quarta-feira, setembro 03, 2014

A ARTE DA FUGA

João Pereira Coutinho
Folha de S.Paulo, 2/09/2014


Quem leva a sério a opinião política dos artistas? Eu não. Deixei de o fazer com a ruína dos regimes totalitários.

Nas pinturas de Isaak Brodsky (sobre Lênin); nos filmes de Leni Riefenstahl (sobre Hitler); e nas telas de Alessandro Bruschetti (sobre Mussolini), a "arte política" deixou um testamento vergonhoso, que passou pela legitimação –melhor: pela exaltação das virtudes de psicopatas.

Exceções, sempre houve. Mas o casamento entre arte e política normalmente deu maus resultados. A "arte pela arte" não é apenas um bordão do século 19. É um conselho prudente para quem tem pretensões de se dedicar a ela.

Por isso ri alto com a carta aberta que 55 artistas enviaram à Fundação Bienal de São Paulo.

Ponto prévio: nenhuma pessoa adulta escreve cartas abertas em manada; quando falamos de artistas, ou pretensos artistas, a coisa ainda soa pior. Ou a arte vive da autonomia individual, ou não vive. Só covardes assinam em manada.

Mas os 55 revoltaram-se com o apoio financeiro que Israel concedeu à Bienal. Não querem dinheiro judeu porque acreditam que esse dinheiro, depois da guerra em Gaza, conspurca as suas integridades estéticas.

Se o dinheiro fosse da Autoridade Palestina, ou até do Hamas, talvez a conversa fosse outra. Não é. É de Israel.

Não vou regressar ao conflito entre Israel e o Hamas, que vive agora a sua trégua clássica antes do próximo confronto. Enquanto o mundo não entender direito a natureza islamita e jihadista do Hamas, não vale a pena gastar latim com o assunto.

Mas talvez não seja inútil fazer uma pergunta meramente teórica: de que vive a arte, afinal?

Arrisco uma resposta: a arte vive da liberdade. Um clichê sem grande importância?

Errado. Parafraseando Saul Bellow, eu gostaria de conhecer o Balzac dos zulus. Não conheço. Se Nova York, Londres ou Berlim são centros de excelência estética, isso deve-se à estabilidade política e à riqueza material de tais cidades.

E mesmo que a arte seja "engajada", o que já me parece uma corruptela da sua vocação, convém que o "engajamento" seja direcionado para os alvos certos.

Os 55 artistas da Bienal falham nos dois planos.

Começando pela liberdade, basta consultar os rankings da ONG Freedom House para 2014. Não vou cansar o leitor com números e mais números. Resumindo, digo apenas: Israel é o único país do Oriente Médio e do norte de África considerado "livre". O resto oscila entre "parcialmente livres" (Tunísia, Líbia, Kuait) e "não livres" (Iraque, Irã, Arábia Saudita).

E, para ficarmos na vizinhança de Israel, é a desgraça: Jordânia, Egito ou Síria continuam antros de repressão. Os 55 artistas, que deveriam defender a liberdade de expressão como quem defende o oxigênio, assinam uma carta contra o único país que respeita essa liberdade em todo o Oriente Médio.

E sobre os direitos humanos? Fato: Israel merece várias linhas de condenação nos relatórios anuais da Human Rights Watch, outra ONG independente. Mas nada que se compare ao comportamento dos mesmos países do Oriente Médio, para não falar da vizinhança em volta.

Um bom indicador do respeito pelos direitos humanos está no tema clássico da pena de morte. Israel aboliu-a para crimes civis. Do Egito à Jordânia, do Líbano à Autoridade Palestina, a execução judicial continua a verificar-se.

Digo "judicial" porque o Hamas, todos o sabemos, prefere fazer as coisas de forma "extrajudicial", fuzilando traidores no meio da rua.

De resto, será preciso dissertar sobre a diferença entre os "direitos" das mulheres ou dos homossexuais em Israel e nos países em volta? Será preciso recordar o histórico de amputações de membros e lapidações de adúlteras que existe por aquelas bandas?

E será preciso acrescentar alguma coisa à selvageria do Estado Islâmico do Iraque e do Levante, que pelo visto não incomoda os 55 artistas da Bienal de São Paulo?

Criticar Israel é legítimo. Nenhum governo está acima da crítica. Transformar Israel em pária internacional é uma forma de cegueira antissemita.

Eu só respeitarei a "coragem" dos 55 artistas no dia em que eles viajarem para Bagdá, Riad ou Gaza e escreverem uma carta contra os governos locais. Em defesa da liberdade e dos "direitos humanos".

Isso, claro, se ainda tiverem mãos para escrever.

terça-feira, agosto 12, 2014

O VÍRUS DO ANTISSEMITISMO

 
Sei que o assunto é tabu, mas... e daí? Quem disse que eu ligo pra tabus? Vamos lá.

Muito do que li e ouvi no último mês me fez acender o sinal de alerta para opiniões antissemitas. Não falo do antissemitismo escancarado, que sempre existiu e que também andou dando as caras por aí, mas principalmente de um antissemitismo disfarçado, polido, velado, "cool", "bem-pensante", que muitos não c
onsideram antissemitismo e que (infelizmente) parece ter virado moda. Trata-se de um antissemitsmo que não ousa dizer o nome, envergonhado, covarde, que usa e abusa do emocionalismo e de argumentos aparentemente "do bem", sendo, por isso, mais difícil de detectar. Alguns exemplos:

- "NÃO SOU ANTISSEMITA; SOU ANTI-SIONISTA": É a desculpa preferida dos que querem esconder o ódio por trás de um véu de retórica. Tanto que muitos já perceberam o tamanho da empulhação. Quem diz isso acha que, separando a religião judaica do Estado de Israel e do movimento que o criou (o sionismo), está sendo menos preconceituoso e intolerante (lembram, como se isso fizesse diferença, que há judeus anti-sionistas etc.). Acontece, senhores, que tal discurso - negar a Israel o direito de se defender, e até de existir - é exatamente o discurso antissemita. Um sujeito chegou a escrever um artigo na Folha de S. Paulo dizendo que não tinha nada contra os judeus, mas que Israel, um Estado criado e reconhecido pela ONU em 1947, era uma "aberração"... É o mesmo que dizer: "Não sou antiamericano; sou contra os EUA". Ou (para os mais nacionalistas): "Não sou antibrasileiro; sou contra o Brasil". Ou ainda: "Não tenho nada contra os americanos (ou os brasileiros), mas os EUA (ou o Brasil) são uma aberração". Lorota pura.

- "NÃO CONCORDO COM OS MÉTODOS DO HAMAS, MAS SUA LUTA É JUSTA": Os "métodos" do Hamas consistem em lançar foguetes a esmo contra Israel e usar crianças palestinas como escudos humanos em escolas e hospitais da ONU usados como depósitos de armas. Já seria o suficiente para qualquer pessoa decente denunciar com ardor esse grupo terrorista e querer que as Forças de Defesa de Israel mandem esses fanáticos inescrupulosos para o quinto dos infernos. Mas o pior é dizer que "a luta é justa" (!!!)... A "luta" do Hamas não é por terra, nem contra a "ocupação" (que em Gaza acabou em 2005), mas simplesmente pela destruição de Israel e pelo extermínio de toda a sua população. Não é uma luta pela Palestina, nem pelos palestinos, mas pelo Islã radical, do mesmo modo que grupos como o ISIS, o Al-Shabab e o Boko Haram. Ou seja: eles lutam por um genocídio dos judeus (e não somente dos judeus: dos cristãos também, e dos budistas, e dos ateus...). Uma reedição do Holocausto, exatamente o que querem os antissemitas. Luta justa, é?

- "NÃO SOU A FAVOR DO HAMAS, SOU CONTRA OS BOMBARDEIOS CONTRA A POPULAÇÃO CIVIL" etc. É a desculpa "pacifista", talvez a maior balela de todas. É óbvio que qualquer pessoa normal é contra bombardear cidadãos indefesos, e Israel faz o possivel para evitar essas baixas (o Exército israelense mira em alvos do Hamas e procura avisar a população antes dos ataques). O problema é que esse argumento simplesmente ignora que as mortes de civis palestinos decorre da prática do Hamas de usá-los como escudos humanos.  Ou seja: não leva em conta que a guerra de Israel não é contra os palestinos; é contra o Hamas, que faz uso dessa tática canalha, esperando exatamente causar o maior número de baixas entre civis inocentes, para com isso acusar... Israel de atacar e massacrar indiscriminadamente a população (!!!). O(a) sujeito(a) se diz contra, mas compra direitinho o discurso do Hamas...
 
