segunda-feira, fevereiro 04, 2008

"PARANÓIA" BEM FUNDAMENTADA

Antecipando-me às críticas que os esquerdistas provavelmente farão ao artigo de Reinaldo Azevedo sobre o Foro de São Paulo, publicado na Veja da semana retrasada, resolvi eu mesmo lançar-me à tarefa de analisar os prováveis argumentos que deverão ser utilizados pela companheirada para tentar desqualificar o artigo e o autor. Ao fazer isso, estou sendo bastante otimista, pois é sabido que esse pessoal, quando contrariado, não tem por costume o debate sobre fatos e idéias, mas unicamente grunhir e partir para o achincalhamento e a agressão pessoal, no pior estilo stalinista. Até o momento, por exemplo, não vi nenhuma refutação ao artigo de R.A., o qual comentei em meu texto anterior. Talvez os companheiros petistas e seus aliados ainda estejam desnorteados com a ousadia sem paralelo de um jornalista falar abertamente, num grande veículo de imprensa, sobre uma entidade cuja simples existência era negada de forma sistemática. Talvez estejam meio ressabiados, pois afinal não poderão mais contar com o silêncio cúmplice de parte da grande imprensa sobre assunto tão cabeludo. Nesse caso, é provável que prefiram ficar na moita, esperando a poeira baixar e todos se esquecerem. Mas aposto quanto vocês quiserem que a linha de argumentação dos petralhas seria mais ou menos assim:
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O Foro não é nenhuma entidade revolucionária ou subversiva, e muito menos tem por objetivo a instalação do comunismo na América Latina. Ele nada mais é do que um simples fórum de debates entre os partidos e movimentos políticos de esquerda e centro-esquerda do continente, comprometidos com a democracia e os direitos humanos, a fim de defender uma alternativa popular e progressista à globalização neoliberal e ao avanço do imperialismo norte-americano no continente. Qualquer afirmação em contrário é somente paranóia etc. etc. etc. Esse tipo de lengalenga já foi dito antes, como se pode ver por aqui(http://www.olavodecarvalho.org/semana/10192002globo.htm e http://www.olavodecarvalho.org/semana/061016dc.html)
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Quem tem olhos para ver e ouvidos para ouvir logo perceberá, sem muito esforço mental, que todos os "argumentos" elencados acima não passam de uma gigantesca tentativa de enganar mais uma vez o público. Não sendo mais capazes de simplesmente esconder de todos a existência do tal Foro, tratarão agora de minimizar seus objetivos, dando-lhe ares de um clube de senhoras ou de um inofensivo círculo de debates acadêmicos. Não dêem ouvidos a essas platitudes. É tudo lorota. O Foro de São Paulo não é inócuo e inofensivo coisíssima nenhuma. É, isto sim, um instrumento da revolução continental, destinado a derrubar as estruturas políticas vigentes e instaurar o comunismo na América Latina. É, enfim, o maior perigo à democracia e à liberdade no continente nas últimas quatro décadas.
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Delírio? Loucura? Fantasia paranóica? Então vejamos. Em primeiro lugar, onde já se viu um fórum de debates emitir resoluções após seus encontros? Resoluções, ao que se sabe, são normas para a ação, diretrizes para a atuação política. Mas deixa pra lá. Para desmontar por completo esse conto-de-fadas, basta fazer um breve exercício de síntese histórica. O Foro foi criado em 1990, por iniciativa do PT, que convidou para dele fazer parte o Partido Comunista de Cuba, chefiado por Fidel Castro ("comprometido com a democracia e os direitos humanos", logo se vê). Muito bem. O que ocorria de tão importante no mundo, naquela época, que justificou tal iniciativa do partido de Lula? A URSS estava caindo pelas tabelas, vindo a extinguir-se no ano seguinte. O movimento comunista internacional, por conseguinte, parecia estar dando seus últimos suspiros, juntamente com a Pátria-Mãe soviética. Daí a iniciativa de Lula e Fidel Castro - comandante da única ditadura comunista do hemisfério ocidental - para, nas palavras do ditador cubano, "reconquistar na América Latina o que foi perdido no Leste Europeu". Vejam bem: não se tratava de "repensar" o comunismo, de "humanizá-lo", torná-lo mais "democrático", menos totalitário, como se tentou fazer - sem sucesso - na ex-Tchecoslováquia em 1968. Nada disso. Tratava-se de salvá-lo, de resgatar da ameça de extinção o movimento comunista. Esse objetivo ficou ainda mais evidente com a entrada na dita organização de outro movimento, as FARC, que saudou a criação do Foro como uma verdadeira "tábua de salvação" do movimento comunista latino-americano (v. http://port.pravda.ru/mundo/15168-farcsaudacao-0). Não por acaso, ao contrário dos ex-partidos comunistas da Europa ocidental, como o da Itália e o da França, o PT jamais renunciou de maneira formal e inequívoca ao marxismo. Ao contrário: sempre o manteve como uma espécie de reserva ideológica, cultivando a ambigüidade, dando pasto às feras enquanto posa de partido "moderado" e "responsável" perante a mídia e os investidores internacionais.
