terça-feira, julho 31, 2012

BOM MOTIVO, MÁ IDÉIA

Para muita gente, isso aí em cima é a única "direita" que conhecem

Li que uma estudante de Direito de 22 anos iniciou um movimento no Sul para ressuscitar a ARENA, o partido de sustentação política do regime militar de 1964. Inicialmente achei a idéia curiosa, para dizer o mínimo, ainda mais por surgir de pessoa com tão pouca idade, nascida depois do fim do regime dos generais – o simples fato de alguém tão jovem se interessar por Política com P maiúsculo, nos dias que correm, é uma grata surpresa. Principalmente por se tratar de uma proposta que destoa tão radicalmente do que se tornou habitual ver nas escolas e universidades brasileiras, que já se tornaram verdadeiras madraçais do pensamento único esquerdista, baseado num marxismo pé-de-chinelo que, de tão primário, encheria de vergonha o próprio Marx. Dizer-se de direita ou anticomunista no Brasil ainda é um tabu, um anátema, uma mácula para quem o faz. Por aqui, Stálin e Fidel Castro ainda têm mais admiradores do que Churchill ou Margaret Thatcher.

Pelo que li, acredito que a motivação da moça é boa. Palmas pra ela. Mas bons motivos e coragem para dar a cara à tapa não são garantia de boas idéias. Nesse caso, sinto dizer, a proposta de ressuscitar a ARENA, ainda que seja para provocar um debate, não é nada boa. É péssima.

É tão grande e tão sufocante a hegemonia da ideologia esquerdista no Brasil que qualquer tentativa de romper essa camisa-de-força é bem-vinda. O simples fato de alguém se insurgir contra essa lavagem cerebral coletiva, que já dura décadas, deve ser comemorado. Como já escrevi em varios posts (principalmente aqui: http://gustavo-livrexpressao.blogspot.gr/2011/04/por-que-nao-existe-direita-no-brasil-e.html), a inexistência no Brasil de um partido de direita, conservador ou liberal, é uma aberração, e constitui certamente o maior problema político do país na atualidade, a explicação para o fato de não termos oposição. A idéia de reconstruir um partido de direita é, assim, uma provocação, no bom sentido da palavra. Mas é preciso ter cuidado. As boas intenções, somadas à falta de conhecimento histórico, costumam gerar resultados contrários ao que se espera. No caso em questão, é quase certo que tal iniciativa vai levar mais água para o moinho da esquerda.

A autora da iniciativa, talvez pela pouca idade, comete uma série de erros. O primeiro e mais óbvio deles é considerar a ARENA um paradigma de política ideológica. Ora, ideologicamente, a ARENA (que virou PDS, PPR, PPB e PP) tinha a firmeza de princípios e a consistência de um pudim, não se distinguia da geléia geral da política brasileira. Criada após a extinção dos partidos políticos pré-64, era formada, principalmente, por áulicos do regime e pelos oportunistas de sempre, que enxergam na política uma profissão. Gente como Paulo Maluf, nomeado prefeito e depois governador de São Paulo pelo partido dos militares e que hoje está na base alugada do lulopetismo, dizendo-se mais comunista do que o Lula. Se é para ressuscitar um partido, que se ressuscite a UDN, que tinha lá seus defeitos (Roberto Campos dizia que era um "partido burro de homens inteligentes"), mas contava em suas fileiras com grandes oradores e polemistas como Carlos Lacerda – cassado pelo regime de 64, que criou a ARENA. A extinção de partidos como a UDN, aliás, foi um dos grandes erros dos militares, servindo apenas para decapitar uma geração inteira de políticos de direita e criar um vazio ideológico que a esquerda apressou-se a preencher depois. Tampouco um autêntico partido de direita, conservador ou liberal, teria espaço para integralistas – até porque havia muito mais em comum entre estes e os comunistas do que os últimos gostariam de admitir. Sem falar que o nacionalismo, pelo menos no Brasil, é uma ideologia mais afeita à esquerda do que à direita.

Além disso, convenhamos: a proposta de ressuscitar um partido, ainda mais um criado para dar apoio à ditadura dos generais, remete ao passado. Reforça, assim, simbolicamente, o estereótipo de direita como coisa ultrapassada e, pior, "reacionária", enquanto a esquerda se apresenta como "progressista". Acaba servindo, portanto, aos atuais donos do poder político e cultural.

Enfim, a idéia da jovem gaúcha é provavelmente bem-intencionada, mas é uma bobagem. Infelizmente. Apenas demonstra aquilo que venho tentando mostrar aqui há anos: que no Brasil ainda se desconhece o que seja direita. Ao tomar a velha ARENA de Maluf como referência, apenas serve aos propósitos mistificadores da esquerda.

domingo, julho 29, 2012

UMA CONSPIRAÇÃO A CÉU ABERTO - E A MAIOR OPERAÇÃO-ABAFA DA HISTÓRIA DO BRASIL

O vídeo que vocês verão a seguir deveria dispensar comentários. Digo deveria porque, apesar de ser a confissão de um crime - no caso, um crime contra a democracia em escala continental -, o delito e o delinquente certamente continuarão impunes. Pior: tanto um quanto o outro seguirão ignorados, como se o que está sendo dito logo abaixo não fosse real.