A propósito: alguém conhece um meio melhor de enfrentar militarmente um inimigo que não reconhece seu direito de existir e que jurrou varrê-lo do mapa, que lança foguetes desde áreas civis, que se esconde entre a população e que não teme a morte (pelo contrário: busca a morte e arrasta a população para esse destino) do que ações como a Operação Margem Protetora? Mais: diante de um inimigo desse tipo, que usa homens-bomba e escudos humanos, alguém propõe abandonar o uso da força militar? Alguém acredita, em sã consciência, que é possível lidar com o Hamas sem buscar destruir sua infraestrutura terrorista? Quem oferecer uma resposta para essa questão merece o Nobel da Paz.

É claro que nem toda crítica a Israel (e eu, particularmente, tenho muito a criticar no atual governo israelense) é antissemitismo. Acho até que há um certo exagero, uma hipersensibilidade de alguns setores sionistas a qualquer crítica mais dura, que enxergam, invariavelmente, como antissemita, e que isso é instrumentalizado, muitas vezes, para justificar certas políticas israelenses (como, por exemplo, os assentamentos na Cisjordânia). Mas é inegável que os "argumentos" acima trazem embutidos uma dose não pequena de preconceito antijudaico. Assim como  a acusação, feita inclusive por governos, de que Israel estaria cometendo um "genocídio" em Gaza, a qual, de tão absurda e desconhecedora do verdadeiro significado da palavra "genocídio" (ou, numa versão mitigada, "massacre"), nem merece maior comentário e só traz vergonha a quem a pronuncia, como escreveu, num texto brilhante, o articulista do Miami Herald Andrés Oppenheimer (http://www.miamiherald.com/2014/08/06/4275217/andres-oppenheimer-claim-of-israel.html).


O mesmo vale para a esparrela de que Israel estaria usando "força desproporcional", o que não passa de uma desculpa pseudo-humanitária que mal esconde o desejo de que o número de israelenses mortos fosse maior (lembra algo?).

Nem menciono as tentativas de equiparar moralmente a ação militar israelense e a violência do Hamas, o que, sob a capa de "equanimidade", é um atentado ao bom-senso. Ou a tática calhorda (infelizmente, bastante comum) de tentar deslegitimar Israel impingindo-lhe os rótulos de "fascista" e mesmo "nazista", algo que só perde, em ignorância, para a estupidez e a safadeza ideológica - características, aliás, do nazifascismo. 

Resumindo: sim, é verdade que há um massacre em curso em Gaza. E não, não é Israel que o está perpetrando. E sim, é verdade que há genocidas em ação. E não, não é Israel. Preciso ser mais específico?
 
Todas as desculpas esfarrapadas apresentadas acima voltam à tona sempre que Israel resolve reagir a um ataque de inimigos como  o Hamas, o Jihad Islâmica ou o Hezbollah, que juraram varrer o país (e seu povo) do mapa. Tem sido assim desde 1948. E também antes, como sabe qualquer pessoa com o mínimo de interesse em História e de honestidade intelectual.

Enfim, os acontecimentos das últimas semanas no Oriente Médio comprovaram, pela enésima vez, que o antissemitismo existe, sim. De forma velada ou não, consciente ou inconscientemente, com bílis ou com açucar, com a suástica ou com o símbolo do "peace and love"... E esse sentimento, esse ódio ancestral, está mais forte do que nunca, dessa vez com uma roupagem nova, "progressista", "humanista", "do bem". O que o torna ainda mais lamentável e detestável. Negar que esse ódio existe, e que é bastante atuante no mundo de hoje, é parte da guerra de propaganda do Hamas contra Israel e contra a paz.

segunda-feira, agosto 11, 2014

Políticos de esquerda se oferecem como escudos humanos na Faixa de Gaza

Indignados com o que chamaram de “genocídio” de Israel contra os palestinos na Faixa de Gaza, políticos de partidos de esquerda – PT, PCdoB, PSOL, PSTU e PCO – reuniram-se ontem em Brasília e declararam solenemente uma “jihad”(“guerra santa”) contra Israel, a quem classificaram como um “estado carniceiro nazista sionista imperialista racista segregacionista imperialista e de gente pão-dura”.
 
Segundo a declaração (“fatwa”) emitida após a reunião, os líderes das principais siglas esquerdistas do país decidiram unir forças com o Hamas, a quem chamaram de “amantes da paz e vítimas indefesas da máquina imperialista opressora”, oferecendo-se para ser escudos humanos em Gaza. O documento acusa Israel de “mirar intencionalmente em criancinhas por pura maldade e para provocar uma onda de indignação mundial contra si mesmo”. Por sugestão do PT, o documento finaliza com um desafio a Israel: “Anão diplomático é a mãe!”.
 
“É inadmissível o massacre brutal e genocida do povo palestino do Hamas pelas forças cruéis do judaísmo-sionismo-neoliberalismo-capitalismo”, bradou a deputada federal Jandira Feghali (PCdoB-RJ). E acrescentou: “É um absurdo bombardear escolas e hospitais da ONU que estão sendo usados pelos bravos combatentes pacifistas do Hamas para estocar armas e lançar foguetes que, como todos sabemos, são usados apenas para fins pacíficos”. Afirmou que “nós, do partido do comunismo, de grandes benfeitores da humanidade como Marx, Lênin, Stálin, Mao Tsé-Tung e Kim Jong-Un, somos, acima de tudo, humanistas”. Feghali disse ainda que vai destinar 5% da renda diária de seu restaurante de luxo no Rio de Janeiro para ajudar a comprar mais armas para o Hamas.
 
Já o deputado federal Jean Wyllys (PSOL-RJ) mostrou-se ainda mais indignado. “É preciso resistir a essa atitude homofóbica de Israel, com seus mísseis falocráticos”. Wyllys garantiu ter informações seguras de que os mísseis israelenses são projetados para matar apenas gays, lésbicas, travestis e transgêneros. “Li isso numa pesquisa do IPEA, está tudo lá”, assegurou.
 
Os políticos presentes ao evento garantiram: “Não somos antissemitas, somos apenas contra Israel, essa aberração. Todos sabem que os judeus criaram Israel como parte de um complô internacional pelo controle do mundo pelas multinacionais capitalistas, como está descrito naquele livro-texto do Hamas, Os Protocolos dos Sábios de Sião”, afirmou o presidenciável Zé Maria, do PSTU.
 
Quanto ao uso da população civil palestina como escudos humanos pelo Hamas, Jean Wyllys foi enfático: “É mentira! Isso não passa de uma teoria da conspiração. É coisa dos mesmos homofóbicos que derrubaram o avião da Malásia na Ucrânia porque levava mais de 100 cientistas holandeses que iam para um congresso sobre a AIDS, como escrevi no meu Facebook”.
 
Ao ser informado de que o Hamas e outros grupos fundamentalistas islâmicos não gostam muito de gays, Jean Wyllys declarou que precisava dar uma cagada e se escondeu no toilet.
 

quarta-feira, julho 30, 2014

HAMAS, O MAIOR INIMIGO DOS PALESTINOS

O Hamas não é somente o maior inimigo de Israel. É o maior inimigo da PAZ (que se recusa a negociar), lançando foguetes (já são mais de 2 mil desde 8/07) e insistindo na ideia genocida de "varrer Israel do mapa" (está no seu Estatuto). É, também, o maior inimigo dos PRÓPRIOS PALESTINOS, que aterroriza desde que tomou o poder em Gaza e que usa como ESCUDOS HUMANOS, esperando com isso produzir o maior número de cadáveres civis.

Com seus ataques e provocações, esse bando terrorista não deixa nenhuma escolha a Israel senão se defender e reagir militarmente, o que, devido à assimetria de forças (ainda bem que ela pende hoje para o lado de Israel, mas nem sempre foi assim), é explorado pelos fanáticos jihadistas como forma de propaganda anti-sionista (na verdade, antissemita), infelizmente comprada pela maior parte da imprensa e da "opinião pública", que vê no Hamas as "vítimas" de uma "agressão".

Repetindo: as maiores vítimas do Hamas não são os israelenses, mas os PALESTINOS. Ou seja: velhos, mulheres e crianças usados como carne barata em escolas e hospitais da ONU utilizados PROPOSITALMENTE como depósitos de armas. Sempre que você vir alguma foto de criança palestina morta depois de um ataque israelense, lembre que a vida dela poderia ser poupada se o Hamas não a usasse como instrumento de marketing do terror.

Por falar em crianças, desde 2007 Gaza é um mini-estado islamita dominado pela sharia, a lei islâmica, onde impera a opressão mais atroz e onde as vozes discordantes são caladas à bala. Nesse reino do terror, meninas de até sete anos de idade são forçadas a se casar com homens adultos, segundo a interpretação do Alcorão pelos fundamentalistas do Hamas. Crianças são obrigadas a escavar túneis que vão ser usados pelo Hamas para se infiltrar em Israel e assassinar israelenses. Cento e sessenta crianças palestinas já morreram fazendo isso. Mas você provavelmente não leu nada a respeito na imprensa. Se você é contra pedofilia e trabalho infantil escravo, você deve ser contra o Hamas.

