Cartaz chinês da época da Revolução Cultural, anos 60:
por um país livre e democrático?
.
Chego ao trabalho. Entro na sala. Ligo o computador. Abro a caixa de e-mails. Lá está a seguinte notícia, enviada, como faz todos os dias, pela Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República, do comissário Franklin Martins:
Guerrilheiro do Araguaia é sepultado depois de 37 anos
Trinta e sete anos após ser morto por agentes a serviço do regime militar, o líder estudantil cearense e guerrilheiro do Araguaia, Bergson Gurjão Farias, foi sepultado nesta terça-feira (6), no cemitério Parque da Paz, em Fortaleza (CE). A cerimônia encerra uma série de atividades que ocorreram durante o dia em homenagem ao brasileiro. A reverência a Bergson é uma iniciativa da Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República (SEDH/PR), por meio do projeto Direito à Memória e à Verdade, em parceria com a Universidade Federal do Ceará (UFC).
Mais um "herói da esquerda" recebendo honras póstumas, poder-se-ia dizer. Mas vejam o que vem em seguida:
“É preciso resgatar a história recente e a memória de centenas de brasileiros e brasileiras que morreram por um país livre e democrático. É fundamental o direito das famílias de sepultar seus entes queridos como pode agora fazê-lo a família de Bergson”, afirmou o ministro da Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República (SEDH/PR), Paulo Vannuchi. O ministro inaugurou memorial em homenagem a Bergson na Concha Acústica, no bairro Benfica.
Fiz questão de colocar a frase acima em negrito. É isso mesmo que vocês leram: segundo Paulo Vannuchi, os "guerrilheiros" morreram para que pudéssemos ter um país livre e democrático. Para que tivéssemos eleições livres e liberdade de expressão etc. etc.
Vamos lembrar alguns fatos: a chamada guerrilha do Araguaia ocorreu entre os anos de 1972 e 1974 no sul do Pará. Quem a levou adiante foi o PCdoB - Partido Comunista do Brasil. O PCdoB queria implantar uma "área liberada" na região, conforme os ensinamentos de Mao Tsé-tung, que preconizava uma "guerra popular prolongada". Seu objetivo, estabelecido já desde antes de 1964 - o partido surgiu de um racha do antigo PCB em 1962, e desde então afirma ser o mesmo PCB fundado em 1922 - não era outro senão o de implantar uma ditadura comunista no Brasil, semelhante à existente na China da época da Revolução Cultural, ou na Albânia, outra de suas referências ideológicas.
Pois é. Queriam transformar o Brasil numa China ou numa Albânia. Morreram "por um país livre e democrático", como se vê.
Paulo Vannuchi, para quem não sabe, pertenceu a uma das organizações armadas de esquerda que "lutaram contra a ditadura militar" nos anos 60 e 70: a ALN - Ação Libertadora Nacional. A ALN tinha como líder Carlos Mariguella, ex-deputado comunista pelo PCB. Pesquisem sobre ele. Mariguella escreveu coisas singelas como "hoje, ser terrorista é motivo de orgulho para qualquer homem de bem", ou "quem vier até nós não virá iludido, mas atraído pela violência que nos caracteriza" etc. Seu objetivo era repetir a experiência de Fidel Castro em Cuba, e instaurar no Brasil um regime socialista. Segundo Vannuchi, Mariguella também morreu para que tivéssemos "um país livre e democrático".
Paulo Vannuchi, para quem também não sabe, é o membro do governo Lula que esteve na vanguarda, junto com Tarso Genro, da tentativa de rever a Lei de Anistia de 1979, para punir os torturadores do regime militar. Concordo com a idéia. A cadeia é mesmo o melhor lugar para torturadores. Assim como para terroristas. Mas isso Paulo Vannuchi e Tarso Genro se esqueceram de mencionar.
Uma propaganda que passou a ser exibida recentemente no rádio, TV, jornais e revistas mostra depoimentos de familiares de desaparecidos políticos e lembra que ainda existem cerca de 140 deles no País. Só não mostra o fato de que a esquerda armada matou um número aproximado de pessoas, muitas delas inocentes, e que os parentes destas até hoje não receberam nenhuma compensação do Estado por causa disso. Não viraram nome de rua, nem tema de filme, nem foram agraciados com indenizações milionárias. Nada. Nem um simples pedido de desculpas. É que os mortos escolheram o lado errado. É que as vítimas, nesse caso, não morreram, como os guerrilheiros do Araguaia e Mariguella, "por um país livre e democrático"...
A esquerda tem o direito de reverenciar seus mortos, assim como os parentes dos desaparecidos têm o direito de enterrá-los. O que ninguém tem o direito é de falsificar a História. A luta armada não teve nada a ver com a luta por um país livre e democrático. Não teve nada a ver com liberdade e democracia. Muito pelo contrário: se os "guerrilheiros" tivessem sido vitoriosos, estaríamos todos agora lendo apenas um jornal, votando nos candidatos de um único partido, sendo vigiados 24 horas por dia pela polícia secreta, gritando slogans antiamericanos em manifestações públicas obrigatórias e marchando, feito gado, ao som da Internacional. Estaríamos vivendo todos sob um eterno AI-5, sem o direito de abrir a boca contra o governo; sem o direito sequer, no caso de quem é religioso, de rezar em público. Com muita probabilidade, não seriam algumas centenas o número de mortos e desaparecidos políticos, mas milhares, até milhões. Em vez de anos de chumbo, teríamos rios de sangue.
Por favor, avisem aos senhores Paulo Vannuchi e Franklin Martins que mentira tem perna curta. Avisem a eles que nem todos são idiotas.
---
P.S.: E o projeto do governo para "resgatar a História" dos mortos pelo regime militar ainda por cima se chama "Direito à Memória e à Verdade". Pois é...
Nenhum comentário:
Postar um comentário