domingo, novembro 15, 2009

MINHA ENTREVISTA COM LULA


Um grande ator que se fez passar por Luiz Inácio Lula da Silva deu entrevista ao jornalista Kennedy Alencar, mostrada hoje com estardalhaço na Rede TV! Não acreditem no que lá está dito. Aquele é um Lula para consumo externo. O verdadeiro Lula é o que está no diálogo a seguir. É o Lula com quem eu conversei um dia desses, num terreno baldio, à meia-noite, tendo uma cabra vadia que por ali pastava como testemunha solitária.

Infelizmente, não disponho de registro da minha conversa com o presidente da República. Foi uma condição que ele impôs para dizer o que me disse, que fosse algo totalmente em off. Também foi ele quem escolheu o horário e o local da entrevista, a qual compareceu sem assessores e sem gravata, a camisa desabotoada na altura do peito, uma cigarrilha entre os dedos e um copo de Johnny Walker 12 anos na mão.

Leiam, abaixo, as confissões de Sua Excelência.

- Boa noite, sr. presidente. Antes de mais nada, gostaria de agradecer a sua entrevista...

- Deixe de frescura, rapaz. A gente tá só nós dois aqui, não tô vendo nenhuma platéia. Não tem nenhum jornalista chato aqui pra atrapalhar. Não precisa desses frufrus comigo, não. Vai uma dose aí?

- Não, obrigado. Vamos começar, então, falando um pouco sobre sua infância.

- (Abre um sorriso.) Bem, cê sabe que tem um filme aí... Mas eu adoro repetir essa história. Você sabe que eu nasci lá em Caetés, de uma mulher que nasceu analfabeta. A diferença é que ela era analfabeta por falta de opção, porque não pôde estudar, coitada, teve oito filhos, o marido a abandonou... Já eu continuo analfabeto por opção mesmo, porque acho esse negócio de estudar uma chatice, só de pensar me dá azia. Talvez, se os livros tivessem menos palavras e mais figuras, eu poderia, sabe, até me dar o trabalho de ler algum sem cair no sono. Mas, como eu ia dizendo: nasci na pobreza, passei fome, a gente só tinha, sabe, uma farinhazinha rala pra comer, às vezes nem isso... Hoje, claro, a coisa é diferente: a farinha, mesmo não sendo pouca, é meu pirão primeiro.

- Muitas pessoas dizem que o senhor gosta de lembrar de sua infância sofrida como uma forma demagógica de criar um culto da personalidade em torno de sua figura. O senhor já chegou a dizer que o "sangue do povo" corre em suas veias etc. e tal. Isso não é demagogia, visto que outros políticos, como Orestes Quércia e Richard Nixon, também tinham origens humildes? Nixon, inclusive, usava muito suas origens de forma apelativa e piegas para angariar simpatia e desviar a atenção de suas pilantragens.

- (Visivelmente desconfortável.) Olha, você está coberto de razão. (Toma um gole.) Mas, sabe, não sou doido de sair por aí abrindo meu coração. Faço isso aqui porque, sabe, ninguém vai saber dessa nossa conversa. A demagogia é uma necessidade da política. Graças a Deus, eu tive, sabe, uma sorte danada, pois não nasci, sabe, em berço de ouro, venho do povo, posso usar isso, sabe, como uma vantagem. Principalmente num país como o Brasil, onde ter nascido pobre é quase uma obrigação, uma verdadeira religião, que alguém chamou de "pobrismo". Posso dizer que até os sete anos eu não sabia o que era arroz, por exemplo, que não vai soar falso. Posso usar isso também, sabe, como uma desculpa para nunca ter lido um livro na vida, embora aqui eu tenha que rebolar um pouquinho pra convencer alguns. É sempre bom ter, sabe, uma história triste pra contar. O povão gosta. Os intelectuais também. Eles precisam, sabe, de um santo, um símbolo, um messias. Ou seja, posso até derramar uma lágrima para as câmeras de vez em quando, e muita gente vai se emocionar. O Duda Mendonça me aconselhou isso em 2002: "Presidente, não esqueça de contar aquela história triste sobre sua prisão ou a morte de sua primeira esposa. Não esqueça de chorar. Dá voto. Sempre funciona". Espere até sair esse filme que fizeram sobre mim, você vai ver: vai faltar lenço no mercado (risos).