"E a desproporção no número de baixas?", costuma-se ouvir (como se Israel devesse cometer suicídio para que o conflito fosse "justo" e "equilibrado"...). Respondo citando o atual presidente de Israel (e Prêmio Nobel da Paz) Shimon Peres: Israel cuida de suas crianças, ao contrário de seus inimigos. Israel investiu num eficiente sistema de defesa antimíssil, constrói abrigos, protege sua população. Ao contrário do Hamas. É por isso - e não devido a uma ação indiscriminada e deliberada por parte das Forças de Defesa Israelenses - que o número de mortos israelenses é menor do que em Gaza. (Alguém duvida que, se fosse o Hamas o lado mais forte, a quantidade de cadáveres seria muito maior?.)

Enquanto existir o Hamas, enquanto os terroristas insistirem em destruir Israel, como tentaram (e não conseguiram) os Estados árabes e a antiga OLP, não haverá paz. E não é por causa de alguma coisa que Israel faça - desde 2005, não há mais nenhum colono judeu em Gaza, e desde então o número de foguetes lançados pelo Hamas contra alvos civis israelenses só aumentou. Se a região está em guerra, não é por culpa de Israel, mas dos que querem transformá-lo numa pilha de ossos. Israel luta para se defender, luta pela solução de dois Estados - um israelense, outro palestino, conforme foi definido pelos Acordos de Oslo em 1993. Já o Hamas não luta pela Palestina - luta pelo Islã. O Hamas não reconhece o direito de Israel existir e jurou exterminar a população israelense - e inclusive sacrificar palestinos, se isso o ajudar a alcancar esse objetivo. E, para tanto, conta com a cumplicidade da "comunidade internacional", que prefere acusar Israel a ver os jihadistas do Hamas como o que são: provocadores e assassinos. A tática funciona.

Portanto, quando você vir alguém protestando contra a "reação militar desproporcional" de Israel em Gaza sem fazer nenhuma referência ao Hamas, como fazem alguns anões diplomáticos, saiba que não se trata de um "pró-palestino" coisa nenhuma: é apenas um anti-Israel, um anti-sionista (ou seja: um antissemita disfarçado). É alguém que não tem a menor noção do significado de palavras como "massacre" e "genocídio", que repete sem saber do que se trata - portanto, um idiota útil. Ou, então, é alguém que sabe o que faz e, nesse caso, ao fechar os olhos voluntariamente para as atrocidades do Hamas, quer terminar o serviço deixado incompleto pelos nazistas.

Ah, e não sou judeu, nem respaldo todas as ações do atual governo israelense, nem ignoro que há extremistas dos dois lados (embora os extremistas judeus, ao contrário dos islamitas, estejam sob controle). Sou apenas alguém que estudou um pouco o assunto e que, portanto, não ignora a diferença entre um grupo de fanáticos genocidas que tiraniza a própria população e um país sitiado que luta há mais de sessenta anos para garantir a própria sobrevivência. E que, como se não bastassem os foguetes do Hamas, ainda tem de enfrentar uma barreira de propaganda midiática e de desinformação. Enfim, sou alguém que sabe a diferença entre quem vive para guerrear e quem luta para viver. Entre os adoradores da morte e a única democracia do Oriente Médio.

Resumindo:

- Se você é contra lançar foguetes contra alvos civis para provocar uma reação militar do outro lado e com isso manipular a opinião pública, você é contra o Hamas;

- Se você é contra o terrorismo, o fanatismo e o obscurantismo religioso, você é contra o Hamas;

- Se você é contra o assassinato de civis inocentes, inclusive crianças, usados como escudos humanos, você é contra o Hamas;

- Se você é contra usar escolas e hospitais como depósitos de armas, você é contra o Hamas;

- Se você é contra desviar dinheiro da ajuda internacional à Gaza para construir túneis para atacar civis, você é contra o Hamas;

- Se você é a favor do direito de Israel existir, você é contra o Hamas;

- Se você é a favor de um Estado palestino convivendo com Israel, você é contra o Hamas;

- Se você é contra a execução de quem ousa protestar, você é contra o Hamas;

- Se você é contra a opressão das mulheres e dos homossexuais, você é contra o Hamas;

- Se você é contra a pedofilia e o trabalho escravo infantil, você é contra o Hamas;

- Se você é a favor da democracia e contra o antissemitismo, você é contra o Hamas;

- Enfim, se você é a favor da PAZ, você é a favor da destruição do poder militar do Hamas.

Ou seja: você é a favor de Israel.

JEAN WYLLYS ACUSA BOLSONARO E FELICIANO PELA QUEDA DO AVIÃO NA UCRÂNIA


Depois de sugerir, em sua página do Facebook, que a queda do voo MH-17 da Malaysian Airlines na Ucrânia na semana passada, matando 298 pessoas, foi motivada por homofobia, o deputado Jean Wyllis (PSOL-RJ) voltou a surpreender ao responsabilizar pela derrubada do avião os deputados Jair Bolsonaro (PP-RJ) e Marco Feliciano (PSC-SP).
 
Segundo Wyllys, Bolsonaro e Feliciano são parte de um complô internacional que derrubou com um míssil o avião quando este sobrevoava o Leste da Ucrânia. “O avião levava mais de cem holandeses que iriam participar de um congresso sobre tratamento da AIDS”, escreveu Wyllys no Facebook.
 
“Todo mundo sabe que os homofóbicos dos países conservadores não querem a cura da AIDS. Então, só pode ter sido o Bolsonaro e o Feliciano”.
 
O deputado psolista aproveitou para acusar também a Organização das Nações Unidas (ONU), que divulgou recentemente pesquisa científica segundo a qual os casos de AIDS entre gays têm aumentado no mundo, ao contrário do que ocorre entre os heterossexuais, e que os gays são, sim, um grupo de risco.
 
“Está claro que a ciência é homofóbica”, bradou Wyllys em sua página pessoal. “Não descarto a possibilidade de que a ONU também esteja envolvida nesse plano macabro. Ou os cientistas dizem o que nós do movimento LGBT queremos que digam ou são uns preconceituosos. Humpf!”.
 
Jean Wyllys negou que suas afirmações sejam uma forma de teoria da conspiração. “Teorias da conspiração são coisa da direita reacionária homofóbica”, esclareceu o ex-BBB. “Tudo o que eu digo é baseado em fontes altamente confiáveis, como o programa do Pedro Bial e o Grupo Gay da Bahia”.
 
Procurados pela reportagem, os deputados Marco Feliciano e Jair Bolsonaro não foram encontrados. Segundo informou sua assessoria, eles estão caçando na Ucrânia.
---

segunda-feira, julho 21, 2014

OS ADORADORES DA MORTE

 
Dizem que blogs são para textos curtos. Se for assim, paciência. Segue um pouco de História (para quem dá valor a FATOS, não à propaganda):

Durante muitos anos, o chamado "conflito israelo-palestino" foi travado entre dois lados - o Estado de Israel e a Organização para a Libertação da Palestina (OLP), criada em 1964 mas que tem raízes na Fatah, que hoje administra a Cisjordânia - que não se recon...
heciam nem admitiam a existência um do outro. Nem um nem outro aceitavam que o outro lado deveria existir e tudo faziam para destruir-se mutuamente.

Em 1993, finalmente Israel e a OLP se cansaram da matança sem fim e concordaram com a criação de dois Estados, um israelense e outro, palestino. Até chegarem aí, muito sangue foi derramado de parte à parte, com inúmeros atentados terroristas de organizações palestinas, seguidos de represálias israelenses etc. Israel só aceitou negociar com a OLP de Yasser Arafat depois que esta renunciou ao terrorismo e reconheceu o direito de Israel existir. Por causa desse gesto ousado e corajoso de ambos os lados, tanto Arafat quanto os líderes israelenses Yitzhak Rabin e Shimon Peres (atual presidente de Israel) ganharam (merecidamente) o Prêmio Nobel da Paz (por causa desse acordo de paz, aliás, Rabin foi assassinado por um extremista judeu, em 1995).

De lá para cá, a chamada "questão palestina", na prática (ou seja: como uma disputa pela criação do Estado palestino), deixou de existir. Hoje se resume à demarcação das fronteiras dos dois estados (concordou-se inicialmente que seriam as mesmas de antes de 1967) e à questão sobre o status de Jerusalém. O premiê israelense Benjamin Netanyahu e o líder da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas, discordam em muitos pontos, e certamente não se gostam, mas tanto um quanto o outro concordam com a solução de dois estados (e mesmo que não concordassem, há um acordo de paz entre ambas as partes, que deve ser respeitado etc.).

Acontece que de lá para cá, também, um novo ator entrou em cena: o HAMAS (Movimento de Resistência Islâmica), surgido em 1988 - mesmo ano em que a OLP abandonou o terrorismo e reconheceu Israel -, apoiado pelo Irã (que jurou varrer Israel do mapa) e derivado da Irmandade Muçulmana (a mesma organização fundamentalista islamita que foi há pouco expulsa do poder no Egito).

