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sábado, setembro 01, 2012

QUEM É RETRÓGRADO?

Há alguns dias, estava eu conversando com uma amiga minha de longa data na internet. Quer dizer, conversando é maneira de falar, porque na verdade tentei conversar. Minha amiga é uma pessoa de esquerda. Não uma militante (pelo menos acho que não), mas de qualquer modo esquerdista e, a julgar por suas mensagens no facebook, atéia, pró-feminista, pró-marxista etc. Enfim, alguém que, em termos de idéias, segue o mainstream.

Como eu disse, tentei iniciar uma conversa. Tenho esse mau hábito: querer conversar sobre política. Pior ainda: na internet. Mas, insistente, fui adiante. Comecei dizendo de minha surpresa por ter descoberto, lendo um comentário de minha amiga em uma página qualquer da web, que ela era atéia (até então eu não sabia). Como sou ateu desde os 14 anos de idade, achei que tinha encontrado uma parceira espiritual. "Vamos trocar figurinhas?", convidei-a.

Entusiasmado com a possibilidade de trocar idéias sobre assunto tão palpitante, perguntei: não é estranho que a imensa maioria dos que se dizem ateus no Ocidente dedicam-se tanto a espezinhar a religião cristã, especialmente a Igreja Católica, enquanto poupam religiões como o Islã? E citei especificamente regimes como a teocracia islamita do Irã, onde mulheres são apedrejadas por adúlteras e homossexuais são enforcados em praça pública. Perguntei por que os militantes gayzistas e feministas ocidentais, quase todos esquerdistas, não diziam quase nada sobre o assunto. Minha amiga de início se surpreendeu: "Como não? Tem vários vídeos no youtube que denunciam isso" etc. Lembrei que tais militantes humanistas e progressistas gastavam 90% de seu tempo a atacar a religião cristã. "É porque é a maior religião", redargüiu, enfática. Mesmo assim, respondi, não conheço nenhum caso de pessoa executada por blasfêmia ou comportamento desviante a mando do Vaticano, por exemplo. E resolvi mencionar um fato que, aos olhos de minha amiga, deve ter parecido uma heresia: a religião mais perseguida do mundo, hoje, é o cristianismo. Veja o que ocorre no Oriente Médio, na China etc.

Isso foi demais para minha interlocutora. Indignada, talvez ofendida com esse fato - não era sequer um argumento: era um fato -, minha amiga abruptamente deu por encerrada a nossa conversa. Não perderia mais tempo debatendo com alguém como eu, que vou contra tudo aquilo que ela tem em alta estima etc. Ainda por cima - isso foi o que mais me chamou a atenção -, eu teria uma "agenda política retrógrada" (!). Passar bem.

Confesso que aquela conversa - ou melhor: a forma brusca e inesperada como terminou a conversa - me deixou meio atordoado. Nem tanto pelo fato de ter sido chamado de "retrógrado" (sendo um crítido contumaz das fórmulas e dogmas marxistas, já estou acostumado a ser chamado de coisa pior), mas porque, pela primeira vez, alguém disse que eu tinha uma "agenda política". Agenda política, eu?, fiquei pensando. Mesmo depois de ter escrito isso aqui: http://gustavo-livrexpressao.blogspot.gr/2010/04/individuo-nao-manada.html?

Mas voltemos ao adjetivo infame, "retrógrado". Por que fui brindado com o epíteto? Porque achei estranho, para dizer o mínimo, que tantos autoproclamados ateus preferissem dirigir suas baterias contra o cristianismo, deixando de lado o Islã. Porque tantos ateus, sobretudo na Europa e nos EUA, onde proclamar-se ateu virou uma espécie de modismo, se comprazem em atirar lama no Papa ou em pastores evangélicos, cujos ensinamentos ninguém está obrigado por lei a seguir, ao mesmo tempo em que costumam silenciar sobre barbaridades cometidas em nome do Islã, sobretudo em alguns países islâmicos, onde essa liberdade não existe.

Ou seja: sou um retrógrado, ainda por cima com uma agenda política, porque defendo os direitos dos gays e das mulheres no Irã e na Arábia Saudita. Mais: sou um retrógrado, um reacionário e um fascista porque - vejam que absurdo! - tenho a ousadia de defender os direitos de minorias religiosas (no caso, os cristãos nos países do Oriente Médio). Sim, sou um bandido, um canalha, um assassino, porque defendo o direito à livre expressão e à existência de quem pensa diferente de mim. Já aqueles que critico, os ateus do tipo Noam Chomsky e Tariq Ali, são democratas e progressistas porque não dizem uma palavra sobre isso. Não é fantástico?  

É um fenômeno curiosíssimo! Quem quiser ser louvado como uma pessoa de bem, humanista e tolerante, que saia em defesa dos direitos dos muçulmanos na Bélgica ou na França, ou que, pelo menos, faça vista grossa a regimes como o iraniano. (Alguns vão mais além, e justificam mesmo esses regimes: são os multiculturalistas.). Por outro lado, quem quiser ser execrado e rotulado de retrógrado ou coisa semelhante, ainda que seja ateu, basta que defenda o direito dos cristãos à liberdade religiosa. Basta que chame a atenção para as perseguições e massacres de comunidades cristãs no Egito ou no Paquistão.

Para dar um exemplo: somente no Iraque, desde 2003 o número de cristãos decaiu drasticamente de 1,5 milhão para 500 mil, e continua caindo, graças às perseguições e atentados terroristas de muçulmanos sunitas e xiitas, que não deixaram praticamente nenhuma igreja em pé no país. Rios de tinta e milhões de megabytes foram gastos para denunciar a torpe invasão imperialista e as mentiras de Bush e sua camarilha sobre armas de destruição em massa etc., mas não se leu uma linha na imprensa ocidental sobre esse verdadeiro holocausto cristão no Iraque. Simplesmente mencionar tal fato, dizer que está em andamento um verdadeiro religiocídio no país, é uma blasfêmia, um sacrilégio. Quem o fizer será considerado um reacionário, um criminoso, um inimigo da tolerância e da humanidade. Em outras palavras, alguém com uma agenda política retrógrada.

Trocando em miúdos: tolerante e progressista é quem ataca o cristianismo; intolerante e retrógrado é quem o defende. Ou seja: liberdade de religião, menos para os cristãos. É essa a agenda política dos progressistas da esquerda, mais anticristãos (e anti-Ocidente) do que ateus.

Querem mais um exemplo? Há algum tempo esteve no Brasil o presidente da República Islâmica do Irã, Mahmoud Ahmadinejad. Veio para a Conferência Rio+20, da ONU. Tirando um pequeno grupo de judeus e de evangélicos, não se viu ninguém do lado da esquerda, nem um mísero militante, protestar contra a presença em uma conferência das Nações Unidas de um notório antissemita, genocida e negador do Holocausto. Não se viu nenhum esquerdista, marxista, feminista ou gayzista erguendo faixas e gritando palavras de ordem contra o chefe de um governo que apedreja mulheres e assassina homossexuais. Em vez disso, o que fizeram os nossos progressistas, entre eles alguns ateus? Foram prestar homenagem a Ahmadinejad, indo visitá-lo no hotel onde se encontrava. Grandes humanistas, como se vê. 

