quinta-feira, fevereiro 28, 2008

É PRECISO ENTERRAR O MITO CASTRISTA - II



Paredón em Cuba: é possível ficar neutro diante do terror?

Escreve Pablo Capistrano, em resposta a meu texto anterior, em que comento artigo seu sobre Fidel Castro. Meus comentários vêm em seguida.

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Pô Gustavo fico lisongeado em perceber que você escreveu tanto sobre um texto tão despretensioso e que eu particularmente ~escrevi meio que burocraticamente para preencher meu compromisso com o jornal e emitir uma opinião sobre o assunto.

não precisa se desculpar por discordar de mim nem por me citar, é até bom.

mas vamos aos pontos:

1. Confesso a você que eu não consigo ser parcial, nem radical sobre nada. Não amo, nem odéio meus objstos de análise. anos de leitura da maldita filosofia alemã fizeram seu estrago sobre mim pór isso não consigo perder a frieza quando eu vejo as discussões das dua storcidas organizadas (os pro e os contra fidel).

2. trivialidade ideologica é, para mim, satanizar fidel ou diviniza-lo. isso sim é perpetrar o mito que você quer derrubar, lembra do paraiso perdido de John Milton? Lúcifer é um anti-heroi tão fascinante quando Jesus.

3. satanizar fidel é burrice, assim com idealiza-lo. faces de uma mesma moeda e de um radicalismo que em essencia é igual.

4. a revolução americana está ligada a cubana, na jistória latino americana porque são faces de um mesmo iluminismo que gerou o liberalismo de adam smith anglo-americano e os socialismo franco-germanicos. elas aparecem com alternativas excludentes, por isso estão linkadas uma a outra de modo simbiotico.

Continuando..

4. quanto a questão do embargo só há uma resposta para a manutenção desse embargo depois da queda da URSS, o interesse mútuo dos EUA e de Cuba, o embargo era vital para o regime de Cuba e atendia aos intereses da administração Bush pai e filho e Clinton, que tomaram medidas endureçendo o embargo.

5. quanto a questão dos DHs, veja Guantanamo e o que a adminstração Bush está fazendo ao rasgar a convcenção de genebra e criar uma zona solta de qualquer tipo de direito (nem o direito norte americano, nem o direito dos prisioneiros do oriente médio, nem o direito internacional está sendo aplicado aquelas pessoas) como é possivel sustentar que essa administração defende os direitos humanos?o patrioct act aprovado pelo congresso norte americano e suportada pela SCF jogou a revolução norte americana e tudo aquilo de mais importante que aquele pais já produziu em termos de materializar a utopia iluminista no lodo. isso é trágito, Tomas Paine, Jefesrson e John Rawls, devem estar sofrendo muito no caixão.

bem, não sei se tem mais, mas é isso, acho que vou comentar seu comentário no JH da próxima sexta e escrever outro artigo deicando as coisas mais claras.

valeu cara, e não se esquente pode sentar o pau nos meus artigos, quem tá na chuva é para se molhar.

keep on the beat!
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Ok, Pablo, vamos lá.

Antes de qualquer coisa, é bom saber que você não se chateou por eu ter citado seu texto, e você nominalmente, em meu blog. Tem gente que se sente ofendida com isso. Bom saber que você não pertence à maioria da humanidade que pensa que debate de idéias é sinônimo de ofensa e agressão pessoal.

Confesso que tenho um péssimo defeito: não consigo enxergar nenhum texto como despretensioso ou burocrático. Principalmente quando trata de temas polêmicos, como a ditadura de Fidel Castro em Cuba. Se alguém emite uma opinião, e se o assunto me interessa, não tem jeito, eu comento. Se o assunto é polêmico e eu tenho uma idéia formada ou em formação sobre o mesmo, aí não tem jeito mesmo. É algo que está em meus genes, não dá para evitar.