No vídeo, o Molusco Apedeuta, agora sem barba e com a voz rouca por causa da doença, envia uma mensagem de solidariedade aos "companheiros do Foro de São Paulo", que realizava então uma renião em Caracas, Venezuela, no começo de julho.  Praticamente não saiu uma linha sequer, não se falou absolutamente nada sobre o assunto, na imprensa brasileira. Mas Lula dá o serviço. Eis o que ele diz, com a cara mais lavada do mundo:

- Em primeiro lugar, ele lembra que, em 1990, quando o Foro foi criado (para, lembremos, restabelecer na América Latina o que se acabara de "perder" no Leste Europeu - ou seja: o comunismo), a esquerda estava no poder em apenas um país na América Latina - Cuba - e que, desde então, "governamos" - o "nós" inclui, obviamente, quem está hoje no poder na ilha caribenha - vários países do continente; 

- Afirma - e nisso está certo - que o Foro tem mudado radicalmente a face do continente, e que mesmo onde os partidos do Foro são oposição, eles têm uma influência crescente em seus países (o que também é verdade, infelizmente);

- Com a mesma desfaçatez com que nega, até hoje, a existência do mensalão, que está (finalmente!) para ser julgado no STF, repete mentiras deslavadas, afirmando que, graças ao Foro, os países por ele governados passam por uma fase de grande "crescimento econômico" - os números não mostram nada disso - e que "somos uma referência internacional de alternativa de sucesso ao neoliberalismo". Alternativa? De sucesso? Ao "neoliberalismo"?;

- Elogia as "conquistas extraordinárias" do governo populista e autoritário de Hugo Chávez na Venezuela, que vem arrastando o país para o caos econômico e social, dizendo que nunca as classes populares daquele país foram tratadas "com tanto respeito, carinho e dignidade" (sic); 

- Lamenta que Honduras e Paraguai, em que governos populistas e irresponsáveis foram destituídos de forma constitucional, tenham resistido às tentativas de Chávez de intervir nos assuntos internos para aniquilar as instituições. Lula não acha que Honduras e Paraguai sejam democracias. Democracia, para ele, é o que existe em Cuba e na Venezuela;

- Prosseguindo no desfile de cretinices, Lula fala ainda na existência de "colônias" na região, citando as Malvinas, cujos habitantes britânicos Cristina Kirchner quer porque quer converter em argentinos;

- Termina pedindo votos para seu companheiro Hugo Chávez - haverá eleições presidenciais na Venezuela em 7 de outubro -, dizendo "tua vitória será nossa vitória", no melhor estilo eternizado pelo deputado Cândido Vacarezza - aquele do "você é nosso, nós somos teu (sic)", lembram?.

Durante anos, o Foro de São Paulo foi um tabu na imprensa brasileira. Somente o Olavo de Carvalho falava do tema. Negava-se até mesmo a existência do Foro - falar sobre ele era coisa de alucinados e de teóricos da conspiração que viam comunistas em cada esquina etc. Somente em 2005, 15 anos depois da criação do Foro - isso mesmo: 15 anos depois! -, é que parte da imprensa brasileira, com a VEJA à frente, "descobriu" que a coisa existia de fato, e não era uma fantasia de mentes delirantes.  Mesmo assim, jornalistas companheiros acharam um jeito de botar panos quentes e evitar que a história crescesse: o Foro existia, mas era apenas um convescote sem consequências, uma simples reunião de amigos e nada mais, sem nenhuma influência na realidade dos países da região  - e isso apesar de farta documentação, que inclui resoluções (alguém já viu uma reunião de amigos com resoluções?). Enfim, uma coisa assim, sem importância (deve ter sido por isso que, assim que o assunto veio à baila, as atas do Foro sumiram do site oficial da Presidência da República). Agora essa teoria é desmentida, de forma acachapante, por ninguém menos do que um dos criadores do Foro, que faz questão de mostrar, até vangloriando-se, que a organização mudou e vem mudando radicalmente - para pior - a realidade política da América Latina. 

Um fato que vale a pena lembrar: quem até um dia desses participava ativamente do Foro de São Paulo, além de partidos como PT e PCdoB e da ditadura comunista cubana dos irmãos Castro, sem falar em governos "progressistas" como os de Hugo Chávez, Evo Morales e Rafael Correa, eram as FARC, os narcoterroristas colombianos.  Desnecessário dizer que, assim que a VEJA mencionou pela primeira vez a existência do Foro, não faltou quem se apressasse a "esclarecer" que as FARC dele não mais faziam parte e que isso era coisa do passado etc. e tal (isso depois de terem negado, durante uma década e meia, que o Foro existia). Só esqueceram de mencionar que tal organização narcoterrorista jamais foi expulsa, tendo-se retirado discretamente assim que se tornou impossível esconder a notícia da existência do Foro - e da vinculação das FARC com o PT. Vinculação que a descoberta dos arquivos do computador pessoal do número dois das FARC, Raúl Reyes, morto no Equador em 2008, tornou mais difícil esconder - outro assunto que estranhamente continua ignorado na grande imprensa nacional. Alguma relação com o fato de o governo brasileiro, pela voz de Marco Aurélio Garcia (ex-presidente do Foro e habitué de suas reuniões), declarar-se "neutro" em relação às FARC, colocando os narcobandoleiros, portanto, no mesmo nível de legitimidade do governo colombiano democraticamente constituído? Tirem suas próprias conclusões.

Em qualquer país sério, os fatos acima seriam suficientes para levar figuras como Lula às barras de um tribunal ou, pelo menos, a ser intimado a dar explicações numa CPI. Por muito menos do que está no vídeo, seria algemado e expulso da vida política para sempre. Mas estamos no Brasil, onde não há oposição. Por estas bandas, simplesmente proclamar um fato, juntar lé com cré, é visto como a pior das heresias. Daí vídeos asquerosos como este não causarem escândalo, sequer um comentário.

Nunca na História do universo uma conspiração internacional, envolvendo inclusive terroristas e narcotraficantes, para tomar o poder e destruir as instituições democráticas em um continente inteiro esteve mais bem documentada. E nunca - nunca mesmo - houve uma operação tão abrangente para ocultá-la dos olhos do público. E com tanto êxito. O que leva à seguinte conclusão: não basta divulgar a verdade; é preciso encontrar pessoas dispostas a ouvi-la.  Se estiverem narcotizadas por um estupefaciente mental chamado lulopetismo, continuarão cegas, surdas e mudas ao que se passa em sua volta. Os brasileiros, esses distraídos, estão anestesiados. Ou corrompidos.

Claro, certamente haverá quem procure diminuir o que está no vídeo, dizendo que ele não "prova" nada, no máximo que Lula e o PT se movem, em termos ideológicos, no terreno da ambigüidade e da duplicidade, o que não é nenhuma novidade etc. etc. Nesse caso, seria forçoso admitir que Lula e o PT têm uma agenda secreta. Com o detalhe de que nem secreta ela é.

