sexta-feira, fevereiro 29, 2008

A FALÊNCIA DA O.N.U.


Tenho dois assuntos sobre os quais gostaria de escrever nos próximos dias, se tiver tempo: um é o novo filme de Michael Moore, Sicko; o outro me foi suscitado pela notícia abaixo. Vou começar por este último (em vermelho a notícia):
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Por Marcelo Ninio, na Folha:

Um relatório preparado por um investigador das Nações Unidas afirma que o terrorismo palestino é "conseqüência inevitável" da ocupação israelense e pode ser comparado à resistência ao nazismo e à luta contra o apartheid, o antigo regime de segregação racial da África do Sul. A comparação enfureceu a diplomacia israelense, que considerou o documento uma espécie de luz verde da organização ao terror.

O documento preparado por John Dugard, investigador independente da ONU para o conflito entre Israel e os palestinos, será apresentado no dia 17 de março no Conselho de Direitos Humanos da organização. Em um de seus trechos mais polêmicos, Dugard diz que é preciso lembrar o "contexto histórico" ao analisar a violência palestina."A história está repleta de exemplos de ocupações militares às quais se resistiu com violência, atos de terror. A ocupação alemã foi resistida por muitos países europeus durante a Segunda Guerra", exemplifica, sem distinguir ações contra militares das que atingem civis. Assinante lê mais aqui

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Um jornalista cujo blog eu visito às vezes, Reinaldo Azevedo, escreveu o seguinte sobre a notícia acima (em azul):

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Trato a ONU a pontapés há muito tempo. Na Primeira Leitura, essa mega-ONG de inúteis e depravados ideológicos merecia combate permanente. Aquilo não é uma Organização de Nações Unidas, mas uma espécie de covil de interesses de ditadores terceiro-mundistas, coadjuvado por funcionários idiotas vindos do Primeiro Mundo, que vêem virtudes verdadeiramente revolucionárias em tiranos e terroristas.

O delinqüente poderia ter comparado, sei lá, a situação à resistência dos argelinos anticolonialistas, notáveis também pelo uso da violência. Não perderia nada em delinqüência teórica, mas, ao menos, não exibiria o ânimo da provocação torpe. A comparação com o nazismo — que tinha como prática o extermínio de judeus e como uma das metas a sua erradicação — é simplesmente inaceitável.

Dia desses, a ONU divulgou um relatório sobre direitos humanos e racismo no Brasil. Nem dei bola. Sabem por quê? Não confio naquela gente. Aquilo é uma repartição pública de incompetentes. Há coisa de uns, sei lá, quatro ou cinco meses, um relatório da entidade, feito com base numa única matéria de um jornalista argentino, afirmava que a cidade São Paulo tinha 1% dos homicídios mundiais. Era mentira. Os dados, velhos. Tiveram de pedir desculpas.

Por isso, quando a ONU disse a Bush: “Não invada o Iraque”, pensei: mais um bom motivo para invadir o Iraque. A ONU está sempre errada.

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Mais uma vez, concordo inteiramente com Reinaldo Azevedo. Como quase sempre, ele está coberto de razão. Daí porque reproduzi na íntegra seu comentário à notícia. Não me vem à mente maneira melhor de demonstrar até que ponto pode chegar a depravação ideológica da ONU, organização que já se tornou, há muito tempo, um clube de ditadores e genocidas. No Brasil, ainda temos ilusões de que a ONU realmente representa as aspirações e esperanças da humanidade, e que todos os males do mundo se devem ao unilateralismo de Bush e dos EUA. Ainda acreditamos, ingenuamente ou não, que a ONU, especialmente a Assembléia-Geral e as agências especializadas, é uma espécie de reunião de anjos cheios de boas intenções, e que a solução de todos os problemas do mundo está no chamado multilateralismo. Simplesmente não nos damos conta ou não nos importamos se essa tal "multipolaridade" for apenas um pretexto para o aumento de influência de países como Zimbábue ou Coréia do Norte.

