Fiquei muito envergonhado com a cataclísmica derrota do Brasil frente à Alemanha na semifinal da Copa do Mundo, mas confesso que não me surpreendeu tanto. De um tempo para cá, a famosa seleção Canarinho se parecia cada vez menos com o que havia sido a mítica esquadra brasileira que deslumbrou a minha juventude, e essa impressão se confirmou para mim em suas primeiras apresentações neste campeonato mundial, onde a equipe brasileira ofereceu uma pobre figura, com esforços desesperados para não ser o que foi no passado, mas para jogar um futebol de fria eficiência, à maneira europeia.
Este é um blog assumidamente do contra. Contra a burrice, a acomodação, o conformismo, o infantilismo, a ingenuidade, a abobalhação e a estupidez que ameaçam tomar conta do País e do Mundo. Seja livre. Seja do contra. - "A ingenuidade é uma forma de insanidade" (Graham Greene)
terça-feira, julho 15, 2014
A MÁSCARA DO GIGANTE
Fiquei muito envergonhado com a cataclísmica derrota do Brasil frente à Alemanha na semifinal da Copa do Mundo, mas confesso que não me surpreendeu tanto. De um tempo para cá, a famosa seleção Canarinho se parecia cada vez menos com o que havia sido a mítica esquadra brasileira que deslumbrou a minha juventude, e essa impressão se confirmou para mim em suas primeiras apresentações neste campeonato mundial, onde a equipe brasileira ofereceu uma pobre figura, com esforços desesperados para não ser o que foi no passado, mas para jogar um futebol de fria eficiência, à maneira europeia.
sábado, março 09, 2013
10 MOTIVOS POR QUE HUGO CHÁVEZ NÃO VAI DEIXAR SAUDADES
Hugo Chávez, o ditador in the making da Venezuela, encaixa-se perfeitamente nesse figurino. Falecido após longa doença no dia 5 de março - mesma data do 60. aniversário da morte de Josef Stálin, talvez o tipo perfeito de ditador -, Chávez não vai deixar saudades, a não ser para sua corriola.
2 - Populismo desenfreado - Como todo tiranete que se preze, Chávez adotou o populismo com gosto, passando a adular as massas, sobretudo os mais pobres, ignorados por sucessivos governos oligárquicos. Desse modo, usou e abusou dos recursos públicos, garantidos pela renda do petróleo, para financiar projetos assistencialistas, as chamadas misiones, transformadas no carro-chefe de seu governo demagógico e paternalista (e que muitos vêem como seu "legado positivo").
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5 - Violência contra opositores - Em um regime como o chavista não poderia faltar o elemento da violência contra os que discordam do governo. Com a diferença de que, nesse aspecto, o chavismo resolveu inovar. Em vez de fuzilamentos, como em Cuba, Chávez preferiu terceirizar a repressão, entregando-a a milícias armadas pelo regime, inspiradas nos CDRs (Comitês de Defesa da Revolução) cubanos. Essas milícias, ou "círculos bolivarianos" intensificaram sua ação principalmente após o controverso "golpe" de abril de 2002, no qual Chávez foi temporariamente afastado (ou renunciou, até hoje não se sabe) depois do massacre de 15 manifestantes oposicionistas que participavam de uma marcha contra Chávez em Caracas. Desde então, a intimidação dos adversários políticos do chavismo, de forma ostensiva, tem sido comum na Venezuela, assim como começa a virar lugar-comum em outros países da região.
6 - Aumento do crime e da corrupção - Resultante diretamente dos fatores acima, o crime e a corrupção tornaram-se fora de controle na Venezuela do coronel Chávez. Hoje, o país é o mais violento da América do Sul, com uma taxa de homicídios per capita superior a qualquer outro da região. Mais que isso, a Venezuela tornou-se, sob o chavismo, um paraíso do tráfico de drogas, convertendo-se num importante corredor de escoamento da cocaína proveniente da Colômbia para os EUA e a Europa. A isso soma-se a corrupção generalizada nos altos escalões governamentais, com o surgimento de uma burguesia bolivariana, tão entusiasta do "socialismo do século XXI" quanto rapace: nos últimos anos, a Venezuela tornou-se um dos maiores mercados consumidores mundiais de carros de luxo e de uísque, e a "revolução bolivariana" passou a ser conhecida popularmente como robolución. Sob Chávez, a Venezuela deixou de ser uma democracia corrompida para se tornar uma proto-ditadura corrupta.
