "contra tudo isso que está aí", ou porque Maluf é aliado do PT desde 2003, tendo inclusive apoiado no segundo turno a candidatura de Marta Suplicy para a prefeitura paulista no ano seguinte, mas porque, se há uma verdade que só falta gritar de cima dos telhados, é que o pragmatismo (leia-se: a total falta de princípios) do partido de Lula e Dilma Rousseff não tem limites. Inclusive - pode-se dizer, principalmente - quanto às alianças.
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O fato de Maluf, um notório ladravaz fichado pela Interpol e verdadeiro símbolo da corrupção brasileira, alvo de incontáveis denúncias do Ministério Público e até ontem adversário histórico do lulopetismo, ser hoje um fiel companheiro e integrante da base alugada do governo Dilma não deveria surpreender ninguém. Afinal, o que é o PT senão a mais gigantesca máquina de lavar (e destruir, quando convém) reputações em todos os tempos no Brasil?
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Nunca antes na História deste país uma organização serviu tão eficazmente a esse propósito quanto o partido da estrela vermelha. Aí está Fernando Collor de Mello, resgatado do opróbrio e do ostracismo e plenamente integrado nas hostes lulopetistas, transfigurado em caçador de jornalistas em uma CPI fajuta para livrar a cara dos companheiros enrolados com uma empreiteira, para comprovar esse fato. Outro ex-presidente da República, José Sarney, deve sua eterna permanência à frente do Senado ao apoio trocado com Lula da Silva no Maranhão. Sem falar em outras figuras probas, ínclitas e impolutas de inegável espírito republicano como Jáder Barbalho e Renan Calheiros. Maluf é apenas mais um da turma a descobrir as delícias de fazer parte do esquema de poder lulopetista, que costuma ser generoso com seus aliados e implacável - para não usar outro adjetivo mais duro - com aqueles que a ele não se adaptam e não se sujeitam (ou que ousam esboçar alguma independência em relação ao capo di tutti capi, como acaba de descobrir Marta Suplicy).
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O lulopetismo é um misto de máfia e de seita religiosa. Verdadeiro homizio de delinquentes e Cosa Nostra da política, imbuído de certa aura sobrenatural a ele atribuída por décadas de pajelança sociológica marxista, o PT deu sobejas provas ao longo de sua trajetória de que  pauta suas alianças e coligações por um único objetivo: o poder, custe o que custar. Para tanto, segue um único critério: para ser bom (ou seja: honesto, correto etc.), basta ser aliado.  O PT teria o poder mágico de lavar automaticamente o passado de bandidos de gravata e assaltantes dos cofres públicos. Basta que estes busquem o partido para que sejam tocados pela graça e ressurjam como um "novo homem", redimido e puro como uma criança. Como ocorre em algumas igrejas, o simples fato de a procurar expurga o fiel de qualquer mácula, traço de corrupção e de pecado. Contrariamente ao que ocorre no cristianismo, porém, não há a necessidade de o convertido confessar seus erros, nem de arrepender-se. Cristãos-novos dessa igreja secular, Maluf, Collor e Sarney seriam, portanto, exemplos perfeitos e acabados do "novo homem" lulopetista.
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A exemplo do verificado em todas as seitas, a lulopetista também vive de mitos e dogmas. Que o diga a deputada Luíza Erundina, candidata a vice-prefeita na chapa encabeçada pelo boneco de mamulengo Fernando Haddad na capital paulista.  Falando ontem como candidata, Erundina, que já foi prefeita de São Paulo pelo PT nos anos 80, teve uma recaída nostálgica e deitou falação contra as "elites", num discurso cheio de platitudes e chavões ideológicos, como "luta de classes" e "socialismo".  Agora terá a chance de lutar pelo socialismo ao lado do neocompanheiro Paulo Maluf.
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Como afirmei no início deste texto, o bom de não ser de esquerda é que nada nos decepciona ou nos surpreende. O PT nunca me decepcionou. Nem me surpreendeu. Assim como Maluf. 

segunda-feira, maio 28, 2012

SUGESTÃO DE LEITURA

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Para quem não tem medo de mudar de idéia (ou seja: para quem não tem medo de pensar).

Fica a dica.

terça-feira, fevereiro 21, 2012

BURRICE COMOVENTE

Pô, assim não dá!

Tudo bem que é Carnaval, época em que a inteligência, cuja média no resto do ano já não é lá grande coisa, sai de férias - basta tentar ouvir as "letras" das "músicas" que embalam o ziriguidum, principalmente a tal "axé music", para constatar -, mas não precisava exagerar...