Assistam e comprovem:

terça-feira, julho 24, 2012

A MORTE DE UM DISSIDENTE

Oswaldo Payá, 1952-2012

No último domingo, morreu num suposto acidente de automóvel Oswaldo Payá, um dos principais opositores à ditadura totalitária comunista cubana. O carro em que estava teria batido numa árvore na província de Granma (antiga província de Oriente). Payá era o líder do Movimento Cristão Libertação e ficou famoso ao apresentar, em 2002, uma petição para a realizacão de reformas democráticas na ilha dominada há 53 anos por Fidel e Raúl Castro. A iniciativa, conhecida como Projeto Varela, valeu-lhe duas indicações ao Nobel da Paz e a perseguição sem tréguas do regime castrista.

É possível que a morte de Oswaldo Payá tenha sido um acidente, como se apressou a informar o regime comunista cubano. Pode ser que sim, pode ser que não. Mas um fato está fora de dúvida: ditaduras são sempre suspeitas. Se a ditadura em questão é a tirania comunista dos irmãos Castro, que já fez 100 mil mortos (entre fuzilados e afogados tentando escapar da ilha-cárcere), então essa observacão deve ser multiplicada por mil: em primeiro lugar, na ilha-presídio não há imprensa livre para contestar a versão oficial do governo. Some-se a isso o fato de que Payá já havia sofrido outro "acidente" recentemente e o caso torna-se ainda mais estranho. Há fortes razões, portanto, para acreditar que sua morte não tenha sido acidental e que a nota divulgada imediatamente pelo regime lamentando o fato seja, no mínimo, morbidez hipócrita.

Em 1976, a estilista Zuzu Angel morreu no Rio de Janeiro num acidente de carro semelhante ao que vitimou Payá em Cuba. Hoje, ninguém questiona que ela tenha sido assassinada por agentes da ditadura militar. Muita gente ainda hoje acredita que o ex-presidente Juscelino Kubitschek tambem foi assassinado nas mesmas circunstâncias e pelos mesmos algozes. Tanto Zuzu Angel como JK eram figuras incômodas ao regime de 64, assim como Oswaldo Payá era uma pedra no caminho da tirania cubana. Por que o que vale para uma ditadura não vale para outra?

Inútil perguntar. Católico fervoroso, opositor da ditadura mais longeva e adulada do Ocidente, Oswaldo Payá não se encaixava no padrão adotado pela "festiva". A causa pela qual lutou e a que dedicou sua vida - a liberdade - não faz muito sucesso entre os "progressistas". Ele não queimava bandeiras dos EUA. Não cantava loas a tiranos e terroristas. Não era, enfim, um da turma.

Como falei antes, sempre que morre um opositor de uma ditadura, esta é a principal suspeita, ainda que a morte tenha sido causada por uma gripe. Trata-se de um fato óbvio. A menos, claro, que a ditadura tenha amigos poderosos como a cubana. Nesse caso, qualquer pedido de investigação é imediata e rapidamente descartado como teoria conspiratória. E assim fica comprovado, mais uma vez, o método com o qual os "progressistas" daqui e de alhures tratam o regime de Havana: com dois pesos e duas medidas. Também, quem mandou morrer do lado errado, não é mesmo?

sábado, julho 21, 2012

O MASSACRE NOS E.U.A., A MANIPULAÇÃO DESARMAMENTISTA - E UMA PERGUNTA SINGELA

Ai, ai... Não gosto de escrever no calor da hora: prefiro analisar as coisas com calma, enxergando os fatos com cuidado, a correr o risco de tecer comentários apressados e levianos. Além do mais, não sou jornalista para tentar concorrer com agências de notícias. Mas certos padrões, de tão repetitivos, permitem saber com antecedência exatamente o que vão dizer sobre este ou aquele fato. Vamos lá.

Mais um massacre nos EUA, em que alguém com sérios problemas psicológicos e armado até os dentes abre fogo contra pessoas inocentes num lugar público. Mais uma nação chocada etc. e tal. E, mais uma vez - e, podem apostar o quanto quiserem: não será a última - os defensores do gun control vão aproveitar o fato para culpar, antes mesmo que se descubra a motivação do crime, as armas pelo ocorrido. Vão usar e abusar do episódio para destilar a cantilena de que o fato "prova" que armas de fogo são más e que, portanto, a posse das mesmas deve ser criminalizada e que, assim como remédios e objetos pontiagudos em relação a crianças, devem ser colocadas fora do alcance do cidadão, esse incapaz. Proíbam as armas, é o que vão dizer, e fatos como esse não mais se repetirão e todos viverão em paz e segurança etc. etc.

Esse tipo de rotina já se tornou tão previsível que nem vou me dar ao trabalho de repetir, aqui, os argumentos que já empreguei para demonstrar a falácia do discurso desarmamentista (quem tiver interesse, recomendo ler os posts que publiquei em resposta à tentativa de manipulação da opinião pública pela turma do "sou da paz" quando do massacre numa escola no Rio de Janeiro, no ano passado). Não vou sequer repetir a pergunta que já fiz aqui antes, e que até agora permanece sem resposta: por que será que assassinos como o do cinema no Colorado escolhem lugares como cinemas, escolas e igrejas, e não clubes de tiro, por exemplo, para praticaram suas matanças? (Responda quem puder.) Tampouco vou lembrar o óbvio: que armas não disparam sozinhas, e que atrás do gatilho está um indivíduo, cabendo a este, e a mais ninguém, a responsabilidade por seus atos. Não, desta vez a pergunta é outra.

A questão é bastante simples, singela até. Creio também não ser difícil de ser respondida. É a seguinte: por que, se o direito a ter uma arma não serve de elemento suasório contra criminosos, o assassino do cinema estava usando um colete à prova de balasEstaria ele se precavendo de ser atingido por uma saraivada de pipocas atiradas pela platéia? Ou estaria com medo de ter seu desígnio homicida detido por um copo de refrigerante?