7 - Apoio ao narcoterrismo - Se o regime chavista fosse somente corrupto e leniente com a violência, já seria um escândalo de grandes proporções. Mas Chávez foi além, e transformou a Venezuela num valhacouto de narcotraficantes e terroristas, apoiando abertamente as FARC colombianas, a quem classificou como uma "força beligerante". Em 2004, o "chanceler" das FARC, Rodrigo Granda, foi capturado em pleno centro de Caracas, onde vivia tranquilamente sem ser importunado pelo governo local, e entregue às autoridades colombianas. Chávez, em vez de reconhecer o absurdo de um chefe terrorista abrigado em seu país, ameaçou uma guerra com a Colômbia, ameaça que repetiu em 2008, quando Bogotá matou numa operação de guerra o número dois das FARC, Raúl Reyes, em cujo laptop foram encontradas provas incriminadoras das ligações dos narcoterroristas colombianos com o governo venezuelano (e também brasileiro, o que foi abafado). Pouco depois, descobriu-se que as FARC mantêm campos de treinamento em território venezuelano, e caixas de mísseis anti-tanque AT-4 pertencentes ao exército da Venezuela foram descobertas nos arsenais dos terroristas colombianos. A cada denúncia, Chávez respondeu sempre da mesma maneira: com ameaças de guerra e declarações de apoio às FARC. Foi também no seu governo que se descobriram planos do ETA basco juntamente com militantes chavistas de assassinar membros do governo espanhol, denúncia esta que, uma vez feita, simplesmente sumiu do noticiário.
Outros regimes tirânicos que contaram ou contam com o apoio camarada de Caracas são o do finado ditador líbio Muamar Kadafi, a ditadura teocrática iraniana do antissemita, patrocinador do terrorismo, negador do Holocausto e louco nuclear Mahmoud Ahmadinejad, o regime assassino sírio de Bashar al-Assad e a Bielorússia do último ditador da Europa, Alexander Lukashenko. Todos eles (com a exceção, claro, de Kadafi) mandaram representantes, ou estiveram presentes, bastante emocionados, nas exéquias do coronel em Caracas. Chávez também assinou acordos militares e buscou uma aliança estratégica com a Rússia de Vladimir Putin e com a China dos burocratas comunistas, novamente com o objetivo de enfrentar o "imperialismo ianque".
Em todos esses movimentos, Chávez contou com o apoio e a cumplicidade dos companheiros do Foro de São Paulo, criado por Lula e por Fidel Castro em 1990 para "restaurar na América Latina o que se perdeu no Leste Europeu". Tentando emular seu ídolo Bolívar, o coronel igualou-se a Fidel Castro, que apoiou diversos movimentos terroristas na América Latina nos anos 60, tentando igualmente "exportar" sua "revolução". Só conseguiu, na verdade, equiparar-se a um Napoleão de hospício com sonhos grandiloquentes.
A todos esses fatos poderíamos acrescentar, ainda, a desmoralização do Mercosul, transformado num palanque político para Chávez e suas diatribes antiamericanas, de um nível capaz de corar de vergonha até um militante da UNE. Ou a redução da política a um circo (literalmente), uma palhaçada comandada por um bufão que fez do próprio histrionismo uma forma de se comunicar com as massas... A lista seria interminável.
Resta, porém, um alento: por suas próprias características, regimes autoritários personalistas, como o de Chávez, quase sempre chegam ao fim com a morte de seus líderes. Desaparecido o chefe, o guia genial e iluminado, simplesmente surge um grande vazio, pois em sua volta não floresce mais do que a sabujice e a mediocridade. Este parece ser o destino do chavismo: ser engolido por sua própria vacuidade ideológica.