Vejam o que uma mula anônima dessas que zurram na internet resolveu despejar aqui.  O coice foi por causa de um post em que parodio um panfleto que um petralha escreveu:

Gustavo é comovente toda sua militância pelo PSDB, chega a dar dó de ver todo esforço que você faz para provar aqui neste blog a honestidade do PSDB.

Só tenho uma coisa a dizer diante do que está aí em cima: cumé quié

Eu, militante do PSDB? Como se diz no popular: "me inclua fora dessa!"

Eu que não meto a colher nessa briguinha de casal que é a (falsa) disputa PT versus PSDB, em que parece se resume a atual política brasileira. Nem vou repetir aqui o que já cansei de escrever em outros posts (que a besta aí em cima não se deu ao trabalho de ler, para variar...): que essa (falsa, falsíssima) dicotomia entre petistas e tucanos é uma das maiores farsas de que já se teve notícia, um teatrinho para saber quem é mais esquerdista.  Não sou de esquerda; portanto, não me metam nessa rinha. 

Além de falsa como uma nota de 35 reais, essa questão de tucanos contra petistas é uma das coisas mais emburrecedoras que existem. O próprio comentário é uma prova do que estou dizendo. Basta alguém desmascarar as imposturas de um livreco mentiroso, escrito por encomenda por um militante que se apresenta como "jornalista", para vir um da turma, asinamente, com esse papo besta de "você está defendendo os tucanos" etc. Como se toda a Política se resumisse a ter de escolher entre mais ou menos esquerda... 

Não, idiota! Não defendo os tucanos, em primeiro lugar porque não sou da esquerda social-democrata uspiana - berço, aliás, de muitos petistas. Em segundo lugar, porque, por isso mesmo, acredito numa oposição de verdade, e não na "oposicinha" de serras e aécios, essa coisa sem gosto e sem sal que faz a alegria dos atuais ocupantes do poder. E que me leva a perguntar, todos os dias: com uma "oposição" dessas, para quê base alugada, digo, base aliada?
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Isso não me impede de apontar as mentiras e falsidades do tal panfleto petralha, uma imunda peça de propaganda saída diretamente da fábrica petista de calúnias, que vive de falsificar a realidade e assassinar reputações. Também não me impede de enxergar o fato óbvio de que nada na política brasileira se compara à corrupção petista - esta superou qualquer coisa que veio antes e que, provavelmente, virá depois, sendo uma forma muito mais entranhada, sistemática e deletéria de corrupção. E não me deixa cego para a realidade de que, ao contrário do PSDB, o PT sempre teve dificuldade em aceitar as regras da democracia, como a liberdade de expressão, por exemplo (a não ser que seja a seu favor). Mas estas considerações estão além da capacidade de compreensão de quem escreveu o comentário acima.

Aliás, querem que eu fale mal das privatizações realizadas no governo FHC? Pois aí vai: foram poucas! Os tucanos deveriam ter feito muito mais! Deram passos importantes, como a quebra do monopólio estatal do petróleo e a venda da Vale, mas faltou-lhes a coragem e a ousadia necessárias para livrar de vez o contribuinte do fardo de sustentar estatais falidas e uma burocracia parasitária e ineficiente. Perderam, assim, a chance de fazer uma verdadeira revolução no Brasil, enterrando toda uma cultura da estatolatria - que vem da colonização portuguesa e se consolidou com o estatismo varguista e com os militares. Certamente, o país não estaria ainda tão atrasado em algumas áreas. Pronto. Estão satisfeitos, petralhas?

Tão insuficientes foram as privatizações que o governo da companheira Dilma acabou de iniciar o processo de privatização dos aeroportos - que os cumpanhêru chamam de "concessão", para se diferenciarem dos colegas peessedebistas (como se o nome mudasse o significado da coisa, mas deixa pra lá). Percebeu que, se não abrisse o setor à iniciativa privada, o risco de  caos aéreo se tornaria realidade, ameaçando a Copa de 2014. É isso aí, petistas: sigam assim, que daqui a um tempo vocês conseguem se igualar aos tucanos. Afinal, o PT é o PSDB com 15 anos de atraso - e com muito mais cara de pau.

