terça-feira, novembro 24, 2009

ASNEIRAS, CINISMO OU LOUCURA?


A visita indesejável do genocida e antissemita Mahmoud Ahmadinejad, ontem em Brasília, deixou, como não poderia ser diferente, um rastro de enxofre. Não somente pela vinda em si do facinoroso e inimigo da humanidade, mas também pelos, digamos, "argumentos" que alguns asseclas do protagonismo internacional destrambelhado lulo-petista usaram para tentar justificar o injustificável.

Vejamos algumas dessas "pérolas" de lógica e de realismo político, pelas quais se está tentando apresentar o dia mais triste da história do Itamaraty como um grande feito da política externa brasileira e uma mostra de suprema sabedoria e pragmatismo.

A primeira gema saiu da boca de um deputado (do PT, claro), um certo Cândido Vaccarezza. O nobre parlamentar, como bom soldado do lulo-petismo, afirmou que as críticas da oposição (muito tímidas, por sinal) à visita de Ahmadinejad eram - vejam vocês - "preconceituosas" e "intolerantes". Aproveitou, ainda, para repetir o bordão oficial, divulgado pelos quatro cantos por certa imprensa oficialista, de que é melhor conversar com o Irã, pois isolar o regime não ajudaria em nada a trazê-lo para o lado da democracia etc.

Vocês leram certo: para Sua Excelência, quem se opõe à visita de Ahmadinejad é "preconceituoso" e "intolerante". Tem razão. Só porque, vejam só!, ele, Ahmadinejad, quer varrer Israel do mapa? Só porque ele nega o Holocausto, o genocídio mais documentado da História? Só porque ele dá armas aos terroristas islamitas do Hezbollah, do Hamas e do Jihad Islâmica, que trabalham para tornar realidade o que ele defende? Só porque no Irã os opositores do regime islamita, assim como os homossexuais e as minorias religiosas, são espancados barbaramente e assassinados pela polícia religiosa? Diante disso, condenar a visita de tão amável criatura só pode ser mesmo uma demonstração de preconceito e intolerância, não é mesmo?

Mas isso não é tudo: para boas almas como o ilustre parlamentar petista citado acima, isolar um regime como o iraniano é um erro, pois serviria apenas para radicalizá-lo ainda mais etc. e tal. Será mesmo? Desde que assumiu a presidência dos EUA, Barack Hussein Obama não tem feito outra coisa a não ser pedir desculpas aos aitolás iranianos pelos "erros do passado" e estender-lhes um ramo de oliveira. Pois bem. O que tem feito Ahmadinejad ante os sinais de paz da Casa Branca? Não somente ele não mudou um milímetro sua política em relação aos EUA e a Israel como RADICALIZOU suas declarações antiaocidentais e antiamericanas, tendo interpretado (corretamente, alíás) o gesto de Obama como um sinal de fraqueza e pespegando uns testes de mísseis balísticos capazes de atingir Israel com ogivas nucleares. Ogivas que o regime de Teerã deve estar tentando produzir, pois ele, Ahmadinejad, desde então só fez intensificar seu programa nuclear secreto, à revelia dos inspetores internacionais. Viram como é bom e realista "não isolar" um regime como o do Irã?

Mas as maiores asneiras, nesses dias tenebrosos, não saíram do cérebro de nenhum deputado petista em particular. São certas idéias feitas, ou lugares-comuns, que, repetidas à exaustão por supostos especialistas, com o ar mais sério do mundo para disfarçar a própria vacuidade mental, adquiriram ares de verdadeiros dogmas da política internacional. Um desses chavões, certamente o mais repetido, é que a visita do ditador iraniano poderá render bons frutos para o Brasil, em especial no "aumento da influência brasileira" no mundo e no comércio bilateral. No tocante ao primeiro suposto resultado da visita, o Brasil teria saído ganhando porque, além do apoio do Irã à candidatura brasileira a um assento permanente no Conselho de Segurança das Nações Unidas, o País teria se credenciado, após receber os chefes de Estado de Israel e da Autoridade Palestina, a servir de "mediador" no intrincado tabuleiro político do Oriente Médio - uma espécide de ponte entre os lados em conflito etc. Além disso - prestem atenção ao argumento -, ao ignorar as críticas por receber o negador do Holocausto e apoiador do terrorismo, o governo Lula estaria mostrando "independência" em relação aos EUA etc. etc.
.
Vejamos cada um desses "argumentos".
.
- "Aumento da influência internacional do Brasil": para os talleyrands e kissingers brasileiros, a visita de Ahmadinejad estaria justificada pela construção do que chamam de "uma nova configuração mundial de poder", de nítido sentido terceiro-mundista. Esse admirável mundo novo estaria sendo esboçado, entre outras coisas, pelo apoio dado por governos como o do Irã ao pleito brasileiro a um assento permanente no Conselho de Segurança das Nações Unidas - verdadeira obsessão do Itamaraty sob Lula. Pouco importa, segundo essas mentes privilegiadas, que esse apoio tenha sido dado por um ditador, e que o tão decantado aumento do protagonismo do País nos assuntos internacionais ocorra de mãos dadas com o namoro com ditaduras. O custo político dessa opção pró-tiranias, aliás, não tardará a aparecer. Assim como já está evidenciado o caráter megalomaníaco de uma política externa que prioriza alianças com Ahmadinejad e Hugo Chávez e intervém em Honduras para restabelecer um golpista bolivariano no poder.

