segunda-feira, julho 30, 2007

POR QUE NÃO SOU NACIONALISTA


Quando eu era criança e estava na escola, era obrigado a participar de uma encenação que, com o tempo, aprendi a detestar. Todas as quintas-feiras à tarde, íamos, os alunos, em fila indiana até o pátio do colégio para assistir ao hasteamento da bandeira e cantar, com o peito estufado e a cabeça erguida, o hino nacional. Era uma época, em pleno governo do general João Figueiredo, último presidente do ciclo militar iniciado em 1964, de forte civismo. Lembro bem das aulas de Educação Moral e Cívica, disciplina criada para instilar nas crianças e adolescentes o amor à Pátria e o orgulho pelas próprias raízes (embora àquela altura já tivesse adquirido outros contornos, haja visto que a escola em que eu estudava adotava, para a matéria, um livro de Frei Betto). Tive que decorar a letra não só do hino de Osório Duque Estrada, com sua ordem invertida e seus floreios parnasianos, suas margens plácidas e raios fúlgidos, mas também, se bem me lembro, o da Bandeira, o da Independência e o da República (o meu favorito, pois era o único que falava em Liberdade)...

Naquela mesma época - para ser mais exato, em 1982 -, o Brasil viveu um dos momentos de maior exaltação patriótica de que se tem notícia, graças à Copa do Mundo na Espanha. Era uma época em que os grandes craques do futebol brasileiro - Zico, Sócrates, Júnior, Éder, Falcão - não pediam dispensa da seleção por causa de contratos milionários com times europeus. O "amor à camisa" falava mais alto do que os cifrões, e os jogadores eram mais famosos pelos gols que faziam do que pelos carrões de luxo ou pelas namoradas glamourosas que colecionavam. Foi num clima assim, de elevado espírito nacionalista, que assisti ao escrete canarinho comandado por Telê Santana encantar o mundo com um futebol que, desde então, jamais se repetiu e, desconfio, jamais se repetirá.

Foi a primeira vez que eu me lembro de ter sentido no peito aquilo que se convencionou chamar de orgulho patríótico. Assim como dez em cada dez brasileiros, de todas as idades, eu estava, naqueles dias, encantado: a seleção dava show nos gramados espanhóis, a taça do mundo, depois de doze anos de espera, parecia enfim ao alcance da mão (aos oito anos incompletos, eu não sabia ainda o que era ser campeão do mundo). O País inteiro estava embalado pela perspectiva de vitória. Éramos 120 mihões em ação, pra frente Brasil, um só coração, como dizia a música.

Então veio aquele jogo fatídico com uma desacreditada Itália, no estádio Sarriá. Um tal de Paolo Rossi fez três gols contra o Brasil, que só marcou dois, e aí acabou o sonho. Se alguma vez uma nação inteira caiu do cavalo, se um país chorou amargurado por uma derrota (aliás, imerecida), foi naquele dia. Como todos os meninos brasileiros, fiquei extremamente frustrado. Passei a odiar aquele italiano estraga-prazer, que havia tido a audácia de roubar o titúlo à melhor seleção brasileira que eu já vi jogar. Como todos os meninos brasileiros, fiquei uns dois dias chorando de raiva, totalmente inconsolável. Até hoje, a "tragédia de Sarriá" é assunto de conversa em muita mesa de bar, em rodas de amigos que já passaram dos trinta.

Com o tempo, à medida que se passavam os anos e as Copas do Mundo, comecei a enxergar a coisa com olhos mais críticos. Hoje, acredito que Paolo Rossi e a seleção italiana, com seu feio futebol de resultados, prestaram um serviço inestimável ao Brasil e aos brasileiros. Creio que, ao nos retirar da disputa pelo título mundial, os italianos cumpriram um papel importantíssimo para a elevação da consciência nacional: ao nos privar da cobiçada Copa do Mundo, a Itália impediu que, tal como ocorreu em 1958, 1962, 1970, 1994 e 2002, os brasileiros ficassem anestesiados, entorpecidos, embotados por mais uma patriotada. A conquista da Copa seria apenas mais uma orgia narcísico-nacionalista embalada por sonhos de grandeza, a superdimensionar nossas supostas virtudes e esconder nossos inúmeros e graves defeitos. Ao nos fazer descer do salto e atingir profundamente nossa auto-estima, o revés de 82 teve um efeito extremamente benéfico para a consciência crítica do brasileiro. A derrota nos fez bem. Grazie, amici.
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Cheguei a essa conclusão depois de ter analisado a fundo o sentido do nacionalismo. Tenho pelo menos dois grandes motivos para não ser nacionalista. Um deles é político-filosófico; o outro é, se preferirem, estético.

Do ponto de vista político-filosófico, ir contra a maré do nacionalismo no Brasil significa contestar uma visão de mundo que insiste em transferir a fatores externos - a exploração das empresas multinacionais, o imperialismo etc. - a responsabilidade última de todos os nossos males. No decorrer do século XX, esta foi a ideologia oficial do Estado brasileiro, baseada na concepção varguista e terceiro-mundista que sempre associou desenvolvimento a intervencionismo e dirigismo estatal. Uma teoria evidentemente falsa, vide os exemplos dos ex-países socialistas do Leste Europeu ou da Etiópia, um dos países mais miseráveis do mundo e que, no entanto, jamais foi colônia de ninguém. Embora um pouco enfraquecida nos anos 90, essa visão voltou com força no governo Lula, estando profundamente arraigada em nosso subconsciente. O nacionalismo brasileiro tornou-se uma forma bastante conveniente de esconder as verdadeiras causas de nossos problemas e negar nossas responsabilidades. Logo, contestá-lo é contestar uma visão que está na base do nosso atraso.

Além disso, não ser nacionalista traz a vantagem de preservar o senso crítico, a capacidade de pensar independentemente da crença geral e da multidão. Há algo de imbecilizante, de inegavelmente infantil e irracional, na idéia de deixar-se levar irrefletidamente pelo entusiasmo da multidão por um símbolo ou um pedaço de pano, ainda mais se a única razão para tanto é o orgulho pelas próprias raízes. Ora, o orgulho pelas próprias raízes é um sentimento altamente excludente e deletério, que está na origem das piores tragédias e genocídios da história da humanidade. Foi em nome do orgulho pelas próprias raízes que sérvios, bósnios e croatas se massacraram nos anos 90. Foi em nome desse mesmo sentimento que ocorreram as duas grandes guerras mundiais. Sem falar na idéia de uniformidade, inerente ao discurso nacionalista, a qual praticamente elimina qualquer possibilidade de pensamento discordante e dissensão, a base mesma da democracia. Não é à-toa que todos os regimes totalitários são extremamente nacionalistas. O nacionalismo traz sempre embutida a idéia de superioridade, de que se é melhor que o outro, o que não raro leva a assassinatos em massa. Paradoxalmente, por trás desse sentimento de superioridade esconde-se, quase sempre, um indisfarçável complexo de inferioridade - afinal, se somos mesmo melhores, por que sentimos tanta necessidade de proclamar que o somos? A superioridade, como a liderança, não se proclama; exerce-se.

Esteticamente, há também fortes motivos para não ser nacionalista no Brasil. A começar pela bandeira nacional. Falando sério, já viram bandeira mais feia? Aquele losango amarelo, sob um fundo verde, com um círculo azul no meio... existe combinação mais esdrúxula? Não por acaso, nenhum outro país seguiu esse modelo em seu pavilhão nacional. E as cores? Os brasileiros adoram a bandeira brasileira, vestem-se com ela, beijam-na, mas quase ninguém conhece o verdadeiro significado do verde e amarelo. Pergunte a qualquer pessoa, mesmo as mais instruídas, e elas responderão que o verde simboliza as matas, e o amarelo, o ouro, forma bastante romântica de esconder a própria ignorância. Que matas, que ouro, que nada. Consultem os livros de História e lá encontrarão: o verde é a cor da Dinastia de Bragança, última Casa Real a governar Portugal, a qual pertencia D. Pedro I. O amarelo é a cor da Casa de Habsburgo, ramo ao qual pertencia a esposa austríaca do primeiro Imperador. O brasileiro só louva o que desconhece. E aquele lema, "Ordem e Progresso"? Nada mais positivista, nada mais autoritário. Sobra o azul e as estrelas, mas, aqui, a combinação não funciona: olhando-se de permeio, tem-se a impressão de que a bandeira nacional é uma rosca de parafuso, ou um exercício preliminar de geometria.

E o hino? Sim, o que dizer do nosso glorioso hino nacional? Acaso alguém sabe o que significa "garrida" ou "fúlgido"? E o "penhor dessa igualdade"? Não admira que quase nenhum brasileiro saiba a letra dessa canção estapafúrdia. Se ao menos ela dissesse alguma coisa inteligível... Por mais nacionalista que alguém seja, não poderá negar que, do ponto de vista estético, o hino brasileiro é um desastre, uma aberração, com letra incompreensível e acordes de ópera bufa italiana. Nada que se compare ao esplendor guerreiro da Marselhesa ou aos acordes, verdadeiramente belos, do hino norte-americano. Definitivamente, nossos bosques não têm mais vida. Nem nossas vidas mais amores.

Pode-se argumentar que o nacionalismo brasileiro é diferente, manifestando-se principalmente no esporte, em especial o futebol. Seria, portanto, um sentimento salutar, de congraçamento. Respondo que não há nacionalismo salutar, pois, mesmo no esporte - aliás, principalmente no esporte -, o que está em jogo não são algumas cervejas numa tarde de domingo, mas algo muito mais sinistro e irracional. Quando ouço a gritaria histérica de um Galvão Bueno por causa de um gol da seleção brasileira ou a insuportável choradeira por causa de um Ayrton Senna, me convenço que há algo intrinsecamente ruim nesse sentimento. Não raramente, ele degenera em briga e confusão. Foi uma partida de futebol, por exemplo, que deflagrou uma guerra inútil entre Honduras e El Salvador nos anos 60. Não há nada de bom nisso, assim como não pode haver nada de positivo em dividir a humanidade entre corintianos e palmeirenses, ou entre vascaínos e flamenguistas.

É claro que não ser nacionalista não significa renunciar a alguma forma de vínculo com a terra natal. Sentimentalmente, continuo ligado à cidade e à província em que nasci, mesmo morando longe há vários anos. Mas reconheço que, apesar de algumas qualidades, o lugar padece de sérios problemas, de graves vícios de formação, que um discurso ufanista apenas agravaria. Apontar esses vícios e essas deficiências é a minha maneira de desejar vê-los superados, tal como na famosa frase de Dostoievsky (ou seria de Gogol?): "se queres ser universal, canta primeiro a tua aldeia".

Há uma outra razão para não ser nacionalista. A época da Copa de 82 foi também de grande crise no Brasil. De recessão econômica e inflação galopante. Desconfio que, num clima assim, os governantes de plantão se aproveitariam de uma eventual conquista brasileira para colher os louros da vitória e fazer demagogia. Como fizeram em 1970. Como fizeram no Pan. O nacionalismo é uma praga. Não por acaso, segundo uma definição clássica, é o último refúgio do velhaco.

sexta-feira, julho 27, 2007

É A IDEOLOGIA, ESTÚPIDO!


A onda de indignação que tomou conta do País desde que vieram à tona as primeiras denúncias de corrupção na administração federal, e que atingiu o auge no apagão aéreo, poderia ser o começo de uma tomada de consciência cívica por parte do povo brasileiro, tão afeito a líderes populistas e tão avesso a coisas sérias. Poderia. Porque, infelizmente, é doloroso admitir, estamos diante de mais uma onda passageira de hipocrisia e farisaísmo, travestida de indignação moralista.

Convenci-me disso depois de ver, na abertura da cerimônia do Pan, as vaias ao Presidente da República. Aquele poderia ter sido um momento fatal para o atual (des) governo lulista. Poderia. Porque, na mesma cerimônia, os mesmos quase 90 mil indignados cidadãos que vaiaram estrepitosamente o Apedeuta bateram palmas entusiasmadas quando viram entrar a delegação de Cuba, ao mesmo tempo em que uivaram de reprovação à entrada da delegação norte-americana.

