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sábado, março 09, 2013

10 MOTIVOS POR QUE HUGO CHÁVEZ NÃO VAI DEIXAR SAUDADES

Não sou do tipo que se regozija com a morte de alguém. Esta sempre nos diminui, diz a sabedoria convencional. No entanto, é forçoso admitir que, em alguns casos - ditadores, por exemplo -, o desaparecimento físico de um indivíduo constitui, senão uma solução, pelo menos um alívio, uma libertação.

Hugo Chávez, o ditador in the making da Venezuela, encaixa-se perfeitamente nesse figurino. Falecido após longa doença no dia 5 de março - mesma data do 60. aniversário da morte de Josef Stálin, talvez o tipo perfeito de ditador -, Chávez não vai deixar saudades, a não ser para sua corriola.

Assim como Stálin, ele foi pranteado por milhões de admiradores, dentro e fora de seu país. Seu funeral, que se arrastou durante a semana, foi seu último gesto teatral, um espetáculo grotesco de necrofilia digno de Evita Perón, Khomeini e Kim Jong il. E, assim como nesses casos, há razões de sobra para não derramar uma lágrima por ele. Vejamos dez dessas razões:
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1 - Destruição da democracia - Chávez apareceu pela primeira vez para o mundo como o chefe militar de uma tentativa fracassada (e sangrenta) de golpe, em 1992, contra o governo constitucional do desacreditado Carlos Andrés Pérez. Preso, passou somente dois anos na cadeia, lançando-se então candidato a presidente. Nesse meio tempo, passou a cortejar a opinião pública, enquanto buscava o conselho político do tirano cubano Fidel Castro (a quem considerava seu mentor) e de uma figura hoje esquecida, o sociólogo argentino Norberto Ceresole, um personagem sinistro, defensor de idéias claramente neonazistas e antissemitas.

Chávez e Norberto Ceresole: o chefe da "revolução bolivariana" e seu guru
 
Munido da ambição de Castro e das teorias racistas e totalitárias de Ceresole, e
amparado num eficiente esquema de marketing político, Chávez conseguiu eleger-se em 1998, apresentando-se como um moderado. Uma vez no poder, rasgou suas promessas de campanha e pôs em ação seu projeto totalitário, à semelhança de Fidel. Em pouco tempo, impôs sua própria Constituição, interveio no Judiciário nomeando juízes dóceis e acabou com a independência dos Poderes, garantindo, por meio de referendos (como Hitler fez), uma permanência de 14 anos no poder, chamando a isso de "democracia participativa e protagônica".
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Não satisfeito com isso, o coronel tratou de dar sua própria interpretação casuística do texto constitucional sempre que os fatos teimavam em não se adaptar a seu esquema bolivariano, descumprindo a própria Constituição quando lhe convinha - a última vez que isso ocorreu foi em janeiro, quando, doente terminal em Cuba, conseguiu que fosse empossado ilegalmente na presidência o vice Nicolás Maduro, agora confirmado no cargo, novamente de forma ilegal (segundo a Constituição, em caso de morte ou ausência do titular, deve assumir a presidência da República o presidente da Assembléia Nacional, Diosdado Cabello).
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O candidato Chávez em 1998: e ele se dizia um democrata...

2 - Populismo desenfreado - Como todo tiranete que se preze, Chávez adotou o populismo com gosto, passando a adular as massas, sobretudo os mais pobres, ignorados por sucessivos governos oligárquicos. Desse modo, usou e abusou dos recursos públicos, garantidos pela renda do petróleo, para financiar projetos assistencialistas, as chamadas misiones, transformadas no carro-chefe de seu governo demagógico e paternalista (e que muitos vêem como seu "legado positivo").
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Como não poderia deixar de ser, as misiones transformaram-se num instrumento de controle político, criando uma grande rede de clientelismo e servindo para forjar uma legião de estadodependentes, que compõem, juntamente com os burocratas estatais e do PSUV (Partido Socialista Unificado da Venezuela, um nome copiado do partido criado por Fidel Castro em Cuba nos anos 60), o grosso da militância chavista. Esta, tornada dependente e infantilizada pelas benesses estatais, hoje chora a morte de seu "paizinho". 
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Nada disso, porém, adiantou muito: passados 14 anos de chavismo, os níveis de pobreza praticamente não mudaram, e 60% da população venezuelana continua pobre. Antes de Chávez, havia pobreza e democracia. Hoje, há pobreza e populismo. A política social foi talvez o maior fracasso do governo Chávez.
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3 - Desperdício de recursos públicos - O populismo não existe sem gastança, e nisso Chávez foi pródigo. Em seu governo, a gigantesca estatal de petróleo do país, a PDVSA, mandou às favas qualquer noção de meritocracia e virou um grande cabide de emprego para a militância, que se entregou gostosamente à tarefa de saquear o Erário. Recursos que deveriam ter sido investidos em tecnologia e produção foram desviados para financiar as misiones assistencialistas ou foram parar no bolso da companheirada. O resultado foi que o país aumentou sua dependência da exportação do petróleo, deixando de investir na diversificação da economia, o que gerou escassez e inflação (hoje, 80% dos alimentos consumidos no país são importados). Chávez também desperdiçou recursos para alimentar sua megalomania, gastando milhões em armas, iniciando uma corrida armamentista na América do Sul. Também desperdiçou recursos de outros países, como no caso da refinaria de petróleo Abreu e Lima, em Pernambuco, que já custou milhões aos cofres públicos brasileiros e que até agora não saiu do papel (não, presidenta Dilma, ele não era um "amigo do Brasil"...).   
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4 - Ataques à liberdade de expressão - Talvez a principal marca registrada de Chávez tenha sido os constantes atentados à liberdade de imprensa, que ele rotulava como "aliada das oligarquias". Chávez foi o presidente que fechou a emissora de rádio e TV mais antiga em funcionamento da América Latina, a RCTV, fundada em 1953. Perseguiu jornalistas, muitas vezes utilizando-se de subterfúgios, como acusá-los judicialmente de calúnia e de evasão fiscal, levando à prisão de vários e ao exílio de tantos outros. Embora a imprensa seja, ainda, teoricamente livre na Venezuela, seu espaço de atuação tem sido cada vez mais reduzido. Diariamente, militantes chavistas acossam jornalistas de oposição, e uma deputada chavista já chegou a invadir ao vivo uma emissão de TV para agredir um apresentador. Além disso, Chávez criou sua própria rede de TV, a Telesul, dedicada 24 horas a louvar seu governo e a fazer propaganda antiamericana. Outros políticos da região, como a argentina Cristina Kirchner e o equatoriano Rafael Correa, seguem na mesma direção. Deve ser por isso que Chávez angariou tantos simpatizantes também no Brasil, onde o governo Lula e o PT tudo fizeram para calar a imprensa não-alinhada - só não conseguiram porque o Brasil felizmente (ainda) não é a Venezuela.
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Milicianos chavistas: qualquer semelhança com o fascismo não é mera coincidência...

5 - Violência contra opositores - Em um regime como o chavista não poderia faltar o elemento da violência contra os que discordam do governo. Com a diferença de que, nesse aspecto, o chavismo resolveu inovar. Em vez de fuzilamentos, como em Cuba, Chávez preferiu terceirizar a repressão, entregando-a a milícias armadas pelo regime, inspiradas nos CDRs (Comitês de Defesa da Revolução) cubanos. Essas milícias, ou "círculos bolivarianos" intensificaram sua ação principalmente após o controverso "golpe" de abril de 2002, no qual Chávez foi temporariamente afastado (ou renunciou, até hoje não se sabe) depois do massacre de 15 manifestantes oposicionistas que participavam de uma marcha contra Chávez em Caracas. Desde então, a intimidação dos adversários políticos do chavismo, de forma ostensiva, tem sido comum na Venezuela, assim como começa a virar lugar-comum em outros países da região.

6 - Aumento do crime e da corrupção - Resultante diretamente dos fatores acima, o crime e a corrupção tornaram-se fora de controle na Venezuela do coronel Chávez.  Hoje, o país é o mais violento da América do Sul, com uma taxa de homicídios per capita superior a qualquer outro da região. Mais que isso, a Venezuela tornou-se, sob o chavismo, um paraíso do tráfico de drogas, convertendo-se num importante corredor de escoamento da cocaína proveniente da Colômbia para os EUA e a Europa. A isso soma-se a corrupção generalizada nos altos escalões governamentais, com o surgimento de uma burguesia bolivariana, tão entusiasta do "socialismo do século XXI" quanto rapace: nos últimos anos, a Venezuela tornou-se um dos maiores mercados consumidores mundiais de carros de luxo e de uísque, e a "revolução bolivariana" passou a ser conhecida popularmente como robolución. Sob Chávez, a Venezuela deixou de ser uma democracia corrompida para se tornar uma proto-ditadura corrupta.