Como diz o mágico norte-americano James Randi, que vive de desmascarar misticismos e charlatanices, há dois tipos de ateus: os que dizem que Deus não existe e os que exigem provas de Sua existência. Eu acrescentaria um terceiro tipo: os que são ateus, ou que dizem que o são, por modismo, ou pela metade. Quando os vejo em ação, quase concordo com minha amiga da internet e admito que tenho uma agenda política retrógrada.

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Em tempo: espero que minha amiga, a quem estimo muito, continue a ser minha amiga, mesmo não querendo saber de debater comigo. Eu, de minha parte, não deixarei de considerá-la como tal. Afinal de contas, se eu confundisse opinião com amizade, e não aceitasse como amigo alguém com uma visão diferente da minha, eu seria um inimigo da inteligência, um fanático e um intolerante, não é verdade? 

sábado, junho 30, 2012

O NOVO ÍDOLO DOS "PROGRESSISTAS"

Responda rápido, você que lê estas linhas: que movimento/ideologia/corrente política da atualidade justifica práticas como o extermínio de homossexuais, despreza a democracia e os direitos humanos, defende ditaduras que perseguem qualquer um que pense diferente (inclusive comunistas), justifica o terrorismo e a opressão das mulheres, acredita numa conspiração judaica para dominar o mundo e aplaude negadores do Holocausto?

Se você pensou em algum grupelho de extrema-direita, formado por jovens carecas que brandem suásticas e outros símbolos neonazistas, acertou em parte. Porque as mesmas idéias expostas acima são defendidas, hoje, por quem está no extremo ideológico oposto. Estou falando, claro, da esquerda.

E não me refiro unicamente a algum obscuro grupúsculo radical anarquista ou trotskista, que habita as margens da vida política. Nada disso. Estou falando do mainstream, da corrente principal do pensamento esquerdista hoje em dia.

Acham que exagero? Então vejam o seguinte cartaz:

Trata-se de um folheto distribuído pela Confederação Israelita do Brasil (CONIB), por ocasião da vinda do presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, à conferência da Rio+20, que acabou de acontecer. O texto diz tudo. Ahmadinejad comanda um regime que é, entre outras coisas, teocrático (a lei islâmica é a oficial), intolerante (as outras crenças são perseguidas), autoritário (encarcera opositores - inclusive comunistas), homofóbico (enforca homossexuais em praça pública), machista (mulheres são apedrejadas em caso de adultério), genocida (defende a destruição de Israel), terrorista (patrocina atentados de grupos como o Hezbollah), antissemita (nega o Holocausto) e inimigo da paz (quer a bomba atômica). A última de Ahmadinejad foi culpar os judeus pela existência do tráfico internacional de drogas. Enfim, o horror. 

Ou seja: Ahmadinejad representa exatamente tudo aquilo que a esquerda mais condena e abomina, certo? 
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Errado. Aliás, muito pelo contrário.
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O que fizeram os esquerdistas? Aproveitaram a presença de Ahmadinejad num evento mundial para execrá-lo e condená-lo com veemência, no mínimo como um ditador e um patife? Mobilizaram as redes sociais para uma grande manifestação contra esse verdadeiro acinte que foi a participação de um inimigo da humanidade numa conferência das Nações Unidas, concebida para debater a construção de um mundo melhor? Militantes dos direitos humanos, sindicatos, pacifistas, UNE, LGBT, ecologeiros, maconhistas, vadias, enfim, a beautiful people toda, decidiu dar-se as mãos e sair às ruas para mostrar que Ahmadinejad não é bem-vindo no Brasil?

Sabe o que esses defensores do belo e do justo fizeram quando da visita de Ahmadinejad ao Rio? Nada. Silenciaram sobre tudo o que está aí em cima. Silenciaram, apenas? Não, foram visitar Ahmadinejad. Visitá-lo, somente? Não, foram ouvi-lo. Só ouvir? Não. Foram aplaudir.

Isso mesmo. Políticos do PT, PSB e PCdoB, além de representantes da UNE e  alguns supostos intelectuais, como Emir Sader, resolveram tomar cafezinho com o iraniano. Os campeões das causas humanitárias e progressistas, sempre alertas para denunciar o menor sinal de "intolerância" e até de "racismo" no Brasil, foram puxar o saco e bater palmas para o ditador fanático e antissemita. E saíram todos deliciados com o que disse o "amigo e irmão" de Luiz Inácio Apedeuta da Silva. Democracia? Direitos Humanos? Respeito às minorias? Liberdade de expressão? Paz? Isso é coisa de burgueses imperialistas, sentenciaram os "humanistas".

A propósito: um valente progressista do PCdoB, indignado com o folheto da CONIB, escreveu um texto no site do partido em que defende Ahmadinejad com unhas e dentes, e ainda aproveita para equiparar os israelenses aos... nazistas! Num texto em que defende um antissemita negador do Holocausto! Pois é...

A comparação não é boa, mas vamos fazer um exercício de imaginação: pensem no ex-presidente norte-americano George W. Bush negando que os nazistas mataram 6 milhões de judeus. Preciso dizer mais?  

Agora sabe você, caro leitor, de onde partiu uma manifestação contra a presença na Rio+20 do chefe de uma ditadura homofóbica e intolerante, que representa o oposto dos valores democráticos e civilizatórios? De um grupo de evangélicos, liderados pelo bispo Silas Malafaia. Em frente ao hotel em que Ahmadinejad estava hospedado, os manifestantes exibiram um cartaz no qual pediam respeito à liberdade religiosa no Irã. Um bando de "reacionários" e "obscurantistas", como se vê...
Cartaz da "reacionária" e "obscurantista" Assembléia de Deus em defesa da liberdade religiosa no Irã: enquanto isso, os progressistas e humanistas da esquerda brasileira ouviam, embevecidos, uma lição de Mahmoud Ahmadinejad sobre como construir um mundo melhor... sem judeus e sem homossexuais.

Se serve de consolo, não pense, gentil leitor, que a cumplicidade com ditadores e terroristas é algo exclusivo do Brasil. Nos EUA e na Europa, essa forma de cegueira voluntária (e suicida) também é corrente. Figuras idolatradas pela esquerda mundial, como Noam Chomsky, Edward Said, Tariq Ali e Michael Moore, são useiros e vezeiros em concentrar suas baterias contra os EUA e Israel, enquanto voluntariamente fecham os olhos ou justificam o terrorismo islamita. Opõem-se assim, direta ou indiretamente, a tudo aquilo que a esquerda disse um dia defender, como a liberdade de expressão e os valores democráticos. Leiam o excelente livro de Nick Cohen, What's Left? How The Left Lost Its Way, publicado em 2007 no Reino Unido, que reduz a pó o edifício que a esquerda do Primeiro Mundo criou para si mesma, e que nós, cucarachas, copiamos. Duvido que quem o ler não irá reconhecer o que acontece também por estas plagas.

