sábado, janeiro 02, 2010

EU TAMBÉM QUERO TER DIREITO À MEMÓRIA E À VERDADE - A TODA ELA


Interrompo minhas férias para fazer, como sempre, um desabafo. Esse tipo de interrupção, aliás, é uma constante na vida de quem se mete a escrever contra a esquerda e o politicamente correto (ou, como prefiro dizer, o ideologicamente estúpido). Afinal, como diz o ditado, pessoas de bem podem descansar e tirar férias; os canalhas, porém, nunca o fazem, estão sempre ativos, planejando novas canalhices.
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Vocês já devem ter lido ou ouvido a respeito: no apagar das luzes de 2009, quando Brasília está às moscas e todos só estão pensando em panetone e nas festas de fim de ano, o secretário de direitos humanos do Aiatolula, o ex-guerrilheiro da ALN Paulo Vanucchi, bolou um decreto que prevê, entre outras coisas, a criação de uma tal "comissão da verdade" para investigar os crimes praticados durante a ditadura militar no Brasil. Com um detalhe interessante: somente os crimes cometidos pelos agentes da repressão política, como tortura, seriam investigados. Se você pensou que o objetivo da estrovenga é rever a Lei de Anistia de 1979, que perdoou a todos, não fazendo distinção entre quem foi preso e quem prendeu, você acertou em cheio. A idéia, aliás, já gerou um começo de crise com as Forças Armadas - totalmente desnecessária, como toda crise artificialmente criada.
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Já escrevi aqui, neste blog - essa frase, de tão repetida, já está virando um clichê - sobre as tentativas revanchistas dos paulos vanucchis e tarsos genros da vida, sempre disfarçadas com rótulos pomposos como "punição dos torturadores" e - o meu preferido - "direito à memória e à verdade" (aliás, nome do livro que a dita secretaria de direitos humanos lançou há dois anos sobre os mortos e desaparecidos políticos da esquerda durante o regime de 64, e que não faz qualquer referência aos que a esquerda armada matou). De modo que não vou repetir, desta vez, os mesmos argumentos apresentados anteriormente. Não vou lembrar, aqui, que o argumento da tortura como crime imprescritível e de lesa-humanidade, aparentemente justo, é, na verdade, uma falácia de quem acha que terrorismo não é. Nem vou desmascarar novamente a mentira segundo a qual o que as organizações de ultra-esquerda de que participaram gente como Paulo Vanucchi, Dilma Rousseff, Franklin Martins e José Dirceu praticaram não foi terrorismo, mas "luta contra a ditadura" ou "resistência ao autoritarismo".

Já tratei de tudo isso, das lendas e balelas inventadas pela esquerda sobre a luta armada, em outros posts. Vou me limitar a dizer, desta feita, apenas isso: eu concordo inteiramente com a idéia de rever a Lei de Anistia. Mais: sou totalmente a favor de jogá-la na lata do lixo. Mais ainda: desejo que os torturadores sejam todos - todos, sem exceção - responsabilizados criminalmente e punidos exemplarmente, na forma da Lei. Quero mais é que eles se danem. Se quiserem aplicar aos meganhas brasileiros que torturaram e assassinaram prisioneiros políticos os princípios do direito internacional humanitário, aliás, quero dizer que eu sou a favor. Para mim, não existe ex-torturador. E lugar de torturador é mesmo a cadeia.

Isso significa que sou a favor do projeto da dupla Vanucchi/Genro de rever a Lei de Anistia, certo? Aí é que está: ERRADO! Por um motivo muito prosaico: assim como eles, eu acho que não existe ex-torturador. Mas, ao contrário deles, acredito que também não existe ex-terrorista. Quem jogou bomba em aeroporto ou em quartel, quem assaltou banco, sequestrou e matou em nome da "revolução" deve, também, responder pelo que fez. Ou, então, que se mantenha o status quo atual. A meu ver, os esquerdistas têm tanto direito à Anistia quanto quem estava do outro lado da trincheira, defendendo o regime. Falando mais claramente: EU QUERO QUE TERRORISTAS E TORTURADORES, E NÃO SOMENTE UM LADO OU OUTRO, PAGUEM POR SEUS CRIMES. OU QUE, PELO MENOS, OS ASSUMAM PUBLICAMENTE. Qualquer outra coisa que não seja isso é apenas a imposição de um tribunal ideológico por parte dos derrotados de ontem que querem, agora que estão por cima, ir à forra. Ou seja: revanchismo, puro e simples. EU TAMBÉM QUERO TER DIREITO À MEMÓRIA E À VERDADE - A TODA ELA, E NÃO SOMENTE À PARTE QUE CONVÉM A QUEM ESTÁ, HOJE, NO PODER. Acho, aliás, que esse não é um direito só meu: é de toda a população brasileira.

Em outras palavras, o projeto da tal secretaria de direitos humanos não passa de uma tremenda vigarice intelectual, um passo a mais na gigantesca impostura e na obra de mistificação político-histórica sem paralelos que é a versão esquerdista dos "anos de chumbo" no Brasil - versão na qual só teria havido heróicos guerrilheiros idealistas, de um lado, e cruéis torturadores, de outro. Terroristas - e excluo deliberadamente o "ex" da palavra - não têm o direito de julgar e condenar torturadores, assim como estes não têm o direito de julgar e condenar aqueles. E isso não é porque eu tenha qualquer simpatia por um lado ou por outro. É pura lógica. Ou, se preferirem, por decência.

O regime militar, cujos agentes torturaram e mataram, anistiou a estes e também àqueles que pegaram em armas para derrubá-lo e substituí-lo por uma ditadura comunista (ainda estou à espera de que me provem que as organizações de esquerda armada, e mesmo não-armada, como o PCB, se batiam pela democracia e pela liberdade no Brasil, e não por um regime inspirado em Cuba, na ex-URSS ou na China maoísta). Esperava, com isso, botar uma pedra sobre o período e pacificar o País, levando ao esquecimento dos delitos de ambos os lados. Pode-se discordar desse objetivo, pode-se, inclusive, achar que o perdão aos torturadores foi um erro, uma aberração, mas não se pode negar um fato fundamental: ao anistiar seus inimigos, os militares foram bem mais benevolentes do que o atual governo esquerdista brasileiro, que já canonizou seus mortos, enquanto tenta de todas as maneiras revogar a Anistia aos que os perseguiram.
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O nome disso, na novilíngua esquerdista que está aos poucos tomando o lugar da língua portuguesa, é duplo padrão moral ou viés ideológico. Em linguagem sem frescuras, é cinismo e hipocrisia mesmo. Uma tremenda empulhação, mais uma, de um governo que não se contenta em refundar a nação - quer também reescrever a História.

Um comentário:

Anônimo disse...

Seu posicionamento em relação a questão é perfeito. Apenas imagino que essa seja na verdade uma estratégia maliciosa, com finalidade política de empacar a questão da punição aos criminosos de ambos os lados, cujo o resultado na mente dos apedeutas é certamente 1 x 0 para a militancia contra as forças do mal, o que se converteria em votos para o comandante Dilma Rousseff.