Enviei um link do debate entre Reinaldo Azevedo e o representante do governo brasileiro na OEA sobre a questão de Honduras (ver cinco posts abaixo) para dois colegas meus do Itamaraty que, por coincidência, trabalham com o assunto. Um deles, aliás muito meu amigo, respondeu-me, dizendo que não iria "morder a isca". Aproveitou para dizer o seguinte:
- ele não lê a VEJA, nem gosta de Reinaldo Azevedo; e
- ele concorda plenamente com o representante brasileiro na OEA.
Fiquei intrigado. Perguntei o que ele quis dizer com "morder a isca". Ele me respondeu que seria entrar num debate interminável comigo, coisa que ele não queria. Respondi que também não gosto de debates intermináveis, e que, na verdade, depois do baile que o Reinaldo Azevedo deu no embaixador brasileiro, considero o debate encerrado. Queria apenas saber a opinião de meu colega. Mas logo percebi que o que ele queria não era entrar num debate interminável. Era não entrar em debate nenhum. E ponto final.
A maioria das pessoas foge da polêmica. Não é o meu caso, como vocês sabem (daí o nome deste blog). Mas respeito a opção de quem não está a fim de debater. É o caso do meu colega diplomata. Ninguém deve ser obrigado a emitir uma opinião sobre o que quer quer seja. É por isso que nunca forço a barra: se a pessoa não quer dizer o que pensa, paciência - é um direito que lhe cabe, e vida que segue. Mas não posso deixar de estranhar: na mesma mensagem em que diz não querer debater, meu colega afirma que "concorda plenamente" com o representante do governo Lula na OEA. Ou seja: está plenamente de acordo que Zelaya foi vítima de um golpe, e que o Brasil está fazendo a coisa certa ao permitir que a embaixada brasileira em Honduras seja usada como palanque e escritório político dele, Zelaya. Lembrei que quem diz "concordo plenamente" precisa, pelo menos, explicar por quê. Estou esperando uma explicação até agora. Enquanto espero, aproveito para enviar um link para a Constituição de Honduras, com destaque para alguns dos Artigos que Zelaya violou.
Dessa troca de e-mails, saí com as seguintes conclusões, segundo meu colega:
- Reinaldo Azevedo está errado e o governo Lula está certo porque ele, meu interlocutor, não gosta de Reinaldo Azevedo; e
- ele concorda plenamente com o embaixador do Brasil na OEA porque... porque sim, ora!
O Itamaraty é um lugar estranho. Diplomatas, aqui e em outros lugares, costumam ser pessoas muito inteligentes e preparadas. Muitos deles, porém, costumam esconder suas opiniões, ou concordar cegamente com seus chefes, o que muitas vezes dá no mesmo. Sempre falei o que penso, o que já me valeu algumas caras feias e deve me render uns comentários desfavoráveis quando eu não estou por perto, mas realmente não me importo. (Em tempo: não ligo se discordarem de mim, nem vou deixar de ser amigo de alguém por diferenças de opinião, e espero sinceramente que meu colega não dê nossa amizade por encerrada depois deste post.) Já disse e repito que não estou neste mundo para agradar a A ou B, mas para dizer o que penso e viver em paz com minha consciência. Além do mais, se a linguagem não existe para expor o que pensamos, então para que é que serve?
Sei que a diplomacia, como atividade política, requer uma certa dose de discrição e dissimulação, até de hipocrisia. Também sei que o sarcasmo e a mordacidade dificilmente são a melhor receita para fazer amigos e influenciar pessoas (ou, como disse um filósofo: é uma pena que a lisonja produza amigos e a sinceridade, inimigos...). Mas, francamente, não entendo esse medo, esse receio patológico de expressar livremente uma opinião. Vigora, no Itamaraty, um oficialismo sufocante e, paradoxalmente, um personalismo, ou amiguismo, que, obcecado em "não ferir suscetibilidades", inibe e engole a argumentação racional. É um cagaço permanente, o primado da autoridade ou das afinidades eletivas sobre a razão. Não sei se é esse o caso de meu amigo itamaratiano. Sei apenas que, de todas as desculpas que existem para não pensar, a argumentação ad hominem (ou ad revistam) - o ataque ao mensageiro, e não à mensagem - é uma das mais idiotas.
By the way, no primeiro e-mail que mandou, meu amigo e colega de profissão sugeriu, em tom de brincadeira, que eu trocasse o nome do blog para "Comportamento de Manada". Achei estranha a sugestão. Afinal, comportamento de manada, pelo que eu sei, é seguir o rebanho, abdicando de pensar com o próprio cérebro para se ajustar ao que a maioria - ou a chefia - acha. Creio que não é o que faço neste blog, e meus textos dão testemunho disso. Já dizer que "concorda plenamente" com um ponto de vista e se furtar a explicar por quê... Bem, isso, sim, caracteriza um comportamento realmente bovino.
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