O beija-mão dos esquerdistas brasileiros em Ahmadinejad é uma pequena mostra, embora bastante ilustrativa, de um fenômeno apontado por Cohen: o colapso moral da esquerda daqui e de alhures, que se prolonga pelo menos desde a queda do Muro de Berlim em 1989, e cujo capítulo mais recente começou após os atentados terroristas de 11 de setembro de 2001. Sobretudo depois da onda de manifestações contra a guerra do Iraque em 2003, os velhos dogmas de luta de classes e socialismo deram lugar ao relativismo cultural e a políticas de identidade, em tudo contrárias à proposta teoricamente universalista do marxismo.  Saiu de cena o "proletários de todo o mundo, uni-vos!" e entrou em seu lugar o "respeito às diferenças". O resultado disso foi uma aliança profana entre comunistas ou ex-comunistas e o fanatismo islamita. Criticar Ahmadinejad por suas posições antissemitas? Isso é preconceito imperialista. Condenar os atentados da Al Qaeda? É incapacidade de "compreender o outro". E assim por diante.

Esse argumento não é apenas falacioso: é idiota. Francamente, de todas as desculpas para não fazer nada diante de ditadores e de fanáticos, a de que "é preciso entender o outro" é a mais estúpida, a mais cretina. Dizer, com base no relativismo cultural, que a tirania de Saddam Hussein no Iraque ou a do Talibã no Afeganistão eram parte da cultura local, como se fossem um quibe, além de ofender as milhares de vítimas iraquianas e afegãs desses regimes, é uma afronta à inteligência. Equivale a dizer que a cultura do Brasil é a da escravidão, ou a da Nova Inglaterra nos EUA é a da caça às bruxas.
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Ora, desde quando apedrejar mulheres e enforcar homossexuais em praça pública - como se faz hoje no Irã - é uma manifestação cultural? Nesse caso, seríamos forçados a dizer que a cultura dos alemães é o nazismo, ou que a dos japoneses é o harakiri. Seriamos obrigados a afirmar que a vitória dos aliados na Segunda Guerra Mundial deve ser deplorada, e não comemorada como uma vitória da humanidade.

Toda essa lengalenga relativista sobre "respeito às diferenças", que virou moda de uns tempos para cá, sobretudo entre os bem-pensantes da esquerda festiva e de miolo mole, não passa de um pretexto para defender a permanência de regimes criminosos e destilar desprezo pela democracia e pelos direitos humanos. Ou estes são valores universais ou não são nada. No caso do Irã, então, nem se fala. Até porque a teocracia de Teerã não é exatamente um modelo de "respeito ao outro". A imagem a seguir mostra por quê:
Homossexuais enforcados no Irã: é assim que o regime de Ahmadinejad demonstra seu "respeito às diferenças"...

Dizem que as ideologias estão superadas, e que não existem mais direita e esquerda. Divirgo ligeiramente. Para mim, estes continuam sendo conceitos válidos. Sobretudo extrema-direita e extrema-esquerda. Apenas com uma diferença: hoje, elas estão do mesmo lado. Seja um troglodita de cabeça raspada e suástica tatuada no braço, seja um sociólogo uspiano filiado ao PT ou ao PSOL, ambos, comunistas e fascistas, defendem as mesmas coisas. Aí estão Emir Sader e Mahmoud Ahmadinejad que não me deixam mentir.

E ainda há quem se escandalize com a aliança entre Lula e Maluf em São Paulo. Francamente...   

terça-feira, novembro 24, 2009

ASNEIRAS, CINISMO OU LOUCURA?


A visita indesejável do genocida e antissemita Mahmoud Ahmadinejad, ontem em Brasília, deixou, como não poderia ser diferente, um rastro de enxofre. Não somente pela vinda em si do facinoroso e inimigo da humanidade, mas também pelos, digamos, "argumentos" que alguns asseclas do protagonismo internacional destrambelhado lulo-petista usaram para tentar justificar o injustificável.

Vejamos algumas dessas "pérolas" de lógica e de realismo político, pelas quais se está tentando apresentar o dia mais triste da história do Itamaraty como um grande feito da política externa brasileira e uma mostra de suprema sabedoria e pragmatismo.

A primeira gema saiu da boca de um deputado (do PT, claro), um certo Cândido Vaccarezza. O nobre parlamentar, como bom soldado do lulo-petismo, afirmou que as críticas da oposição (muito tímidas, por sinal) à visita de Ahmadinejad eram - vejam vocês - "preconceituosas" e "intolerantes". Aproveitou, ainda, para repetir o bordão oficial, divulgado pelos quatro cantos por certa imprensa oficialista, de que é melhor conversar com o Irã, pois isolar o regime não ajudaria em nada a trazê-lo para o lado da democracia etc.

Vocês leram certo: para Sua Excelência, quem se opõe à visita de Ahmadinejad é "preconceituoso" e "intolerante". Tem razão. Só porque, vejam só!, ele, Ahmadinejad, quer varrer Israel do mapa? Só porque ele nega o Holocausto, o genocídio mais documentado da História? Só porque ele dá armas aos terroristas islamitas do Hezbollah, do Hamas e do Jihad Islâmica, que trabalham para tornar realidade o que ele defende? Só porque no Irã os opositores do regime islamita, assim como os homossexuais e as minorias religiosas, são espancados barbaramente e assassinados pela polícia religiosa? Diante disso, condenar a visita de tão amável criatura só pode ser mesmo uma demonstração de preconceito e intolerância, não é mesmo?

Mas isso não é tudo: para boas almas como o ilustre parlamentar petista citado acima, isolar um regime como o iraniano é um erro, pois serviria apenas para radicalizá-lo ainda mais etc. e tal. Será mesmo? Desde que assumiu a presidência dos EUA, Barack Hussein Obama não tem feito outra coisa a não ser pedir desculpas aos aitolás iranianos pelos "erros do passado" e estender-lhes um ramo de oliveira. Pois bem. O que tem feito Ahmadinejad ante os sinais de paz da Casa Branca? Não somente ele não mudou um milímetro sua política em relação aos EUA e a Israel como RADICALIZOU suas declarações antiaocidentais e antiamericanas, tendo interpretado (corretamente, alíás) o gesto de Obama como um sinal de fraqueza e pespegando uns testes de mísseis balísticos capazes de atingir Israel com ogivas nucleares. Ogivas que o regime de Teerã deve estar tentando produzir, pois ele, Ahmadinejad, desde então só fez intensificar seu programa nuclear secreto, à revelia dos inspetores internacionais. Viram como é bom e realista "não isolar" um regime como o do Irã?