Enfim, o legado de Chávez é uma prova de que o populismo não somente destrói as instituições; ele também emburrece e infantiliza. Chávez já vai tarde. Espero somente que a democracia retorne à Venezuela, e que não se cumpra o vaticínio do próprio Bolívar: “Lutar pela liberdade na América Latina é o mesmo que arar no mar".
domingo, julho 29, 2012
UMA CONSPIRAÇÃO A CÉU ABERTO - E A MAIOR OPERAÇÃO-ABAFA DA HISTÓRIA DO BRASIL
No vídeo, o Molusco Apedeuta, agora sem barba e com a voz rouca por causa da doença, envia uma mensagem de solidariedade aos "companheiros do Foro de São Paulo", que realizava então uma renião em Caracas, Venezuela, no começo de julho. Praticamente não saiu uma linha sequer, não se falou absolutamente nada sobre o assunto, na imprensa brasileira. Mas Lula dá o serviço. Eis o que ele diz, com a cara mais lavada do mundo:
- Em primeiro lugar, ele lembra que, em 1990, quando o Foro foi criado (para, lembremos, restabelecer na América Latina o que se acabara de "perder" no Leste Europeu - ou seja: o comunismo), a esquerda estava no poder em apenas um país na América Latina - Cuba - e que, desde então, "governamos" - o "nós" inclui, obviamente, quem está hoje no poder na ilha caribenha - vários países do continente;
- Afirma - e nisso está certo - que o Foro tem mudado radicalmente a face do continente, e que mesmo onde os partidos do Foro são oposição, eles têm uma influência crescente em seus países (o que também é verdade, infelizmente);
- Com a mesma desfaçatez com que nega, até hoje, a existência do mensalão, que está (finalmente!) para ser julgado no STF, repete mentiras deslavadas, afirmando que, graças ao Foro, os países por ele governados passam por uma fase de grande "crescimento econômico" - os números não mostram nada disso - e que "somos uma referência internacional de alternativa de sucesso ao neoliberalismo". Alternativa? De sucesso? Ao "neoliberalismo"?;
- Elogia as "conquistas extraordinárias" do governo populista e autoritário de Hugo Chávez na Venezuela, que vem arrastando o país para o caos econômico e social, dizendo que nunca as classes populares daquele país foram tratadas "com tanto respeito, carinho e dignidade" (sic);
- Lamenta que Honduras e Paraguai, em que governos populistas e irresponsáveis foram destituídos de forma constitucional, tenham resistido às tentativas de Chávez de intervir nos assuntos internos para aniquilar as instituições. Lula não acha que Honduras e Paraguai sejam democracias. Democracia, para ele, é o que existe em Cuba e na Venezuela;
- Prosseguindo no desfile de cretinices, Lula fala ainda na existência de "colônias" na região, citando as Malvinas, cujos habitantes britânicos Cristina Kirchner quer porque quer converter em argentinos;
- Termina pedindo votos para seu companheiro Hugo Chávez - haverá eleições presidenciais na Venezuela em 7 de outubro -, dizendo "tua vitória será nossa vitória", no melhor estilo eternizado pelo deputado Cândido Vacarezza - aquele do "você é nosso, nós somos teu (sic)", lembram?.
Durante anos, o Foro de São Paulo foi um tabu na imprensa brasileira. Somente o Olavo de Carvalho falava do tema. Negava-se até mesmo a existência do Foro - falar sobre ele era coisa de alucinados e de teóricos da conspiração que viam comunistas em cada esquina etc. Somente em 2005, 15 anos depois da criação do Foro - isso mesmo: 15 anos depois! -, é que parte da imprensa brasileira, com a VEJA à frente, "descobriu" que a coisa existia de fato, e não era uma fantasia de mentes delirantes. Mesmo assim, jornalistas companheiros acharam um jeito de botar panos quentes e evitar que a história crescesse: o Foro existia, mas era apenas um convescote sem consequências, uma simples reunião de amigos e nada mais, sem nenhuma influência na realidade dos países da região - e isso apesar de farta documentação, que inclui resoluções (alguém já viu uma reunião de amigos com resoluções?). Enfim, uma coisa assim, sem importância (deve ter sido por isso que, assim que o assunto veio à baila, as atas do Foro sumiram do site oficial da Presidência da República). Agora essa teoria é desmentida, de forma acachapante, por ninguém menos do que um dos criadores do Foro, que faz questão de mostrar, até vangloriando-se, que a organização mudou e vem mudando radicalmente - para pior - a realidade política da América Latina.