- "Aumento do comércio bilateral": Esse foi apresentado por muitos como o argumento definitivo para aplaudir a decisão de receber o ditador iraniano. "Que importa se o sujeito é um louco e se o país que ele preside é uma ditadura? O importante é o comércio, o interesse nacional. Temos de ser pragmáticos" etc. Cheguei a ouvir gente que se considera inteligente repetindo essa asnice. Não sei o montante das trocas comerciais entre Brasil e Irã, mas digamos que ele aumente, após a visita de Ahmadinejad, em 100%, ou em 200%, ou, sei lá, em 1.000%. Que diferença isso iria fazer para mudar o fato de que no Irã os opositores são executados e mulheres são enforcadas por adultério? Que diferença fariam os milhões ou bilhões do comércio entre os dois paises para mudar o fato de que o Irã financia o terrorismo do Hamas e do Hezbollah? Que diferença faria um acordo comercial com a Alemanha de Hitler nos anos 30 para evitar o Holocausto?

- A tese do Brasil como "mediador" no conflito do Oriente Médio: Trata-se de uma preciosidade, saída das mentes de gênios da diplomacia itamaratiana - ao receber Ahmadinejad, o Brasil estaria dando uma prova de "independência" na questão, credenciando-se para "mediá-la". Além do ridículo da pretensão de "mediar" a busca da paz junto a quem não quer a paz e trabalha contra ela - Lula já chegou a dizer, num arroubo de inspiração chamberlainiana, que é preciso conversar até com quem se opõe à paz... -, o governo brasileiro pretende com isso mostrar que não segue a política dos EUA e de seus aliados. Que recebe Ahmadinejad, em vez de repudiá-lo, para não se subordinar a eles, os gringos imperialistas, o que é, na verdade, uma forma de subordinação mental - como se fosse preciso concordar 100% com a política de Washington para condenar o antissemitismo de Ahmadinejad. É preciso repudiar Ahmadinejad por nós mesmos, e não por outrem.

Essa obsessão por mostrar "independência", nessa e em outras questões, não é capaz de esconder a profunda insegurança que está por trás dela. É algo que beira a cretinice e a mais completa ignorância. Na visita da segunda-feira, Lula defendeu o "direito" de o Irã ter um programa nuclear "para fins pacíficos" - como se ter um programa nuclear secreto e pregar insistentemente a destruição de outro país tivessem alguma coisa a ver com qualquer "direito"... Será que não sabem que Ahmadinejad prega sistematicamente a destruição de Israel e, portanto, o extermínio de sua população? Não custa lembrar: Chamberlain e Daladier acreditaram quando Hitler disse em Munique, em 1938, que a remilitarização da Alemanha não tinha objetivos agressivos. Era para "fins pacíficos"...
.
A mesma idéia idiota aparece num dos órgãos oficiosos da propaganda lulo-petista, a revista Carta Capital desta semana. Em reportagem em que tenta edulcorar o regime de Teerã, mostrando que ele não é tão ruim assim, pois, entre outras coisas, censura, tortura e mata sensatamente, "como a antiga URSS", a revista de Mino Carta nem sequer se fia na lorota do programa nuclear "pacífico", mas defende abertamente o direito de a teocracia iraniana ter armas nucleares. E o faz apelando para o velho discurso antiamericano, como é de seu feitio, afirmando o seguinte, na página 61:

"Os EUA não fizeram objeções quando Israel, Índia e Paquistão obtiveram armas nucleares e estavam dispostos a aceitar que o Xá as tivesse, como Henry Kissinger veio a admitir. Há razões para aplicar outros pesos e medidas aos aiatolás, que insistem em que seu programa é pacífico?"