Mas as maiores asneiras, nesses dias tenebrosos, não saíram do cérebro de nenhum deputado petista em particular. São certas idéias feitas, ou lugares-comuns, que, repetidas à exaustão por supostos especialistas, com o ar mais sério do mundo para disfarçar a própria vacuidade mental, adquiriram ares de verdadeiros dogmas da política internacional. Um desses chavões, certamente o mais repetido, é que a visita do ditador iraniano poderá render bons frutos para o Brasil, em especial no "aumento da influência brasileira" no mundo e no comércio bilateral. No tocante ao primeiro suposto resultado da visita, o Brasil teria saído ganhando porque, além do apoio do Irã à candidatura brasileira a um assento permanente no Conselho de Segurança das Nações Unidas, o País teria se credenciado, após receber os chefes de Estado de Israel e da Autoridade Palestina, a servir de "mediador" no intrincado tabuleiro político do Oriente Médio - uma espécide de ponte entre os lados em conflito etc. Além disso - prestem atenção ao argumento -, ao ignorar as críticas por receber o negador do Holocausto e apoiador do terrorismo, o governo Lula estaria mostrando "independência" em relação aos EUA etc. etc.
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Vejamos cada um desses "argumentos".
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- "Aumento da influência internacional do Brasil": para os talleyrands e kissingers brasileiros, a visita de Ahmadinejad estaria justificada pela construção do que chamam de "uma nova configuração mundial de poder", de nítido sentido terceiro-mundista. Esse admirável mundo novo estaria sendo esboçado, entre outras coisas, pelo apoio dado por governos como o do Irã ao pleito brasileiro a um assento permanente no Conselho de Segurança das Nações Unidas - verdadeira obsessão do Itamaraty sob Lula. Pouco importa, segundo essas mentes privilegiadas, que esse apoio tenha sido dado por um ditador, e que o tão decantado aumento do protagonismo do País nos assuntos internacionais ocorra de mãos dadas com o namoro com ditaduras. O custo político dessa opção pró-tiranias, aliás, não tardará a aparecer. Assim como já está evidenciado o caráter megalomaníaco de uma política externa que prioriza alianças com Ahmadinejad e Hugo Chávez e intervém em Honduras para restabelecer um golpista bolivariano no poder.

- "Aumento do comércio bilateral": Esse foi apresentado por muitos como o argumento definitivo para aplaudir a decisão de receber o ditador iraniano. "Que importa se o sujeito é um louco e se o país que ele preside é uma ditadura? O importante é o comércio, o interesse nacional. Temos de ser pragmáticos" etc. Cheguei a ouvir gente que se considera inteligente repetindo essa asnice. Não sei o montante das trocas comerciais entre Brasil e Irã, mas digamos que ele aumente, após a visita de Ahmadinejad, em 100%, ou em 200%, ou, sei lá, em 1.000%. Que diferença isso iria fazer para mudar o fato de que no Irã os opositores são executados e mulheres são enforcadas por adultério? Que diferença fariam os milhões ou bilhões do comércio entre os dois paises para mudar o fato de que o Irã financia o terrorismo do Hamas e do Hezbollah? Que diferença faria um acordo comercial com a Alemanha de Hitler nos anos 30 para evitar o Holocausto?

- A tese do Brasil como "mediador" no conflito do Oriente Médio: Trata-se de uma preciosidade, saída das mentes de gênios da diplomacia itamaratiana - ao receber Ahmadinejad, o Brasil estaria dando uma prova de "independência" na questão, credenciando-se para "mediá-la". Além do ridículo da pretensão de "mediar" a busca da paz junto a quem não quer a paz e trabalha contra ela - Lula já chegou a dizer, num arroubo de inspiração chamberlainiana, que é preciso conversar até com quem se opõe à paz... -, o governo brasileiro pretende com isso mostrar que não segue a política dos EUA e de seus aliados. Que recebe Ahmadinejad, em vez de repudiá-lo, para não se subordinar a eles, os gringos imperialistas, o que é, na verdade, uma forma de subordinação mental - como se fosse preciso concordar 100% com a política de Washington para condenar o antissemitismo de Ahmadinejad. É preciso repudiar Ahmadinejad por nós mesmos, e não por outrem.

Essa obsessão por mostrar "independência", nessa e em outras questões, não é capaz de esconder a profunda insegurança que está por trás dela. É algo que beira a cretinice e a mais completa ignorância. Na visita da segunda-feira, Lula defendeu o "direito" de o Irã ter um programa nuclear "para fins pacíficos" - como se ter um programa nuclear secreto e pregar insistentemente a destruição de outro país tivessem alguma coisa a ver com qualquer "direito"... Será que não sabem que Ahmadinejad prega sistematicamente a destruição de Israel e, portanto, o extermínio de sua população? Não custa lembrar: Chamberlain e Daladier acreditaram quando Hitler disse em Munique, em 1938, que a remilitarização da Alemanha não tinha objetivos agressivos. Era para "fins pacíficos"...
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A mesma idéia idiota aparece num dos órgãos oficiosos da propaganda lulo-petista, a revista Carta Capital desta semana. Em reportagem em que tenta edulcorar o regime de Teerã, mostrando que ele não é tão ruim assim, pois, entre outras coisas, censura, tortura e mata sensatamente, "como a antiga URSS", a revista de Mino Carta nem sequer se fia na lorota do programa nuclear "pacífico", mas defende abertamente o direito de a teocracia iraniana ter armas nucleares. E o faz apelando para o velho discurso antiamericano, como é de seu feitio, afirmando o seguinte, na página 61:

"Os EUA não fizeram objeções quando Israel, Índia e Paquistão obtiveram armas nucleares e estavam dispostos a aceitar que o Xá as tivesse, como Henry Kissinger veio a admitir. Há razões para aplicar outros pesos e medidas aos aiatolás, que insistem em que seu programa é pacífico?"

Respondo: não, não há razões para aplicar "outros pesos e medidas" ao Irã. Há, sim, razões lógicas e de bom senso para não querer que os aiatolás coloquem as mãos na bomba atômica. Nenhum dos Estados citados acima fornece armas a movimentos terroristas que juraram destruir outro país como faz o Irã ao patrocinar o terrorismo do Hezbollah no Líbano e do Hamas e da Jihad Islâmica nos territórios palestinos. O Paquistão, que tem sua parcela de culpa por ter apoiado o Taliban no Afeganistão e por apoiar os separatistas da Caxemira, não o faz, porém, visando a varrer do mapa a Índia, até porque sabe que isso é impossível, mesmo tendo a arma nuclear. O Irã, por sua vez, tem no aniquilamento de Israel um dos pilares de suas políticas externa e interna. Diante disso, há motivos de sobra para desconfiar das declarações de seus aiatolás e, sobretudo, de Ahmadinejad, a respeito do caráter "pacífico" de seu programa nuclear - além de tudo, secreto. Aliás, se o programa é mesmo pacífico, por que Ahmadinejad insiste em não cumprir as determinações da Agência Internacional de Energia Atômica?

Por tudo isso que está acima, não é difícil perceber que o Brasil não ganhou nada com a visita de Ahmadinejad. O País não ganha nada cortejando ditadores e terroristas. Pelo contrário, só perde. O País e a humanidade.