7 - Apoio ao narcoterrismo - Se o regime chavista fosse somente corrupto e leniente com a violência, já seria um escândalo de grandes proporções. Mas Chávez foi além, e transformou a Venezuela num valhacouto de narcotraficantes e terroristas, apoiando abertamente as FARC colombianas, a quem classificou como uma "força beligerante". Em 2004, o "chanceler" das FARC, Rodrigo Granda, foi capturado em pleno centro de Caracas, onde vivia tranquilamente sem ser importunado pelo governo local, e entregue às autoridades colombianas. Chávez, em vez de reconhecer o absurdo de um chefe terrorista abrigado em seu país, ameaçou uma guerra com a Colômbia, ameaça que repetiu em 2008, quando Bogotá matou numa operação de guerra o número dois das FARC, Raúl Reyes, em cujo laptop foram encontradas provas incriminadoras das ligações dos narcoterroristas colombianos com o governo venezuelano (e também brasileiro, o que foi abafado). Pouco depois, descobriu-se que as FARC mantêm campos de treinamento em território venezuelano, e caixas de mísseis anti-tanque AT-4 pertencentes ao exército da Venezuela foram descobertas nos arsenais dos terroristas colombianos. A cada denúncia, Chávez respondeu sempre da mesma maneira: com ameaças de guerra e declarações de apoio às FARC. Foi também no seu governo que se descobriram planos do ETA basco juntamente com militantes chavistas de  assassinar membros do governo espanhol, denúncia esta que, uma vez feita, simplesmente sumiu do noticiário.    
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8 - Aliança com ditadores - O chavismo jamais escondeu suas ambições continentais e mesmo extra-continentais. Como todo regime autoritário e megalômano, sentiu-se atraído por regimes semelhantes, com os quais forjou, graças à ideologia antiamericana comum e aos dólares abundantes do petróleo, sólidas alianças. Entre as tiranias com as quais Chávez se aliou, está a de Cuba, cuja ditadura comunista sobrevive hoje à base dos 100 mil barris de petróleo diários e dos seis bilhões de dólares de ajuda anuais fornecidos pela Venezuela, que substituiu a finada URSS como principal lastro do falido regime cubano. Juntamente com os Castro e com outros governos afins da América Latina (Equador, Bolívia, Nicarágua etc.), Chávez criou uma organização, a ALBA (Aliança Bolivariana das Américas) para confrontar os EUA (seu antiamericanismo, porém, não o impediu de continuar a abastecer o Tio Sam com 15% do petróleo que os americanos importam). 

Outros regimes tirânicos que contaram ou contam com o apoio camarada de Caracas são o do finado ditador líbio Muamar Kadafi, a ditadura teocrática iraniana do antissemita, patrocinador do terrorismo, negador do Holocausto e louco nuclear Mahmoud Ahmadinejad, o regime assassino sírio de Bashar al-Assad e a Bielorússia do último ditador da Europa, Alexander Lukashenko. Todos eles (com a exceção, claro, de Kadafi) mandaram representantes, ou estiveram presentes, bastante emocionados, nas exéquias do coronel em Caracas. Chávez também assinou acordos militares e buscou uma aliança estratégica com a Rússia de Vladimir Putin e com a China dos burocratas comunistas, novamente com o objetivo de enfrentar o "imperialismo ianque". 
O mestre e o pupilo
 
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9 - Ingerência nos assuntos internos de outros países - A proto-ditadura chavista não se contentou em restringir-se a suas próprias fronteiras. Obcecado por Simón Bolívar, o "libertador das Américas", Chávez quis ser ele próprio o Bolívar do século XXI, esquecendo-se, porém, de que Bolívar lutou para libertar as colônias sul-americanas do jugo espanhol, enquanto ele, Chávez, tratou de intervir descaradamente em vários Estados soberanos. As ambições megalomaníacas de Chávez levaram-no a patrocinar uma tentativa de golpe no Peru, em 2005; a arquitetar a volta clandestina (com a vergonhosa cumplicidade do governo Lula) de um presidente golpista deposto legalmente em Honduras, em 2009; e a tentar insuflar um golpe militar para derrubar um presidente constitucional empossado após o impeachment de um aliado no Paraguai, em 2012 (em vez de ter sido repreendido por isso, Chávez foi recompensado com a entrada - ilegal - da Venezuela no Mercosul...). Sem falar no apoio às FARC e nas malas de dinheiro para a candidatura dos Kirchner na Argentina. 

Em todos esses movimentos, Chávez contou com o apoio e a cumplicidade dos companheiros do Foro de São Paulo, criado por Lula e por Fidel Castro em 1990 para "restaurar na América Latina o que se perdeu no Leste Europeu". Tentando emular seu ídolo Bolívar, o coronel igualou-se a Fidel Castro, que apoiou diversos movimentos terroristas na América Latina nos anos 60, tentando igualmente "exportar" sua "revolução". Só conseguiu, na verdade, equiparar-se a um Napoleão de hospício com sonhos grandiloquentes.


Chávez, o pistoleiro maluco
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10 - Falsificação da História - A exemplo de todos os ditadores, Chávez, um obcecado pela História, tentou reescrevê-la para que se ajustasse a sua "revolução bolivariana". O culto de sua personalidade precisava de um símbolo, um herói nacional, e ele foi encontrá-lo na figura de Simón Bolívar, que ele buscou apresentar sob uma roupagem "socialista". Logo Bolívar, um aristocrata que desprezava negros e mestiços, a quem o próprio Karl Marx, num célebre artigo de 1858, chamou de incompetente e covarde, um "Napoleão das retiradas"... Chávez não deu importância a esses fatos, tratando de levar o culto ao Bolívar por ele idealizado até o nome do país, rebatizado de República Bolivariana da Venezuela. E assim como inventou uma cabala da oligarquia colombiana para matar Bolívar, chegando ao ponto de desenterrar o corpo do Libertador para tentar provar essa tese, estimulou todo tipo de teorias conspiratórias. Estas seriam somente ridículas se não revelassem também um forte e inegável traço de insanidade: por exemplo, o terremoto que devastou o Haiti em 2010 teria sido obra de uma "arma secreta" da Marinha dos EUA, e o capitalismo teria destruído a civilização em Marte! (Aliás, os chavistas nem esperaram o defunto esfriar para começar a falar que Chávez foi vítima de um "ataque" de seus inimigos...)

A todos esses fatos poderíamos acrescentar, ainda, a desmoralização do Mercosul, transformado num palanque político para Chávez e suas diatribes antiamericanas, de um nível capaz de corar de vergonha até um militante da UNE. Ou a redução da política a um circo (literalmente), uma palhaçada comandada por um bufão que fez do próprio histrionismo uma forma de se comunicar com as massas... A lista seria interminável.  

Resta, porém, um alento: por suas próprias características, regimes autoritários personalistas, como o de Chávez, quase sempre chegam ao fim com a morte de seus líderes. Desaparecido o chefe, o guia genial e iluminado, simplesmente surge um grande vazio, pois em sua volta não floresce mais do que a sabujice e a mediocridade. Este parece ser o destino do chavismo: ser engolido por sua própria vacuidade ideológica.

Enfim, o legado de Chávez é uma prova de que o populismo não somente destrói as instituições; ele também emburrece e infantiliza. Chávez já vai tarde. Espero somente que a democracia retorne à Venezuela, e que não se cumpra o vaticínio do próprio Bolívar: “Lutar pela liberdade na América Latina é o mesmo que arar no mar".

domingo, dezembro 30, 2012

TORTURANDO A REALIDADE. OU: A SUPERIORIDADE MORAL DAS DEMOCRACIAS

 
Ando meio sem assunto nos últimos dias. Culpa, talvez, do clima "paz e amor" que toma conta de tudo e de todos nesta época do ano, e certamente também dos esquerdopatas - é tedioso refutar suas imposturas, admito. Mas vou quebrar a regra e dar um pouco de atenção a alguém, que se assina "E agora, José?" (ah, esses apelidos engraçadinhos... o que leva alguém a se identificar desse jeito? Freud explica). Pois o tal "E agora, José?" deu-se ao trabalho de enviar um comentário a meu texto "O BODE EXPIATÓRIO DO MUNDO", em que trato do antiamericanismo, essa doença infantil dos idiotas à esquerda e à direita. Eis o que diz o rapaz (ou a moça, sei lá):

Excelente matéria da revista "Veja" (19 de dezembro de 2012) sobre a Tortura. Matéria: "A volta dos Suplícios" p. 130-132, falando justamente sobre a prática de simulação de afogamento utilizada pelos EUA para torturar seus presos políticos.

Como diz a matéria no final: " É claro que a tortura, às vezes, é eficaz. Em outras, é ineficaz. Mas em qualquer situação é crime"!
 
Sei não... A se julgar pelo nome do(a) remetente, e do contexto em que o comentário está inserido, deduzo que se trata de (posso estar enganado, mas vamos lá) uma, digamos, "crítica" à minha visão sobre a enfermidade antiamericana, em especial sobre os, digamos, "argumentos" pretensamente humanistas brandidos pelos inimigos dos EUA (e da espécie humana) para enfrentar e derrotar a ameaça terrorista (em geral, os mesmos que fazem contorcionismos mentais para justificar os atentados terroristas como uma forma de "resistência"...). Mais especificamente, seria uma crítica aos métodos adotados pelas forças de segurança dos EUA e seus aliados contra os terroristas. Mais especificamente ainda (estou fazendo isso na base do chute), o alvo da crítica seria a controversa prática do waterboarding, de que já tratei aqui em outros textos.
 
Muito bem. Caso o que vem acima esteja certo, e o autor do comentário realmente esteja mirando nesse alvo, sinto dizer, mas ele(a) errou de endereço.
 
Concordo plenamente com a matéria da VEJA. Não uso de eufemismos. Waterboarding é tortura. E tortura é crime. Ponto final. Moral e politicamente, torturar um prisioneiro, seja por qual método for, é indefensável. Desafio qualquer um a mostrar algum trecho de qualquer post meu em que me afasto, por mínimo que seja, dessa afirmação. A tal ponto que até acho estranho alguém ter-se dado ao trabalho de mencionar a referida matéria.
 
Assim como tenho horror à tortura, chego a perder a paciência com quem insinua qualquer equivalência moral entre os Navy Seals e a Al Qaeda ou o Talibã (ou entre Israel e o Hamas). Comparar os métodos (e os objetivos) de uns e de outros, de forma a dizer que são todos iguais do ponto de vista da moralidade, é uma ofensa grave à razão e à inteligência.  Fico ainda mais convencido disso quando, ao ler o mesmo texto de autoria de André Petry, correspondente da revista em Nova York, deparo com um trecho que eu subscreveria tranquilamente. Por sorte (e, talvez, azar de quem mandou o comentário), tenho um exemplar da revista na minha frente. E lá está escrito, na mesma matéria, à página 132, segundo parágrafo:       
 
As democracias ocidentais - e os Estados Unidos entre elas, é claro - são moralmente superiores aos terroristas da Al Qaeda e seus protetores. Elas atuam sob o império da lei, sob a égide de uma Constituição, dão satisfação à opinião pública e, flagrados no erro, abrem investigações, punem os infratores e tentam corrigir o rumo. Soldados americanos torturaram guerrilheiros vietcongues. Foram processados e punidos. A França pagou um alto preço pelo uso da tortura na guerra da Argélia.  Nada disso, como se sabe, acontece no universo do terrorismo. [...]
 
