segunda-feira, janeiro 25, 2010

O FILHO DA MÃE


Ainda não assisti à patacoada chapa-branca Lula, o filho do Brasil, e ainda estou na dúvida se boto ou não a mão no bolso para ver a trajetória hagiográfica do Noço Líder. Pelo que andei lendo, não vale a pena, e, ao que parece, a maioria do público tem essa mesma opinião (o filme está perdendo feio nas bilheterias até para Xuxa e o mistério de feiurinha...). Parece mesmo que estamos diante de um grande fracasso de crítica e de público. Um tremendo mico, literalmente cinematográfico.

Como disse, ainda não vi o filme, mas posso intuir por que ele naufragou nos cinemas. Em primeiro lugar, o próprio tema, a escolha do personagem, me parecem completamente equivocados. O filme se concentra na infância pobre de Lula, no agreste (e não no sertão, como muita gente pensa, mas isso não faz a menor diferença) de Pernambuco. Uma história pra lá de manjada, contada e recontada pelo próprio, sempre com uma conveniente lágrima para as câmaras. Convenhamos, é muito pouco para compor um roteiro com força e dramaticidade, capaz de arrebatar as platéias. Quem já leu qualquer biografia do Apedeuta sabe do que estou falando. O que há de tão emocionante em ser mordido por uma jumenta aos quatro anos de idade? Ou em quase ser esquecido pelo caminhão pau-de-arara por ter ido fazer xixi no mato?

Alguém poderia dizer: "Pô, o cara veio da pobreza e chegou à presidência da República, não se pode negar que é uma história e tanto" etc. Em termos. Pelo que eu li, o filme termina em 1980, quando Lula ainda estava longe de ser presidente. Nesse então, ele era Lula, o sindicalista. Sua biografia se limitava à infância pobre e aos anos de sindicato. Nada de espetacular. Ele era, então, um líder grevista, de passado (e idéias) mais que obscuro. E nada mais que isso. (E não me venham com a conversa de que ele foi uma espécie de Lech Walesa brasileiro, um lutador pela democracia contra a ditadura militar: o PT foi uma conseqüência, e não a causa, da redemocratização no Brasil. É mais uma mentira conveniente dos esquerdistas brasileiros.)

A vida de Lula não tem nada de extraordinária, nada que justifique, a meu ver, um filme sobre sua vida. Nasceu pobre (como Quércia e tantos outros políticos), veio para São Paulo criança, passou necessidade (e quantos não passaram?), depois entrou para o sindicato, fez greves. Sua principal realização, além de chegar à Presidência, foi o PT. O resto é conhecido: anos e anos de bravatas e politicagem, que culminaram na eleição em 2002 e 2006, além de gafes e atentados à gramática (voluntários: ele não estudou porque não quis, e diz que ler é tão chato quanto andar de esteira). E muito endeusamento, muita adulação. O que em outros poderia ser emocionante, em Lula é apenas vulgar.

Como, ao que parece, o investimento milionário na louvação ao Guia Genial está fazendo água, os produtores do filme estão tentando se sair com a tese de que o principal personagem não é Lula, mas a mãe dele, Dona Lindu, a mãe-coragem que sofreu com um marido violento e com as dificuldades para criar uma penca de filhos, entre os quais o Guia Iluminado. Outro dia vi uma constrangida Glória Pires tentando defender essa idéia. O filme então seria uma história (ou estória) de amor maternal, e não do futuro presidente etc. e tal. Balela. Se fosse verdade, o filme deveria então se chamar Lula, o filho de Dona Lindu, e não Lula, o filho do Brasil. Mas digamos que seja. Nesse caso, não consigo compreender em que exatamente isso diminui a mistificação em torno da figura de Lula. Outros líderes, como Stálin e Hitler, também sofreram com pais abusivos e tiveram mães dedicadas e amorosas. Alguém consegue vislumbrar um filme sobre a "infância sofrida" desses personagens?

Se o filme sobre Lula falasse sobre as disputas políticas nos bastidores das greves do ABC paulista em 1978-1981, ou sobre a trajetória dele e do PT até o momento - passando, obviamente, pelo mensalão em 2005 -, vá lá, estaria justificado o orçamento. Não faltaria, certamente, suspense, reviravoltas mirabolantes e, principalmente, traição. Mas isso seria fazer concessões demais à realidade, coisa que uma hagiografia como Lula, o filho do Brasil não pretende fazer. Quem se emocionaria com um filme que mostrasse o desempenho pífio de Lula como deputado federal, na Assembléia Constituinte, ou sua oposição à eleição de Tancredo Neves no colégio eleitoral, em 1985? Ou sua relação quase carnal com tiranos como Fidel Castro e tiranetes como Hugo Chávez? Sem falar, óbvio, no caso Celso Daniel, no mensalão etc.? Ou, então, o já célebre caso - narrado em todos os sórdidos detalhes por um petista histórico e ex-assessor de campanha de Lula - do "menino do MEP"? Seria difícil arrancar lágrimas dos espectadores com uma história tão pouco edificante.

Como não faz nada disso, evitando tratar de política - e do homem Lula, o Lula de verdade, em vez do personagem criado por intelectuais stalinistas -, o filme do Barretão é apenas um exercício de bajulação ou propaganda política eleitoreira. Ou as duas coisas. De qualquer maneira, um enorme desperdício, tanto de dinheiro quanto de talento, a serviço do culto da personalidade.

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