Com a palavra os desarmamentistas, essa gente linda e maravilhosa, que só quer o nosso bem.  

quarta-feira, julho 18, 2012

ELES SÃO O FUTURO? ENTÃO VIVA O PASSADO!


Outro dia vi um vídeo no youtube que me deixou intrigado. Nele, um jovem economista, defensor entusiasmado da escola liberal (ou "neoliberal", como gostam de dizer os esquerdistas, por ignorância ou má-fé), investia pesado contra um adversário ideológico. Em tom indignado, às vezes embolando as sílabas, o discípulo de Von Mises e de Hayek atacava com veemência um "filósofo-astrólogo", representante de uma direita "medieval" e "reacionária". Ele, o rapaz do vídeo, era o legítimo representante da direita, não o filósofo enganador, “teórico da conspiração” etc.

Pesquisei na internet, e vi vários vídeos e textos de teor semelhante, tanto por parte do economista liberal quanto do filósofo em questão. E reforcei minha quase certeza de que o que falta no Brasil é mesmo uma direita filosoficamente sólida e consequente.

A quizília parece ser antiga, e teria começado por causa de algumas mensagens no Orkut. Francamente, esse tipo de disputa não me interessa. Parece mais uma briga de egos, em que adjetivos injuriosos – não raro, com referências à vida pessoal de cada um – toma o lugar de argumentos. Já li que brigaram até mesmo por um pronome oblíquo.

Tão vazio e sem sentido quanto o arranco-rabo em si é a dicotomia que se quer estabelecer entre uma direita "medieval" e "reacionária" versus uma direita "moderna", "liberal" etc. Sobretudo se os pomos da discórdia forem, como são, questões como aborto, casamento gay e descriminalização das drogas. Onde está escrito que para ser “de direita” ou “liberal” é preciso defender esse tipo de coisa? Pode-se ser contra tudo isso com argumentos políticos e filosóficos, inclusive religiosos, perfeitamente legítimos. E, ainda que o crítico seja um membro da Opus Dei ou um saudoso das Cruzadas, como se poderia almejar, em sã consciência, um "retorno" ao passado? Como disse certa vez o filósofo acusado pelo economista de reacionarismo e medievalismo, isso não é ideologia: é espiritismo.

Não acredito que deva existir uma só direita, aliás não acho que exista somente uma (é curioso como se costuma falar "as esquerdas", no plural, mas quase nunca "as direitas"). Acredito, porém, que se deve ser coerente. Muitos que se dizem de direita hoje em dia são burguesinhos mais interessados na redução de impostos e em balancetes de lucros do que em democracia. São liberais, até ultra-liberais, mas não são conservadores. Pior: vêem mesmo contradição entre uma coisa e outra. Têm verdadeiro horror ao epíteto: para eles, "conservador" é pior do que ser de esquerda. Defendem com ardor o livre mercado e a propriedade privada, leram todo Adam Smith e John Stuart Mill, mas não dizem nada sobre Edmund Burke e G.K. Chesterton. Desde que a economia esteja nos trilhos, e os negócios estejam indo bem, não se importam que o governo seja formado por um bando de tarados e psicopatas. Esquecem que o conservadorismo é o verdadeiro esteio da democracia e que o contrário desta é revolução - seja violenta, seja mediante a guerra cultural gramsciana, que a esquerda está ganhando de goleada.

Esse tipo de "direita", francamente, me diz muito pouco. Do mesmo modo que desconfio de quem proclama as virtudes do liberalismo econômico mas vê na China comunista um modelo, aprendi a desconfiar de quem se diz "progressista" mas não tem uma palavra a dizer sobre o enforcamento de homossexuais e o apedrejamento de mulheres no Irã. A esquerda bem-pensante e politicamente correta está cheia desse tipo de vigarista, que adora acusar a Igreja Católica de reacionarismo, mas não vê nada errado nos países islâmicos. Quem é reacionário? Quem é medievalista?

Se há algo que distingue direita e esquerda, hoje em dia, não é a economia, mas princípios. E princípios, diga-se, morais e religiosos. No caso em questão, são os valores da civilização ocidental e, sim, cristã (em tempo: sou ateu, mas nem por isso deixo de reconhecer a importância desses valores para a democracia). É a defesa desses princípios universais que distingue a direita – pelo menos a direita com que me identifico – do que se convencionou chamar de esquerda. Por exemplo: roubar é errado. Matar, sobretudo se tiverem sido 100 milhões de pessoas, também. A vida humana e a liberdade individual, para mim, são sagradas. Assim como honestidade na política. Isso é "medievalismo"?

Em um país hegemonizado há décadas por um esquerdismo de botequim, onde o comunismo é levado a sério e “conservador” e “direitista” são palavrões, a existência de intelectuais que se reivindicam de direita – "medieval" ou não - é uma boa notícia. Seria uma pena que a vaidade e briguinhas pessoais tomassem o lugar de argumentos.

Certa vez, o escritor Nelson Rodrigues – um famoso "reacionário" –, indagado por um jornalista sobre suas idéias conservadoras, respondeu da seguinte forma, referindo-se aos comunistas: "se eles são o futuro, então eu sou o passado, sou a Idade Média!". As mesmas palavras podem ser repetidas hoje em dia. O futuro da humanidade é o "progressismo" preconizado por gayzistas, abortistas, maconhistas e outros do mesmo naipe? Muito prazer, eu sou o passado.

segunda-feira, julho 16, 2012

UM ASSASSINO CHAMADO "CLEMENTE"

Um dos "justiçamentos" cometidos pela ALN: era assim que os "guerrilheiros" lutavam pela democracia...