Aquilo me deixou encafifado, como se diz em minha terra. Como a mesma multidão que quase pôs o Maracanã abaixo quando foi anunciada a presença do Grande Molusco no estádio, a ponto de tê-lo impedido de ir ao microfone e anunciar oficialmente a abertura dos Jogos, aplaudiu até fazer calo na mão os representantes da ilha-prisão de Fidel Castro, enquanto vaiava os atletas de Tio Sam? Logo acendeu-se a luz de alerta. Tem algo estranho aí, pus-me a pensar. Não precisei queimar muitos neurônios para concluir: o problema é a ideologia, estúpido!

Sim, o problema é a ideologia. O que isso quer dizer? Quer dizer que os que vaiaram Lula e os atletas dos EUA ainda ignoram completamente - e, desconfio, continuarão a ignorar - um detalhe fundamental. Na verdade, mais que um detalhe, a própria essência desse (des) governo que está aí: que a corrupção lulista, os escândalos do Mensalão e do Valerioduto, o caos aéreo, o "relaxa e goza", o "top, top, top" de Marco Aurélio Garcia, as contínuas demonstrações de incompetência e de desrespeito ao povo brasileiro pelos companheiros, tudo isso não ocorre de forma isolada, não são fatos aleatórios. São, isto sim, produto de décadas de um elaborado, paciente, minucioso trabalho de infiltração e preparação ideológica por parte de um diligente e dedicado exército de intelectuais, jornalistas, artistas, empresários, políticos e ongueiros que, durante cerca de trinta anos, prepararam o terreno para a tomada do aparelho de Estado, a começar pela chamada "sociedade civil".

O objetivo desse trabalho de décadas não é outro senão transformar o Brasil e a América Latina num substituto da falecida URSS, de acordo com os pressupostos revolucionários do marxismo-leninismo (gramsciano). Tais objetivos estão consubstanciados no Foro de São Paulo, organização criada em 1990 por Lula e Fidel Castro para articular a ação dos partidos e grupos comunistas da América Latina, desde o PT até os narcotraficantes das FARC, e cuja simples existência é até hoje sistematicamente negada e camuflada pelos órgãos de comunicação (TV, rádio, revistas e jornais) - alguns deles até posam de oposição, mas na verdade trabalham para o governo (eu mesmo, até pouco tempo atrás, achava que essa conversa de Foro de São Paulo era só invenção paranóica do Olavo de Carvalho. Mas, depois de o próprio Lula em pessoa ter-se referido ao supostamente inexistente Foro, em discurso na cerimônia de formatura de minha turma no Itamaraty, em 2005, mudei de idéia e passei a dar mais atenção ao fato). Se a multidão que vaiou Lula soubesse disso, certamente não teria vaiado a delegação dos EUA. Muito menos aplaudido a de Cuba.

Os brasileiros ainda não se deram conta de que a roubalheira e a incompetência demonstradas diariamente pelos lulistas não ocorrem no vácuo, não vêm do nada. Vêm de um esquema político muito maior, do qual Lula e o PT são apenas uma peça, a qual pode ser facilmente substituída. É isso que explica a corrupção reinante nos altos e baixos escalões da administração lulista. Para atingir seus objetivos políticos, os petistas e seus aliados não hesitaram em levar ao pé da letra o lema "os fins justificam os meios". É isso também o que explica a ausência total de manifestações de massa contra o governo. É que, graças a esse trabalho de infiltração e de propaganda, os lulo-petistas conseguiram o monopólio das ruas, controlando as principais instituições da chamada "sociedade civil" (partidos, sindicatos, igrejas, ONGs etc.), às quais se soma, agora, o controle do aparelho estatal. Isso foi feito por anos a fio, de forma quase silenciosa, sem que nos déssemos conta. Tudo seguindo à risca os ensinamentos de Lênin e de Gramsci.

Os aplausos a Cuba e as vaias aos EUA, na mesma noite e na mesma ocasião das vaias a Lula, demonstram que o povo brasileiro (e não só a classe média) está totalmente confuso e desorientado diante do (des) governo Lula. Revelam que ainda não relacionou a corrupção e incompetência lulistas a suas raízes ideológicas. Sem fazer essa associação, sem ligar causa e efeito, a indignação ficará restrita a episódios de menor importância, como as frases de Tia Marta e o "top, top, top" de Marco Aurélio Garcia que, retirados de seu contexto ideológico, não passam de demonstrações de grosseria e de falta de educação. Enquanto a população não tomar consciência do que lhe vem sendo sistematicamente escondido há pelo menos dezessete anos, nenhuma vaia ou editorial indignado será capaz de abalar o curso desse esquema previamente montado. Em vez de se denunciar o plano totalitário levado a cabo há décadas, escolheu-se criticar os maus modos dos governantes. É o mesmo que criticar o carrasco por cuspir no chão.

SOB O DOMÍNIO DO DR. MABUSE


Estou ficando preocupado. Quando já me preparava para escrever mais um texto sobre o atual apagão aéreo, político e moral reinante no país, eis que esbarro no texto a seguir, que já diz tudo que eu queria dizer e ainda mais um pouco. Os que se importam com o mensageiro e não com a mensagem dirão que o texto foi retirado de um site "de direita" e que o autor é um comunista arrependido (como se reconhecer que esteve errado fosse demérito). Os que se interessam pelo conteúdo e consideram que mudar de idéia é sinal de inteligência ficarão gratificados. Transcrevo o texto, com alegria e com uma pontinha de inveja por não ter escrito antes algo tão incisivo.

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Oposição sentimentalóide


por Heitor De Paola em 23 de julho de 2007


Resumo: O Comandante da Força Aérea homenagear um dos maiores responsáveis pelo caos, poucas horas depois da maior catástrofe aérea da história defte paíf, enquanto a "oposição" se prende a detalhes absolutamente irrelevantes no grave contexto nacional, é um dos exemplos de como a realidade brasileira imita a ficção mais assustadora. © 2007 MidiaSemMascara.org


“Quando a humanidade, subjugada pelo terror do crime, for levada à insanidade pelo medo e pelo horror, e quando o caos se tornar a suprema lei, então terá chegado o momento para o império do crime”. Dr. MABUSE

Em 1933, o genial Fritz Lang usou estas palavras para definir sua idéia de um moderno terrorista, Dr. Mabuse. Lang concebeu este filme, “O Testamento do Dr. Mabuse”, baseado na iminente tomada do poder por Hitler e seus asseclas. O personagem, concebido pelo novelista Norbert Jacques, foi transposto para o cinema por Lang em 1924, quando produziu o primeiro filme da série, “Dr. Mabuse, o Jogador”, em duas partes, a segunda denominada “O Inferno do Crime”. Dizia Mabuse então: “Só resta uma coisa de interessante: jogar com as pessoas e seus destinos”. Quando seu império do crime desmorona, Mabuse enlouquece e é internado num manicômio em estado catatônico. Nove anos depois sai da catatonia e passa a escrever freneticamente milhares de folhas. O Diretor do manicômio, Herr Professor Doktor Baum, lê com grande interesse e aos poucos vai assumindo as idéias de Mabuse como suas, formando até mesmo uma quadrilha para executar suas ordens. Quando morre Mabuse, assume sua personalidade. Lang, um dos maiores mestres da cinematografia de todos os tempos, assim como sua roteirista e esposa Thea von Harbou, inclui uma memorável cena com o espectro de Mabuse incorporando no Dr. Baum.
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Era o louco tomando conta do hospício mas, diferentemente de Simão Bacamarte, seu interesse está definido na frase em epígrafe. Há método por trás da loucura; há planos traçados pela insanidade. Assim era o nazismo; assim é o comunismo; assim é o petismo. Mabuse foi profético.
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Enquanto o plano insano vai sendo implantado com método, o que faz a, a meu ver inexistente, oposição? Sentimentalóide e lacrimejante protesta indignada contra gestos obscenos de Marco Aurélio e seu capanga, e o “relaxa e goza” da Martinha! Que por ser sexóloga deve entender do que diz. Ora, por favor, senhoras e senhores que se dizem antipetistas! Querem combater o comunismo que já está em fase acelerada de implantação como nunca antes nefte paíf com pruridos moralistas pequeno-burgueses? Há aqueles que não sabem da missa a metade, vá lá, fazem por inocência mesmo. Mas quem conhece o método por trás de tudo isto e que se auto-proclama oposicionista, pretende derrubar a insanidade comunista exigindo educação e boas maneiras dos loucos que tomaram de assalto o hospício e o estão dirigindo?
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Esta é a oposição que o PT pediu a Deus! MAG, Marta e seus asseclas devem estar rindo, relaxando e gozando, depois dos pedidos de desculpas falsas, comemorando também as vaias do Maracanã onde quase 90.000 imbecis – o “quase” é porque certamente havia exceções – vaiaram a delegação americana e aplaudiram de pé a cubana. E as vaias ao Lula? Não têm a mínima importância porque o militante, mesmo sendo Presidente, não vale nada para eles; a causa está acima de tudo. E os aplausos aos cubanos revelam que o plano por trás da loucura está dando certíssimo: o Dr. Mabuse de Havana foi aplaudido e é isto que interessa. A oposição comemorou as vaias ao Lula? Ótimo, fiquem lavando a alma com estas besteiras – finalmente era a classe média mesmo porque os pobres que votam e continuarão votando no Lula não têm dinheiro para pagar os ingressos caríssimos cobrados para estar lá – enquanto nós vamos ampliando nosso poder. E com o apoio das Forças Armadas, pois num gesto muito mais revelador, a medalha ao Zuanazzi, demonstra claramente que a insanidade também tomou conta delas. O Comandante da Força Aérea homenagear um dos maiores responsáveis pelo caos, poucas horas depois da maior catástrofe aérea da história defte paíf, isto sim é de preocupar, assim como o aplauso ao Mabuse de Havana.
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Estes dois gestos são os mais significativos da semana que passou e não os de MAG e seu capanga que, convenhamos, quantos dos críticos já não os fizeram en petit comité? Não é à toa que a imprensa capacho está relaxando e gozando: a falsa indignação no Globo de hoje (21 de julho) do serviçal Merval Pereira e do comunista Zuenir Ventura – certamente multiplicada por todos os demais defte paíf – reflete muito bem como estes protestos estão sendo recebidos pela mídia chapa branca.
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Fui possivelmente o primeiro a alertar, aqui neste veículo eletrônico, de que o grande perigo não estava em Lula, nem em Dirceu, nem em Berzoini, nem em Palocci, mas no verdadeiro poder por trás de tudo: Marco Aurélio Garcia. Nas listas de discussão às quais eu pertencia à época das revelações bombásticas do Roberto Jefferson, quando as pessoas exultavam que “agora o Lula cai”, eu fazia diariamente a pergunta: cadê o MAG? Devo ter enchido a paciência de muita gente com a repetição ad nauseam deste estribilho, Cadê o MAG? Não é por birra, é porque conheço o MAG desde a época em que eu era um idiota útil da Ação Popular lá no sul, em 1963. Talvez até o tenha encontrado pessoalmente alguma vez, não sei, mas seu nome era bem conhecido desde então.
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Exilado no Chile e participante ativo do MIR (Movimiento de Izquierda Revolucionaria), organização terrorista chilena, foi o intermediário entre Allende e Fidel Castro no contrabando de armas cubanas para “defender a revolução socialista” no Chile (Estado de São Paulo, 6/1/2000). Em 1990, por ordem de Castro, convocou para um encontro em São Paulo todos os grupos esquerdistas da América Latina e do Caribe. Compareceram representantes de 48 partidos comunistas e grupos terroristas que se reuniram no Hotel Danúbio, na Capital. Estava fundado o Foro de São Paulo, organização que desde então coordena toda a esquerda na região com a finalidade precípua e declarada de retomar na AL o que foi perdido no Leste Europeu. Os co-Presidentes são Fidel Castro e Lula; MAG é o Secretário Executivo e ocupa um dos principais gabinetes vizinhos ao de Lula no Palácio do Planalto, de onde controla e coordena todos os grupos guerrilheiros e terroristas desde o Rio Grande até a Patagônia. Declarou em entrevista ao Le Monde que “as eleições democráticas são uma farsa, unicamente um passo para a tomada do poder de uma nação”. Além de ativista é um teórico respeitado nos círculos comunistas internacionais. Um dos seus artigos corre mundo: “O Manifesto e a Refundação do Comunismo” (in Teoria e Debate, 26/01/2001) onde declara expressamente: “Nossa agenda é clara. Se o novo horizonte que buscamos ainda é chamado de comunismo, é hora de reconstruí-lo”.
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E querem censurá-lo por gestos obscenos e pela insensibilidade em relação às 200 vítimas do Airbus da TAM, logo um cúmplice do assassinato de 100 milhões de pessoas? Ora, façam-me o favor. Assim Mabuse completará a profecia: já está sendo instalado no Brasil os Mil Olhos do Dr. Mabuse, último filme da trilogia: os mil olhos da PF, da Receita, das leis anti-homofóbicas e anti qualquer coisa que sirva para amarrar as mãos de todos, como nunca antes nefte paíf.
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O caos reinante nefte paíf não é fruto da incompetência, mas do plano bem urdido para chegar ao estado em que o Dr. Mabuse e sua gang tomarão o poder. A explicação para todos os estados caóticos que vêm ocorrendo está lá em cima, na epígrafe. Lá, também, as pessoas bem educadas lastimavam os “maus modos” das Sturm Abteilungen (Tropas de Assalto Nazista). Pois a mensagem que a “oposição” está mandando, ao reclamar dos maus modos, é: com vaselina pode!
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O autor é escritor e comentarista político, membro da International Psychoanalytical Association e Clinical Consultant, Boyer House Foundation, Berkeley, Califórnia, e Membro do Board of Directors da Drug Watch International. Possui trabalhos publicados no Brasil e exterior. E é ex-militante da organização comunista clandestina, Ação Popular (AP).

