sexta-feira, fevereiro 22, 2008

O BRASIL NÃO DEVE MAIS. APESAR DOS PETISTAS.

Deu nos jornais de hoje. O Banco Central anunciou que, pela primeira vez na História, o Brasil dispõe, em caixa, de mais dinheiro do que o necessário para pagar sua dívida externa. Daria para pagar a danada e ainda sobrariam uns 4 bilhões de dólares. De devedor, o Brasil é agora credor dos gringos.

A notícia é excelente. Finalmente nos livramos de um fantasma que assombrou gerações. A minha, por exemplo, que está na faixa dos trinta e poucos anos, cresceu ouvindo que a tal dívida era o maior entrave ao desenvolvimento do País. Acostumamo-nos a achar que ela era impagável. Lembro que, quando eu comecei a despertar para as coisas do mundo, lá pelos meados dos anos 80, havia poucas certezas na vida. Uma delas era que jamais veríamos o dia em que a dita dívida seria, enfim, coisa do passado. Era algo, se tanto, para os nossos netos ou bisnetos. Até que enfim nos livramos de um fardo. No entanto...

No entanto, "notícia boa demais a gente desconfia", como se diz em minha terra. No caso, não é a notícia em si, uma das melhores coisas que já aconteceram nos últimos tempos no Brasil, mas o que os atuais ocupantes do poder vão fazer com ela. Os lulo-petistas, claro, vão tentar capitalizar em cima da notícia. Vão dizer que o mérito é todo deles, que fizeram o dever de casa em economia. Lula vai aparecer na TV enchendo o peito, dizendo que "nunca na história defte paif" etc., etc. Não caiam nessa. É mais uma empulhação da quadrilha no poder.

O fim do problema da dívida externa não é uma vitória do governo Lula, nem dos lulo-petistas. É uma vitória da ortodoxia econômica. Quem tem memória lembra bem: os lulo-petistas sempre foram contra as políticas ortodoxas ("neoliberais") que permitiram o equilíbrio das contas públicas. Clamaram contra elas, quando estas começaram a ser aplicadas, durante o governo de seu rival FHC, treze anos atrás. Alegavam, demagogicamente, que tais políticas seriam "uma submissão aos ditames do FMI e do capital internacional". Uma vez no poder, porém, mudaram de discurso, mantendo a mesma política econômica que condenavam com tanto fervor na véspera. Sem confissão, nem arrependimento. Não por convicção, mas por puro oportunismo. Por pura demagogia.

O sucesso da política econômica de Mantega, Meirelles e cia. não se dá por causa dos petistas, mas apesar deles. Incapazes de apresentar coisa melhor do que a política de seus rivais tucanos, trataram de copiá-los. Não foram os lulo-petistas que criaram as condições para o sucesso dessa política ortodoxa. Apenas beneficiaram-se dela. Depois de terem tentado de todas as maneiras destruí-la, dela se apropriaram. Não podendo ter destruído a árvore em sua raiz, estão colhendo os seus frutos. O que chamam de sucesso é apenas a prova de sua desonestidade.

Assim como fizeram com a ética e com a democracia, os lulo-petistas aderiram à ortodoxia econômica por conveniência política, por oportunismo. Trata-se de uma adesão instrumental, e não filosófica. Se adotam uma linha econômica baseada em pré-requisitos como responsabilidade fiscal, metas de inflação e superávit primário, não é porque acreditam de fato nesses princípios, mas apenas porque os consideram um instrumento útil à conservação de seu poder. Este, sim, é o único compromisso dos lulo-petistas, sua única e real causa.

Nesse trabalho de enganar a todos, os lulo-petistas contaram também com uma boa dose de sorte. De fato, a sorte de Lula é impressionante. Durante seu governo, ele se beneficiou de uma maré extremamente favorável da economia mundial. Assim como Hugo Chávez, que se beneficia da alta dos preços do petróleo no mercado internacional para impor seu "socialismo do século XXI". Assim como seu colega venezuelano, Lula usa o capitalismo e a democracia para miná-los. E, assim como Chávez, ele não pode dizer que foi o criador dessa situação favorável.

Não há como negar também que as boas notícias na área econômica têm um lado negativo para os lulo-petistas. Até agora, por exemplo, não os vi comemorarem tanto assim a notícia de que o País é, enfim, dono de seu destino. Deve ser porque, com o problema da dívida enfim solucionado, não poderão mais botar a culpa pelos males do Brasil no FMI ou em outro agente externo. Não poderão mais defender a realização de um plebiscito em defesa do calote da dívida externa, como já fizeram antes. Terão que procurar outro bode expiatório. As elites ou a mídia golpista, quem sabe.

O que permite tamanha distorção da realidade pelos petralhas, além dos fatores citados, é uma boa dose de ingenuidade política por parte de seus críticos liberais. Estes tendem a absolutizar o papel da economia, acreditando que, basta o governo adotar uma linha ortodoxa, com resultados positivos, e provará ser um governo de gente madura e responsável. Não pode haver engano maior do que esse. O que esses senhores não entendem é que a economia não é um fim em si mesmo; é um meio para a conquista e manutenção do poder político. Se os petistas rezam, hoje, pela cartilha da ortodoxia liberal, isso não ocorre porque tenham se convertido ao credo da liberdade e da democracia, mas apenas porque esperam que tal política lhes garanta as bases materiais necessárias à implantação de um projeto totalitário de poder. Esse projeto pode muito bem conviver com uma política econômica capitalista, como demonstram os exemplos da China e do Vietnã. Na América Latina, seu principal instrumento de articulação estratégica é o Foro de São Paulo. Nele, o mesmo governo que é hoje louvado por seu "pragmatismo" e "responsabilidade" por muitos economistas cerra fileiras ao lado de ditadores como Fidel Castro e do narcotráfico internacional. Enquanto os banqueiros e financistas se mantiverem satisfeitos com os números da economia, não prestarão atenção a esse processo.

A História demonstra que encher os bolsos da burguesia é a melhor maneira de seus inimigos prepararem o golpe que a varrerá do mapa e lhes permitirá a conquista do poder. Foi assim na Rússia czarista, com a ajuda do Kaiser alemão a Lênin para derrubar o governo provisório de Kerensky. Foi assim na Alemanha, com parte da burguesia alemã apoiando os nazistas de Hitler. E é assim hoje, no Brasil, com o governo de Lula e dos petralhas. Enquanto esses burgueses estúpidos continuarem pensando com seus bolsos e suas barrigas, e não com suas cabeças, o triunfo definitivo dos inimigos da liberdade será só uma questão de tempo.

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