São mensagens como a que está aí em cima que me convencem que a ignorância no Brasil de hoje virou mesmo a regra. Chega a dar dó ver o esforço dos esquerdopatas em defender as pilantragens dos petralhas tentando desqualificar o mensageiro, inclusive apelando para a conversa mole de que "todos fazem igual" (depois de passarem décadas berrando que eram diferentes de todos...). E ainda há quem caia nas empulhações dessa gente. É tanta burrice que chega a ser, como direi? - comovente.

sábado, julho 30, 2011

A ARTE DE ENGANAR OS TROUXAS

Em Filosofia existe uma falácia chamada generalização apressada. Falácia, para quem não sabe, é um argumento falso ou tendencioso, geralmente preconceituoso. É o resultado de um erro de raciocínio e/ou de uma tentativa de enganar a si próprio ou os outros. Consiste essa falácia, como o próprio nome indica, em retirar, de alguns fatos, conclusões apressadas e generalizantes, resultando daí uma falsa associação, em geral coletiva.

Em outras palavras, a generalização apressada busca tirar uma conclusão com base em evidências insuficientes, e julgar todas as coisas de um determinado universo com base numa amostragem muito pequena. Consequentemente, ela ignora detalhes, fatores, circunstâncias e mesmo os casos que poderiam refutar a universalidade de suas premissas. Alguns exemplos:

1. “Minha avó tem dor de cabeça crônica. Meu vizinho também tem e descobriu que o motivo é um câncer. Logo, minha avó tem câncer.”
2. “Nas duas vezes em que fui assaltado, os bandidos eram negros. Bem que minha mãe fala que todo negro tem tendência para ladrão!”.

3. “O pastor da igreja X roubou o dinheiro dos fiéis. Fulano é pastor. Logo, também é ladrão.”
4. “Meu tio é candomblecista e já matou um bode para oferecer ao orixá. Beltrano foi ao terreiro de candomblé. Logo, ele também mata animais para o orixá.”
5. “Fulano entrou para a igreja X e ficou fanático. Logo, todos os fiéis da igreja X são fanáticos.”
6. “Fulano entrou para uma igreja protestante e ficou fanático. Logo, todos os protestantes são fanáticos.”
7. “Crentes/muçulmanos/bramanistas/etc. são todos fanáticos.”
8. “Todo americano é racista.”


Qualquer pessoa com um mínimo de inteligência e que ainda não foi lobotomizada pela propaganda esquerdista já deve ter percebido que estamos assistindo à repetição desse padrão falacioso no caso do masssacre cometido na Noruega por Anders Behring Breivik, o maluco que está sendo mostrado como exemplo de "direitista" na Europa. Subitamente, como eu suspeitava desde o início, passou-se a culpar a "direita", tida como uma coisa única e monolítica, pelos atentados terroristas. Um boboca até me enviou um link para uma notícia segundo a qual um senador italiano de direita elogiou as "idéias" de Breivik. Sim, e daí?

A conclusão, apressada e falaciosa, é a seguinte: a direita – toda ela, sem exceção – é "islamófoba, xenófoba e racista". Pior: "a direita" – novamente: toda ela, sem exceção – é terrorista. (Curiosamente, o mesmo tipo de argumentação costuma ser imediatamente rechaçado, no tocante à esquerda e ao Islã, no caso de ataques terroristas de extrema-esquerda ou islamitas.)

Já apontei a óbvia empulhação que está por trás desse argumento calhorda. Em outras palavras, o que se está afirmando a partir do caso de Breivik é o seguinte:

- Breivik se diz antimarxista. Portanto, todos os antimarxistas são assassinos.

- Breivik se diz antimulticulturalista. Logo, todos os que tenham qualquer crítica a fazer ao muliticulturalismo são assassinos perigosíssimos.

- Breivik se diz antiislâmico. Voltaire também era.

E mais:

- Breivik se diz cristão. Logo, todos os cristãos são assassinos e merecem estar na cadeia.

Eu poderia estender essa mesma linha de raciocínio e chegar às seguintes conclusões sobre Breivik:

- Ele é norueguês. Logo, todo norueguês é assassino e terrorista.

- Ele é branco, loiro e de olhos azuis. Nunca dê as costas para um branco, loiro e de olhos azuis.

Agora, o meu argumento preferido:

- Breivik é pró-homossexuais (está no tal "manifesto" que ele escreveu). Vou pensar nisso na próxima vez que vir um bando de travestis desfilando alegremente em alguma parada gay.

Na boa: querem achar um jeito bom de enganar os otários e caluniar a direita? Aceitem meu conselho: tentem fazer melhor da proxima vez.