Preciso dizer que assino embaixo?
 
(Talvez quem mandou o comentário seja uma dessas almas sensíveis que ficaram horrorizadas no ano passado com a morte de Osama Bin Laden, em particular com o fato de que as informações que levaram os EUA até ele foram obtidas por meio de waterboarding. Nesse caso, insisto em saber que outro meio, mais eficaz e menos doloroso, essas nobres almas propõem para obter tais informações e chegar ao megaterrorista. Aguardo resposta.)
 
Uma das características da parvoíce é disfarçar-se de sabedoria, fazendo uma leitura muito parcial e seletiva da realidade para defender imposturas e preconceitos. Isso se manifesta na tentativa, por exemplo, de acusar os que defendem a superioridade moral dos EUA e de Israel em relação a seus inimigos de "defensores da tortura", o que é uma clara demonstração de desonestidade intelectual e de fasificação da verdade. Que práticas como o waterboarding, que raramente deixam sequelas físicas, sejam consideradas uma forma de tortura nos EUA, sendo, inclusive, objeto de debate público (alguém consegue visualizar tal fato em Cuba ou na Coréia do Norte?), e que aqueles que a empregam em nome da segurança nacional sejam execrados e punidos, é uma prova mais que suficiente de que os EUA tratam seus prisioneiros de forma muito mais humana do que seus inimigos o fazem. Estes, ao contrário dos americanos, não possuem tais escrúpulos morais. Desafio qualquer um a refutar esse fato.
 
Em todos os textos que escrevi sobre o tema tentei deixar claro meu posicionamento contrário à tortura e a favor da democracia contra o terrorismo. Infelizmente, o mesmo não pode ser dito de muitos que ficam "indignados" com o tratamento dado pelas autoridades americanas e israelenses aos terroristas da Al Qaeda ou do Hamas - os quais não têm, aliás, nenhum pudor no uso de métodos de interrogatório muito mais duros do que o waterboarding... Alguém tem alguma dúvida quanto a isso?
 
Mas querer que aqueles cujas mentes estão poluídas pelo veneno do antiamericanismo (e de seu complemento quase obrigatório, o antissemitismo, velado ou não) entendam esse fato fundamental talvez seja pedir-lhes demais. Para essas pessoas, nenhum fato ou argumento é suficiente para mostrar-lhes que a causa dos EUA e de Israel contra o terrorismo é, na verdade, a causa da civilização contra a barbárie. Para eles, os antiamericanos, analisar os fatos e enxergar o essencial é uma forma de... tortura. 
 
Em resumo, eu posso dormir com a consciência tranquila, pois me oponho à tortura e defendo a democracia.
 
E o autor do comentário, será que pode dizer o mesmo?
 
E agora, José?

quinta-feira, novembro 08, 2012

QUEBRANDO O ENCANTO: RESPONDENDO A UM DEVOTO OBAMISTA

E ainda há quem acredite...
Ai, ai...
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Estava demorando para algum devoto da seita obamista vir aqui defender seu ídolo. Um tal de “Zek”, que ao que parece descobriu no blog a razão de sua vida, voltou a escrever. Ele ficou mordido com meu texto "Bye-Bye, Obama", em que digo que, independentemente de quem saísse vitorioso nas urnas nos EUA na última terça-feira, o mito Obama, o Obama demiurgo e reformador do mundo, tinha virado água. Ele, como bom obamista, não entendeu o que eu disse. E fez questão de comentar sobre o que eu não escrevi.

Obamistas, assim como seus congêneres nacionais, os lulopetistas, são criaturas estranhas, que parecem brigar o tempo todo com os fatos para manter intacto seu objeto de devoção. Nada contra as pessoas tietarem quem quer que seja. Mas bem que poderiam fazê-lo sem ofender a inteligência. Não é o caso do leitor. Vamos lá, vamos tentar trazer mais um botocudo para o lado da civilização (ele em vermelho):

Me diga uma coisa Gustavo como é que em um país racista como os EUA, onde há assumidamente grupos neonazistas e onde um garoto negro foi morto recentemente na Florida confundido com um criminoso apenas por ser negro, um presidente poderia ter sido eleito por ser negro ? a meu ver não faz o menor sentido.

Meu caro, e desde quando o racismo é somente branco? Há o racismo branco como há o racismo negro, o racismo índio, o racismo japonês, o racismo cor-de-rosa com bolinhas azuis... Principalmente o racismo dos que se dizem anti-racistas, e desejam, a pretexto de combater o racismo, dividir a sociedade em… raças, instituindo um tribunal de pureza racial (sim, estou falando das cotas, esse fetiche dos que enxergam tudo em duas cores). A vitória de Obama em 2008 (e agora, em menor escala, sua reeleição) foi uma vitoria do racismo. Por que digo isso? Obviamente não foi porque os neonazistas ou a Ku Klux Klan votaram no negão Obama, mas exatamente pelo contrário: porque a chantagem do "primeiro presidente negro (ou afro-americano)" falou mais alto nas duas ocasiões. Os negros são 13% da população dos EUA. Logo, não foi o "voto negro" ou "latino" que fez a diferença. Foi o da maioria da população americana, que é branca, protestante e come no MacDonald's, e que se deixou levar por essa conversa mole RACISTA (“não vota no Obama? então é racista” etc. etc.). Já escrevi sobre essa imensa empulhação, há quatro anos: http://gustavo-livrexpressao.blogspot.gr/2008/11/vitria-do-racismo.html

(A propósito: o garoto-negro-morto-recentemente-na-Flórida-apenas-por-ser-negro foi morto por um vigia chicano depois que este foi atacado por aquele. A história parece ser bem mais complicada do que diz a propaganda racista-obamista.)

Barack Obama era professor de Harvard, tem dois livros publicados e foi senador pelo estado do Havaí, você quer me dizer que nada disso significa nada para você ?

Sim, significa que ele foi professor de Harvard, tem dois livros publicados e foi senador pelo Havaí... E daí? Para nada disso é preciso ser um natural born citizen, um cidadão nato norte-americano. Arnold Schwarzenegger nasceu na Áustria e foi governador da Califórnia, assim como Henry Kissinger e Madeleine Albright foram secretários de Estado e nasceram, respectivamente, na Alemanha e na ex-Tchecoslováquia. Mas se quiserem se candidatar a presidente dos EUA, serão legalmente impedidos. Fora ter sido professor, escritor e senador, o que mais credencia Obama para o cargo de presidente do maior país do planeta? Aliás, o que o credencia para o papel de novo Messias? (Novamente ouço uma voz soprando no meu ouvido: "a cor da pele, a cor da pele"...)

A era Bush a meu ver trouxe incontáveis malefícios aos EUA e ao mundo, a guerra que ele sequer terminou no Iraque, deixou o país em frangalhos sem sequer iniciar a reconstrução.

OK, e quatro anos depois, tudo que Obama tem a mostrar é a continuação – na realidade, a intensificação – da "guerra ao terror" e a retirada das tropas do Iraque. Ou seja: ao que Bush começou, ele está dando prosseguimento. Por que tanto oba-oba então? Quanto à economia, se o Bush fez um estrago nessa área, Obama tem se mostrado um seguidor aplicado, pois os níveis de desemprego nos EUA só aumentaram. Não surpreende que ele tenha ganho por uma margem tão apertada no voto popular (menos de 51%).

Repetindo: Obama foi eleito e reeleito por ser negro. Como se chama isso? Racismo. Preciso ser mais claro (sem trocadilho…)?

Obama representa a mudança de uma era, a falida era Bush que fez o sentimento de anti-americanismo aumentar no mundo todo.

A única "mudança" significativa trazida pela era Obama, foi, repito, a cor da pele do governante. Sem falar que o antiamericanismo não precisa de nenhum Bush para existir. Com Bush ou sem Bush, com Obama ou sem Obama, o antiamericanismo persiste. Aí está a tal "primavera árabe" para comprovar. Na Líbia, o embaixador norte-americano foi trucidado por uma horda de islamitas antiamericanos raivosos. Culpa do Bush? O Hamas, o Hezbollah e o MST deixaram de ser menos antiamericanos por causa de Obama?

E ainda há essa conversa sem pé nem cabeça do Obama não ser americano, isso depois de ele ter sido senador , e sendo presidente já mostrou a certidão de nascimento, o que querem mais ?

Pois é, essa "conversa sem pé nem cabeça" surgiu nas hostes do próprio Partido Democrata, durante as eleições de 2008, e continua até hoje porque Sua Majestade Barack Hussein Obama não respondeu de forma cabal nenhuma das perguntas feitas sobre sua verdadeira nacionalidade. Sem falar que a "certidão de nascimento" que ele mostrou na Casa Branca (quase quatro anos depois de ser eleito!) prova tanto que ele é um natural born citizen quanto que eu sou um cidadão do Uzbequistão (há dúvidas quanto à autenticidade do documento, sem falar que o conceito de natural born citizen vai além do local de nascimento, pois diz respeito também aos pais). Para encerrar de vez essa controvérsia toda, bastaria Obama aceitar o desafio do Donald Trump e mostrar seus registros de passaporte. Além de calar a boca dos birthers e do Tea Party, ele embolsaria a bolada de 5 milhões de dólares. Por que, em vez disso, está fugindo da raia? Isso sim, algo totalmente sem pé nem cabeça.