Talvez a melhor maneira de mostrar a miséria política e moral a que chegou a política exterior lulista é relembrando um fato da História recente. Em 1974, o deputado Chico Pinto, do MDB (Movimento Democrático Brasileiro, partido de oposição ao regime militar), teve o mandato cassado por ter pronunciado um discurso na tribuna da Câmara protestando contra a visita ao Brasil do ditador do Chile, general Augusto Pinochet. Chico Pinto, que morreu em 2007, passou para a História como um mártir da luta pela democracia e pelos direitos humanos no Brasil, e assim é considerado pelos mesmos que aplaudiram a visita de Ahmadinejad. E olhem que a repressão no Chile, violenta e brutal como foi, não chega aos pés da que existe no Irã dos aiatolás. Se fosse hoje, Chico Pinto seria execrado pelos petistas por se opor ao "interesse nacional" - mesmo argumento usado pelos militares que o cassaram.

Antes que digam: não, não acho que se deve manter relações somente com quem pensa igual a nós mesmos, com quem concorda com nossos pontos de vista. Acho esse argumento um primor de sonsice e de estupidez. Creio apenas que não se deve, em nome do interesse nacional, do comércio ou do que quer que seja, cruzar um certo limite civilizacional. E esse limite, no caso do louco de Teerã, foi transposto pelo governo Lula. A política externa deve guiar-se por interesses, é óbvio, mas também por valores, sem os quais aqueles perdem o sentido - do que adianta conquistar uma cadeira permanente no Conselho de Segurança das Nações Unidas, por exemplo, se for para defender tiranias? Em outras palavras, para ficar mais claro: não devo deixar de conversar com meu vizinho se ele não pensa como eu, ou se não torce para o mesmo time de futebol, mas tenho o direito - melhor dizendo: tenho o DEVER - de não cortejá-lo, ou, pelo menos, de manter uma distância prudente, se ele for um estuprador ou um assassino. Tanto nas relações pessoais como nas relações entre os países, um mínimo de pudor, de decência, é necessário.

No caso do Irã, esse pudor, essa decência, se é que havia, foram parar na lata do lixo pelas mãos de Lula e Celso Amorim. Ao ignorar o caráter antissemita e terrorista do governo de Ahmadinejad, e ao tentar se colocar como "mediador", como "neutro" entre Israel e a teocracia iraniana, entre uma democracia e um regime terrorista e genocida, o governo brasileiro está, na prática, tomando o partido deste último. Está se colocando ao lado do terror e da barbárie contra a civilização.

Não transigir com o mal, nenhuma tolerância com os intolerantes: estas regras tão comezinhas da vida civilizada deveriam ser também mandamentos das relações exteriores, tão ou mais importantes quanto aumentar o comércio e encontrar novas oportunidades de negócios. E não somente do ponto de vista moral, mas também político. Receber com flores e tapete vermelho crápulas como Ahmadinejad não é falta de preconceito. É falta de cérebro. E de vergonha na cara. Algo que só se justifica por uma enxurrada de asneiras, cinismo ou loucura.

sexta-feira, novembro 20, 2009

NOVE RAZÕES PARA MANDAR AHMADINEJAD PARA O INFERNO


Como todos já devem saber, no próximo dia 23 de novembro Lula vai receber o facínora iraniano Mahmoud Ahmadinejad em Brasília. Soube que alguns grupos estão preparando protestos contra essa visita, indesejada e inaceitável para qualquer pessoa com um mínimo sentido de decência.
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De fato, poucas vezes houve tantos motivos para protestar. Melhor dizendo: poucas vezes houve tantos motivos para tanta gente, com ideologias e pontos de vista tão distintos e até antagônicos, se unirem num mesmo gesto comum de asco, de nojo, por semelhante criatura. Eu, mesmo não sendo muito fã de manifestações do tipo - sempre preferi o protesto solitário às grandes multidões, e a idéia de gritar slogans e balançar bandeiras em passeatas sempre me pareceu algo impositivo e autoritário, para não dizer meio ridículo -, estou quase me decidindo a também vestir a camisa do repúdio a esse criminoso internacional travestido de estadista, que será recebido por um animador de auditório também travestido de estadista.

Se você ainda tem alguma dúvida de que o caso é realmente escandaloso, um dos maiores acintes que se poderia imaginar, aí vão nove boas razões para, creio eu, querer que o facinoroso de Teerã vá para o diabo que o carregue.

Se você é gay: Saiba que os homossexuais são perseguidos como uma praga no Irã, sendo lançados na prisão, torturados e assassinados pelo Estado. Ahmadinejad já chegou a dizer que o Irã é o único país livre de homofobia, pois lá "não existem" homossexuais...

Se você é mulher: Na República Islãmica do Irã de Ahmadinejad, as mulheres são cidadãs de segunda ou terceira categoria, são obrigadas a usar o hijab, a túnica negra que deixa apenas o rosto à mostra, e são surradas pela polícia religiosa se ousarem desafiar as imposições religiosas.

Se você é judeu: Ahmadinejad nega que tenha havido o Holocausto, considerando o genocídio de 6 milhões de judeus pelo nazismo uma fantasia. Também já defendeu que Israel deva ser varrido do mapa.

Se você defende a liberdade religiosa: No Irã, grupos religiosos como os Baha'i, são duramente perseguidos e assassinados pelo regime xiita. Judeus e outras minorias também são reprimidos pelo Estado teocrático, onde vigora a sharia (a lei islâmica). Escritores como o anglo-indiano Salman Rushdie foram condenados à morte por uma fatwa (decreto religioso) por terem escrito livros considerados ofensivos ao Islã.

Se você ama a liberdade e os direitos humanos: O Irã é uma das ditaduras mais tirânicas do mundo, em que uma adolescente pode ser enforcada por adultério e onde opositores do regime são presos, torturados e assassinados pela polícia política. As últimas eleições presidenciais, das quais Ahmadinejad saiu vencedor, foram escandalosamente fraudadas e os opositores, reprimidos com violência. O país é um dos campeões em censura e violações dos direitos humanos no mundo, segundo a Anistia Internacional e a Human Rights Watch.

Se você defende a causa palestina: O regime iraniano fornece armas e dinheiro aos terroristas islamitas do Hezbollah no Líbano e do Hamas e do Jihad Islâmica na Faixa de Gaza, que se opõem à criação de um Estado palestino ao lado de Israel e costumam massacrar os moderados da Fatah. Em 2006, os fanáticos do Hamas, apoiados por Teerã, tomaram o poder na Faixa de Gaza e exterminaram centenas de militantes da Fatah.

Se você é comunista: Os comunistas iranianos, que tiveram um papel importante na queda da monarquia em 1979, estiveram entre os primeiros a serem exterminados pelo regime dos aiatolás logo após a implantação da República Islâmica, teocrática e anticomunista.

Se você é pacifista: Ahmadinejad defende a destruição de Israel e apóia o terrorismo de grupos como o Hezbollah e o Hamas, e desenvolve há anos um programa nuclear clandestino, tendo sido alvo já de diversas sanções da ONU por descumprir acordos e convenções internacionais. O Irã é um "rogue state", assim como a Coréia do Norte.

