quinta-feira, abril 29, 2010

A UNIÃO DA MENTIRA COM A SONSICE


Reinaldo Azevedo, mais uma vez, faz picadinho de mais uma tentativa de empulhação dos petralhas. Vejam o que ele escreveu em seu blog sobre a ode que o mistificador Michael Moore escreveu na Time sobre o mito Lula.

E já que é de Michael Moore que estamos falando, é interessante lembrar que sua referência, no texto, à estória - com "e" mesmo - da morte da primeira mulher do Demiurgo tem muito a ver com seu último filme, "Sicko" (não me lembro o título que recebeu no Brasil). Nele, o delinquente político número um dos EUA cai de pau em cima do sistema de saúde pública norte-americano, segundo ele um dos piores, senão o pior do mundo. Em certo momento, para provar que outros países dão muito mais importância à saúde pública do que a Terra de Tio Sam, ele leva um grupo de americanos para se tratar... em Cuba!!! Os turistas, claro, recebem tratamento VIP na ilha-prisão dos Castro. O que Michael Moore não responde é: e se fossem cubanos comuns (nem falo dos dissidentes), teriam tido o mesmo tratamento cinco-estrelas?

É esse tipo de bandoleiro ideológico que assina textos laudatórios a Lula da Silva. E há quem aplauda os dois!

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LULA E MICHAEL MOORE JUNTOS: A PRIMEIRA VÍTIMA É A VERDADE!!!

O perfil biográfico de Lula, QUE NÃO É O PRIMEIRO NA LISTA DA TIME, mas um dos 25 na categoria “Líderes”, é assinado por um especialista em mentiras: Michael Moore. E o que faz um especialista em mentiras? Mente, ora essa!

Convenham: um ex-operário que chega à Presidência tem certamente méritos. Já seria uma biografia bastante incomum. Mas isso não basta. Segundo aquele pudim de fraudes , a primeira mulher de Lula, Maria de Lurdes, morreu de parto, no oitavo mês de gravidez, por falta de assistência médica. Ela morreu no parto, sim. Mas estava sob cuidados médicos, e não há a menor evidência de que tenha sido por negligência. Ocorre que Moore repete o que o próprio petista disse a Denise Paraná no livro que virou o mico do cinema brasileiro: “Lula, O Filho do Brasil”:“Ninguém me tira da cabeça que ela morreu por negligência da rede hospitalar do Brasil, por problema de relaxamento médico. Como ela, morrem milhões sem atendimento neste país”.Lula também já afirmou que os médicos lhe arrancaram o dedo (?) porque acharam que “esse baianinho não precisa dele”. Conhecemos a facilidade com que este senhor ataca a reputação alheia.

Segundo Moore, a morte da mulher por falta de assistência médica foi o que empurrou Lula para a política. Moore está tentando falar do programa de Saúde do presidente Barack Obama nesse caso. Lula é mero pretexto. Até porque, em julho de 1979, o então sindicalista deixou claro em entrevista à revista Playboy o quanto a morte da mulher mexeu com a sua consciência de classe. Nas suas palavras:“Eu gostava muito da Maria de Lurdes. Vivi com ela só dois anos, de 1969 a 1971. Ela morreu de parto, e eu fiquei muito chocado. Perdi a vontade de tudo. Fiquei UNS SEIS MESES bem fodido na vida. Então percebi que estava vivo, não estava morto, não, porra! Aí comecei a cair na gandaia. Meu Deus do céu! Antes de conhecer a Marisa, FORAM TRÊS ANOS DE GANDAIA. Eu queria sair com mulher de segunda a domingo.”

No estilo delinqüente de sempre, adverte o estelionatário intelectual mais influente dos Estados Unidos: “Há aqui uma lição para os bilionários do mundo: permitam que as pessoas tenham uma boa assistência médica, e isso causará menos problemas para vocês”. Huuummm… Moore abre o seu texto imaginando os ricaços brasileiros muito nervosos em seus jatinhos com a iminência da vitória de Lula em 2002. Fato: Lula chamou um dos poucos bilionários brasileiros para ser seu vice: José Alencar!

Segundo Moore, o Fome Zero, que não existe mais, é o maior programa social do mundo. Ele certamente se refere ao Bolsa Família, rebatizado e, de fato, ampliado por Lula, mas não criado por ele. Na oposição, o agora presidente acusava o programa do antecessor de ser caça-votos. Depois de um ano de desastres do seu novidadeiro Fome Zero, desistiu e retomou a herança bendita.

Quando Michael Moore se junta a Lula, não é estranho que a primeira vítima seja a verdade. Quanto à mentira sobre ser o petista “o” mais influente da Time, bem, essa já conta com a ajuda do jornalismo mesmo.
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A CAIPIRICE DOS MEGALONANICOS


Primeiro foi a gritaria dos petralhas, repetida pela imprensa com eles mancomunada: “Lula é o líder mais influente do mundo, segundo a Time”, disseram os mais afoitos, felizes da vida pelo nome do Chefe ter sido lembrado numa revista do istranjêru. Depois, questão de horas, baixaram um pouquinho a bola, quando viram que a lista dos “mais influentes” publicada todos os anos pela revista norte-americana, que neste ano apresenta Luiz Inácio como o primeiro da lista, não segue um ranking, e seu nome só foi colocado no topo por questões editoriais. Enfim, ele não é “o” mais influente, mas “um dos”, segundo a revista, juntamente com figuras como Sarah Palin, Glenn Beck e Nancy Pelosi. Agora, a brochada final: adivinhem quem escreveu o panegírico a Lula na Time? Michael Moore, o cineasta...

Aliás, vale lembrar: “O Cara” é realmente muito influente, o mais influente entre os influentes do mundo. Tão influente que não consegue emplacar seu golpista de estimação numa grande potência como Honduras. Ou frear as maluquices totalitárias do coronel Hugo Chávez. Ou convencer seus amigos Fidel e Raúl Castro a libertarem presos políticos, que ele comparou a bandidos. Um verdadeiro peso-pesado da política mundial. E um gigante moral.

Para que não fiquem dúvidas sobre a grandeza do Guia Genial das Galáxias, cantado em prosa agora pelo mestre do gênero documentário-ficção norte-americano, resolvi traduzir o artigo de Moore na Time. O texto dele vai em vermelho. Meus comentários vêm em seguida.

Quando os brasileiros elegeram Luiz Inácio Lula da Silva Presidente pela primeira vez em 2002, os barões ladrões do país verificaram nervosamente os tanques de gasolina de seus jatos particulares. Eles tinham transformado o Brasil em um dos lugares mais desiguais da Terra, e agora parecia que eles teriam o troco.
De que “barões ladrões” (robber barons) Michael Moore estaria falando? Certamente não os ultra-bilionários banqueiros que encheram as burras graças ao apoio generoso do governo nos tempos de Lula. Seriam os representantes daquela nova classe social, composta de companheiros de partido e da elite sindical, que se apossaram de parcelas significativas do Estado, e que passaram a ser conhecidos como “burguesia do capital alheio”? Não, acho difícil. O mais provável é que Michael Moore esteja aqui apenas exercitando um de seus esportes favoritos: a denúncia demagógica, do tipo “luta de classes”.

Lula, 64 anos, era um genuíno filho da classe trabalhadora da América Latina – de fato, um membro fundador do Partido dos Trabalhadores – que já tinha sido encarcerado por liderar uma greve.
Sim, um genuíno filho da classe trabalhadora – assim como Stálin também era. Ou, para falar de alguém de que Moore certamente já ouviu falar, Nixon. E sim, ele é membro fundador do PT – foi bom Moore ter nos lembrado disso.