A era Obama não acabou, e agora teremos mais quatro anos para provar este fato.

Nem eu disse que acabou. O que chegou ao fim foi o mito, o personagem inventado pela mídia. Claro que sempre haverá quem acredite no personagem. Mas isso não é problema meu; é de quem se deixou levar por essa criação do marketing politicamente correto. Estes estão além do alcance de qualquer argumento.

segunda-feira, novembro 05, 2012

BYE-BYE, OBAMA

Quem quer que seja o vencedor das eleições presidenciais nos EUA este ano, uma coisa é certa: o mito Barack Hussein Obama chegou ao fim. Acabou. Já era. Foi para o saco. Kaput.

Quando surgiu – acredito que todos se lembram – Obama era o Ungido, o Messias, o Redentor da humanidade. Poucas vezes se viu oba-oba maior na História do universo (talvez um certo Apedeuta em um país da América do Sul, mas o culto a este, diferente do de Obama, foi gestado durante décadas). Obama, o presidente histórico, saiu literalmente do nada para partir as águas do Mar Vermelho e levar todos à terra prometida, tanto que decidiram premiar-lhe com o Nobel antes mesmo da posse. Com aquela pose estudada e aquele sorriso de mil dentes, era o presidente sexy dos sonhos de Arnaldo Jabor.

Hoje, quatro anos depois e obrigado a governar sem a ajuda do teleprompter, Obama não passa de uma pálida sombra do que muitos esperavam que ele poderia vir a ser um dia. Ganhando ou perdendo, não importa: sua estrela se apagou.

Primeiro, muitos que votaram entusiasticamente em Obama em 2008 acreditando que ele seria um pacifista – a maioria, arrisco-me a dizer – quebraram a cara: ele não somente aumentou para 30 mil o número dos soldados norte-americanos no Afeganistão, como deu continuidade e até intensificou muitos dos programas do demonizado George W. Bush em sua "guerra ao terror". Diante da dura realidade, rasgou promessas de campanha como o fechamento da prisão de Guantánamo, entre outras coisas. Igualzinho ao Bush. Mas tudo, claro, com dor no coração – afinal ele, Obama, é um "progressista"...

Pior: com Obama, os EUA passaram de potência temida e exportadora de democracia para uma potência envergonhada, que mais segue os fatos do que os determina. Basta ver a reação apalermada de Hillary Clinton ao assassinato do embaixador norte-americano na Líbia há algumas semanas. Com Obama, os EUA só faltam pedir desculpas por serem atacados por fanáticos islamitas. Avanço? Para estes últimos, talvez.

No plano doméstico, a economia continua à espera da recuperação, e políticas como o Obamacare, que, se para os brasileiros parece uma maravilha – infelizmente estamos viciados no Estado-babá assistencialista e paternalista –, geraram a maior manifestação de protesto da História dos EUA, quando mais de 1 milhão de pessoas saiu às ruas de Washington contra o plano de Obama de decidir sobre a saúde do cidadão (mas isso quase não saiu no noticiário). Quanto à crise econômica, além de injetar bilhões de ajuda a montadoras falidas, tudo que Obama fez até agora foi culpar o governo anterior e satanizar o big business, como se viu na campanha contra Mitt Romney, o que certamente deixa muita gente alegre - principalmente os que adorariam ver o fim do capitalismo (e da democracia). 

Isso sem falar nas perguntas ainda sem resposta sobre a biografia do atual ocupante da Casa Branca. Obama demorou quase quatro anos para mostrar um documento que supostamente provaria ser ele cidadão nato norte-americano, portanto legalmente apto a ser eleito para o mais alto cargo da nação. Agora, esnoba a oferta de 5 milhões de dólares do bilionário Donald Trump para apresentar seus registros de passaporte e histórico escolar. O que ele está esperando para calar de vez a boca dos birthers e do Donald Trump, aquele do topete ridículo? Em vez disso, acobertado por uma imprensa condescendente (já vimos esse filme…), fecha-se num silêncio tumular, e faz de conta que não é com ele. É certamente o presidente menos transparente da História dos EUA (e não me refiro, claro, à cor da pele).

Claro que seria exagerado dizer que nada de bom foi alcançado em quatro anos de governo Obama. Em sua presidência, os Navy Seals livraram o mundo de Osama Bin Laden, despachando o terrorista para o inferno de cristãos e muçulmanos. Mas pergunto: teria sido preciso esperar o advento de Santo Obama para isso? O serial killer só foi morto porque a espinha dorsal da Al-Qaeda foi quebrada ao longo de anos de luta, que começou em 2001. Mesmo a tão festejada retirada das tropas ianques do Iraque, por exemplo, só foi possível porque Bush Junior derrubou Saddam em primeiro lugar. O que Obama fez no terreno da segurança que não poderia ter sido feito, e com mais eficiência, por George W. Bush ou por John McCain?

Desde que surgiu pela primeira vez para os holofotes, desconfiei que Obama era mais uma patuscada global, mais uma falsa esperança dos politicamente corretos. Enquanto os botocudos batiam tambor para o demiurgo eu escrevia textos e mais textos dizendo o que ninguém queria ouvir – que Obama foi eleito por causa da cor da pele, e de uma gigantesca operação de marketing, talvez a maior de todos os tempos. Como sempre, eu estava indo na direção contrária à da manada. Ainda bem.

Nada disso, claro, faz qualquer diferença para os obamistas, tanto os de lá quanto os de cá (estes, aliás, são mais numerosos do que nos EUA, segundo as pesquisas). Para os devotos da seita, Obama é como Lula: um fracasso glorioso.

Bye-bye, Obama. No, you cant't.

sábado, outubro 13, 2012

HOBSBAWN E A ERA DOS IDIOTAS

Está circulando na internet um troço curioso. Trata-se de um texto-manifesto, assinado por uma certa ANPUH (Associação Nacional de Professores de História), da qual eu, apesar de graduado em História, nunca tinha ouvido falar - e da qual, pelo que segue, orgulho-me de não ser sócio.

É uma resposta (ou deveria ser) ao obituário publicado na revista VEJA do historiador inglês Eric Hobsbawn, falecido no dia 1 de outubro aos 95 anos de idade. Os senhores da tal ANPUH se mostram indignados pelo que consideram um tratamento desrespeitoso dado pela revista ao historiador marxista inglês, uma das vacas sagradas da intelligentisia esquerdista mundial e, por tabela, brasileira - o que significa: um autor obrigatório nas universidades brasileiras, sobretudo para quem não conhece outro autor e acredita que a historiografia marxista é a única existente.

O texto é um típico produto coletivo de mentes que só sabem pensar coletivamente (ou seja: que não sabem pensar). Tanto que seus autores, na ânsia de darem uma "resposta" a quem teve a ousadia de criticar um de seus ídolos (um crime, enfim, de lesa-santidade), parecem esquecer-se de fatos básicos, fundamentais. O que apenas reforça minha convicção de que os esquerdistas são guiados por um misto de cegueira voluntária e amnésia. E por nenhum senso do ridículo.

Fiz questão de transcrever o texto na íntegra. Vai em vermelho. Meus comentários vão em preto.  

ANPUH- RESPOSTA À REVISTA VEJA

09/10/2012

Eric Hobsbawm: um dos maiores intelectuais do século XX

Na última segunda-feira, dia 1 de outubro, faleceu o historiador inglês Eric Hobsbawm. Intelectual marxista, foi responsável por vasta obra a respeito da formação do capitalismo, do nascimento da classe operária, das culturas do mundo contemporâneo, bem como das perspectivas para o pensamento de esquerda no século XXI. Hobsbawm, com uma obra dotada de rigor, criatividade e profundo conhecimento empírico dos temas que tratava, formou gerações de intelectuais.

Não se discute que Hobsbawn foi um historiador de talento, dotado de inteligência. Falo sobre isso depois. Tampouco está em questão sua influência sobre gerações de intelectuais. O debate é outro, como se verá adiante.

Ao lado de E. P. Thompson e Christopher Hill liderou a geração de historiadores marxistas ingleses que superaram o doutrinarismo e a ortodoxia dominantes quando do apogeu do stalinismo.

Nem tanto. Hobsbawn, se procurou distanciar-se do stalinismo, depois da denúncia dos crimes de Stálin feita por Kruschev em 1956, não teve a coragem e a ousadia de abandonar o barco do comunismo nos anos seguintes. Pelo contrário: até intensificou sua militância comunista, recusando-se a criticar abertamente a URSS e justificando os milhões de assassinatos de Stálin, como veremos em seguida. Ele sempre se manteve no campo marxista, dando "apoio crítico" ao Kremlin e considerando os EUA "a maior ameaça à humanidade". Nos últimos tempos, não cansava de elogiar Lula como um exemplo de governante marxista.

Deu voz aos homens e mulheres que sequer sabiam escrever. Que sequer imaginavam que, em suas greves, motins ou mesmo festas que organizavam, estavam a fazer História. Entendeu assim, o cotidiano e as estratégias de vida daqueles milhares que viveram as agruras do desenvolvimento capitalista.

Para começar, a função do historiador, como a de qualquer intelectual, não é "dar voz aos excluídos", ou, como está acima, "aos homens e mulheres que sequer sabiam escrever". Ele pode até fazer isso, mas como militante político, não como um investigador, que deve ter como único compromisso a realidade dos fatos. E a realidade da História é que as "agruras do desenvolvimento do capitalismo", ao contrário do que diz o texto, levaram à melhoria das condições gerais de vida dos trabalhadores em todos os países capitalistas europeus, conforme demonstraram, com dados e números inquestionáveis, estudiosos sérios como Ludwig von Mises (ver o seu As Seis Lições, se quiserem tirar a prova).

Mas Hobsbawm não foi apenas um "acadêmico", no sentido de reduzir sua ação aos limites da sala de aula ou da pesquisa documental. Fiel à tradição do "intelectual" como divulgador de opiniões, desde Émile Zola, Hobsbawm defendeu teses, assinou manifestos e escolheu um lado. Empenhou-se desta forma por um mundo que considerava mais justo, mais democrático e mais humano.

