quarta-feira, janeiro 20, 2010

OBAMA, UM ANO DEPOIS. OU: A REALIDADE VENCEU A "ESPERANÇA"


E o Obama, heim? Hoje faz exatamente um ano que ele chegou à Casa Branca, levado nos braços do "mundo" como a encarnação suprema da esperança para a humanidade. Na ocasião, o oba-oba atingia níveis realmente estratosféricos. Cheguei a pensar que o canonizariam. Não chegaram a tanto. Contentaram-se em lhe dar um Nobel da Paz - decidiram 12 dias depois de sua posse na presidência, fiquei sabendo...

Pois é, né? Bastaram doze meses para que metade do encanto do primeiro-presidente-negro-pós-racial-da-história-dos-Estados-Unidos perdesse metade de sua atração. Culpa da realidade, essa madrasta má, que não costuma respeitar muito símbolos e ilusões. Ainda mais quando são símbolos tão vazios, feitos tão-somente de marketing e discursos ocos. Desde que Obama chegou ao poder, a realidade não deu trégua à tal "esperança" (hope). Primeiro foi a tal reforma da saúde, que ameaça não sair do papel. Depois, as guerras no Iraque e, principalmente, no Afeganistão, que muitos que votaram em Obama esperavam que ele encerrasse com seus poderes demiúrgicos (talvez chamando Bin Laden para uma "beer talk" nos jardins da Casa Branca). Contrariando os pacifistas, ele manteve a guerra do demonizado Bush, e até aumentou o número de tropas no Afeganistão. A diferença é que, como ele não é nenhum brucutu texano, ele faz isso com dor no coração...
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De nada adiantou, até o momento, o bom Barack ter se mostrado apaziguador e estender a mão a Ahmadinejad, Kim Jong-Il, Raúl Castro e Hugo Chávez - nenhum destes se mostrou, até agora, muito disposto a abandonar o velho discurso antiamericano (e, no caso dos dois primeiros, o programa nuclear secreto). Logo os devotos da fé obamista se deram conta, com um travo na garganta, que seu líder não andava sobre as águas, nem fazia chover no deserto. Resultado: de 80% nos primeiros dias, a popularidade do Messias caiu para 50%. Nos EUA, já estão começando a compará-lo a Jimmy Carter, o presidente boa-gente, também do partido democrata, que ajudou a afundar ainda mais o país no final dos anos 70. Mas o "resto do mundo", principalmente o resto que pensa que o que é ruim para os EUA é bom para a humanidade, continua botando fé nele.

Tenho falado pouco de Obama nos últimos tempos. É que o personagem já começa a dar sinais de desgaste, e não há nada nele que me interesse além do personagem (aliás, ele tem essa característica em comum com Lula: os dois não existem fora do personagem). Mas vou também celebrar, do meu jeito, a data histórica. Aí vai um texto que postei aqui um dia depois da posse histórica do presidente histórico.

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OBA-OBAMANIA

Devo confessar que não me emociono facilmente. Diante de uma cena ou de um discurso feito sob medida para arrancar lágrimas da plateia, geralmente eu me encrespo e procuro reprimir o máximo meu lado passional e sentimental, buscando guiar-me sempre pela razão. Não que eu seja um monstro de frieza e de insensibilidade. É que, diante de ondas de emotividade e de consensos fabricados, acho impossível não ficar com um pé atrás. Prefiro fazer o que pouca gente faz numa hora dessas: pensar.

Se o motivo de emoção e histeria à minha volta é a posse de um presidente ou o discurso de um político, sou ainda mais radical. Simplesmente não consigo abrir mão do 0,0002% de meus genes que não compartilho com os chimpanzés e juntar-me à multidão ululante. Discursos - ainda por cima, de políticos - não me comovem nem um pouco. Antes, causam-me um tédio irreprimível. Não me entusiasmam, apenas me provocam bocejos de hipopótamo. Prefiro o zumbido de uma abelha ou de uma mosca a permanecer de pé, ou mesmo sentado, tendo os ouvidos e a inteligência massacrados por uma catarata de promessas e frases de efeito, tão vazias quanto as cabeças para as quais se dirigem.
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Foi exatamente assim, profundamente entediado, que me senti ontem, ao ver pela televisão a cerimônia de posse de Barack Obama na presidência dos EUA. Tem gente que está chorando até agora. Afinal, era um "momento histórico". Teve uma repórter, se não me engano da Globo, que achou isso pouco, e tascou um "esse é um momento histórico na história da humanidade". Só faltou dizer que estava presenciando o advento do novo Messias, o redentor da espécie humana. Aliás, para muita gente, era isso mesmo que estava acontecendo.

Em seu discurso de posse, Obama falou em "reconstruir" a nação (ela foi destruída?). Esse tipo de discurso, em vez de me entusiasmar, me dá calafrios. A ideia de "reconstrução" do país - ou do mundo - é algo presente nos discursos de todos os líderes ditatoriais do século XX, de Hitler e Stálin a Fidel Castro e Hugo Chávez. Traz em si um claro componente de messianismo salvacionista, algo tão conhecido de nós, brasileiros. Não duvido que já estejam acendendo velas para Obama em alguns lugares dos EUA, assim como já estão acendendo velas para São Luiz Inácio em algumas cidades do interior do Nordeste. Uma das frases do discurso de Obama foi "a esperança venceu o medo". Impossível evitar a impressão de déjà vu.