- Certa vez, o senhor disse que não era nem de esquerda, nem de direita, mas sim um "torneiro mecânico". O que é ser politicamente torneiro mecânico?

- (Toma outro gole.) É isso mesmo que eu quis dizer quando falei isso: absolutamente nada. Sabe, esse negócio de esquerda e de direita é só um jeito que eu achei de enganar os trouxas. Todo mundo sabe que eu sou de esquerda, sempre fui, só idiotas como o Arnaldo Jabor acham que não, que eu traí meus ideais de juventude etc. Besteira! Meu único ideal, desde a época do sindicato, era chegar ao poder, e a esquerda tem os meios pra isso. Mas é claro que eu não sou burro: (baixa a voz, em tom conspiratório) sou esquerdista, amo o Fidel Castro, meu grande ídolo, fundei com ele o Foro de São Paulo, que graças a Deus ainda tem gente que duvida que existe ou que é só um clube de amigos, mas, sabe, não posso deixar isso dar na vista. Ou seja, é muito mais fácil e mais seguro dizer pros empresários que eu não vou mexer no bolso deles e, ao mesmo tempo, falar mal do neoliberalismo, que eu nem sei o que é, ou ir a um congresso do PCdoB, ou botar um boné do MST na cabeça. Sou assim, uma metamorfose nauseante, digo, ambulante. Assim eu posso, sabe, posar de pragmático e realista, essas palavras tão bonitas, deixo todo mundo satisfeito e garanto o apoio pra, se for preciso, eu mandar tudo isso pro alto e deixar cair a máscara. Ou seja, é como no futebol: ninguém faz gol sozinho.

- Falemos sobre o partido que o senhor fundou, o PT. Até 2002, o PT defendia uma política considerada radical, que assustava muita gente. O PT se considerava, e se considera até hoje, um partido socialista, e ficou anos gritando "Fora FHC". Antes disso, o partido foi contra a eleição de Tancredo Neves no Colégio Eleitoral em 1984, se recusou a assinar a Constituição de 88, foi contra o Plano Real em 94, contra as privatizações... De repente, houve uma mudança radical, sua candidatura se declarou convertida a tudo aquilo que se dizia contra antes, e o senhor virou o "Lulinha paz e amor". No entanto, nem o senhor, nem o PT jamais se declararam arrependidos quanto ao passado de militância socialista. É possível haver conversão sem confissão nem arrependimento?

- Você me vem com cada pergunta... (Longa pausa.) Olha, é claro que não. Mas veja, eu já respondi isso antes, mas quase ninguém prestou atenção. Eu respondi quando dei aquela declaração de que no governo a gente não pode mais fazer bravata... Ou seja, se tivessem ouvido direito a frase, teriam percebido que tudo que eu disse antes, durante toda minha vida política, não passou, sabe, de demagogia: eu só estava defendendo aquilo porque no momento era útil pra gente, entende? Eu tava esperando a chance de chegar lá (aponta para o alto) pra fazer, sabe, exatamente a mesma coisa que eu sempre condenei nos outros governos. Faz parte, sabe, do jogo: se a gente percebe que pode ser bom pra nós, a gente aproveita. Se for bom pros outros, pros inimigos, então a gente desce o pau. Depois, a gente se apropria, diz que sempre defendeu aquelas medidas, diz que nunca antes neste país houve um governo tão comprometido com a estabilidade econômica etc., e espera que todos se esqueçam. É uma tática. Os comunas eram craques nisso.

- Uma das críticas que mais fazem a seu governo é sobre as alianças. O PT se arvorou durante décadas como o partido da "ética na política", o único puro entre todos os demais. Agora, se apresenta como igual a todos, aliando-se com figuras que antes deplorava, como Sarney, Collor, Maluf, Jader Barbalho, Renan Calheiros... Coisas que antes o PT condenava, como o nepotismo, o fisiologismo, a corrupção, são justificadas pelo governo. O senhor mesmo disse recentemente em entrevista que, se Jesus Cristo fosse um político brasileiro, teria que se aliar a Judas. Como explicar tamanha reviravolta sem cair no cinismo?