Respondo: não, não há razões para aplicar "outros pesos e medidas" ao Irã. Há, sim, razões lógicas e de bom senso para não querer que os aiatolás coloquem as mãos na bomba atômica. Nenhum dos Estados citados acima fornece armas a movimentos terroristas que juraram destruir outro país como faz o Irã ao patrocinar o terrorismo do Hezbollah no Líbano e do Hamas e da Jihad Islâmica nos territórios palestinos. O Paquistão, que tem sua parcela de culpa por ter apoiado o Taliban no Afeganistão e por apoiar os separatistas da Caxemira, não o faz, porém, visando a varrer do mapa a Índia, até porque sabe que isso é impossível, mesmo tendo a arma nuclear. O Irã, por sua vez, tem no aniquilamento de Israel um dos pilares de suas políticas externa e interna. Diante disso, há motivos de sobra para desconfiar das declarações de seus aiatolás e, sobretudo, de Ahmadinejad, a respeito do caráter "pacífico" de seu programa nuclear - além de tudo, secreto. Aliás, se o programa é mesmo pacífico, por que Ahmadinejad insiste em não cumprir as determinações da Agência Internacional de Energia Atômica?

Por tudo isso que está acima, não é difícil perceber que o Brasil não ganhou nada com a visita de Ahmadinejad. O País não ganha nada cortejando ditadores e terroristas. Pelo contrário, só perde. O País e a humanidade.

Talvez a melhor maneira de mostrar a miséria política e moral a que chegou a política exterior lulista é relembrando um fato da História recente. Em 1974, o deputado Chico Pinto, do MDB (Movimento Democrático Brasileiro, partido de oposição ao regime militar), teve o mandato cassado por ter pronunciado um discurso na tribuna da Câmara protestando contra a visita ao Brasil do ditador do Chile, general Augusto Pinochet. Chico Pinto, que morreu em 2007, passou para a História como um mártir da luta pela democracia e pelos direitos humanos no Brasil, e assim é considerado pelos mesmos que aplaudiram a visita de Ahmadinejad. E olhem que a repressão no Chile, violenta e brutal como foi, não chega aos pés da que existe no Irã dos aiatolás. Se fosse hoje, Chico Pinto seria execrado pelos petistas por se opor ao "interesse nacional" - mesmo argumento usado pelos militares que o cassaram.

Antes que digam: não, não acho que se deve manter relações somente com quem pensa igual a nós mesmos, com quem concorda com nossos pontos de vista. Acho esse argumento um primor de sonsice e de estupidez. Creio apenas que não se deve, em nome do interesse nacional, do comércio ou do que quer que seja, cruzar um certo limite civilizacional. E esse limite, no caso do louco de Teerã, foi transposto pelo governo Lula. A política externa deve guiar-se por interesses, é óbvio, mas também por valores, sem os quais aqueles perdem o sentido - do que adianta conquistar uma cadeira permanente no Conselho de Segurança das Nações Unidas, por exemplo, se for para defender tiranias? Em outras palavras, para ficar mais claro: não devo deixar de conversar com meu vizinho se ele não pensa como eu, ou se não torce para o mesmo time de futebol, mas tenho o direito - melhor dizendo: tenho o DEVER - de não cortejá-lo, ou, pelo menos, de manter uma distância prudente, se ele for um estuprador ou um assassino. Tanto nas relações pessoais como nas relações entre os países, um mínimo de pudor, de decência, é necessário.

No caso do Irã, esse pudor, essa decência, se é que havia, foram parar na lata do lixo pelas mãos de Lula e Celso Amorim. Ao ignorar o caráter antissemita e terrorista do governo de Ahmadinejad, e ao tentar se colocar como "mediador", como "neutro" entre Israel e a teocracia iraniana, entre uma democracia e um regime terrorista e genocida, o governo brasileiro está, na prática, tomando o partido deste último. Está se colocando ao lado do terror e da barbárie contra a civilização.

Não transigir com o mal, nenhuma tolerância com os intolerantes: estas regras tão comezinhas da vida civilizada deveriam ser também mandamentos das relações exteriores, tão ou mais importantes quanto aumentar o comércio e encontrar novas oportunidades de negócios. E não somente do ponto de vista moral, mas também político. Receber com flores e tapete vermelho crápulas como Ahmadinejad não é falta de preconceito. É falta de cérebro. E de vergonha na cara. Algo que só se justifica por uma enxurrada de asneiras, cinismo ou loucura.

Nenhum comentário: