terça-feira, março 11, 2008

Resposta a um leitor "viajante" - II


Escreve um leitor metido a bobinho que assina como Luiz Maurício, em tréplica a meu texto "Resposta a um leitor 'viajante'". Ele vai em vermelho. Eu vou em preto.

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Gustavo,

Demorei a responder, mas é porque não tenho muito tempo de visitar o teu blog. Afazeres do mundo real me impedem de me conectar ao mundo virtual. Antes de tudo quero deixar bem claro para o Stefano que não sou de esquerda. Portanto, o comentário desagradável que ele fez sobre mim, não se encaixa. Depois eu não sabia que você tinha um mascote. Só falta ele abanar o rabo, concordando com tudo que você fala (ou será que ele já abana?). Agora indo direto a resposta da resposta:

Se não é de esquerda, compra as teses esquerdistas com muita facilidade. Defender a tirania do serial killer do Caribe com o argumento de que é o desejo do povo ser escravizado é um exemplo disso. O leitor a que você se refere o chamou de petralha e Ignorante Soberbo. Não sei se você é um petralha. Já Ignorante Soberbo, tenho minhas dúvidas. Não tenho mascotes. Tenho leitores. Poucos, é verdade. Mas prefiro a qualidade à quantidade.
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Por falar em mascotes... não, vou deixar pra falar do Chico Buarque mais adiante. Prossigamos.

Eu já esperava que tua resposta fosse dessa maneira. Cheia de retórica, se aproveitou do meu texto para armar uma grande cena. Começou por recortar o meu texto, sendo desta forma mais fácil desconstruir as minhas idéias levadas pela separação das mesmas. Depois, construiu o teu texto em cima do meu, criando um texto único e só teu. Aproveitou para jogar com a platéia tentando dizer o que eu não disse, ou ridicularizando coisas que eu disse como se fossem absurdas. Aproveitou para pular coisas relevantes que eu disse, talvez por um desconhecimento do assunto ou simplesmente porque não vinha ao caso dizer. Um texto esperto, muito esperto.

Cheia de retórica e, principalmente, de argumentos, faltou dizer. Aliás, não vi até agora você refutar nenhum deles. Não é preciso muito retórica para "se aproveitar de seu texto" e "armar uma grande cena", como você diz (Por que "armar uma grande cena"? Pensei que estava apenas refutando o que você escreveu, ponto por ponto). Basta um pouco de honestidade intelectual e bom senso. Não separei suas idéias, separei suas frases. Recortei seu texto por uma questão prática, mas poderia transcrevê-lo inteiro de uma vez e refutá-lo do mesmo jeito, daria na mesma. O texto resultante só poderia ser único e só meu, isso é o óbvio ululante, como gostam de dizer os idiotas da objetividade. Onde eu "aproveitei para jogar para a platéia tentando dizer o que você não disse"? Aponte onde eu fiz isso. Por acaso, foi quando eu comentei sua posição sobre a ditadura cubana, em que você defende que os cubanos "vivem" sob uma tirania há 49 anos porque... escolheram? (!) Que "coisas relevantes" que você disse eu "pulei"? (Só pra lembrar: transcrevi seu texto na íntegra, o que faço novamente agora, embora não ache que mereça). Não é esperteza não, Luiz Maurício. É bom senso.

Digo que o motivo para eu não concordar com a mensagem do senhor Schelp foi explicado em todo o meu argumento e não preciso fazê-lo novamente. Quanto ao Chico Buarque, Oscar Niemeyer e Frei Betto, digo que não sou fã ou seguidor de nenhum deles, mas não vejo de bom tom uma revista atacar diretamente uma pessoa com xingamentos explícitos como o senhor Azevedo fez ao utilizar o termo “idiota moral” para se referir a Chico Buarque.

Não explicou a posição sobre o Schelp, não. Tudo o que você fez foi dizer que não gosta dele e ponto final, o que não passa de argumentação ad hominem (ou seja: contra o mensageiro, não a mensagem). Ainda me deve uma explicação sobre isso. Ah, não achou de "bom tom" uma revista ter chamado um idiota moral como Chico Buarque, que apóia a ditadura castrista, de idiota moral? Então, só posso deduzir que você concorda com esse tipo de idiotice moral. Logo, só pode ser mais um exemplar dessa fauna.

Minha posição é ser contra o terrorismo, e também contra qualquer tipo de guerra. E assim como não concordo com atitudes como “homens-bomba”, também não concordo com ataques americanos a outros países. Sobre o lema de combate ao terror, muitos inocentes são mortos e isso é inegável. Portanto, pessoas como Noam Chomsky, que você inclui entre os delinqüentes políticos, possuem atitude para acusar o terrorismo de Estado, exercido pelos E.U.A. e por Israel.

Também sou contra o terrorismo (ao contrário de Tariq Ali, por exemplo, que insiste em justificar o terrorismo palestino contra Israel). Mas não sou "contra qualquer tipo de guerra". Não sou pacifista. Sempre achei essa postura sentimentalóide ("ai, gente, a guerra é tão feia...") uma das maiores auxiliares do terrorismo e de regimes tirânicos. A guerra é sempre um inferno, mas isso não significa que não haja guerras que precisem ser feitas. A guerra contra o Eixo nazi-fascista, por exemplo. Ou a guerra para derrubar Saddam Hussein no Iraque. Em ambos os casos, os EUA atacaram outros países. "Ah, mas morrem inocentes no combate ao terrorismo"... Sim, e é uma pena. Mas muito pior é deixar que os perpetradores dos crimes terroristas, como Bin Laden e outros, continuem livres, leves e soltos para matar inocentes. No primeiro caso, pode-se dizer que as mortes são acidentais; no outro, são intencionais. Pode-se, portanto, falar em equivalência moral entre as mortes provocadas pelo terrorismo e pelos que o combatem, como os EUA e Israel? É isso que delinqüentes políticos e pervertidos morais como Noam Chomsky não entendem - ou entendem muito bem, mas não dão a mínima.

É certa ingenuidade, Gustavo, pensar que o povo não escolhe aquele que os governa. O poder do povo é muito maior do que o de apenas um. Hitler foi eleito, repito ELEITO. Foi escolhido pela maioria da população alemã. A maioria representa o povo. Talvez você deva ler “O Príncipe” de Maquiavel se ainda não o leu, ou relê-lo se já o fez, pois Maquiavel demonstra claramente que não há governante sem o apoio do povo. Disse ele: “[...] um príncipe deve ter em pouca conta as conspirações enquanto o povo lhe for favorável, mas, quando este se tornar seu inimigo ou lhe tiver ódio, deverá temer todas as coisas e todo mundo”. Demonstra claramente que a minoria não tem vez perante o poder da maioria. Achar que a falta de liberdade dos cidadãos de Cuba impede que eles demonstrem a sua insatisfação, ou achar que a população alemã não queria o nazismo é pura inocência. O povo sabe o que quer e sabe lutar pelo que quer. A liberdade pode ser suprimida pelo poder, mas o poder sempre estará com o povo e não o contrário. Se há uma parcela de insatisfeitos (como há em qualquer lugar), esta parcela não representa o povo em sua maioria. Você pode ler “O Contrato Social” de Rousseau para comprovar isto. Quanto ao desconhecimento sobre a proposta de Platão para algo que não seja a democracia, pude logo perceber, já que não houve uma única manifestação para o nome de Platão.

Em outras palavras, o que você diz é o seguinte: como é o povo que "escolhe", em última instância, quem o governa, então ditaduras totalitárias, como a de Hitler na Alemanha e a de Fidel Castro em Cuba, são regimes legítimos, porque o povo "escolheu" esses regimes... É uma idéia muito interessante, SE - e somente SE - o povo, nesses dois casos, fosse LIVRE para escolher - ou seja: tivesse de fato liberdade de escolha. Isso, porém, seria um paradoxo em si, pois a primeira coisa que os regimes totalitários fazem é exatamente extinguir a LIBERDADE DE ESCOLHA dos cidadãos, impondo a uniformidade de pensamento (é justamente para isso que existe partido único, censura à imprensa, polícia secreta etc.). Você simplesmente aproveita um lema LIBERAL - "todo poder emana do povo" - para tentar justificar o oposto do liberalismo - o TOTALITARISMO. Sim, Hitler foi eleito democraticamente - o que demonstra que a democracia não se encerra no ato de pôr um voto na urna -, mas isso não significa que seu regime tenha sido democrático, muito pelo contrário (aliás, é curioso observar: Hitler foi eleito; Fidel, nem isso...). Você se esquece - quero crer que é esquecimento - que Maquiavel escreveu que um governante (príncipe) deve governar pelo consentimento dos governados, mas também pela força - a argamassa do poder. E é justamente isso que fazem as ditaduras, mediante a polícia secreta, a censura, os fuzilamentos etc. Daí porque a citação de Maquiavel está totalmente fora de contexto (sem falar em Rousseau e em Platão). Dizer que é "pura inocência" afirmar que a falta de liberdade do povo cubano o impede de manifestar seu descontentamento é ignorar a realidade elementar de 2 milhões de refugiados que escolheram votar com os remos a continuar "vivendo" na ilha-prisão e exercitar sua "liberdade de escolha" batendo palmas para o Coma Andante, sob pena de represália se não o fizerem. Em Cuba, essa "liberdade de escolha" de que você tanto fala já foi para as cucuias há tempos, inclusive a liberdade de escolher ficar ou não no país... A propósito, já ouviu falar dos CDRs, das UMAPs, da G2, de Boniato, Kilo 7, Combinado del Este e outros nomes que certamente simbolizam essa "liberdade de escolha" do povo cubano ser detido, preso e fuzilado caso discorde do regime? Outra coisa: falei sim de Platão, basta ler minha primeira resposta a você. Ele está lá, ao lado de outros conhecidos defensores da "liberdade de escolha" que você acha que existia na Alemanha nazista e que existe na Cuba dos irmãos Castro, como Stálin e Mao Tsé-Tung.