A propósito: a tal prisão de Lula, quando ele liderava uma greve, ocorreu em 1980, quando o país há muito já deixara, na prática, de ser uma ditadura, sendo, no máximo, uma ditabranda. Ele ficou 30 dias preso, numa sala da Polícia Federal em São Paulo, sem que lhe tocassem num fio de barba. Num surto de picaretagem, chegou a aderir, contra a vontade, a uma "greve de fome", na verdade um jejum de três dias, que ele suportou, galhardamente, comendo balas Paulistinha que ele havia escondido debaixo do travesseiro. Muito diferente de Orlando Zapata Tamayo, o preso de consciência cubano que definhou até morrer, após 86 dias de greve de fome contra a ditadura dos irmãos Castro em Cuba, e que Lula, em sua infinita sensibilidade e sabedoria, culpou pela própria morte... Esse é Lula, o verdadeiro, não o da fábula contada por Michael Moore.

Quando Lula finalmente ganhou a Presidência, depois de três tentativas fracassadas, ele era uma figura familiar na vida nacional brasileira. Mas o que o levou à política em primeiro lugar? Foi seu conhecimento pessoal de quão duro muitos brasileiros devem trabalhar apenas para sobreviver? Foi ter sido forçado a abandonar a escola depois da 4ª série primária para sustentar a família? Foi ter trabalhado como engraxate? Foi ter perdido um dedo num acidente de fábrica?

Não, foi quando, com a idade de 25 anos, ele viu sua esposa Maria morrer no oitavo mês de gravidez, juntamente com seu filho, porque ele não poderia proporcionar tratamento médico decente.
Hummm... Não sei se Michael Moore assistiu à patacoada hagiográfica Lula, o filho do Brasil, o mais caro e estrondoso fracasso de bilheteria da história do cinema brasileiro. Mas o que ele diz aqui parece ter sido tirado diretamente do roteiro do filme dos Barreto. Segundo diz Moore, Lula teria entrado na política por puro altruísmo, depois de ter perdido a primeira esposa e o bebê, para que todos pudessem ter um “tratamento médico decente” e não passassem pelo mesmo sofrimento. Tocante, não? Seria, se não fosse por alguns detalhes históricos, que Moore estranhamente se omite de citar: quando Lula tinha 25 anos, corria o ano de 1970 (ele nasceu em 1945) - ele entra para o sindicato em 1975. Para a política, mesmo, só entra em 1980, quando funda o PT. Nessa época, ele já estava casado pela segunda vez com uma “viúva jeitosinha”, como ele mesmo disse em entrevista. Nesse meio tempo, tentou se manter afastado da política, só se tornando Lula depois das greves do ABC paulista. Entrou para a política porque, como em tudo na sua vida, surgiu a oportunidade. Inclusive de subir na vida.

Há uma lição aqui para os bilionários do mundo: deixem as pessoas ter bom tratamento médico, e elas vão dar muito menos trabalho para vocês.
Confesso que achei esse parágrafo enigmático. O que MM quis dizer exatamente? Que os “bilionários” devem tratar bem as pessoas, com saúde gratuita e de qualidade, para que elas não se voltem contra eles depois? Mas Lula não é o queridinho dos bilionários branquelos de Davos? Admito que fiquei confuso... Quase tão confuso quanto depois que perdi duas horas assistindo a Fahrenheit 9/11.

E eis uma lição para o resto de nós: a grande ironia da Presidência de Lula – ele foi eleito para um segundo mandato em 2006 e vai exercer o poder até o final deste ano – é que mesmo quando ele tenta impelir o Brasil para o Primeiro Mundo com programas sociais governamentais como o Fome Zero, destinado a acabar com a fome, e com planos de melhorar a educação disponível para membros da classe trabalhadora do Brasil, os EUA parecem cada vez mais com o velho Terceiro Mundo a cada dia.

O que Lula quer para o Brasil é o que costumávamos chamar de Sonho Americano. Nós nos EUA, por contraste, onde os 1% mais ricos possuem mais riqueza financeira do que os 95% mais pobres juntos, estamos vivendo numa sociedade que está rapidamente se tornando parecida com a do Brasil.

MM não perde a chance de fazer sua demagogiazinha. Depois de torcer os fatos até não poder mais em filmes como Fahrenheit 911 – em que praticamente acusa os Bush pelos ataques de 11 de setembro –, ele agora aproveita para destilar seu discurso embolorado de “ricos contra pobres” (com ele, acionista da Halliburton, no papel de porta-voz dos “pobres”, claro...). E arrebata, com ares de quem achou o Messias esperado: “O que Lula quer para o Brasil é o que costumávamos chamar de Sonho Americano”. Mais uma vez: ou ele não sabe quem é Lula ou não tem a menor idéia do que seja o Sonho Americano. Se este significa vencer na vida pelos próprios méritos, sem politicagem nem demagogia, sem parcerias repulsivas, nem culto à própria ignorância, com sentido de ética e decência, com base no compromisso com a democracia dentro e fora de casa, então Lula pode ser qualquer coisa, menos um exemplo do Sonho Americano realizado. Ele é exemplo, sim, para uma legião de oportunistas e carreiristas da política, que a vêem como uma oportunidade de negócios. E para milhões de enganados e iludidos que babam em ver a foto de seu Guia e Líder nas páginas da Time.

Mas numa coisa pelo menos MM tem razão: os EUA estão a cada dia mais parecidos com um país de Terceiro Mundo como o Brasil. Principalmente depois que elegeram um presidente como Barack Obama, a versão afro-descendente do Filho de Dona Lindu.

Mais uma prova de que muita gente nos EUA, inclusive os que escrevem na Time, não tem a menor idéia de quem é Luiz Inácio: na lista dos “heróis”, publicada na mesma edição da revista, constam os nomes, entre outros, de Mir-Hossein Moussavi e de Zahra Rahnavadi, respectivamente o candidato derrotado nas eleições (fraudadas) do Irã no ano passado, vencidas (fraudulentamente) por Mahmoud Ahmadinejad, e uma importante ativista pelos direitos humanos no Irã. O que Lula tem a dizer dessas pessoas? Ele já disse, no ano passado, quando comparou os protestos pela fraude e a repressão no Irã a uma briga de torcidas de futebol. Desde então, Lula vem sendo o mais ardoroso aliado e defensor de Ahmadinejad e de seu programa nuclear secreto "para fins pacíficos". É, Michael Moore, você tem razão: o que Lula quer para o Brasil é mesmo o “sonho americano”. Com a diferença de que a capital dos EUA, agora, mudou-se para Teerã.

Não há limites para a caipirice dos megalonanicos, assim como não há limites para sua mitomania. Mas também, para quem já falsificou até foto de Dilma Rousseff em seu blog oficial, para que ela ficasse com a cara da atriz Norma Benguell nos anos 60, uma mentira a mais não faz diferença.

quarta-feira, abril 28, 2010

INDIVÍDUO, NÃO MANADA


A coisa mais chata que existe é o militante. Ou "militonto", como costumo dizer. Seja de que causa for - nacionalista, vermelho, negro, verde, gay, feminista -, o militante é, sempre, um chato. Um chato que não admite um mundo onde não existam chatos iguais a ele. Um chato incapaz de ter uma visão universal das coisas e que, por isso, insiste em reduzir tudo e todos a guetos e rótulos políticos. Um chato de galochas, o pior tipo de chato - aquele que não se contenta em ser chato sozinho, em guardar sua chatice para si.