Aqui há uma falsidade disfarçada de verdade biográfica: Hobsbawn foi sim, além de historiador, um militante - ou um "divulgador de opiniões". Mas de maneira nenhuma essas se enquadram numa perspectiva fiel à tradição intelectual de autores como Émile Zola - Hobsbawn era comunista, Zola era um liberal e um democrata, um defensor da tolerância, famoso pela defesa do capitão Dreyfus no final do século XIX. Aliás, Hobsbawn, judeu como Dreyfus, assinou manifestos e participou de passeatas a favor do nacionalismo palestino (na época em que este sequer reconhecia o direito de Israel à existência). Aproximou-se, assim, portanto, muito mais dos detratores antissemitas de Dreyfus do que de Zola e outros paladinos da liberdade de imprensa. Algo, aliás, inexistente na defunta URSS, que Hobsbawn sempre tratou com simpatia em seus livros, como um paradigma daquilo que ele considerava um mundo "justo, democrático e mais humano"... Nada mais longe da verdade.

Claro está que, autor de obra tão diversa, nem sempre se concordará com suas afirmações, suas teses ou perspectivas de futuro. Esse é o desiderato de todo homem formulador de ideias. Como disse Hegel, a importância de um homem deve ser medida pela importância por ele adquirida no tempo em que viveu. E não há duvidas que, eivado de contradições, Hobsbawm é um dos homens mais importantes do século XX.

Deixando de lado o português arrevesado - isso de escrever "desiderato"... -, a frase de Hegel, no contexto em que está colocada, não significa rigorosamente nada: Napoleão, Hitler, Lênin e Stálin foram importantes no tempo em que viveram, e isso não acrescenta ou retira absolutamente nada do significado de suas ações. O que está em questão não é a importância de Hobsbawn - ele foi, sim, um historiador importante -, mas o valor de suas idéias. Ou, melhor dizendo: a moralidade delas.

Eis que, no entanto, a Revista Veja reduz o historiador à condição de "idiota moral" (cf. o texto "A imperdoável cegueira ideológica da Hobsbawm", publicado em www.veja.abril.com.br). Trata-se de um julgamento barato e despropositado a respeito de um dos maiores intelectuais do século XX.

Aqui, finalmente, entramos na questão principal. Vejamos quão "barato" e "despropositado" é o julgamento da revista sobre Hobsbawn.

Veja desconsidera a contradição que é inerente aos homens. E se esquece do compromisso de Hobsbawm com a democracia, inclusive quando da queda dos regimes soviéticos, de sua preocupação com a paz e com o pluralismo.

Pelo menos o texto reconhece que Hobsbawn tinha contradições... Mas somente para, logo em seguida, incorrer na maior das contradições, ao afirmar que o marxista Hobsbawn tinha uma compromisso com a democracia (!). Ora, de que democracia os autores do manifesto estão falando? Se é das "democracias populares" do Leste Europeu ou da ex-URSS, então acertaram em cheio. Mas não da democracia liberal, da democracia tal qual a conhecemos, com alternância de poder, eleições livres e liberdade de associação e de expressão, a qual Hobsbawn, como todo bom marxista, dedicava um desprezo solene, tachando-a de "burguesa". E isso mesmo após a queda dos regimes soviéticos, ao contrário do que está dito acima. Preocupação com a paz e com o pluralismo? Qual pluralismo existia na finada URSS? Existe tal coisa na moribunda ditadura cubana (que Hobsbawn admirava)? Uma coisa é a contradição que é inerente a todos os homens. Outra, é a idiotice moral de justificar a morte de milhões de seres humanos em nome do que quer que seja. 

A Associação Nacional de História (ANPUH-Brasil) repudia veementemente o tratamento desrespeitoso, irresponsável e, sim, ideológico, deste cada vez mais desacreditado veículo de informação.

A tal ANPUH considera desrespeitoso e irresponsável (!?) chamar Hobsbawn, por sua posição esquerdista pró-URSS, de idiota moral. E investe contra o mensageiro e não a mensagem. Deixando de lado o ódio da esquerda brasileira ao "cada vez mais desacreditado veículo de informação" - ódio que se estende aliás a todo e qualquer órgão de imprensa que não esteja sob seu controle -, devo dizer que, a meu ver, a denominação de idiota moral para referir-se a Hobsbawn não lhe faz justiça. Isso porque, ao contrário do que afirma a revista, ele não era um idiota. Idiota é quem não sabe o que faz. E Hobsbawn sabia. Ao se negar a criticar a URSS e ao justificar o morticínio de milhões de pessoas em nome de "um mundo melhor", ele mostrou mais que idiotice: mostrou cumplicidade moral com o terror e com a barbárie. Se ele fosse um idiota, desses de babar na gravata, seria melhor para ele: seria um álibi. Portanto, a VEJA foi até boazinha com ele...

O tratamento desrespeitoso é dado logo no início do texto "historiador esquerdista", dito de forma pejorativa e completamente destituído de conteúdo. E é assim em toda a "análise" acerca do falecido historiador.

Em primeiro lugar, o tratamento de "historiador esquerdista" (na verdade, "comunista"), não é dado pela revista, mas por outro historiador eminente, o igualmente britânico e também recentemente falecido Tony Judt. Este, citado no texto da VEJA, advertira Hobsbawn em 2008 que, com sua insistência ideológica em tratar de forma benigna a ex-URSS, ele seria lembrado pela posteridade não como "o" historiador, mas como "o historiador marxista" (ou "comunista"). E, de fato, foi isso que Hobsbaw sempre foi, e jamais escondeu que fosse.

Nós, historiadores, sabemos que os homens são lembrados com suas contradições, seus erros e seus acertos. Seguramente Hobsbawm será, inclusive, criticado por muitos de nós. E defendido por outros tantos. E ainda existirão aqueles que o verão como exemplo de um tempo dotado de ambiguidades, de certezas e dúvidas que se entrelaçam. Como historiador e como cidadão do mundo. Talvez Veja, tão empobrecida em sua análise, imagine o mundo separado em coerências absolutas: o bem e o mal. E se assim for, poderá ser ela, Veja, lembrada como de fato é: medíocre, pequena e mal intencionada.

São Paulo, 05 de outubro de 2012

Diretoria da Associação Nacional de História

ANPUH-Brasil

Gestão 2011-2013

Sempre desconfiei de textos escritos na primeira pessoa do plural, ainda mais referentes a toda uma categoria profissional ("Nós, historiadores"). Como se todos os historiadores estivessem representados etc. Mas deixa pra lá. É curioso como, ao mesmo tempo em que afirmam, corretamente aliás, que "os homens são lembrados com suas contradições, seus erros e seus acertos", os autores do manifesto buscam isentar Hobsbawn de qualquer julgamento crítico. Como se ele, Hobsbawn, estivesse acima de qualquer análise que não fosse hagiográfica - em outras palavras: acima do bem e do mal. E isso ao mesmo tempo em que caem num relativismo fácil, negando a própria validade de conceitos como bem e mal, vistos como categorias absolutas, mais em termos teológicos do que históricos ou ideológicos. (Menos, claro, se for para atacar o "imperialismo ianque" ou a besta-fera do capitalismo, mas já desisti de tentar explicar para esse pessoal que o capitalismo não é um jogo de soma zero.) 

Basta fazer um pequeno exercício para desmontar essa falácia. Imaginem se um historiador se propusesse a escrever "a" História do século XX e que, ao fazê-lo, denunciasse acerbamente os crimes do comunismo mas evitasse, de propósito, qualquer menção ao nazi-fascismo. Seria chamado, no mínimo, de intelectualmente desonesto. Agora imaginem que esse mesmo historiador fizesse declarações nas quais buscasse justificar os crimes de Hitler e de Mussolini. Algum dos signatários do manifesto da ANPUH se oporia a que se criticasse tal historiador, no mínimo como cúmplice moral dos crimes do totalitarismo nazi-fascista? Quem, em vez disso, acusaria o crítico de não levar em conta as contradições e ambiguidades do historiador, considerando a condenação moral deste como uma visão "medíocre, pequena e mal-intencionada"?

Mas deixemos que o próprio Hobsbawn responda essa questão. No artigo da VEJA, do qual o manifesto dos "historiadores" é, supostamente, uma réplica, há o relato de um episódio que os autores da "resposta" estranhamente não citam. E que apenas aumenta minha certeza de que os devotos brasileiros de Hobsbawn realmente mal e mal conhecem o pensamento e a obra do autor. Eis o episódio, uma entrevista dada em 1994 por Hobsbawn ao jornalista da BBC Michael Ignatieff (conforme relatado pelo historiador britânico Robert Conquest, autor do clássico O Grande Terror):

Segundo o historiador, o Grande Terror de Stalin [mais de 20 milhões de mortos apenas na principal de três ondas, fora outros milhões de mortes fora dos Expurgos] teria valido a pena caso tivesse resultado na revolução mundial. Ignatieff replicou essa afirmação com a seguinte pergunta: “Então a morte de 15, 20 milhões de pessoas estaria justificada caso fizesse nascer o amanhã radiante?” Hobsbawm respondeu com uma só palavra: “Sim”.

Este era Hobsbawn. O verdadeiro Hobsbawn. Aquele que em nenhum momento aparece no manifesto da ANPUH.