Um fato que vale a pena lembrar: quem até um dia desses participava ativamente do Foro de São Paulo, além de partidos como PT e PCdoB e da ditadura comunista cubana dos irmãos Castro, sem falar em governos "progressistas" como os de Hugo Chávez, Evo Morales e Rafael Correa, eram as FARC, os narcoterroristas colombianos. Desnecessário dizer que, assim que a VEJA mencionou pela primeira vez a existência do Foro, não faltou quem se apressasse a "esclarecer" que as FARC dele não mais faziam parte e que isso era coisa do passado etc. e tal (isso depois de terem negado, durante uma década e meia, que o Foro existia). Só esqueceram de mencionar que tal organização narcoterrorista jamais foi expulsa, tendo-se retirado discretamente assim que se tornou impossível esconder a notícia da existência do Foro - e da vinculação das FARC com o PT. Vinculação que a descoberta dos arquivos do computador pessoal do número dois das FARC, Raúl Reyes, morto no Equador em 2008, tornou mais difícil esconder - outro assunto que estranhamente continua ignorado na grande imprensa nacional. Alguma relação com o fato de o governo brasileiro, pela voz de Marco Aurélio Garcia (ex-presidente do Foro e habitué de suas reuniões), declarar-se "neutro" em relação às FARC, colocando os narcobandoleiros, portanto, no mesmo nível de legitimidade do governo colombiano democraticamente constituído? Tirem suas próprias conclusões.
Em qualquer país sério, os fatos acima seriam suficientes para levar figuras como Lula às barras de um tribunal ou, pelo menos, a ser intimado a dar explicações numa CPI. Por muito menos do que está no vídeo, seria algemado e expulso da vida política para sempre. Mas estamos no Brasil, onde não há oposição. Por estas bandas, simplesmente proclamar um fato, juntar lé com cré, é visto como a pior das heresias. Daí vídeos asquerosos como este não causarem escândalo, sequer um comentário.
Nunca na História do universo uma conspiração internacional, envolvendo inclusive terroristas e narcotraficantes, para tomar o poder e destruir as instituições democráticas em um continente inteiro esteve mais bem documentada. E nunca - nunca mesmo - houve uma operação tão abrangente para ocultá-la dos olhos do público. E com tanto êxito. O que leva à seguinte conclusão: não basta divulgar a verdade; é preciso encontrar pessoas dispostas a ouvi-la. Se estiverem narcotizadas por um estupefaciente mental chamado lulopetismo, continuarão cegas, surdas e mudas ao que se passa em sua volta. Os brasileiros, esses distraídos, estão anestesiados. Ou corrompidos.
Claro, certamente haverá quem procure diminuir o que está no vídeo, dizendo que ele não "prova" nada, no máximo que Lula e o PT se movem, em termos ideológicos, no terreno da ambigüidade e da duplicidade, o que não é nenhuma novidade etc. etc. Nesse caso, seria forçoso admitir que Lula e o PT têm uma agenda secreta. Com o detalhe de que nem secreta ela é.
Assistam e comprovem:
quinta-feira, junho 28, 2012
GOLPE? QUE GOLPE?
Em junho de 2009, o então presidente de Honduras, Manuel Zelaya, tentou usar o Exército para impor um referendo ilegal e se eternizar no poder. Foi afastado da presidência por decisão do Judiciário e do Legislativo. Falaram em golpe militar. Logo Zelaya, que fora expulso do país, materializou-se como que por encanto na embaixada do Brasil em Tegucigalpa, juntamente com uma multidão de partidários seus, que transformaram o lugar num quartel-general de onde passaram a pregar a derrubada do governo e o retorno de Zelaya ao poder. O Brasil, juntamente com vários outros países e grande parte da imprensa, tomou Zelaya como o presidente legítimo, e os que o tinham derrubado como golpistas.
