terça-feira, junho 12, 2007

O TRAMBIQUE DO SÉCULO

Se houvesse um concurso para escolher o maior trambiqueiro dos últimos cem anos, o maior vigarista, o maior farsante, o maior 171 da parada, eu não hesitaria na minha escolha. Não, o troféu mundial de picaretagem não iria para Lula (embora o Grande Molusco seja forte candidato a um prêmio nacional na categoria). Também não iria para Bush, como certamente sugeriria algum engraçadinho, para quem os EUA são sempre o lado mal da humanidade, ainda que do outro lado esteja o Irã ou a Coréia do Norte. Nem mesmo o Hugo Chávez, esse cover falsificado de Simón Bolívar, versão tropical e ainda mais acanalhada de Mussolini. Todos esses, perto de quem eu escolheria, são café pequeno.

Meu indicado para o prêmio de maior mentiroso dos últimos tempos tem 80 anos e está à beira da morte. Seu nome: Fidel Castro. A maior mentira de todas: a Revolução Cubana.

Provavelmente alguém vai achar que é cisma ou fixação de minha parte. Pudera. Não há palavras nem blogs suficientes para fazer frente ao volume e à magnitude de falsidades, invenciones e mistificações produzidas pelo regime do ditador cubano e por seus inúmeros admiradores e simpatizantes (a última delas é a discurseira demagógica e oportunista contra o etanol). Praticamente não há um único aspecto da ditadura caribenha que não seja falso, que não traga a marca da propaganda e da manipulação.
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De tão repetidos, os clichês sobre a tirania cubana assumiram ares de verdades reveladas e irrefutáveis. Até mesmo seus inimigos, vez ou outra, acabam repetindo, mecanicamente e sem se darem conta, velhos chavões do regime. Estamos diante de uma situação em que, tal como na famosa frase do Dr. Goebbels, uma mentira, de tão repetida, acaba passando por verdade. Aqui, uma mentira acaba gerando outra, que gera outra, que gera outra, e assim indefinidamente. Fidel deixou Goebbels no chinelo. Perto dele, o Ministro da Propaganda nazista era um aprendiz.

Acham que é exagero? Que é tudo intriga da CIA e do Pentágono? Propaganda imperialista? Então façamos um exercício simples. Comparemos a versão divulgada pelo regime castrista e seus defensores com os fatos:
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O MITOAntes de 1959, Cuba era um país pobre e atrasado, uma colônia dos EUA e um verdadeiro bordel dos ianques, governado por um ditador apoiado incondicionalmente pela Casa Branca. Sua população era composta, na maioria, de camponeses miseráveis, desnutridos e analfabetos. Foi a insatisfação com a situação social do país que levou à revolução.
OS FATOS – Antes da subida de Fidel Castro ao poder, a desigualdade social em Cuba era grande, mas a situação da economia cubana, em comparação com a de outros países latino-americanos, estava longe de ser má. Embora estatísticas possam ser enganosas – e aí está o regime cubano para demonstrar isso –, creio ser importante citar alguns números. Segundo Carlos Alberto Montaner, que cita estatísticas da ONU, Cuba vivia, nos anos 50, um período de bonança econômica, com níveis de prosperidade semelhantes, à época, aos da Itália. A ilha estava classificada como a terceira nação mais desenvolvida da América Latina, atrás apenas da Argentina e do Uruguai. No plano mundial, o país estava em 25o lugar, tanto nos aspectos puramente econômicos, como nos sociais (níveis de alfabetização, escolaridade, alimentação, consumo de eletricidade, cimento, periódicos etc.), possuía uma imprensa ágil e dinâmica e tinha o maior número de aparelhos de TV per capita de todo o continente latino-americano (Viaje al Corazón de Cuba, Barcelona: Plaza & Janés, 1999, pp. 59-60). Até mesmo autores simpáticos ao regime de Fidel Castro, como Hugh Thomas, observam que Cuba tinha a terceira renda per capita da América Latina, abaixo apenas da Argentina e da Venezuela (Cuba: La Lucha por la Libertad, Madrid: Debate, 2004, pp. 880-883).