Não pensem vocês que não reconheço, na obra de Hobsbawn, qualidades, inclusive literárias. Entre suas obras, estão livros interessantes como A Era das Revoluções, A Era do Capital e a A Era dos Impérios (A Era dos Extremos, que trata do "breve século XX" [1914-1991], é o mais fraco da série, por razões ideológicas - Hobsbawn passa ao largo dos crimes do comunismo, como se tivessem sido uma nota de rodapé). Mesmo obras como Bandidos, se foram pioneiras em suas áreas de pesquisa, por enfocar temas até então relegados a um plano secundário pela historiografia tradicional, trazem consigo um forte ranço ideológico (no caso, a tese marxista do "banditismo social", que trata criminosos como "rebeldes primitivos" em luta contra uma ordem social injusta etc.).  Ele certamente foi um grande historiador e um intelectual importante, que não se rebaixava à condição de panfletário produtor de agitprop. Não era um agitador vulgar, como Noam Chomsky, ou um filósofo de quinta, como Slavoj Zízek. Mas, sinto dizer, ele foi, assim como estes, um idiota moral. A exemplo de intelectuais e figuras proeminentes da esquerda, como Jean-Paul Sartre, José Saramago e Gabriel García Márquez, que não quiseram ou não foram capazes de deixar suas preferências ideológicas e seus preconcentos anticapitalistas e antiamericanos fora de suas análises, Hobsbawn justificou o terror stalinista.  Flertou, para dizer o mínimo, com uma das faces do Mal. Talvez a pior de todas.

Hobsbawn foi um historiador inteligente, mas colocou a sua inteligência a serviço de um projeto totalitário que deixou mais de 100 milhões de mortos no século XX. E se recusou a fazer uma autocrítica consistente. Seu talento e capacidade acadêmica apenas aumentam sua culpa. E ainda há quem escreva manifestos defendendo (ou omitindo) essa sua atitude. Enfim, isso sim, uma visão pequena, medíocre e mal-intencionada. Coisa de idiotas.

quarta-feira, setembro 12, 2012

QUEM DERRUBOU AS TORRES GÊMEAS?

Creio que, pelo menos uma vez a cada geração, existe um fato histórico definidor, determinante. Para a de nossos pais, foi a chegada do homem à Lua, ou a contra-revolução de 64. Para a dos nossos avós, a Segunda Guerra Mundial, ou a invenção da penicilina. Datas que vivem na memória, com um poder simbólico tamanho que já estão entranhadas na memória coletiva, de modo que cada um lembra exatamente onde se encontrava e o que estava fazendo quando leu ou ouviu aquela notícia que “mudou o mundo”.

O 11 de setembro de 2001 é um desses momentos. Para mim, pelo menos, é a data mais significativa, até agora, que tive a oportunidade de acompanhar, ao vivo, pela TV e pela internet. Em alguns textos, rememoro aquela terça-feira fatídica, já intrinsecamente mesclada à minha trajetória pessoal, a exemplo de milhões de pessoas mundo afora.

Já virou um lugar-comum afirmar que o 11/09 foi o acontecimento mais importante da História mundial desde, pelo menos, o fim da URSS, exatos dez anos antes. Mas isso não impede de recordar alguns fatos desagradáveis.

Em primeiro lugar, acho que a esta altura está claro que não foi a Al-Qaeda que jogou os aviões contra as Torres Gêmeas e o Pentágono. (E antes que algum teórico da conspiração se anime: não, também não foi a CIA, ou o serviço secreto israelense, ou os maçons - aliás, gostaria de saber por que todas as teorias conspiratórias [todas!] miram nos EUA ou em Israel, deixando de lado seus inimigos.) Bin Laden e sua corja sequestraram as aeronaves e as utilizaram como mísseis, mas não foram eles, os terroristas islamitas, os únicos responsáveis, em última instância, pela barbaridade inominável. O ato em si, foram eles que cometeram, e inclusive se vangloriaram disso. Mas a cadeia de eventos que culminou no maior atentado terrorista da História é bem anterior à decisão de executá-lo.

Explico-me. Bin Laden e sua rede de assassinos alucinados não teriam feito o que fizeram se não fosse por uma cadeia de eventos, ou melhor, por um certo estado ideológico, gestado durante décadas, e que teve seu clímax na derrubada do WTC. Estou falando do antiamericanismo, essa doença mental do século XX, que entrou pelo XXI e que tem suas raízes nas duas extremas: direita e esquerda, fascismo e comunismo.

Desde pelo menos os anos 60, quando a Guerra Fria ameaçou tornar-se quente em conflitos como o do Vietnã (perdido pelos EUA em casa e na televisão, e não nos campos de batalha, mas essa é outra história), o realejo antiamericano não tem cessado de tocar, entrou definitivamente no mainstream.

Hipnotizadas por essa cantilena xenófoba, entorpecidas pela leitura (os que leram) de Gramsci e dos catataus impenetráveis dos teóricos da Escola de Frankfurt, e infantilizadas por um anticapitalismo geralmente arrotado por burgueses que não abrem mão das comodidades do capitalismo, gerações inteiras se acostumaram a enxergar nos EUA e na "sociedade tecnocapitalista" do qual este é a epítome a síntese do Mal, sinônimo de exploração, violência e alienação humana. A ex-URSS e a China, em contrapartida, seriam um antídoto à "unipolaridade" (o novo nome do "imperialismo"), vistos como alternativas ou, pelo menos, equivalentes ao Tio Sam – como se a Pátria da Democracia, o país de Thomas Jefferson e de Abraham Lincoln, fosse menos preferível ou equivalente a qualquer ditadura comunista... Em algum momento depois do desaparecimento da URSS, a utopia comunista ou comuno-socialista, com pitadas de niilismo "pós-moderno", aliou-se ao fanatismo religioso islamita em uma frente comum. Cedo ou tarde, o resultado disso seriam ataques terroristas como o de 11/09.

Foi esse estado mental, esse fenômeno de hipnose coletiva, fruto de décadas de doutrinação, que abriu o caminho e preparou os espíritos – coloquemos desse modo – para a tragédia de 11 de setembro. Primeiro, como justificativa e vanglória sobre uma montanha de cadáveres: eles, os americanos, "receberam o que mereciam" ou "colheram o que plantaram". Ou, então, como recusa a encarar a realidade, refletida na incapacidade psicológica de enxergar os EUA como vítimas de uma agressão covarde: a tragédia não foi cometida por terroristas islamitas, mas pelos próprios americanos, interessados em um pretexto para invadir o Afeganistão e se apossarem do petróleo do Oriente Médio etc. etc. (afinal, eles, uzamericânu, são os culpados por tudo de ruim que existe no mundo, não é mesmo?). Em tudo isso, o discurso do ódio mal disfarçado e o contentamento mórbido, que levaram alguns autoproclamados "humanistas" como o ex-frei e marxista Leonardo Boff a manifestações de regozijo ("queria que tivessem sido vinte e cinco aviões!"). Essa tara moral, essa perversão ideológica, serviu de justificativa para a derrubada das torres gêmeas e para o assassinato de quase 3 mil pessoas.

Hoje, 11 anos e duas guerras depois, Bin Laden está morto, enterrado no fundo do mar, e a Al-Qaeda, cada vez mais em frangalhos, é apenas uma sombra do que foi um dia. Mas a mentalidade antiamericana que chocou o ovo da serpente terrorista continua mais viva do que nunca, em governos populistas e autoritários geralmente apoiados por "movimentos" que, em nome das causas mais variadas (antiglobalização, ambientalistas, feministas, racialistas, gayzistas etc.), apontam suas baterias verbais contra o capitalismo e a democracia liberal, enquanto silenciam sobre, quando não aplaudem abertamente, regimes tirânicos e terroristas como o do Irã.

Há ainda os que, ingênua ou maliciosamente, procuram diminuir o impacto da catástrofe, lembrando "outros setembros", como se o 11/09 dissesse respeito somente aos EUA e, no final das contas, tragédias sem relação uma com a outra se excluíssem mutuamente. Foi essa mentalidade masoquista que esteve por trás da eleição em 2008 de Barack Hussein Obama, tido por muitos de seus apoiadores como um antídoto ao "imperialismo". Mas até Obama, o presidente "histórico", que já era "histórico" antes mesmo de ser presidente, rendeu-se à realidade, não tendo nada melhor a apresentar, após quatro anos, do que a continuação da "guerra ao terror" inaugurada por George W. Bush (embora, como todo demagogo, não o admita, nem jamais o fará).

Os antiamericanos de todos os tipos costumam repetir à exaustão o mantra de que os EUA são culpados por todo o mal que existe no mundo, e que o 11/09 foi, de certa forma, uma reação ao imperialismo ianque. Em sua cegueira ideológica, acreditam que os atentados terroristas de 11 anos atrás teriam sido provocados etc. Nesse ponto, tenho de admitir que os devotos da seita antiamericana têm alguma razão. Só esquecem de um fato fundamental: os que provocaram a atrocidade não estavam na Casa Branca ou no Pentágono, nem no Departamento de Estado. Tampouco foram o McDonald's ou a Coca-Cola.

Foi a ação insidiosa, tenaz, sistemática, de antiamericanos dentro e fora dos EUA,  por meio de uma campanha insistente e muito bem-articulada nos meios intelectuais e na mídia (inclusive em Hollywood), que provocou os ataques, ao ter criado o ambiente mental necessário à germinação do terrorismo islamita. Bin Laden foi o executor. Mas os verdadeiros mentores não falam árabe nem usam turbante. São, no mínimo, cúmplices morais de um dos maiores crimes contra a humanidade de todos os tempos.

sábado, outubro 29, 2011

BOTANDO A TECLA "SAP" PRA FUNCIONAR...

Em um post anterior, tentei explicar o blog a um leitor, que se apresenta como "brasileiro". Pelo visto, ele ainda não entendeu. Tanto que me mandou o seguinte comentário, sobre meu texto EXPLICANDO O BLOG A UM LEITOR (o assunto é a morte de Kadafi):

Confesso que não li todos os seus textos, mas apenas alguns, em meses diferentes.Não concordo com alguns deles e não acho que todos se baseiem pela mesma linha de defesa da lei, como você defende.