Sou, por instinto, radicalmente contrário a reduzir o indivíduo - a coisa mais complexa do mundo, cheia de virtudes e defeitos - a grupos estanques, como se o sujeito, por ter esta ou aquela opção sexual ou gostar deste ou daquele tipo de comida, fosse obrigado, por esse motivo, a só se relacionar com quem tenha os mesmos gostos e opções, ou tentar converter o restante da humanidade às delícias de uma vida gay ou do vegetarianismo. Longe de mim esse cálice, como diria outro muito maior do que eu. Há quem diga, "tenho amigos gays", e encha o peito, posando de "moderno" e "tolerante". Não penso assim. Tenho amigos gays, e inclusive esquerdistas, e sou amigo deles porque são meus amigos, não porque são gays ou esquerdistas. Para mim, amizade não se confunde com gosto ou cor política. Sou contra todas as militâncias, inclusive - aliás, principalmente - a militância disfarçada, diluída num bom-mocismo de telenovela. Sou inclusive contra a militância dita liberal ou conservadora, supostamente pró-indivíduo. Sou um indivíduo, não um carregador de bandeira.

Por que estou dizendo isso? Porque, entre outras coisas de que já fui chamado por parte de quem estava do outro lado do debate, e que não entendeu nada, está o adjetivo infame, "militante". "Militante de direita", para não repetir, aqui, outras coisas que já me disseram quem acha que me conhece melhor do que eu mesmo. E isso porque falo mal do governo Lula e da ditadura dos irmãos Castro em Cuba, entre outras coisas. A "lógica", aqui, é a seguinte: "não é de esquerda? então só pode ser militante de direita!" E aí vem uma torrente de adjetivos carinhosos: "cruzado", "reacionário", "golpista", "agente da CIA", "lacaio de Wall Street" e assim por diante.

Não, bobão! Nada disso! Não sou "militante" de direita, pelo mesmo motivo pelo qual descobri, há uns quinze anos, que não sou militante de esquerda (ou militante de coisa nenhuma). Sou, aliás, o anti-militante por excelência. Descobri, a duras penas, que é a opinião do indivíduo, não a das multidões, a que verdadeiramente importa. Não me chamem para desfilar na rua empunhando uma bandeira ou vestindo a camisa de um partido. Sou um indivíduo, não parte da manada. Prefiro desafinar a fazer parte do coro. Remo contra a corrente. É precisamente esse o significado do nome que escolhi para este blog, "Do Contra". Entenderam?

Concordam comigo? Ótimo, maravilha. Não concordam? Bom do mesmo jeito. Não estou aqui para catequizar ninguém, mas para debater. E debate, ao que me consta, é feito de idéias discordantes e divergentes. Quando duas ou mais pessoas concordam 100% entre si, não há debate, há consenso. E o consenso, na quase totalidade dos casos, é a ausência de pensamento. Não quero que concordem com tudo, nem com a metade, nem com um terço do que eu digo: quero debater. Só isso. E debater é discordar. O consenso total só existe nos cemitérios.

Por exemplo, tenho minhas próprias idéias sobre religião, sexo e política, mas não faço questão de que ninguém concorde com elas. Acontece às vezes de essas idéias, principalmente sobre política, coincidirem com as da "direita" - como indivíduo, não posso ver com bons olhos, por exemplo, um Estado intervencionista e totalitário, tampouco a condescendência com tiranias -, e, nesses casos, já estou acostumado a ser coberto de rótulos pelos militontos esquerdistas e lulistas, eles mesmos especialistas em rotular quem não concorda com suas teses antidemocráticas. Já mandei avisar: se querem me chamar de "direitista" por ser crítico do PT e não esconder de ninguém minha aversão ao comunismo (e a seu irmão gêmeo, o fascismo), podem chamar que eu não ligo. Prefiro isso a ser chamado de pró-totalitário e defensor de Fidel Castro e de Ahmadinejad.

Não é por me colocar no lado oposto dos adoradores de Stálin e Che Guevara que vou deixar de defender certas posições que não coadunam, pontualmente, com o que essa mesma esquerda patrulheira e intolerante convencionou chamar de uma visão direitista ou conservadora. Sou, por exemplo, ateu. Também não vejo como o fim do mundo a adoção de crianças por casais homossexuais. Ou as pesquisas científicas com células-tronco. Nem por isso, porém, vou concordar com absurdos como a criminalização da liberdade religiosa. Nem deixar de denunciar, na medida do possível, as tentativas de policiamento politicamente correto para instaurar uma ditadura mental de gays e outras minorias. Estou sendo contraditório? Não! Estou sendo um indivíduo, ora essa! E um indivíduo age conforme sua consciência, não para ajustar-se ao que outros pensam. Prezo, acima de conveniências ideológicas, a liberdade individual.

A liberdade de pensamento é exclusiva dos indivíduos, sujeitos livres que escolheram ter suas próprias opiniões, não a de grupos, sem medo de desagradar a ninguém. Nesses tempos cada vez mais politicamente corretos, em que ter uma opinião é sinônimo de grosseria e falta de educação, e em que a ânsia de estar de acordo com a maioria e acompanhar o rebanho adquiriu ares de verdadeira neurose e imperativo moral, não há como ser um indivíduo e não estar em minoria. Isso, certamente, não faz de mim um militante. Mas faz de mim um ser que pensa.

terça-feira, abril 20, 2010

É ASSIM QUE COMEÇA


Segundo o PT, esta placa traz embutida uma mensagem política disfarçada...
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Este ano, os telespectadores da Rede Globo não verão no ar o jingle que a emissora carioca preparou para comemorar seu 45o aniversário. Ao contrário do que aconteceu quando ela fez 20, 25, 30, 35 e 40 anos, a televisão do falecido Roberto Marinho não irá veicular qualquer mensagem alusiva a seus 45 anos de existência. O motivo: o coordenador de campanha da candidata petista à Presidência da República, um tal Marcelo Branco, enxergou uma suposta mensagem subliminar pró-José Serra na mensagem da Vênus Platinada.
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Onde estaria essa mensagem disfarçada, destinada maquiavelicamente a influenciar, de maneira sub-reptícia, o subconsciente das pessoas e induzi-las a votar no candidato tucano? No número "45", referente ao aniversário da emissora (o mesmo do PSDB), e na frase "todos queremos mais", que lembra o slogan "o Brasil pode mais", da candidatura Serra. O fato de a campanha da Globo ter sido criada em novembro, antes portanto de qualquer candidatura ou slogan terem sido definidos, não faz qualquer diferença para os lulo-petistas: a campanha da Globo é pró-Serra, já deram o veredicto.

A história já seria absurda e ridícula o suficiente, se não fosse por um detalhe: a atitude da Globo. O que fez a emissora? Protestou energicamente contra essa tentativa esdrúxula de censura? Colocou-se abertamente em defesa da liberdade de expressão? Mandou Marcelo Branco e seus patrulhadores ideológicos para a Cuba que os pariu? Não. Em vez disso, "para evitar polêmica", segundo disse em nota, a direção da emissora resolveu... tirar a campanha do ar!

Isso mesmo: a poderosa Rede Globo, o maior canal de TV do País, cedeu à patrulha da petralhada. "Para evitar polêmica", decidiu autocensurar-se, deixando de mencionar seu próprio aniversário. Isso porque um petista viu propaganda eleitoral anti-PT na comemoração dos 45 anos da emissora (!). Poderia ser qualquer outro número, menos o 45! O 45, não pode!

