sexta-feira, janeiro 29, 2010

PROVÁVEIS CAUSAS DA HIPERTENSÃO DE LULA

Não sou do tipo que se regozija com a doença alheia, mesmo quando é de alguém que está "do outro lado" da trincheira política. Não compactuo com as legiões do ódio, que acham que o lugar de quem pensa diferente é o cemitério (e que, coerentemente com esse postulado, ajudaram a mandar uns cem milhões para o além no século que passou). Tampouco sou daqueles que acham que a enfermidade enobrece ou inocenta, como se fosse medida de caráter ou de justeza de uma causa política. Não misturo as duas coisas: para mim, a dor e o sofrimento não são recompensa ou punição, muito menos um passaporte para a santidade (deve ser por isso que nunca fui religioso). Portanto, não fico feliz com a internação de Lula no Recife, por problemas, dizem, de pressão alta.
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Lamento a crise de saúde de Lula. Lamento mais ainda que ela esteja sendo usada pela canalha petista para mais uma vez enganar e mentir, a serviço do culto da personalidade.
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Mal Lula foi internado, os petistas e puxa-sacos de plantão começaram a dizer que ele estava com a pressão alta, coitado, porque estava "trabalhando demais". Ora, todos sabem a que tipo de "trabalho" Lula se dedica há décadas. Ele mesmo não esconde de ninguém sua laborfobia: há poucos dias, tripudiando sobre as vítimas das chuvas que assolam São Paulo, o Apedeuta lembrou que, na época em que dava ponto em um armazém na capital paulista, ele gostava quando chovia, pois assim não precisava trabalhar... Trabalhar, trabalhar mesmo, ele não trabalha desde 1975, quando largou o batente para virar líder sindical. Desde então, tem-se dedicado em tempo integral à política. Nisso sim, ele tem-se revelado um trabalhador incansável. Obsessivo, até.
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Desde que voltou das férias, Lula tem cruzado os céus do País numa maratona de comícios travestidos de inaugurações de obras do PAC (muitas delas, sequer iniciadas), com objetivos claramente eleitoreiros, a fim de alavancar a candidatura de sua pupila Dilma Rousseff, que teima em não decolar. A tarefa é difícil, hercúlea. Lula vai ter que suar muito para convencer a todos que a "mãe do PAC" não é um poste. Vai ter que usar toda sua habilidade de animador de auditório para tornar a ex-companheira Stela da VAR-Palmares algo palatável. Não vai ser fácil.
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Lula tem motivos de sobra para estar estressado. Além de Dilma estar patinando nas pesquisas, obrigando-o a expandir o recadastramento do bolsa-cabresto até o dia 31 de outubro (por "coincidência", dia do segundo turno das eleições deste ano) e a intensificar sua rotina de viagens e comícios pré(?)eleitorais, a realidade insiste em contrariar seus planos. A última semana, por exemplo, foi particularmente difícil para Lula e seus áulicos. Eis algumas prováveis causas do piripaque presidencial:
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- A derrota humilhante da diplomacia lulista em Honduras
Em Honduras, o novo presidente eleito democraticamente, Porfirio Lobo, assumiu a presidência, contra a vontade de Lula e de Celso Amorim, que viram seu golpista bolivariano de estimação, Manuel Zelaya, deixar a embaixada brasileira rumo ao exílio. Os petistas-bolivarianos apostaram que recolocariam Zelaya no poder, acreditando que todos cairiam no conto do "golpe militar" contra ele, Zelaya, que tentou dar um golpe nas instituições à la Chávez. Não deu certo. Não contaram com a resistência heróica dos hondurenhos, um povo pequeno, mas valente, que não se deixou intimidar e defendeu com unhas e dentes sua Constituição contra quem queria violá-la. O Brasil saiu do episódio diminuído, como cúmplice e caudatário do golpismo bolivariano. Uma humilhação total para a diplomacia aloprada, que teve seu duplo padrão e seu comprometimento com a destruição da democracia na América Latina expostos com toda a nitidez para quem quiser ver.
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- A crise da protoditadura chavista na Venezuela
Outro político a que Lula e Amorim dão apoio INCONDICIONAL, o coronel Hugo Chávez, também está enfrentando um momento complicado na Venezuela, que ele levou para o buraco. Chávez quer que as empresas de comunicação do país lhe prestem vassalagem, e ameaça retirar do ar as que não o fizerem. Como resultado disso e da crise econômica, a Venezuela está sendo sacudida por protestos diários, reprimidos com violência pela polícia chavista. Já há mortes. Para piorar, o barco chavista já começa a fazer água, com várias defecções em suas fileiras nos últimos dias. O Itamaraty lulista já acionou o piloto automático, afirmando que a violência política é uma questão interna dos venezuelanos e que a Venezuela é um país soberano (a exceção, claro, é Honduras). Só falta dizer que os protestos por democracia na Venezuela são um chororô de torcida de futebol cujo time perdeu o jogo, como no Irã...