Caro leitor: não é preciso que você leia todos os textos do blog, apenas os que dizem respeito à questão por você levantada (segundo a qual eu teria uma visão supostamente seletiva da aplicação da lei). Seu comentário me permite dizer que, infelizmente, você precisa pesquisar mais nos arquivos do blog antes de emitir qualquer opinião a respeito.

Isso fica claro como água na seguinte frase, em que o leitor parece querer confirmar que não entendeu mesmo patavina de nada:

Discutiu sobre uma "ditadura gayzista"?!? Não enxergo a liberdade sexual como uma imposição ditatorial, muito pelo contrário.

Se o leitor está se referindo à minha opinião sobre a PEC 122 (a chamada Lei da Mordaça Gay) ou à imposição de medidas ao arrepio da própria Constituição, e que VISAM A INSTALAR UMA DITADURA GAYZISTA no Brasil, é isso mesmo: sou totalmente contra. Preciso explicar por quê?

Esse tipo de medida, além de inconstitucional (lembra de algo chamado igualdade de todos perante a Lei?), não tem nada a ver com "liberdade sexual", mas com a imposição de um estilo de vida de uma minoria à maioria da população. A liberdade sexual, aliás, já é uma realidade no Brasil, o que é mais um motivo para considerar qualquer projeto de lei "anti-homofobia" como um contra-senso. A menos que a maior parada gay do mundo não seja a de São Paulo, mas a de Teerã, o Brasil não é um país "homofóbico".

O leitor acabou de comprovar que não leu mesmo os textos em que trato do assunto. Não gosto de me repetir, mas, nesse caso, vou ajudá-lo (clique aqui: http://gustavo-livrexpressao.blogspot.com/2011/05/o-golpe-do-stf-e-uma-pergunta-gays-nao.html).

(Supondo que o leitor leu o texto no link acima) Agora me responda: em que minha opinião sobre o tema estaria em contradição com a Lei? (Quanto à defesa do gayzismo, ao contrário, não sei se é possível dizer o mesmo.)

Brigou com aqueles que defendiam a lei para Bin Laden (mesmo que essa também fosse a pena de morte) e você defendeu que a execução de Bin Laden, mesmo desarmado e já rendido, fosse correta e bem feita.

Estou cada vez mais na dúvida se o leitor leu realmente algum texto meu sobre o assunto. O que seria "defender a lei para Bin Laden"? Sua morte, vamos lembrar, foi o resultado de uma operação de guerra, não de um mandado judicial. Desde o momento em que decidiu destruir o mundo civilizado, ele era um alvo militar legítimo. E quem disse que ele estava "desarmado e rendido"? Ainda que estivesse, continuaria sendo um inimigo mortal (que tribunal, por exemplo, o julgaria?) Já escrevi sobre tudo isso.

Para simplificar a coisa, desta vez nem vou me referir aos textos mais antigos; basta reler (se é que realmente leu) o seguinte trecho de meu texto sobre a morte de Kadafi (o mesmo sobre o qual o leitor diz que concordou comigo - vou colocar algumas frases em negrito para ajudar o leitor):

"Ah mas logo você, que aplaudiu a morte de Bin Laden, vem falar em direitos humanos no caso de Kadafi?", poderia perguntar um idiota da objetividade, achando que me pegou em contradição. Tive de responder a algumas viúvas do terrorista saudita que acharam um absurdo um comando norte-americano tê-lo despachado para os quintos dos infernos sem antes ter-lhe lido os direitos. Repito: a morte de Bin Laden foi uma necessidade militar, ditada pelas circunstâncias de uma guerra que ele mesmo começou. Kadafi, ao contrário, já estava capturado, não havia por que matá-lo sem julgamento. Do mesmo modo que Saddam Hussein, ele já não representava nenhum perigo quando foi apanhado. Bin Laden, pode-se dizer, morreu em combate; Kadafi, por sua vez, era um prisioneiro. Seus captores deveriam tê-lo tratado como tal. É isso o que distingue quem leva a sério direitos humanos de quem os despreza.

Não tenho nada a mudar no parágrafo acima. E o leitor, teria algo a dizer a respeito?

Assim como você defendeu a tortura de prisioneiros, que levou até a descoberta do terrorista.Portanto, não me parece que você defende a lei e o direito em todos os seus textos, mas somente em alguns, sendo estes os melhores.

Vou repetir aqui o desafio que lancei às viúvas do Bin Laden: apresente um método de interrogatório mais humano e menos ofensivo do que o waterboarding e eu engulo uma por uma todas as palavras que disse sobre a morte do megaterrorista saudita. Aproveite e diga como os EUA poderiam ter chegado a ele se não fosse do jeito que foi. Tenho certeza que, legalista que é, o leitor terá uma boa resposta.

Ah e o desafio continua: continuo esperando que me mostrem algum exemplo concreto de texto meu em que afirmo algo diferente da defesa dos princípios da Lei e da Civilização contra o arbítrio e a barbárie. Conheço vários exemplos (inclusive em comentários). Nenhum de minha lavra.

É isso, caro leitor, tentei ser didático. Mas nenhum didatismo é suficiente se não houver boa vontade em aprender. Para isso, um pouquinho mais de leitura seria bom, para começar. Depois, quem sabe, a gente conversa.

quarta-feira, outubro 05, 2011

A ESTUPIDEZ DO ANTIAMERICANISMO

Leiam o que um anônimo me escreveu:

"O que tem a ver Hiroshima e Nagasaki com os atentados terroristas de 11 de setembro de 2001? Nada, claro."O que ?? como assim nada?? , vejo que sua obstinação em defender a America chega a escurecer o seu entendimento, sua mente tão brilhante se torna obscura e cega até mesmo seu tão alardeado entendimento.Osama Bin Laden é fruto direto da guerra fria.Quando a Russia invadiu um até então pais pequeno e desconhecido, que rota de hippies. Para socorrer esse país os bondosos americanos injetaram tecnologia, armas e dinheiro na família que dominava a região ...a família " Bin Laden" e o resto é historia, inclusive da amizade historia com a família Bush, algo que curiosamente você nunca publicou em seu blog.

O comentário acima foi publicado sobre meu último post, O BODE EXPIATÓRIO DO MUNDO, em que trato da religião que mais avança no mundo: o antiamericanismo bocó e rombudo, que chega ao ponto de "se indignar" diante da simples lembrança (!) dos ataques de 11 de setembro ("os EUA são sempre o lado mau e perverso, jamais são vítimas" etc.). Como qualquer pessoa com um mínimo de inteligência pode perceber (sem falar em senso de humanidade), trata-se de uma idiotice sem tamanho, despejada aqui por alguém que já se deixou intoxicar totalmente pela propaganda ideológica mais cretina. Mesmo assim, vou responder a mais essa patacoada.

Começo perguntando, mais uma vez: o que tem a ver Hiroshima e Nagasaki com os atentados de 11 de setembro? Bin Ladin virou terrorista por causa do que aconteceu com o Japão em 1945? Então os terroristas da Al-Qaeda fizeram o que fizeram para, sei lá, "vingar" os japoneses? Foi isso?

Dizer que Bin Ladin foi um “fruto direto da Guerra Fria” é o mesmo que afirmar que somos frutos diretos dos dinossauros, porque afinal viemos depois deles... Não se deve confundir anterioridade com causalidade. Quando Bin Ladin foi ao Afeganistão lutar contra os soviéticos, ele o fez para combater os "infiéis", em nome da "jihad", a "guerra santa" islâmica. Já era, portanto, um fanático islamita. O que isso tem a ver com o que os EUA fizeram, antes ou depois?

Outra coisa: os EUA injetaram dinheiro e armas para os grupos mujahidin que combatiam o exército sovietico no Afeganistão, mas de onde o leitor tirou que "a família que dominava a região" era os bin ladins? Bin Ladin era um renegado dentro da própria família: esta não teve nada a ver com o que ele fez. Daí porque o fato de que os Bush tinham amizade com os Bin Ladin não quer dizer absolutamente nada (a não ser, claro, que você seja uma mente delirante e conspiracionista, do tipo Michael Moore). Sem falar que, entre os grupos apoiados por Washington no Afeganistão, estiveram vários que não se tornaram terroristas. Portanto, afirmar que Bin Ladin seria uma “criação dos EUA” é uma falácia, para dizer o mínimo.

Mas digamos que sim, Bin Ladin tenha feito o que fez porque queria vingar Hiroshima, era um fruto direto da Guerra Fria e Bush era amigo da familia: em que – repito: em que – isso justificaria a morte de 3 mil pessoas? O que os mortos em 11 de setembro de 2001 tinham a ver com isso?

Como já disse, o que incomoda os antiamericanos, velados ou não, é que os EUA foram vítimas de um ataque terrorista, e isso nao podem negar. Obstinados em negar o óbvio, tentam achar justificativas para o que aconteceu dez anos atrás. Em um verdadeiro monumento à estupidez humana, desembocam sempre no mesmo raciocínio delinquente: os ataques teriam sido não um crime monstruoso contra a humanidade cometido por um bando de dementes, mas uma "resposta dos oprimidos" à "política internacional dos EUA" etc. E isso independentemente do que tenham feito ou deixado de fazer. Enfim, ODEIAM OS EUA NÃO PELO QUE FIZERAM, MAS PELO QUE SÃO: a terra da democracia e da liberdade, não importa o que digam.