Ou seja, um canal privado de comunicação, por pressão de um assessor de campanha petista, retira do ar uma mensagem alusiva a si próprio, sem qualquer conotação política. Enquanto isso, o presidente da República é condenado duas vezes pelo TSE por usar a máquina do Estado para fazer campanha antecipada de sua candidata. Os mesmos que rasgam a lei para fazer propaganda eleitoreira exigem que uma emissora particular retire uma campanha do ar por supostamente fazer referência à candidatura adversária! E pior: conseguem que ela seja retirada do ar!

Em outras palavras: a partir de agora, para não melindrar algum eleitor de Dilma Rousseff, as emissoras de TV do Brasil estão proibidas de citar o número 45 em sua programação. Qualquer referência a esse número maldito - o ano do fim da Segunda Guerra Mundial, por exemplo, o calibre de certas pistolas usadas pela polícia ou aquela música de Jorge Benjor, Charles Angel 45 - deverá ser banida do noticiário e de programas televisivos. De acordo com a visão que respalda essa atitude, o fato de a Globo ter sido inaugurada em 1965, completando portanto, este ano, 45 primaveras, só pode ter sido o resultado de uma conspiração contra o PT (que surgiu quinze anos depois, mas isso não vem ao caso, claro). Assim como o fato de não ter comemorado seu 13o aniversário, ocorrido em 1978 (quando o PT só foi criado dois anos depois, mas isso também não é importante: afinal, todos sabem que a Globo é anti-PT...). Agora entendi aquela fixação do Zagallo no número 13: era propaganda do PT! E os 50 anos de Brasília, comemorados esta semana? Propaganda do PSOL, claro!

Tudo isso, para além da palhaçada, da pantomima, é algo extremamente grave. Estamos diante de mais uma tentativa - infelizmente, bem-sucedida - de os petistas pautarem a imprensa, em especial as emissoras de TV, subordinando-as à sua agenda política. Nesse caso, a Rede Globo, que já foi acusada, outras vezes, de ser "contra o PT". Lembrem da edição no Jornal Nacional do debate presidencial no segundo turno da eleição em 1989 entre os então rivais e hoje amigos do peito Collor e Lula: até hoje, há petistas que saem gritando que foram prejudicados por uma suposta edição tendenciosa do debate (era papo de perdedor: Lula foi pior no debate, como se sai pior, aliás, em qualquer debate).

O pior é que, se a Globo pode ser acusada de alguma manipulação, é a favor de Lula e dos petistas. Lembrem do plebiscito do "desarmamento", em 2005: naquela ocasião, a Vênus Platinada colocou todo seu poder e um batalhão de artistas para defender a idéia idiota de que desarmar a população tornaria a sociedade mais segura. O PT e o governo Lula defendiam a mesma coisa. E não me lembro de ter visto nenhum petista dar um pio. Não me lembro de ter visto nenhum Marcelo Branco falar em "mensagem disfarçada" (que nem disfarçada era: era explícita) para "influenciar o eleitorado". Sem falar nas telenovelas, uma subcultura a serviço da boiolice politicamente correta, tão ao gosto dos ideólogos esquerdistas que estão hoje no governo.

A censura está de volta. Ela atende hoje pelo nome de "controle social da mídia", de politicamente correto, de "isentismo", de frescuras e babaquices do tipo. Começa assim. Ninguém sabe como termina. Ou melhor, sabe, sim: com um ditador pendurado, de cabeça para baixo, em um posto de gasolina.
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segunda-feira, abril 19, 2010

LOUCURA NUCLEAR


Em agosto de 1939, às vésperas da Segunda Guerra Mundial, o gênio da Física alemão Albert Einstein enviou uma carta ao presidente dos EUA, Franklin D. Roosevelt, alertando para o perigo das novas tecnologias que, descobrira-se então, permitiriam a construção da bomba atômica. Einstein, que era judeu, estava particularmente preocupado com a possibilidade de a Alemanha nazista ter acesso à nova tecnologia nuclear e a reservas de urânio para construir um artefato atômico. Os EUA deveriam sair na frente, antes que os seguidores de Hitler o fizessem, disse.

Essa passagem da vida de Einstein, convenientemente expurgada por muitos de seus admiradores, que o transformaram nas décadas seguintes em ícone do pacifismo (ele mesmo se considerava um pacifista, e chegou a ser investigado pelo FBI por suas idéias supostamente socialistas), é bastante didática. O fato de considerar a si mesmo um pacifista e ser, após a Segunda Guerra, um defensor ardoroso do fim das armas nucleares não impediu o cientista alemão naturalizado norte-americano de ter sido um dos defensores do Projeto Manhattan, assim como não o impediria de ser convidado a assumir a presidência do recém-criado Estado de Israel, em 1948 (algo que muitos de seus admiradores atuais também ignoram). Mas o mais importante: não o impediu de, diante da ameaça representada pelo totalitarismo nazista, reconhecer o perigo que regimes antidemocráticos com armas atômicas representam para a humanidade - e a necessidade de detê-los.

Em outras palavras: Einstein era pacifista, mas não era estúpido. Ele sabia, mesmo não sendo diplomata (ou, provavelmente, por causa disso), que nem todos os governos estão interessados na paz. Sabia, talvez instintivamente, que a idéia da igualdade de todos os Estados perante o direito internacional, um dogma das relações exteriores, é, em princípio, irretocável, mas, confrontada com a realidade do poder, pode ser muito perigosa. Entre uma Alemanha nuclearizada e os EUA, ele não titubeou em escolher o último. E ninguém pode dizer que ele fez a escolha errada.

Digo ninguém, mas em termos. Porque, se depender da política externa do governo Lula, Albert Einstein estava errado. Se depender de Celso Amorim e Marco Aurélio Garcia, Einstein deveria não ter apoiado o projeto nuclear norte-americano, mas o alemão. Ou os dois. Como se houvesse equivalência moral entre os EUA e o nazismo.

Refiro-me, claro, à questão do Irã, que o governo Lula transformou em verdadeira cause célèbre (ou melhor: em cause infame). O mundo inteiro, os EUA à frente, querem impedir que o Irã, um regime teocrático liderado por um louco que, assim como Hitler, odeia os judeus e quer varrê-los do mapa, tenha acesso à bomba. O mundo inteiro, Rússia e (em menor escala) China inclusive, defendem sanções contra o Irã, que vem há anos impedindo o acesso de inspetores da AIEA a suas instalações nucleares. O mundo inteiro, menos o Brasil. Menos Lula e Celso Amorim.

Na semana passada, Lula voltou a defender o diálogo com Mahmoud Ahmadinejad, que já mostrou que não quer diálogo com ninguém. Coerente com sua tese de que a paz no Oriente Médio deve ser alcançada conversando com quem a quer e também com quem não a quer, o Demiurgo se opõs às sanções da ONU contra o Irã na Conferência sobre Segurança Nuclear em Washington. Num gesto de reconhecimento da grande importância conquistada pelo Brasil no cenário internacional durante o governo Lula, Barack Obama concedeu a "o cara" três minutos de sua agenda para que este o convencesse de que deixar de pressionar Ahmadinejad é a melhor maneira de fazê-lo desistir de seus planos genocidas. Mais tarde, durante as Cúpulas do IBAS e do BRIC, em Brasília, o Guia Genial aproveitou para retomar essa idéia.