Se você pertence à espécie humana: Qualquer motivo acima é suficiente para você protestar contra a vinda desse déspota e inimigo do gênero humano.

No dia 23, portanto, eu também não vou deixar de dizer:

AHMADINEJAD, VÁ PARA O INFERNO!

É ASSIM QUE SE RECEBE UM DITADOR


A próxima segunda-feira, 23 de novembro, será uma data triste para a história da diplomacia brasileira. Melhor dizendo: será um dia triste para a Democracia. Para os Direitos Humanos. Para a Tolerância. Enfim, para a Humanidade.

O presidente Lula, que já disse, todo sério, que, "com democracia não se brinca" e que costuma se gabar de sua "resistência à ditadura" em terras tupiniquins, irá receber, com honras oficiais, batedores, tapete vermelho, salamaleques e tapinhas nas costas, o presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad. Os estrategistas da diplomacia lulista irão apresentar a decisão de convidar Ahmadinejad - ele foi convidado, ao contrário do presidente de Israel, Shimon Peres, que praticamente se convidou, e já esnobou um outro convite do Itamaraty em cima da hora - como mais uma mostra do "pragmatismo" do governo Lula, de sua infinita sabedoria e ausência de preconceitos ideológicos etc. Irão dizer também que o encontro será entre dois Estados, que será importante para o comércio bilateral, para o multilateralismo etc. Enfim, o de sempre.

É, pode ser. O comércio internacional, ou, como se diz, a realidade do poder, tem seus próprios critérios. Certamente, por exemplo, um acordo comercial ou de troca de tecnologia com a Alemanha de Hitler seria proveitoso para o Brasil. Mas isso justificaria uma visita de Hitler ao País? Mais: justificaria declarações do presidente da República minimizando os horrores do nazismo? É isso que se chama realidade do poder?

Uma coisa é certa como o nascer do sol no dia seguinte: durante a visita do iraniano, Lula não falará com ele sobre democracia, direitos humanos, liberdade para presos políticos, tolerância religiosa, reconhecimento do direito de Israel à existência, combate ao terrorismo etc. - essas coisas chatas que atrapalham o comércio entre os países. Ou, se falará, será para que Lula, usando todo seu charme e sapiência diplomática, aprendida na escola da vida e no sindicato, tente atrair o líder iraniano, como ele disse, a boas causas, convencendo-o, por exemplo, a não mais enforcar opositores, ou a reconhecer Israel, ou a desistir de seu programa nuclear... Lula já disse que é preciso negociar a paz até com quem se opõe à paz. Que só assim se pode atrair quem não quer negociar para as boas causas. Eis aí uma oportunidade de colocar isso em prática. Será que vai dar certo?

Sei que ninguém no Itamaraty, nesses tempos de apagão energético, mental e moral, vai dar a menor bola para este post, e ele não vai mudar um milímetro a política externa do Aiatolula, que comparou a repressão aos opositores no Irã a uma partida de futebol e reconheceu a vitória fraudulenta de Ahmadinejad nas urnas antes mesmo dos aiatolás iranianos. Mas não posso deixar de transcrever, aqui, um discurso que considero um dos melhores dos últimos tempos.

Em 24 de setembro de 2007, Ahmadinejad falou na Universidade de Columbia, nos Estados Unidos, num evento organizado pela Escola de Assuntos Públicos e Internacionais da instituição, como parte da programação acadêmica daquele ano, que foi dedicado às questões iranianas. Antes do discurso de Ahmadinejad, o reitor da universidade, Lee Bollinger, fez algumas considerações introdutórias. E passou uma descompostura histórica no delinqüente de Teerã.

No discurso, cujo vídeo pode ser encontrado no Youtube, ao agradecer os esforços dos coordenadores do evento, Bollinger lembra: “Ouvir idéias que nós deploramos não implica endossá-las nem é sinal de fraqueza ou ingenuidade diante dos perigos reais inerentes a essas idéias”. Em seguida, disse: “Uma das premissas cruciais da liberdade de expressão é que não tornamos honrada a desonra quando abrimos o debate para que ela se manifeste”. Ele afirmou compreender os motivos dos que se opuseram à presença de Ahmadinejad em Columbia e pede desculpas em nome da instituição àqueles que se sentiram ofendidos pela presença do genocida e negador do Holocausto. E afirma, enfaticamente: “Que fique claro de uma vez por todas: este evento não tem absolutamente nada a ver com o ‘direito’ de quem fala, mas apenas com o nosso direito de ouvir e falar. Fazemos isso por nós”.

Após exaltar os valores da liberdade e do entendimento do mundo, lembrando que a universidade não faz a paz nem a guerra, mas forma cérebros, ele se dirigiu diretamente a Ahmadinejad. Mencionou então diversos casos no Irã de perseguição a professores - um deles, formado em Columbia, afirma que a Anistia Internacional denunciou a execução de 210 pessoas (21 num único dia, 5 de setembro). Entre os mortos, crianças - sim, crianças! - e defensores dos direitos humanos. Lembrou a realização de execuções públicas, que constituem uma violação de convenções internacionais de direitos de que o Irã é signatário. Enfim, uma aula de tolerância e liberdade a alguém que desconhece o significado dessas palavras. Eis alguns trechos da fala do reitor (os grifos são meus):

“Essas e outras execuções coincidiram com a selvagem repressão contra ativistas estudantis e professores, acusados de fomentar a chamada ‘revolução suave’ (…) Como disse a doutora Esfrandiari numa entrevista, ela ficou presa numa solitária por 105 dias porque o governo acreditava que os EUA planejavam uma “Revolução de Veludo” no Irã. Nesta mesma sala, no ano passado, nós aprendemos alguma coisa sobre a Revolução de Veludo de Vaclav Havel. E ouviremos algo semelhante de Michelle Bachelet, presidente do Chile. Estas duas histórias extraordinárias lembram-nos de que não há prisões suficientes para impedir uma sociedade que queira ser livre de ser livre.

Nós, nesta universidade, não temos receio de protestar contra o nosso governo e de contestá-lo em nome desses valores. E não temos receio de criticar o seu governo.

Vamos deixar claro de saída: senhor presidente, o senhor exibe todos os sinais de um ditador mesquinho e cruel.

E eu lhe pergunto: por que as mulheres, os membros da religião Baha’i, homossexuais e muitos dos nossos colegas professores são alvos de perseguição em seu pais?

Por que, numa carta ao secretário geral da ONU na semana passada, Akbar Gangi, um dissidente, e outras 300 personalidades, entre intelectuais, escritores e laureados com o Prêmio Nobel acusam que a sua retórica inflamada contra o Ocidente busca desviar a atenção do mundo das condições intoleráveis que o seu regime criou dentro do Irã, em especial o uso da Lei de Imprensa para banir os críticos?

Por que o senhor tem tanto medo de que os cidadãos iranianos expressem suas opiniões em favor de mudanças? (…)

O senhor me deixa liderar uma delegação de estudantes e professores da Columbia para falar na sua universidade sobre liberdade de expressão, com a mesma liberdade que lhe garantimos hoje? O senhor fará isso?

