A política no Brasil nunca esteve tão desinteressante.
Não faz muito tempo, sempre que estourava um escândalo de corrupção em algum governo, nem era preciso piscar duas vezes para ver uma multidão de petistas, cheios de indignação e afetando santidade virginal, berrando e exigindo que rolassem cabeças. Eram os tempos da "ética na política", identificada automaticamente com os companheiros da estrela vermelha e com seu líder barbudo. Este gostava de rugir contra os "300 picaretas" do Congresso e de chamar o governante de plantão de "pai dos ladrões", distribuindo atestados de honestidade ou de cafajestice conforme seu próprio critério particular e inquestionável.
Hoje, as coisas mudaram bastante. É verdade que persiste a gritaria localizada de alguns setores juvenis do petismo, como no caso da governadora do Rio Grande do Sul, Yeda Crusius, do PSDB, ou do "mensalão mineiro" do ex-governador e atual senador Eduardo Azeredo, do mesmo partido. Mas é só fachada, ou simples politicagem regional. Nada que se compare ao barulho que o PT fez no passado. Hoje, quando adversários nominais do petismo se vêem encrencados em algum rolo político-jurídico, sabem que sempre poderão contar com a compreensão e a solidariedade do companheiro Lula e do PT.
É o que está acontecendo agora, com o escândalo do "mensalão do DEM" no governo do Distrito Federal, que ameaça custar o cargo e a carreira política do governador José Roberto Arruda. Para surpresa de alguns, o que fez Lula diante da crise que explodiu como uma bomba no governo do DF? Saiu em defesa de Arruda, minimizando as provas e dizendo que as imagens gravadas dele e de seus assessores recebendo dinheiro vivo de corrupção "não falam por si". Aproveitou para dizer que é preciso garantir a "ampla defesa" do governador, como se fosse um advogado.
O escândalo no governo do DF é uma bênção para Lula e o PT, não há dúvida. É uma oportunidade de ouro para eles praticarem seu esporte favorito: banalizar o mal. "Viu só? Eles também roubam", parece ser o mantra dos petistas nesses dias. Como se duas ilegalidades, somadas, resultassem em uma legalidade. Como se, enxovalhando a reputação alheia, fosse possível lavar a própria. Os petistas estão exultantes, certamente, porque acreditam que o escândalo no DF irá "zerar o jogo" em 2010, retirando do DEM e do PSDB a possibilidade de mencionar o mensalão na campanha eleitoral. Com isso, esperam que todos se esqueçam que o mensalão petista de 2005 existiu.
O caso do DF tem, aliás, muitos pontos em comum com o maior escândalo de corrupção da História do País: o denunciante que vem das entranhas da corrupção governamental, a compra de consciências de parlamentares, até o detalhe simbolicamente poderoso dos maços de dinheiro guardados na cueca (com a diferença de que, desta vez, o pagamento foi em moeda nacional, não em dólares). Mas nada disso parece convencer Lula a fazer o que ele antes chamava de defesa da ética e agora chama de "prejulgamento".
Se, até 2005, o PT e seus aliados de esquerda se arvoravam como os monopolistas da ética e da virtude, hoje se agarram ao argumento de que não são em nada diferentes dos demais políticos e partidos. É a tática do "todos fazem igual" defendida por Lula naquela famosa entrevista em Paris, quatro anos atrás: se todos agem do mesmo modo em relação ao Erário Público, se todos mentem e roubam, então por que esquentar a cabeça e atacar o PT, que sempre condenou os outros exatamente por isso? Nivelados todos, indistinguíveis no mesmo mar de lama, fica impossível condenar X ou Y. Desse modo, a corrupção, que antes causava nojo e escândalo, deixa de enojar e escandalizar. Banaliza-se.
É nesses momentos que se revela uma certa irmandade entre os corruptos, que vai além de qualquer diferença política ou ideológica. É a mesma irmandade que deve existir, creio eu, entre os demais tipos de bandidos, como traficantes e assaltantes de bancos. Lula está escaldado pelo que houve em 2005, tendo dito recentemente que o mensalão foi uma "conspiração" contra seu governo, e teme o "efeito bumerangue" que um provável impeachment de Arruda poderá acarretar: não tendo mais moral para condenar a roubalheira de ninguém, ele prefere a cautela e o espírito de porco, digo, de corpo. Tendo escapado, por pura incompetência da oposição, de um processo de impeachment em 2005, Lula não quer nem ouvir falar em algo parecido, mesmo com políticos de partidos adversários. Que diferença do líder operário, do oposicionista que até um dia desses gritava "Fora FHC"...
É assim que pensam os petistas e seus assemelhados: para eles, a corrupção alheia virou uma aliada, uma verdadeira tábua de salvação. Agora entendo perfeitamente por que Lula elegeu José Sarney e Fernando Collor como seus novos parceiros e amigos de infância. Antes, a corrupção era condenável. Hoje, é o álibi perfeito. É, amigo velho, o poder realmente faz milagres.
Um comentário:
Que tal agora falar um pouco da direita ?? ; não vi aqui um post sobre o governador afastado por corrupção.
Se você acha que a esquerda é burra, não tenha atitudes semelhantes, não seja o que você tanto condena.
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