O que quer o Hamas? Vejamos:

1) NÃO reconhece a existência de Israel, nem os Acordos de 1993, e se recusa a participar de qualquer negociação de paz;

2) NÃO aceita renunciar ao terrorismo contra Israel (que teve de construir um muro para evitar a entrada de terroristas em seu território - medida, aliás, que atingiu seu objetivo);

3) considera a Autoridade Palestina, presidida pela Fatah,
como "traidores"e "inimigos"; e

4) tem por objetivo nada menos do que DESTRUIR ISRAEL, MATAR OS JUDEUS (está no seu Estatuto: http://www.beth-shalom.com.br/artigos/estatuto_hamas.html
), e implantar em seu lugar um Estado islâmico governado pela "sharia", a lei do Alcorão.

Pois bem. Em 2005, o então primeiro-ministro israelense Ariel Sharon (ele mesmo) ordenou a retirada de TODOS os colonos judeus que ocupavam a Faixa de Gaza desde a guerra de 1967. Fez isso de forma unilateral, sem pedir nada em troca. No ano seguinte, ocorreram eleições em Gaza, as primeiras da História na região, vencidas pelo Hamas. Em 2007, logo depois de mais uma guerra contra Israel, o Hamas se livrou de seus rivais do Fatah, passando-os (literalmente) a fio de espada. Milhares morreram - palestinos mortos por palestinos, mas pouco se falou disso à época, e quase ninguém lembra.

Desde então, a Faixa de Gaza é controlada pelo Hamas, que ali instaurou um mini-Estado islamita. O Hamas usa Gaza como cabeça de ponte para lançar ataques com mísseis contra a população de Israel (lembrem: Israel se retirou da região em 2005, logo não é uma disputa por território). Pior: faz isso usando a própria população civil palestina de Gaza como escudos humanos e incitando-a a morrer por Alá (e a ser usados como troféus - cada palestino morto por um míssil israelense é uma bênção para o Hamas - vejam aqui: http://veja.abril.com.br/blog/reinaldo/geral/chefao-do-hamas-confessa-grupo-terrorista-usa-sim-escudos-humanos-e-ainda-convoca-populacao-a-morrer/). Do mesmo modo que o Hamas envia homens-bomba em atentados terroristas, incita a população civil palestina (homens, mulheres, crianças) a se exporem aos contra-ataques israelenses, para morrerem como "mártires" e servirem como carne de canhão e instrumento na guerra de propaganda. Ou seja: o Hamas ataca civis dos dois lados: israelense e palestino.

Muito bem. Para qualquer pessoa com um mínimo de conhecimento e de boa vontade, não é difícil perceber que o HAMAS é, hoje, o MAIOR OBSTÁCULO E O MAIOR INIMIGO DA PAZ NA REGIÃO. É o principal empecilho, inclusive, ao pleno reconhecimento do Estado palestino (é isso, e não os assentamentos judeus na Cisjordânia, ou a política linha-dura de Netanyahu, o que impede a plena resolução da questão). Se ainda há guerra na região, se os dois lados não terminam de acertar os ponteiros, não é por causa de Netanyahu, nem de Shimon Peres, nem do muro na Cisjordânia, nem do Mossad: é por causa do HAMAS.

Resumindo: Israel reconheceu a solução de dois Estados, assim como a Fatah. O Hamas, não. O Hamas não quer dois estados convivendo lado a lado. Não quer a paz entre palestinos e israelenses. Pelo contrário: quer a guerra. Quer a destruição de Israel e a "extinção dos judeus" (lembra algo?).

Diante disso, uma pessoa sincera e amante da paz concordaria que qualquer solução para a região passa antes, necessariamente, pela neutralização dos loucos assassinos do Hamas, em primeiro lugar. Pela prisão e/ou morte de seus chefes e pela destruição de sua infraestrutura terrorista. Mesmo assim, o que mais se vê e se ouve, quando Israel responde aos incessantes ataques e provocações do Hamas, são críticas e condenações furibundas a... Israel (!!!!). Qualquer pessoa minimamente honesta percebe que tem algo muito errado nisso aí.

Portanto, qualquer crítica a Israel que não leve em consideração o que está escrito aí acima NÃO merece um minuto de atenção. Qualquer menção a "bombardeios ilegais" ou à "reação militar desproporcional" de Israel que não mencione o terrorismo do Hamas não vale a pena sequer ser respondida. Nem vou perder tempo retrucando o uso de palavras como "fascismo" e "genocídio" (???!!!) usadas para tentar atacar Israel. Vou considerar esse tipo de coisa uma ofensa à inteligência.

Enfim, o que me impressiona não é o cinismo canalha e o culto genocida de grupos terroristas como o Hamas. É como tanta gente dita inteligente, ilustrada e "pacifista" se deixa enganar por essa forma de propaganda calhorda, prestando-se ao papel de idiotas úteis dos adoradores da morte.

terça-feira, julho 15, 2014

A MÁSCARA DO GIGANTE

por Mario Vargas Llosa
 
Não houve nenhum milagre nos anos de Lula, e sim uma miragem que agora começa a se dissipar


Fiquei muito envergonhado com a cataclísmica derrota do Brasil frente à Alemanha na semifinal da Copa do Mundo, mas confesso que não me surpreendeu tanto. De um tempo para cá, a famosa seleção Canarinho se parecia cada vez menos com o que havia sido a mítica esquadra brasileira que deslumbrou a minha juventude, e essa impressão se confirmou para mim em suas primeiras apresentações neste campeonato mundial, onde a equipe brasileira ofereceu uma pobre figura, com esforços desesperados para não ser o que foi no passado, mas para jogar um futebol de fria eficiência, à maneira europeia.
 
Nada funcionava bem; havia algo forçado, artificial e antinatural nesse esforço, que se traduzia em um rendimento sem graça de toda a equipe, incluído o de sua estrela máxima, Neymar. Todos os jogadores pareciam sob rédeas. O velho estilo – o de um Pelé, Sócrates, Garrincha, Tostão, Zico – seduzia porque estimulava o brilho e a criatividade de cada um, e disso resultava que a equipe brasileira, além de fazer gols, brindava um espetáculo soberbo, no qual o futebol transcendia a si mesmo e se transformava em arte: coreografia, dança, circo, balé.
 
Os críticos esportivos despejaram impropérios contra Luiz Felipe Scolari, o treinador brasileiro, a quem responsabilizaram pela humilhante derrota, por ter imposto à seleção brasileira uma metodologia de jogo de conjunto que traía sua rica tradição e a privava do brilhantismo e iniciativa que antes eram inseparáveis de sua eficácia, transformando seus jogadores em meras peças de uma estratégia, quase em autômatos.

Contudo, eu acredito que a culpa de Scolari não é somente sua, mas, talvez, uma manifestação no âmbito esportivo de um fenômeno que, já há algum tempo, representa todo o Brasil: viver uma ficção que é brutalmente desmentida por uma realidade profunda.
 
Tudo nasce com o governo de Luis Inácio 'Lula' da Silva (2003-2010), que, segundo o mito universalmente aceito, deu o impulso decisivo para o desenvolvimento econômico do Brasil, despertando assim esse gigante adormecido e posicionando-o na direção das grandes potências. As formidáveis estatísticas que o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística difundia eram aceitas por toda a parte: de 49 milhões os pobres passaram a ser somente 16 milhões nesse período, e a classe média aumentou de 66 para 113 milhões. Não é de se estranhar que, com essas credenciais, Dilma Rousseff, companheira e discípula de Lula, ganhasse as eleições com tanta facilidade. Agora que quer se reeleger e a verdade sobre a condição da economia brasileira parece assumir o lugar do mito, muitos a responsabilizam pelo declínio veloz e pedem uma volta ao lulismo, o governo que semeou, com suas políticas mercantilistas e corruptas, as sementes da catástrofe.
 
A verdade é que não houve nenhum milagre naqueles anos, e sim uma miragem que só agora começa a se esvair, como ocorreu com o futebol brasileiro. Uma política populista como a que Lula praticou durante seus governos pôde produzir a ilusão de um progresso social e econômico que nada mais era do que um fugaz fogo de artifício. O endividamento que financiava os custosos programas sociais era, com frequência, uma cortina de fumaça para tráficos delituosos que levaram muitos ministros e altos funcionários daqueles anos (e dos atuais) à prisão e ao banco dos réus.
 
As alianças mercantilistas entre Governo e empresas privadas enriqueceram um bom número de funcionários públicos e empresários, mas criaram um sistema tão endiabradamente burocrático que incentivava a corrupção e foi desestimulando o investimento. Por outro lado, o Estado embarcou muitas vezes em operações faraônicas e irresponsáveis, das quais os gastos empreendidos tendo como propósito a Copa do Mundo de futebol são um formidável exemplo.
 
