segunda-feira, fevereiro 01, 2010

SÍNDROME DE BRÜNO


Neste fim de semana dei boas gargalhadas com o impagável Brüno, do criador de Borat, Sacha Baron Cohen. O filme é mesmo hilariante, tão bom quanto o anterior. O personagem, um estilista austríaco, "gay, loiro e depilado", consegue ser ainda mais ultrajante do que Borat, ao afrontar acintosamente o politicamente correto.

Assim como o simplório falso repórter do Cazaquistão, Brüno não poupa ninguém: modelos de cabeça oca, celebridades do showbiz, políticos, homossexuais, evangélicos, negros - ele adota um bebê africano em troca de um iPod -, machões. Tudo em nome da fama, que ele persegue obsessivamente: após constatar que os maiores astros de Hollywood são héteros, ele se dispõe a fazer um curso com um pastor evangélico para deixar de ser gay, que inclui participar em uma festa de swing, ou troca de casais. Tudo extremamente ofensivo - e muito divertido.

Se Borat era uma paródia do multiculturalismo, com seu repórter cazaque apaixonado por Pamela Anderson, Brüno é uma crítica nada sutil ao mundo vazio das celebridades, que também abusam do figurino “do bem” e “politicamente correto” para aparecer bem na fita. Em busca dos holofotes, Brüno topa fazer qualquer coisa – qualquer coisa mesmo. Ele fica sabendo que, nos EUA, artistas de Hollywood costumam usar os serviços de uma “agência de caridade” e não tem dúvidas: vai à tal agência e, em conversa com duas loiras que o atendem, pergunta qual a causa mais “in” do momento, de preferência uma em que não haja ainda muita gente famosa envolvida. Após lembrarem, entre outras causas, da luta contra o aquecimento global, as assessoras de bondades midiáticas crêem ter encontrado a mais adequada ao fashionista austríaco. “Tem um lugar na África... Dafar”, responde uma delas, referindo-se a Darfur, no Sudão. “Fica ali, tipo, no Iraque”, diz a conselheira de caridade para VIPs.

É então que vem minha cena favorita. Disposto a ficar famoso a qualquer preço, o fútil e afetado Brüno embarca para a “Terra Média” (o Oriente Médio), onde se oferece para mediar a paz entre palestinos e israelenses. Lá vai ele, todo serelepe, de Dolce & Gabbana, tentar aparecer como o grande benfeitor e peacemaker da região, quem sabe de olho em um Prêmio Nobel. O resto deixo que vocês mesmos assistam.

Vi a cena e me lembrei, entre uma risada e outra, de como a realidade pode ser muito mais absurda – e ridícula – do que a ficção mais amalucada. Sim, vocês sabem muito bem de quem estou falando: de Lula e sua diplomacia aloprada. Assim como Brüno, os gênios do Itamaraty lulista fazem tudo para aparecer. E, assim como ele, parecem não ter qualquer noção do que estão fazendo. No final do ano passado, logo após a visita historicamente vergonhosa do maluco Mahmoud Ahmadinejad a Brasília, os porta-vozes da diplomacia brasileira anunciaram, com pompa e sem circunstância, qual seria o próximo salto ousado da política externa brasileira: nada mais, nada menos, do que a mediação entre Israel e o Irã de Ahmadinejad! Mais que isso: o governo Lula se oferecia, magnanimamente, para pôr fim a mais de sessenta anos de conflito na região, intermediando um diálogo entre o governo israelense e o Hamas. (Pelo menos Brüno foi mais modesto: ele tentou reconciliar um israelense e um membro do Fatah, grupo palestino que, ao contrário do Hamas e do Irã, reconhece o direito de Israel existir. Nesse ponto, o Itamaraty o superou.)


O exemplo acima mostra que, quando se trata de ridicularia, o Brasil é mesmo uma potência mundial. Se Sacha Baron Cohen viesse fazer um filme no Brasil, encontraria um terreno fértil para todo tipo de gag e piada pronta. Sob Lula e seu chanceler, Celso Amorim, a política externa brasileira virou motivo de chacota, menos para os lulo-petistas e seus simpatizantes, que acham que ela é um sucesso. A megalomania do Itamaraty chegou a um ponto nunca alcançado antes. O exemplo do Oriente Médio é apenas um deles. Em nome de uma "nova arquitetura mundial do poder", o Brasil tem entrado em uma roubada atrás da outra, visando a uma cadeira permanente no Conselho de Segurança da ONU. Só tem conseguido colecionar derrotas humilhantes, como em Honduras. Lá, o Brasil interveio, esperando aparecer como líder da região. Só conseguiu aparecer como cúmplice do golpismo bolivariano.

A mais recente - e, talvez, a mais absurda - demonstração da "síndrome de Brüno" dos megalonanicos está ocorrendo no Haiti. A comoção mundial pelo terremoto que devastou o país só não é maior do que a ciumeira antiamericana da diplomacia brasileira diante da rápida resposta humanitária do Tio Sam. Mesmo com Obama na Casa Branca, os sábios itamaratianos chiaram com a ajuda dos EUA, que lhes pareceu uma intervenção militar unilateral. Celso Amorim chegou a reclamar do fato de os EUA terem tomado conta do aeroporto de Porto Príncipe (que fora destruído pelo terremoto e só voltou a entrar em operação por causa dos - adivinhem - EUA...). Em reunião internacional sobre o Haiti, diante da proposta de um "Plano Marshall" para reconstruir o país, sentiu os brios nacionais atingidos e sugeriu que o plano se chamasse "Plano Lula". Nem Brüno faria melhor (ou pior).

Esse é o retrato da política externa brasileira nos tempos de Lula: antiamericanismo, mania de grandeza, "protagonismo" destrambelhado. E muita vaidade. Nada mais do que isso. Por que não chamar Brüno para o Ministério das Relações Exteriores?

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