O vídeo que pode ser assistido no link http://globotv.globo.com/globo-news/globo-news-dossie/v/ex-guerrilheiro-da-luta-armada-confessa-participacao-na-morte-de-um-companheiro/2020170/ é um documento importante para a História. É uma entrevista ao repórter da Globonews Geneton Moraes Neto, conhecido por suas reportagens investigativas (algo infelizmente cada vez mais raro na imprensa brasileira). O entrevistado é um senhor de 61 anos de idade chamado Carlos Eugênio Sarmento Coelho da Paz, professor de música. É aterrador.
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Carlos Eugênio é um ex-terrorista (ou ex-"guerrilheiro", como queiram). Ele foi membro do grupo Ação Libertadora Nacional (ALN), fundado pelo ex-deputado comunista Carlos Mariguella em 1967 e dizimado em 1973 pelos órgãos da repressão político-militar do regime ditatorial de 1964. Recrutado por Mariguella aos 18 anos, primeiro como membro de um grupo de fogo e depois como último comandante militar da organização, Carlos Eugênio, ou "Clemente" – o codinome que usava na clandestinidade – participou diretamente de algumas das ações mais sangrentas da chamada luta armada contra a ditadura militar no Brasil. Entre as ações armadas em que tomou parte e que narra em detalhes, esteve a execução do empresário dinamarquês Henning Albert Boilesen, acusado pelos grupos armados de esquerda de colaborar com a repressão. Boilesen foi assassinado numa emboscada no centro de São Paulo em 1971. Teve o corpo varado a tiros de fuzil e rajadas de metralhadora, sem chance de defesa. Saiu da arma de Carlos Eugênio o tiro de misericórdia. Ele justifica a ação afirmando simplesmente: "era um inimigo".
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Outra ação narrada por Carlos Eugênio, já relatada parcialmente em dois livros seus de memórias, é a tentativa frustrada de sequestro do comandante do II Exercito, general Humberto de Souza Melo, que por pouco não acabou num banho de sangue. Ele apresenta inclusive uma lista de "sequestráveis" pelas organizações armadas de esquerda, que incluía empresários e o embaixador do Reino Unido no Brasil, David Hunt (que jamais soube que estava cotado para ser sequestrado). Revela ainda um plano mirabolante do general cubano Arnaldo Ochoa Sánchez (fuzilado a mando de Fidel Castro em 1989) de invasão do Brasil por um grupo de 100 guerrilheiros cubanos, que se embrenhariam na floresta amazônica.
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Mas a parte mais estarrecedora da entrevista é quando Carlos Eugênio confessa um dos tabus da luta armada: o assassinato ("justiçamento", como ele diz) de um companheiro da ALN, Márcio Leite de Toledo, morto com oito tiros em São Paulo em 1971.
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O que estarrece não é o fato em si – a morte de Márcio Leite de Toledo pelos próprios militantes já era conhecida (os assassinos fizeram questão de deixar um panfleto no local “justificando” o homicídio). O que choca e causa perplexidade é a frieza com que Carlos Eugênio confessa ter participado da execução. Mais: sua insistência em justificar – isso mesmo: justificar – o crime. Márcio Leite de Toledo foi assassinado porque teria "vacilado" – era essa a expressão usada na época –, tendo proposto o fim da luta armada. Por isso, foi considerado "pouco confiável" pela direção da ALN, que decidiu exterminá-lo. Quando indagado sobre o fato, Carlos Eugênio respira fundo e diz: "isso eu nunca tinha falado antes" e "vou responder porque você está perguntando, né?". Depois de tentar justificar o injustificável, ele confessa ter sido um dos que dispararam, afirmando burocraticamente: "cumprimos a tarefa".
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"Cumprimos a tarefa"... É assim que a morte brutal de um ser humano, além do mais um membro da própria organização, é encarada: como uma "tarefa", nada mais. Como se fosse uma pichação ou algo do tipo. Aliás, Carlos Eugênio faz questão de frisar: foi uma decisão "da organização" (buscando, assim, eximir-se de qualquer responsabilidade). Foi o "coletivo", entenderam? Ele, Carlos Eugênio, só puxou o gatilho...
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Em nenhum momento, Carlos Eugênio se mostra arrependido do que fez. Pelo contrário: faz questão de justificar e enaltecer suas ações, citando até mesmo Clausewitz ("guerra é guerra" etc.). Ao ser lembrado que os ex-agentes do regime militar costumam usar a mesma frase para justificar a repressão, ele se enche de brios: "tortura não é combate". Tampouco o é assaltar bancos, sequestrar pessoas e assassinar os próprios companheiros. Mas Carlos Eugênio não se abala. "Sou um humanista", afirma a certa altura, com convicção.
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A partir de certo momento, a entrevista de Carlos Eugênio vira um pequeno comício, mostrando a luta armada do período como uma forma de "resistência democrática". "Foram eles que começaram", ele afirma, com veemência, referindo-se aos militares, aparentemente tomado de amnésia histórica: o projeto guerrilheiro da esquerda radical no Brasil, influenciado pela Revolução Cubana, é anterior ao golpe de 1964; além disso, os documentos de todas as organizações clandestinas de esquerda que pegaram em armas (todas, sem exceção) deixam claro que estas não visavam a restaurar a democracia representativa, que desprezavam, mas a substituir a ditadura dos generais por uma forma de ditadura comunista (como a de Cuba e da Coréia do Norte). Sem falar que, ao dizer que "todos os nossos atos foram esclarecidos", Carlos Eugênio parece também ter sido acometido de um surto de esquecimento. Basta dizer que até hoje não se sabe, exatamente, quantas pessoas foram mortas pela esquerda no período (o número gira em torno de 120). Existem casos, por exemplo, como o do guerrilheiro da ALN Ari Rocha Miranda, morto em circunstâncias misteriosas pela arma de um companheiro de organização, e cujo corpo permanece até hoje desaparecido. Se querem saber onde está o cadaver, perguntem a Carlos Eugênio Paz. Ele provavelmente sabe.
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Ao final da entrevista, quando perguntado se daria seu testemunho perante a recém-criada “comissão da verdade”, Carlos Eugênio afirma que sim, mas impõe uma condição: "aceito dar meu testemunho, mas não ser julgado pelo que fiz". Nem poderia. Pela Lei de Anistia de 1979 – a mesma que os revanchistas querem revogar – ele não pode ser julgado e condenado, tendo sido, aliás, indenizado como "perseguido político" e reintegrado ao Exército, do qual desertou em 1968, com a patente de sargento. De que julgamento ele está falando, então? Do julgamento da História. Para ele, assim como para alguns integrantes da tal comissão, os atos da esquerda armada estão acima do bem e do mal. Não devem ser discutidos – e ponto final.
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Agora vamos fazer, leitor, um pequeno exercício de imaginação: imagine que um ex-torturador do DOPS ou do DOI-CODI viesse a público confessar seus crimes. Imagine que ele buscasse justificá-los, afirmando que as vítimas eram inimigos e mereciam morrer, pois afinal "guerra é guerra". Imagine que ele buscasse se safar dizendo que era parte de uma máquina e que apenas seguia ordens. Imagine que confessasse ainda ter recebido assessoramento, nessa tarefa macabra, de agentes da CIA ou do FBI. E que não mostrasse, ao descrever essas atrocidades, nenhum sinal de arrependimento, exigindo de todos aplausos pelo que fez. E que, ainda por cima, se diga um democrata e um humanista. Preciso dizer mais?
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A entrevista de Carlos Eugênio Paz é um pilar a mais no edifício monstruoso de mistificação da História brasileira recente erguido pela esquerda. Não satisfeito em desumanizar as vítimas do terrrorismo e em edulcorar a luta armada, cobrindo-a com a aura heróica de "resistência democrática", o entrevistado ainda exige reverência por ter cometido atos como o assassinato de um companheiro de luta. Assim como uma certa presidente da República que até hoje não disse claramente o que fez quando militou em três organizações armadas de extrema-esquerda, ele quer que todos acreditem que lhe devemos o fato de vivermos hoje numa democracia, quando é ele que lhe deve a vida. Não se arrepende. Não pede desculpas. Vangloria-se.
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Nesse ponto, gente como Carlos Eugênio Paz se distingue moralmente dos torturadores e militares que participaram do combate à luta armada. Com efeito, estes até hoje se escondem, envergonhados. Os ex-terroristas, não. Pelo contrário: orgulham-se do que fizeram. E não aceitam que seus atos sejam colocados em questão. Em outras palavras: mataram, assaltaram e sequestraram, mas o fizeram por amor à humanidade, é o que estão dizendo. E não aceitam ser julgados – ou seja, criticados.
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O ex-terrorista Carlos Eugênio Paz, que jamais foi preso, mostrou-se impiedoso ao fuzilar inimigos e companheiros de luta em nome de uma causa totalitária. Agora, revela-se igualmente impiedoso ao massacrar a História. Nisso, ele não foi – não é – nada "clemente".