Agora tenho um motivo a mais para não dar trela a esse discurso idiota: tenho sempre que ensinar o bê-à-bá a quem é incapaz de raciocinar em posição ereta. E isso, tenho de admitir, é um teste de paciência.

sábado, outubro 01, 2011

O BODE EXPIATÓRIO DO MUNDO

Um devoto anônimo da seita antiamericana - a religião que mais cresce no mundo, mais até do que o Islã ou os cultos evangélicos - me mandou um longo comentário em que se queixa, chorosamente, da "excessiva atenção" dada nos últimos dias aos dez anos da tragédia do 11 de setembro de 2001 nos EUA. Lembrando os bombardeios atômicos a Hiroshima e Nagasaki na II Guerra Mundial, ele (ou ela) diz lamentar o fato de nenhum militar norte-americano (ou de qualquer país aliado, enfim), ao contrário do que ocorreu com os alemães e japoneses, ter sido condenado pelas atrocidades cometidas contra a população civil (na Alemanha e no Japão, por exemplo). Afirma, ainda, ver "com indignação" as reportagens e documentários sobre os ataques terroristas, pois, segundo diz, "há muito não escuto falar nada sobre as atrocidades que os americanos cometeram contra o mundo" (sic). No final, solta a seguinte pérola:

Aliás, os eventos do 11 de setembro foram frutos dos presentes que a atrapalhada política internacional americana deu ao mundo: Bin Laden, Talibãs, Saddam Hussein, todos são frutos da burrice imperialista americana no Oriente Médio. E mesmo tendo armado todos esses e muitos outros terroristas e tiranos ao redor do mundo, ainda olhamos para os coitadinhos americanos com pena e dor. É lógico! Afinal, não foram os americanos mortos nos atentados que produziram os terroristas; foram os militares megalomaníacos e políticos gananciosos que o fizeram; os ataques não mataram nenhum deles; mataram apenas civis, inocentes e desprotegidos, da mesma forma que em Hiroshima e Nagasaki. Mas lá, como não foram americanos que morreram, ninguém lembra, ninguém fala.

Confesso que tenho pouca paciência para a discurseira antiamericana. Além de ser um trololó bucéfalo, muitos que o repetem nem se dão conta de que são antiamericanos, e que estão apenas justificando o que de pior existe na humanidade. Apenas repetem, mecanicamente, uma lengalenga ideológica condicionada pelo ódio, que muitos não admitem que sentem, contra os EUA - na verdade, contra a própria humanidade.

É exatamente esse o caso do autor do comentário acima. Aparentemente alguém indignado contra as injustiças da História (e o mundo é um lugar injusto, como todos sabem), acaba reproduzindo, na verdade, um dos discursos mais canalhas e criminosos de todos os tempos. Quase certamente sem o saber, acaba confessando-se cúmplice do terrorismo islamita, apelando para agravos passados.

O irritante desse discurso é que ele seria somente idiota, se não tivesse seguidores. Enquanto o Sol brilhar sobre a Terra, haverá gente, ingênua ou mal-intencionada, a lembrar as bombas sobre o Japão para destilar o ressentimento (muitas vezes, misturado a sentimentos inconfessáveis de inveja e admiração) contra os EUA e tudo que ele representa - a democracia, principalmente.

Sim, é verdade que os EUA cometeram ações que atingiram civis durante a II Guerra, como os bombardeios de Hiroshima e Nagasaki. Assim como TODAS as grandes potências que participaram do conflito, de ambos os lados, diga-se. Vistas à distância, quase 70 anos depois, tudo parece um gigantesco assassinato em massa (e, em muitos casos, foi isso mesmo). Mas pode-se abstrair daí o sentido da guerra? Os EUA mataram civis, assim como os alemães e os soviéticos também o fizeram (e em escala bem maior). Mas podem dizer que, ao contrário de seus inimigos, agiram em defesa de uma causa justa, e também (no caso das bombas sobre o Japão) para abreviar a guerra. Pergunte a um japonês o que ele acha do papel dos EUA na II Guerra e ele, quase certamente, agradecerá pelo fato de hoje o Japão ser um país pacífico e democrático, ao mesmo tempo em que se encolherá de vergonha pelo que seus avós fizeram nos países invadidos pelas forças nipônicas (nem por isso, porém, vou sair por aí insinuando que os japoneses "tiveram o que mereceram"). Do mesmo modo, os alemães terão que purgar, por gerações, o horror dos crimes nazistas (e não apenas contra os judeus). Sem falar nos cidadãos dos países libertados do jugo nazista pelas tropas de Patton e Eisenhower. Será que acreditam que os EUA deveriam se desculpar pelo que fizeram?

Aliás, acho mesmo que faltou alguém em Nuremberg: os soviéticos, que assinaram um pacto com os nazistas em 1939 e foram, assim, co-responsáveis pela eclosão da II Guerra. Sem falar nos milhões de mortos pela URSS de Stálin - antes, durante e depois do confronto. Para citar apenas um exemplo, ocorrido no começo da guerra: 25 mil soldados poloneses capturados foram exterminados pela polícia soviética na floresta de Katyn, em 1940. Somente alguns anos atrás, foi revelado que esse assassinato em massa foi cometido pelos russos (durante décadas, a propaganda comunista culpou os nazistas pelo massacre). E como esse há centenas, milhares de casos. Mas onde está a indignação contra esses crimes?

Falando nisso, também vejo com indignação a maioria das reportagens sobre o 11 de setembro veiculadas nestes dias, mas por um motivo bem diferente: a maioria delas, como já escrevi aqui, só faltam culpar os próprios EUA pelo ocorrido. Exatamente como faz o comentarista anônimo - aliás, ele (ou ela), vai além, e diz claramente que os EUA (e, portanto, todos os que morreram) tiveram o que mereceram.

O que tem a ver Hiroshima e Nagasaki com os atentados terroristas de 11 de setembro de 2001? Nada, claro. A não ser que você seja um papagaio repetidor de slogans e platitudes antiamericanas, para quem qualquer ato de terror cometido contra os EUA, por pior que seja, é justificado. Outro dia, respondendo a uma amiga minha que, provavelmente sem o saber, endossou o discurso anti-EUA por trás da lembrança de "outros setembros", afirmei que tal discurso, ao contrapor fatos como o golpe no Chile em 1973 à tragédia de dez anos atrás em Nova York e Washington, visava tão-somente a miniminizar e, em última instância, a anular a lembrança dos ataques terroristas. O mesmo digo agora dessa tentativa tosca de contrapor - é esse o verbo - Hiroshima e Nagasaki ao 11 de setembro (aliás, o autor do comentário não tem do que se queixar: as bombas atômicas sobre o Japão, ao contrário do que ele afirma, são um dos fatos mais lembrados e repisados da História).

Do mesmo modo, somente sendo muito cretino e tendo o cérebro totalmente lavado pela vulgata esquerdóide à la Noam Chomsky para enxergar no 11 de setembro o resultado dos "presentes que a atrapalhada política americana deu ao mundo". Bin Laden, o Talibã e Saddam Hussein não são "frutos da burrice imperialista no Oriente Médio", mas do fanatismo islamita e do totalitarismo, que não precisam de ninguém para se justificarem. A menos que se considere as figuras citadas acima como robôs teleguiados, sem vontade própria, ninguém é terrorista ou ditador devido à vontade alheia. Não foram os EUA, até onde sei, que criaram Kadafi, Ahmadinejad ou Bashar al-Assad. Também não foi o Pentágono ou a CIA que engendraram o Hamas e o Hezbollah. O envolvimento direto dos EUA nos assuntos do Oriente Médio começa em 1958, quando Eisenhower enviou soldados ao Líbano. A Irmandade Muçulmana, organização-mãe do Hamas, surgiu em 1928 - trinta anos antes. Portanto, mesmo cronologicamente, tentar atribuir a culpa pelo fanatismo islamita aos EUA é coisa de quem vê chifre em cabeça de burro.

(Aliás, se há alguém a se culpar pela formação de Bin Laden, não são os EUA, mas a finada URSS, pois foi a hoje quase esquecida invasão do Afeganistão pelo exército soviético em 1979 que levou o milionário saudita a deixar sua terra natal e a aderir à jihad contra os "infiéis". Mas, como não houve americanos na parada, disso ninguém lembra, ninguém fala.)

Ainda que os ataques terroristas de 11/09 fossem uma "resposta" à política norte-americana no Oriente Médio - notem bem: ainda que -, seria necessário um grau de canalhice muito grande para afirmar que os EUA "colheram o que plantaram" (pois é isso que se está dizendo). Seria o mesmo que dizer que as cerca de 3 mil pessoas que morreram tostadas e esmagadas nas Torres Gêmeas e nos aviões MERECIAM morrer, pois teriam sido um alvo "legítimo". Ora, por que não dizer que os mortos em Hiroshima também "mereceram morrer"?

É claro que dizer isso seria uma estupidez enorme, até mesmo para um antiamericano. Por isso esse discurso vigarista precisa vir coberto de um verniz "humanista", lembrando tragédias passadas - como se estas justificassem o terror. Em qualquer caso, trata-se de algo típico de delinquentes morais, em busca de um bode expiatório - e que melhor bode expiatório pode existir do que os EUA, que muitos odeiam e todos invejam?

Já disse e repito: o que incomoda gente como o anônimo que me mandou o comentário (e que está "indignado" por causa disso...) é que ele não pode negar que, em 11 de setembro de 2001, os EUA foram VÍTIMAS, e não autores, de um ataque hediondo - simplesmente o maior ataque terrorista da História. Isso essa gente não pode conceber, ou entender, porque quebra radicalmente o esquema mental em que estão presos. Estão tão acostumados a ver o mundo de forma maniqueísta, em termos de "bem" e "mal" (sendo o "mal" o satã imperialista norte-americano, e o "bem", por conseguinte, todos os que se oponham a ele), que as noções de bem e de mal, de justo e injusto, já se misturaram em suas cabeças deformadas, invertendo-se completamente. Simplesmente não conseguem sair desse atoleiro mental porque não conseguem enxergar além do ódio que sentem pela pátria de Jefferson e Lincoln. Não percebem, ou não querem perceber, que os bin ladins não odeiam os EUA e o Ocidente pelo que estes fizeram, mas pelo que são. Talvez por partilharem desse mesmo ódio. Os devotos da seita antiamericana podem até tentar disfarçar, mas sempre deixam esse ódio vir à tona. Enquanto eu estiver aqui, faço questão de retirar-lhes a máscara.