domingo, fevereiro 17, 2008

A IDEOLOGIA DOS SEM-IDEOLOGIA


Imaginem a seguinte situação: um bandido é apanhado em flagrante matando, roubando ou estuprando. Diante das acusações que lhe são feitas, ele não se deixa abater. Ao invés disso, impõe a seus acusadores a seguinte condição: só irá para a cadeia se os delitos de um seu concorrente forem investigados também. Caso contrário, trata-se de uma atitude parcial e preconceituosa. Ou vai preso todo mundo, ou não vai preso ninguém.

Que pessoa decente e honesta endossaria essa impostura? Quem pensaria duas vezes antes de cuspir na cara do sujeito que propõe coisa semelhante, chamando-o de vagabundo e de canalha da pior espécie? Quem hesitaria em denunciar manobra tão escandalosamente cínica, tão descarada, bradando que um crime não pode servir de desculpa para outro, e que, nessa situação, qualquer apelo à "imparcialidade" não passa de uma cortina de fumaça para garantir a impunidade?

Pois é exatamente isso o que está ocorrendo no Brasil, hoje. Sim, vocês adivinharam. Estou falando do caso dos cartões corporativos, o mais recente - mas não o último, outros certamente virão - escândalo envolvendo a petralhada. Apanhados com a mão na massa desviando dinheiro público, os petralhas tentam mais uma vez jogar areia nos olhos de todo mundo. A manobra da vez consiste em criar uma CPI ("vejam como somos honestos e transparentes: queremos até CPI") completamente fajuta, para investigar os gastos com cartões corporativos não apenas nesse, mas desde o governo anterior, dos tucanos. Com isso, querem emparedar a assim chamada "oposição", que sabidamente tem seus podres a esconder. Esta, com receio de que a maré de lama transborde e respingue para seu lado, já topou um acordão, livrando a cara ("blindando") os chefões de cada lado, Lula e FHC. Qualquer pessoa com um nível intelectual acima do dos bacilos já percebeu qual é a jogada: como eles têm o que esconder, a CPI vai ficar prejudicada desde o início, e no final não vai dar em nada, pensam os estrategistas do governo petralha. E ainda por cima vamos poder posar de "isentos", fazendo aquilo que sempre fizemos: enganar a todos.

Parte da imprensa, principalmente a que já foi comprada pelos companheiros, já aderiu ao discurso "isentista" defendido pelo governo Lula da Silva. De fato, esse discurso tem sido a principal arma dos petralhas desde que chegaram ao poder. Depois de mais de duas décadas transpirando ética por todos os poros, proclamando-se diferentes do resto dos partidos, os petistas partiram para a tática oposta, tendo como principal argumento a seu favor o fato de fazerem o mesmo que os outros fazem (lembram daquela entrevista de Lula em Paris, no auge do escândalo do mensalão, quando ele disse que caixa dois era normal, "todo mundo faz"?). Assim esperam se livrar, exatamente como o meliante do primeiro parágrafo deste texto. E muitos jornalistas, cooptados ou ingênuos, dão sua chancela a essa demonstração de desrespeito à inteligência alheia, cobrando "isenção" e "imparcialidade" na cobertura do(s) escândalo(s). Defendem, é o que dizem, uma atitude "neutra" e "não-ideológica" diante do atual governo. Como se isso fosse logicamente possível ou moralmente aceitável.

Não é possível ser "neutro" diante do governo de Lula e dos petralhas, pois não é possível ser "neutro" diante da mentira e do crime. A idéia de "neutralidade" ou de "imparcialidade", o "nenhumladismo" tão cultuado pela mídia "séria", diante de escândalos como o dos cartões corporativos, não passa de uma forma de compactuar com a delinqüência política. É simplesmente uma manobra diversionista para impedir a apuração do escândalo e a punição dos culpados. É como se dissessem: "Viram? Na época deles também havia corrupção. Então para quê nos investigar?". Com isso, desviam o foco da questão. Não são os gastos do governo FHC, ou Itamar, ou Collor, ou D. Pedro I, ou Tomé de Souza, o que está em questão. É a gestão atual. E ponto. Que se investigue o que se passa nos porões do governo Lula da Silva. Depois ajustaremos contas com seus predecessores. Ninguém se lembrou das maracutaias do governo Sarney, por exemplo, quando se acusou o governo Collor de corrupção. Isenção, aqui, é apenas um outro nome para impunidade, uma forma de livrar a cara dos bandidos apelando para os delitos de outrem.

Por trás do discurso "não-ideológico", esconde-se, na verdade, uma ideologia: a do mau-caratismo, da duplicidade ética e da desonestidade intelectual. Lula e seus comparsas adoram posar de moderados, e convenceram muita gente de que não estão atrelados a nenhuma ideologia, sendo, antes, políticos pragmáticos, que encaram os negócios do Estado com um olhar de estadistas e não de militantes esquerdistas. Não caiam nessa lorota. Para desmascarar essa balela, não vou nem repetir o que já disse em outros textos, por exemplo, sobre o Foro de São Paulo; basta fazer um exercício simples: acuse os petistas, denuncie-os por algum escândalo de corrupção, como o mensalão e o dos cartões corporativos, e a resposta deles virá na forma de manobras como a descrita acima ou de um aluvião de slogans e chavões esquerdóides, atribuindo as acusações a uma conspiração das "forças reacionárias e golpistas" etc. Esse esquerdismo de galinheiro é o cassetete ideológico que os lulo-petistas mantêm guardado, em caso de necessidade, para lançar na cabeça dos que denunciam suas tramóias.

Já escrevi aqui antes que PT e PSDB são partidos gêmeos ideologicamente. Que, por trás da fachada de aparente inimizade, ambos se completam e se complementam, fazendo parte do mesmo arco político-ideológico. Agora, com o caso dos cartões, fica claro que são irmãos também na ladroagem. Concorrentes na disputa pelo poder, sempre poderão encontrar no outro um motivo para garantir a própria impunidade. Exatamente como o criminoso que, para livrar-se da prisão, aponta para seu cúmplice, saindo de fininho, assobiando. E ainda enchem a boca para falar em imparcialidade jornalística, como uma velha prostituta pregando as virtudes da castidade. Com os lulo-petistas é assim: sempre se pode descer mais um degrau. A desfaçatez dessa gente, assim como os gastos com cartões corporativos, não tem mesmo limites.

Um comentário:

Augusto Araújo disse...

He he he

Esse exempl q vc deu do ladrão querendo julgamento para todos foi ótima