sábado, julho 14, 2012

A BATATADA DE CHICO BUARQUE



Alguns dias atrás, a Folha de S. Paulo divulgou alguns documentos secretos da repressão militar no Brasil. O título da matéria - deve estar por aí na internet - era mais ou menos assim: "Documentos comprovam como a ditadura perseguia artistas e intelectuais", ou coisa parecida.

Até aí, nenhuma novidade. A censura e perseguição que artistas como Chico Buarque e Gilberto Gil sofreram durante os anos 60 e 70 são de todos conhecidas. Mesmo assim, interessado que sou pelo assunto, resolvi ler a matéria. Eu já estava pronto a me indignar com a revelação de mais uma arbitrariedade dos milicos quando deparei com a história a seguir.

O ano era 1978 e a repressão política estava em seus estertores. Chico Buarque voltava de Havana, aonde fora participar do júri de um concurso literário. À época viajar para Cuba estava proibido - as relações diplomáticas estavam rompidas desde 1964 -, e o cantor carioca foi detido pela Polícia Federal no aeroporto e interrogado. À certa altura, irritado por aquela detenção arbitrária, o autor de "Carolina" disparou o seguinte projétil para  seus interrogadores. Cito a Folha:

Chico, no Dops, afirmou que não estava "realizado politicamente" no Brasil, onde "falta liberdade". "Em Cuba sim", disse à época, "há liberdade".
"Lá todos pensam da mesma maneira, pois todo o povo está integrado ao processo revolucionário. O Brasil, para atingir o socialismo, deveria passar por um processo revolucionário idêntico ao cubano. O mundo todo caminha para o socialismo. Inevitavelmente, mais cedo ou mais tarde, todos os países serão socialistas."

É isso mesmo que vocês leram: para Chico Buarque, deus e ícone da música e da cultura brasileiras, em Cuba havia liberdade. E isso - vejam só - porque todos pensam da mesma maneira, como na ex-URSS e na Coréia do Norte... Mais: o mundo todo caminhava para o socialismo. Pois é.

O país em que Chico Buarque dizia que faltava liberdade lhe permitia fazer proselitismo do regime comunista cubano até para os policiais que o interrogavam. Já a ilha em que ele estava realizado politicamente dava um tratamento bem diverso aos artistas que ousassem não cantar conforme a música ditada pelos irmãos Castro, como faz ainda hoje.

Contrariando a profecia do bardo, o mundo não se tornou socialista. O regime militar, felizmente, também não existe mais. A ditadura cubana, porém, permanece, já tendo entrado em sua quinta década de existência, sem nenhum sinal de que irá dar lugar, um dia, à democracia. Lá não há liberdade.

É por essas e outras que defendo a divulgação irrestrita de tudo que se refira  à época do regime militar no Brasil. Assim ficamos sabendo muita coisa sobre muita gente. Principalmente sobre quem sempre posou de defensor da liberdade mas estava se lixando para a democracia e os direitos humanos. E que nunca se retratou.

No Brasil, a ditadura pertence ao passado. Em Cuba, ela é o presente. Mas sou otimista. Um dia a ilha-cárcere será um país livre. Apesar de você, Chico Buarque.  

sexta-feira, julho 13, 2012

Lula e Maluf: por que não?




Escrevi o mesmo aqui outro dia.
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Lula e Maluf: por que não?

Postado em 6/7/2012 às 10:53:11hs

Por Guilherme Fiuza*

 
O Brasil ético está escandalizado com o aperto de mão entre Lula e Paulo Maluf. O ex-presidente teria ido longe demais com esse gesto. É uma concessão muito grave para tentar eleger um prefeito, dizem os homens de bem. E o assunto não sai de pauta, com a corrente de indignação se espalhando pela imprensa, pelas escolas e esquinas desse Brasil ultrajado.