Me diverti muito conhecendo a sua “Terra do Nunca” (ou seria Terra do contra?). Nada mais é do que um mundinho divertido, onde você escreve o que quer, mas em nada afeta o mundo real. Você aqui não existe, eu não existo. Somos todos frutos de uma realidade virtual, que em nada nada afeta o mundo real. Estamos brincando num mundo de faz-de-conta. Eu estou me divertindo muito! E quanto a resposta que você tanto queria para a minha frase: "A Polêmica gerada por uma pessoa que se auto-denomina polêmico é no mínimo duvidosa". Eu não sabia que deveria explicar o obvio ululante, mas se assim devo fazê-lo, eu faço. Se alguém se auto denomina algo, não necessariamente este algo é verdadeiro. Se eu digo: “Eu sou forte”, não é pelo que eu disse que será comprovada a veracidade de minha força. Se você diz ser polêmico, o mero uso da palavra para afirmar isto não indica que você realmente seja polêmico. Portanto, a polêmica gerada por alguém que se auto-denomina polêmico é duvidosa sim. Assim como este blog e todos os outros que se encontram num meio virtual são duvidosos pela sua correspondência falha com o Real.

Pois é, Luiz Maurício, aqui na Terra do Nunca a gente pode brincar e se divertir pra valer. Desmascarando, por exemplo, Ignorantes Soberbos que, por terem lido a orelha de um livro sobre Platão ou Maquiavel, acreditam saber a diferença entre Bem e Mal, a ponto de justificarem, com argumentos aparentemente "racionais", regimes tirânicos e totalitários. Não posso negar que é algo muito divertido. Não me importo com o fato de que isso pouco afeta o mundo real - já abandonei há muito tempo qualquer pretensão de ser reformador do mundo -; contento-me com a possibilidade de contar com um espaço livre em que possa expor e debater idéias e fatos relevantes, mesmo que do outro lado da telinha esteja um energúmeno que procure justificar uma tirania anacrônica como a do Coma Andante apelando para a "liberdade" de o povo cubano escolher não ter nenhuma liberdade... (Francamente, não tem argumento melhor? Poderia apelar para o velho chavão histórico de que a ditadura comunista na ilha-cárcere foi culpa das pressões dos EUA, por exemplo. Seria desonesto do mesmo jeito, mas não seria tão cretino). Enfim, meu caro, não sou polêmico porque me afirmo como polêmico, mas porque sou reconhecido como tal pelas pessoas com quem costumo debater, estando elas de boa ou má-fé - como acredito que seja o seu caso, do contrário não usaria sofismas em vez de argumentos, querendo até mesmo pôr em questão a existência do blog.

É isso, Luiz Maurício. Da próxima vez, espero que venha com algo melhor do que querer contestar a própria existência ou o nome do blog, e justificar uma tirania que aboliu a liberdade de o povo escolher sobre seu destino com o argumento de que o povo "escolheu" não ter mais essa liberdade... Para alguém que se diz leitor de Platão e Maquiavel, convenhamos, espera-se algo mais que isso. Dá até vontade de concordar com você, quando diz que o virtual não corresponde ao real...