O governo brasileiro disse que não havia dinheiro público nos 13 bilhões que investiria na Copa do Mundo. Era mentira. O BNDES (Banco Brasileiro de Desenvolvimento Econômico e Social) financiou quase todas as empresas que receberam os contratos para obras de infraestrutura e, todas elas, subsidiavam o Partido dos Trabalhadores, atualmente no poder. (Calcula-se que para cada dólar doado tenham obtido entre 15 e 30 em contratos).
 
As obras em si constituíam um caso flagrante de delírio messiânico e fantástica irresponsabilidade. Dos 12 estádios preparados, só oito seriam necessários, segundo alertou a própria FIFA, e o planejamento foi tão tosco que a metade das reformas da infraestrutura urbana e de transportes teve de ser cancelada ou só será concluída depois do campeonato. Não é de se estranhar que o protesto popular diante de semelhante esbanjamento, motivado por razões publicitárias e eleitoreiras, levasse milhares e milhares de brasileiros às ruas e mexesse com todo o Brasil.
 
As cifras que os órgãos internacionais, como o Banco Mundial, dão na atualidade sobre o futuro imediato do país são bastante alarmantes. Para este ano, calcula-se que a economia crescerá apenas 1,5%, uma queda de meio ponto em relação aos dois últimos anos, nos quais somente roçou os 2%. As perspectivas de investimento privado são muito escassas, pela desconfiança que surgiu ante o que se acreditava ser um modelo original e resultou ser nada mais do que uma perigosa aliança de populismo com mercantilismo, e pela teia burocrática e intervencionista que asfixia a atividade empresarial e propaga as práticas mafiosas.
 
Apesar de um horizonte tão preocupante, o Estado continua crescendo de maneira imoderada – já gasta 40% do produto bruto – e multiplica os impostos ao mesmo tempo que as “correções” do mercado, o que fez com que se espalhasse a insegurança entre empresários e investidores. Apesar disso, segundo as pesquisas, Dilma Rousseff ganhará as próximas eleições de outubro, e continuará governando inspirada nas realizações e logros de Lula.
 
Se assim é, não só o povo brasileiro estará lavrando a própria ruína, e mais cedo do que tarde descobrirá que o mito sobre o qual está fundado o modelo brasileiro é uma ficção tão pouco séria como a da equipe de futebol que a Alemanha aniquilou. E descobrirá também que é muito mais difícil reconstruir um país do que destruí-lo. E que, em todos esses anos, primeiro com Lula e depois com Dilma, viveu uma mentira que seus filhos e seus netos irão pagar, quando tiverem de começar a reedificar a partir das raízes uma sociedade que aquelas políticas afundaram ainda mais no subdesenvolvimento. É verdade que o Brasil tinha sido um gigante que começava a despertar nos anos em que governou Fernando Henrique Cardoso, que pôs suas finanças em ordem, deu firmeza à sua moeda e estabeleceu as bases de uma verdadeira democracia e uma genuína economia de mercado. Mas seus sucessores, em lugar de perseverar e aprofundar aquelas reformas, as foram desnaturalizando e fazendo o país retornar às velhas práticas daninhas.
 
Não só os brasileiros foram vítimas da miragem fabricada por Lula da Silva, também o restante dos latino-americanos. Por que a política externa do Brasil em todos esses anos tem sido de cumplicidade e apoio descarado à política venezuelana do comandante Chávez e de Nicolás Maduro, e de uma vergonhosa “neutralidade” perante Cuba, negando toda forma de apoio nos organismos internacionais aos corajosos dissidentes que em ambos os países lutam por recuperar a democracia e a liberdade. Ao mesmo tempo, os governos populistas de Evo Morales na Bolívia, do comandante Ortega na Nicarágua e de Correa no Equador – as mais imperfeitas formas de governos representativos em toda a América Latina – tiveram no Brasil seu mais ativo protetor.
 
Por isso, quanto mais cedo cair a máscara desse suposto gigante no qual Lula transformou o Brasil, melhor para os brasileiros. O mito da seleção Canarinho nos fazia sonhar belos sonhos. Mas no futebol, como na política, é ruim viver sonhando, e sempre é preferível – embora seja doloroso – ater-se à verdade.
 
(Para ler no original:

quarta-feira, julho 09, 2014

A COPA DA VERGONHA

 
Sei que tem gente que vai chiar e achar que estou tripudiando, tirando onda, sendo "impatriótico", "do contra", "bem-que-eu-te-disse" etc. mas, paciência. É o preço a pagar por ter uma opinião que destoa da manada. Diante do acontecido ontem no Mineirão, não posso deixar de dizer o seguinte, que só corrobora o que venho dizendo desde que começou essa pantomima toda (e ninguém pode me chamar de estraga-festa):

A maior humilhação sofrida pelo Brasil NÃO foi
a derrota de 7 a 1 para a Alemanha. Futebolisticamente falando, foi sim um vexame sem precedentes, mas não foi essa a maior vergonha de todas. A maior humilhação, o maior vexame, a maior vergonha, o maior fiasco foi - é - a própria Copa do Mundo, um festival de corrupção e de desperdício do dinheiro público como nunca houve "na história deste país".

Acreditem, o chocolate de ontem não foi NADA, absolutamente nada, comparado aos 35 bilhões - repito: trinta e cinco bilhões - de reais jogados na latrina com a construção de estádios inúteis (só por curiosidade: para que vão servir os majestosos Arena Amazônia, Arena Pantanal e Arena das Dunas, entre outros elefantes brancos?), impostos não pagos (a FIFA não pagou um tostão de impostos na brincadeira), obras não realizadas (alguém lembra do Trem-Bala?), inacabadas e superfaturadas, para não falar das mortes de operários (foram nove ao todo) e da cagação de regras pela FIFA, que virou, no último mês, a verdadeira instância governante do Brasil.

Outra vergonha não menor foi a tentativa descarada da atual governante (sic) de usar politicamente o evento, tentando faturar eleitoralmente em cima de uma eventual vitória da seleção, coisa típica de mentes totalitárias - o que, felizmente, não poderão mais fazer. A referida já tinha tentado fazer isso, com a ajuda de um gigantesco esquema de marketing, no episódio da vaia na abertura ("coisa da elite branca" - muita gente se deixou cair nessa) e até com a contusão do Neymar. Ela estava contando com o Brasil na final para montar nos louros da equipe, do mesmo jeito que fez o regime militar com o Tri em 1970. Sendo que, naquela ocasião, a Copa era no exterior, e não havia dinheiro da viúva envolvido. Tudo isso torna a Copa uma VERGONHA sem tamanho para qualquer pessoa com um mínimo da dita-cuja na cara.

Sinto-me muito confortável para dizer isso pois, ao contrário de muitos que só agora vão perceber o tamanho do estrago, sou contra a Copa desde o começo, desde o dia em que o Brasil foi e$$$colhido pela FIFA para sediar o regabofe. Desde 2007 - e posso provar o que digo (vejam aqui: http://gustavo-livrexpressao.blogspot.com/2007/10/copa-do-mundo-para-qu.html) - não deixei de alertar para o fato de que, mesmo na hipótese improvável de a seleção brasileira vencer o campeonato, o grande perdedor seria o Brasil, a população brasileira, o contribuinte. E isso apesar de todo o oba-oba, de toda a babaquice megalomaníaca da "Copa das Copas", em que muitos embarcaram.

E não, não tenho nada a ver, nem quero ter, com os idiotas mascarados que saíram arrebentando vitrines gritando "Não vai ter Copa" etc. - estes, aliás, fazem o jogo do governo, que não por acaso mantém com eles relações que ainda estão para ser explicadas (perguntem ao Gilberto Carvalho). Para esses criminosos, todo o rigor da Lei, assim como para os larápios que tiveram a ideia de gerico de fazer uma Copa com 12 (doze!) sedes e lucraram com essa papagaiada. Creio que não preciso dizer quem eles são. Vocês sabem de quem estou falando.

Faço votos de que o fracasso futebolístico da seleção de Felipão, Fred e cia. sirva, pelo menos, para acordar o povo desse delírio ufanista em que foi atirado por um bando de quadrilheiros que se outorgou até o direito de manipular a alegria popular. O Brasil já estava derrotado no dia em que o governo (?!) decidiu transformar o país numa filial da FIFA.

Os jogadores da seleção brasileira poderão se recompor e dar a volta por cima. Haverá outras Copas etc. Já o Brasil terá de conviver com a vergonha eterna do saque do país por um bando de ladrões. Pensem nisso quando assistirem a Nacional X Princesa do Solimões na Arena Amazônia.

segunda-feira, junho 30, 2014

U.B.S.S.