O que leva Lula e o Itamaraty a atuarem de forma tão veemente como advogados de Ahmadinejad? A resposta, em parte, está no apego ao fetiche da "igualdade dos Estados". O governo Lula não esconde que vê com maus olhos o Tratado de Não-Proliferação Nuclear (TNP), ao qual o Brasil aderiu em 1998, durante o governo de Fernando Henrique Cardoso. Isso porque o TNP é considerado, por uma visão terceiro-mundista que voltou a ter força no atual governo, um acordo discriminatório, uma espécie de "clube das grandes potências" que asseguraria para estas o monopólio da energia nuclear para fins bélicos e excluiria os países em desenvolvimento. "Não podemos aceitar que se arme os armados e se desarme os desarmados", dizia o ex-chanceler do governo Geisel (1974-1979), Azeredo da Silveira. "Somos favoráveis a que um país disponha de armas nucleares para fins pacíficos, como a dissuasão", afirmou o vice-presidente do governo Lula, José Alencar, torcendo completamente o sentido das palavras "armas nucleares" e "fins pacíficos".

"É preciso acabar com as armas atômicas em todos os países", gosta de repetir Lula, sempre que o assunto do Irã vem à baila. À primeira vista, uma atitude bastante lógica, pacifista, louvável até. O problema é que esse discurso não se dirige ao Irã, que tem um programa nuclear secreto, ou à Coréia do Norte, que teve um durante décadas, mas aos EUA, aos que já têm a bomba. Seu significado nas entrelinhas é o seguinte: "Se os EUA têm a bomba, por que o Irã não pode ter?". Há um mês, EUA e Rússia assinaram um acordo de redução de armas nucleares. O Irã, por sua vez, não dá qualquer sinal de que irá desistir de um artefato atômico, nem de seu propósito declarado de transformar Israel num monte de escombros. Ou seja: os armados estão se desarmando, mas os (até agora) desarmados, não. E, no caso, o "desarmado" é um país governado por um sujeito que jurou destruir outro país, exterminá-lo, varrê-lo do mapa. Algum problema para Lula? Não, nenhum.

A igualdade dos Estados é uma idéia aparentemente muito boa, mas está sendo usada como álibi para a proliferação nuclear. O que é pior: disfarçada como "desarmamento de todos". Em nome da igualdade dos países e do pacifismo, o governo Lula está abrindo o caminho para uma tragédia no Oriente Médio. Seu discurso não é da paz: é da guerra. É o discurso da loucura, da intolerância, do fanatismo, da barbárie. Albert Einstein já sabia disso.

EM MÁ COMPANHIA


Vejam um momento da política brasileira.
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Um já foi. Agora só faltam 199.999...
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"Dize-me com quem andas e eu direi se vou contigo" (Aparício Torelly, o Barão de Itararé)
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A OPÇÃO POR PARCERIAS REPULSIVAS

Por Augusto Nunes

A retrospectiva da sequência de espantos desencadeada em 2003 informa que existe lógica na loucura aparente da política externa. Em pouco mais de sete anos, o governo brasileiro foi confrontado com numerosas escolhas: a Venezuela bolivariana ou os Estados Unidos, os narcoterroristas das FARC ou o presidente reeleito Alvaro Uribe, o psicopata Muammar Khadaffi ou o Tribunal Internacional de Haia, a ditadura dos irmãos Castro ou os presos de consciência, o terrorista italiano Cesare Battisti ou os pugilistas cubanos Erislandy Lara e Guillermo Rigondeaux, o golpista Manuel Zelaya ou a Constituição hondurenha, o genocida Omar al-Bashir ou o Darfur dilacerado. Coerentemente, errou todas. Errou outras. E vai continuar errando, avisa a infame aliança com o Irã.

A opção preferencial por parcerias repulsivas torna a associação com os aiatolás atômicos tão inevitável quanto um drible de Garrincha. Entre o primitivismo e a civilização, entre Mahmoud Ahmadinejad e Barack Obama, a escolha feita por um Itamaraty redesenhado pela Era da Mediocridade só reafirmou que de onde menos se espera é que não vem nada mesmo. Formulada por nostálgicos do stalinismo sem compromisso com valores democráticos, avalizada por um presidente sem compromisso com valores morais, a política externa atende à vaidade de um governante na fronteira da mitomania, serve aos desígnios do PT e não tem compromisso com o Brasil.
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Lula convive em fraternal promiscuidade com gente que o insultou, como Fernando Collor, ou que ofendeu gravemente, como José Sarney. Não há por que sentir-se constrangido na lida com abjeções que a esquerda psicótica reverencia. Como não sabe sequer se Karl Marx é um daqueles irmãos do cinema, como não leu uma única orelha de livro sobre geopolítica, contraterniza com todas as peças ─ principalmente revolucionários de galinheiro ─ do populoso museu dos desprezíveis administrado por Marco Aurélio Garcia, Celso Amorim, Samuel Pinheiro Guimarães e outros comissários que garantem o crachá de conselheiro internacional com declarações de guerra ao imperialismo ianque.
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“Não conheço nenhum presidente que não tenha apertado a mão de um ditador”, alega o chanceler de bolso. Conversa fiada de um diplomata deformado pela alma subalterna, pela compulsão para a vassalagem, pelo servilismo que protege o emprego. É verdade que todo presidente vive exposto a shake hands constrangedores. Mas Amorim sabe desde sempre que Lula ultrapassa com muito prazer o aperto de mão protocolar. Nenhum governante que se declara democrata troca cumprimentos efusivos com apóstolos da infâmia como Khadaffi ou Fidel Castro. Só Lula.
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Só Lula nega a presidentes eleitos democraticamente, como o hondurenho Porfirio Lobo e o chileno Sebastián Piñera, o abraço que conforta o golpista Manuel Zelaya ou anima o ditador aprendiz Hugo Chávez. Só Lula incumbiu um ministro de Estado de entregar a Ahmadinejad, ambos com sorriso de comparsa, a camisa da Seleção Brasileira. Só Lula ousou rebaixar os oposicionistas iranianos que protestavam contra a imensa fraude eleitoral a torcedores inconformados com a derrota do time. Só Lula comparou presos políticos aos bandidos das cadeias de São Paulo.
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O presidente Fernando Henrique Cardoso foi o condutor das negociações que encerraram o sangrento conflito fronteiriço entre o Peru e o Equador, e nem por isso posou de especialista em impasses internacionais. Lula não deu um pio para ao menos abrandar a crise gerada pela construção de fábricas de celulose uruguaias na divisa com a Argentina. Mas resolveu nomear-se consultor-geral do mundo e liquidar com quatro conversas, três improvisos e duas piadas os becos sem saída do Oriente Médio.
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A política externa de um país democrático atende aos interesses nacionais. Se atende aos interesses do chefe de governo ou de um partido, então não há democracia. Essa regra encontrou no Brasil uma perturbadora exceção. Por enquanto, não existe um tirano, nem foi instituído o regime de partido único. Mas há mais de sete anos o Itamaraty só faz o que o PT propõe e Lula endossa.
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As ações internacionais escancaram a alma do presidente e a cabeça do partido. Lula é um animador de auditório, deslumbrado com plateias de áulicos, auditórios amestrados ou encontros de governantes que não compreendem português. O PT é a cara dos parceiros que escolhe. Todos infelicitam países que são hoje o que a companheirada quer que o Brasil seja amanhã.

sexta-feira, abril 09, 2010

AS CHUVAS E A POLITICAGEM


Uma das coisas mais nojentas que existem é a tentativa de politizar desastres naturais. Mesmo que não sejam tão naturais assim. Como a chuva torrencial que desabou sobre o Rio de Janeiro nesta semana - e que já deixou, segundo as últimas contagens, mais de 180 mortos. É por isso que as declarações de Lula e sua turma nesses dias exalam a esgoto.