Um comentário:

Anônimo disse...

Sr. Bezerra,

A cada dia que passa o senhor se torna mais hilário! Colocar um macaco falando ao telefone (HA!HA!HA!) que engraçado!!! Presumo que o macaco seja eu. Que legal! Muito bom argumento! Excelentíssimo argumento!

Não preciso concordar com o Chico Buarque para discordar da posição do senhor Azevedo de usar xingamento como argumento. Não preciso xingar meu adversário para discordar da posição dele. Prefiro utilizar-me do dialogo do que a agressão verbal ou visual. Este método de Schopenhauer para mim já está mais do que ultrapassado...

Para mim, matar inocentes é matar inocentes, não existe outro termo. Esta história de morte acidental e morte intencional é conversa pra boi dormir. Se um país bombardeia o outro é óbvio que inocentes vão morrer e tais mortes são intencionais sim, apesar de que muitas vezes são escondidas pelos líderes bombardeiros.

Não concordo com as matanças do regime de Fidel Castro. Nunca disse isto, como se pode comprovar em todas as linhas que escrevi. Dizer que eu concordo com as mortes que aconteceram no regime de Fidel é pura interpretação da tua cabeça o que demonstra uma maneira esperta de deturpar as palavras que digo. Meus parabéns!

Minha discussão é sobre Estado. É claro que os governantes se utilizam da força para governar. Qualquer líder necessita da força para governar. Como você bem lembrou Maquiavel disse isto. E antes dele Platão já havia feito. Mas a questão não é se os governantes se utilizam ou não da força, mas de que maneira. A Força, bem lembra Maquiavel deve ser utilizada com parcimônia, pois aqueles que abusam da força acabam derrubados por seus próprios súditos. Como exemplo disso ele demonstra no capítulo XIX vários Imperadores romanos que foram mortos por abusar do uso da força. O argumento certo de Maquiavel é que o governante se apóia em seu povo. Tal argumento foi posteriormente incorporado pelos liberais e modificado para “todo poder emana do povo”, como você disse. Não creio que Maquiavel fosse um liberal, portanto, não vejo problema em utilizá-lo para justificar um regime totalitário. Mesmo assim, NÃO foi isto que fiz ao citar Maquiavel. O que quis dizer (e você se esforçou para não entender) é que a um governante só pode se manter no poder se tiver o apoio do seu povo, pois não há como se manter no poder se for odiado pelo povo que governa. E o povo é representado pela sua maioria numérica e não pela minoria (2 é menor do que 11).

Você diz ter falado de Platão no texto anterior. Sim, eu verifiquei que você apenas citou-o junto de Stalin e Mao Tsé-Tung. Isso só reforça o teu desconhecimento do nome de Platão. Que tal discutirmos a proposta de Platão para o regime da polis que não seja a democracia? Não é porque ele não era a favor da democracia que ele era contra a liberdade. Isso é uma demonstração imatura sobre o assunto. Ou porque não discutimos a questão da areté no âmbito da polis e suas implicâncias sobre os cidadão que moram nesta. Ou podemos falar da autarquia e o kairós de cada cidadão de assumir seu lugar na polis. Ou ainda a diferença entre Estado de Justiça e Estado de Força. Ou da importância da dikaiosyne para a boa ordem da polis. Tudo isto está em Platão. Que tal falarmos sobre isto? (Acho que você não vai querer, né? Discutir Estado pra valer, utilizando seus principais teóricos e não apenas a opinião pessoal não é muito a tua praia).

Quanto a existência ou não do teu blog, ela não é questionável dentro dos padrões virtuais. Meu questionamento é sua existência no mundo real. Aqui você e eu também somos apenas personagens e não agentes. Nada (e eu enfatizo no nada) do que escrevemos aqui fará alguma diferença no mundo real. A discussão do meio virtual como veículo do Real é uma discussão presente da Comunicação Social. Quanto a contestação do nome do teu blog é uma analise que faço perante a linguagem que você utiliza aqui. Ou você tem medo da semiologia? Considero o meio virtual fraco para qualquer tipo de argumento. Tudo que faço é me divertir com os seus “argumentos” e a tentativa de fazer uma gozação com a minha cara. Isso não passa de um jogo que você faz com a platéia para me desmoralizar. Uma atitude baixa, mas válida. Eu encaro!

Abração!

Ass: Ignorante Soberbo (leitor metido a bobinho)