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De lá para cá, o Foro de São Paulo se consolidou, realizando reuniões regulares a cada dois anos, sempre em cidades diferentes, como um "espaço de articulação estratégica" da esquerda continental. Como se dá essa articulação? O próprio Lula explicou recentemente, quando confessou, em público, em julho de 2005, ter trabalhado junto ao Foro para garantir a vitória de Hugo Chávez no referendo de 15 de agosto de 2004, que o manteve no poder: (http://www.info.planalto.gov.br/download/discursos/pr812a.doc). Ou seja: longe de ser um círculo de debates sem conseqüências, o Foro é, isto sim, um mecanismo de ação conjunta das esquerdas, acima e além dos governos e das soberanias. Um intrumento revolucionário supranacional, tal como foram a OLAS e o Comintern.
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Não é preciso ser nenhum gênio ou Sherlock Holmes para perceber que os fatos mais relevantes que aconteceram na América Latina nos últimos dezoito anos - a ascensão de movimentos e governos populistas de esquerda como os de Chávez, Morales, Correa e Lula, para citarmos apenas alguns - não ocorreram no vazio, foram gestados e amamentados na incumbadora do Foro de São Paulo. Quando o Foro foi criado, em 1990, só um dos partidos que o compunham estava no poder - o Partido Comunista de Cuba, de Fidel Castro. Em 2008, já são vários os movimentos que dele fazem parte que alcançaram o comando do Estado - a começar pelo PT de Lula. E seus objetivos não se encerram por aí.
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Isso é o Foro de São Paulo. Uma organização revolucionária, antidemocrática e anticapitalista, e não o clube de escoteiros que muitos imaginam. Se ainda têm alguma dúvida, não acreditem em mim, não acreditem em Reinaldo Azevedo. Acreditem no que dizem os documentos do Foro, os discursos de Fidel e Lula nas reuniões da entidade. Está tudo na internet. Se quiserem, dêem uma olhada e tirem suas próprias conclusões: http://www.midiasemmascara.com.br/links.php?language=pt.
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Quando eu fazia parte de uma organização trotskista de extrema-esquerda, uns quinze anos atrás, eu considerava como principais inimigos, mais do que a burguesia e o imperialismo, o PT e seus aliados. Considerava-os, então, com seus discursos e maneiras moderados e bem-comportados, um bando de reformistas e contra-revolucionários, verdadeiros traidores da revolução socialista. O caminho para a revolução só poderia ser pavimentado por uma retórica inflamada e por palavras de ordem radicais, acreditava. Custou-me compreender que a estratégia mais eficiente para garantir o sucesso do processo da revolução comunista não passa necessariamente pelo enfrentamento direto e pela luta armada, mas se constrói no dia a dia, de forma quase imperceptível, mediante uma combinação habilidosa de métodos legais e ilegais, lícitos e ilícitos. Não tinha percebido ainda que a sonsice e a dissimulação, o fingir-se de bom-moço para ganhar as graças das elites enquanto se prepara o bote final, são parte inseparável da tática e estratégia revolucionárias. Via corretamente Lula e os petistas como uns farsantes e embromadores, mas pelos motivos errados. É que na época eu ainda não tinha lido Gramsci.
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A participação do partido do presidente da República no Foro de São Paulo, ao lado de tiranos como Fidel Castro e de terroristas como as FARC e o MIR chileno, de modo a que essa articulação revolucionária possa ocorrer de forma quase subterrânea, semi-clandestina, nada mais é do que a comprovação dessa estratégia. Sua eficácia é medida principalmente pela insistência dos grandes meios de comunicação em silenciar sobre o assunto, cobrindo de insultos e de ridículo todo aquele que ouse quebrar esse pacto de silêncio e expor a verdade.
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Delírio? Loucura? Fantasia paranóica? Sim, tudo isso.

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