quarta-feira, julho 25, 2007

LIÇÕES DE UMA VAIA, OU O INCRÍVEL PRESIDENTE QUE SUMIU


A monumental vaia ao Grande Molusco no estádio do Maracanã, durante a cerimônia de abertura dos Jogos Pan-Americanos no Rio de Janeiro, assim como a reação apalermada de Lula ao acidente da TAM em Congonhas, alguns dias depois, trazem lições bastante valiosas para compreender isso que aí está e que, na falta de palavra melhor, convencionou-se chamar de governo.

Primeiro, a vaia. Tornou-se comum dizer que a popularidade de Lula repousaria no assistencialismo e no paternalismo estatal às camadas mais pobres, felizes em sua ignorância, contentes por ganharem 60 reais por mês de esmola do, vá lá, governo. Nesse sentido, os apupos ao supremo mandatário da nação, durante a cerimônia de abertura dos Jogos Pan-Americanos, teriam sido uma demonstração da classe média, de gente que lê jornal e viaja de avião. Outros, como o ministro do Esporte, preferem o caminho mais fácil e dizem que foi tudo uma coisa orquestrada, culpando o César Maia. Além do mais, no Maracanã, dizem, vaia-se até minuto de silêncio.

Tais explicações, obviamente, não procedem. Pelo simples motivo de que a popularidade de Lula não se deve somente aos miseráveis, que pelo menos podem dizer que têm um, vá lá, governo chefiado por um indivíduo ainda mais ignorante do que eles. Deve-se, acima de tudo, a décadas de trabalho minucioso de preparação ideológica, do qual fizeram parte também setores importantes da mídia e das elites - sim, da mesma "zelite" que Lula durante tanto tempo fustigou como culpada de todos os males defte paif. Foram esses mesmos companheiros que deram corda ao mito do ex-metalúrgico, o qual durante trinta anos acostumou-se a ser elogiado, adulado, bajulado, afagado de todas as maneiras possíveis pela mesma burguesia oportunista que sempre mamou nas tetas do Estado-patrão, do Estado-provedor, do Estado-empresário brasileiro. São os empreiteiros que fizeram a festa com os trabalhos do Pan, superfaturando milhões com a construção de megaestádios e vilas olímpicas. São os seus cortesãos, aqueles que sempre sentam na frente nas cerimônias oficiais, que aplaudem com mais entusiasmo cada palavra do Apedeuta como se fosse a Verdade revelada saída da boca do messias encarnado. Esses setores da classe alta estão felicíssimos com o, vá lá, governo Lula.

Para além das explicações simplistas, padrão luta de classes, dos lulistas, o que me chamou a atenção foi o jeito como Lula e seus asseclas encararam o episódio. Mais especificamente, como Lula empalideceu diante da vaia gigantesca. Quem assistiu à cena na TV sabe: Lula estava lívido. Ele simplesmente não podia acreditar que aquelas vaias, aqueles assovios de reprovação, eram para ele, Luiz Inácio. O rosto encrispado de Lula, o sorriso amarelo, o constrangimento, dele e de seus assessores, lembraram-me a cena do ditador romeno Nicolae Ceaucescu, diante daquela manifestação inesperada da oposição, que deflagrou o movimento popular que resultou em sua queda e fuzilamento, em 1989. Assim como Ceaucescu, Lula foi pego totalmente de surpresa. Assim como o ditador romeno, ele esperava ir para uma festa, oficial e bem-comportada, onde seria protocolarmente ovacionado, e não estrepitosamente vaiado. "Por que não me amam?", deveria estar pensando Lula, assim como Ceaucescu, quase vinte anos antes. Lula estava paralisado pelas vaias, tanto que desistiu de ir ao microfone e declarar abertos os Jogos. Com medo de que a cena se repita, também já anunciou que não vai à festa de encerramento. Acovardou-se. Amarelou.

Agora, o acidente da TAM. Todos viram, ou melhor, não viram, a reação do, vá lá, governo após o avião espatifar-se em Congonhas. A reação de Lula foi semelhante a que teve no Maracanã: recolheu-se, escondido, só se pronunciando sobre o desastre três dias depois. Aconselhado por seus marqueteiros, fez um discurso chocho, vazio como todos os seus pronunciamentos, virando o rostinho para cá e para lá, para melhor enquadrar na câmera e tentar dar mais ênfase àquilo que dizia: nada. E só. No resto do tempo, escolheu o caminho mais fácil. Sumiu. Desapareceu. Escafedeu-se.

Essas demonstrações explícitas de tibieza e de covardia por parte de quem supostamente deveria estar no comando do País, assim como o "top, top, top" de Marco Aurélio Garcia, não me causaram surpresa. Lula já demonstrou em diversas ocasiões sua incapacidade de suportar críticas e enfrentar situações adversas. É assim hoje, com as vaias no Maracanã e com o apagão aéreo, assim como foi sempre. Nas últimas eleições presidenciais, lembremos, ele fugiu o quanto pôde do debate com os demais candidatos. Antes, em 2002, dera mostras claras de nervosismo, sempre que instado a responder alguma pergunta mais embaraçosa. Já como presidente, adiou até não mais poder a primeira entrevista coletiva de imprensa. Sem falar nas várias tentativas de controlar a mídia, que vão desde a expulsão de um jornalista estrangeiro até querer impor a censura aos meios de comunicação. Não por acaso, o verbo que mais se aplicou a Lula nesses últimos tempos foi "blindar" - depois de décadas de endeusamento de sua personalidade, que resultou na criação do maior mito político da História nacional, Lula cercou-se de assessores e marqueteiros, que trataram de a todo custo blindá-lo contra qualquer crítica, isto é, de preservar o mito contra a realidade. O que Lula e sua turma querem não é o debate, não é enfrentar responsabilidades. É aplauso. Como os ditadores, querem ser amados, não cobrados ou contestados.

Daí a surpresa de Lula diante das vaias no Maracanã e a paralisia que o acometeu após a tragédia em Congonhas, à qual se soma a falta de ação do, vá lá, governo desde que surgiram os primeiros escândalos de corrupção. Daí também que os discursos de Lula soem tão ocos, tão vazios de significado. Já tive a oportunidade - o.k., oportunidade não é bem a palavra, mas vá lá - de assistir ao vivo a alguns discursos de Lula. É sempre a mesma ladainha, a mesma lengalenga, o mesmo arrastar infinito de chavões e lugares-comuns. Quando, em alguma cerimônia oficial, tem que ler algum texto cuidadosamente preparado por algum assessor, tarefa que considera tão penosa quanto caminhar de esteira, Luiz Inácio mostra um enfado e um tédio gigantescos, falando monotonamente, esbarrando nesta ou naquela palavra mais complicada. Quando, diante de um microfone, fala de improviso, mostra um desembaraço surpreendente: agita-se, transforma-se, gesticula, esbraveja, arregala os olhos, eleva a voz, como um pastor num púlpito, dando-se o direito até mesmo de distribuir conselhos sobre a vida sexual dos cidadãos. Observando com mais atenção, pode-se mesmo vislumbrar um fio de saliva escorrendo no canto de sua boca. Há algo de intrinsecamente neurótico, de essencialmente histérico, nesses rompantes verborrágicos, nos cacoetes verbais, nos "sabe" e "ou seja", nas expressões às vezes chulas, nas caras e bocas que faz nosso presidente. É a contrapartida carismática da blindagem populista, o disfarce retórico da incompetência e da fraude.
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Certa ocasião, Winston Churchill, que acabava de assumir o cargo de primeiro-ministro, foi vaiado pela multidão. Sem se deixar abater, mostrando toda sua fleuma e presença de espírito, ele respondeu: "Grande é o povo que pode vaiar seu primeiro-ministro. Grande é o povo cujo primeiro-ministro vem a público prestar contas do seu governo e é vaiado". Logo as vaias se converteram em aplausos. Também pudera. Aquelas eram palavras de um estadista. Não de um arrivista despreparado e covarde.
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P.S.: Ainda não cheguei ao ponto de afirmar, como Olavo de Carvalho, que a destruição das instituições do Estado a que estamos assistindo - inclusive da infra-estrutura aérea - é parte deliberada e inseparável do esquema gramsciano-comunista de tomada e manutenção do poder. Mas, diante de tantas mostras explícitas de incompetência e descaso, assim como das repetidas fugas à responsabilidade de Lula e seus asseclas, estou começando a pensar em mudar de idéia.

segunda-feira, julho 23, 2007

A GRANDE CURRA LULISTA

Alguns anos atrás, quando eu ainda era estudante no Instituto Rio Branco, assisti a uma palestra de Marco Aurélio Garcia. O tema da palestra, se não me engano, era política internacional da América do Sul. Na ocasião, fiz a seguinte pergunta ao dignissímo ex-professor da Unicamp e assessor especial da presidência da República: por que o governo brasileiro não reconhecia os grupos armados que atuam há décadas na vizinha Colômbia (não citei especificamente nenhum deles), responsáveis por dezenas de milhares de mortes e pela instabilidade crônica na região, como terroristas?

Visivelmente incomodado, até mesmo irritado com pergunta tão inconveniente, ainda mais vinda de um mísero e insignificante terceiro-secretário, o professor Marco Aurélio Garcia respondeu mais ou menos assim: se o Brasil reconhecesse os grupos colombianos como terroristas, como gostaria o governo Bush e o próprio governo de Bogotá, iria certamente entrar numa encrenca danada, seria acusado de ingerência nos assuntos de um país vizinho, a guerra civil e o narcotráfico na Colômbia eram assunto exclusivo dos colombianos etc. etc. Em outras palavras: o Brasil não tinha nada a ver com aquilo e ponto final. Era a maneira de ele dizer que não gostou da pergunta e de me mandar calar a boca.

Quinta-feira passada Marco Aurélio Garcia foi pego em flagrante por uma câmera de TV fazendo o caractéristico gesto de top, top, top após ter visto reportagem do Jornal Nacional sobre o acidente do avião da TAM em São Paulo, que resultou em quase 200 mortos. A seu lado, um assessor fazia outro gesto bem conhecido, imitando uma curra. Estavam com isso, as imagens sugerem, comemorando a notícia, que dizia que o acidente poderia ter sido causado por um defeito no avião e, logo, o governo não teria nenhuma responsabilidade pelo ocorrido - o que, diga-se, só pode ser verdade em suas mentes fantasiosas. Assim acreditavam, é o que mostram as imagens, festejando que o governo não teria nada a ver com o desastre e estaria, assim, tirando o seu da reta. Pior para a companhia aérea, pensavam. Comemoravam. Celebravam. Top, top, top. Crau!