- (Pausa. Toma um gole. Esvazia o copo.) Não tem como explicar. É como eu disse antes: se um discurso nos beneficia, se nos ajuda a ganhar votos, então a gente o adota, grita, radicaliza, joga lama em todo mundo. Isso até o momento, sabe, em que a gente precisa se desfazer desse discurso e fazer parte do jogo. Ataquei o Sarney no passado, chamei ele de pai dos ladrões, assim como apareci como o anti-Collor em 89, não porque eu tivesse alguma coisa contra eles ou fosse assim tão diferente, mas porque isso, sabe, dava Ibope na época. Hoje não dá mais Ibope, mas eu estou no governo, preciso deles, entende? Do Collor, do Sarney, do Maluf, do Jader Barbalho, do Renan Calheiros... Preciso deles todos, e eles também precisam de mim. É uma simbiose perfeita, sabe? Antes a gente esculhambava o FHC porque ele se aliou com o Antônio Carlos Magalhães e comprou um magote de deputados para passar a emenda da reeleição, mas, sabe de uma coisa? Eu gostaria de ter estado no lugar dele. Ele fez um monte de coisas que eu gostaria de ter feito. Aquela sacada do Plano Real, aquilo foi genial... Nós tínhamos que tentar destruí-lo. Do mesmo jeito as alianças: era a gente que deveria ter se aliado com ACM, não ele! Ele é vaidoso, acha que um operário como eu não daria certo na presidência. Então, me alio com Collor ou Maluf só pra mostrar que posso mais que ele.

- Isso parece complexo de inferioridade seu, presidente...

- (Elevando a voz.) Nada disso! Não! É que eles não aceitam alguém como eu, um sujeito sem instrução, sem diploma, no governo! É ele, FHC, que é invejoso, ele fala com o fígado. Ele... (Acende um cigarro.) Ele tem inveja de mim, sabe?

- Não entendi, presidente. Para mim, parece o contrário... FHC derrotou o senhor duas vezes no primeiro turno. E nada que existe hoje se assemelha ao que foi a oposição do senhor e do PT ao governo FHC. Tarso Genro chegou a sugerir o impeachment. Acho que é o senhor que tem inveja do FHC.

- (Visivelmente nervoso.) Aquele intelectualzinho de merda! O quê? Só porque eu não fiz universidade, só porque eu fui metalúrgico, nem sei conjugar verbos, eu não posso me aliar com gente pior do que ACM? Acredita que ele, FHC, teve o desplante de publicar um artigo de jornal um dia desses dizendo que eu sou um autoritário e pratico um, como foi mesmo que ele disse?, "absolutismo popular"? Não se conformam com um peão na presidência. É tudo preconceito porque eu não estudei...

- Presidente, falemos agora sobre um assunto desagradável, o mensalão...

- (Interrompendo.) Antes que você entre nesse assunto, vou lhe adiantar, sabe, uma coisa: numa entrevista que está para sair um dia desses, eu dou uma nova versão sobre o que aconteceu. Vou dizer que o mensalão foi uma tentativa de golpe. Isso mesmo. Vou dizer que foi tudo um imenso complô, a maior armação que já existiu contra um governo. Vou tentar convencer os otários que Marcos Valério, o nosso Delúbio e Roberto Jefferson eram agentes tucanos, ou coisa que o valha. Vou botar a culpa numa conspiração da "elite corrompida" que não aceita um "operário" na presidência do país etc. e tal. Se insistirem no assunto, vou lembrar que essa história de mensalão começou lá atrás, com os tucanos em Minas. Se não der certo, vou forçar a barra e repetir que a culpa não foi do governo, mas de "algumas pessoas" dentro do PT, os tais aloprados de que eu já falei, sem citar nenhum nome. É claro que é tudo balela, que é tudo lorota, que não houve tentativa de golpe coisa nenhuma - aliás, se houve tentativa de golpe, foi a mais governista que já existiu, porque a oposição, o DEM, o PSDB, perdeu a chance de fazer o impeachment e apostou naquela besteira de "pato manco" nas eleições em 2006. Botaram até um bobalhão pra concorrer comigo, aquelo picolé de chuchu do Alkmin... Se deram mal, os bobocas.