 
 
Folha de S. Paulo, 16/06/2014
 
Por Luiz Felipe Pondé
 
 
União Brasileira Socialista Soviética.
.
Piada de mau gosto mesmo, também acho, mas a pena mesmo é que a discussão política entre nós seja da idade da pedra e o socialismo ainda seja levado a sério. A piada de mau gosto mesmo é que estamos à beira de um golpe de Estado invisível no Brasil.
.
O leitor e a leitora já estão a par do decreto do governo que institui a Política Nacional de Participação Social e o Sistema Nacional de Participação Social? Trata-se de decreto para aparelhar movimentos como o MST (gente que quer tomar a terra alheia), o MTST (gente que discorda da ideia de que se deve pagar pelo teto em que mora) e outros movimentos que englobam gente "sem algo" e acham que a sociedade deve dar pra eles. Esses grupos darão um golpe de Estado invisível. Tudo fruto, é claro, de setores do PT radical e os raivosos ex-PT, hoje em pequenos partidos.
.
Esse decreto é um golpe de Estado sem dizer que é. Lentamente, os setores mais totalitários do país, amantes de ditaduras do proletariado (ou bolivarianas) voltam à cena no Brasil.
.
Comitês como esses tornam os poderes da República reféns de gente que passa a vida sendo profissional militante. Quando você acordar, já era, leis serão passadas sem que você possa fazer algo porque estava ocupado ganhando a vida.
.
Pergunte a si mesmo uma coisa: você tem tempo de ficar parando a cidade todo dia, acampando em ruas todo dia, discutindo todo dia? Provavelmente não, porque tem que trabalhar, pagar contas, levar filhos na escola, no hospital, e, acima de tudo, pagar impostos que em parte vão para as mãos desses movimentos sociais que se dizem representantes da "sociedade".
.
Mas a verdade é que a maioria esmagadora de nós, a "sociedade", não pode participar desses comitês porque não é profissional da revolução. Tais movimentos que se dizem sociais, que afirmam que as ruas são deles, mentem sobre representarem a sociedade. Mesmo greves como a do metrô, capitaneada por uma filial do PSTU, não visa apenas aumentar salários. Visa instaurar a desordem para que o Brasil vire o que eles acham que o Brasil deve ser.
.
Afinal, de onde vem a grana que sustenta essa moçada dos movimentos sociais? A dos sindicatos, sabemos, vem dos salários que são obrigatoriamente onerados para que quem trabalha sustente os profissionais dos sindicatos.
.
Mas, até aí, estamos na legalidade de alguma forma. Mas e os "sem-Macs" ou "sem-iPhones", vivem do quê? Quando os vemos na rua, não parecem estar passando fome e frio como dizem que estão. Essa gente é motivada e sustentada de alguma forma. Por que não se exige entrar nas contas do MST e MTST e descobrir de onde vem a grana deles? Quem banca toda essa estrutura militante?
.
Temo, caro leitor e cara leitora, que sejamos nós, os mesmos que eles consideram inimigos, a menos que concordemos com eles. Uma das grandes mentiras desses movimentos sociais é dizer que combatem a "elite econômica", que, aliás, em dia de greve, fica em casa porque não precisa de fato se virar pra ir trabalhar.
.
Quem sofre com esses movimentos que arrebentam o cotidiano é gente que perde o emprego, perde o negócio, perde a vida se fica parada no trânsito ou na fila. É gente que, quando muito, anda de carro 1.0, não gente que anda de helicóptero. É diarista, empregada doméstica, porteiro de prédio, professor, estudante sem grana e que tem que pagar a faculdade, não riquinhos da zona oeste paulistana que fazem sociais para infernizar a vida dos colegas.
.
É médico que tem três empregos, é dona de casa que cuida de filhos e trabalha fora, é trabalhador da construção civil, é gente "mortal", comum, que não pode se defender dos caras que fecham a cidade dizendo que fazem isso em nome do "povo". Os movimentos sociais têm demonstrado seu caráter autoritário. Pensam que as ruas são o quintal de seus comitês, que aparelharão os poderes da República.
.
Se não bastasse isso tudo, vem aí o controle social da mídia. Dizer que será apenas para evitar monopólios é achar que somos idiotas.

Veja o que aconteceu na Argentina.
.
Luiz Felipe Pondé, pernambucano, filósofo, escritor e ensaísta, doutor pela USP, pós-doutorado em epistemologia pela Universidade de Tel Aviv, professor da PUC-SP e da Faap, discute temas como comportamento contemporâneo, religião, niilismo, ciência. Autor de vários títulos, entre eles, 'Contra um mundo melhor'.http://www1.folha.uol.com.br/colunas/luizfelipeponde/2014/06/1470848-ubss.shtml

terça-feira, maio 13, 2014

Para quitar dívida da Copa, governo irá vender cidades-sede para a FIFA

 
O governo Dilma Rousseff decidiu tomar uma medida drástica para saldar o rombo de bilhões de reais nos cofres públicos devido à construção dos doze estádios para a Copa do Mundo: vender as cidades-sede para a FIFA.
 
A decisão sem precedentes foi anunciada no dia 16 pelo ministro dos Esportes, Aldo Rebelo, ao lado do presidente da FIFA, Joseph Blatter. “Estamos certos de que, em nome do espetáculo, a população irá entender essa medida”, afirmou o ministro. E explicou: “As doze capitais serão entregues por contrato à FIFA, que recolherá os impostos municipais e ficará encarregada dos serviços públicos essenciais, como segurança, transportes, saúde e educação, por um prazo mínimo de 99 anos, prorrogável caso seja necessário”. Completou: “Tenho certeza de que as cidades terão serviços Padrão FIFA!”.
 
Rebelo chegou a irritar-se com um jornalista que perguntou se a entrega das cidades à FIFA seria privatização, afirmando que se trata, na verdade, de uma “concessão”. “Privatização é o que o governo FHC e os tucanos fazem. Nós concedemos, como nos aeroportos”, declarou, em tom enfático.
 
Indagado sobre o que será feito a partir de agora dos prefeitos das cidades, que ficarão sem emprego, o ministro mostrou-se evasivo: “Estamos estudando algumas possibilidades. Talvez possamos aproveitá-los como gandulas nos jogos da seleção”.
 
Outra pergunta foi sobre o que seria feito depois da Copa com estádios monumentais como os de Fortaleza, Natal, Cuiabá, Brasília e Manaus: “Estamos pensando em usá-los para os jogos da Champions`League”, respondeu Joseph Blatter, acrescentando que os times de futebol locais farão parte da competição. “Certamente equipes de primeiro nível como Icasa, Alecrim, Brasiliense e São Raimundo irão encher os estádios com jogos de altíssima qualidade técnica”.
 
Garoto-propaganda da Copa, o ex-jogador Ronaldo Fenômeno elogiou a iniciativa. “Não se faz Copa do Mundo com prefeituras”, declarou. O rei Pelé também enalteceu a medida: “Morrer operário em construção de estádio é algo normal, Copa do Mundo é só de quatro em quatro anos”, entusiasmou-se. E arrematou: “Pra frente Brasil!”
 
Do blog do Joselito Müller.

terça-feira, abril 08, 2014

RELEMBRANDO OS ANOS DE CHUMBO...


Mortos pela esquerda cometeram suicídio, diz Dilma
 
Em solenidade oficial alusiva aos 50 anos do golpe que derrubou o governo João Goulart, no dia 31, a presidenta Dilma Rousseff decretou medida provisória que declara os cerca de 120 mortos pelos grupos de luta armada de esquerda nos anos 60 e 70 oficialmente mortos por suicídio.
 
“Todos sabem que jamais matamos ninguém, é tudo propaganda dessa mídia burguesa capitalista imperialista golpista”, afirmou a presidenta. “Com exceção dos nossos companheiros, os que morreram, morreram porque quiseram. Somos humanistas”, acrescentou. Afirmou, ainda, que todos os documentos das organizações armadas de esquerda do período serão reescritos. “Onde se lê ‘socialismo’e ‘ditadura do proletariado’, as pessoas vão ler “democracia’ e ‘liberdade’. Essa é a História verdadeira e ponto final”.
 
O texto enviado ao Congresso proíbe usar as palavras “subversivo” e “terrorista” em livros de História. Termos como “assalto a banco”, “sequestro”, “atentado à bomba” e “assassinato” também estão de agora em diante proibidos. Além disso, o texto determina a substituição dos nomes das organizações guerrilheiras. Vanguarda Armada Revolucionária, por exemplo, passa a ser Vanguarda Amorosa Risonha.
 
No momento de maior emoção da cerimônia, ocorrida no Palácio do Planalto, a Presidenta insistiu que tortura é um crime horrível e que torturadores devem ser exemplarmente punidos, defendendo a revisão da Lei de Anistia. “Quem torturou deve ser pendurado no pau de arara e receber choques elétricos nos testículos até confessar”, declarou.
 