Escrevi bastante neste blog sobre o assunto. Por causa disso, apanhei um bocado. Enquanto quase todos em minha volta repetiam a toada de que Zelaya era uma espécie de Salvador Allende, derrubado na calada da noite por uma bando de gorillas, quase fui queimado na fogueira por desafinar do coro e afirmar o óbvio, baseado não numa opinião, mas num fato: não tinha havido golpe coisíssima nenhuma. Ou melhor: houve, sim, uma tentativa de golpe – por parte de Zelaya. Esta foi (felizmente) abortada pelas Forças Armadas, que agiram completamente dentro da lei, seguindo determinação da Suprema Corte e do Congresso, conforme determina a Constituição do pais, que pune com a perda imediata do cargo quem tentar o que Zelaya fez (Artigo 239). O problema tinha sido a expulsão de Zelaya, que foi irregular (mas não configurou "golpe"). Expliquei isso em vários textos, de forma paciente, didaticamente. Só faltei desenhar: golpista é Zelaya e seus patrocinadores bolivarianos, como Hugo Chávez e Daniel Ortega, não os que o depuseram. (Golpista e maluco: o sujeito mandou cobrir as janelas da embaixada brasileira com papel-alumínio para se precaver de "raios" emitidos por uma conspiração sionista...)
Exatamente três anos depois, eis que a situação se repete no vizinho Paraguai. Mais uma vez, um candidato a caudilho ligado ao Foro de São Paulo perde o cargo por causa de suas estripulias. Mais uma vez, a lei foi cumprida. E mais uma vez o Itamaraty rói corda dos outros.
O impeachment do ex-padre garanhão Fernando Lugo seguiu à risca o que diz a lei do país, que pune com destituição o governante que revelar mau desempenho das funções (Artigo 255 da Constituição). Lugo perdeu o cargo após um choque violento entre sem-terra e policiais, nos quais 17 pessoas morreram, e que demonstrou a total incapacidade do governo de manter a ordem. A associação de Lugo com os sem-terra paraguaios, os quais, assim como seus congêneres além-fronteira, costumam invadir e depredar propriedades de brasileiros (os chamados "brasiguaios"), é tão notória quanto seu instinto reprodutor. Na lista de acusações contra ele, está a de usar um quartel do Exército para fazer um comício dos sem-terra. Está claro que ele extrapolou suas funções.
Assim como aconteceu em Honduras, a legalidade foi respeitada. Nenhum tanque saiu às ruas. Nenhum jornal foi colocado sob censura. Ninguém foi preso. Os direitos fundamentais da pessoa humana estão plenamente em vigor. As instituições democráticas funcionam normalmente. Golpe? Que golpe?
Fala-se em "rito sumário", e que Lugo não teria tido o direito de defesa respeitado etc. Bobagem. Lugo foi destituído por ampla maioria nas duas casas do Congresso, num ato soberano do Estado paraguaio. O mesmo aconteceu no Brasil em 1992 com Fernando Collor de Mello. Foi golpe?
É claro que toda essa gritaria dos cumpinchas de Lugo, como Cristina Kirchner, Evo Morales e Hugo Chávez, não tem nada a ver com defesa da legalidade, tal como ocorreu no caso de Honduras. Muito pelo contrário. O que essa patota teme é que o que aconteceu no Paraguai se repita em casa. Kirchner está em plena cruzada para calar a imprensa argentina. Morales está enrolado em acusações de todo tipo de abuso de poder. Nem falo em Chavez, porque aí já seria covardia. Acusam outros de golpistas enquanto preparam o golpe contra a democracia em seus próprios países. E são esses mesmos “democratas” que agora falam em “golpe” no Paraguai!
E ainda há quem pense que decisões como a do Itamaraty, de condenar o “golpe” em Assunção, não seriam ideológicas, mas “pragmáticas”. Ainda que fosse, a mentira permanece. Fico pensando: se em vez de Lugo, o deposto fosse um presidente "de direita", algum desses personagens acima estaria dizendo que houve golpe? Alguém estaria falando em "rito sumário" e em “cerceamento do direito de defesa"? Será que o Mercosul, que tem uma cláusula democrática mas abriga em suas fileiras até a Venezuela, suspenderia o país? E Dilma Rousseff, será que ela se negaria a apertar a mão do novo presidente empossado constitucionalmente? "Pragmatismo", é? Sei...