- Mas o senhor acha que as pessoas vão acreditar dessa vez?

- (Abrindo um sorriso irônico.) Meu caro, se todo mundo engoliu quando eu disse, na época do mensalão, que caixa dois todo mundo faz, que fui traído, que eu não sabia de nada, não tinha visto nada... É claro que vão acreditar em mim! Todo mundo acredita em mim há trinta anos! Já me endeusaram, já me santificaram, estou acima do bem e do mal. Você não percebe? Eu sou Padre Cícero, Antônio Conselheiro, Lampião, Getúlio e Jesus Cristo, ninguém pode comigo. Sou como escreveu aquele doidão lá de São Paulo que faz umas peças de teatro que ninguém entende direito, o Zé Celso Martinez Corrêa: um presidente antropofágico, ou sei lá o quê. Comigo, o mal vira bem, o preto vira branco, entendeu? Tem mais: na tal entrevista de que eu falei, vou dizer ao babaquinha que, um dia, depois que eu sair da presidência, vou investigar o que aconteceu. Vou fazer todos esquecerem do Collor, que só foi julgado depois de impeachado, e que ainda por cima foi absolvido pelo STF. Com isso, vou querer aparecer, sabe, como detetive, em vez de como o chefe do esquema. Como se eu não tivesse tido nada a ver com o negócio. Entendeu a jogada? Eu já tenho a maioria do Congresso e grande parte da mídia nas mãos. Ou seja, com isso e mais o Bolsa Família, que me dá uns 80% de popularidade, eu posso dizer qualquer coisa que eles acreditam.

- Por falar no Bolsa Família, há quem diga que ele não passa de uma medida assistencialista e paternalista, que apenas reproduz a pobreza e velhos vícios clientelistas da política brasileira. Esse, aliás, era o discurso do senhor e do PT antes de chegarem ao poder. O que o senhor tem a dizer sobre isso?

- (Olhando para os lados.) Olha, vou te confessar uma coisa: é isso mesmo. Aquela discurseira toda que a gente fazia antes contra o assistencialismo, era tudo discurso eleitoreiro, era pra ganhar votos, e só. Ou seja, era bravata. O mesmo pro PAC: é tudo embromação, uma sigla vazia, que a gente espera ser útil pra eleger a Dilma, ou seja, pra eu ter um terceiro mandato, em 2010. A gente pegou os programas do FHC, botamos um nome bonito e começamos a dizer que íamos reinventar o Brasil. De quebra, ainda chamei de burro e de ignorante quem vê assistencialismo e exploração eleitoreira da miséria no Bolsa Família, como a gente via quando não era a gente que fazia isso. Ou seja, quando não era a gente que estava se beneficiando politicamente da distribuição da esmola estatal, a gente bravateava, gritava, dizia que era assistencialismo, essas coisas. Agora, com a gente por cima da carne seca, o discurso tem que se ajustar a essa nova situação. Primeiro tentamos com o Fome Zero, que foi um fracasso, não passou de uma jogada de marketing que não deu certo. Com o Bolsa Família, pórém, a gente caprichou. É claro que o Bolsa Família não foi feito pra diminuir a pobreza coisa nenhuma, diferente do que a gente diz na propaganda. Pelo contrário: é preciso que os pobres continuem pobres, que se multipliquem. Senão, como é que eu vou garantir essa popularidade toda? Ou seja, quanto mais pobreza, mais gente dependendo do Estado (ou seja: da gente). Quanto mais pobres comendo, literalmente, em nossa mão, melhor. Sou ou não sou um gênio? (Dá uns pulinhos. Gargalhadas.)
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- Mas então, senhor presidente, o discurso oficial de o Bolsa Família ser um programa de transferência de renda, para diminuir a pobreza, é tudo conversa mole pra boi dormir?
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- (Risinhos.) Claro, meu filho. Ou por que você acha que a gente comemora que cada vez mais gente, e não menos, é "beneficiada" pelo Bolsa Família? Beneficiados, beneficiados... Beneficiado sou eu, ora! (Risos.)
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- Presidente, na semana passada tivemos um apagão que deixou 18 estados sem energia. Muita gente está duvidando das explicações que o governo deu, acham que elas não são convincentes... Foi mesmo um raio ou é tudo incompetência que o governo não quer admitir?