A presidenta anunciou ainda a intenção de rebatizar o prédio do Quartel-General do Exército como “Palácio Carlos Lamarca”: “É uma justa homenagem ao heróico capitão guerrilheiro, assassinado em 1971 pela ditadura militar porque queria transformar o Brasil numa democracia exemplar onde se respeitam os direitos humanos, como Cuba e a Coréia do Norte”, explicou.
 
Ao final do evento, referindo-se aos trabalhos da Comissão da Verdade, criada em 2011 para investigar crimes contra os direitos humanos entre 1946 e 1988 no Brasil, a presidenta bradou, com o punho erguido e a voz embargada: “Ditadura nunca mais! Pelo direito à memória e à verdade”. E foi aplaudida.
---
P.S.: Às vezes só o riso nos salva.

segunda-feira, março 31, 2014

1964: 50 ANOS DEPOIS - O QUE ELES DISSERAM


Hoje faz 50 anos do golpe/revolucão/contragolpe/contra-revolução de 1964. Como de hábito, vamos cansar de ler na imprensa artigos enaltecendo o governo democrático de João Goulart e demonizando os militares (e civis) que o depuseram por pura maldade etc.  Pensei em escrever um longo texto rebatendo essa visão maniqueísta da História, mas lembrei que já fiz isso há exatos cinco anos (ver aqui: http://gustavo-livrexpressao.blogspot.com/2009/03/falacias-sobre-1964.html). Vou, portanto, me limitar a transcrever o que alguns personagens daquele período disseram a respeito.
 
Tancredo Neves, sobre o governo João Goulart:
 
Seu governo vinha cedendo às pressões populistas, e o seu programa de reformas era aproveitado para as agitações de todos os tipos. Nos campos e nas cidades, a exacerbação dos espíritos na luta ideológica criava os mais graves problemas ao presidente e a seus ministros no tocante à manutenção da ordem.
 
A rebelião dos marinheiros marcou o ápice dessa crise. Procuramos então o presidente e juntos analisamos a delicada conjuntura. Ele me pediu sugestões, e eu lhas dei: a expulsão dos marinheiros rebelados dos quadros da Marinha e a consequente abertura de inquérito para apurar e definir responsabilidades; a extinção do PUA – Pacto de Unidade Sindical, uma articulação sindical – e dos Grupos dos 11 de Brizola. E o provimento efetivo do Ministério da Guerra por um general de Exército que inspirasse as Forças Armadas [...].
 
O presidente recusou as minhas sugestões, achando que, se as adotasse, estaria se despojando de parcelas consideráveis de sua autoridade. Discutimos e não chegamos a nenhum acordo.
Nesse dia fiquei sabendo que o presidente João Goulart iria receber uma homenagem dos sargentos. Considerei o fato da maior gravidade e fiz tudo pra frustrar essa solenidade, sem nada ter conseguido. (1) 
Trecho da biografia do líder comunista Carlos Mariguella, escrita pelo jornalista Mário Magalhães:
Prestes não desconhecia intenções golpistas de Jango. Sobrinho de Miguel Arraes, governador de Pernambuco, Humberto de Alencar escreveu ao tio em 22 de fevereiro, narrando diálogo com Giocondo Dias: “[Os comunistas] acham que JG [João Goulart] continua com o plano do golpe e que isso deve, de agora por diante, entrar nas nossas análises”. Na noite de 13 de março, Arraes se despediu do jornalista Janio de Freitas com um prognóstico:
“Ou vem um golpe da direita ou um do Jango.”
 
O dirigente pecebista Jacob Gorender criticaria Prestes, em 1966: “O elemento golpista se manifestou através do apoio aos planos continuístas do presidente”. (2) 
Ainda Jacob Gorender, membro do Comitê Central do antigo Partido Comunista Brasileiro (PCB):
Tornou-se corrente na literatura acadêmica a assertiva de que, no pré-64, inexistiu verdadeira ameaça à classe dominante brasileira e ao imperialismo. Os golpistas teriam usado a ameaça apenas aparente como pretexto a fim de implantar um governo forte e modernizador.

A meu ver, trata-se de conclusão positivista superficial derivada de visão estática das coisas. Segundo penso, o período 1960-1964 marca o ponto mais alto das lutas dos trabalhadores brasileiros neste século, até agora. O auge da luta de classes, em que se pôs em xeque a estabilidade institucional da ordem burguesa sob os aspectos do direito de propriedade e da força coercitiva do Estado. Nos primeiros meses de 1964, esboçou-se uma situação pré-revolucionária e o golpe direitista se definiu, por isso mesmo, pelo caráter contra-revolucionário preventivo. A classe dominante e o imperialismo tinham sobradas razões para agir antes que o caldo entornasse. (3) 

José Stacchini, ex-militante comunista:

[...] Goulart queria uma ditadurazinha para uso próprio, supondo que ia subir montado nas costas dos sindicatos. Porém êstes, ainda a UNE, parlamentares "nacionalistas" e outras correntes do gênero, trabalhavam mesmo num outro sentido. Esperavam o momento em que Jango montasse: dariam então uma corcoveada e, com ajuda estrangeira, instalariam aqui um paraíso no melhor estilo cubano. (4)
Notas:
(1) MORENO, Jorge Bastos, A história de Mora: a saga de Ulysses Guimarães, Rio de Janeiro: Rocco, 2013, pp. 69-70.
(2) MAGALHÃES, Mario, Mariguella: o guerrilheiro que incendiou o mundo, São Paulo: Companhia das Letras, 2012, p. 292.
(3) GORENDER, Jacob, Combate nas trevas, 5a edição, São Paulo: Ática, 1998, pp. 72-73.
(4) STACCHINI, José, Março de 1964: mobilização da audácia, Rio de Janeiro: Companhia Editora Nacional, 1965, p. 38.

quarta-feira, março 19, 2014

NON È VERO MA È BEN TROVATO

 
Governo proíbe filme “Doze Anos de Escravidão” em cidades com “Mais Médicos”

A presidente Dilma Rousseff baixou hoje, dia 17, decreto que proíbe a exibição do filme “Doze Anos de Escravidão” em todos os municípios incluídos no programa “Mais Médicos”. A medida, segundo Nota da secretaria de imprensa da Presidência da República, visa “impedir que os médicos cubanos que participam do programa se identifiquem com o personagem central do filme, e se sintam assim estimulados a abandonar seus postos e a pedir asilo político”.

“Doze Anos de Escravidão”, que ganhou o Oscar de melhor filme 2014, conta a história real de um homem negro nos EUA do século XIX que, nascido livre, foi enganado e vendido como escravo para fazendas do Sul do país, antes da abolição da escravidão.

A nota do governo aproveita ainda para desmentir o boato que circulou recentemente, segundo o qual, diante dos vários casos de médicos importados de Cuba que desertaram, os cubanos integrados no programa seriam obrigados a usar tornozeleiras eletrônicas. Na verdade, explica a nota, “em vez de tornozeleiras, os médicos cubanos usarão chips de localização colocados debaixo da pele e monitorados por satélite. Assim não poderão escapar”, esclarece.

Direto de Havana, o líder eterno de Cuba, Fidel Castro, elogiou a iniciativa do governo brasileiro, e anunciou que já decidiu copiá-la na ilha de sua propriedade. “Cuba e Brasil estão cada vez mais parecidos”, afirmou o octogenário comandante, que aproveitou para agradecer à presidente Dilma Rousseff pelos milhões investidos pelo BNDES no Porto de Mariel. “Agora eu quero um aeroporto novinho em folha”, acrescentou.

Procuradas pela reportagem, as organizações de direitos humanos não se pronunciaram sobre o caso.
 
---
Tecla SAP: Esta mandei pro site do meu amigo Joselito Müller (http://joselitomuller.wordpress.com/2014/03/17/governo-proibe-filme-doze-anos-de-escravidao-em-cidades-com-mais-medicos/). Como esperado, está causando a maior confusão, o que torna a coisa ainda mais engraçada. Acho que vou enveredar pelo ramo do humor. É o unico jeito de ler as notícias no Brasil de hoje sem ter um ataque de apoplexia ou morrer de raiva. Além do mais, como dizia Cícero, ridare castigat mores.
.
Riam à vontade. Ainda é permitido. Ainda.

terça-feira, março 18, 2014

O VÍRUS ESQUERDISTA


O que vai a seguir não é uma notícia, é uma sátira. Mas bem que poderia ser real. Aliás, não está assim tão longe da realidade. Leiam.
---
Descoberto o vírus do esquerdismo
 
Cientistas britânicos divulgaram hoje, dia 18, uma descoberta que promete revolucionar a ciência. Segundo comunidado oficial da Universidade Johnny Walker de Oxfordcambridgeshire, no Reino Unido, a explicação para tantas pessoas se deixarem levar pelo discurso e pela ideologia de esquerda é física. Mais especificamente, um vírus.
 