A cena ficará registrada para sempre como um dos momentos mais infelizes de um dos governos mais infelizes da História do Brasil. Quem melhor a definiu foi o senador Pedro Simon que, apesar de fazer parte do PMDB, que compõe a base política do governo, ao que parece ainda não perdeu o senso de decência. Em entrevista à TV, surpreendido com as imagens, Simon classificou a cena como grotesca e cruel, uma verdadeira afronta à dor que centenas de famílias brasileiras estão sentindo. Uma indecência, em todos os sentidos.

Observando as imagens, é impossível não concordar com Pedro Simon. A cena é realmente repugnante, nojenta, e expressa, em sua silenciosa eloqüência, todo o escárnio e deboche com que o governo Lula vem tratando a questão do caos aéreo. É semelhante, em grosseria e cinismo, ao "relaxa e goza" da embotocada Marta Suplicy. Ou às imagens revoltantes dos funcionários da ANAC rindo (!) a cem metros dos cadáveres calcinados e dos escombros do acidente do avião da TAM no aeroporto de Congonhas. Mas, ao contrário do ilustre senador, não fiquei nem um pouco surpreendido com o gesto de Marco Aurélio Garcia. Afinal, alguém que se nega a reconhecer os narcotraficantes das FARC como terroristas é perfeitamente capaz de fazer top, top, top com a desgraça alheia.

Também não fiquei nem um pouco surpreso com a reação destemperada e cretina do assessor especial de Lula, no dia seguinte à divulgação das imagens. Furibundo, Marco Aurélio Garcia chegou até a publicar uma nota oficial, em que se dizia "indignado" pela tentativa de "manipulação" de uma - foi o que disse - reação "privada", através de imagens captadas - afirmou - de "forma clandestina". Com isso, queria aparecer como vítima de uma armação, de um complô das elites e da mídia, tentando convencer a todos de que o que viram não foi nada daquilo. Mais ainda: o gesto - top, top, top - foi apenas uma reação "privada", gente... Que tenha sido feito por um funcionário de primeiro escalão do atual governo e - top, top, top - dentro de seu gabinete, a poucos metros da sala do presidente da República, é algo que parece não perturbar a lógica implacável do professor Marco Aurélio Garcia. Reação privada, rárárá.

É assim que os lulo-petistas tratam a coisa pública no Brasil. Infelizmente para eles, as câmeras da imprensa brasileira ainda não estão a seu serviço. Top, top, top pra você, Marco Aurélio Garcia.

P.S.: Pesquisando na rede, encontrei o texto a seguir, com informações bastante interessantes sobre Marco Aurélio Garcia. O texto, retirado de um site venezuelano, é de 27 de dezembro de 2002, e tem um título dos mais sugestivos: "El brasileño que gana tiempo para Chávez. Sus vínculos terroristas y con Saddam". Vale a pena dar uma olhada: http://images.google.com.br/imgres?imgurl=http://militaresdemocraticos.com/articulos/20021227-01.jpg&imgrefurl=http://militaresdemocraticos.com/articulos/sp/20021227-03.html&h=201&w=140&sz=8&hl=pt-BR&start=6&um=1&tbnid=qo6RZOVT5pk7IM:&tbnh=104&tbnw=72&prev=/images%3Fq%3DMarco%2BAur%25C3%25A9lio%2BGarcia%2B%26svnum%3D10%26um%3D1%26hl%3Dpt-BR%26sa%3DG

sexta-feira, julho 20, 2007

A DOR E A FÚRIA


Muitas vezes faltam palavras para expressar toda a raiva e indignação que sentimos, diante de uma catástrofe como a que se abateu sobre o País nos últimos dias.

Tinha até pensado em colocar na tela do computador um pouco desse sentimento. Mas, depois de ler o texto que vai a seguir, percebi que outro já fez melhor do que eu poderia fazer.

Saiu no Jornal de Hoje, pequeno diário da pequena cidade que me serviu de berço, Natal/RN, edição digital de 20/07. Seu autor é o colunista Alex Medeiros, que a partir de hoje ganha um admirador à distância. É a minha singela homenagem às vítimas da incompetência assassina e do descaso irresponsável, transformados em política oficial de Estado na República Lulista do Brasil:
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"DROGA DE GOVERNO

A ministra do Interior da Inglaterra, Jacqui Smith, de 44 anos, pediu perdão aos ingleses por ter fumado maconha na juventude, durante os tempos de vida estudantil na Universidad de Oxford, lá pelos anos 80.

Ah, quem dera, se o único deslize do lulo-petismo fosse apenas as sessões de baseados que a turba hoje no poder participou em priscas eras. Quisera que o único erro dos petistas fosse só rodar uns fininhos numa discussão sobre Lênin ou filme de Godard.

A imprensa internacional, a mesma que repercute agora o pedido de perdão de Smith, também analisa a tragédia em São Paulo com o vôo da TAM. E como a mídia mundial não usa slogan do tipo “é mais Brasil”, oferece mais lúcido jornalismo.

Há, sim, uma ponte (aérea ou não) entre o trágico episódio de Congonhas e o acidental governo do senhor Luiz Inácio. Um governo que lançou uma nação inteira num apagão de proporções técnicas e morais. Um governo relaxado.

A administração Lula é um conjunto de ações apagadas, infelizmente acesas por luzes publicitárias de uma polpuda verba oficial que alimenta os cofres da grande imprensa e ilude cidadãos desavisados, alguns dispostos a se acumpliciar com as mentiras bem pagas.

Não consigo olhar para essa foto da família Cunha, estampada nas capas dos nossos jornais e na tela das TVs, sem lembrar com nojo o comentário imbecil e escroto da ministra do sexo-turismo, a beldade sexagenária Marta Suplicy.

Repugnância maior ainda ao lembrar do ministro Guido Mantega quando verto lágrimas como se fosse para um filho olhando os rostinhos de Caio Felipe e Ana Carolina, as crianças mortas no vôo da TAM e que estudam na mesma escola dos filhos de tantos leitores. ..."

Não pude ter acesso à íntegra do texto acima, restrita aos assinantes do jornal. Mas não é preciso. Não conheço Alex Medeiros. Mas ele já deu muito bem conta do recado. Parece que há uma luz no fim do túnel, afinal.

segunda-feira, julho 16, 2007

UM CONTO DE DUAS TRAIÇÕES



Em 26/01/1969, o capitão do exército Carlos Lamarca fugiu, juntamente com mais dois militares, do quartel de Quitaúna (SP), onde servia. Levou consigo uma Kombi com 63 fuzis, várias metralhadoras e farta munição, que foram entregues a duas organizações da esquerda radical que praticavam a luta armada contra o regime militar instaurado no Brasil em 1964.

Lamarca abandonou as Forças Armadas que jurara defender para se juntar à guerrilha, primeiro como militante da Vanguarda Popular Revolucionária (VPR), depois do Movimento Revolucionário 8 de Outubro (MR-8). Como tal, participou de várias ações armadas, como assaltos a bancos, seqüestros de diplomatas e assassinatos, tendo sido o responsável direto, pelo menos, por três mortes: a de um guarda civil, de um tenente da PM/SP - executado a coronhadas de fuzil depois de ter sido capturado - e de um segurança do Embaixador da Suiça, fuzilado quando tentava impedir o seqüestro do mesmo. Em 17/09/1971, a trajetória de Lamarca, ou "Cid", ou "Daniel", ou "Cirilo" - nomes que usava na clandestinidade - chegou abruptamente ao fim, no sertão da Bahia, na forma de uma rajada de metralhadora desferida pelos agentes da repressão, a qual pôs termo à sua vida, juntamente com a do militante que o acompanhava.
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Recentemente, a Comissão de Anistia do Ministério da Justiça resolveu promover o ex-capitão Carlos Lamarca, "Cid", ou "Daniel", ou "Cirilo", à patente de coronel. Com isso, sua viúva passou a ter o direito de receber uma pensão equivalente a de general-de-brigada e seus filhos, que foram com ela para o exílio em Cuba após a deserção do marido, receberão a bolada de 100 mil reais cada, a título indenizatório. Em 1995, a Comissão dos Mortos e Desaparecidos Políticos do Ministério da Justiça, criada pelo governo de Fernando Henrique Cardoso, já havia reconhecido que Lamarca fora morto sem chances de defesa, tendo concedido a sua família uma indenização de 150 mil reais, em valores da época, pelo ocorrido.

A indenização a seus familiares e a promoção póstuma de Lamarca causaram furor e indignação nas Forças Armadas, em particular entre antigos militares que participaram do combate às guerrilhas. Estes as consideram um acinte, um deboche às vítimas do terrorismo. Para eles, Lamarca é um traidor.
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José Anselmo dos Santos, o Cabo Anselmo, foi o líder da revolta dos marinheiros que, em 25/03/1964, ao marcar a quebra da hierarquia e da disciplina nas Forças Armadas, foi o estopim do golpe militar que derrubou o governo João Goulart, uma semana depois. Preso após o golpe, ele fugiu da prisão para exilar-se no Uruguai e depois em Cuba, onde recebeu treinamento de guerrilha. Ao retornar ao Brasil, depois do AI-5, foi novamente preso em 30/05/1971, desta vez pela equipe do delegado paulista Sérgio Fleury. Nessa ocasião, segundo seu depoimento ao jornalista Percival de Souza (Eu, Cabo Anselmo, São Paulo: Ed. Globo, 1999), Anselmo foi torturado e colocado diante de uma escolha: ou aceitava colaborar com as forças da repressão ou seria morto por seus captores. Ele aceitou a primeira opção, tornando-se um agente infiltrado na VPR, que ajudou a destruir, levando à morte vários de seus companheiros de luta armada, entre os quais sua própria mulher na época, a qual, dizem os sobreviventes da esquerda radical, estaria grávida dele. Desde então, Anselmo vive escondido, com novo rosto e identidade falsa, temendo por sua segurança.

Recentemente, o Cabo Anselmo voltou às manchetes, ao requerer junto à mesma Comissão que promoveu postumamente Lamarca o direito a ser indenizado, pois, como argumenta, foi também vítima da repressão, tendo sido expulso da Marinha em 1964 e perdido seus direitos políticos. Seu caso foi, inclusive, retratado no programa televisivo Linha Direta, da Rede Globo.

O pedido de indenização de Anselmo causou furor e indignação entre a esquerda, em particular entre os sobreviventes da guerrilha. Estes o consideram um acinte, um deboche às vítimas da ditadura. Para eles, Anselmo é um traidor.

Os casos de Lamarca e de Anselmo demonstram o viés claramente ideológico que tomou a disputa pela memória dos "anos de chumbo" da ditadura militar no Brasil, bem como da polêmica questão das indenizações às vítimas do regime de 64. Tal viés é demonstrado de forma cabal no tratamento diferenciado dado a cada um: Lamarca, o desertor e traidor do exército, que escolheu o terrorismo e o comunismo em vez da farda, o militar que se desiludiu com os rumos da ditadura no Brasil e se converteu em revolucionário pró-Cuba, é louvado pela esquerda como herói e mártir da luta pela democracia (sic); Anselmo, o traidor da VPR, o ex-marinheiro que se tornou guerrilheiro e então, após ter sido preso e também por desilusão ideológica, algoz de seus próprios camaradas de luta, é quase universalmente execrado como paradigma de traição vil, de canalhice e covardia abjeta. A ponto de, ao requerer indenização, ser tratado como um reles oportunista e não ousar, mesmo após a Lei de Anistia e a redemocratização, mostrar o rosto na rua.

Há muita hipocrisia nisso tudo. Primeiro, porque, sim, Anselmo foi um traidor, e foi responsável por várias mortes no meio da esquerda armada, mas não menos do que foi Lamarca em relação ao exército. Segundo, porque, pelos próprios critérios da esquerda, ele foi, sim, vítima da ditadura, pois teve os direitos políticos cassados em 64, logo tem também direito a ser indenizado. Terceiro, porque a Lei de Anistia de 1979 perdoou os crimes dos dois lados, e não somente os cometidos pela esquerda - pode-se criticar o caráter recíproco da Anistia, mas não se pode pretender, em são juízo, revogá-lo, sob pena de se demolir todo o arcabouço jurídico posterior, que deu origem à própria Lei dos Mortos e Desaparecidos Políticos (Lei 9.140/95), tão cara hoje às esquerdas, as mesmas que se enchem de indignação ao verem o Cabo Anselmo requerendo tratamento de ex-perseguido político.