Mas vamos lá, vou tentar analisar seu comentário, ponto a ponto. Desculpe se eu me alongar um pouco demais:

1. Você diz que não consegue ser parcial, nem radical, sobre nada, e que não ama, nem odeia seus objetos de análise. Creio que esta é uma atitude muito interessante quando o objeto de análise é, digamos, a posição das estrelas no céu ou a física quântica. Quando se trata de um fato como a ditadura castrista, porém, há de se convir que a coisa fica um pouquinho mais complicada. Do mesmo modo que é em relação a qualquer outra ditadura. Aqui não há como não se colocar do lado dessa ou daquela torcida. Basta perguntar: alguém teria essa mesma posição "equilibrada", hoje em dia, sobre a ditadura nazista ou stalinista, por exemplo? Admito minha ignorância em filosofia alemã, assim como na poesia de Milton. Sei apenas um pouco de História. E sei que um pato é um pato e um cachorro é um cachorro.

2. Você afirma que considera trivialidade ideológica satanizar ou divinizar Fidel. Eu também considero. Pois não se trata de satanizar ou não Fidel, assim como não se trata de satanizar Hitler ou Stálin - trata-se de denunciá-lo. E motivos para isso, convenhamos, há de sobra. Se tem alguma dúvida, dê uma olhada no que acontece com qualquer um que falar mal de Fidel em Cuba ou, se gosta de estatísticas, nos dados da ilha antes e depois de 1959. Já escrevi bastante sobre isso, aliás.

3. Para você, satanizar Fidel é burrice, assim como divinizá-lo. Mais uma vez, estou de total acordo com você. É burrice tentar satanizar Fidel, até porque, em minha opinião, isso é impossível. É impossível, diante da montanha de fatos que mostram o que ele sempre foi: um tirano homicida e um tremendo farsante, que prometeu uma revolução em Cuba, que seria democrática, e fez outra, totalitária e personalista. Não há como "satanizar" Fidel, pois a própria realidade se encarrega disso.

4. Você se refere às revoluções americana e cubana como herdeiras do Iluminismo. Concordo em parte, pois a revolução americana do século XVIII foi de fato um marco histórico importante na consolidação dos valores iluministas de propriedade privada, democracia política e liberdade individual. Tanto que é uma referência para todos os países, ainda hoje. Já a revolução cubana foi uma das maiores farsas já ocorridas em toda a História, um movimento que nasceu democrático e descambou numa tirania comunista, que só se arrasta hoje em dia porque conta com a simpatia e cumplicidade de governos como o de Lula da Silva. Também já escrevi extensivamente sobre isso, como você pode verificar em meu texto "O Trambique do Século", do ano passado (clique aqui: http://gustavo-livrexpressao.blogspot.com/2007/06/o-trambique-do-sculo.html).

5. Sobre o embargo - felizmente, você não chama de "bloqueio", o que mostra que não se deixou contaminar totalmente pela propaganda castrista -, não acho que temos grandes diferenças de opinião. De fato, o Coma Andante utiliza o embargo como arma propagandística, culpando os EUA pela falência do regime. Mas é preciso ter em mente que, se o embargo continua, não é somente por causa do Bush ou da Casa Branca, ou de alguma terrível cabala ou conspiração imperialista, mas porque há 2 milhões de exilados cubanos nos EUA - quase 15% da população da ilha, um recorde mundial -, que não têm razão alguma para desejar um afrouxamento da posição norte-americana em relação à ditadura na ilha. Só para fazer um paralelo histórico: o regime racista da África do Sul foi durante anos submetido a um implacável embargo por vários países do mundo, e isso teve um efeito importante para apressar o fim do apartheid. Se eu fosse cubano, certamente estaria pensando nisso.
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6. Com relação à questão dos Direitos Humanos em Cuba, sinto dizer, Pablo, mas acho que aqui você confirmou o que eu já havia dito antes, sobre o quanto a propaganda castrista está arraigada em nossas mentes. Sim, Guantánamo é uma mancha na história dos EUA - mesmo sabendo-se que não se tem notícia, não que eu saiba, de nenhum prisioneiro árabe ou afegão que tenha sido morto sob tortura na base americana, e que todos os que estão presos lá são pelo menos acusados de terrorismo, o que não é o caso nas prisões políticas cubanas. Mas a questão não é essa. Aqui não vejo como responder melhor seu comentário senão citando a mim mesmo. No caso, um trecho de meu texto "Fidel, o americanófilo", publicado aqui alguns dias atrás. Não é meu costume fazer isso, mas vamos lá (segue em azul):
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A dependência castrista dos EUA revela-se em praticamente toda ação, toda iniciativa do regime cubano. A lógica do confronto, do enfrentamento, foi o caminho escolhido por ele, Fidel, e agora repetido por seu pupilo Hugo Chávez, para se estabelecer e se eternizar no poder. Afinal, a invenção do inimigo externo, para um ditador, é algo essencial. Com base nesse discurso, ele pode aparecer como "defensor da pátria" e, ao mesmo tempo, meter na cadeia todos aqueles que possam constituir um obstáculo à ditadura, juntando a paranóia à ânsia pelo poder. É provável que, se os EUA não tivessem patrocinado a tentativa de invasão da Baía dos Porcos, em 1961, e a CIA não tivesse tentado matá-lo 636 vezes nos anos 60, ele teria forjado a invasão e os atentados apenas para ter a quem culpar por seus desmandos.