Para ver como esse é um discurso vigarista: ao mesmo tempo em que fala em "pragmatismo", o governo brasileiro, seguindo as pegadas dos companheiros bolivarianos, derrete-se em rapapés por ditaduras como a dos Castro em Cuba, que já dura 53 anos sem dar o menor sinal de que vai acabar um dia, mas fala de “golpe” e “quebra da democracia” no Paraguai. Silencia vergonhosamente diante da falta de liberdade e da existência de presos políticos na ilha-prisão, mas remexe na cadeira diante da destituição legal de um presidente por mau desempenho de suas funções... O que dizer disso? Desfaçatez é pouco.
Se a queda de Lugo foi golpe, então o impeachment de Collor em 92 também foi. Lugo caiu porque assim determina a Constituição, que, queiram ou não os chávez, kirchners e dilmas da vida, é a lei do país e deve ser respeitada. Assim como em Honduras, estes apostaram no pior, esperando que milhares saíssem às ruas em defesa do reprodutor de batina, provocando assim, quem sabe, um banho de sangue. E, assim como em Honduras, foram barrados pela legalidade. Se houve golpe, foi um legítimo golpe paraguaio.
sexta-feira, setembro 09, 2011
UM ANO DEPOIS, O DESMONTE DE UMA FARSA

quinta-feira, junho 16, 2011
O ERRO DE VARGAS LLOSA (OU: REFLEXÕES SOBRE UM TABU)

Não acreditei quando me disseram. Creio mesmo que, se não tivesse ouvido a informação de uma fonte fidedigna, merecedora de toda confiança, eu teria duvidado da sanidade mental de quem me deu a notícia. Acharia mesmo que a coisa não passava de calúnia ou maledicência. Mas era verdade, por mais incrível que fosse.
O escritor Mario Vargas Llosa, Prêmio Nobel de Literatura do ano passado (o Comitê do Nobel, depois de várias derrapadas nos últimos tempos, finalmente parece que resolveu se redimir), apoiou abertamente, nas eleições presidenciais peruanas, o candidato vencedor, Ollanta Humala.
Aí você me pergunta: quem é Ollanta Humala?
Pense num milico ultra-nacionalista, na pior tradição de caudilhismo destrambelhado da América Latina, com um discurso que beira o fascismo (ou quando não é o próprio, transplantado para os trópicos). Um Hugo Chávez dos Andes, com uma biografia bem parecida - foi tenente-coronel do Exército, e inclusive já tentou um golpe de Estado apoiado pelo coronel venezuelano. Assim como aquele, não conseguiu chegar ao poder na marra, então decidiu fazê-lo pelas urnas, dizendo-se um democrata. (O golpismo, aliás, está na família: seu irmão, Antauro, está preso por ter liderado a quartelada, na qual morreram quatro soldados em 2005.)
Agora imagine o sujeito acima, não tendo conseguido ser eleito na primeira vez, apresentando-se agora aos eleitores, graças aos feitiços de um bando de marqueteiros petistas contratados, numa embalagem "light", "soft", como um político "moderado", negando de pés juntos qualquer vinculação com o chavismo e se dizendo um ardoroso convertido à democracia, ao livre mercado e ao respeito à propriedade privada.
Parece familiar? Tem cheiro, sabor e forma de farsa? E é mesmo.
Você deve estar se perguntando: o que levou Mario Vargas Llosa, um intelectual respeitado, dono de impecáveis credenciais liberais - defendia o liberalismo quando isso ainda era um anátema na América Latina, e chegou a ser agredido pelos esbirros de Chávez na Venezuela algum tempo atrás -, a dar seu apoio a esse aleijão ideológico em roupagem "Humalinha paz e amor" (ou Hugo Chávez antes de cair a máscara)?
A resposta está na adversária de Humala - e na falta total de senso de proporções. Keiko Fujimori, a candidata derrotada, é filha de Alberto Fujimori, o ex-presidente peruano que, descobru-se depois, nem peruano era (nasceu no Japão).
Fujimori, o pai, foi, como todos sabem, um desastre. Seu governo, apesar de algumas conquistas importantes (a derrota do terrorismo comunista, principalmente), afundou em um festival de abritrariedades e de escândalos de corrupção (algo, aliás, que o aproxima de outros governos vizinhos). Com Keiko não será diferente, deve ter pensado o autor de Pantaleão e as Visitadoras. Ademais, Fujimori o derrotou nas eleições presidenciais de 1990 (pelo que os amantes da Literatura deveriam ser-lhe gratos, diga-se de passagem).