Cuba não era, definitivamente, um país pobre. Era, aliás, mais rica do que a Espanha, sua antiga metrópole. Embora seus números destoem um pouco dos apresentados por Hugh Thomas, Richard Gott apresenta dados que põem uma pá de cal na tese da ilha pobre e atrasada: segundo ele, o país detinha a segunda renda per capita da América Latina, inferior apenas à da Venezuela; era, também, um dos cinco países mais desenvolvidos da região em uma série de indicadores sociais (urbanização, alfabetização, mortalidade infantil, expectativa de vida). Os índices de saúde – uma conquista da revolução, segundo o discurso oficial castrista – estavam entre os mais positivos das Américas, pouco abaixo dos EUA e Canadá, e o país ocupava o 11o lugar no mundo todo na relação médico-pessoa (terceiro na América Latina, atrás apenas de Uruguai e Argentina) (Cuba: Uma Nova História, Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2006, p. 191). Cuba era mais urbana que rural, com níveis de alfabetização e saúde bem superiores aos de seus vizinhos latino-americanos, como atestam vários outros autores, como Theodore Draper (A Revolução de Fidel Castro: Mitos e Verdades, Rio de Janeiro: GRD, 1962) e Antônio Rangel Bandeira (Sombras do Paraíso: A Crise da Revolução Cubana, Rio de Janeiro: Record, 1994) – este último, um esquerdista desiludido com a monumental farsa castrista. Não era o paraíso, mas estava longe de ser o inferno de penúria e opressão que é hoje.
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O tamanho da fraude perpetrada em Cuba pode ser medido pelo seguinte fato: longe de ser motivado pela pobreza do país ou pela miséria dos camponeses, o movimento liderado por Fidel Castro tinha por objetivos básicos a queda da ditadura de Batista, a realização de eleições livres e a restauração da Constituição democrática de 1940 (foi o cancelamento das eleições, aliás, que motivou o ataque ao quartel de Moncada, em 1953, a primeira ação revolucionária castrista). Batista caiu, apenas para ser substituído por uma ditadura mil vezes pior, de caráter totalitário. Quanto às eleições livres e à democracia, até hoje os cubanos as desconhecem por completo. Sem falar que, nos quesitos pobreza e desenvolvimento, estão hoje em situação muitíssimo pior do que há cinqüenta anos.
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Com relação à influência dos EUA na ilha, a importância das empresas norte-americanas na economia de Cuba estava em franco declínio. Segundo dados compilados por Jorge I. Domínguez, 36,7% da produção de açúcar em Cuba saía de usinas pertencentes a norte-americanos em 1958, contra 62,5% em 1927. Quanto ao total dos investimentos privados diretos dos EUA em Cuba, quase não houvera crescimento: de US$ 919 milhões em 1929, passara para US$ 533 milhões em 1946 e US$ 1,001 bilhão em 1958. (Jorge I. Domínguez, To Make a World Safe for Revolution: Cuba’s Foreign Policy, Cambridge: Harvard University Press, 1985, pp. 9-10). Como qualquer outra metrópole turística e cosmopolita, Havana tinha um número elevado de prostitutas, situação que de forma alguma se estendia a toda a ilha, que não poderia ser classificada de modo algum como um "bordel" dos EUA. Mas se é de prostituição que se fala, a Cuba de hoje, com seus milhares de jineteras se vendendo ao primeiro turista estrangeiro por uma lata de leite em pó ou uma calça jeans, não deixa nada a desejar ao mito criado em torno da realidade da ilha antes de Fidel.