Todo cientista político teve sua chance de dizer que aquela foto é um divisor de águas no processo ideológico brasileiro, um retrocesso no campo progressista, um monumento ao vale tudo. Mas nunca é tarde para avisar a esta nação escandalizada: o aperto de mão entre Lula e Maluf não tem a menor importância.

Um comentarista bradava no rádio um dia desses: “Maluf apoiou a ditadura!” Não, essa não é a grande credencial do ex-governador de São Paulo. Vamos a ela: Maluf é procurado pela Interpol. Independentemente dos resultados dos vários processos de que já foi réu por corrupção, Maluf é símbolo de cinismo e trampolinagem. Mesmo assim, não pode fazer mal nenhum a Lula.

O ex-operário que governou o Brasil por oito anos escolheu como um de seus principais aliados José Sarney. Para quem não está ligando o nome à pessoa, Sarney é o protagonista do caso Agaciel Maia – aquele que revelou a transformação do Senado Federal em balcão de favores particulares. Em telefonemas divulgados pela TV em horário nobre, Sarney aparecia usando a presidência do Senado para reger o tráfico de influência na cúpula do Poder Legislativo.

Mostrando influenciar também o Judiciário, o parceiro de Lula conseguiu, através do filho Fernando, instituir a censura prévia ao jornal “O Estado de S. Paulo”, até hoje proibido de mencionar a investigação dos atos secretos operados por Agaciel.

O que fez Lula diante desse escândalo? Disse que Sarney não podia ser julgado como uma pessoa comum. Segurou-o bravamente na presidência do Senado. Até que a tempestade passasse, deu-lhe a mão e não soltou mais. Qual o problema então de dar a mão a Maluf, só um pouquinho, para eleger o príncipe do Enem?

O aperto de mão com Sarney incluiu outras manobras típicas da ditadura que Maluf apoiou. Lula mandou sua ministra Dilma Rousseff intervir na Receita Federal para resolver pendências fiscais da família Sarney. Essa denúncia foi feita por Lina Vieira, ex-secretária da Receita, que contou detalhes do abuso de poder da então chefe da Casa Civil.

Lina aceitou uma acareação com Dilma, que fugiu (e depois virou presidente). Quando sua sucessora saiu em campanha, Lula nomeou como ministra-chefe da Casa Civil a inesquecível Erenice Guerra. Braço direito de Dilma, com quem confeccionou o dossiê Ruth Cardoso (contrabando de informações de Estado para chantagem política), Erenice montou um bazar com parentes e amigos no palácio.

Apesar de ter afundado crivada de evidências de tráfico de influência, Erenice recentemente foi puxada pela mesma mão que apertou a de Maluf: desinibido, o padrinho já tenta publicamente ressuscitá-la. As aventuras de Dilma e Erenice só foram possíveis com queda do antecessor, José Dirceu – o que mostra uma verdadeira linhagem criada por Lula na Casa Civil.

E Dirceu só caiu porque o suicida Roberto Jefferson resolveu atrapalhar um esquema que estava funcionando perfeitamente. Pois bem: no momento em que a Justiça se prepara para julgar o mensalão, maior escândalo de corrupção já visto na República, protagonizado por todos os homens do presidente Lula, o Brasil resolve se escandalizar porque o chefe supremo dos mensaleiros tirou uma foto com Paulo Maluf.

É sempre triste deixar a inocência para trás, mas vamos lá. Coragem. Em todo o seu vasto e conhecido currículo, Maluf jamais chegou perto de engendrar um golpe dessa dimensão: o uso do poder central para fazer uma ligação direta dos cofres públicos com a tesouraria do partido do presidente. O malufismo nunca sonhou com um valerioduto.

Como se vê, o Brasil, esse distraído, precisa atualizar a legenda do famoso encontro: se quiser continuar dizendo que ali está a esquerda sujando as mãos com a direita, vai ter que inverter a foto. E para concluir o jogo dos sete erros: qual dos dois usou crachá de coitado para vampirizar o Estado? Roubar a boa fé dá quantos anos de cadeia? (*GF, no portal da revista Época)

segunda-feira, julho 02, 2012

CONFORME EU QUERIA DEMONSTRAR - A MORTE DO MERCOSUL

Escrevi o texto abaixo em 30/10/2009. Continua mais atual do que nunca, por isso o republico. Vejam a palhaçada que foi a entrada da Venezuela de Hugo Chavez no Mercosul e a suspensão do Paraguai do bloco. Um é uma ditadura, outro é um país em que um presidente foi deposto segundo as normas constitucionais. Está claro que toda a gritaria sobre "golpe" no Paraguai não passou de uma desculpa para os bolivarianos e seus amigos darem um golpe de verdade, mandando a cláusula democrática do Mercosul para as cucuias.

Notem como, quase três anos atrás, os parlamentares brasileiros já preparavam o caminho para golpear o Mercosul com a entrada da Venezuela. O Mercosul, que já nao funcionava, agora será um palanque do chavismo.
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O FIM DO MERCOSUL

Um minuto de silêncio, por favor.

Faleceu ontem, 29/10, o Mercosul - Mercado Comum do Sul. Morreu vítima de cinismo e de vigarice. Quem o matou foram os senadores brasileiros. Em reunião no Conselho de Relações Exteriores do Senado, estes decidiram, por 12 votos a 5, a favor da entrada da Venezuela chavista no bloco.

De nada adiantou o relatório inicial do senador Tasso Jereissati (PSDB-CE), contrário à medida. O rolo compressor lulo-petista e a falta de oposição real no País falaram mais alto, garantindo a vitória do pleito, para a alegria de senadores governistas comprometidos com os princípios dos direitos humanos e da democracia, como Inácio Arruda (PCdoB - CE).