Em dezembro de 2005, num programa da TV estatal, o senhor se referiu ao Holocausto como uma invenção, uma lenda. Um ano depois, o senhor apoiou uma reunião de negadores do Holocausto.

Para os iletrados, os ignorantes, isso é propaganda perigosa. Quando o senhor vem a um lugar como este, isto faz do senhor simplesmente um ridículo. Ou o senhor é um provocador descarado ou é espantosamente mal-educado [sem formação intelectual].

O senhor precisa saber que a Columbia é um centro mundial de estudos judaicos e, agora, em parceria com o Instituto YIVO, de estudo do Holocausto. (…) A verdade é que o Holocausto é o mais documentado evento da história humana. (…). O senhor vai parar com esse ultraje?

Doze dias atrás o senhor disse que o estado de Israel não pode continuar a existir. Isso repete inúmeras declarações inflamadas que o senhor tem feito nos últimos dois anos, incluindo a de outubro de 2005, segundo a qual Israel tem de ser “varrido do mapa”.

A Columbia tem mais de 800 ex-alunos vivendo em Israel. Como instituição, temos profundos laços com nossos colegas de lá. Eu, pessoalmente, tenho me manifestado com força contra propostas de boicotar estudantes e especialistas de Israel dizendo que isso seria boicotar a própria Columbia. Mais de 400 colegas e reitores neste país pensam o mesmo. Minha pergunta, então, é: “O senhor planeja nos varrer do mapa também?”

De acordo com o Council on Foreign Relations, está bem documentado que o Irã é patrocinador do terror, financiando grupos violentos como o libanês Hezbollah, que o Irã ajudou a organizar em 1980, e os palestinos Hamas e Jihad Islâmica.

Enquanto o governo que o precedeu colaborou com os EUA na campanha contra o Taliban, em 2001, o seu governo está atacando sorrateiramente as tropas americanas no Iraque, financiando, armando e garantindo livre trânsito para líderes insurgentes como Muqtada al-Sadr e suas forças.

Há inúmeros relatos que ligam o seu governo com os esforços da Síria para desestabilizar o frágil governo do Líbano por meio da violência e do assassinato político.

Minha questão é esta: por que o senhor apóia organizações terroristas que continuam a golpear a paz e a democracia no Oriente Médio, destruindo vidas e a sociedade civil na região?

O general David Patraeus afirmou que armas fornecidas pelo Irã (…) estão contribuindo para a sofisticação de ataques, “que não seriam possíveis sem o apoio do Irã”. Muitos formados da Columbia e estudantes estão entre os bravos militares que estão servindo ou serviram no Iraque e no Afeganistão. Eles, como outros americanos com filhos, filhas, pais, maridos e mulheres que estão em combate vêem, certamente, o seu governo como inimigo.

O senhor pode lhes dizer e a nós por que o Irã está lutando uma guerra que não é sua no Iraque, armando a milícia Shi’a, alvejando e matando tropas americanas?

Nesta semana, o Conselho de Segurança da ONU avalia ampliar as sanções [contra o Irã] pela terceira vez porque o seu governo se recusa a suspender o programa de enriquecimento de Urânio(…)Por que o seu país se recusa a aderir ao padrão internacional de verificação de armas nucleares, em desafio a acordo que o senhor fez com a agência nuclear das Nações Unidas? E por que o senhor escolheu fazer o seu próprio povo vítima dos efeitos das sanções internacionais, ameaçando fazer o mundo mergulhar na aniquilação nuclear?

Deixe-me encerrar com este comentário. Francamente, com toda sinceridade, senhor presidente, eu duvido que o senhor tenha coragem intelectual de responder essas questões.(…)"

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Diante do que está aí em cima, só há uma pergunta a ser feita: quem, no governo brasileiro, terá a coragem de dizer algo semelhante a Ahmadinejad no próximo dia 23 de novembro? É claro que todos sabem a resposta. E ela me enche de vergonha.

quarta-feira, novembro 18, 2009

O GENOCIDA VEM AÍ - UM TEXTO IMPECÁVEL DE AUGUSTO NUNES


Augusto Nunes escreveu em seu blog o texto que eu gostaria de ter escrito. Não tenho nada a acrescentar: impossível melhorá-lo. Tudo, a começar pelo título, é uma aula do que deve ser um texto jornalístico (que não deve se limitar a "informar", como quer o Apedeuta, mas fiscalizar, denunciar absurdos como a visita do louco de Teerã). Uma lição de (verdadeira) diplomacia, que deveria ser lida e relida pelos nossos "sábios" do Itamaraty, tão entendidos em relações internacionais e no que julgam saber o que é o interesse nacional.

Simplesmente impecável.

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A VISITA DO CRÁPULA IRANIANO É UM INSULTO AO BRASIL QUE PRESTA

Augusto Nunes

Nações não têm amigos, têm interesses, ensina o verbete do manual do cinismo que justifica a existência de relações diplomáticas e comerciais entre países democráticos e paragens comandadas por liberticidas de nascença, assassinos patológicos e outras aberrações da espécie. Não é uma norma edificante. Pois a inversão dos predicados pode tornar as coisas ainda mais abjetas, ensina a política externa da Era Lula. Desde 2003, O Brasil tem amigos, escolhidos por um presidente cujos interesses não têm parentesco com o que interessa à nação.

Com a desenvoltura arrogante que só a certeza da impunidade dá, Evo Morales expropriou bens da Petrobras na Bolívia, Rafael Correa prendeu engenheiros da Odebrecht no Equador, Hugo Chávez tranformou em estalagem o prédio da embaixada em Honduras, Fernando Lugo exige a remoção dos alicerces do Tratado de Itaipu. Lula reagiu a tais agressões à soberania que jurou defender com tapinhas nas costas e falatórios de comparsa. Amigos merecem cuidados especiais e muito carinho.

Pelos padrões civilizados, o iraniano Mammoud Ahmadinejad é um fanático perigoso, acampado na chefia de um regime primitivo, que reprime opositores com ferocidade, frauda eleições, condena homossexuais à morte, nega às mulheres direitos elementares, sonha com o regresso às cavernas. Para Lula, é um amigo ─ dele e, por consequência, do Brasil. E assim será recebido nesta segunda-feira, em Brasília, pelo anfitrião que, dramaticamente ignorante em geopolítica, de novo escolheu o lado errado.

“Eu disse ao Obama, ao Sarkozy e à Angela Merkel que a gente não vai trazer o Irã para boas causas se a gente ficar encurralando ele na parede”, gabou-se Lula nesta semana. “É preciso criar espaços para conversar”. O monoglota que precisa de um tradutor até para conversas em português acha que lhe bastam 15 minutos para que Ahmadinejad cancele o programa nuclear, apaixone-se por Israel, debulhe-se em lágrimas pelos 6 milhões de judeus assassinados pelo Holocausto que até agora nega ter existido e vire torcedor do Corinthians.