Assim como Anselmo, há vários remanescentes da luta armada com sangue nas mãos, alguns deles hoje ocupando importantes cargos públicos, e nem por isso se ouve gritaria semelhante contra o tratamento favorável que lhes é dispensado. Não duvido que, caso fosse vivo, Lamarca estaria em algum ministério, como Marco Aurélio Garcia ou Dilma Rousseff. Outros militantes que participaram de ações violentas, como Fernando Gabeira e Carlos Mariguella, são reverenciados como símbolos ou heróis da resistência democrática, embora esteja claro que não lutavam pela democracia, mas por um tipo de ditadura revolucionária, como bem observou Elio Gaspari. Por que então essa indignação quanto ao Cabo Anselmo?

A verdade é que se confundiu, desde a Lei de 95, indenização com premiação por serviços prestados à causa esquerdista. Até o momento, somente foram agraciadas as famílias daqueles que lutaram contra ou foram, de alguma forma, vítimas da ditadura militar. Isso significa um duplo padrão ideológico, claramente discriminatório, baseado na falsa idéia bastante difundida de que a violência política dos anos 1964-1979 foi de mão única, ou seja, que só houve vítimas da repressão, de um lado, e seus algozes, os meganhas e torturadores, de outro. Ficaram de fora, assim, os cerca de 100 mortos em ações perpetradas pela esquerda armada, vários deles simples traunseuntes ou trabalhadores inocentes, como o guarda civil abatido a tiros por Lamarca. É o caso, também, das vítimas dos "justiçamentos" (assassinatos cometidos pela esquerda), algumas delas - pelo menos quatro, segundo levantamento feito por Jacob Gorender, mais um caso na chamada Guerrilha do Araguaia - militantes assassinados a sangue-frio por seus próprios companheiros de luta armada, em geral por mera suspeita de traição, jamais confirmada. Não por acaso, uma revista de grande circulação nacional batizou as indenizações de "Bolsa-Terrorismo".

O próprio Cabo Anselmo quase foi alvo de uma dessas ações homicidas. Só não foi fuzilado por seus companheiros de guerrilha porque estes foram todos capturados e mortos pela repressão, na chacina da Chácara São Bento, em Abreu e Lima (PE), em 1973. Nenhum desses "justiçados" - todos, ressalte-se, sem culpa formada - está incluído em nenhuma lista de mortos e desaparecidos políticos durante a ditadura militar no Brasil, nem seus parentes foram até hoje indenizados por suas mortes.
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O fascínio pelos "anos de chumbo" no Brasil só não é maior do que a tendência a romantizar a luta armada e satanizar os militares. Na verdade, os militantes das organizações que pegaram em armas contra o regime militar não o fizeram por serem democratas, mas porque desejavam ir à desforra pela derrota de 1964. Não queriam a democracia, não lutavam pela liberdade; lutavam, isto sim, para substituir uma ditadura por outra, revolucionária e anticapitalista, certamente antiamericana, nos moldes de Cuba ou da China de Mao Tsé-Tung. Pretendiam conseguir pela violência o que não foram capazes de alcançar por meios legais e pacíficos. Se vencessem, não duvidem: em vez de um regime autoritário de direita, teríamos uma ditadura totalitária de esquerda. Em vez de anos de chumbo, rios de sangue, como afirmou Roberto Campos.
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O problema, nessa questão, é o maniqueísmo, a tendência a enxergar apenas um lado da moeda. Nem os guerrilheiros foram todos anjos de heroísmo e bravura, nem os militares foram todos monstros de crueldade e selvageria como são geralmente pintados pelas esquerdas, e vice-versa. A repressão foi feroz? Foi. Houve tortura? Houve. Prisioneiros foram massacrados e assassinados covardemente? Foram. Mas nada disso se compara, em alcance, intensidade e duração, ao que existiu nos países do bloco comunista, como a ex-URSS, a China, Cuba ou a Coréia do Norte, que eram vistos como modelos e fontes de inspiração - quando não de treinamento e recursos materiais - pela guerrilha. Isso significa que os crimes cometidos pelas ditaduras de direita, por terem sido comparativamente menores do que os das ditaduras de esquerda, devem ser justificados e esquecidos? Nada disso. Mas nenhuma pessoa séria e honesta, se não quiser passar por parcial e facciosa, pode dar-se ao luxo de ignorar essa diferença essencial quando se analisa a questão das indenizações às vítimas do período.
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Portanto, se a Comissão de Anistia houve por bem agraciar a família de Lamarca, não há razão alguma, sob pena de grave hipocrisia ou favorecimento ideológico, de deixar de fazer o mesmo em relação ao Cabo Anselmo. As vítimas deste último já foram, de certa forma, compensadas por sua traição. As de Lamarca, não. A Justiça está sendo feita pela metade.

sexta-feira, julho 13, 2007

REPÚBLICA DOS COITADINHOS

Renan Calheiros disse que está sendo vítima de preconceito porque é nordestino. Disse também que querem derrubá-lo porque não conseguiram derrubar o Presidente Lula, outro nordestino como ele. O senador Inácio Arruda (PCdoB-CE), nordestino como Lula e Renan, em defesa de seu(s) conterrâneo(s) e aliado(s), foi mais além: quase ninguém no Senado tem autoridade para falar em ética, afirmou, querendo dizer com isso que só quem tem moral para falar no assunto é ele e Renan.

Quer se dar bem no Brasil lulista? Faça pose de vítima. Quer se livrar de acusações de corrupção, depois de ter sido pego com a boca na botija? Diga que é tudo preconceito por você pertencer a alguma minoria - geográfica, racial, sexual - e você terá uma boa chance de se safar. Aproveite e diga que ninguém é melhor do que você, atirando lama nos que o acusam. Desse modo, todos enlameados, ninguém vai ser capaz de lhe distinguir dos seus acusadores e tudo vai ficar como está.

Durante algum tempo resisti a escrever algo sobre o caso do senador Renan Calheiros. Por uma questão de higiene. Afinal, o assunto já está fedendo - literalmente -, sendo constantemente repetido na mídia. Por seus ingredientes, que incluem um lobista camarada, sempre disposto a pagar as contas pessoais do dito senador, uma ex-amante bonitona e uma filha fruto de uma pulada de cerca, o caso mais parece enredo de novelão mexicano. Mas diante dos argumentos utilizados pelo excelentíssimo senhor Presidente do Senado e por seus aliados, percebi que a coisa é um pouco mais complicada. Ou mais simples, dependendo do ponto de vista.

As desculpas de Renan são a culminação de toda uma mentalidade que tem sido imposta, diuturnamente, à sociedade brasileira desde a chegada de Luiz Inácio Lula da Silva ao poder, e mesmo antes disso. Embora ele não possa ser considerado um homem de esquerda - apenas para lembrar, foi um dos cabeças da tropa de choque de Collor -, suas justificativas para as relações promíscuas que mantinha com um lobista de empreiteira são retiradas de chavões incessantemente repetidos pelos esquerdistas, baseados na vitimização de certos setores da sociedade. Esse tipo de discurso está de tal forma entranhado em nosso subconsciente, de tal modo penetrou em nossas mentes embotadas por décadas de propaganda ideológica esquerdóide e politicamente correta, que hoje em dia basta repeti-lo que sempre haverá uma platéia disposta a levá-lo em conta. É exatamente esse o caso do "preconceito contra nordestinos" brandido por Renan para desviar a atenção de sua relação com o lobista, e também para tentar desqualificar o Mensalão ou o Valerioduto, que quase custaram a cadeira do Grande Molusco, o coitadinho-mor.

É esse o caso, também, das cotas raciais nas universidades e de leis específicas para beneficiar grupos como os homossexuais. O que isso tem a ver com as desculpas esfarrapadas de Renan? Muita coisa. Assim como no caso do senador alagoano, o sistema de cotas e a PLC 122/06, que está prestes a ser aprovada no Senado - o mesmo Senado de cuja presidência Renan não arreda pé nem sob tortura -, consagram um tratamento privilegiado a minorias supostamente injustiçadas ou alvo de preconceito e perseguição. As cotas, só para lembrar, reservam 20% das vagas nas universidades a estudantes "afro-descendentes", após um extremamente rigoroso e científico processo de seleção, o qual consiste no exame visual das... fotografias dos candidatos. Os que passarem por "afro-descendentes" têm a vaga garantida; aqueles cuja ascendência africana for considerada insuficiente ficam de fora e terão que entrar na universidade por outros meios mais difíceis, como o estudo. O caso da PLC 122/06 é um pouquinho mais complexo: cria uma lei especial que pune com prisão o crime de homofobia - a aversão a homossexuais -, o que significa a criação de uma categoria especial e privilegiada de cidadãos, ao punir com o rigor do monopólio estatal da violência todo e qualquer engraçadinho que tiver a ousadia de chamar alguém de veado ou boiola. Não por acaso, já se está propondo, a título de blague, a adoção de cotas para gays - só vai ficar complicado definir o critério adotado para a seleção, mas isso os examinadores, com toda sua sapiência, certamente saberão tirar de letra...

Esses exemplos não são aleatórios. Favorecer uma parcela da população, pintar seus membros como vítimas, como coitadinhos, tem sido o método empregado pelos lulistas para defender privilégios e escamotear a realidade. No caso de Lula e Renan, tal discurso tem também a finalidade de garantir a impunidade. Lula, como sabemos, baseia seu discurso numa toada só: nasceu no Nordeste, vem de família pobre, estudou só até o primário (porque quis, mas deixa pra lá), foi metalúrgico... Renan não pode dizer que vem do mesmo berço pobre, mas tem o trunfo da origem geográfica comum.
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Dizer que veio de uma região desfavorecida economicamente - ou que é afro-descendente, ou perseguido por gostar do mesmo sexo - tornou-se o álibi preferido dos inimigos da inteligência e do mérito. No Brasil lulista, políticos corruptos não precisam mais defender-se com provas e argumentos: basta dizer que são alvo de preconceito, e pronto. Lembremos o caso da ex-ministra Benedita da Silva, apelidada de "rainha de Sabá", que despontou para a política no Rio de Janeiro com o lema "mulher, negra e favelada". Ou de Celso Pitta, o enroladíssimo ex-prefeito de São Paulo, cria do incrível Paulo Maluf, que saiu disparando que só foi acusado de corrupção porque é negro, coitado... Do mesmo modo, vestibulandos não têm mais que queimar pestanas e conquistar uma vaga na universidade por seus próprios méritos - é suficiente dizer-se afro-descendente -, e minorias como os homossexuais podem ficar sossegados, pois poderão contar com uma lei criada só para eles. Simplesmente um luxo, como diria Ataíde Patrezzi.
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Curiosamente, o mesmo discurso vitimista de Renan em relação às suas raízes geográficas tem sido usado, por décadas, pelos coronéis nordestinos aboletados no Congresso, sempre ávidos por verbas para seus currais eleitorais. Desse modo desviam a atenção das verdadeiras causas do atraso e da pobreza da região, mostrada sempre como vítima de fatores externos, desde a seca até o imperialismo. Não é por acaso que os herdeiros de Lênin, como o senador Inácio Arruda, se converteram nos mais ferozes cães de guarda de Renan.

O espetáculo deprimente de vitimização lacrimosa e demagógica proporcionado por renans, cotistas e gayzistas tem suas raízes no próprio pensamento de esquerda. Este, como qualquer pessoa com um mínimo de conhecimento sabe muito bem, está baseado numa visão dicotômica e maniqueísta da realidade: burgueses versus proletários, ricos contra pobres, nações centrais e nações periféricas etc. - sempre variações da mesma conversa mole, do mesmo conto-do-vigário feito para encobrir as reais causas da pobreza e dos problemas sociais. Estas sempre serão atribuídas, segundo essa visão míope da realidade, ao outro - o imperialismo, a burguesia, a direita elitista e preconceituosa etc. etc... Diante dessa gigantesca empulhação politicamente correta, o mérito pessoal, a honestidade, a igualdade perante a Lei, tudo isso não significa absolutamente - ou "abisolutamente", como gosta de dizer o Renan - nada. Nadinha. Neca de pitibiriba.