O micro-organismo, batizado de Mariadorosarius esquerdopaticus, atinge diretamente as áreas do cérebro responsáveis pelo humor, inteligência e honestidade, destruindo-as completamente. "Depois de décadas de experiências com milhares de pessoas, concluímos que o que leva pessoas aparentemente normais a serem de esquerda, sobretudo comunistas ou socialistas, é um vírus terrível", informou por nota a equipe de cientistas, liderada pelo microbiólogo ganhador do Nobel Sir Anthony Hannibal Lecter Hopkins.
 
"Não sabemos o que pode causar essa infecção, mas desconfiamos que ela seja transmitida via oral, e que sua origem esteja em universidades localizadas ao Sul do Equador, provavelmente no Brasil, onde impera há décadas a promiscuidade ideológica mais absoluta", afirmou a nota dos cientistas. Os principais atingidos pelo vírus seriam jovens estudantes de classe média e alta, entre 15 e 30 anos, geralmente brancos e com complexo de culpa, sustentados pelos pais e que se alimentam de toddynho e sucrilhos. 
 
A nota explica que o vírus age inicialmente sobre o lobo parietal direito, onde está localizado o humor: "As pessoas atingidas perdem qualquer senso de humor, tornando-se incapazes de entender uma piada. Com isso, tornam-se histéricas e paranoicas, considerando-se injustiçadas e perseguidas pelo  'sistema', culpando o 'capitalismo', o 'imperialismo', os tucanos e o Olavo de Carvalho pelos próprios problemas e por todos os problemas da humanidade. Isso se deve ao fato de que estão imbuídas de uma missão messiânica, e assim passam a se levar a sério, sentindo-se acima dos demais mortais, agindo de forma intolerante e patrulheira", esclareceu a nota. 
 
A mesma área cerebral que regula o humor também é responsável pela capacidade cognitiva. "Os afetados pelo vírus não distinguem mais entre sátira, ironia e mentira. Chegam a babar de ódio quando veem na Internet uma piada a respeito deles. Há casos, inclusive, de ministros de Estado que ameaçaram com processo judicial blogueiros por causa de uma sátira política de que não gostaram". Além disso, continua a nota, "perdem totalmente a capacidade de articular um pensamento racional por conta própria e passam a se comunicar somente por chavões e slogans, vivendo num mundo à parte, sem qualquer relação com o mundo real, tornando-se verdadeiros zumbis". 
 
A memória também é seriamente danificada: "como os afetados não distinguem mais entre realidade e ficção, tampouco são capazes de recordar o que disseram ou fizeram em anos recentes, e tratam de reescrever a todo custo a História, omitindo eventuais erros e crimes por eles cometidos, e chamam a isso de verdade".   
 
O mais grave, porém, afirmam os cientistas, é que o vírus, ao destruir o humor e a inteligência, afeta também a área do cérebro que lida com a honestidade: "Concluímos que os atingidos por essa enfermidade são afetados também na capacidade de fazer juízos morais, adotando atitudes do tipo dois pesos e duas medidas sempre que lhes é conveniente".
 
Os pesquisadores deram como exemplos gritantes da falta de noção moral o fato de que os afetados pelo vírus "falam em democracia e em direitos humanos, mas não sentem nenhum pudor em defender ditaduras totalitárias como as de Cuba e Coréia do Norte. Inclusive, em casos mais avançados da doença, militantes LGBT enxergam homofobia até em suicídios no Brasil, mas não veem problema algum em gays serem enforcados no Irã. E não sentem nenhuma vergonha por isso, o que é típico de psicopatas". Ainda segundo o comunicado: "Parece difícil de acreditar, mas há casos registrados de esquerdofrênicos que acreditam, piamente, que socialismo e liberdade são coisas possíveis de se conciliar, e fundam até partidos com esse nome".
 
Nos casos mais extremos, o vírus influi diretamente nas glândulas sebáceas, principalmente de feministas que deixam de raspar as axilas e as pernas como "protesto". Seu efeito mais devastador, porém, é o de distorcer qualquer noção de realidade, levando algumas pessoas a sofrerem crises de identidade, adicionando, por exemplo, Guarani-Kaiowá a seu sobrenome. Outra prova da enfermidade é o fato de passarem a falar sem parar em "justiça social", "proletariado" (ou "classe operária"),  "burguesia" etc. e a se tratarem entre si como "companheiro" e "companheira" (ou, nos casos mais patológicos, "camaradas").
 
"Infelizmente, até agora não há cura para essa doença, a não ser sessões diárias de leituras não-marxistas para deslavagem cerebral, o que leva tempo. Se a cura não é alcançada até os 40 anos, é porque o cérebro está irremediavelmente perdido. Aí, só com eletrochoque e remédio tarja-preta", concluiu a nota. 
 
Até o momento, o Ministério da Saúde não se pronunciou a respeito do assunto.

sexta-feira, março 14, 2014

SOCIALISMO É BARBÁRIE


Socialismo é barbárie - LUIZ FELIPE PONDÉ
FOLHA DE SP - 24/02

A esquerda está em pânico porque estava acostumada a dominar o debate público


Se eu pregar que todos que discordam de mim devem morrer ou ficarem trancados em casa com medo, eu sou um genocida que usa o nome da política como desculpa para genocídio. No século 20, a maioria dos assassinos em massa fez isso.

O Brasil, sim, precisa de política. Não se resolve o drama que estamos vivendo com polícia apenas. Mas me desespera ver que estamos na pré-história discutindo ideias do "século passado". Tem gente que ainda relaciona "socialismo e liberdade", como se a experiência histórica não provasse o contrário. Parece papo das assembleias da PUC do passado, manipuladoras e autoritárias, como sempre.

O ditador socialista Maduro está espancando gente contra o socialismo nas ruas da Venezuela. Ele pode? Alguns setores do pensamento político brasileiro são mesmo atrasados, e querem que pensemos que a esquerda representa a liberdade. Mentira.

A maioria de nós, pelo menos quem é responsável pelo seu sustento e da sua família, não concorda com o socialismo autoritário que a "nova" esquerda atual quer impor ao país. A esquerda é totalitária. Quer nos convencer que não, mas mente. Basta ver como reage ao encontrar gente inteligente que não tem medo dela.

Ninguém precisa da esquerda para fazer uma sociedade ser menos terrível, basta que os políticos sejam menos corruptos (os da esquerda quase todos foram e são), que técnicos competentes cuidem da gestão pública e que a economia seja deixada em paz, porque nós somos a economia, cada vez que saímos de casa para gerar nosso sustento.

Ela, a esquerda, constrói para si a imagem de "humanista", de superioridade moral, e de que quem discorda dela o faz porque é mau. Ela está em pânico porque estava acostumada a dominar o debate público tido como "inteligente" e agora está sendo obrigada a conviver com gente tão preparada quanto ela (ou mais), que leu tanto quanto ela, que escreve tanto quanto ela, que conhece seus cacoetes intelectuais, e sua história assassina e autoritária.

Professores pautados por esta mentira filosófica chamada socialismo mentem para os alunos sobre história e perseguem colegas, fechando o mercado de trabalho, se definindo como os arautos da justiça, do bem e do belo.

A esquerda nunca entendeu de gente real, mas facilmente ganha os mais fragilizados com seu discurso mentiroso e sedutor, afirmando que, sim, a vida pode ser garantida e que, sim, a sobrevivência virá facilmente se você crer em seus ideólogos defensores da "violência criadora".

Ela sempre foi especialista em tornar as pessoas dependentes, ressentidas, iludidas e incapazes de cuidar da sua própria vida. Ela ama a preguiça, a inveja e a censura.

Recomendo a leitura do best-seller mundial, recém publicado no Brasil pela editora Agir, "O Livro Politicamente Incorreto da Esquerda e do Socialismo", escrito pelo professor Kevin D. Williamson, do King's College, de Nova York. Esta pérola que desmente todas as "virtudes" que muita gente atrasada ou mal-intencionada no Brasil está tentando nos fazer acreditar mostra detalhes de como o socialismo impregnou sociedades como a americana, degradou o meio ambiente, é militarista (Fidel, Chávez, Maduro), e não deu certo nem na Suécia. O socialismo é um "truque" de gente mau-caráter.

As pessoas, sim, estão insatisfeitas com o modo como a vida pública no Brasil tem sido maltratada. Mas isso não faz delas seguidores de intelectuais e artistas chiques da zona oeste de São Paulo ou da zona sul do Rio de Janeiro.

A tragédia política no Brasil está inclusive no fato de que inexistem opções partidárias que não sejam fisiológicas ou autoritárias do espectro socialista. Nas próximas eleições teremos poucas esperanças contra a desilusão geral do país.

E grande parte da intelligentsia que deveria dar essas opções está cooptada pela falácia socialista, levando o país à beira de uma virada para a pré-história política, fingindo que são vanguarda política. O socialismo é tão pré-histórico quanto a escravatura.

Mas a esquerda não detém mais o monopólio do pensamento público no Brasil. Não temos mais medo dela.