Pois bem. Mesmo com esses motivos pessoais para detestar Fujimori, a decisão de Vargas Llosa de apoiar Humala é incompreensível. Mais que isso: é de uma idiotice sem tamanho.
Fujimori é corrupto, ladrão e assassino, mas está preso, cumprindo pena. Além do mais, sua criminalidade jamais ultrapassou os limites do Peru: ele jamais esteve vinculado a um esquema criminoso continental como o Foro de São Paulo. Já Humala não só é um golpista, como é cria do Foro, assim como Evo Morales, Rafael Correa, Daniel Ortega e Manuel Zelaya. Tanto que Hugo Chávez só o chama de "bom soldado". E que membros dessa organização revolucionária estão atrás das grades? (Pelo contrário, com a vitória de Humala, mais um deles está no poder num país latino-americano.)
Recorrendo a uma metáfora zoológica, tomada emprestada do filósofo Olavo de Carvalho - talvez o único filósofo de verdade que sobrou no Brasil; por isso ele é tão odiado -: votar em Humala para não ter de votar na filha de Fujimori é como escolher ser feito em pedaços por um tigre para não ser mordido por uma raposa. Se eleita, Keiko Fujimori seria uma raposa tomando conta do galinheiro. Ollanta Humala é um tigre pastoreando um rebanho de ovelhas. Um tigre financiado e patrocinado por outros tigres, tão predadores quanto. E um tigre não deixa de ser tigre porque tem as unhas pintadas, como escreveu Olavo.
Alvaro, filho de Vargas Llosa, também escritor, cunhou a expressão "esquerda vegetariana" para se referir a esquerdistas "moderados", em contraposição aos esquerdistas "carnívoros" ou radicais como Hugo Chávez e Evo Morales. Trata-se de uma tremenda bobagem. Na categoria de "vegetarianos" estariam políticos como Humala e Lula, um sujeito que enganou a todos durante décadas, e que é amigo pessoal das FARC e de Fidel Castro, tendo sido co-fundador, com este último, do Foro de São Paulo. Como já escrevi várias vezes, essa estória de esquerda "vegetariana" não passa de conversa mole para boi dormir. Na verdade, não existe esquerda vegetariana. Existe esquerda herbívora (no sentido de ruminante).
Toda a idéia das "duas esquerdas", tão cara a tantos intelectuais esquerdistas latino-americanos, tem por único e exclusivo objetivo a salvação da esquerda, nada mais que isso. O que se quer é evitar, assim, o surgimento de uma direita séria e democrática. É isso, mais do que a ditadura cubana ou as fanfarronadas bolivarianas, o que mais escandaliza e o que mais causa horror a pessoas como Vargas Llosa, pai e filho.
Por que isso? Porque Vargas Llosa e seu filho, assim como muitos iguais a eles, são ex-comunistas (ou ex-esquerdistas), mas não são anticomunistas (nem anti-esquerdistas).
Sendo ex-comunistas, falta-lhes a coragem e a ousadia necessárias para dar o grande salto, declarando-se abertamente anticomunistas. E, como tal, sentem a necessidade, até mesmo psicológica, de se agarrarem ao cordão umbilical que os mantém presos ao útero esquerdista. Desse modo, podem criticar a esquerda (a "carnívora") sem parecerem "reacionários" ou "fascistas". Fazem, como Arnaldo Jabor em relação aos desmandos éticos do PT, uma crítica de esquerda ao bolivarianismo.
O exemplo de Mario Vargas Llosa ilustra à perfeição a persistência do talvez mais arraigado tabu de todos os tempos: o que os norte-americanos chamam de anti-anticomunismo. Consiste esse tabu na proibição de se declarar anticomunista, mediante a matização da esquerda, embora não se faça o mesmo com a direita, vista sempre como um bloco único, monolítico. Esse tabu é tão forte que se revela facilmente diante da escolha entre um esquerdista bolivariano travestido de democrata como Humala e uma picareta como Keiko Fujimori.
Basta um pequeno exercício para comprovar essa realidade. Existem milhares de ex-comunistas, que são vistos até com certa simpatia pelo mainstream. Todos conhecem pelo menos um. Mas quantas pessoas você conhece, prezado leitor, que, já tendo transitado um dia por algum partido ou organização comunista, declaram-se abertamente anticomunistas?