A propósito: para quem não sabe, sou nordestino. Mas se quiserem inventar algum sistema de cotas para quem veio do Nordeste, serei o primeiro a me opor a mais essa papagaiada. Não duvido que um dia teremos também cotas para gays e torcedores do Bonsucesso. No Brasil lulista, tudo é possível.

segunda-feira, julho 09, 2007

CONSPIRAÇÃO CONTRA A INTELIGÊNCIA


Sempre fui extremamente cético quanto a teorias conspiratórias. Principalmente aquelas do tipo "quem matou Kennedy" ou "11 de setembro", que não passam de variações sobre o mesmo tema da CIA-Pentágono-complexo industrial-militar norte-americano-querendo-dominar-o-mundo. Mas esse pessoal da esquerda politicamente correta me força a mudar de idéia. Eles exageram, em suas tentativas emburrecedoras de impor a todos sua visão ideológica, retirada de desbotadas cartilhas marxistas ou copiadas dos politicamente corretos de países que costumam atacar, como os EUA.

É o caso do que está acontecendo neste exato momento na Universidade de Brasília (UnB). Não sei se vocês estão a par da gravidade do que ocorre atualmente na instituição fundada por Darcy Ribeiro, um dos maiores apologistas da mestiçagem brasileira (inclusive, a meu ver, de forma completamente equivocada, mas isso não vem ao caso agora). Um professor do Departamento de Ciência Política da referida universidade, Paulo Kramer, acaba de ser punido com vários dias de suspensão pela diretoria da UnB. Motivo: numa aula, o referido professor teve a ousadia de usar a palavra "crioulada" para se referir ao movimento negro - perdão, afro-descendente - dos EUA. Um estudante, que vem a ser meu xará, não gostou do que ouviu e foi se queixar ao reitor, que agora passou um pito no mestre. O tal estudante, cujo nível de melanina na pele não é mais alto do que o meu, é militante do tal "movimento negro" que tanto barulho fez nos últimos anos em defesa do sistema de cotas raciais. Sistema este, como se sabe, adotado pela UnB, a partir de critérios que também todos conhecemos, e com resultados, digamos assim, também bastante conhecidos, vide o caso dos irmãos gêmeos idênticos, um declarado branco e outro, negro - ops, afro-descendente -, pelo tal sistema de cotas...

A punição ao professor Paulo Kramer é um desses fatos que, se não fossem trágicos por seu significado, seriam cômicos. Punir um professor pelo que ele diz em sala de aula, seja sobre o que for, não é apenas censura e intolerância. É burrice, pura e simplesmente. Puni-lo por ter usado uma expressão - "crioulada", "crioulo" - de uso corrente no vocabulário popular (a ponto de ter sido empregada, recentemente, por ninguém menos do que Sua Excelência em pessoa, o Grande Molusco, quando lembrava em discurso, pela enésima vez, sua infância pobre e sofrida, perante uma platéia de bem nutridos e embevecidos empresários), é mais do que simples obtusidade mental - é um alerta, um sinal de que caminhamos para um tipo de totalitarismo.

Além de constituir uma forma inequívoca de censura verbal - estúpida, cretina, grotesca como toda censura, além de seletiva -, a punição ao professor da UnB traz embutida a marca de uma verdadeira conspiração. No caso, uma conspiração contra a própria razão de ser da Universidade - o lugar do conhecimento e do debate por excelência. Mais que isso: trata-se de uma conspiração contra uma das poucas coisas boas que o Brasil (ainda) tem - a ausência de discriminação racial aberta, o legado de cinco séculos de mestiçagem, a convivência entre raças e grupos étnicos diversos, sem que isso tenha criado uma separação intransponível entre as mesmas. De acordo com a lógica inerente à punição, deveriam ser proibidas quase todas as marchinhas de carnaval, como aquela que diz, "o seu cabelo não nega a mulata...", ou músicas como "sarará crioulo" (aliás, uma celebração da negritude). Trocando em miúdos, o que se quer é impedir todos de manifestarem-se livremente. É proibir, enfim, o próprio Brasil.

Já afirmei e repito: o que se convencionou chamar de "movimento negro" no Brasil, em particular sua vertente mais radical incrustada nas universidades, é na verdade uma associação de mentes paranóicas e antidemocráticas, que, a pretexto de "corrigir uma injustiça histórica", têm por objetivo último a imposição de uma separação racial radical à sociedade. Na realidade, o que buscam é mesmo a criação de um outro país, bem diferente do Brasil: um país mais parecido com o sul dos EUA nos anos 60 ou com a África do Sul do apartheid, mas com o sinal invertido - um país bicolor, sem mestiços ou nuances entre as raças. Logo, um país imaginário, onde certamente suas mentes habitam e de onde retiram as estatísticas distorcidas que costumam brandir para "provar" a existência de racismo no Brasil (por exemplo, excluindo propositalmente os pardos, rotulados indistintamente como "negros"). A paranóia e a desonestidade desse pessoal já foram tão longe que até briga de estudantes por causa do barulho da música em festinhas acabou virando demonstração de perseguição racista... Tendo invertido por completo a realidade, tentando a todo custo adaptá-la a seu esquema (literalmente) branco-e-preto do mundo, não é de estranhar que acabem trabalhando por aquilo que dizem combater: em nome da luta contra o racismo, estão conseguindo institucionalizá-lo, com o sistema de cotas e, agora, com a instituição de uma polícia da linguagem nas salas de aulas. Um passo rumo a uma forma de doublespeak, de polícia do pensamento orwelliana.

Com punições arbitrárias e idiotas como a infligida ao professor Paulo Kramer, a UnB comprova aquilo de que eu desconfiava há tempos: tendo deixado há muito de ser ambientes de estudo sério e de pesquisa, as universidades brasileiras converteram-se em verdadeiras madrassas, em túmulos do pensamento crítico e paraísos de agitação política, em templos da empulhação ideológica e da vigarice intelectual. Uma assembléia de estudantes e professores durante a invasão e depredação - desculpem, ocupação - da reitoria da USP, por exemplo, terminou com os presentes entoando vivas ao Hezbollah e pregando a destruição do Estado de Israel... Isso demonstra a que ponto se chegou, e é apenas uma pequena amostra do que ainda poderá vir por aí.

Em outro lugar escrevi que denunciar as imposturas dos esquerdopatas é um dever cívico. Na verdade, é mais que isso: é uma questão de saúde pública. De saneamento básico.

P.S.: E antes que me proíbam de falar o que penso, da maneira que eu quiser, aproveito que - ainda - posso valer-me da liberdade de expressão que os "militantes negros" querem varrer do mapa para dizer com todas as letras: CRIOULADA! CRIOULADA!

sexta-feira, julho 06, 2007

TRIO LOS PANCHOS


Nunca fui muito admirador do autor do texto abaixo. Mas depois que ele escreveu isso, virei seu fã. No meio de tanta coisa insossa escrita sobre o assunto, eis que surge um raio de sol. Parece que ainda existe um resquício de vida inteligente no Brasil da era lulista, afinal. Confiram:

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Trio Los Panchos

Nelson Motta


Formado por Hugo Chavez, Evo Morales e Rafael Correa, o Trio Los Panchos bolivariano reúne política, circo, comédia, drama e tragédia e está cada vez mais divertido. O ultimato chavista ao Brasil foi tão ridículo que deu oportunidade até para nosso combalido Congresso tirar um pouco o pé da lama. Mas foi logo suplantado por Correa, autor de nova pérola do perfeito idiota latino-americano:

"Tradicionalmente, na América Latina, a imprensa sempre foi contra os governos progressistas".

Rarará, é o continente da piada pronta, diria o mestre Zé Simão, depois de pingar o seu colírio alucinógeno.

Claro: imprensa a favor de governo progressista só há em Cuba, rarará, esse Correa é mesmo do balacobaco, pobres equatorianos.

E já deve estar de olho na RCTV local. Em nome do povo. Pátria o muerte!, eles adoram dizer, dizem por qualquer motivo, faz parte do show cucaracho.

Para ver o que é uma imprensa progressista latino-americana, basta acessar www.granma.cu e morrer de rir, ou de chorar. Você vai ler com seus próprios olhos o modelo cubano de debate democrático, de respeito à diversidade e à liberdade de opinião, o compromisso com a notícia e a verdade, com a investigação imparcial, com a livre circulação de informação. Mas você pode não acreditar no que está lendo, pensando que é uma paródia do "Casseta e Planeta", mas é apenas o bom e velho "Granma" on line. Tem até versão em português, antecipando o modelo dos sonhos de "progressistas" brasileiros, de uma imprensa "independente" bancada pelo Estado. Pátria o muerte para nós também.

Para Lula, é uma maravilha: aos olhos do mundo, o estilo e conteúdo do Trio Los Panchos o fazem parecer um estadista moderno, culto, civilizado e equilibrado.

(Folha de S. Paulo, 6/07/2007, p. A2)

quarta-feira, julho 04, 2007

VIVA O IMPERIALISMO!


Você já foi um inimigo do povo? Quero dizer, já foi execrado, atacado, denunciado como o cúmplice de um crime nefando? Já se viu praticamente sozinho, remando contra a maré, acusado dos piores delitos de lesa-pátria e de lesa-humanidade? Já se tornou um pária, um proscrito, um Judas, por causa de uma opinião sua? Já viu as pessoas em sua volta se afastarem de você como se tivesse lepra ou alguma outra doença infecciosa? Já mereceu um dia ganhar o prêmio nacional de inconveniência e impopularidade? Eu já.

Aconteceu em 2003. O deflagrador de tudo foi a invasão anglo-americana do Iraque, em março daquele ano. Naquela ocasião, todos se recordam, o mundo inteiro pareceu estar contra os EUA, a começar pela ONU, que rejeitou categoricamente as justificativas da Casa Branca para invadir o Iraque e derrubar Saddam Hussein. O Conselho de Segurança, a União Européia, o Papa, o Greenpeace, Noam Chomsky, todos se levantaram contra esse gravíssimo desrespeito de Bush, Rumsfeld, Rice, Wolfowitz e Cia. pela ordem internacional, um atentado à independência de um país soberano. E o que era pior: por motivos falsos ("fictitious", como disse o Michael Moore naquela inesquecível cerimônia do Oscar), pois, afinal de contas, nunca se comprovou que o Iraque possuía armas de destruição em massa ou tinha qualquer ligação com a Al-Qaeda. Todos foram contra, menos eu. Todos denunciaram o imperialismo de Bush e dos neocons, menos eu. Naqueles dias, eu me senti um Tony Blair, um Aznar, um Berlusconi.

Aquele foi um momento decisivo para mim, um verdadeiro turning point. Desde então, meu isolamento opinativo só aumentou, com as notícias diárias das baixas norte-americanas e da guerra civil entre sunitas e xiitas no Iraque. Compreendo perfeitamente que as pessoas que se indignaram vendo-me aplaudir de forma entusiástica os tanques norte-americanos entrando em Bagdá e os marines derrubando a estátua de Saddam devem estar esfregando as mãos de satisfação ao verem, hoje, as previsões mais sombrias sobre o Iraque pós-invasão se realizarem. Acredito que imaginam que eu estaria mordendo a língua, arrependido e envergonhado pelas barbardidades que disse em favor da guerra. Se é esse o caso, sinto desapontá-las. Sim, o Iraque hoje é um campo de batalha, um inferno de morte e destruição. Nem por isso, porém, arredo pé de minha convicção de 2003, de que a guerra era, sim, justa e necessária.

