Mal passou o vexame brasileiro na quase-guerra entre Equador, Colômbia e Venezuela por causa da morte de um chefão das FARC - o governo Lula, só para não deixar esquecer, ficou na prática ao lado dos narcoterroristas e de seus protetores contra a Colômbia - e o Brasil já arranjou mais um factóide para se coçar. A bola da vez é o imbróglio com a Espanha por causa do tratamento dispensado pelo governo espanhol a alguns visitantes brasileiros, obrigados a dar meia-volta depois de terem sido submetidos a situações degradantes no aeroporto de Madri e impedidos de entrar em solo espanhol. Agora, para retaliar, o Itamaraty já começou a falar grosso, e os primeiros espanhóis já começaram a ser barrados no País, sob a justificativa da reciprocidade. Até aí, tudo bem: afinal, o governo da Espanha tratou mesmo mal e de forma arrogante os cidadãos brasileiros, e merece sofrer algum tipo de retaliação por causa disso. Mas a situação não é assim tão simples.
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A coisa toda cheira a picaretagem e palhaçada, como quase tudo que vem desse governo que aí está. Convenci-me disso depois de ter assistido ao Jornal Nacional de ontem (o Jornal Nacional é como a Veja: todo mundo adora esculhambar, mas todos vêem), que mostrou um turista espanhol sendo barrado no aeroporto de Fortaleza. Até aí, nada de mais, alguém poderia dizer. O problema não estava no ato em si, a punição de um cidadão estrangeiro que queria entrar no Brasil em represália por uma decisão de seu governo, mas na atitude - prepotente, presunçosa, amadorística, arrogante - do funcionário brasileiro da imigração, que não se cansava de repetir, talvez estimulado pela presença ali de uma câmara de TV, que, por causa da aplicação do princípio da reciprocidade, o cidadão em questão teria de retornar a Espanha, pois não poderia entrar em "meu (seu) País". Aquele "meu País" ecoa em meus ouvidos até agora. Poucas vezes vi alguém converter-se em tiranete de uma repartição oficial de maneira tão acintosa, arrotando boçalidade. E olha que sou funcionário público, e em meu trabalho já vi muita coisa semelhante. Minha reação, na hora, foi de vergonha, muito vergonha.
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Esse tipo de atitude acende em mim automaticamente a luz de alerta. Afinal, o governo dos petralhas gosta de uma patriotada. Só precisa de um pretexto para incitar a animosidade contra os gringos. Percebi isso logo de cara. Quem não se lembra daquele jornalista americano do New York Times que foi expulso do País, por ter escrito uma reportagem em que - ousadia das ousadias! - falava dos hábitos etílicos de Lula? E daquela outra decisão muito parecida, de alguns anos atrás, quando o governo Lula, alegando mais uma vez a tal reciprocidade, obrigou todos os cidadãos dos EUA que visitavam o Brasil a serem fotografados nos aeroportos para identificação, o que motivou até a expulsão de um piloto comercial que ousou fazer uma gracinha com o dedo na hora de tirar a foto segurando a placa de identificação? São exemplos de uma atitude altaneira de um governo que não aceita baixar a cabeça para quem quer que seja, poder-se-ia alegar. Mas é claro que é tudo jogo de cena, tudo embromação para americano ou espanhol - e brasileiro - ver.
O governo da Espanha foi arrogante ao destratar os brasileiros nos aeroportos? Foi. Merece, portanto, ser retaliado por isso? Merece. Mas e o que dizer dos nossos hermanos bolivianos, que já passaram a mão em nossos traseiros, confiscando as refinarias da Petrobrás na Bolívia, e o governo Lula, em vez de reagir, ficou com cara de tacho? O que dizer dos narcoterroristas colombianos das FARC, que usam livremente nossas fronteiras como base e escoadouro de cocaína, violando, portanto, nossa soberania, e que o governo Lula insiste em não classificar como terroristas - pelo contrário: até representante oficial elas têm no Brasil, um ex-padre que o governo brasileiro se recusa a extraditar para a Colômbia e que circula livremente nos subterrâneos do poder petista? Em todos esses casos, como agiu o governo do Brasil? Estufou o peito, tal como o funcionarizinho da imigração no aeroporto do Ceará, dizendo na cara do espanhol estupefato que ele não poderia entrar no "seu País"? Nada disso. Calou-se, recolhendo-se a um silêncio acabrunhado, ou então tentou justificar o injustificável. No caso da tunga das refinarias da Petrobrás na Bolívia, o governo do Apedeuta só faltou agradecer a seu companheiro, o índio fajuto Evo Morales, "nosso querido Evo", como disse Lula. Do que se pode concluir: tungar as refinarias da Petrobrás na Bolívia, pode; expulsar turistas brasileiros que querem entrar na Espanha, não. Entende-se: é que Morales, assim como Hugo Chávez, Rafael Correa e as FARC, são "companheiros". Ah, bom.
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Sou totalmente a favor da reciprocidade em relações internacionais. Trata-se de um princípio basilar da diplomacia, assim como o respeito à soberania e a não-intervenção em assuntos internos. Por isso sou a favor também de que não se adotem dois pesos e duas medidas. É por isso que a questão da reciprocidade com a Espanha me parece mais uma patriotada, mais uma patoacada nacionalisteira dos petralhas. Vai aí também, claro, uma boa dose de recalque, de ressentimento contra os que deram certo, o que está na base do forte terceiromundismo que caracteriza atualmente a atuação do Itamaraty. Basta comparar as situações. Será que o Brasil reagiria da mesma forma se o governo em questão fosse não a Espanha, mas, digamos, a Bolívia? Se o discurso dos brios nacionalistas feridos e da reciprocidade fosse para valer, o Brasil já teria, por exemplo, nacionalizado as propriedades da YPFB boliviana, ou expulsado os milhares de bolivianos ilegais no País. Se o que estivesse em jogo fosse mesmo o orgulho nacional, o Brasil não teria baixado a cabeça (e as calças) para a Bolívia. Por que os brios nacionalistas dos companheiros no poder no Brasil cessam diante de um Morales ou de um Chávez? Por que esse patriotismo de opereta só vale para os EUA ou a Espanha?
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É por essas e outras que concordo cada vez mais com a frase do Dr. Johnson: "O nacionalismo é o último refúgio do velhaco".
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