Assim, sempre que é defrontado com o imperativo moral de acabar com a censura e permitir eleições livres e plurais, o tirano trata imediatamente de condicionar qualquer abertura na ilha-prisão à medida semelhante nos EUA. Alguém pediu liberdade na ilha para os presos políticos? Os EUA devem libertar os "cinco heróis" detidos há alguns anos nos EUA por espionagem. Falou-se em liberdade de imprensa em Cuba? A imprensa norte-americana é dominada por uma "ditadura do dinheiro". Defendem a realização de eleições livres e plurais? Os EUA são uma democracia "de fachada". Fim das violações aos direitos humanos e das perseguições aos dissidentes políticos? Fechem a base militar de Guantánamo, gritam os castristas (enquanto isso, há umas duzentas Guantánamos em Cuba, mas ninguém liga). E assim por diante.

Entendeu a manipulação? Percebeu o tamanho da fraude? Fidel se aproveita que os EUA estão em guerra e mantêm prisioneiros ao arrepio da lei internacional em Guantánamo para desviar a atenção dos horrores de sua ilha-prisão. Não conheço canalhice maior do que essa. Pela mesma lógica, a ditadura hitlerista poderia arvorar-se em defensora dos direitos humanos, porque os EUA meteram milhares de nipo-descendentes em campos de concentração durante a Segunda Guerra Mundial. Assim como outros ditadores, Fidel se utiliza dos podres dos EUA, reais ou não, para justificar sua tirania. O trágico é que tanta "gente boa" se deixe levar por essa enganação, ocupando-se em criticar os EUA e caindo no "blame America first". É curioso como ninguém se lembrou de fazer esse tipo de coisa quando se tratava de condenar as ditaduras militares latino-americanas, inclusive no Brasil. Deve ser porque aquelas eram ditaduras de direita, logo "do mal", não eram de esquerda como a de Fidel, portanto não eram ditaduras "do bem"... Por que defender a democracia, no caso do Chile de Pinochet ou no dos milicos brasileiros, era um imperativo moral, e fazer o mesmo no caso de Cuba é "extremismo de direita"? Gostaria que você, ou alguém, me explicasse a lógica disso.

É um erro acreditar que se declarar "isento" ou "imparcial" significa, necessariamente, não tomar posição sobre um assunto. Quanto a isso, também já escrevi bastante aqui (creio que meu texto sobre a Eliane Cantanhêde demonstra isso claramente). Muitas vezes, "não ter lado" significa apenas compactuar com um lado, o lado do poder. Um filme que eu vi há algum tempo, No Man's Land (Terra de Ninguém), tem uma frase que eu considero perfeita: "Não se pode ser neutro diante da morte. Não fazer nada já é tomar uma posição". A meu ver, é exatamente este o caso de Cuba e da ditadura de Fidel Castro. O importante, aqui, é não se prestar ao papel de inocente útil de um tirano.