Quê? Justa? Necessária? Isso mesmo. Apesar das mentiras do Bush, dos milhares de mortos, dos atentados diários, ainda espero ser convencido por alguém de que a guerra foi um crime ou um erro. Ainda aguardo me explicarem por que teria sido melhor não intervir militarmente e esperar o regime de Saddam Hussein - duas guerras nas costas, milhões de mortos em 24 anos de tirania, milhares de curdos massacrados com gás mostarda - cair por si só, e não ter o final que teve. Unilateralismo norte-americano? Ainda espero que alguém me esclareça por que razão o Conselho de Segurança da ONU, integrado por países como a China e a Rússia, com óbvios interesses na manutenção do regime de Saddam, aprovaria a invasão do Iraque. Armas de destruição em massa? Espero um dia alguém me convencer de que Saddam permitiria tranqüilamente aos inspetores da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), depois de 12 anos e 17 resoluções não-cumpridas da ONU, descobrirem, sem nenhuma ação militar, o que ele fingia esconder, até como uma forma de dissuasão. Terrorismo? Aguardo os que se opuseram à invasão responderem onde morreu Abu Nidal, o terrorista mais procurado do mundo nos anos 80, e de onde vinham os 20 a 25 mil dólares pagos a cada família de homem-bomba palestino que levasse o maior número de israelenses consigo em atentados em Tel-Aviv e Jerusalém. Abu Ghraib? Após os americanos, virou um centro de torturas; sob Saddam, era um campo de extermínio, como bem lembrou Christopher Hitchens. A invasão estimulou o terrorismo e o antiamericanismo? Como se estes precisassem de algum estímulo. Fallujah? Hallabja.

Para alívio dos que acham que me vendi por um prato de lentilhas ao imperialismo ianque ou que entrei para a folha de pagamento da CIA, convertendo-me num americanófilo fã de John Wayne e de Ronald Reagan, esclareço que essa minha decisão não foi livre de dúvidas. Incomodou-me profundamente, por exemplo, o caráter unilateral da operação, pois sempre achei que era tarefa da ONU - ou seja, da comunidade internacional -, e não deste ou daquele país, defender a democracia e os direitos humanos, em qualquer parte do mundo. Quando percebi que da ONU não sairia nada mesmo, assim como ocorreu em Ruanda e ocorre hoje em Darfur, e que o único jeito de a humanidade se livrar de Saddam era pela via do unilateralismo de Bush, descobri que essa conversa de multilateralismo não passava de uma cortina de fumaça para justificar a perpetuação de uma tirania. Quando li que o Chávez e o pessoal do MR-8 estavam elogiando a ditadura do Saddam, então, não tive dúvida: apoiei abertamente a invasão.

Mas e a soberania? Sim, como fica a soberania de um país invadido, ainda que seja pelas mais nobres intenções? Essa questão insistiu em freqüentar os debates naqueles dias, e continua a se fazer ouvir hoje. A soberania, dogma maior das relações internacionais... Respondo com uma pergunta: onde está a soberania de um país submetido a uma ditadura brutal, sem eleições livres nem alternância de poder, sem pluralismo político nem qualquer respeito às normas mais elementares da democracia e aos direitos humanos? A soberania, num caso como esse, seria de quem, cara-pálida? Do povo, que se encontra acorrentado e não pode manifestar-se livremente? Ou do tirano no poder, de sua família e sua camarilha? A defesa da soberania, no caso do Iraque de Saddam, não seria um pretexto para justificar a manutenção da tirania, logo do oposto da soberania popular? Em nome da soberania, desse dogma imutável, estamos dispostos a aplaudir tiranos, a fechar os olhos para as brutalidades mais horrendas, desde que não venham dos EUA e seus aliados imperialistas, claro...

Tal raciocínio, está certo, não vale somente para o Iraque ou o Afeganistão. Fico pensando o que eu faria se fosse um preso político em Cuba ou na Coréia do Norte, por exemplo, ou uma mulher no Irã dos aiatolás. Certamente, não estaria muito preocupado com coisas abstratas como soberania ou multilateralismo, nem estaria interessado em escarafunchar os interesses ocultos do Pentágono e do Departamento de Estado. Para ficar num exemplo que nos é mais próximo, basta lembrar das ingerências do governo Jimmy Carter, nos anos 70, pedindo respeito aos direitos humanos no Brasil. Que preso político brasileiro do período colocou-se ao lado do general Ernesto Geisel contra os gringos imperialistas? Como disse certa vez o falecido escritor cubano Guillermo Cabrera Infante, se não há outra maneira de derrubar ditaduras, que vengan los marines!

Sei que, ainda hoje, tais posições são controversas. Aliás, que bom que o são! Se existe uma questão que é camuflada no Brasil, se existe algo que é continuamente colocado debaixo do tapete, é o antiamericanismo. Ficar ao lado dos EUA, em um país como o Brasil, é sempre uma temeridade. E isso não é de hoje. É assim com Bush, assim como foi com Clinton, Bush pai, Reagan, Carter, Nixon... O misto aversão-admiração pelos EUA, o Blame America First, continua sendo uma força constante entre nós. Os EUA se calam diante do genocídio na Bósnia pelos sérvios? São omissos e coniventes. Mudam de idéia e bombardeiam a Sérvia? São imperialistas. Derrubam o regime Talibã no Afeganistão? Petróleo!, gritam os que se opõem à intervenção, ainda que o Afeganistão não produza uma gota do produto. Invadem o Iraque? Mais uma vez o petróleo. Querem estabelecer a democracia no Afeganistão? Alguém lembra do apoio da CIA a Osama Bin Laden contra os soviéticos nos anos 80. Desejam o mesmo no Iraque? Sacam do fundo do baú uma foto do Rumsfeld apertando a mão de Saddam, vinte e poucos anos atrás (além do mais, lembram os inimigos de Bush, os EUA são aliados de regimes autocráticos e obscurantistas, como a Arábia Saudita e o Paquistão... vêem assim como hipocrisia o que pode ser, no caso do Afeganistão e do Iraque, o início da revisão de sua política externa, um bom começo, afinal). No quesito antiamericanismo, somos muito pouco originais. Ainda copiamos o que diz a esquerda norte-americana e européia, servindo alegremente de papagaios de um Noam Chomsky ou um Ignácio Ramonet. Além do mais, parece que temos uma verdadeira ojeriza ao pensamento discordante, seja sobre o que for, cultuando a unanimidade, esse túmulo da razão. Daí porque, sempre que há unanimidade sobre qualquer assunto, vejo que alguma coisa ali não está certa e não resisto à tentação de bagunçar tudo.

Até hoje é difícil para mim dizer exatamente quando me descobri "do contra". Teria sido depois dos ataques terroristas de 11 de setembro de 2001, quando minha caixa de correio eletrônico ficou lotada com mensagens de júbilo pela morte de quase 3.000 pessoas nos atentados? Teria sido quando li os textos de Leonardo Boff e de Celso Furtado sobre a queda das Torres Gêmeas? Não sei. Só sei que, sob o regime totalitário de Saddam, o Iraque não tinha nenhuma chance de dar certo. Hoje, pelo menos, tem uma remota chance de virar uma democracia caótica. Sei também que os e-mails com abaixo-assinados contra o tratamento brutal das mulheres afegãs pelo Talibã sumiram.
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É por isso que continuo a acreditar que as intervenções no Afeganistão e no Iraque foram justas e necessárias. Prefiro um milhão de vezes ser "do contra" e pagar o preço da impopularidade a ter de conviver com Saddam Hussein ou o Talibã. Desses já nos livramos. Graças a Bush. Graças ao imperialismo. Alguém pode negar-lhes esse mérito?
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Artigos interessantes:
"Abu Ghraib isn't Guernica"
"A War to be Proud of"
"Com Bush, contra a fé"

terça-feira, julho 03, 2007

O REI DA EMBROMAÇÃO


"Não se enfrenta bandido com pétalas de rosas".
(Presidente Luiz Inácio Lula da Silva)
"Não se pode ficar 70 dias sem trabalhar e depois querer receber o salário".
(idem)

As duas frases acima, pronunciadas com um intervalo de alguns dias uma da outra, referem-se, respectivamente, à mega-operação policial ora em curso contra traficantes no Complexo do Alemão, no Rio de Janeiro, e a uma manifestação de grevistas do serviço público que tirou momentaneamente do sério o atual mandatário da Nação, durante cerimônia no Palácio do Planalto.

À primeira vista, as duas frases seriam um divisor de águas, um turning point da trajetória política de Lula. Pela primeira vez, desde o início de sua ascensão política no final dos anos 70, ele estaria rompendo abertamente com a orientação do partido e da ideologia que o levaram ao poder, em dois pontos essenciais: a criminalidade e o abuso do direito de greve. Segundo essa visão, que já começa a ser voz corrente, Lula teria despertado para esses dois problemas, os quais sempre negligenciou, assumindo finalmente uma postura presidencial. Uma análise mais detida, porém, deixa claro que não é nada disso.

Há pelo menos duas outras maneiras de interpretar o que Lula disse. Ei-las:

1) Ao afirmar, alto e bom som, a necessidade de tratar de forma dura os criminosos que trocam tiros com a polícia nos morros do Rio de Janeiro e de enquadrar os grevistas que chantageiam a população com a suspensão de serviços públicos essenciais, Lula estaria fazendo a autocrítica de décadas de corpo mole em relação à questão da violência, bem como se redimindo de seu passado de agitador grevista. Seria uma forma de pedir desculpas ao povo brasileiro; ou

2) Lula estaria tão-somente realizando mais uma de suas famosas enbromações retóricas, tentando capitalizar o descontentamento popular com o avanço do crime e com as greves. Tendo descoberto, por fim, que a população não agüenta mais a rotina de tiroteios e de paralisações, ele estaria apenas usando as duas questões para fazer demagogia, coisa que mais sabe fazer.

Pelo que se viu até agora da teodicéia lulista, essa última opção é a mais próxima da verdade. Há motivos de sobra para se concluir que estamos diante de mais uma tentativa de enrolação, mais uma patacoada do Grande Molusco e da companheirada. Não pelo conteúdo das frases em si - diga-se de passagem, a coisa mais sensata que Lula já disse, em mais de quatro anos de (des)governo -, mas pelos antecedentes de quem as pronunciou.

Em toda sua carreira política, Lula e o PT se notabilizaram pela complacência com que sempre trataram os bandidos ("vítimas da sociedade") e os grevistas ("companheiros de luta"). Mesmo quando no governo - vide Rio Grande do Sul, por exemplo - os petistas sempre se opuseram a medidas de força para enfrentar a bandidagem, preferindo o discurso fácil e demagógico de que "o crime é o resultado da injustiça social", o que corresponde a considerar os pobres bandidos em potencial e a equiparar os narcotraficantes a vingadores sociais. Do mesmo modo, o direito de greve, com que muitas vezes se busca acobertar o corporativismo e a manutenção de privilégios, sempre foi algo sagrado para as esquerdas. Seria preciso acreditar em conversão damascena para crer que Lula, de fato, rendeu-se aos argumentos da razão e do bom senso.

Para ficarmos apenas na questão da criminalidade, seria preciso ser muito ingênuo ou idiota para cair na esparrela de que Lula enfim abriu os olhos para o problema, sobretudo depois de a tropa de choque do governo ter feito tudo para barrar no Congresso um projeto de lei que previa a redução da maioridade penal, medida autoritária já adotada em países fascistas como a Inglaterra, França e Japão. "Daqui a pouco vão querer prender o feto", disse Lula sobre o assunto, mostrando toda sua aguda percepção e sensibilidade social...
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Não é segredo para ninguém que a segurança pública jamais constituiu prioridade para as esquerdas. Basta lembrar a política do "socialista moreno" Leonel Brizola à frente do governo do estado do Rio, nos anos 80, quando a violência nas favelas tornou-se fora de controle, em grande parte devido ao discurso populista que evitava a repressão policial e fazia vista grossa ao narcotráfico. É público e notório o tipo de relação promíscua que muitas ONGs de "defesa dos direitos humanos" mantêm com bandos armados de traficantes de drogas nas favelas do Rio de Janeiro. Aliás, ainda nem chegou ao fim a operação policial nos morros cariocas e esse pessoal já se antecipou, acusando a polícia de cometer todo tipo de barbaridade e de massacrar indiscriminadamente a população civil, pega no meio do fogo cruzado entre policiais e bandidos. A questão dos direitos humanos, para os lulistas, sempre foi uma via de mão única, na qual qualquer ação enérgica do Estado para combater o crime é imediatamente rotulada como ação repressiva e excessiva, como se ainda vivêssemos sob ditadura militar.