Sobre o tão alardeado apoio dos EUA a Batista, lembremos apenas dois fatos: a) praticamente toda a opinião pública norte-americana, e o próprio governo Eisenhower, eram favoráveis a Fidel Castro antes da queda de Batista. Aliás, foi o New York Times, com a famosa entrevista de Fidel a Herbert Mathews, em fevereiro de 1957, a principal tribuna dos revolucionários nos EUA (ver, a propósito, o livro de Anthony DePalma, O Homem que Inventou Fidel: Cuba, Fidel e Herbert L. Mathews do New York Times, São Paulo: Companhia das Letras, 2006); b) em pleno auge da luta contra Batista, em abril de 1958, os EUA cancelaram o envio de armamento ao governo cubano, retirando, assim, o apoio militar à ditadura. Os norte-americanos não viam a hora de se livrarem de Batista, e enxergavam em Fidel e em seu Movimento 26 de Julho (M-26-7) uma alternativa "democrática" e "anticomunista" (como o barbudo fazia questão de se apresentar então). Que belo "apoio incondicional" este, heim?
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O MITOInsurgindo-se contra a situação do país, um punhado de jovens idealistas, dispostos a pôr fim à tirania e às gritantes injustiças sociais, desembarcou na costa oriental da ilha e depois se embrenhou na mata. Este pequeno grupo logo conquistou o apoio do povo e botou o ditador para correr, tendo conseguido derrotar, com seus parcos recursos, um Exército fortemente armado e treinado, provando ser possível fazer uma revolução mediante a guerra de guerrilhas.
OS FATOS – Aqui não é preciso dizer muito. A idéia da revolução "surgida do nada, do zero", graças à ação heróica de um punhado de guerrilheiros - sintetizada em livros como o de Che Guevara, Guerra de Guerrilhas (1960) e de Régis Debray, Revolução na Revolução? (1967) -, conhecida como teoria do "foco" ou foquismo, que fez a cabeça de muita gente na esquerda radical nos anos 60, já foi totalmente desmentida pelos fatos e, hoje em dia, só meia dúzia de malucos a defendem. Mesmo assim, a influência dessa teoria continua a se fazer sentir, na forma da versão oficial da Revolução Cubana brandida por Fidel Castro e seus asseclas para justificar o regime. À parte as falsificações factuais óbvias (por exemplo, a lenda divulgada por Fidel de que a guerra civil teria custado 20 mil vidas em Cuba, quando não chegou nem perto disso), o mito foquista teve por objetivo desviar a atenção da existência de uma importante rede revolucionária nas cidades, representada por grupos como o Diretório Revolucionário e outros, de modo a atribuir todas as glórias pela vitória da revolução aos guerrilheiros de Sierra Maestra e a seu líder, Fidel Castro (ver Julia Sweig, Inside the Revolution: Fidel Castro and the Urban Underground, Cambridge: Harvard University Press, 2002). Não é difícil perceber como essa estória da carochinha caiu como uma luva para Fidel e seus companheiros, servindo para afastar os representantes das outras tendências e concentrar todo o poder em suas mãos.
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Para que não paire qualquer dúvida sobre esse ponto, vou transcrever aqui as palavras de um ex-militante da luta armada brasileiro, que viveu vários anos em Cuba. A citação é longa, mas vale a pena:

"Fidel não tomou o poder com um punhado de combatentes, havia um descontentamento geral de todos os setores da população cubana contra o corrupto e opressor Fulgencio Batista, militar de baixa patente e origem humilde. Grupos de estudantes lutavam nas cidades; nas montanhas proliferavam pequenos destacamentos de combatentes rebelados que, espontaneamente e sem linha política ou estratégia, já lutavam de armas na mão. Os desmandos de Batista eram tais que até os Estados Unidos apoiavam as lutas contra a ditadura. Não por grandes interesses econômicos ou humanitários, mas porque os milionários americanos queriam um mínimo de tranqüilidade para gastar seus dólares e jogar em paz.
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Quando os barbudos desembarcaram e instalaram-se na Sierra Maestra, adicionaram o tempero que faltava ao caldeirão político que era a Cuba dos anos 50: um foco de convergência e aglutinação de forças. Excelente político, Fidel soube escolher as alianças e o momento de esconder-se e de atacar. A descida das montanhas e invasão do llano, encontrou um poder em decomposição, os combates acabavam com a rendição em massa dos desmoralizados soldados do tirano. Houve escaramuças em vários pontos da ilha, mas quando nos deparamos com as baixas e destruição causadas, verificamos que não houve uma guerra civil em Cuba, a guerrilha desempenhou um papel evidentemente político, dentro de um cenário pré-insurrecional. Com a fuga de Batista, num avião cheio de dinheiro roubado, o exército guerrilheiro finalmente desempenhou função militar preponderante, pois era a única força armada e organizada em Cuba, o contingente oficial desertara ou aderira. [...].
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Muitas ilusões foram estimuladas em nossa juventude pelo mito do punhado de barbudos que, graças ao domínio das táticas guerrilheiras e à vontade inquebrantável de seus líderes, tomou o poder numa ilha localizada a noventa milhas náuticas de Miami.
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Balelas, falsificações... não por má-fé pura e simples, mas por aplicação do princípio maquiavélico de que os fins justificam os meios, o poder socialista instituiu a censura, impediu a livre circulação de idéias e impôs a versão oficial. Os textos encontrados sobre a Revolução Cubana são meros panfletos de propaganda ou relatos fatuais, carentes de honestidade e aprofundamento teórico; temos de completá-los com informações orais coletadas aqui e ali por nossos companheiros que, estabelecidos há mais tempo em Havana, travaram relações com pessoas que não pertencem à S2 [o serviço secreto militar cubano]". (Carlos Eugênio Paz, Nas Trilhas da ALN, Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1997, pp. 178-9).
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O MITOUma vez conquistado o poder, o líder dos revolucionários, motivado pelo desejo de realizar o Bem Comum e alcançar a verdadeira independência do país, começou a implementar algumas reformas sociais (agrária, habitacional, educacional etc.) que atraíram o ódio e a desconfiança dos setores reacionários da sociedade e, em especial, dos EUA, que logo passaram a boicotar seu governo, impondo sanções que visaram a sufocar a economia da ilha. Como resultado da política de pressões e de agressão imperialista dos EUA contra a pequena e indefesa Cuba, não restou outra saída a Fidel Castro senão aliar-se à URSS, aceitando a oferta de ajuda econômica e militar que esta lhe ofereceu, e declarando-se, por fim, um marxista-leninista "até a morte".
OS FATOS – Esta é, certamente, a mãe de todas as mentiras castristas. Muito antes que os EUA começassem a pensar em derrubar Fidel Castro do poder e que a CIA planejasse qualquer atentado contra ele, o dirigente cubano dava mostras de sua intenção de romper com Washington. Hugh Thomas lembra que, durante visita à Venezuela, em 22 de janeiro de 1959, ele teria tido uma conversa "algo estranha" com o Presidente venezuelano Rómulo Betancourt (mais tarde, um de seus mais ferrenhos adversários na América Latina), na qual Fidel disse que estava pensando em "desafiar os gringos" e pediu a ajuda do governo venezuelano para tanto, na forma de 300 milhões de dólares e petróleo. (2004, p. 871). Nas palavras de Richard Gott: "Logo no primeiro dia, o líder revolucionário desafiou os Estados Unidos" (2006, p. 190). Embora a política posterior dos EUA reforçasse as posições de Fidel Castro - e dificilmente seria diferente, visto que ele enganou a todos, inclusive a Casa Branca - a iniciativa da aliança Cuba-URSS partiu de Havana, não de Washington ou de Moscou.
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O próprio ditador cubano, em entrevista ao jornalista brasileiro Roberto D´Ávila, em 1985, reconheceu que não foi a política norte-americana que levou Cuba para o lado do bloco soviético: "Não vou jogar a culpa nos norte-americanos pelo socialismo em Cuba. O socialismo em Cuba é produto de nosso povo, da nossa revolução, das nossas idéias. Os Estados Unidos criaram obstáculos, dificultaram a construção da nossa sociedade. Mas eles não são culpados de que haja socialismo em Cuba, do contrário, deveríamos agradecer-lhes" (Roberto D’Ávila, Fidel em Pessoa, Porto Alegre: L&PM, 1986, p. 62). Sem querer, ele põs por terra um dos mitos mais fortes sobre a Revolução Cubana. O peixe morre pela boca.
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Outra prova contundente de que a ruptura com a Casa Branca não deveu nada à política dos EUA data de antes da tomada do poder. Em carta à sua secretária pessoal, Celia Sánchez, em 5 de junho de 1958, quando ainda estava em Sierra Maestra, Fidel Castro escreveu: "Quando esta guerra acabar, vou começar uma guerra muito mais longa e maior [contra os EUA]. Acredito que este será meu verdadeiro destino" (Citado em Ignacio Ramonet, Fidel Castro: Biografia a Duas Vozes, São Paulo: Boitempo Editorial, 2006, p. 528).
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Ainda hoje, há quem acredite que Cuba se voltou para o marxismo-leninismo e para a URSS porque os EUA teriam se recusado a auxiliar o país economicamente, ou porque essa ajuda teria sido oferecida em termos inaceitáveis. Esta versão é enterrada por Jorge I. Domínguez, que lembra que, durante sua visita a Washington, em abril de 1959, Fidel Castro rejeitou uma oferta de ajuda econômica do Governo Eisenhower. Na verdade, os EUA desejavam ajudar Cuba; os termos da ajuda econômica nunca foram discutidos porque o Governo cubano impediu que isso acontecesse. (1985, p. 18)
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O que pretendia Fidel ao se aliar à URSS? Apenas uma coisa: poder. Na verdade, é somente por esse prisma que se pode compreender sua "conversão" ao comunismo. Ele sabia que, para garantir sua posição incerta após a queda de Batista, precisava de um aliado poderoso, tanto interna quanto externamente. Esse aliado era, do ponto de vista interno, o Partido Comunista Cubano – que até então desconfiava dele, Fidel Castro, considerando-o um aventureiro, e que já fizera parte, inclusive, do primeiro governo Batista, nos anos 40 – e, externamente, a URSS. Desse modo, ele conseguiu alijar os demais setores da revolução, inclusive muitos companheiros de armas, como Huber Matos, que protestaram contra essa guinada comunista, tendo pago por essa ousadia com longas penas de prisão ou no paredón. Em outras palavras, Fidel Castro prometeu uma revolução e fez outra. Um enorme conto-do-vigário.
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O MITOCuba tornou-se um exemplo de resistência ao imperialismo e de dignidade, conseguindo edificar um eficiente sistema de saúde e de educação, de fazer inveja mesmo a muitos países do Primeiro Mundo. Desde então, o país tem buscado sobreviver, tendo seu desenvolvimento impedido pelo criminoso e genocida bloqueio imposto pelos EUA há mais de quarenta anos.
OS FATOS – Finalmente, a mentira derradeira: tendo transformado Cuba numa ditadura totalitária comunista e num porta-aviões soviético nas Américas, Fidel Castro implementou um gigantesco projeto de reengenharia social, bancado com gordos subsídios do Kremlin. Este projeto incluiu uma tentativa desastrosa de industrialização forçada no começo dos anos 60, a total subordinação da economia cubana à URSS e milhares de presos políticos, inclusive homossexuais, enviados aos magotes para campos de trabalhos forçados para "reeducação". Em alguns setores, como a saúde e a educação, os milhões investidos pelo defunto bloco socialista geraram uma ilusão de progresso (como se pode falar de educação de qualidade, por exemplo, se não se pode ler o que se quer?). Com o colapso da URSS em 1991, o sistema ruiu, e não sobrou ninguém para culpar pelo desastre. A solução? Blame America, culpe os EUA, claro. Mais especificamente: culpe o "bloqueio" econômico a Cuba, que já dura mais de quarenta anos, pelo descalabro gerado pela falência do modelo comunista. Mesmo que o tal "bloqueio" (na verdade, um embargo) não exista, pois a ilha tem relações comerciais normais com 173 países, e mesmo que o comunismo tenha ruído no Leste Europeu sem a necessidade de nenhum bloqueio, real ou imaginário.

