Sempre tive um pé atrás com estatísticas. Não somente por detestar Matemática quando estava na escola, mas principalmente por saber que os números estão longe de ser uma coisa puramente abstrata, neutra, imparcial. Pelo contrário: uma das frases que jamais esqueci é aquela que diz que a estatística é "a arte de torturar números para que eles digam somente o que nos interessa".
Essa frase fica ainda mais certa diante de alguns fenômenos contemporâneos. Movimentos de "minorias", como o tal "movimento negro" ou o "movimento gay" (ou GLBTT, ou outra qualquer sopa de letrinhas), são particularmente afeitos a números e estatísticas. Quanto ao primeiro, seus militantes gostam de ostentar dados "oficiais" que dizem que 50% da população do Brasil é "negra" ou "não-branca" (o que seria a mesma coisa). Com isso, esperam reforçar a tese, insistentemente repetida, de que o Brasil é um país racista, tanto ou mais do que a África do Sul do apartheid ou os EUA na época das leis Jim Crow, pois metade da população - os "negros" - estaria excluída das benesses do "sistema" etc. Haveria uma elite de brancos europeus, de olhos azuis e pele clara, de um lado, e uma grande massa de irmãos negros oprimidos, de outra. E nada no meio.
Seria um simples erro matemático, se não fosse o resultado de uma óbvia manipulação estatística, com fins evidentemente políticos e ideológicos. Em primeiro lugar, de onde tiraram que METADE da população brasileira - provavelmente o conjunto racial e etnicamente mais heterogêneo do mundo - é formada exclusivamente por "negros" ou "afro-descendentes" (uma categoria que, aliás, não quer dizer rigorosamente nada, visto que toda a humanidade veio da África)? E os mestiços de branco com negro (mulatos), ou de branco com índio (caboclos), ou de índio com negro (cafuz)? Ou de mulato com negro, ou de índio com mulato, ou de mulato com mulato, ou com italiano, ou com japonês, e assim por diante?... Onde foram parar todos esses, os mestiços, que constituem a MAIORIA da população brasileira? Uma população, aliás, caracterizada acima de tudo pela miscigenação, ou pela ausência de disciminação racial, por uma sociedade metarracial, como escreveu quem mais entendeu até hoje do assunto, o sociólogo pernambucano Gilberto Freyre? Foram todos reunidos e enquadrados num único grupo, num único rótulo: "negros".
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Ou seja: não sendo capazes de promover um etnocídio, os militantes da "negritude" acharam por bem simplesmente apagar dos registros oficiais os mestiços, ou todos aqueles que não são, a seus olhos, suficientemente "puros" racialmente, como os "pardos", que passaram a ser considerados, por um ato burocrático, "negros". Promoveram, assim, um genocídio estatístico, um estatisticídio - se é que existe tal palavra -, em nome de uma visão essencialmente racista, ou racialista: quem não é branco é negro, e ponto final. Todos os demais - pardos, mulatos, cafuzos, caboclos, índios, japoneses - desapareceram, como que por encanto. E o que é mais curioso: em nome da "diversidade"...
O mesmo tipo de mistificação estatística pode ser encontrado no chamado "movimento gay", que há tempos vem divulgando dados assustadores sobre um suposto "massacre" de homossexuais no Brasil. De acordo com os números brandidos por ONGs gayzistas, o Brasil ocuparia o incômodo e inaceitável primeiro lugar em crimes contra homossexuais no mundo - em 2008, teriam sido 190 os homossexuais assassinados no Brasil (um a cada dois dias). Enfim, um verdadeiro campo de extermínio de homossexuais, eliminados como gado por causa de homofobia. Terrível. Mas verdadeiro?
Não, se formos ver os números mais de perto. Digamos que os militantes gays estejam certos quanto à motivação dos crimes. Que as mortes de homossexuais sejam mesmo o resultado de furor homofóbico, ou do que seja. São 190 mortos por ano, numa população de 190 milhões de habitantes. Dá algo como 0,01% da população. É muito menos do que se morre por causa de tiroteios nas grandes cidades, ou nas estradas num único fim de semana. Certamente, é algo que está muito aquém do que se poderia considerar um "genocídio", como clamam, indignadíssimos, muitos militantes gays.