Creio que, nessa questão de Cuba, a esquerda, ao recusar-se a tomar partido pelos direitos humanos e pela democracia na ilha, está perdendo uma oportunidade de ouro para redimir-se por seus pecados. Poderia, finalmente, sacudir a poeira de um dos mitos mais longevos que se conhece, assim como se fez, no passado, com o mito stalinista. Poderia, enfim, provar de uma vez por todas que, quando fala em democracia, está falando a sério, e não apenas porque ela é útil para a realização de seu projeto político de poder. Isso seria uma demonstração de sinceridade intelectual, e um benefício inestimável à humanidade. Ou será que vamos ter que esperar mais quarenta anos para que se descubra, finalmente, que Cuba é uma ditadura totalitária e Fidel Castro, um ditador?

É isso, Pablo. Desculpe se me alonguei demais. Dizem que blog é para textos curtos. Mas tem coisas que exigem uma reflexão mais profunda. Às vezes o óbvio é o mais difícil de se admitir. Quando você publicar seu texto no JH comentando meu comentário, pode me citar à vontade. Adianto até um perfil meu que você pode aproveitar: Gustavo, ex-comunista, ex-marxista, ex-revolucionário. Atualmente, um reacionário, um conservador e direitista. Inimigo ferrenho de qualquer ditadura - de esquerda ou de direita - e defensor da liberdade. Acredita na diferença entre bem e mal. E não aceita compactuar com tiranias.
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Um abraço!

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P.S.: Aí vai um trecho do livro do escritor cubano Reinaldo Arenas, "Antes que anoiteça" (Record, páginas 14-15). Arenas, que faleceu em 1990, fugiu de Cuba junto com milhares de pessoas, no episódio conhecido como "êxodo de Mariel", e era um freqüentador habitual dos calabouços da ditadura cubana, além de ter toda sua obra censurada em Cuba, pois cometeu o terrível crime contra-revolucionário de ser... homossexual (!). Ele conheceu de perto o que é o paraíso socialista do Caribe e, por isso mesmo, não se dava ao luxo de uma atitude "fria" e "neutra" diante do regime de Fidel Castro:

"Algum dia, finalmente, o povo derrubará Castro e a primeira coisa que deverá ser cumprida será acusar todos aqueles que colaboraram impunemente com o tirano. As pessoas que promovem um diálogo com Castro, sabendo (como todos sabem) que Castro não largará o poder de livre e espontânea vontade, pois necessita apenas de uma trégua e de ajuda econômica para se fortalecer, são tão culpadas quanto os carrascos que torturam e assassinam o povo, talvez até mais; de fato, em Cuba vive-se num clima de absoluto terror, mas no exterior pode-se optar por uma certa dignidade política. Todos esses figurões que sonham em aparecer nas telas de televisão de mãos dadas com Fidel Castro, tornando-se assim figuras políticas relevantes, devem ter sonhos mais realistas: devem sonhar com uma corda na qual ficarão pendurados no parque Central de Havana, pois o povo de Cuba, com toda a sua generosidade, ao chegar o momento da verdade, irá enforcá-los. É assim que vão morrer e, pelo menos em relação a eles, não terá havido nenhum derramamento de sangue. Talvez esse ato de justiça sirva de exemplo para o futuro, pois Cuba é um país que produz canalhas, marginais, demagogos e covardes, numa relação desproporcional à sua população."

2 comentários:

Stefano di Pastena disse...

Parabéns, Gustavo! Perfeito, cristalino, didático.

pablocapistrano disse...

Gustavo, teu sobrenome é Bezerra?
acho escrevi um artigo sobre a questão que você levantou e acho que troquei (juro que não foi proposital) seu sobrenome. ato falho...

lá no site www.pablocapistrano.com.br eu exponho um pouco mais o meu ponto de vista. Acho que nas próximas semanas vou discorrendo um pouco mais sobre o assunto.

um abração.