Obama é o presidente "histórico". Sua eleição está sendo considerada, por dez em cada dez veículos da grande imprensa, uma vitória contra o racismo e um raio de esperança para a humanidade. Quanto a ser uma vitória contra o racismo, já escrevi sobre isso, e acho que foi exatamente o contrário - Obama dificilmente teria sido eleito não fosse justamente a questão racial, ou seja, o fato de ser (americanamente, diga-se) negro. Com relação à segunda questão, de se Obama é ou não uma esperança, é aqui que tenho minhas maiores dúvidas. A vitória de Obama pode ser creditada a uma série de fatores, inclusive à crise financeira mundial, mas é inegável que foi também uma vitória dos inimigos dos EUA. Muitos que torceram por ele compartilham da visão segundo a qual os EUA só agem, e o mundo reage. O terrorismo islamita, por exemplo, é visto, segundo essa visão, sempre como uma forma de reação, de resposta, à política externa norte-americana. O discurso de Obama, ao proclamar que guerras se vencem com mais do que armas e ao prometer diálogo com regimes como o do Irã, vai nessa direção. Soube que ele pretende fechar a prisão de Guantánamo e conversar também com Raúl Castro, que governa um regime que mantém umas 600 Guantánamos na ilha-prisão de Cuba, mas ninguém - principalmente, os que votaram em Obama - dá a menor bola para esse último detalhe.

Outro fato interessante é que, com a aposentadoria de George W. Bush, os devotos de Obama terão um problema pela frente. Com Belzebu fora da Casa Branca, quem irão demonizar e culpar por todos os males do mundo? O novo Satã para se atirar o sapato já foi escolhido: Israel, contra o qual os idiotas úteis e arautos do "outro mundo possível" já voltaram suas baterias de ódio, inclusive de antissemitismo disfarçado. De fato, pouco importa quem esteja na Casa Branca: por trás do ódio a Bush, estava o ódio aos EUA, que é anterior a Bush e continuará a existir durante o governo Obama, pois suas raízes são muito mais profundas. A diferença é que, com Obama na presidência, há a possibilidade de o discurso do Blame America First tornar-se oficial, para gáudio dos que se alegraram com os atentados de 11 de setembro.
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Aliás, para sermos justos, até isso é duvidoso no que concerne a Obama. Vamos lembrar. Ele montou uma equipe de governo composta de algumas figuras previsíveis e outras, como o responsável pela segurança, oriundas da Era Bush. Isso demonstra como os slogans de "mudança" que embalaram a campanha podem ser - pelo visto, são - vazios e eleitoreiros. É mais um detalhe a aproximar Obama de seu colega Lula da Silva. O Apedeuta, como sabemos, copiou a política econômica de FHC, que passou anos atacando com fervor jesuíta. Hoje, com aquele seu jeito misto de Rolando Lero e Dercy Gonçalves, reivindica até a paternidade da estabilidade econômica... O que leva à seguinte conclusão sobre os dois presidentes: tanto num caso como em outro, eles se opunham a seus antecessores, não a suas políticas.


No começo deste texto afirmei que, diante de ondas de irracionalidade coletiva, não consigo abandonar meu lado racional e deixar de pensar. E pensar é duvidar. E é exatamente isso o que a posse - e a pose - de Obama me induzem a fazer. No momento em que se celebra sua ascensão, uma série de perguntas e dúvidas pululam em minha cabeça. A primeira de todas é: ele realmente nasceu nos EUA? Se sim, porque vem há meses se esquivando de mostrar sua certidão de nascimento, como lhe é exigido em um processo legal movido por um advogado de seu próprio partido? Qual é exatamente sua relação com figuras como Tony Rezko, Bill Ayers, Jeremiah Wright e Raila Odinga? Que papel teve no escândalo da ACORN, a maior derrama de títulos de eleitores falsos da História dos EUA? Finalmente, por que a imprensa não divulga nada disso? Sobre qualquer um desses pontos, nenhuma investigação, nenhuma matéria ou reportagem mais cética e investigativa. Se há algo de histórico na eleição e posse de Obama, não é a cor de sua pele nem seu nome pouco usual, mas o nível realmente inédito de adulação com que o brindou a imprensa norte-americana e mundial, um culto da personalidade verdadeiramente soviético em suas proporções e em sua disposição de esconder fatos pouco abonadores da vida do novo Messias. E ai de quem chame a atenção para essas questões não-respondidas! Será tachado de maluco ou nazista, e ponto final.
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Pouco mais de dois anos atrás, ninguém sabia quem era Barack Hussein Obama. Hoje, continuam não sabendo. Há apenas uma certeza: com ele na Casa Branca, os EUA se tornaram um país mais caudilhesco, mais terceiromundista, mais bananeiro.

Um comentário:

Anônimo disse...

Obama não anda sobre as aguas, não multiplica pães, não transforma agua em vinho... Se assim fizesse talvez resolvesse em um ano o problema gerado em oito, talvez fechasse o famigerado presídio, restaurasse a economia sucateada pela guerra ( de oito anos), que grande decepção não é mesmo ?

Vamos esperar Sara Pallin assumir o poder......