Também seria preciso ter um acesso de amnésia para esquecer todos os anos de apologia da criminalidade pelos intelectuais de esquerda que se dedicaram a lapidar o culto lulista, desde o "seja marginal, seja herói" dos anos 60 até o tráfico de drogas da atualidade. Desde a década de 30, na verdade, as esquerdas, capitaneadas então pelo Partido Comunista, dedicam-se a um constante, sistemático culto da marginalidade como uma forma de "revolta social", um preparativo para a revolução comunista. Não foi por outra razão que o antigo PCB considerava os bandos de cangaceiros que então infestavam o sertão nordestino como "guerrilheiros" ou "bandidos sociais" - termo com que facínoras como Lampião foram consagrados nos livros didáticos de História. Também não foi por coincidência que grupos criminosos como a Falange Vermelha (atual Comando Vermelho) se tornaram o que são hoje depois de uma bastante didática convivência nas cadeias dos anos 70 com presos políticos - muitos dos quais, membros de organizações terroristas, que passaram para os presos comuns seu know-how em assaltos a bancos e seqüestros. Quem achar que estou exagerando, recomendo a leitura de CV-PCC: A Irmandade do Crime, de Carlos Amorim, que descreve em detalhes as origens e a forma como se deu essa simbiose.

O mesmo no caso dos grevistas no setor público. Aqui, não é preciso dizer muito para revelar a falta de sinceridade das palavras de Lula. Vale frisar, apenas, que a aparente mudança do discurso lulista em relação a esse tópico tem sua causa mais profunda não em qualquer preocupação com a qualidade dos serviços públicos (a título de exemplo, lembremos a famosa frase de Lula sobre a saúde brasileira à beira da perfeição...), mas com a lógica comum a todos os governos esquerdistas: tendo estabelecido para si mesmos a conquista e manutenção do poder como objetivo primordial, acima de todos os outros, não é de surpreender que mudem o discurso assim que o alcançam, atirando no lixo o que disseram antes. Mal saiu vencedor nas urnas, Lula disse para quem quisesse ouvir que, até aquele momento, não faria mais "bravatas" (dando a entender que fora somente isso que fizera até aquele momento: bravatear...). Do mesmo modo, os comunistas, onde quer que chegaram ao poder, proibiram as greves e fuzilaram como sabotadores quem se atrevesse a parar as fábricas. O Brasil ainda não é uma República Soviética, mas seus dirigentes não hesitam em usar o mesmo discurso dos tempos stalinianos.

O que se deduz disso tudo é que estamos diante de mais uma lorota, mais uma balela lulista. Em suas declarações, Lula parece até o personagem principal do filme Zelig, de Woody Allen: muda o discurso de acordo com a platéia, adaptando-se camaleonicamente a quem estiver na sua frente. Não é diferente dessa vez.
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P.S.: No mesmo discurso em que afirmou que não se pode combater os bandidos com pétalas de rosas, Lula cometeu mais uma de suas gafes. Na verdade, um ato falho: segundo ele, o Estado precisa "competir" com o crime organizado. Fiquei matutando... Primeiro, o Estado não tem que competir com a bandidagem coisa nenhuma. Tem que eliminá-la. Ponto. Segundo, ao dizer que deseja "competir" com a criminalidade, o Grande Molusco deu margem a muitas interpretações maliciosas. Estaria o governo querendo superar os traficantes cariocas em malandragem? Tendo em vista os antecedentes de mensalões, valeriodutos e renans calheiros, esta é uma interpretação bastante plausível...

segunda-feira, julho 02, 2007

TENTANDO DEBATER COM ESQUERDISTAS


Às vezes me perguntam por que gasto tanto do meu (escasso) tempo livre fustigando os esquerdistas. Vez ou outra eu também me pego fazendo-me essa pergunta. Afinal, meu objetivo, quando resolvi fazer este blog, foi suscitar um debate com os membros dessa estranha e irrequieta fauna, que ora está no poder no Brasil e em parte da América Latina. E uma das coisas que mais repugnam um esquerdista, seja de que matiz for, é o livre debate, o confronto honesto de idéias. Já mostrei meu blog a vários conhecidos meus que militam ou militaram um dia nas hostes de esquerda e até agora, por qualquer motivo, a maioria deles se recusou a tecer qualquer comentário, pelo menos a publicá-lo aqui. Logo, à primeira vista, eu estaria perseguindo um objetivo inalcançável.

No entanto, uma força maior me faz prosseguir nesse intento. Que os esquerdistas são refratários ao debate, já sei faz tempo, nem tenho mais qualquer ilusão a esse respeito. Mas nem por isso acho que se deve deixar de referir-se a eles. Por um motivo simples: ao se recusarem ao debate, ao buscarem desqualificar quem os refuta, muitas vezes apelando para a calúnia, para o não-debate, os esquerdistas não cansam de fornecer munição a seus detratores. Como sou um crítico impenitente da esquerda e como sempre fiz questão de debater, em vez de calar, não resisto à tentação de falar mal deles, mesmo correndo o risco de virar um chato.

Para que fique claro o que quero dizer, e para que não me acusem de preconceito ou falta de conhecimento de causa, dou aqui uma receita que considero útil para tratar com esquerdistas. É a única maneira de "debater" com eles.

A primeira coisa que se deve ter em mente, quando se trata de esquerdistas militantes, é a impossibilidade de esses senhores travarem um debate racional e civilizado, segundo as normas da lógica e até mesmo da etiqueta. Não adianta tentar: pela própria essência de suas idéias, eles são incapazes de sustentar seu pensamento com fatos e argumentos lógicos. Pela única e simples razão de que não querem o debate, o choque de opiniões contrárias. Querem o aplauso, a adesão incondicional e incontestável. E, para alcançar esse objetivo, estão dispostos a qualquer coisa, inclusive a lançar mão da calúnia e da intimidação física.

Não que os esquerdistas sejam todos canalhas ou idiotas - e muitos certamente o são -, não que o façam por pura e simples estupidez, mas porque sua condição ideológica de herdeiros de Marx e Lênin os impede de pensar e agir com um pingo de honestidade, de se comportarem com um mínimo de decência e de boa-fé. O que caracteriza o pensamento de esquerda atual, herdeiro do marxismo, é a certeza. Não a certeza decorrente da investigação racional da realidade, a certeza como conclusão ou veredicto, mas como princípio teológico, como pressuposto do próprio pensamento, sem a necessidade de fatos que o comprovem ou não. Tem sido assim desde pelo menos a publicação do Manifesto Comunista, desde que Marx e Engels proclamaram a verdade irrefutável da luta de classes e da necessidade da revolução proletária. Desde esse texto fundador, espécie de Evangelho sagrado dos esquerdistas, aqueles que professam as teses de esquerda se consideram membros de uma supra-humanidade, os únicos e legítimos depositários da Verdade revelada, a quem caberia a missão histórica de construir uma nova humanidade.

Para esses indivíduos iluminados, membros especialíssimos de um clube seleto, todo conhecimento que contrarie ou ponha em dúvida essa Revelação só pode ser falso, não merecendo sequer ser objeto de estudo. Conheci um militante trotskista, estudante de Ciência Política na Universidade, que só lia textos marxistas. Perguntado por que não se interessava por outros autores, ele me veio com a seguinte resposta: "para quê, se nenhum deles vai ajudar a fazer a Revolução?" É assim que "pensam" os esquerdistas. Não se trataria mais de debater, de trocar idéias, mas de impor, de empurrar goela abaixo os pressupostos do materialismo dialético para "fazer a revolução". Para que debater, para que buscar o conhecimento, se já se conhece A Verdade?

Uma vez que vêem a si mesmos como os detentores do monopólio da Verdade, os esquerdistas passam a enxergar o mundo com cores maniqueístas, sem espaço para a dúvida ou a discussão franca. Assim como os teólogos cristãos da Idade Média, acreditam que seus postulados estão isentos de provas racionais, afirmando a verdade de sua proposições pelo método performativo, segundo o qual uma afirmação torna-se verdadeira pelo simples fato de ter sido enunciada. Daí a que se considerem não só os donos da Verdade, mas também da Moral, da Ética, da Justiça, da Bondade, da Honestidade etc. Aqueles que não comungam de suas idéias, a "direita", só podem ser, segundo essa linha de raciocínio, representantes dos valores opostos, ou seja, da mentira, da imoralidade, da anti-ética, da injustiça, da maldade, da desonestidade etc. Para que pensar, para que colocar as idéias sob o teste da lógica e da racionalidade? A certeza ideológica - ou teológica - é muito mais útil, além de mais cômoda.

Segue-se daí que os esquerdistas são incapazes de abordar um argumento contrário sem lançar mão de argumentos ad hominem, o que demonstra sua falta essencial de honestidade. Experimente criticar o governo Lula ou a ditadura de Fidel Castro, por exemplo, e o esquerdista do outro lado dará pulinhos de raiva, cobrindo-o de uma cascata de insultos, que poderão variar dos tradicionais "elitista" e "reacionário", até os mais criativos e conspiratórios "lacaio do imperialismo" e "agente da CIA". Fundamente suas observações em fatos e argumentos sólidos, citando este ou aquele livro, e você receberá de volta não uma refutação racional do texto mencionado, mas imprecações contra a honra pessoal do autor, ou seja, ataques não contra a mensagem, mas contra o mensageiro ("é um conservador", um "direitista" - como se "conservador" e "direitista" fossem ofensas gravíssimas...). Prossiga em sua análise e você correrá o risco de ouvir, do lado oposto, palavras de baixo calão referentes à sua genitora ou a certa parte de sua anatomia, gritadas de forma histérica e a plenos pulmões (por alguma razão, esse pessoal acredita que a verdade de uma frase é diretamente proporcional aos decibéis), ou então alguma insinuação bem pouco sutil a respeito de sua sexualidade. Insista um pouco mais, apontando as incoerências e contradições de seus interlocutores, e você poderá perder algo mais precioso do que a liberdade de expressar-se, como os "revolucionários" do MR-8 sugeriram em relação ao Diogo Mainardi...

Também não se espere dos esquerdistas nenhum compromisso com a coerência. A recusa voluntária em pensar, o apego a dogmas pré-estabelecidos como verdades absolutas e irrefutáveis - características do pensamento mágico, pré-racional -, tornam irrelevante para os discípulos dessa religião secular chamar a atenção para suas próprias contradições. Uma vez que a finalidade, o objetivo último das esquerdas, não é alcançar a verdade - esta já foi alcançada, lembram? -, mas tomar e manter o poder, a coerência pode ser deixada de lado sem constrangimentos. Lula e o PT construiram cuidadosamente, durante décadas, a imagem de representantes da Honestidade e da Ética na política? Pois aí está o atual governo para demonstrar a falácia desse mito, gesticulando desesperadamente que "todos fazem igual". As esquerdas tomaram para si a defesa das liberdades civis e dos direitos humanos no Brasil? Pois não cansam de justificar as violações das liberdades civis e dos direitos humanos em países como Cuba, por exemplo. As esquerdas levantam hoje a bandeira do direito ao aborto em favor da liberdade de escolha para a mulher? Três décadas atrás opunham-se ao controle da natalidade como uma forma de imperialismo. Batem-se atualmente pelos direitos dos homossexuais, a ponto de defenderem um projeto de lei que torna crime qualquer demonstração de "homofobia"? Pois omitem que em Cuba os homossexuais chegaram a ser encerrados em campos de trabalhos forçados para "reeducação". Aparecem como os campeões da luta contra o racismo e pelos direitos das minorias? Pois tratam de pôr debaixo do tapete as perseguições movidas pelos regimes comunistas contra suas próprias minorias étnicas. E assim por diante.

Portanto, mesmo sabendo que essa gente não quer conversa, acredito que é um dever desmascarar suas imposturas, sua arrogância, sua estupidez, sua intolerância travestida de bom-mocismo, a irracionalidade e falsidade essenciais de seus slogans. Mais do que um passatempo, isso para mim é um serviço de utilidade pública. Um dever cívico.