A tragédia no Rio provocou uma onda de pesar e solidariedade raras vezes vista antes no Brasil. Jornalistas, políticos, artistas, todos enfim, demonstraram um ar compungido e de respeito às vítimas, no melhor espírito "somos todos cariocas (ou fluminenses)". De repente, todos pareceram se unir, concentrando-se no socorro aos desabrigados e deixando a política de lado, como os americanos depois do 11 de setembro. E isso é muito bom. É algo extremamente louvável. Tragédias como a do Rio não devem mesmo ser exploradas politicamente por ninguém. Quem o fizer deve ser execrado em praça pública e expulso da convivência com gente decente. Mortos não têm partido.

Exatamente por isso, a pergunta que fica no ar é: por que essa atitude serena, equilibrada, "isenta", não foi adotada por muitos que hoje choram os mortos no Rio quando das chuvas que atingiram São Paulo, há apenas algumas semanas? Por que ninguém disse, então, "agora, somos todos paulistas"?

Em São Paulo, choveu durante 47 dias ininterruptos, e o número de mortos foi bem menor do que os mais de cem que morreram no Rio (detalhe: em apenas UM DIA de temporal). Mesmo assim, petistas e assemelhados deleitaram-se com o episódio, mal contendo a alegria em atacar a "incompetência" e a "negligência" do prefeito Kassab e do agora ex-governador José Serra, em busca de dividendos eleitorais. A mesma atitude serena e compungida que os petistas e seus aliados na imprensa demonstram agora em relação aos mortos no Rio não tiveram em relação aos mortos de São Paulo. Será que é porque São Paulo é governada por tucanos e o Rio por aliados de Lula e Dilma Rousseff? Não, isso seria pensar muito mal dessa gente boa e honesta, não é mesmo?

O pior é que motivo para acusar a irresponsabilidade das autoridades lulistas na catástrofe fluminense é o que não falta. Um dia depois de um barranco desabar em Niterói e deixar mais de 200 pessoas desaparecidas, soterrando casas que haviam sido construídas em cima de um lixão (com conhecimento da prefeitura), os jornais noticiam que o governo Lula transferiu nos últimos tempos, via Ministério da Integração Nacional, algo como 64% do orçamento em "ajuda de emergência" para a Bahia, cabendo ao Estado do Rio de Janeiro 0,9% do total. O Ministério da Integração Regional, a quem cabe, entre outras atribuições, lidar com calamidades, era comandado até a semana passada por Geddel Vieira Lima (apelido: "agatunado"), que vem a ser baiano e está de olho na cadeira de governador do Estado nas eleições deste ano. O atual governador da Bahia, por sua vez, é Jaques Wagner, do PT. Lula reagiu à notícia da maneira que lhe é peculiar: chamou-a de "leviandade", considerando-a, certamente, uma tentativa calhorda de se politizar uma questão que deveria estar acima de picuinhas eleitorais. É, Lula, você tem razão. Calamidades como a do Rio devem mesmo estar acima de considerações políticas. Pergunte a Geddel Vieira Lima.

Mas, pensando bem, por que se surpreender com mais essa tragédia anunciada, tornada ainda mais grave e revoltante pela leviandade petista? Afinal, esse é o mesmo governo que considerou uma "intervenção imperialista" a pronta ajuda dos EUA às vítimas do terremoto no Haiti, transformando o desastre numa ocasião para uma disputa mesquinha com Washington em nome do "protagonismo internacional", não foi?

Nem São Pedro escapou da policanalhada lulista. Ninguém está a salvo.
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PARA PENSAR


(ler primeiro o post anterior)

Para quem ainda não entendeu direito o que eu quis dizer em meu último post, aí vai um pequeno exercício.

Suponha que apareça alguém se dizendo totalmente neutro, imparcial, isento e sem preconceitos em política. Alguém que se declara pós-moderno, niilista, que não acredita em fatos, mas em interpretações etc.

Diante de regimes como o comunista, esse alguém não esconde sua total condenação ao Gulag e ao paredón. Revela-se um inimigo feroz e implacável do totalitarismo stalinista e suas variantes.

Perante o regime nazista, porém, essa mesma pessoa muda subitamente o discurso: não quer emitir nenhum juízo de valor, defende a neutralidade e a imparcialidade. Instado a tomar partido, enche-se de dedos e, pisando em ovos, recusa-se a "demonizar" Hitler e seus seguidores, adotando uma postura ambígua. Vai mais além, e considera a condenação ao nazismo um anacronismo histórico, um "resquício dos anos 30".

E aí? O que vocês diriam?

Entenderam o que eu quis dizer com "atitude intelectualmente desonesta"?
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segunda-feira, abril 05, 2010

A ARTE DE TERGIVERSAR


Estive, por esses dias, no site de um conhecido meu, o Pablo Capistrano, com quem costumo - ou costumava, se depender dele - debater às vezes. Na verdade, "debater" é forma de dizer, porque, como vocês verão, Pablo não é muito de debate. Mesmo assim, como sou um chato, fui lá cutucar e deixar meu recado. O assunto era o Irã. Fiz uma provocação inicial, afirmando que, se Israel atacasse o Irã, estaria no seu direito, devido às intenções declaradas de Ahmadinejad de varrer Israel do mapa etc. Até aí, nada demais. O problema foi quando Pablo respondeu o comentário de um amigo dele, um certo Robson. Aí a coisa desandou.

Robson trouxe a discussão para o plano interno, e chegou, inevitavelmente, ao assunto "eleições presidenciais", com um viés claramente pró-petista, senão claramente petista. Ele mencionou os "analistas conservadores" como os colunistas da VEJA e até Arnaldo Jabor (que nem conservador é), que se aproveitariam de fatos como a recente visita desastrosa de Lula ao Oriente Médio para criar "factóides" contra o governo etc. Aí é que veio minha surpresa. Em sua resposta, Pablo não apenas corroborou essas afirmações, como também mencionou um suposto "partido da imprensa golpista" (PIG), uma invenção da esquerda chapa-branca.

Fiquei intrigado. "Pablo é um cara inteligente, não deve ter dito isso a sério", pensei. Mandei, então, outro comentário, no qual deixei claro meu espanto e fiz questão de relacionar a política externa lulista - o tema em debate - com a opção ideológica pró-ditaduras do governo Lula. Fui mais além, e citei o Foro de São Paulo. Quão maior não foi minha surpresa quando vi Pablo, um sujeito descolado, que se diz relativista e pós-moderno, autor de dois livros e professor de Filosofia, dizer que o Foro de São Paulo é algo assim como uma ficção criada por mentes paranóicas, comparável aos "Protocolos dos Sábios de Sião"...

Aquilo foi demais para mim. Como um auto-proclamado relativista, que, em suas próprias palavras, não acredita em "fatos", mas em "interpretações", encara o PIG como uma verdade objetiva e o FSP como um delírio? Passei a importunar Pablo com essa pergunta. A cada comentário que eu mandava, apontando esse duplo padrão, eu recebia não uma resposta, mas uma tergiversação de sua parte. "Você não entendeu o que eu disse", ou "Não enxergo a realidade com base na dicotomia esquerda-direita", eram as respostas de Pablo. Para mim, ficou cada vez mais claro que Pablo estava se amparando numa visão seletivamente relativista (o que é uma contradição) para não dizer abertamente sua preferência ideológica.

Para encurtar a história, que é bem longa: outro leitor, o David, mandou uma mensagem ao Pablo afirmando que, assim como eu, ele também achava que Pablo era um esquerdista, mas um que não "saía do armário". Ao contrário de Pablo, David se declarava abertamente de esquerda, e reproduziu em seu comentário algumas platitudes esquerdistas. Então mandei o seguinte comentário (com as intervenções de Pablo em vermelho):

***
Bom, vamos lá. Talvez não adiante nada, mas é sempre bom marcar posição.

David, eu sei de que lado Pablo está. Ele também sabe. A diferença é que ele não assume. Esta é a nossa diferença.