Fernando Gabeira, Dilma Rousseff, Antonio Palocci, José Dirceu - para citar os brasileiros - foram marxistas na juventude ou ligados, de uma forma ou de outra, à ideologia comunista. Quantos, porém, chegaram ao nível de um Arthur Koestler, um Vladimir Bukowski, um Raymond Aron, e se tornaram anticomunistas?
Ser ex-comunista (e nem precisa ser "ex"), no Brasil e na América Latina, continua a ter um certo charme, é algo considerado até mesmo sexy e aceitável. Mas, anticomunista? Ah, isso não... Dizer-se anticomunista (ou conservador) é declarar-se morto política e socialmente; é passar recibo de reacionário, de ultra-direitista, de intolerante, de anti-democrata e de anti-progressista. Curiosamente, não se diz o mesmo de quem se apresenta como antifascista. É permitido ser ex-comunista (ou mesmo comunista), mas não (nunca, jamais!) anticomunista. É a teoria do "totalitarismo favorito", tão brilhantemente analisada por Jean-François Revel.
Por não terem coragem de cruzar o Rubicão ideológico, muita gente contribui para manter acesa a ilusão comunistóide ou marxistóide, autoenganando-se com adjetivos eufemísticos como "moderado" ou "vegetariano". Em nome da conservação de uma antiga paixão ideológica de juventude, deixam-se cegar pela perda do senso de proporções. Nem um Prêmio Nobel como Vargas Llosa escapou dessa armadilha mental.
quarta-feira, junho 30, 2010
HONDURAS: UM ANO DE UMA FARSA GROTESCA

sábado, janeiro 02, 2010
HONDURAS: O QUE NÃO ACONTECEU

quinta-feira, dezembro 17, 2009
BRASIL DECLARA GUERRA A HONDURAS

Na manhã de 28 de janeiro de 2010, o presidente Lula acordou invocado, saiu da cama sem falar com Marisa Letícia, vestiu o mesmo terno da véspera e foi para o Planalto sem fazer a barba. Entrou no gabinete em silêncio, chamou aos berros o secretário Gilberto Carvalho, ordenou-lhe que lesse em voz alta o noticiário sobre a posse festiva do presidente Porfírio Lobo, ocorrida na manhã anterior, e perdeu a paciência com Honduras.
terça-feira, novembro 03, 2009
UM VERMELHO-E-PRETO COM UMA ZELAYSTA ACADÊMICA (OU: DEIXEM AS CONSTITUIÇÕES DOS OUTROS EM PAZ!)

Caiu em minhas mãos um artigo de autoria de Deisy Ventura, professora de Relações Internacionais na USP. Saiu na Folha de S. Paulo de hoje, com o título "Brasil, Honduras e a nossa política externa". Vocês verão que as idéias que ela coloca já foram discutidas à exaustão aqui. Verão também que os defensores do golpismo bolivariano vestem inúmeros disfarces. Inclusive o de professor de Relações Internacionais da USP.
Deisy Ventura, Deisy Ventura... Esse nome não me é estranho. Onde foi que eu o vi antes? Já sei: vasculhando meus posts mais antigos, descobri um, de 19/11/2008, quase um ano atrás, em que eu rebato, parágrafo a parágrafo, outro texto da doutora Deisy, publicado na mesma Folha, dessa vez sobre a questão da luta armada e a tentativa patética de Tarso Genro et caterva de mudar a Lei de Anistia para punir apenas um lado dos "anos de chumbo"(http://gustavo-livrexpressao.blogspot.com/2008/11/eles-no-desistem-mais-falcias-dos.html). Como se vê, a doutora Deisy é reincidente. Vamos ao texto dela em vermelho. Meus comentários vão em preto.
Nada a comentar. Adiante.
Digamos que Zelaya, ao retornar clandestinamente a Honduras com o apoio explícito de Daniel Ortega e Hugo Chávez, e implícito de Lula, tenha arriscado a vida. O que isso quer dizer? Absolutamente nada!!! Ladrões de banco e sequestradores também arriscam seus pescoços, e isso não torna legal o que fazem. Ou será que torna?