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Por falar em Irã, nesta semana Celso Amorim encontrou-se com o chanceler iraniano em Davos, na Suiça. No mesmo dia, dois opositores do regime dos aiatolás foram executados. Querem apostar como Amorim e seu colega iraniano trocaram idéias sobre a melhor maneira de defender a humanidade?
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Nada disso parece diminuir a incondicionalidade do apoio lulista a Chávez, que já chegou a dizer que o terremoto no Haiti foi obra dos EUA. Lula já disse que a Venezuela tem "democracia até demais". Nesta semana, em frente a uma platéia de socialistas jurássicos e revolucionários de butique no Forum Social Mundial, em Porto Alegre, ele aproveitou para louvar os "novos governos democráticos" da América Latina. Conseguem adivinhar de quem ele estava falando?
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Acham pouco? Tem mais.
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- O golpe frustrado do PNDH-3
No final de 2009, Lula assinou (sem ler, é o que diz - que ótimo escudo é a ignorância...) o decreto do tal Programa Nacional de Direitos Humanos, elaborado pelo ex-militante da ALN Paulo Vanucchi, esperando que, talvez por ser fim de ano, ninguém estaria prestando atenção. Mais uma vez, enganou-se. Não só o PNDH-3 não passou despercebido, como teve todas suas aberrações expostas em todos os seus mais absurdos detalhes: imposição da censura à imprensa, revanchismo, abolição do direito de propriedade, desrespeito à liberdade religiosa, entre outros horrores. Uma receita perfeita para instalar um regime ditatorial. Agora, pego em flagrante, ele tenta voltar atrás, mas o estrago já está feito. O rei está nu.
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- Lula versus o TCU
Também nesta semana, durante o périplo pelos grotões para promover Dilma, Lula aproveitou para desafiar o Tribunal de Contas da União, que embargou algumas obras do PAC de licitação mais que suspeita. Lula simplesmente mandou o TCU às favas, deixando claro que, entre obras eleitoreiras de fachada e o princípio da moralidade administrativa, ele fica com a primeira opção e manda a segunda para as cucuias. Novamente, deu um tiro no pé.
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- A prisão dos companheiros do MST em São Paulo
Em mais um duro golpe para os que acham que "um outro mundo é possível" (um mundo sem liberdade, claro), a polícia prendeu um grupo de arruaceiros do MST que depredaram uma fazenda em São Paulo e destruíram alguns milhares de reacionaríssimos pés de laranja em nome da "reforma agrária". Um vídeo deixa claro que os valentes invadiram o local de caso pensado, visando a "causar prejuízo". O que fez o PT, partido de Lula? Divulgou uma nota, em que repete pela milionésima vez a cantilena de que "não se deve criminalizar os movimentos sociais", colocando-se ao lado dos invasores laranjófobos.
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- O fracasso de Lula, o filho do Brasil
A petralhada assanhou-se toda, achando que o filme do Lula bateria Avatar nas bilheterias, catapultando a estória de seu líder para os píncaros da glória mundial. Houve quem falasse até em Oscar. Mas a hagiografia cinematográfica do Barretão bancada com dinheiro de empresas com negócios com o Planalto, já decepcionante como cinema, não emplacou. O público não se identificou com a fábula do Cristo-Rei de Caetés. Preferiu Xuxa e o mistério de feiurinha.
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Não se pode negar que esses têm sido tempos de fortes emoções para Lula. Entenderam por que a pressão dele chegou a 18 por 12?
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P.S.1: Lula estava em Recife para uma cerimônia de inauguração de uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA), do Sistema Único de Saúde. No discurso, ele brincou, dizendo que até gostaria de ser atendido ali. Logo após se sentir mal, ele foi atendido... mas no Real Hospital Português de Beneficência, um dos melhores hospitais particulares da capital pernambucana. Teve a chance de provar, pelo próprio exemplo, que a UPA é uma maravilha. Mas preferiu o conforto de uma rede privada de saúde. Ironia maior, impossível.
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P.S.2: Ainda em Recife, Lula participou em uma sinagoga de uma cerimônia em homenagem aos 6 milhões de judeus mortos no Holocausto pelos nazistas. Há dois meses, ele recebeu com tapete vermelho em Brasília o presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, que patrocina o terrorismo contra Israel e nega que o Holocausto tenha existido. Indagado sobre isso, Lula chegou a dizer que não tinha por que se importar com o que pensam sobre o assunto judeus ou árabes (detalhe: os iranianos são persas, não árabes). Ignorância ou cinismo?
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P.S.3: A crise de hipertensão de Lula fez com que ele cancelasse sua ida a Davos, onde participaria do Forum Econômico Mundial. Lá, ele iria receber um prêmio. Sabem de quê? De "estadista do ano". Dá pra acreditar???

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