quinta-feira, novembro 19, 2009

O VEXAME COLOSSAL DO GOVERNO LULA EM HONDURAS


Lembram de Honduras? Ou melhor: lembram de Manuel Zelaya, o bigodudo que se mudou com malas e militantes para a embaixada do Brasil naquele país, e que desde então é considerado "hóspede" do governo brasileiro?

Pois é... De tão ridícula a pantomima armada pelos bolivarianos em Honduras, com o apoio de Lula e de Celso Amorim, o chapeludo já nem chama mais a atenção. Depois do fuzuê inicial ("golpe de estado em Honduras!", "golpe militar!" etc.), alguém lembrou de ler a Constituição do país e então as coisas começaram a ficar mais claras. Quase não se ouve mais falar na TV em "governo golpista", mas em governo provisório, ou interino, para se referir ao governo constitucional de Honduras. Até mesmo Obama, o queridinho das esquerdas de lá e de cá, parece ter se rendido aos fatos, tendo percebido que Zelaya é, afinal, um encrenqueiro, e que o melhor mesmo é reconhecer as eleições presidenciais de 29 de novembro. Na semana passada, depois de ajudar a fazer naufragar o acordo recém-alcançado com o governo interino, o aprendiz de Hugo Chávez decidiu sair da brincadeira, e declarou, a quem interessar possa, que não irá aceitar o resultado das eleições. Foi solenemente ignorado. O que mostra que ele já é carta fora do baralho e que quase ninguém, somente Chávez e o governo Lula, lhe dá mesmo a menor bola.

O vexame da diplomacia brasileira em Honduras é mesmo colossal. É, provavelmente, o maior de toda sua história. Para qualquer pessoa com um mínimo de capacidade cerebral, já está mais que claro que golpista, nessa história de Honduras, é Zelaya, e não os que o depuseram para preservar a Constituição. Digo para qualquer pessoa, menos para os bolivarianos e, claro, para o governo do Brasil, que insiste em tratar Zelaya como vítima de golpe e como o legítimo representante do povo hondurenho. Ou seja: insiste em passar vexame, intervindo diretamente na realidade política de outro país, como já escrevi bastante aqui. Daí porque é fácil deduzir por que o governo Lula tem mantido silêncio sobre a questão nas últimas semanas: é que a posição brasileira é tão absurda que, quanto mais se tenta justificá-la, maior é a vergonha.

Há alguns dias, recebi um e-mail de um amigo meu e colega de profissão, que pede para não ser identificado, sobre a questão de Honduras. Atendo a seu pedido de permanecer no anonimato, mesmo sem ter entendido, ate agora, por quê (se ele está tão certo da justeza da posição do Itamaraty na questão, por que esse receio todo em mostrar o rosto? Deixa pra lá...). Ele, meu colega, assim apresenta o que deve considerar um bom "argumento" para respaldar a posição de que houve golpe em Honduras em 28/06:

Quanto ao quiproquó de Honduras sobre o qual reitero que não quero me alongar, vou só dizer que: Zelaya feriu ou não a Constituição? Cabe dizer que Zelaya espertamente nunca verbalizou que a tal consulta que queria era com o intuito de reeleger-se. Ninguém é ingênuo de não achar que o cara queria mesmo a reeleição (mas no futuro, não agora), mas a ligação entre a tal consulta e o desejo de reeleger-se não é automática como querem fazer crer. Acho que este é um dos pontos-chave que deve ser levado em conta.

É incrível, mas, tirando o argumento do pijama ("o cara foi preso e expulso de pijama" etc.), esse é, até agora, o principal "argumento" do governo brasileiro para justificar o abrigo ao "hóspede" Zelaya: ele foi vítima de golpe porque a tal consulta que ele quis fazer, apesar de ilegal, não era para ele, Zelaya, não haveria tempo para ele se beneficiar da medida ("no futuro, não agora") etc. Em resposta, escrevi o seguinte e-mail a meu colega e amigo (omito, para sua paz de espírito, qualquer referência ao remetente):

(...), mesmo sabendo que vc não quer se "alongar" e que prefere escapar do debate, não resisto a responder uma questão que vc colocou em seu último e-mail sobre o mico histórico brasileiro em Honduras: se o mané zé laia queria a tal "consulta popular" pra decidir sobre a reeleição dele ou não, e que não seria pra ele porque não haveria tempo etc., é algo completamente irrelevante. A questão é que a Constituição do país proíbe a reeleição. E ponto. (...) não faz diferença se quem iria reeleger-se seria não ele, zé laia, mas seu sucessor - o importante é que ele violou uma cláusula pétrea da Constituição, como está claro no Artigo 239, e, ao fazer isso, perdeu IMEDIATAMENTE o cargo. O STF deles declarou a consulta ilegal e inconstitucional. Em outras palavras: ele, zé laia, tentou um GOLPE CIVIL. Foi isso que aconteceu.

Pra ficar mais claro: digamos que eu assalte um banco, mas diga que não fiz isso pra me beneficiar, mas pra, sei lá, ajudar alguém. Ainda assim, assaltei um banco. Cometi um crime. Ou não?

Enfim, (...), todos os argumentos que foram usados para justificar a política brasileira em Honduras caíram um a um. Não sobrou nada. Ainda espero você me convencer de que houve golpe em Honduras. Se o argumento for estritamente legal, não houve golpe nenhum, a não ser o tentado por zé laia. Por que eu devo mudar de idéia e dizer que houve golpe e que o governo Lula está certo na questão? Por causa de um pijama?

(...)

P.S.: Só por curiosidade: o Daniel Ortega acabou de dar um golpe institucional na Nicarágua. O que a OEA, a ONU, Obama, o MRE, (...) - enfim, a "comunidade internacional" - vão fazer a respeito?

Faz umas duas semanas que mandei o e-mail. Até agora não recebi resposta.

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