Você diz não gostar de rótulos, mas que não consegue “enchergar (sic) democracia, liberdade, ou respeito aos direitos humanos no sistema capitalista, no governo direitista, conservador, no neoliberalismo” etc. etc. Ok, respeito essa sua opinião. Respeito mais ainda sua coragem de dizer isso abertamente, no que você difere do Pablo. Apenas me diga, então: que país não-capitalista, não-direitista, não-conservador, não-neoliberal (sic) é ou foi um dia, ao mesmo tempo, uma democracia política, com liberdade de expressão e de consciência? Por favor me responda, se puder.

Não gosta de vendedores? Eu também não gosto. Gostaria menos ainda se eu não tivesse a liberdade de escolher comprar ou não, e de quem comprar. Em regimes totalitários, como o comunismo, essa liberdade, assim como todas as outras liberdades individuais, simplesmente não existe. Acho que você já ouviu falar na URSS, não?

Mas estou perdendo meu tempo. Nem vou tentar rebater o que diz o David. Quem defende estrovengas totalitárias como a CONFECON – uma clara tentativa de tutelar a imprensa, à moda chavista –, chama de “prática necrófila" o uso legal da força pelo Estado democrático de direito contra grevistas baderneiros, afirma que chamar os criminosos do MST de criminosos é “criminalizar os movimentos sociais” e admira Cuba como “exemplo de respeito à dignidade humana” (???!!!) não precisa de resposta, precisa de ajuda psiquiátrica. Mas um mérito pelo menos ele tem: ele não esconde o que pensa sob a capa de uma retórica relativista. A visão do David é míope, eu diria mesmo cretina e idiota, mas é pelo menos honesta. A sua, Pablo, não tem sequer esse mérito. Eu sou carne e o David é frango, mas vc prefere ser chester.
( Intervenção do Pablo: È uma pena Gustavo que você tenha que apelar para esse exediente em uma argumentação. Esse tipo de desqualificação chula empobrece mais ainda seu pensamento)

Entendo, Pablo, que você não queira assumir globalmente nenhuma legenda. Você é que não entendeu, ou finge não entender, que minha crítica não é ao fato de você se declarar um relativista, niilista, heideggeriano etc.: é, sim, ao fato de você restringir esse relativismo a um lado apenas. Vou repetir apenas um exemplo que dei.

Falei do Foro de São Paulo, uma entidade real, cuja existência e fins estão amplamente documentados, que foi criada por Lula e Fidel Castro em 1990. Trata-se de um fato, portanto algo cuja existência está além da sua ou da minha vontade. Você disse que o FSP é uma ficção comparável aos “Protocolos dos Sábios de Sião”. Disse também que o “PIG” (“partido da imprensa golpista”) é uma realidade. Segundo essa sua “interpretação”, seletivamente relativista, o FSP não existe, mas o PIG, sim. Ou seja: um fato não lhe agrada, e você diz que ele não existe. Se ele for conveniente a uma certa visão ideológica, que é a sua, mas que você não ousa dizer, então é verdadeiro.

Lembro que alguns anos atrás tive com você um debate interessante sobre Cuba. Recordo que deixei bem clara minha opinião (“interpretação”, você diria) sobre o tirano Fidel Castro e como ele arruinou um país e hipnotizou gerações inteiras de idiotas latino-americanos. Deixei claro que condenar a ditadura castrista era uma obrigação moral de qualquer pessoa decente e humanista. Sua resposta: “não quero dar uma opinião sobre isso” (lembro que você até comparou o debate sobre Cuba a uma dispura entre vascaínos e flamenguistas…). Comentei em meu blog sobre a questão, e fiz a pergunta: se fosse Pinochet, e não Fidel, você diria que a condenação à ditadura é ou não uma obrigação moral? Até agora não tive resposta.

Isso, Pablo, chama-se duplo padrão moral. Uma atitude intelectualmente desonesta, para dizer o mínimo.
(Intervenção do Pablo: Acho que aqui também você perdeu um pouco a compostura e me agrediu em um sentido que ultrapassa as ideias. Ao me considerar intelectualmente desonesto você atenta de certa forma contra a minha honra e minha integridade moral. Gostaria de um pedido de desculpas, tendo em vista que eu nunca atentei contra a sua integridade moral em nossas discussões)

Em outras palavras: condenei e condeno ambos os ditadores, jogo lama, cuspo neles. E você, pode fazer o mesmo? E se condena um, por que não condena o outro?

Veja que eu até admito que você não condene nenhum dos dois, e se feche em copas numa torre de marfim filosófico-relativista. O que não dá para entender é considerar a condenação de um deles uma obrigação moral (o que de fato é), mas a de outro, um “extremismo de direita”, “resquício da guerra fria” etc.

O mesmo pode ser dito do nazismo e do comunismo. Para mim, são ambas ideologias totalitárias e anti-humanistas. Condeno-as com igual fervor. E você?

Você diz que concorda com algumas coisas e com outras não, como se a realidade fosse uma espécie de supermercado em que se poderia escolher essa ou aquela posição, ter esse ou aquele ponto de vista, fazer uma salada, e isso não teria nenhuma conseqüência. Talvez por você ser filósofo, você acredita que as idéias podem ser reduzidas a um nível totalmente abstrato de subjetividade, sem qualquer peso na realidade. Acontece que elas têm peso, sim. Por mais que se tente fugir da realidade, ela sempre termina nos alcançando.

Seus elogios ao governo Lula, em especial à sua política social “melhor do que a de FHC”, demonstram claramente uma preferência ideológica de sua parte. Somente alguém comprometido ideologicamente com um viés estatista e antiliberal poderia criticar um governo por “vender o patrimônio público a preço de banana” (o que é, aliás, uma tremenda balela) e rasgar seda para um governo que transformou o assistencialismo e o coronelismo em políticas oficiais. Sem falar que, no que diz respeito à política externa lulista, o caso do Irã é apenas um entre tantos outros (cito Cuba, Venezuela e Honduras, para ficar nos mais importantes), que seguem um padrão ideológico.

Repito: o que não “entendo” é como alguém que se diz relativista só o é para a esquerda, e não para a direita.

Não é preciso “adotar uma visão de mundo e um conjunto sistemático de crenças” para ter uma opinião minimamente coerente. Basta ter honestidade intelectual. Eu, por exemplo, não concordo 100%, talvez nem 50%, com o que dizem pensadores conservadores e de direita em alguns temas (religião, por exemplo). Mas nem por isso deixo de me identificar como liberal-democrata, anti-estatista, anti-comunista, pró-liberdade e direitos humanos. Isso porque, mais do que as diferenças que me separam desses autores, sou unido a eles por um denominador comum político e moral – a defesa da democracia e da liberdade individual, valores universais. Adotar uma postura relativista a respeito desses valores, a meu ver, é o mesmo que negá-los. E isso SIM corresponde a uma visão de mundo – a visão de mundo pró-totalitária.

Não sou “absolutista” (a partir de agora vou adotar o rótulo, pois minha visão sobre liberdade é mesmo absoluta e não admite relativizações) porque eu teria dificuldades em compreender “como alguém pode ter interpretações sem usar um dos dois sistemas de crenças que ele [eu] conhece (direita e esquerda)”. Parece que aqui você, Pablo, é que não entendeu o que escrevi. Lendo o que você diz, fica parecendo que não consigo enxergar nada além da dicotomia direita-esquerda. Não é nada disso. Tudo que venho dizendo é que é possível, mesmo sem ser “de esquerda”, referendar as posições identificadas com essa corrente ideológica. Basta relativizar, por exemplo, a realidade de regimes como o cubano, o que você, Pablo, faz à larga. (Certamente você, Pablo, não conhece as expressões “inocente útil” e “companheiro de viagem”.) Sem falar que, se formos adotar as definições clássicas de direita e esquerda, eu estaria à sua esquerda, pois considero o regime teocrático iraniano uma aberração, enquanto você tem uma “interpretação” diferente e mais condescendente em relação à tirania dos aiatolás.