Na realidade, é irônico que Fidel Castro culpe o "bloqueio" dos EUA pela situação de penúria da ilha, gerada única e simplesmente pela incapacidade do regime, desejando, com isso, restabelecer as relações comerciais normais com Tio Sam. Afinal, não foi justamente para romper esses laços de "dependência" com os EUA que o ditador cubano se voltou para a URSS? Pelo visto, Fidel virou um adepto do livre comércio e da economia de mercado, descobrindo, enfim, as vantagens do imperialismo ianque.
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Em suma, esta é a realidade que o regime de Havana se esforça em esconder: antes de 1959, Cuba era um país próspero com ricos e pobres, dominado por uma ditadura. Hoje, é um país depauperado, onde todos – com exceção de Fidel e seus sequazes – são muito pobres, e dominado por uma ditadura totalitária. Um grande avanço, sem dúvida...
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Claro que sempre haverá quem negue credibilidade aos fatos acima citados, ao mesmo tempo em que se recusa a refutá-los, afirmando que é tudo propaganda, meras análises subjetivas, estertores de exilados ressentidos contra o glorioso regime socialista de Fidel e companhia etc. Nesse caso, os advogados do totalitarismo castrista deverão concordar que todos os escritos de exilados políticos, como foi um dia o próprio José Martí, não devem ser levados a sério. Deverão concordar, ainda, que nenhum dos inumeráveis panegíricos escritos em louvor à ditadura castrista deve ser também levado a sério, pois estes trazem, também, a marca da subjetividade. Enquanto não o fizerem, não terão o direito de proclamarem-se os donos da verdade sobre este ou qualquer assunto.

Certa vez, George Orwell disse que escrevia porque havia uma mentira a ser denunciada. É por isso que perco tanto tempo escrevendo sobre Cuba e Fidel Castro.

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