- (Rindo alto.) É claro que é incompetência! Mas por que eu iria admitir? Mandei o Edison Lobão dizer que tinha sido um raio que parou Itaipu e dar o assunto por encerrado, mas não contava que alguém na área técnica ia lembrar que é preciso mais que isso pra deixar meio país no breu. Reconheço que cometi um erro nesse caso, pois a Dilma Rousseff, mesmo com a gente tentando blindar ela durante mais de um dia, deu aquela declaração de que podem ocorrer outros apagões... Além disso, ela já tinha dito antes que não havia possibilidade de apagão, então pegou muito mal. Está difícil convencer todo mundo que a gente está totalmente perdido sobre o que causou o apagão, que o sistema, que já é vulnerável, piorou com as nomeações políticas que fizemos pro setor, com engenheiro agrônomo e advogado cuidando de energia etc. Vamos tentar culpar o FHC, como sempre, lembrar dos apagões na época dele, quando a gente caiu matando. Tomara que ninguém lembre que naquela época havia um problema crônico de falta de investimentos, e os reservatórios estavam vazios por causa da falta de chuvas, e que hoje a gente não pode dar essa desculpa. Se não der certo, culpo S. Pedro. É como no futebol: se eu erro o pênalti ou faço um gol contra, culpo o montinho artilheiro.

- O senhor parece não aceitar muito bem as críticas que vez ou outra aparecem na imprensa sobre seu governo. Muitos dizem que o senhor é intolerante a críticas, que gostaria de calar a imprensa...

- (Meio nervoso.) É mentira! Não quero calar a imprensa. Só não gosto que não me aplaudam como deveriam. Sou o cara mais tolerante do mundo. Pra mim, a liberdade de imprensa deve ser total. Menos, claro, se for pra falar mal de mim, como fez aquele jornalista gringo que escreveu que eu sou chegado nuns gorós. Assim não dá, né? Aliás, como era mesmo o nome dele?

- Larry Rohter, do The New York Times.

- (Totalmente descontrolado, os olhos injetados, berrando.) Esse mesmo! Expulsei esse engraçadinho. Quem ele pensa que é, pra me chamar de bêbado? Logo eu, que não sou, como também não é o José Sarney, um cidadão comum. Com quem ele pensa que tá falando? Eu sou o Lula, porra! (Retoma a calma, ofegante.) Mas, como eu disse, sou totalmente a favor da liberdade de imprensa. Até porque a gente tem muitos amigos na imprensa, como os bispos da Record. Já disse que a imprensa não existe pra fiscalizar o governo, mas pra informar. (Entusiasmado.) A TV Brasil do companheiro Franklin Martins, aquilo sim é que é jornalismo neutro e imparcial! Sou a favor da liberdade de imprensa, todo mundo sabe, tanto que deixo que criem mais uma emissora estatal só pra falar bem de mim e de meu governo. Por enquanto ela dá traço de audiência, mas é só o começo. Ainda estamos longe da perfeição, como na Venezuela ou em Cuba, mas um dia a gente chega lá. Estamos trabalhando pra isso.

- Para terminar, senhor presidente: Caetano Veloso disse que o senhor é analfabeto e cafona. Que resposta o senhor daria a ele?

- Minha resposta a Caetano eu dei ontem, ouvindo um CD de Chico Buarque e de Frank Aguiar. Aaaaaaaaauuuuu!

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