Não Pablo, não acho que você seja um “esquerdista enrustido”. Pelo que você tem escrito, você não é enrustido: é de esquerda mesmo. Só que, sabe-se lá por quê, não tem coragem ou disposição de dizê-lo francamente. E se ampara no relativismo para fugir a essa realidade. Só que você se trai, quando o cacoete esquerdista se manifesta na forma seletiva com que você trata, com base numa visão relativista, regimes “de esquerda” e “de direita”. Você já caiu nessa contradição diversas vezes.

A diferença entre minha posição e a sua é que eu não me escondo por trás desse palavreado. E tenho, sim, consciência do mecanismo que me leva a pensar dessa forma. Já quanto a você, não tenho certeza.

Não acho nosso debate frustrante. Pelo contrário: acho que está sendo bastante revelador. Pelo menos para mim, está sendo bastante elucidativo.
Intervenção do Pablo: Gustavo, você não tem um interesse real de compreender o que eu escrevo. Você lê e distorce o que eu escrevo para encaixar meu texto naquilo que você pensa sobre minhas ideias. Não há interesse real seu em compreender minha posição. Você precisa me reduzir e me simplificar para que eu possa fazer sentido justamente a esse sistema de crenças que você adota. Até ai tudo bem, mas acho que nesse seu comentário você cruzou um limite que eu não gostaria que fosse ultrapassado nesse site. Você me acusou de ser desonesto intelectualmente (isso me ofendeu). O que de certa forma torna nossa discussão inutil, porque se eu sou intelectualmente desonesto não adianta nada que você escreva aqui nem é interesante que você perca seu tempo me lendo. acho que uma atitude coerente sua seria assumir que não se pode nem se deve dialogar com gente intelectualmente desonesta porque um dos pressupostos para uma discussão justa e construtiva é a confiança na honestidade intelectual dos interlocutores. Se isso não acontece é inútil continuar conversando. Uma sugestão seria a de um pedido formal de desculpas ou que você poderia responder a meus textos em seu blog, agindo de modo a desmascarar para seus poucos leitores essa minha “desonestidade intelectual”. Como eu sou filho de sertanejos e aprendi que não se deve onfender os anfitriões em sua própria casa espero que você reveja sua posição em relação a isso. Que a paz te acompanhe e boa sorte na sua cruzada

***
Como vocês viram, Pablo fez algumas intervenções em meu texto. Mandei então outro comentário. Por algum motivo, porém, ele foi retirado de seu site:


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Pablo,

Você ignorou praticamente toda minha resposta a você e ao David, e preferiu se concentrar em algumas palavras que você julgou pessoalmente ofensivas. Tudo bem, é um direito seu não ler o texto todo, assim como é seu direito interpretá-lo da maneira que lhe for mais conveniente. Mas, por favor, não coloque palavras – nem intenções – em minha boca.

É uma pena que você não conheça a expressão “eu sou carne e fulano é frango, mas beltrano prefere ser chester”. Francamente, não vejo em que ela pode ser ofensiva. É uma metáfora usada comumente em política, sem qualquer conotação pejorativa (a menos que ser “chester”, “carne” ou “frango” tenha algum significado depreciativo oculto). Mesmo retirada do contexto, como é o caso, não se trata de uma forma de desqualificar nada nem ninguém, muito menos chula. Se você tem essa “interpretação”, paciência. Demonstra apenas que você não está acostumado a debater.

Pablo, você disse que eu perdi a compostura e lhe agredi em um sentido que ultrapassa as idéias etc. Sugiro que você releia o que escrevi. Primeiro, eu NÃO disse que você é intelectualmente desonesto. Disse que você tem uma atitude intelectual – é relativista para uns e não para outros – que só pode ser encarada, segundo uma interpretação que não é somente minha, como um DUPLO PADRÃO político e moral, e que essa, sim, é uma ATITUDE DESONESTA. Afirmei inclusive que isso se deve, creio eu, a um ranço ideológico de sua parte, e não à uma desonestidade pessoal, sua. (Aliás, o fato de eu estar aqui escrevendo demonstra que acreditei em sua honestidade intelectual.) Em nenhum momento julguei você como pessoa: julguei essa sua atitude. Dei exemplos bem concretos para demonstrar a forma seletiva como você emprega o discurso relativista (O Foro de São Paulo, Cuba etc.). Se isso é atentar contra sua “honra” e “integridade moral”, então qualquer debate de idéias para você é uma briga de rua e deve ser resolvido na ponta da peixeira. Francamente, não vejo por que eu deveria pedir desculpas por expor o que penso sobre uma atitude intelectual. Desculpar-me? Por quê? Por eu desprezar todas as ditaduras e você apenas algumas?

Pablo, você tem todo direito de achar que não tenho interesse em entender o que você escreve etc. e tal – o que é uma forma de me chamar de intelectualmente desonesto, mas não ligo –, e realmente tenho dificuldade em entender um pensamento que cultiva a ambigüidade, mas somente para certos casos. Não sei se você percebeu, mas minha crítica a você não é por você ser relativista, mas, exatamente o contrário: é por você NÃO SER relativista para TODAS as situações (ou seja: por não mostrar coerência). Apontei as contradições no seu pensamento, quis provocar um debate, mas você, pelo visto, é que não tem qualquer interesse em levá-lo adiante. É uma pena, pois, até agora, ao contrário do que você escreveu, eu acreditava na sua disposição intelectual em fazê-lo. Se você se ofende com argumentos, isso mostra que é inútil mesmo tentar debater com você. Sobre qualquer assunto.

Quanto a mim, não me ofendo se me chamarem de reacionário, direitista, agente da CIA, lacaio de Wall Street etc., ou qualquer desses epítetos que os esquerdistas usam para desqualificar quem ousa pensar diferente. Até mesmo se enveredarem pela ofensa pessoal e gratuita, eu não me importo. Aprendi que ofensas pessoais e adjetivação “ad hominem” se respondem com argumentos e idéias, não com demonstrações de suscetibilidade arranhada e exigências de desculpas.

Mas OK, já entendi que não sou bem-vindo aqui, em sua “casa”. É difícil debater com quem se ofende com argumentos, e acho que não vale a pena insistir. Essa sua última mensagem mostrou que corro mesmo o risco de ficar falando sozinho aqui. Quanto a mim, meu blog está aberto a que você comente meus posts e coloque seus pensamentos. Pode até me xingar, se quiser. Desde que o xingamento venha acompanhado de argumentos, e desde que não se bote minha mãe no meio, não vejo problema. O politicamente correto não existe para mim. Pode me chamar do que quiser, sem medo. Eu não vou lhe exigir um pedido formal de desculpas por você discordar do que penso.

Um abraço de quem acha que a verdade não ofende: liberta.

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Pablo não pareceu muito indignado quando argumentei que sua visão relativista seletiva servia como uma luva aos objetivos de tiranos e terroristas. Mas me exigiu uma "desculpa formal" por causa de uma metáfora culinária. Ainda por cima, tomou como uma agressão pessoal uma crítica à sua atitude intelectual. E me baniu de seu site.

É... Gente esquisita, esse pessoal pós-moderno.