Juntamente com o bloco, serão enterrados os documentos-base do Mercosul, como o Protocolo de Ushuaia, que estabelece a cláusula democrática - ou seja, que somente países em que as regras da democracia sejam respeitadas e cumpridas poderão participar do bloco. Farão companhia à honestidade e à vergonha na cara, que já bateram as botas faz tempo.

Foram duas as desculpas dos coveiros do Mercosul para justificar o magnicídio: 1) é melhor integrar do que isolar; e 2) quem fará parte do bloco é o Estado venezuelano, não o governo de Hugo Chávez.

As duas desculpas são apenas isso: desculpas, e das mais esfarrapadas. Trata-se de uma argumentação que seria estúpida, se não fosse vigarista. Coisa de canalhas mesmo, de gente sem nenhuma consideração pela verdade nem pela inteligência alheia.

Primeiro: o argumento do "não-isolamento" é desmentido pelos fatos. A idéia é que, ao não isolar a semi-ditadura chavista dos demais países, o país melhoraria e caminharia rumo à democracia. Devemos conversar com os ditadores, convidá-los para jantar e para freqüentar nossos salões, e eles se converterão em democratas, é o que se está dizendo. É o mesmo argumento usado para justificar a política brasileira e da OEA em relação à ditadura castrista de Cuba. É uma falsidade completa. Nos últimos anos, o regime chavista foi tudo, menos isolado internacionalmente, e isso não o fez avançar um milímetro em direção à democracia. Chávez não deixou de ser Chávez, ou seja, não melhorou nada, por causa disso. Pelo contrário: os países que tiveram contato com ele, Chávez, pioraram bastante - vejam os exemplos de Bolívia, Equador, Nicarágua e Honduras. O mesmo no caso de Cuba: há tempos os países do continente, Brasil inclusive, vêm defendendo o diálogo com a tirania castrista. Isso levou a algum tipo de abertura ou democratização do regime nos últimos cinqüenta anos?

Para não ir muito longe: o regime racista do apartheid na África do Sul caiu, em 1990, não porque fosse paparicado pelos demais países, mas, pelo contrário, porque a "comunidade internacional" - a mesma que hoje baba por Cuba e tenta isolar Honduras - fez pressão e defendeu o ISOLAMENTO do país (do país mesmo, e não somente do "governo"). Até boicote na área esportiva houve. É um exemplo de que esse papo de "não-isolamento" não passa de colóquio para ruminantes adormecerem (traduzindo: não passa de conversa pra boi dormir).

Em outras palavras: de acordo com a diplomacia brasileira, chancelada pelos senadores brasileiros, nada de isolar regimes humanistas como os do Sudão ou do Irã, ou de Cuba ou da Coréia do Norte, com os quais se pode conversar; isolar, só se for uma ditadura brutal e genocida, como a de Honduras.

Quanto ao segundo argumento, de que quem está entrando no Merdosul, digo Mercosul, é o país-Venezuela, não o país-Chávez, é outra cascata da grossa: quem a defende, gente do naipe do senador governista (de qualquer governo) Romero Jucá (PMDB-RR), aposta que todos sejam idiotas, ou que não saibam de nada que está acontecendo na Venezuela. Desde que Chávez chegou ao poder, há dez anos, ele deixou claro para quem quiser saber que só deixará o trono quando passar desta para melhor (ou para pior, espero sinceramente). Dito de outro modo: ele vai ficar na presidência até morrer. Para isso ele já tomou e está tomando todas as providências: submeteu o Judiciário, acabrestou o Congresso, acabou com a separação de Poderes e ameaça, todos os dias, a imprensa que o critica com prisões e censura. Isso significa que votar pela entrada da Venezuela no Mercosul, neste momento, é o mesmo que avalizar o governo Chávez. Do mesmo modo que fazer um acordo com a Alemanha nos anos 30 seria o mesmo que referendar o nazismo. É provável, aliás, que a ditadura chavista dure mais tempo do que o Mercosul.

Nada que está aí em cima, claro, foi levado em conta pelos senhores senadores brasileiros. Assim como não foi levado em conta pelos Congressos argentino e uruguaio, que já aprovaram o ingresso da Venezuela no Mercosul. Agora a votação final será no plenário do Senado. É bastante provável que este confirme a decisão da Comissão de Relações Exteriores. Nesse caso, terá sido dado o tiro de misericórdia no Mercosul.
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O Mercosul nasceu da necessidade de integração regional decorrente da democratização da América do Sul, nos anos 80, e acaba seus dias, ingloriamente, como palanque de um caudilho autoritário e populista.
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Descanse em paz, Mercosul. Que a terra lhe seja leve. Que pena, era tão jovem... Acendamos uma vela.

IMAGENS PARA A HISTÓRIA

Muita gente ficou horrorizada com a aliança Lula-Maluf em São Paulo. Muitos se esqueceram, porém, que esse tipo de coisa não é novidade na história da esquerda. Vejam as imagens abaixo:
2012: A Ave de Rapina Luiz Inácio Lula da Silva de mãos dadas com o Símbolo da Pouca Vergonha Nacional Paulo Salim Maluf
1990: Adversários implacáveis nas eleições apenas um ano antes, o caudilho Leonel Brizola brinda sua aliança com o ex-inimigo e Filhote da Ditadura (e hoje fiel aliado de Lula) Fernando Collor de Mello
1945: O Ditador Getúlio Vargas divide o mesmo palanque com o Cavaleiro da Esperança e líder do PCB Luiz Carlos Prestes, que acabara de sair da prisão. Dez anos antes, Prestes liderou uma revolta armada para derrubar Vargas. A primeira esposa de Prestes, Olga Benario, foi entregue por Vargas à Alemanha nazista, onde morreu num campo de concentração.
1939: O ditador comunista Josef Stalin aperta a mão do Ministro das Relações Exteriores da Alemanha nazista, Joachim von Ribbentrop, selando a aliança (pacto de não-agressão) entre a URSS e a Besta Fascista. Esse pacto, que dividiu a Polônia e os países do Báltico, foi o deflagrador da Segunda Guerra Mundial.
 CONCLUSÃO: HORRORIZADOS, SIM. MAS, SURPRESOS?