O segundo vexame se arrasta há cinco meses, e irá atingir o ápice no próximo domingo, dia 29/11, em Honduras. O governo Lula, pela boca do chanceler oficial Celso Amorim, declarou que não vai reconhecer o resultado das eleições presidenciais marcadas para este fim-de-semana naquele pequenino país da América Central. Motivo: considera Manuel Zelaya, o presidente deposto em 28/06 por tentar violar uma cláusula pétrea da Constituição do país, e que se encontra "hospedado" na embaixada do Brasil em Tegucigalpa, subitamente convertida em seu palanque e escritório político, o legítimo governante de Honduras, e insiste na tese de que ele foi derrubado por um "golpe de estado". Tese essa que, se conseguiu impor-se durante algum tempo após a deposição de Zelaya, por força única e simplesmente do espírito de rebanho e de um consenso forjado no seio da "comunidade internacional", só se sustenta pela ignorância mais completa sobre o que diz a Constituição hondurenha - passada a onda unanimista inicial, atiçada pela OEA do socialista José Miguel Insulza e pela ONU do sandinista Miguel D'Escoto, a razão e a simples leitura da Carta Magna hondurenha deixam claro que nada que se disse sobre Honduras é verdadeiro. Mesmo o governo Obama, que no começo engrossou o coro dos que condenaram o "golpe" e exigiram o "retorno imediato" do golpista Zelaya ao poder, percebeu que ele, Zelaya, é um encrenqueiro apoiado por Hugo Chávez e um fator de desestabilização, e que o melhor caminho para superar a crise em Honduras é garantir a realização das eleições presidenciais. Inclusive organizações importantes, como a Human Rights Foundation, reconheceram que o "golpe" que afastou Zelaya foi desfechado, na verdade, para garantir o cumprimento da Lei e preservar o estado de direito democrático. Mas o Brasil persiste no erro e, tal qual criança embirrada, encasquetou que, se Zelaya não retomar o trono, não haverá democracia. Zelaya, sim; eleições, não: esta é a fórmula da diplomacia lulo-petista para "normalizar" a situação no país.
Já escrevi bastante neste blog sobre a crise em Honduras. Provei - repito: provei - que a tese de que houve golpe em 28/06 contra Zelaya é uma fraude, uma mentira. Também provei - e desafio qualquer um a mostrar que estou errado - que o abrigo a Zelaya na embaixada brasileira contraria todas as normas e convenções internacionais, e que, ao fazê-lo, o governo Lula interveio na situação política de um país soberano, o que é uma violação da própria Constituição brasileira de 1988. Agora o governo Lula vem somar a tudo isso a infâmia, ao não aceitar a legitimidade de uma eleição democrática - cuja realização foi garantida pelo governo "golpista" que manteve o calendário eleitoral - porque quem tentou rasgar a lei maior do país não voltará ao poder. É algo de um ridículo atroz: entre a realização de eleições e a volta de um golpista à presidência, o Brasil prefere esta última. Desse modo, caminha juntamente com Zelaya para a irrelevância - exatamente o oposto do tão falado "protagonismo" brasileiro na questão hondurenha.
O mais risível nisso tudo é que a política do Itamaraty lulista para Honduras, assim como para o Irã, terá a partir de agora mais uma "justificativa", o antiamericanismo velho de guerra, tão manjado quanto idiota, uma vez que agora Obama está no lado oposto nessas duas questões. É que Obama, embora continue a ser o queridinho de Muamar Kadafi, pode até ser esquerdista, mas não é burro: ele já percebeu que apoiar Zelaya é o mesmo que dar apoio a Hugo Chávez e a suas pretensões megalomaníacas na região, além de respaldar um sujeito que diz ouvir vozes e ser vítima de raios emitidos por mercenários israelenses... Embora esquerdista e apaziguador como é, ele não quer jogar o prestígio de seu país na lama por tão pouco. Não é o caso do Brasil. Em Honduras, assim como na visita de Ahmadinejad, o governo Lula, por motivos ideológicos, psicológicos ou o que seja, não se acanha em jogar na lata de lixo a credibilidade de sua política externa. Honduras é o túmulo da diplomacia brasileira.
Como afirmei no início deste texto, não torço contra os objetivos proclamados pela política exterior de Lula e companhia, mesmo conhecendo seu caráter nitidamente ideológico. Lamento apenas que, com seus atuais protagonistas, ela traga tanta vergonha a quem ainda a tem.
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