Há muito a ONU já perdeu sua razão de ser, tornando-se uma burocracia obsoleta e paquidérmica a serviço das piores causas da humanidade. Quando foi criada, em 1945, sobre os escombros da Segunda Guerra Mundial, como uma substituta da ineficente Liga das Nações, a idéia era reunir os países vencedores do conflito ("Nações Unidas" era o nome genérico como se definiam os países aliados contra o Eixo nazi-fascista), em torno das três potências democráticas - EUA, Reino Unido e França, mais a China Nacionalista (substituída, em 1971, pela China Comunista) e URSS (sucedida pela Rússia) -, países que compõem, desde então, sua instância máxima, o Conselho de Segurança. Era, então, uma organização essencialmente européia e, principalmente, ocidental, afinada - com a óbvia exceção da URSS - com os princípios de democracia e liberdade que levaram à derrota do nazi-fascismo e ao surgimento da ordem mundial do pós-guerra. A partir dos anos 60, porém, sua composição passou a se modificar, assim como seus objetivos, à medida que nela ingressavam os países recém-independentes da África e da Ásia, antigas colônias européias, muitos dos quais governados por demagogos e carniceiros da estirpe de um Nasser ou de um Idi Amin. Sobretudo durante a década de 70, com a crise do petróleo e o aumento da influência dos países árabes, a ONU transformou-se, de protetora da paz e da democracia no mundo, em palanque e correia de transmissão de tiranos e terroristas (Yasser Arafat foi aceito como observador e discursou na organização, em 1974), que tinham em comum o fato de serem antiamericanos. Desde então, na Assembléia-Geral, onde cada país tem um voto, Israel e EUA estão sempre na berlinda. No Conselho de Segurança, onde a unanimidade é obrigatória, os votos de EUA, Reino Unido e França quase sempre conflitam com os de Rússia e China - donos, como se sabe, de um vasto prontuário de apoio a ditaduras e violações aos direitos humanos (mas quem se importa, não é mesmo?).

O relatório sobre o terrorismo palestino, citado acima, apenas ilustra esse desvirtuamento. Não é o único exemplo. Na questão dos direitos humanos, as distorsões são ainda mais gritantes. A ONU possui uma Comissão de Direitos Humanos, da qual o Brasil faz parte, que já foi presidida por um representante da Líbia (!) e na qual ditaduras como Cuba e Irã quase sempre se safam de qualquer condenação, pois contam com o apoio e a simpatia de seus integrantes, que preferem dirigir sua munição contra os EUA e Israel, os párias da ONU, alegando não querer "politizar" a questão (ao mesmo tempo que a politizam, acusando os EUA e Israel dos piores crimes e atrocidades).

Nascida para evitar genocídios como o que os nazistas fizeram na Europa, a ONU virou, na prática, cúmplice de seus perpetradores (os exemplos da Bósnia e de Ruanda em 1994, quando a ONU se omitiu diante do massacre de 800 mil pessoas, são gritantes demais para ser ignorados). Atualmente, um verdadeiro genocídio está em marcha na região de Darfur, no Sudão, onde milícias armadas pelo governo muçulmano de Cartum se dedicam a exterminar a população cristã e animista, mas a ONU demorou anos para perceber o que acontecia - e, quando finalmente percebeu, recusou-se a chamar a chacina de genocídio. Como não poderia deixar de ser, a sombra da corrupção também se abateu sobre a organização: após a primeira Guerra do Golfo, quando as forças da coalizão liderada pelos EUA expulsaram as tropas iraquianas do Kuwait (uma das raras vezes em que a ONU serviu para alguma coisa), a ONU manteve um amplo programa de troca de petróleo por comida com o Iraque, quando o país ainda era uma satrapia de Saddam Hussein ("Oil for Food program"), que resultou no maior escândalo de desvio de recursos da história da organização. Daí porque, assim como Reinaldo Azevedo, não me surpreendi nem um pouco quando a ONU se opôs, em frente, à intervenção no Iraque para derrubar Saddam Hussein. E daí porque, assim como ele, apoiei a invasão com entusiasmo.

Há anos, o Brasil elegeu como principal meta de sua diplomacia conquistar um assento permanente no Conselho de Segurança das Nações Unidas, perfilando-se ao lado das grandes potências. É mais um delírio megalomaníaco do governo Lula, que já chegou dizendo que iria "mudar a geografia comercial do mundo". Mas, para um governo que é parceiro de Fidel Castro e de Hugo Chávez, a ONU é mesmo o lugar mais indicado.

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