Chegou a hora de retribuir às muitas gentilezas que lhe fez, imagina o amigo brasileiro. Multidões de manifestantes protestavam no Irá contra as evidências de fraude eleitoral, a contagem dos votos não terminara e a dos mortos mal começara quando Lula resolveu intrometer-se na crise do outro lado do mundo. ”Eu não conheço ninguém, a não ser a oposição, que tenha discordado da eleição do Irã”, pontificou o cara. ”Não tem número, não tem prova. Por enquanto, é apenas uma coisa entre flamenguistas e vascaínos”.

Ao reducionismo de jardim da infância, adicionou o raciocínio de colegial repetente: ”O presidente Ahmadinejad teve uma votação de 62,7%. É um número muito grande para a gente imaginar que possa ter havido fraude”. No Brasil, comparou, suspeitas de fraude geralmente ocorrem quando a diferença de votos entre os candidatos é de 1% ou 2%. Ele certamente ignora que Saddam Hussein não admitia ser reconduzido à presidência do Iraque com menos de 100% do eleitorado.

A notícia de que a repressão policial já causara 69 mortes não inibiu o improvisador incontrolável. ”Há uma oposição que não se conforma”, explicou. ”O resultado desse conflito são inocentes morrendo, o que é lamentável e inaceitável por parte de qualquer democrata do mundo”. Estaria Lula incluindo o Irã no universo das democracias? “Cada país estabelece o regime democrático que convém ao seu povo”, desconversou. ”É uma decisão soberana de cada nação”. Só não vale para Honduras.

A visita de Ahmadinejad é um insulto ao Brasil que presta e, sobretudo, uma afronta aos incontáveis judeus que escaparam do horror e julgaram encontrar aqui o abrigo seguro. “Não estou preocupado com judeus e árabes”, desdenha Lula. ”Estou preocupado com a relação do Estado brasileiro com o Estado iraniano”. O presidente acha que está recebendo um amigo árabe. Não sabe sequer que os nativos do Irã são persas.

Persa ou árabe, o visitante jamais seria bem-vindo. Porque Mammoud Ahmadinejad é, antes de mais nada, um crápula.

sexta-feira, outubro 09, 2009

UM NOBEL PARA AHMADINEJAD


Uau!

Essa foi a reação do porta-voz de Barack Hussein Obama quando recebeu a notícia de que seu patrão ganhara o Prêmio Nobel da Paz de 2009. Obama foi escolhido pelo Comitê do Nobel por seus "esforços para o entendimento entre os povos". Também foi escolhido por "representar uma esperança de paz mundial". Posso estar enganado, mas é a primeira vez que alguém recebe o Nobel não pelo que fez, mas pelo que se espera que faça um dia.

O Nobel a Obama é um prêmio da Academia Sueca à sua política externa, supostamente pacifista (o Afeganistão está aí para mostrar que não é bem assim, mas quem liga?). Em pouco menos de um ano, Obama mostrou a que veio. Já deve ter pedido desculpas ao "mundo" pelo fato de os EUA serem o que são - um farol da liberdade e da democracia - umas duzentas vezes. Sempre diante de líderes democratas e amantes da paz como Mahmoud Ahmadinejad. Ele já enfatizou em inúmeras ocasiões que é o diálogo, e não a força, o que levará os terroristas islamitas e outros fanáticos a abandonarem as armas e a não se explodirem mais em atentados. Apertou a mão de Hugo Chávez, que já o chamou de "pobre ignorante" e de quem ganhou um livro de presente (presente de grego, aliás), e de Muamar Kadafi, que o chamou de "nosso filho" na ONU. Mais recentemente, ele condenou o "golpe" constitucional em Honduras e se juntou a Chávez, Lula e Daniel Ortega exigindo o retorno imediato de Manuel Zelaya ao poder. Mesmo assim, ainda há quem não o ache antiamericano o suficiente. Mas nada disso deve empanar o mito Obama, agora reforçado pelo Nobel. O mundo está em festa. Kadafi, Ahmadinejad, Chávez, Zelaya e Kim Jong-il devem estar exultantes.
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(Um parêntese histórico: na Grécia antiga, quem propusesse, em tempo de guerra, um acordo com o inimigo era apedrejado até a morte, juntamente com toda sua família. Hoje, as coisas melhoraram bastante: quem faz isso recebe o Nobel da Paz. É que, como escreveu Heródoto, o primeiro dos historiadores, é mais fácil enganar uma multidão do que um indivíduo.)
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Ao contrário de muitos, o Nobel a Obama não me surpreendeu nem um pouco. Tampouco ficaria surpreso se o nome escolhido fosse não o dele, mas o de outra indicada, a senadora colombiana Piedad Córdoba, porta-voz dos narcobandoleiros das FARC na Colômbia. Como já escrevi aqui (http://gustavo-livrexpressao.blogspot.com/2007/10/o-mundo-vai-acabar.html), o Nobel, principalmente o da Paz, precisa ser desmistificado. Já levaram o prêmio Yasser Arafat e Al Gore, aquele que fez um filme dizendo que o nível dos oceanos vai aumentar em sete metros em poucos anos. Até Lula já foi cogitado para ganhar o prêmio. Henry Kissinger, para ficar numa figura detestada pela turma obamista, também já levou o seu. Nos anos 70, Kissinger, secretário de Estado de Richard Nixon, foi o papa da realpolitik, a política externa baseada tão-só na realidade do poder, e não em considerações morais. Ele não estava nem aí para a democracia e os direitos humanos. Cada vez mais me convenço que Obama é o Kissinger das esquerdas.
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O culto à personalidade do queridinho dos politicamente corretos parecia andar meio em baixa nos últimos tempos. Nos EUA, os americanos parecem finalmente ter acordado para quem é Obama. Perceberam que, ao contrário do que lhes foi dito insistentemente durante a campanha presidencial, ele é de carne e osso, não anda sobre as águas, nem é capaz de multiplicar o pão ou de ressuscitar os mortos. Algumas semanas atrás, a maior manifestação popular da História do país ocorreu em Washington, com milhares de pessoas nas ruas protestando contra o projeto de Obama de reforma do sistema de saúde - algo que foi quase completamente ignorado pela imprensa brasileira. Até Lula cantou vitória sobre Obama na escolha do Rio para as Olimpíadas (o que é, obviamente, mais uma bravata do Apedeuta, mas dá bem uma idéia de quão baixo andava a moral de Obama). Mas o sujeito é simplesmente grande demais para cair. O investimento feito na construção do personagem Obama, principalmente em marketing, não poderia esvair-se assim, tão rapidamente. Era preciso botar um pouco de ar na bola obamista, que estava meio murcha. O Nobel veio bem a calhar.
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Enquanto isso, lembremos: George W. Bush derrubou duas das piores tiranias que já existiram. Levou até suas populações, pela primeira vez na História, a possibilidade de algo diferente da opressão e do obscurantismo. Mas Bush não era "a esperança". Não era Barack Obama.
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Obama ganhou o Nobel da Paz. O que dizer? Só uma coisa: Uau!