Notem que estou admitindo ser verdade que os homossexuais mortos o foram pelo motivo geralmente apontado pelas ONGs gayzistas - a tal "homofobia". Admito que, vá lá, alguns casos podem se encaixar nessa classificação. Mas como classificar como "homofobia" o assassinato de um homossexual por um garoto de programa, que matou o cliente em busca de dinheiro? Aliás, o criminoso, nesse caso, não é também homossexual ou, pelo menos, bissexual, já que aceita fazer sexo com homens em troca de pagamento? Teria a vítima sido morta por homofobia ou por um comportamento de risco? E o cliente de uma prostituta que é por esta assassinado? Morreu por, sei lá, heterofobia? Se a vítima for velha ou gorda, então foi um crime de ódio a velhos ou a gordos? E se for estrangeira, é um caso de xenofobia?
Acabei de ler, num portal de internet, um relato da morte de um conhecido apresentador de TV da Bahia, esfaqueado por um garoto de programa. O texto apresenta o caso como mais um exemplo - o 19o caso este ano naquele estado, segundo o autor - de morte por "homofobia". Será mesmo? O próprio autor do texto afirma que "afinal, não deixa de ser suicida brincar de roleta-russa com garotos de programa prontos para tudo", o que a vítima fazia constantemente. Homofobia? Tem certeza?
Há outros exemplos, ainda mais eloqüentes. Alguns meses atrás, começaram a aparecer cadáveres de homens assassinados a tiros em uma praça na periferia de São Paulo. O local é conhecido como um ponto de encontros de homossexuais. As vítimas, descobriu-se, eram todos gays - alguns dos 190 mortos por ano, segundo as ONGs gayzistas. Pois bem. Logo se começou a falar em "homofobia" para descrever o que tinha acontecido. Ninguém atentou para o detalhe de que as vítimas eram mortas depois de fazerem sexo com o assassino - que é também, portanto, homossexual. Logo, gays matando gays. Isso caracteriza homofobia?
Os militantes racialistas e gayzistas são uma turma bastante atuante e barulhenta. Gostam de posar de vingadores e defensores de grupos sociais supostamente discriminados e ameaçados, e não costumam aceitar muito bem qualquer crítica. Querem fazer crer que vivemos em um país onde um encapuzado da Ku Klux Klan está em cada esquina, pronto para saltar e linchar o primeiro negro ou gay que aparecer à sua frente. A distorção que fazem das estatísticas, porém, mostra uma realidade bem diferente. Na verdade, querem criar uma nova realidade, um novo país, já que o país real, o Brasil, não é racista ou homofóbico o suficiente para eles. Como aqui não há discriminação racial ou sexual, pelo menos não nas dimensões que eles gostariam que existissem, torcem os números para que eles digam o que eles, militantes, querem ouvir. Ou, então, tratam de impor artificialmente essa divisao; por exemplo, mediante as cotas raciais nas universidades, ou fazendo pressão para a aprovação de leis criminalizando opiniões e até piadas de bar consideradas ofensivas ao homossexualismo.
O mais curioso - ou mais esquisito - é que são esses mesmos militantes "pela tolerância" e "pela diversidade", tão atuantes num país como o Brasil, que costumam ignorar a intolerância e a homofobia onde elas realmente existem. Em lugares, por exemplo, como o Irã, onde o presidente Mahmoud Ahmadinejad, que virá ao Brasil em breve para encontrar-se com Lula, já afirmou que lá eles não têm esse problema, porque lá não existem homossexuais... Há alguns dias, houve a parada gay no Rio de Janeiro. Um dos que participaram, e discursaram, foi o ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc. Ele falou algo como "respeito à biodiversidade sexual". Não faço a menor idéia do que seja biodiversidade sexual. Sei apenas que Carlos Minc é ministro do governo Lula, e que Lula vai encontrar-se com Ahmadinejad.
Por chamar a atenção para esses fatos, já fui, claro, chamado de racista e homofóbico. Já me acostumei a isso: na falta de argumentos, apele para adjetivos, é o que fazem os militantes racialistras e gayzistas. É o preço a pagar por não me submeter à ditadura do politicamente correto, por ousar pensar com o próprio cérebro, e não com estatísticas falsificadas. Sempre que se mistura militância política com números, a vítima é a verdade.
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